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Projeto de criação de um serviço educativo nos museus do Instituto Superior Técnico

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROJETO DE CRIAÇÃO DE UM SERVIÇO

EDUCATIVO NOS MUSEUS DO INSTITUTO

SUPERIOR TÉCNICO

Natália de Jesus Sousa Rocha

MESTRADO EM EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO

Área de especialidade em Desenvolvimento Social e Cultural

Trabalho de Projeto Orientado pela Profª Doutora Ana Paula Caetano

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2 AGRADECIMENTOS

Exercendo funções como Técnica Superior na Direção Académica do Instituto Superior Técnico (IST), da Universidade de Lisboa, propus ao Sr. Presidente, Professor Doutor Arlindo Oliveira, desenvolver um projeto educativo em torno dos museus do IST. Dirijo-lhe as minhas primeiras palavras de agradecimento pois desde o início mostrou interesse e abertura para desenvolver este projeto no IST.

Em segundo lugar um agradecimento muito especial, pelo seu apoio, pela sua dedicação e encorajamento, à minha orientadora Professora Doutora Ana Paula Caetano por ter sido grande aliada na construção e realização deste projeto. O seu conhecimento, orientações, disponibilidade e amizade foram constantes durante este percurso. Perante a dimensão e a responsabilidade do projeto que tinha em mãos, as suas palavras de incentivo foram importantíssimas na superação de determinados obstáculos e foram fundamentais para organizar o trabalho e dar corpo às ideias que iam emergindo.

Um agradecimento muito profundo aos Diretores dos Museus do IST, à Diretora do Museu de DECivil Professora Doutora Zita Sampaio e ao Diretor dos Museus de Geociências Professor Doutor Manuel Francisco Pereira, cujos seus contributos foram valiosos e proporcionaram os meios e condições necessários para a concretização do projeto.

Agradeço à Doutora Marta Lourenço, Sub-Diretora do Museu Nacional de História Natural e da Ciência (MUHNAC), pelo incentivo ao tomar conhecimento deste projeto e o interesse demonstrado no decorrer de todo o processo.

À Dra. Susana Medina do Museu da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, à Dra. Raquel Barata, responsável pelo Serviço Educativo de Educação e Animação Cultural do MUHNAC e ao Dr. José Cid Gomes do Museu da Ciência da Universidade Coimbra, pela forma como me receberam e pelo contributo que as informações e entrevistas concedidas tiveram para a realização deste trabalho.

Registo a minha gratidão para com as minhas professoras do Mestrado Carmen Cavaco, Carolina Carvalho, Isabel Freire e Maria João Mogarro, todas conhecedoras e especialistas nas suas áreas, pela partilha e desafios propostos nas aulas.

Um agradecimento a todas as pessoas do Instituto Superior Técnico que apoiaram este projeto. Deixo um agradecimento especial à colega do Museu DECivil

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Maria José Silva que sempre demonstrou a máxima disponibilidade, procurando auxiliar nas necessidades que este projeto exigiu.

Agradeço ainda aos meus colegas de Mestrado pela partilha de conhecimento e apoio durante este meu percurso académico.

À minha mãe que me apoiou com as suas palavras de amor, dando-me coragem. A minha família e amigos merecem um agradecimento especial, não só pelo tempo da minha atenção que este projeto lhes negou, mas também pela compreensão e tolerância demonstrada ao longo desse processo. Foram um pilar muito importante nesta fase, pelo apoio, carinho e força que me deram.

A Deus, por estar comigo, e ter-me dado sabedoria e força numa etapa marcante da minha vida entre acontecimentos pessoais e profissionais.

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4 RESUMO

O presente trabalho pretende ser uma proposta para implementação do serviço educativo nos Museus do IST. A pertinência de um serviço educativo nas instituições museológicas é hoje em dia um facto incontestável.

Para construirmos o nosso projeto foi preciso fazer um enquadramento teórico que nos permitiu chegar ao conhecimento de algumas teorias e práticas comuns sobre a educação museal. Constatamos que no século XX os museus começaram a fazer parte do elenco das instituições educadoras. O próprio conceito de museu mudou ao longo dos anos, tendo sido introduzida a função de educação na definição da instituição. O trabalho educativo dos museus tem sofrido mudanças ao longo dos tempos, adaptando-se às transformações sociais, políticas, culturais e económicas das sociedades onde adaptando-se inserem. Esta evolução tem sido influenciada pelos progressos registados no domínio da psicologia, educação, sociologia e museologia. A partir dessas diferentes perspetivas os museus assimilam a educação e aplicam no seu trabalho educativo e no contacto diário com os seus visitantes. Assim, essas instituições têm criado programas educacionais e atividades que procuram melhorar a aprendizagem no espaço do museu. Tendo sempre presente a preservação e divulgação do património cultural. Percebemos também que apesar de atualmente se registar um interesse crescente nas funções educativas, os museus são também lugares onde se produzem diferentes dinâmicas sociais que contribuem para construir sociedades mais reflexivas e inclusivas.

A ligação entre museus e educação das ciências é extremamente benéfica para o desenvolvimento de práticas educativas utilizadas pelos serviços educativos das instituições. Os museus do IST são instituições ligadas à ciência e à cultura, podem por isso ser aproveitados para a educação das ciências. Nesse sentido, apresentamos uma proposta para um serviço educativo a funcionar nestes espaços. Este projeto realça ainda a necessidade da preservação do património universitário e científico dos Museus do IST.

Palavras-chave: Educação em Museus, Serviço Educativo, Público, Divulgação Científica, Aprendizagens formais e não formais em ciências, Função Social.

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5 ABSTRACT

The present project intends to be a proposal for the implementation of the educational service in the IST Museums. The relevance of an educational service in museological institutions is unquestionable at the present time.

In order to delineate the Project it was necessary to make a theoretics that allowed us to get knowledge of some common theories and practices about museum education. We find that in the twentieth century museums began to be part of educational institutions. The concept of museum itself has changed over the years, and the role of education has been introduced in the definition of the institution. The educational work of museums keeps change over time, adapting to the social, political, cultural and economic transformations of the societies in which they are inserted. This evolution has been influenced by progress in psychology, education, sociology and museology. From these different perspectives museums assimilate education and apply in their educational work and daily contact with their visitors. These institutions have created educational programs and activities that seek to improve learning in the museum space, keeping in mind the preservation and dissemination of cultural heritage. We are also awared that, although there is a growing interest in educational functions, museums are also places where different social dynamics are produced that contribute to building more reflective and inclusive societies.

The relation between museums and science education is extremely beneficial for the development of educational practices used by the institutions educational services. The IST museums are institutions linked to science and culture and can therefore be used for the education of the sciences. In this sense, we present a proposal for an educational service to function in these spaces. This Project also highlights the need to preserve the university and scientific heritage of the IST Museums.

Key-words: Education in Museums, Educational Service, Public, Scientific Divulgation, Formal and Non-formal Learning in Sciences, Social Function.

