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O agroturismo em áreas rurais: qual o potencial criativo?

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Academic year: 2021

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O AGROTURISMO EM ÁREAS RURAIS: QUAL O POTENCIAL CRIATIVO? AGRITOURISM IN RURAL AREAS: WHICH CREATIVE POTENTIAL?

Susana Rachão 1, Manuel Luís Tibério2, Veronika Joukes 3

1 susanar@utad.pt, CETRAD, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal 2 mtiberio@utad.pt, CETRAD, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal 3 veronika@utad.pt, CETRAD, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Portugal

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O AGROTURISMO EM ÁREAS RURAIS: QUAL O POTENCIAL CRIATIVO? RESUMO

Face à forte competição mundial dentro da indústria turística, a implementação de estratégias criativas para a diferenciação dos destinos turísticos tem vindo a ser uma preocupação para os principais players públicos e privados do território. Diversos estudos atestam a relevância da criatividade, das indústrias criativas e do turismo criativo para o desenvolvimento económico, social e cultural local, uma vez que são áreas intimamente ligadas às artes, gastronomia e vinhos e com potencial de atratividade ao longo de todo o ano, logo menos dependente de fatores sazonais. Todavia, sendo o Norte de Portugal a região com a maior capacidade de alojamento em Turismo no Espaço Rural (TER), e considerando que, em 2015 a modalidade agroturismo se situou em segundo lugar nas dormidas por tipologia de estabelecimento, estudos sobre esta temática escasseiam, quer do ponto de vista da procura assim como da oferta.

O presente estudo tem como objetivo elencar as principais atividades de animação turística promovidas online pelas unidades de agroturismo em áreas de baixa densidade populacional e verificar se estas possuem alguma relação com os atributos do turismo criativo.

Para tal, procedeu-se a uma abordagem qualitativa através de análise interpretativa de conteúdo a 70 sítios da internet referentes a unidades de agroturismo circunscritas nas zonas de Denominação de Origem Controlada (DOC) dos Vinhos Verdes, Douro e Trás-os-Montes em Portugal Continental. Os resultados revelam que as quintas de agroturismo inseridas nas zonas DOC “Vinhos Verdes” e “Douro” são as que apresentam maior oferta de atividades de

animação. No entanto, as atividades de animação no seu cômputo geral não podem ser consideradas criativas.

Considerando o carácter exploratório do presente estudo será pertinente aprofundar o conhecimento no tocante à visão dos atores privados do território. Deste modo, aconselha-se o desenvolvimento de estudos aplicados no território abrangendo a oferta agroturística. Será igualmente relevante compreender o comportamento e motivações do consumidor deste tipo de serviços.

Este estudo tentou, pela primeira vez, estabelecer uma ponte entre o agroturismo e o turismo criativo. Mais estudos deveriam aprofundar estes dois temas uma vez que, estes assentam em

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pilares similares, particularmente no desenvolvimento de experiências – a cocriação – e no envolvimento com o território.

Palavras-chave | agroturismo, criatividade, Norte de Portugal, zonas de Denominação de Origem Controlada, turismo criativo

AGRITOURISM IN RURAL AREAS: WHICH CREATIVE POTENTIAL? ABSTRACT

Given the strong competition within the world tourism industry, the implementation of creative strategies for the differentiation of tourist destinations has been a concern for the main public and private players in the territory. Several studies attest the relevance of creativity, creative industries and creative tourism to local economic, social and cultural development, since they are closely related to the visual and performing arts, gastronomy and wines and have the potential to attract customers throughout the year, being less dependent on seasonal factors. The North of Portugal is the region with the highest accommodation capacity in Rural Tourism (TER), however regarding to overnight stays by type of establishment, the agritourism modality was second in 2015, and studies on this theme are scarce, both from the point of view of demand and supply.

The present study aims to list the main activities of online tourism promotion by agritourism units in areas of low population density and to verify if they have some relation with the attributes of creative tourism.