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6 ÍNDICE

INTRODUÇÃO ... 14

CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO ... 17

1 Breve perspetiva histórica do conceito de museu ... 17

2 Evolução da “Nova Museologia” ... 20

3 Educação nos museus ... 27

3.1 Conceito de Educação ... 27

3.2 Papel educativo dos museus ... 29

3.3 Relação Escola-Museu ... 33

4 Serviços Educativos em Portugal ... 36

4.1 O Educador e a Mediação nos Museus ... 42

4.2 Museus e Público ... 45

5 Museus das Universidades Portuguesas ... 50

6 O papel dos museus e universidades na promoção e divulgação da cultura científica... 54

6.1 Os museus de ciência como os espaços de educação não-formal ... 57

CAPÍTULO II – CONTEXTUALIZAÇÃO ... 59

1 Caraterização do IST ... 59

2 Museus do IST ... 62

2.1 Museu de Engenharia Civil (Museu DECivil) ... 63

2.2 Museus de Geociências ... 64

CAPÍTULO III - METODOLOGIA ... 68

1 Pesquisa bibliográfica ... 68

2 Recolha de dados ... 70

3 Tratamento de dados ... 72

CAPÍTULO IV - CONCEÇÃO DO PROJETO ... 73

1 Origem... 73

2 Diagnóstico ... 74

3 Justificação do Projeto ... 76

4 Projeto serviço educativo nos Museus do Instituto Superior Técnico ... 78

4.1 Objetivos do Projeto ... 79

4.2 Estratégia Educativa do Projeto ... 80

4.3 Enquadramento legal ... 82

4.4 Recursos humanos ... 83

4.5 Recursos Financeiros ... 84

4.6 Ligação com a sociedade - Parcerias ... 85

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4.8 Destinatários /Públicos-alvo ... 87

4.9 Comunicação e Divulgação ... 88

4.10 Atividades educativas, sociais e culturais ... 90

5 Tipologia de Programação do Projeto ... 92

6 Avaliação ... 95

CAPÍTULO V – CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS... 98

1 Conclusão ... 98

2 Considerações finais ... 99

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 102

ANEXOS

Anexo 1 - MOOC en Educación y Museos

Anexo 2 - Guião de entrevista aos Diretores dos Museus do IST

Anexo 3 - Guião de entrevista aos serviços educativos museus universitários Anexo 4 - Lista das reuniões, atividades e eventos

Anexo 5 - Transcrição da entrevista à Diretora Museu DECivil Anexo 6 - Transcrição da entrevista ao Diretor Museu Geociências Anexo 7 - Transcrição da entrevista Coordenadora SE do MNHNAC Anexo 8 - Transcrição da entrevista à responsável do FEUP Museu

Anexo 9 - Análise de Conteúdo da Entrevista à Diretora do Museu DECivil

Anexo 10 - Análise de Conteúdo da Entrevista ao Diretor dos Museus de Geociências Anexo 11 - Regulamento Interno do Museu de Engenharia Civil

Anexo 12 - Regulamento Interno dos Museus de Geociências Anexo 13 - Folheto Peça do mês

Anexo 14 - Desdobrável Peça do mês

Anexo 15 A - Guião da atividade educativa Escolas (vigor) Anexo 15 B - Guião da atividade educativa - Escolas

Anexo 15 C - Guião da atividade educativa Escolas (atividade) Anexo 16 - Formulário on-line de inscrição de visita escolas

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8 Anexo 18 - Inquérito Público

Anexo 19 - Grelha registo recolha dados inquérito Anexo 20 - Grelha registo de recusas do inquérito

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1 - Visitantes inseridos em grupos escolares (N.º) de museus por tipologia Tabela 2 - Serviço educativo dos museus em 2014, por tipologia

Tabela 3 - Visitantes dos Museus, por tipologia ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema dos diversos níveis de formalização ação educativa Figura 2 - Modelos de relacionamento entre museus e educação

Figura 3 - Modelo Experiencial de Falk e Dierking

Figura 4 - Modelo “Experience Economy” de Pine e Gilmore Figura 5 - Perspetiva histórica da criação do IST (1836 – 1936)

Figura 6 - Localização dos museus do IST dentro do campus Alameda Figura 7 - Museus de Geociências e evolução das coleções

Figura 8 - Análise SWOT do contexto dos museus do IST

Figura 9 - Parcerias externas do serviço educativo dos museus do IST Figura 10 - Segmentos de Público-alvo

Figura 11 - Página do serviço educativo na rede social Facebook

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Museus com Serviço educativo por ano (2000-2009)

Gráficos 2 e 3 - Dados do estudo Eurobarómetro sobre acesso à cultura e participação cultural

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9 LISTA DE ACRÓNIMOS

APOM – Associação Portuguesa de Museologia CCB – Centro Cultural de Belém

CE – Comissão Europeia

CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa CTN – Campus Tecnológico e Nuclear

DECivil – Departamento de Engenharia Civil Arquitetura e Georrecursos DMC - Divisão de Museus e Credenciação

DMCC - Departamento de Museus, Conservação e Credenciação

EGEAC - Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural de Lisboa IAPMEI - Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação IAVE – Instituto de Avaliação Educativa

IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus ICOM – International Council of Museums

ID & I – Investigação Desenvolvimento e Inovação IICL - Instituto Industrial e Comercial de Lisboa IIL - Instituto Industrial de Lisboa

ISEG – Instituto Superior Economia de Gestão IST – Instituto Superior Técnico

MAB – Museu Alfredo Bensaúde MDT – Museu Décio Thadeu

MINOM – Movimento Internacional para a Nova Museologia MNAA – Museu Nacional de Arte Antiga

MUHNAC – Museu Nacional de História Natural e da Ciência

OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico ONU – Organização da Nações Unidas

PE – Plano Educativo

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10 RPM - Rede Portuguesa de Museus

UC – Universidade de Coimbra UL – Universidade de Lisboa

UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UP – Universidade do Porto

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11 GLOSSÁRIO

Este Glossário tem como objetivo esclarecer os principais conceitos utilizados no trabalho de projeto. Alguns deles estão presentes na legislação, regulamentação e em documentos de políticas públicas. Outros foram de ideias retiradas de trabalhos académicos e em publicações de profissionais do campo da educação museal.

Acervo – É o conteúdo de uma coleção privada ou pública, podendo ser de caráter bibliográfico, artístico, fotográfico, científico, histórico, documental, é preservado e guardado em museus.

Acessibilidade Universal – O acesso, a participação, o entendimento e o convívio entre todas as pessoas nos domínios: físico, intelectual, cognitivo, atitudional e financeiro. Ação Educativa – Processo e procedimentos que promovam a educação no museu visando a ampliação dos conhecimentos e possibilidades de expressão dos indivíduos, contribuindo para a integração entre museu e sociedade.

Coleção – Um conjunto de bens culturais e naturais, materiais e imateriais, passados e presentes.

Coleção visitável – Considera-se coleção visitável o conjunto de bens culturais conservados por uma pessoa singular ou coletiva, pública ou privada, exposto publicamente em instalações especialmente afetas a esse fim, mas que não reúna os meios que permitam o pleno desempenho das restantes funções museológicas que a lei em vigor estabelece para o museu.

Comunidade – Pode ser entendida como uma unidade dinâmica, onde se destacam os fatores de relacionamento, de delimitação geográfica e de função. As categorias de relações na comunidade referem-se aos vínculos básicos que correspondem aos laços mais resistentes na rede de relações, como a família, o trabalho e a vizinhança.

Educação Museal – Iniciativas de educação teoricamente referenciadas e desenvolvidas no âmbito de processos museais.

Educação Patrimonial - Processo permanente e sistemático de trabalho educativo, que tem como foco a valorização do património cultural com todas as suas manifestações. Espólio – Espólio significa património, isto é, todos os bens, direitos e obrigações deixadas por alguém.

Exposição – O termo “exposição” significa tanto o resultado da ação de expor, quanto o conjunto daquilo que é exposto e o lugar onde se expõe. A exposição apresenta-se atualmente como uma das principais funções do museu que, segundo a última definição do ICOM, “adquire, conserva, estuda, expõe e transmite o património material e imaterial da humanidade”.

Gestão museológica – A gestão museológica, ou administração de museus, é definida, atualmente, como a ação de conduzir as tarefas administrativas do museu ou, de forma

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mais geral, o conjunto de atividades que não estão diretamente ligadas às especificidades do museu (preservação, pesquisa e comunicação). Nesse sentido, a gestão museológica compreende essencialmente as tarefas ligadas aos aspetos financeiros (contabilidade, controlo de gestão, finanças) e jurídicos do museu, à segurança e manutenção da instituição, à organização da equipa de profissionais do museu, ao marketing e também aos processos estratégicos de planeamento gerais das atividades do museu.

Mediação - A mediação designa a ação de reconciliar ou colocar em acordo, favorecer a relação de duas ou várias partes através de intervenção, isto é, no quadro museológico, entre o público do museu com as coleções exibidas. As expressões mediação cultural ou mediação científica referem-se a um conjunto variado dispositivos e ações realizadas no contexto museal com a intenção de construir relações entre o que tem sido exposto e os significados que esses objetos e os lugares podem conter.

Missão educativa do museu – Para compreender a missão educativa do museu é preciso antes identificar qual a missão do museu, já que as duas missões estão intrinsecamente interligadas. A missão educativa deverá compreender que ação educacional é importante para o cumprimento do papel do museu, bem como o desenvolvimento do processo museológico, considerando o acervo institucional um referencial importante para o desenvolvimento das ações educacionais.

Museal – Sendo considerada como adjetivo ou como substantivo, a palavra apresenta duas aceções: (1) O adjetivo “museal” serve para qualificar tudo aquilo que é relativo ao museu, fazendo a distinção com outros domínios (por exemplo: “o mundo museal” para designar o mundo dos museus); (2) Como substantivo, “o museal” designa o campo de referência no qual se desenvolvem não apenas a criação, a realização e o funcionamento da instituição “museu”, mas também a reflexão sobre seus fundamentos e questões. Museologia – Etimologicamente, a museologia é “o estudo do museu” e não a sua prática – que remete à “museografia”.

Museu – O termo “museu” tanto pode designar a instituição quanto o estabelecimento, ou o lugar geralmente concebido para realizar a organização, a seleção, o estudo e a apresentação de testemunhos materiais e imateriais do Homem e do seu meio.

Parceria/Parceiros – Pessoas ou entidades com quem podemos trabalhar de modo a melhorar a qualidade dos serviços prestados pelo museu (museus, instituições culturais, educacionais, patrocinadores, grupos de interesse, voluntários, organizações artísticas, órgãos de comunicação social, público visitante, etc.) para realizar ações de cooperação, visando alcançar objetivos e metas comuns, trocando experiências e conhecimentos, numa base comercial ou não comercial.

Património – O património é um bem público, que abrange as coleções de museus. Entende-se por património cultural imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e saber-fazer – assim como os instrumentos, objetos, artefactos e espaços culturais que lhes são associados – que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecem como fazendo parte de seu património cultural.

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Política Educativa – Nos últimos anos, vários museus delinearam políticas educativas. Esta expressão sintetiza, não só, uma abordagem teórica às questões educativas nos museus, bem como as práticas desenvolvidas em torno dessa função educativa, e ainda o modo como esta se relaciona com as outras funções. Uma política educativa abrange áreas como os utilizadores, pesquisa de mercado, necessidades educativas, tipos e qualidade de planeamento, desenvolvimento das exposições, avaliação, marketing, a gestão dos recursos, formação dos funcionários e voluntários, bem como trabalho em parceiras.

Projeto Educativo – Ação ou conjunto de ações educativas com metodologia, conteúdo, objetivos, justificação e duração definidos, realizados por serviços educativos de museus ou de outras instituições museológicas.

Público de museus – Conjunto de segmentos socioculturais formados por visitantes potenciais dos museus, frequentadores assíduos, além dos indivíduos que manifestam interesse e curiosidade pelas instituições museais. Aqueles que usam os serviços prestados pelo museu: crianças do ensino básico, estudantes do secundário, universitários, investigadores, artistas, ou qualquer um que se desloque ao museu com o objetivo de usufruir do que o museu tem para oferecer.

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No âmbito do Mestrado em Educação e Formação - área de Desenvolvimento Social e Cultural, do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, o trabalho final compreende a elaboração de uma dissertação de natureza científica, de um trabalho de projeto ou a realização de um estágio de natureza profissional, para a obtenção do grau de Mestre em Educação e Formação. A minha escolha incidiu no trabalho de projeto, pois, a nível pessoal e profissional, considero que a modalidade de projeto é uma oportunidade de consolidar e pôr em prática os conhecimentos obtidos no decorrer do Mestrado.

Tendo como incentivo os trabalhos realizados no primeiro ano, na unidade curricular Educação, Cultura e Serviços Educativos, a escolha do tema de projeto recaiu sobre as temáticas da disciplina. Optei por escolher como instituição o Instituto Superior Técnico tendo em conta a ligação profissional de 24 anos. Desenvolver um projeto útil para a instituição onde trabalho faz-me sentir mais confortável e realizada.

O título do projeto é “Projeto de criação de um serviço educativo nos museus do Instituto Superior Técnico”, cujo tema principal é a educação museal. O objetivo principal deste estudo consiste em criar um serviço educativo museológico, no Instituto Superior Técnico, que promova a divulgação científica, oferecendo programas de caráter educativo, social e cultural, no âmbito da educação formal e não-formal, para os mais variados públicos.

Embora nos últimos anos o Instituto Superior Técnico tivesse inovado a oferta educativa não-formal no ensino das ciências (participação na escola de verão da UL, laboratórios abertos, BEST Summer Course, Escola Ciência Viva, entre outros), esta oferta poderá ser melhorada e ampliada, podendo os museus ser grandes impulsionadores. Os museus universitários (como é o caso do museus do IST) têm sido cada vez mais consagrados como espaços fundamentais para o desenvolvimento da educação não-formal das ciências e de ampla divulgação científica e podem dar uma luz

INTRODUÇÃO

"Which museums will survive in the 21st century? Museums with charm and museums with chairs."

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ao ensino de ciências nos vários níveis de ensino. No entanto, para que isso aconteça é preciso que estes sejam dotados de atividades educativas de diferentes naturezas e estratégias variadas de forma a gerara aprendizagem. Neste sentido, um dos objetivos deste projeto é desenvolver uma estrutura educativa com um projeto pedagógico para os museus do IST, para que os museus se convertam em espaços com utilização continuada e sistemática de ensino-aprendizagem, através da educação não-formal.

Um outro desafio do projeto é incrementar e diversificar o público que visita os museus. A oferta de programas, atividades, formações, seminários e workshops a nível do ensino das ciências e tecnologia, atrás referida, no âmbito de uma educação não-formal, é direcionada preferencialmente para jovens pré-universitários e/ou universitários, porém, todos devem ter a possibilidade de realizar atividades/experiências científicas. Essa oportunidade pode abrir portas e despertar interesse quer nas crianças quer nos adultos para as quatro áreas de desenvolvimento no IST: ciência, engenharia, arquitetura e tecnologia. Este projeto surgiu com a intenção de proporcionar uma maior proximidade dos museus do IST com os vários tipos de públicos. O serviço educativo é uma das melhores formas de trabalhar diretamente com estes públicos. Segundo Honrado, “um dos instrumentos que permitiram essa relação de mediação assente numa relação de grande cumplicidade com os públicos foi indubitavelmente a criação do Serviço Educativo”. (Honrado, 2007, p.21).