In the present study a qualitative approach was carried out through an interpretative analysis of content of 72 sites of agritourism units in the Vinhos Verdes, Douro and Trás-os-Montes regions, all situated in the North of Continental Portugal and with the label Denomination of Origin (DO).

The results show that the agritourism farms located in the "Vinhos Verdes" and "Douro" areas are the ones that present the greatest offer of activities of entertainment. However, the entertainment activities in their general reckoning cannot be considered creative.

Considering the exploratory nature of the present study it is pertinent to deepen the knowledge about the vision of the local private actors. In this way, it is advisable to develop

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studies applied to territories covering the agritourism offer. It is also be relevant to understand the behaviour and motivations of the consumer of this type of services.

This study attempted for the first time to establish a bridge between agritourism and creative tourism. More studies should deepen these two themes since they are based on similar pillars particularly, on the development of experiences - the co-creation - and the involvement of the territory.

Keywords | Agritourism, creativity, Northern Portugal, Denomination of Controlled Areas, creative tourism

1. INTRODUÇÃO

O turismo é uma indústria volátil, que se encontra sujeita a rápidas e imprevisíveis mudanças, quer no lado da procura quer do lado da oferta.

Considerando a participação e a cocriação na experiência turística uma tendência cada vez mais enraizada globalmente, o sector agroturístico apresenta elementos educacionais e interativos que permitem correlacioná-lo com o turismo criativo, quer pelo contato direto com a cultural local, quer pela participação nos trabalhos desenvolvidos nas quintas. Sendo o Norte de Portugal, a região com maior oferta de Turismo em Espaço Rural (TER), o presente estudo pretende abordar o conceito do turismo criativo aplicado às quintas de agroturismo aí situadas, particularmente nas zonas de Denominação de Origem Controlada (DOC) dos Vinhos Verdes, Douro e Trás-os-Montes. Para tal, recorreu-se à análise de conteúdo dos sítios da internet das unidades de agroturismo, de modo a compreender a oferta disponibilizada por estas. Pretender-se-á investigar a relação entre os pressupostos do agroturismo e os fatores impulsionadores do turismo criativo preenchendo as lacunas existentes na literatura.

O artigo encontra-se dividido nas seguintes seções: introdução (seção 1), seguido da revisão de literatura (seção 2), no tocante às temáticas do agroturismo e do turismo criativo. A terceira seção explica a metodologia aplicada, seguido da discussão dos resultados (seção 4). A quinta e última seção apresenta as principais conclusões e limitações da investigação.

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2. REVISÃO DA LITERATURA 2.1. O agroturismo

As profundas assimetrias populacionais assistidas em Portugal a partir dos anos 50 do século XX devem-se maioritariamente ao êxodo rural das populações para as grandes áreas urbanas. O consequente despovoamento de zonas consideradas de interior promoveu a importância do genuíno ou da “autenticidade” das áreas rurais. Como forma de fixar população nas zonas rurais, assiste-se em Portugal e na Europa na década de 80 a um crescimento de diferentes modalidades de alojamento em turismo rural. O agroturismo foi uma dessas modalidades emergentes.

Todavia, o agroturismo é, ainda atualmente, um conceito que suscita diversas interpretações não reunindo consenso entre os principais autores que se debruçam sobre a temática, assim como entre os atores do território. Como resultado, existe ainda um hiato no que diz respeito à realidade da atividade agroturística entenda-se, o que é oferecido ao consumidor final, o agroturista, e às expectativas que estes têm quando adquirem os serviços desta atividade. Durante o processo de revisão de literatura, foi possível encontrar diversos conceitos respeitante ao agroturismo, nomeadamente: “agritourism”, “agrotourism” ‘‘farm tourism”, ‘‘farm – based tourism” e ainda “vacation farms”, embora todos com similitudes no tipo de abordagem. Todavia, de forma a ultrapassar barreiras taxonómicas, Phillip, Hunter, & Blackstock (2010) propuseram a categorização do agroturismo baseado num conjunto de três caraterísticas distintas originando cinco tipologias de agroturismo, ilustradas no Quadro 1. Porém, de acordo com Flanigan, Blackstock, & Hunter (2014), o modelo apresentado por Phillip et al., (2010) possuía fraquezas, uma vez que não considerou a perspetiva dos turistas utilizadores dos serviços de agroturismo. Flanigan et al., (2014) consideram “interação”, “quinta ativa” e “autenticidade” como os elementos distintivos do agroturismo.