O projeto tem o intuito de dinamizar a instituição e de criar condições, com vista a dar um contributo para a estruturação e a criação de um futuro serviço educativo dos museus do IST. De uma ótica profissional, espera-se que este projeto, e com o apoio da instituição, conceda a possibilidade de fazer parte do mesmo, dando continuidade ao trabalho desenvolvido. Numa perspectiva dinâmica, procurar-se-á a melhoria e o aperfeiçoamento constante. De uma forma geral, o desenvolvimento deste trabalho de investigação prende-se com o interesse pessoal em investir nesta área dos serviços educativos dos museus e explorar quais os contributos do acervo e espólio científico do IST para a literacia científica-tecnológica.

A estrutura deste trabalho está dividida em seis partes: Na presente introdução, define-se o objeto de estudo e a estrutura. Para alcançar os objetivos propostos foi fundamental proceder ao enquadramento teórico do projeto no contexto museológico, educativo e universitário apresentado no capítulo I.

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O capítulo II é dedicado à contextualização do IST. Dentro deste capítulo é também apresentada a caraterização de cada um dos museus.

O terceiro capítulo é constituído pela apresentação da metodologia, onde fundamentamos os métodos de recolha, análise e tratamento de dados que utilizamos para a conceção do projeto.

Na quarta parte apresentamos os resultados do estudo, os trabalhos desenvolvidos durante este percurso e que servem como fundamento à proposta de criação de um serviço educativo, também aí apresentada.

Por último, na quinta parte, são apresentadas as conclusões e considerações finais que incluem uma apreciação global de todo o trabalho desenvolvido, assim como os desafios e diretrizes para o futuro que podem aflorar com a implementação do serviço educativo.

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Neste capítulo pretende-se clarificar conceitos, princípios, modelos, fundamentos e apresentar trabalhos e estudos com base nos quais este trabalho de projeto foi realizado. É importante realçar que a fundamentação teórica referente à construção deste projeto não cessa neste capítulo, estando presente em todo o texto, com destaque para outras conceções que serão abordadas no capítulo IV reservado ao projeto.

Para o desenvolvimento deste trabalho utilizamos bibliografia de alguns dos mais importantes teóricos e especialistas no âmbito da museologia e educação museal, provenientes de diferentes partes do mundo.

1 Breve perspetiva histórica do conceito de museu

“O museu é o lugar em que sensações, ideias e imagens de pronto irradiadas por objetos e referenciais ali reunidos iluminam valores essenciais para o ser humano. Espaço fascinante onde se descobre e se aprende, nele se amplia o conhecimento e se aprofunda a consciência da identidade, da solidariedade e da partilha. Por meio dos museus, a vida social recupera a dimensão humana que se esvai na pressa da hora. As cidades encontram o espelho que lhes revele a face apagada no turbilhão do quotidiano. E cada pessoa acolhida por um museu acaba por saber mais de si mesma.”

(IBRAM, 2016, site oficial)

CAPÍTULO I - ENQUADRAMENTO TEÓRICO

“Que olhem para os museus e para além dos museus”

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“Como definir o museu? Pela abordagem conceptual, por meio da reflexão teórica e prática, pelo seu funcionamento, pelos seus atores (profissionais, público), ou pelas funções que decorrem de sua ação?” (Desvallées & Mairesse, 2013, p. 23).

Como podemos verificar através do questionamento destes autores, existem diversas perspetivas possíveis de decomposição do conceito de museu. Vamos começar pela génese. A origem etimológica da palavra “museu” é proveniente do termo latim “museum”, que por sua vez deriva do grego mouseion, e que era o lugar das musas, as nove filhas de Mnemosine e Zeus, divindades mitológicas inspiradoras da criação artística ou científica (Antunes, 2015). Como refere Pérez (2009) “Este sentido etimológico converte o museu num lugar de inspiração” (p. 183).

A partir de uma pesquisa sobre o conceito de museu, podemos notar que a definição do ICOM/UNESCO é uma referência na comunidade internacional e que tem evoluído, no sentido de uma maior precisão e abrangência. Segundo no site do ICOM, “A definição de museu evoluiu, em consonância com a evolução da sociedade. Desde sua criação em 1946, o ICOM atualiza essa definição de acordo com as realidades da comunidade global de museus”.

Encontramos uma definição de 1956 do ICOM que nos define museu como:

Uma instituição de caráter permanente, administrado para interesse geral, com a finalidade de recolher, conservar, pesquisar e valorizar de diversas maneiras um conjunto de elementos de valor cultural e ambiental: coleções de objetos artísticos, históricos, científicos e técnicos. Numa perspetiva alargada, o conceito abrange ainda jardins botânicos e zoológicos e aquários.

Nos Estatutos do ICOM, adotados pela 16ª Assembleia Geral do ICOM (Haia, 1989) e modificados pela 18ª Assembleia Geral do ICOM (Noruega, 1995) a definição de museu passou a ser:

O museu é uma instituição permanente, sem finalidade lucrativa, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que realiza investigações que dizem respeito aos testemunhos materiais do homem e do seu meio ambiente, adquire os mesmos, conserva-os, transmite-os e expõe-nos especialmente com intenções de estudo, de educação e de deleite (ICOM, 2016, site oficial)

Na definição aprovada pela 20ª Assembleia Geral, Barcelona, Espanha, decorrida a 6 de julho de 2001 podemos ler:

O museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, investiga, difunde e expõe os testemunhos materiais do homem e do seu entorno, para educação e deleite da sociedade (ICOM, 2016, site oficial).

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De acordo com os Estatutos do ICOM, adotados na 21ª Conferência Geral, que se realizou entre os dias 19 e 24 de agosto de 2007 em Viena, Áustria, a definição do conceito museu que se encontra atualmente em vigor é:

O museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, investiga, comunica e expõe o património material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educação, estudo e deleite (ICOM, 2016, site oficial).

De acordo com a legislação portuguesa, a Lei-Quadro dos Museus Portugueses – Lei n.º 47/2004, de 19 de agosto estabelece, no artigo 3º a seguinte definição de museu:

1 ― Museu é uma instituição de carácter permanente, com ou sem personalidade jurídica, sem fins lucrativos, dotada de uma estrutura organizacional que lhe permite:

a) garantir um destino unitário a um conjunto de bens culturais e valorizá-los através da investigação, incorporação, inventário, documentação, conservação, interpretação, exposição e divulgação, com objetivos científicos, educativos e lúdicos;

b) facultar acesso regular ao público e fomentar a democratização da cultura, a promoção da pessoa e o desenvolvimento da sociedade.

2 ― Consideram-se museus as instituições, com diferentes designações, que apresentem as características e cumpram as funções museológicas previstas na presente lei para o museu, ainda que o respetivo acervo integre espécies vivas, tanto botânicas como zoológicas, testemunhos resultantes da materialização de ideias, representações de realidades existentes ou virtuais, assim como bens de património cultural imóvel, ambiental e paisagístico.

Em análise, quer na evolução do conceito entre 1946 e 2007 do ICOM, quer na legislação portuguesa criada em 2004, podemos notar em todas as definições a abrangência do conceito de museu e alguns princípios que estão sempre presentes, tais como: o museu tem de ser uma instituição organizada, que conserva objetos (de valor histórico ou artístico), que não visa lucro e que tenha um caráter cultural e científico. Também é visível a inclusão de termos que nos revelam as novas tendências e preocupações museológicas ligadas ao público e à sociedade e com um caráter mais lúdico, que nos remetem para o museu e a sua função social. No entanto, destaca-se a introdução da função educativa como parte integrante da definição do termo.