Ainda, Srikatanyoo & Campiranon (2010) propuseram uma definição de agroturismo referindo-se à classificação de Leeds e Barrett (2004) dividindo o agroturismo em três níveis de complexidade: nível I (simples), onde as quintas possuem interação limitada com os hóspedes; nível II (intermédio), as quintas com maior diversidade de atividades e serviços para satisfazer as necessidades dos clientes e o nível III (complexo e sofisticado) onde as quintas detêm todos os serviços e atividades possíveis.

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Quadro 1: Categorização e as respetivas 5 tipologias do agroturismo Tipologias Exemplos

Categorias

Se a atividade turística é baseada numa quinta ativa “working farm”

Não (1) Agroturismo em

quinta não produtiva

Alojamento numa ex-quinta

A natureza do contacto entre o turista e a atividade agrícola

Passivo

(2) Agroturismo de contato passivo em quinta produtiva Alojamento em agroturismo Indireto (3) Agroturismo de contato indireto em quinta produtiva Produtos agrícolas servidos em refeições turísticas O grau de autenticidade na experiência turística Fraca (4) Agroturismo de contato direto encenado em quinta produtiva

Demonstração de produtos

Elevada

(5) Agroturismo de contato direto autêntico em quinta produtiva

Participação nas atividades da quinta

Fonte: adaptado de Phillip et al., (2010)

Mais tarde, e considerando a perspetiva dos stakeholders, Gil Arroyo, Barbieri, & Rozier Rich (2013) definem como elementos – chave do agroturismo, as atividades agrícolas autênticas ou encenadas e os processos que ocorrem no interior das instalações agrícolas, quer para fins de educação quer para fins de entretenimento.

Todavia, um estudo levado a cabo pelos investigadores Flanigan, Blackstock, & Hunter (2015) demonstrou que, uma quinta produtiva que fornece uma interação encenada direta, ou seja, sem participação direta nas atividades agrícolas (por exemplo, visitas na quinta) parece atender melhor às expectativas dos agroturistas assim como dos gestores das quintas. Por sua vez, Dubois, Cawley, & Schmitz (2017) demonstraram que, os gestores das quintas de agroturismo se mostram relutantes quanto à oferta de atividades de envolvimento direto, refletindo-se na falta de congruência entre as atividades promovidas e as atividades efetivamente oferecidas nas mesmas.

A investigação de Dubois et al., (2017) revelou quatro principais segmentos de mercado em agroturismo. Para melhor compreensão dos segmentos, estes foram divididos e categorizados como segmentos A, B, C e D, como se pode verificar no Quadro 2. É possível verificar-se que, o segmento C é o único que atribui importância ao contato direto com os animais e à ruralidade de um modo geral, enquanto, a piscina e a proximidade com locais turísticos não são atributos considerados essenciais.

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Quadro 2: Atributos do agroturismo de acordo com a perceção dos agroturistas Segmentos Atributos importantes Atributos de média

importância

Atributos pouco importantes Segmento A

Veem o agroturismo como uma forma alternativa de alojamento. X - Ambiente agrícola; - Animais da quinta. Segmento B X - Combinação de experiências agrícolas e não agrícolas; - Suscetíveis de selecionar uma localização perto de uma cidade com sítios turísticos;

X

Segmento C

- Contato direto com animais, - Agricultura; - Natureza; - Gastronomia. X - Piscina; - Proximidade a uma cidade; - Proximidade a locais turísticos. Segmento D X X - Produtos locais e regionais; - Quinta; - Ambiente natural; - Baixa perceção sobre o que o agroturismo envolve.

Fonte: adaptado de Dubois et al., (2017)

O segmento D é considerado um segmento residual, uma vez que os turistas possuem uma baixa perceção do que é o agroturismo, não sendo, maioritariamente, a sua primeira opção de escolha no que toca a esta modalidade de alojamento. Todavia, quando se tenta aferir os comportamentos, atitudes e motivações dos agroturistas, particularmente em Portugal, estudos nesta temática são diminutos. Os estudos existentes apenas refletem as caraterísticas dos turistas em espaço rural, de uma forma generalista, sendo exemplo disso, a investigação realizada por Kastenholz (2003), em que os classifica em quatro categorias: entusiastas rurais calmos, entusiastas rurais ativos, puristas e urbanos, assim como o estudo desenvolvido em 2012 pelo Ministério da Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território Português (MAMAOT), que identificou algumas caraterísticas e atributos destes consumidores. Os resultados obtidos demonstraram que o perfil da procura rural internacional em Portugal varia por região do país, ou seja os mercados alemão e holandês tendencialmente optam pelo destino Madeira, enquanto o mercado espanhol opta pela região Centro e o mercado francês pelos destinos Norte e Lisboa. Por sua vez, o mercado inglês elege o destino Norte (MAMAOT, 2012). De acordo com o MAMAOT (2012), quer os turistas nacionais quer os internacionais situam-se numa classe média, média-alta e alta e têm necessidade de explorar,

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de obter experiências mais autênticas e inovadoras, usufruindo do ambiente e tranquilidade locais.

Todavia, o mercado turístico doméstico caracteriza-se pela sua passividade e contemplação, enquanto o turista internacional é mais ativo e pretende interagir com a cultura local. Os principais mercados emissores para Portugal são a Alemanha, Espanha, Holanda, França e Reino Unido.

2.1.1. A atividade agroturística em Portugal

Em Portugal, o Turismo no Espaço Rural emergiu nos finais dos anos 70 (1978), de forma experimental, em Ponte de Lima, Vila Viçosa, Castelo de Vide e Vouzela (Decreto Regulamentar n.º 14/78). A atividade agroturística enquadra-se num conjunto de modalidades de alojamento denominado de TER, legalmente constituído no ano de 1986 através do Decreto-Lei n.º 256/86 compreendendo três modalidades de alojamento: o turismo de habitação, o turismo rural e o agroturismo. Posteriormente, as modalidades “hotel rural”, “turismo de aldeia” e as “casas de campo” foram incluídas (Ribeiro et al., 2001). Respeitante à noção de agroturismo, o artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 54/2002 de 11 de março define-o como: “serviço de hospedagem de natureza familiar prestado em casas particulares

integradas em explorações agrícolas que permitam aos hóspedes o acompanhamento e conhecimento da atividade agrícola, ou a participação nos trabalhos aí desenvolvidos, de acordo com as regras estabelecidas pelo seu responsável”.

Até 2013, os dados estatísticos referentes ao TER apenas refletem os totais para Portugal, não fazendo distinção por NUTS (Nomenclatura das Unidades Territoriais para fins estatísticos). Enquanto em 1991 existiam apenas 20 unidades de agroturismo em território português, em 2015 estas perfizeram um total de 194 unidades de alojamento. A NUTS II Norte é a que congrega o maior número de unidades de agroturismo (n= 83), seguido pela NUTS II Alentejo (n= 56).

Como se pode verificar pela Figura 1, a modalidade “casas de campo” foi a que mais cresceu no período compreendido entre 2012 e 2015. Note-se que, apenas existem dados estatísticos referentes às “casas de campo” a partir de 1999. Em 1999 existiam apenas 15 unidades desta

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modalidade de alojamento, sendo que em 2015 estas contabilizaram um total de 701 unidades.

Figura 1: Evolução do número de estabelecimentos de TER por NUTS II, 2012-2015 Fonte: Instituto Nacional de Estatística (2016; 2015; 2014; 2013)

Relativamente à evolução do número de dormidas (procura) juntamente com a capacidade de alojamento (oferta) entre 2012 e 2015, por NUTS II verificou-se que, a procura e ocupação dos estabelecimentos em TER se fixou em 569,7 mil hóspedes e 1,3 milhões de dormidas em 2015. A NUTS II Norte é o território que apresenta uma maior capacidade de alojamento (7 956 unidades), assim como o maior número de dormidas (384 mil).