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2 Evolução da “Nova Museologia”

Consta-se que nem sempre o termo “museu” foi aplicado em relação às coleções de objetos de valor histórico e artístico. Na Grécia Antiga o museu era um templo das musas, divindades que presidiam a poesia, a música, a oratória, a história, a tragédia, a comédia, a dança e a astronomia. Durante a Idade Média já existia uma coleção de objetos ativa, sendo vista como sinal de notoriedade, apesar de a noção de museu quase ter desaparecido. A partir do Renascimento é que este termo passou a ser aplicado em relação a coleções de objetos de valor histórico e artístico (Falcão, 2009). No entanto, desde tempos remotos (pré-história) o homem tem o hábito de colecionar objetos e reunir vários tipos de artefactos.

Entre os séculos XVI e XVII, com a expansão do conhecimento através da Era dos Descobrimentos, formaram-se na Europa inúmeros gabinetes de curiosidades, que tiveram um papel importante na evolução da história e da filosofia natural, com coleções bastante heterogéneas de peças das mais variadas naturezas, tais como fósseis, esqueletos, minerais, objetos exóticos de países longínquos, obras de arte, máquinas e inventos e outras peças cultural ou cientificamente relevantes. Segundo Falcão (2009), alguns dos museus mais importantes da atualidade, constituídos na Europa do século XVIII surgiram dos acervos provenientes de coleções particulares ou reais a partir do surgimento das grandes navegações.

Por esse motivo, os primeiros museus surgiram de coleções privadas, com um acesso restrito e as coleções de ciência e de história natural estavam só ao alcance das pessoas com interesses científicos, o que os tornava inacessíveis à população em geral.

O primeiro museu universitário surge na Inglaterra no século XVII, a partir da doação da coleção de Elias Ashmole à Universidade de Oxford. Inaugurado em 6 de junho de 1683, o Ashmolean Museum, é considerado o primeiro museu público do mundo, ainda que fosse um local de pesquisa destinado prioritariamente aos alunos da universidade.

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Outros importantes museus fundados no século XVIII foram o Museu Britânico1, fundado em Londres em 1753 e o Museu do Louvre, em Paris, primeiro museu de arte do mundo, em 1793, com as suas coleções acessíveis a todas as pessoas, com finalidade cultural e lúdica e por iniciativa governamental. No século XIX o “museu” continuou em transformação e começaram a surgir museus modernos ligados a vários temas e áreas, expandindo os seus horizontes e abandonando progressivamente o simples colecionismo para destacar a exibição e catalogação.

No decurso da sua história, as sociedades têm tido várias mudanças nas áreas política, económica e sociocultural, desse modo os museus são obrigados a dar uma resposta às novas estruturas, necessidades e sistemas de valores das novas sociedades.

(…) como instituição dedicada à memória e à celebração do passado, os museus desempenham um papel fundamental na construção de ideologias e identidades sociais (Falcão 2009, 12).

As práticas museológicas antigas, caraterizadas acima de tudo por uma atitude passiva diante da sociedade, vigoraram até meados do século XX. É após a II Guerra Mundial, em Paris no ano de 1946, que foi criado o primeiro organismo internacional, sem fins lucrativos, que se dedica exclusivamente a elaborar políticas internacionais para os museus – ICOM – Conselho Internacional dos Museus, dependente da UNESCO.

Desde esta altura até ao início da década de 70 que se desenvolveu um aprofundamento científico do termo ligado à interdisciplinaridade e atividade educativa dos museus. Segundo Santos (2002) “os anos 60 foram marcados pelo movimento artístico-cultural, que destaca o novo, com participação da juventude, na recusa aos modelos estabelecidos e prepara o terreno lança as sementes”. Também Paiva e Primon (2013) referem que nos anos 60 e 70 existiu um grande debate que contesta os conceitos e os modelos museográficos até então vigentes.

Azevedo reforça a ideia desta época ser um marco histórico na museologia, afirmando:

Assim, os anos 60 e 70 do século XX foram particularmente marcantes no campo da museologia, pelo debate que se assistia nos países industrializados e de cultura europeia ocidental e pelas novas aceções teóricas que colocavam em causa a museologia tradicional, a favor de uma museologia voltada para a comunidade e preocupada com o seu papel social. (Azevedo, 2010, p.42).

1 Foi mencionado pelo The art newspaper o segundo museu mais visitado do mundo em 2015 por ter recebido mais de 6,8 milhões

de visitantes. Este museu é um marco em termos de estabelecimento do método museológico. Este foi também o primeiro grande museu público gratuito do mundo.

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A autêntica revolução da conceção do museu público acontece entre as décadas de 70 e 80, que veio dar um novo impulso ao meio museológico. Estas décadas foram marcadas por trabalhos museológicos desenvolvidos em vários países, embora não existisse um intercâmbio internacional entre os diversos projetos e o reconhecimento e o apoio necessários (Santos, 2002).Não podemos deixar de invocar que os principais promotores de muitas iniciativas museológicas inovadoras foram George Henri Rivière2 e Hugues de Varine3, os dois primeiros diretores franceses do ICOM, que estabeleciam relações entre os responsáveis dos projetos, inclusive dos diferentes países.

Essa nova prática museal, mais virada para o público, tem um conjunto de documentos fundadores, sendo o mais importante deles a Declaração de Santiago do Chile (Moutinho, 2015), e declarado pelos próprios participantes do movimento como o “referencial básico”. Consideramos como fundamentais quatro documentos, neste processo de mudança e novos caminhos no percurso das instituições museais: as conclusões do Seminário Regional da UNESCO sobre função educativa dos Museus (Rio de Janeiro, 1958); a Declaração da Mesa-Redonda de Santiago do Chile de 1972, que introduziu o conceito de museu integral, criando novas vertentes para as práticas museais; a Declaração de Quebec de 1984, que compilou os princípios básicos da “Nova Museologia” e a Declaração de Caracas de 1992, sinal da maturidade obtida em três décadas de esforços na construção de um novo papel para os museus (Araújo & Bruno, 1995).

No Seminário do Rio de Janeiro foram focadas questões desde a conservação, manutenção e divulgação das coleções, até à reflexão sobre o conceito de museu e da museologia como um campo disciplinar. Um dos temas mais importantes discutidos foi o da exposição, através da qual o museu estabelece o seu vínculo com a sociedade, sendo considerado um elemento dinâmico no seio da mesma. Este seminário “é parte de um projeto que tinha como objetivo discutir, em várias regiões do mundo, a função que os museus deveriam cumprir como meio educativo” (Santos, 2002, p. 99). É nesta época, segundo a mesma autora, que começam a surgir algumas preocupações em relação aos aspetos pedagógicos, como por exemplo, avaliar a qualidade dos serviços oferecidos aos alunos e professores que visitavam os museus, e em transformar a visita guiada num momento de aprendizagem, estimulando o aluno a comparar estilos e

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Georges Henri Rivière (1897-1985) primeiro diretor do ICOM, foi um dos mais importantes curadores de museus e um dos geradores de uma das mais importantes correntes museológicas do século passado: a Nova Museologia, e do conceito de ecomuseu;

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Hugues de Varine (1935-) sucessor de Rivière como diretor do ICOM de 1965 até 1974, consultor internacional nas áreas museológicas marcadas pela intervenção comunitária visando o desenvolvimento local. Viveu e trabalhou vários anos em Portugal à frente do Instituto Franco Português.