Salienta-se que, apesar de o denominador comum do TER ser a sua integração na paisagem rural, o agroturismo é a única modalidade de alojamento cuja premissa é o acompanhamento ou participação ativa dos seus utilizadores em atividades desenvolvidas na mesma.

A próxima secção irá expor o conceito de turismo criativo e como este produto pode ser aproximado aos pressupostos do agroturismo através da utilização contemporânea das tradições e saberes endógenos.

0 500 1 000 1 500 2 000 2 500 3 000 3 500 4 000 2 0 1 5 2 0 1 4 2 0 1 3 2 0 1 2 2 0 1 5 2 0 1 4 2 0 1 3 2 0 1 2 2 0 1 5 2 0 1 4 2 0 1 3 2 0 1 2 2 0 1 5 2 0 1 4 2 0 1 3 2 0 1 2 2 0 1 5 2 0 1 4 2 0 1 3 2 0 1 2 2 0 1 5 2 0 1 4 2 0 1 3 2 0 1 2 Agroturismo Casas de campo

Hotel rural Outros

Total Turismo no espaço rural Turismo

de habitação

Portugal Continente Norte Centro A. M. Lisboa

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2.2. TURISMO (RE) CRIATIVO

A vasta diversidade de produtos, serviços e experiências turísticas que surgem atualmente, ilustram a fragmentação da oferta turística, largamente motivada pelas tecnologias de informação e comunicação.

A valorização da criatividade como elemento vital da economia pós-industrial evidencia-se na primeira metade dos anos 90 originando mais tarde, o conceito de cidades criativas (Landry & Bianchini, 1995) e de “classe criativa” (Florida, 2002).

De igual modo, nos finais dos anos 90, o EUROTEX foi um projeto europeu desenvolvido pelos parceiros da ATLAS (Association for Tourism and Leisure Education and Research) e financiado pela Comissão Europeia, cujo objetivos incidiam particularmente, no desenvolvimento do artesanato e do turismo têxtil em três regiões-piloto: Creta, na Grécia, o Alto Minho em Portugal e na Lapónia (Smith, 2003). Este projeto permitia aos turistas, o contato direto e aprendizagem na confeção dos produtos locais (neste caso específico, o artesanato e os têxteis) com as populações residentes e predominantemente rurais. Este projeto tentou, pela primeira vez, desenvolver um produto turístico com mais significado, envolvência e interação dos turistas com a comunidade local. Segundo Richards num recente congresso realizado na Curia, Coimbra em Junho de 2017 – sobre Turismo Criativo em

Cidades de Pequena Dimensão e Áreas Rurais – CREATOUR, a fundamentação do turismo

criativo advém deste projeto pioneiro.

Todavia, é num evento realizado no ano 2000, em Viana do Castelo que surge a primeira proposta de conceptualização do turismo criativo pelos autores Richards e Raymond (2000) definindo-o como um turismo que “oferece aos visitantes a oportunidade de desenvolver o seu potencial criativo através da participação ativa em cursos e experiências de aprendizagem que são características do destino de férias onde estas são realizadas". As potencialidades das atividades criativas (o artesanato, a música, a dança,…), quer para o desenvolvimento de produtos turísticos (Zeppel e Hall, 1992), quer para a autoexpressão dos turistas (Binkhorst, 2007) começaram a ser discutidas. A liberdade para os turistas se expressarem é alavancada na utilização do património imaterial (tradições, costumes,…), assim como na atmosfera local e na sua estética (Trauer, 2006; Messineo, 2012), funcionando como elementos diferenciadores para a criação de experiências passíveis de serem consumidas (Richards e

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Wilson, 2007). O turismo criativo surge assim, de uma necessidade de contrariar a tendência do turismo de massas (Rogerson, 2006) sustentado pela economia de experiências defendida pelos autores Pine e Gilmore (1998).