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formas, a contextualizar e a realizar ligações entre arte e ciência. Ou seja, chamara atenção para a necessidade de criação de exposições com base na interdisciplinaridade (Santos, 2002)

A "Mesa-Redonda” que decorreu de 20 a 31 de maio de 1972 em Santiago do Chile organizada pela UNESCO, é uma referência na museologia. O objetivo era pensar sobre o desenvolvimento e o papel dos museus no mundo contemporâneo. Estiveram envolvidos doze diretores de grandes museus nacionais da América Latina (Varine, 2013), que acharam que os museus devem desempenhar um papel na educação da comunidade. Entre os postulados da declaração, estava a construção do conceito de “Museu Integral4”, destinado a "situar o público dentro do seu mundo, para que tome

consciência da sua problemática como homem-indivíduo e homem-social", por outras palavras, um museu como instrumento de desenvolvimento comunitário. Um novo conceito de ação dos museus ficou então definido: museu integral destinado a proporcionar à comunidade uma visão de conjunto do seu meio material e cultural (ICOM, 1972, cit. Gabriele, 2014).

Ainda sobre esta ideia a museóloga Santos refere:

(…) a construção do conceito de museu integral foi um marco importante na museologia, pois evidenciou a importância de direcionar o olhar para a realidade social, bem como buscar a conscientização da cultura e da identidade nos discursos da instituição museológica” (Santos, 1999, cit. Gabriele, 2014, 44).

A Declaração de Santiago do Chile de 1972 é um marco histórico no conceito de museu, onde o movimento de nova museologia tem a sua primeira expressão pública e internacional. Como refere Antunes (2015) “No século XX, na museologia, há um antes e um depois de Santiago do Chile de 1972”. O mesmo autor refere que foi um virar de página no pensamento e prática da museologia, uma verdadeira rutura epistemológica. É de salientara influência do pensamento de Paulo Freire para este movimento de renovação da museologia, daí o convite de Hugues de Varine para este fazer parte da presidência da “Mesa Redonda”. Apesar do pedido ter sido inviabilizado por razões políticas da altura, o pensamento do educador brasileiro foi muito importante na museologia (apesar de serem poucos os estudos que tratam a relação de Paulo Freire com esta área de estudo), sobretudo no que se refere aos conceitos de “conscientização e

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Museu Integral fundamenta-se não apenas na musealização de todo o conjunto patrimonial de um dado território (espaço geográfico, clima, recursos naturais renováveis e não renováveis, formas passadas e atuais de ocupação humana, processos e produtos culturais, advindos dessas formas de ocupação), ou na ênfase no trabalho comunitário, mas na capacidade intrínseca que possui qualquer museu (ou seja, qualquer representação do fenómeno museu) de estabelecer relações com o espaço, o tempo e a memória – e de atuar diretamente junto a determinados grupos sociais (Scheiner 2012, p.19).

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a mudança”, da transformação do homem-objeto em homem-sujeito. (Alves e Reis, 2013).Na opinião das mesmas autoras “os princípios de base do museu integral proposto na Mesa de Santiago, ressaltando o papel decisivo dos museus na educação da comunidade, expressam bem a marca de Freire”(Alves & Reis, 2013, p.129).

O próprio documento refere que “este movimento afirma a função social do museu e o carácter global das suas intervenções”, podemos reforçar esta ideia com Rivière que refere:

Os museus devem, por isso, cumprir funções sociais, educativas e culturais para uma comunidade e assumir esse compromisso porque têm um papel ativo nas ações sociais, económicas e culturais por meio de ações educativas (Riviére cit. por Carvalho, 2014, p. 53).

Podemos ainda acrescentar que o curador de museus Georges-Henri Rivière define os museus como instituições que devem conservar, comunicar e expor o património, com a finalidade de desenvolver a educação e cultura, e defende que os grandes motores da mudança são os visitantes, como próprios atores das atividades museológicas. Para Hughes de Varine nos textos de “Santiago” é sempre possível reencontrar o seu sentido verdadeiro e inovador, senão revolucionário, e destaca duas noções: aquela de museu integral que considerada os problemas da sociedade e aquela do museu enquanto instrumento dinâmico de mudança social, referindo que:

Esquecia-se assim, aquilo que havia-se constituído, durante mais de dois séculos, na mais clara vocação do museu: a missão da coleta e da conservação. Chegou-se, em oposição, a um conceito de património global a ser gerenciado no interesse do homem e de todos os homens. (Araújo & Bruno, 1995).

Conforme refere Baldroegas (2013), “esta nova corrente museológica defendia uma maior abertura por parte das instituições, procurando uma relação de diálogo efetivo com a comunidade, desenvolvendo ações dentro e fora do espaço museológico, recusando assim o modelo tradicional de museu, defendendo uma mudança de paradigma” (p.15). Na verdade a museologia atravessa nesta época uma fase em que há uma rutura entre a museologia anterior e com a “Nova Museologia” (Carvalho, 2014), transita-se de uma museologia de coleções, preocupada com as questões administrativas e a preservação do objeto, para uma museologia com interesses de carácter social e virada para as comunidades. Como refere Pérez (2009) “O museu passará a ser criado com a comunidade, respondendo assim às suas necessidades e realizando um exercício de cidadania” (p.181). Moutinho (1995) ainda acrescenta que o público nestes novos museus passa a ter o lugar de colaborador, de utilizador ou de criador, mais do que

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observador. Como podemos verificar com o discurso do movimento da nova museologia, os objetos perdem a condição de depositários de valores transcendentes e independentes das classes, grupos e categorias sociais (Paiva, 2013), no entanto a nova museologia propunha reflexão e intervenção.

Destaca a autora referida que:

Com esta nova abordagem o objeto passa a ser relacionado com o contexto fazendo com que as ações desenvolvidas saíam do edifício e passem a ser exercidas de forma participativa pela comunidade. Isso contribui para a criação de novas tipologias de museus como a dos ecomuseus, museus abertos, e outros. O acervo passa a ser utilizado como meio para uma leitura crítica do processo histórico, fazendo do museu um espaço dinâmico que reflete o quotidiano (Paiva & Primon, 2013. p. 7)

Este movimento surge na França, através de um grupo de museólogos insatisfeitos com a forma como os museus desenvolviam o seu papel. Porém podemos assumir que nasce oficialmente no I Atelier Internacional Ecomuseus/Nova Museologia, que aconteceu no Canadá, na Declaração de Québec de 1984, onde estão mencionados os princípios que devem orientar as ações para a “Nova Museologia” mais interdisciplinar e social, face à museologia tradicional de coleções, onde se reconhece a ecomuseologia, a museologia comunitária, e as outras museologias alternativas que surgiram em vários países, como por exemplo Mali, República dos Camarões, Panamá, E.U.A., México, Suécia e Reino Unido (Moutinho, 1995).

Segundo Santos (2002), os princípios básicos que orientam as ações da “Nova Museologia”, podem resumir-se nos seguintes pontos:

 reconhecimento das identidades e das culturas de todos os grupos humanos;

 utilização de memória coletiva como referencial básico para o entendimento e a transformação da realidade;

 incentivo à apropriação e reapropriação do património, para que a identidade seja vivida, na pluralidade e na rutura;

 desenvolvimento de ações museológicas, considerando como ponto de partida a prática social e não as coleções;

 socialização de função de preservação;

 interpretação da relação entre o homem e o seu meio ambiente e da influência da herança cultural e natural na identidade dos indivíduos e dos grupos sociais;

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 ação comunicativa dos técnicos e dos grupos comunitários, visando o entendimento, a transformação e o desenvolvimento social.

Partindo destes princípios Santos (2002) entende o tema da “Nova Museologia ”do seguinte modo:

Considero o Movimento da Nova Museologia um dos momentos mais significativos da Museologia Contemporânea, pelo seu caráter contestador, criativo, transformador, enfim, por ser um vetor no sentido de tornar possível a execução de processos museais mais ajustados às necessidades dos cidadãos, em diferentes contextos, por meio da participação, visando ao desenvolvimento social (Santos, 2002, p. 94).

Em 1985 houve o II Encontro Internacional “Nova Museologia/Museus Locais”, em Lisboa, onde se reconheceu oficialmente como organização o MINOM (Movimento Internacional para a Nova Museologia), que mais tarde passou a ser reconhecido como organização afiliada do ICOM. Somente 10 anos depois é constituída a MINOM em Portugal que tem sido o principal difusor da nova museologia em Portugal, através da organização de jornadas anuais por todo o país.

Segundo Moutinho: “o Atelier de 1984 e a criação do MINOM devem ser entendidos como um todo coerente, que contribuiu desde então, para o reconhecimento no seio da museologia, do direito à diferença” (Moutinho, 1995, p.29).

Fazendo um breve balanço da “Nova Museologia” em Portugal, Manuel Antunes escreve:

Este movimento tem desempenhado fundamental, procurando fomentar a reflexão sobre ideias e práticas museológicas, que coloquem os museus ao serviço das comunidades em que se inserem e das suas perspetivas de desenvolvimento. Com uma Museologia Social que encoraje a consciência política, o exercício da cidadania, a participação comunitária e o espírito de iniciativa, ao serviço da realização do ser cultural, enfim, do ser humano. (Antunes, 2015, p.153).

O quatro documento - A Declaração de Caracas, na Venezuela, em 5 de fevereiro de 1992, fez uma atualização dos conceitos da Mesa Redonda, realizada 20 anos atrás, e uma reflexão sobre a situação museológica da altura e das alterações desde 1972, que revelam uma museologia dinâmica e integrante. Segundo Moutinho, esta mudança de atitude foi referida por Hugues de Varine no relatório de síntese da Conferência Geral do ICOM Canadá, 1992:

Das reuniões dos comitês internacionais tornou-se claro que existe uma forte corrente voltada para a abertura e para a inovação (…) levando profissionais dos museus a agir de forma não-tradicional e aceitarem ser influenciados por conceitos multiculturais. A cooperação interdisciplinar que está emergindo no

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seio do ICOM, às pontes construídas entre várias disciplinas e projetos, e grupos como o MINOM são indicações deste espírito de abertura” (Moutinho, 1995, p. 29).

3 Educação nos museus

“A Educação, qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimento posta em prática”.

Paulo Freire 3.1 Conceito de Educação

Durante muitos anos a Educação teve uma conceção muito restrita e quase sinónimo de Escola. Esta ideia estava ligada ao conceito de que a infância e a adolescência seriam os períodos ideais para adquirir conhecimento e competências e a idade adulta seria o momento para aplicar esses conhecimentos e competências adquiridas na idade escolar. Esta conceção de educação reporta para uma visão estática do conhecimento, já que se considera que os conhecimentos adquiridos num determinado período da vida, são os mesmos que necessitamos em etapas posteriores da nova vida.

Porém a aprendizagem não se limita a um determinado período da vida de uma pessoa, a aprendizagem acontece durante todo o ciclo de vida da pessoa e tem lugar nos vários contextos onde a pessoa se desenvolve, como na família, nas atividades de lazer, no trabalho, etc. A importância da educação, entendida como um fator estratégico de desenvolvimento e de “progresso”, constitui, hoje, uma ideia relativamente consensual que não representa, contudo, uma novidade (Canário, 2000).

A globalização do pensamento e da ação educativa, historicamente marcados pela emergência do conceito de educação permanente, conduz (entre outras dimensões) a encarar o processo educativo como um continuum que integra e articula diversos níveis de formalização da ação educativa:

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Figura 1 - Esquema dos diversos níveis de formalização ação educativa (Canário 2000)

Com efeito, estes três níveis de formalização, precisamente porque são um continuum, não se apresentam como estanques e rigidamente delimitados, podendo e devendo articular-se de modo fecundo, como podemos verificar pela seguinte descrição de Chagas (1993):

A educação formal carateriza-se por ser altamente estruturada. Desenvolve-se no seio de instituições próprias – escolas e universidades – onde o aluno deve seguir um programa pré-determinado, semelhante ao dos outros alunos que frequentam a mesma instituição. A educação não-formal processa-se fora da esfera escolar e é veiculada pelos museus, meios de comunicação e outras instituições que organizam eventos de diversa ordem, tais como cursos livres, feiras e encontros, com o propósito de ensinar ciência a um público heterogéneo. A aprendizagem não-formal desenvolve-se, assim, de acordo com os desejos do indivíduo, num clima especialmente concebido para se tornar agradável. Finalmente, a educação informal ocorre de forma espontânea na vida do dia-a-dia através de conversas e vivências familiares, amigos, colegas e interlocutores ocasionais (Chagas, 1993, p. 52).

Deste modo o termo aprendizagem ao longo da vida faz menção a toda a atividade formativa que a pessoa realiza, a qualquer momento da sua vida, para adquirir conhecimentos e competências e/ ou ampliar os que já possui. Este entendimento é uma das grandes características das sociedades do século XXI. A 1 de janeiro de 2016 entrou em vigor a resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) intitulada “Transformar o nosso mundo: Agenda 2030 de desenvolvimento sustentável”, constituída por 17 objetivos, desdobrada em 160 metas. Relativamente à educação no objetivo 4 ”Garantir educação inclusiva, de qualidade e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos” (ONU, 2016). Perante

Ação Educativa

Formal

Um nível de que o protótipo é o ensino dispensado pela escola, com base na assimetria

professor aluno, na estruturação prévia de programação e horários, na existência de processos avaliativos e de certificação. Não Formal

Um nível caraterizado pela flexibilidade de horários, programas e locais, baseado geralmente no voluntariado,

em que está presente a preocupação de construir

situações educativas “à medida” de contextos e públicos singulares

Informal

Um nível que corresponde a todas as situações de aprendizagem espontânea potencialmente educativas, mesmo que não conscientes, nem intencionais, por parte dos destinatários, correspondendo a

situações pouco ou nada estruturadas e organizadas.

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estes desafios que apelam a uma sociedade inclusiva, tendo presente a noção de aprendizagem ao longo da vida, podemos afirmar que a educação não formal, como uma dimensão para a educação para a cidadania.

Deste modo, na atualidade considera-se que a educação acontece em todas aquelas atividades e práticas sociais que promovem o desenvolvimento pessoal e social das pessoas.

A propósito desta ideia podemos ainda referir que:

considerar que esta variedade de iniciativas educativas reflete uma certa tendência da sociedade atual em valorizar a designada “educação ao longo da vida”, nomeadamente nos contextos de educação não formal, como são os museus, e em dirigir as suas iniciativas para qualquer indivíduo independentemente da sua faixa etária, situação económica e estatuto social ou proveniência cultural”. (Azevedo, 2010, p. 5).