A mercantilização de objetos típicos, assim como atividades “teatralizadas” para consumo dos turistas são alguns dos exemplos aniquiladores de tradições prejudicando a experiência do turista (Macleod, 2006). Ritzer (1983) argumenta que, se vive uma “Mcdonaldização” dos produtos e serviços turísticos – pacotes turísticos estandardizados, provocando assim uma alteração nos comportamentos dos turistas, ao afastarem-se dos “espaços formais do turismo” procurando lugares alternativos (Steylaerts & Dubhghaill, 2012).

Em 2001, Crispin Raymond lança o primeiro projeto oficial de turismo criativo na Nova Zelândia, a Creative Tourism New Zealand (www.creativetourism.co.nz/). Atualmente e globalmente, existem diversas organizações de turismo criativo (Creative France, Loulé Criativo Portugal, Kreativ Reisen Österreich, …) interligadas através da plataforma Creative

Tourism Network (www.creativetourismnetwork.org/) com sede em Barcelona.

Adicionalmente, em 2004 é lançada a UNESCO Creative Cities Network, formada por 116 membros de 54 países abrangendo sete campos criativos: artesanato e arte popular, design, cinema, gastronomia, literatura, música e artes digitais (multimédia), cuja missão é fortalecer a cooperação entre as cidades que reconhecem a criatividade como fator estratégico de desenvolvimento sustentável relativamente a aspetos económicos, sociais, culturais e ambientais (UNESCO, 2004).

O turismo criativo pode ser considerado um nicho de mercado ou um special interest tourism (Trauer, 2006), ou seja, os turistas possuem necessidades e interesses muito específicos. Contudo, estudos sobre a segmentação de turistas criativos são escassos e apenas se debruçam sobre estudos de caso (Raymond, 2003; Tan et al., 2014), não permitindo a generalização dos dados.

O surgimento de novos padrões de comportamento, com um consumo mais qualificado, nos quais os turistas são capazes de participar ativamente na sua própria experiência e, consequentemente construir a sua própria narrativa reflete-se no aparecimento de um turismo alternativo, e neste caso particular no turismo criativo. Todavia, é necessário refletir sobre os potenciais consumidores desta nova corrente de turismo criativo, nomeadamente nas suas necessidades e motivações.

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2.2.1. Consumidores do turismo criativo

Quanto mais os indivíduos viajam, estes tendem a refletir mais sobre o seu estilo de vida, fazendo com que, os determinantes externos para a escolha da viagem (tais como o clima) deixem de ser tão pertinentes em detrimento dos determinantes internos, tais como o desejo de autodesenvolvimento e expressão criativa (European Travel Commission, 2006). Thrane (2000) já havia demonstrado que, a experiência turística está em parte relacionada com a vida quotidiana, ao invés de estar em oposição a esta.

A crescente procura do turismo criativo advém assim, desta necessidade que os indivíduos possuem em expressarem e desenvolverem o seu potencial criativo, como já descrito anteriormente. Estes indivíduos experientes em viagens nasceram numa era de avanços tecnológicos e enquadram-se no grupo demográfico designado de Geração Y ou Millennials, ou seja indivíduos nascidos entre 1980 e 2000. De acordo com Parment (2013), a Geração Y ou Millennials é um importante público-alvo para as empresas de produtos de consumo, uma vez que é um grupo com poder de compra significativo. Em 2020, esta faixa etária tornar-se-á o grupo de consumo mais importante em turismo (Benckendorff, Moscardo, & Pendergast, 2010; Leask, Fyall & Barron, 2013; Schewe & Meredith, 2006 cit in Cohen, Prayag, & Moital, 2014).

Considerando a amplitude, a complexidade e as suas características exigentes, a Geração Y ou Millennials contribuirá para uma readaptação das estratégias de marketing e gestão dos recursos turísticos (Leask, Fyall, & Barron, 2013). Richards (2011) defende que, não sé este público-alvo, mas também tendencialmente os turistas possuirão uma maior predisposição para participarem no processo criativo de uma atividade (Tan, Kung, & Luh, 2013), apelidando esta tendência como “prosumption”, uma combinação de participação e consumo, ou ainda co-criação (Binkhorst & Den Dekker, 2009).