3.2 Papel educativo dos museus

Como já foi referido, a maioria dos museus oferece oportunidades de aprendizagem e lazer, sendo a educação uma das funções centrais dos museus. Segundo Chagas (1993), os museus têm um interesse crescente, não só por parte de instituições ligadas à educação, quer governamentais quer privadas, como também por parte do público em geral. À medida que o museu passou a estar menos voltado para si próprio e mais voltado para o público, começou igualmente a dedicar-se mais atenção ao papel educativo dos museus (Mendes, 2013, p. 39). O papel educativo dos museus tem contribuído para o destaque que o museu tem tido cada vez mais, e que certamente continuará a ter nas próximas décadas, devido ao novo contexto social e científico-pedagógico.

A recomendação da UNESCO5 aponta, como funções fundamentais dos museus, a preservação, investigação, comunicação e educação. Sobre a função educação, sugere o seguinte:

A educação é outra função fundamental dos museus. Os museus atuam na educação formal e informal e na aprendizagem ao longo da vida, através do desenvolvimento e da transmissão do conhecimento, de programas educativos e pedagógicos, em parceria com outras instituições, especialmente as escolas. Os programas educativos nos museus contribuem fundamentalmente para

5 Recomendação relativa à proteção e promoção dos museus e das coleções, da sua diversidade e do seu papel na sociedade

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educar os diversos públicos acerca dos temas das suas coleções e sobre a cidadania, bem como ajudam a consciencializar sobre a importância de se preservar o património e impulsionam a criatividade. Os museus podem ainda promover conhecimentos e experiências que contribuem para a compreensão de temas sociais correlacionados. (ONU, Paris, 2015)

Segundo (Sagüés, 2011), “a educação formal, a educação não formal e educação informal formam uma rede que permite que as pessoas aprendam ao longo da sua vida através de vários meios, incluindo o museu” e nesse sentido apresenta três modelos de relacionamento entre os museus e a educação:

Figura 2 - Modelos de relacionamento entre museus e educação (Sagüés, 2011)

Como já aqui foi enfatizado, cada vez mais os museus ocupam um lugar central na sociedade e os seus espaços e funções educativas têm tido uma grande transformação desde a sua criação até aos nossos dias. Existem várias perspetivas de abordagem sobre este tema, mas sobre a educação nos museus Alves (2007) diz-nos:

A educação nos museus foi-se tornando um serviço essencial que as políticas entendiam prestar-se a viabilizar os critérios sócio-culturais do museu, entre outros, enquanto finalidades e através de meios a concretizar para o público. Os museus e os serviços educativos que neles operam podem ser um contributo fundamental para uma educação atual como expressão de uma sociedade orientada por princípios capazes de contribuir para o desenvolvimento alargado e integral das várias dimensões do ser humano em qualquer situação e momento da sua vida. Eles começam a tornar-se um retrato das “novas comunidades educativas emergentes”, que sem pretenderem substituir, complementam e demarcam outros horizontes culturais para além da escola. A

MUSEU E EDUCAÇÃO FORMAL

O museu como instrumento de ensino-aprendizagem do currículo escolar. Tenta criar

hábitos de consumo cultural entre o público escolar. Ex: visitas programadas pelos

professores

NÃO FORMAL O museu é um instrumento de difusão de conhecimento

gerado por ele ou por investigadores, que complementa a educação

formal escolar. Ex: palestras, cursos, ateliers,

INFORMAL

O museu propicia divulgação científica. O visitante dispôe-se a ser

um participante ativo, voluntário, que assume

uma educação não integrada nos currículos

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escola hoje tem-se tornado uma instituição educativa entre outras e o museu consolida-se nesse quadro. (Alves, 2007, p. 3)

Conforme Teresa Eça (2010), “a interface entre o museu e o indivíduo pode gerar processos de aprendizagens significativas”. A aprendizagem no museu é difícil de mensurar e pode não manifestar-se de imediato. A aprendizagem no museu é uma experiência subjetiva e individual. O público que frequenta o museu é heterogéneo e responde a múltiplos padrões de comportamento que depende de variáveis diversas como a frequência, os interesses, as suas expetativas ou o conhecimento prévio. Estas aprendizagens, parte integrante da experiência global, serão, portanto, aquelas que resultem da conjugação do património cultural, social e emocional que os indivíduos trazem consigo (a sua biografia), com aquilo que a instituição visitada (com os seus objetos, coleções, atividades, programas e serviços) é capaz de lhes proporcionar (Silva, 2006).

Portanto para que os museus sejam espaços abertos a todos os públicos e cenários de encontro da comunidade e sua participação, as exposições e programas devem ser desenhados para responder a todos os públicos. Neste sentido o modelo experiencial de Falk e Dierking (1992) é relevante e constitui uma intenção de transformar os museus em espaços plurais de aprendizagem, afirmando que numa visita ao museu participam três contextos: o pessoal, o físico e o sociocultural, que se encontram em permanente relação. A aprendizagem no museu é um processo de diálogo do visitante em seu redor no seu tempo que vai trocando relações de interação entre os três contextos:

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Para Falk e Dierking (1992) é justamente neste espaço de interseção que se constrói e define a experiência que perdurará na memória dos indivíduos, potenciando a construção de aprendizagens duradouras, significativas e efetivas.

No contexto pessoal cada visitante entende os objetos e o seu mundo através da sua interpretação pessoal, cada visitante do museu é único. É neste contexto que se incluem as expetativas e respostas antecipadas à visita, o conhecimento prévio, os interesses, as motivações e as preocupações dos visitantes. As pessoas vão aos museus com expetativas que influenciam diretamente a aprendizagem.

Também os interesses e valores prévios de cada indivíduo determinam em que partes dos conteúdos se vai centrar e o que para ele é mais atrativo. Finalmente a última variável deste contexto pessoal é a motivação com que aprendemos e está relacionada com as emoções que vão determinar a nossa atenção e a nossa memória.

A visita ocorre num contexto sociocultural e o visitante normalmente partilha as suas experiências em grupo porque vai ao museu como uma atividade de caráter social, em que as pessoas e os visitantes interagem uns com os outros para decifrar a informação, reforçar crenças, dar sentido aquilo que vêm. As relações interpessoais que se estabelecem durante a visita implicam que a experiência museológica seja diferente em função da visita ao museu ser individualmente, em par, em família, em grupo, ou se também a interação com os profissionais do museu, os guias, quem está na receção, é diferente se é um museu com pouco público ou se é um museu com visitas guiadas.

Do contexto físico faz parte a qualidade dos serviços, para além do edifício ou do objeto, outros aspetos podem influenciar a experiência museológica, como ter ou não uma cafetaria, uma livraria, uma loja para comprar uma lembrança, uma sala onde podem realizar-se atividades anteriores ou prévias à visita, um lugar de descanso para apreciar e ver o que o museu nos oferece, se existe cor e som, luzes, sombras, música de fundo ou como a exposição está desenhada.

A construção e o suporte à identidade pessoal é a principal motivação dos visitantes do museu, que procuram experiências para a formação da sua identidade e que constroem significados a partir da sua experiência no museu. Assim para finalizar podemos dizer que a interação destes três contextos pode criar um quarto contexto: a experiência museológica de aprendizagem, conforme está identificado no esquema do Modelo Experiencial de Falk e Dierking. Portanto os museus são contextos da aprendizagem, possibilitam ao público adquirir conhecimentos e competências, sendo a

Imagem

Figura 1 - Esquema dos diversos níveis de formalização ação educativa (Canário 2000)
Figura 2 - Modelos de relacionamento entre museus e educação  ( Sagüés, 2011)
Figura 3 - Modelo Experiencial de Falk e Dierking, 1992
Tabela 1 - Visitantes inseridos em grupos escolares (N.º) de museus por Tipologia
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