O desenvolvimento do turismo criativo nas áreas rurais é uma estratégia que funcionará pela ligação direta entre a comunidade e o território e, pela falta relativa de oportunidades de desenvolvimento alternativas. A próxima seção debruçar-se-á sobre a metodologia adotada para o desenvolvimento do presente estudo.

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3. METODOLOGIA

O presente estudo tem como objetivo elencar as principais atividades de animação turística promovidas online pelas unidades de agroturismo em áreas de baixa densidade populacional e circunscritas às zonas DOC dos Vinhos Verdes, Douro e Trás-os-Montes e verificar a sua relação com os atributos do turismo criativo.

Para tal, três objetivos específicos foram estabelecidos: objetivo específico 1 – identificar a oferta de unidades de alojamento de agroturismo circunscritas às zonas DOC dos Vinhos Verdes, Douro e Trás-os-Montes; objetivo específico 2 – identificar as atividades de animação promovidas online; objetivo específico 3 – avaliar o nível de interação dos hóspedes com as atividades disponibilizadas pelas unidades de agroturismo, de acordo com os níveis de complexidade de Leeds e Barrett (2004).

O presente estudo adotou uma abordagem de estudo de caso. “O estudo de caso é uma estratégia de pesquisa que envolve uma investigação empírica de um fenómeno contemporâneo particular dentro de seu contexto real usando múltiplas fontes de dados” (Robson, 2002 citado em Altinay e Paraskevas, 2008, p. 77). Após a revisão da literatura, seguiram-se os passos e filtros indicados na Figura 2 para proceder à elaboração da listagem das unidades de agroturismo presentes nas DOC dos Vinhos Verdes, Douro e Trás-os-Montes através do sítio oficial do Registo Nacional de Turismo1, pertencente ao Turismo de Portugal, IP, entidade que regula a indústria turística portuguesa.

Figura 2: Passos e filtros aplicados para obtenção das unidades de agroturismo Fonte: elaboração própria

1 https://rnt.turismodeportugal.pt/RNT/ConsultaAoRegisto.aspx

NUTS II

Norte

NUTS III

Alto Trás-os-Montes, Ave, Cávado, Douro, Grande Porto,

Minho-Lima e Tâmega; 1 2 3 Empreendimentos de turismo no espaço rural Agroturismo

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Deste modo, das 86 unidades de agroturismo existentes nas três DOC referidas anteriormente, foram analisados 70 sítios da internet, uma vez que 16 das unidades de agroturismo não possuíam sítio da internet disponível ou estavam em processo de reconversão.

De forma a compreender o nível de interação dos hóspedes com as atividades oferecidas nas unidades de agroturismo, os dados obtidos foram agrupados como ilustra o Quadro 3.

Quadro 3: Níveis de complexidade

Níveis de complexidade

I – Simples Interação limitada com os hóspedes;

Ex: visitas guiadas para escolas ou outros eventos pontuais;

II – Intermédio

As quintas com maior diversidade de atividades e serviços para satisfazer as necessidades dos clientes;

Ex: passeios de carroça, animais da quinta, snack-bares, festivais e apanha de fruta ou legumes; III –

Complexo e sofisticado

As quintas detêm todos os serviços e atividades possíveis.

Ex: loja, restaurante, parque de estacionamento, visitas guiadas, programas educativos;

Fonte: elaboração própria com base nos autores Leeds e Barrett (2004)

A análise de conteúdo foi a técnica de análise selecionada para agrupar os dados; uma técnica cada vez mais utilizada na investigação em turismo (Veal, 2006), particularmente para desenvolver inferências contextuais válidas de textos ou de outros objetos (Krippendorff, 2004).

4. DISCUSSÃO E RESULTADOS

4.1. CRIATIVIDADE, AGRICULTURA E TURISMO

Esta secção irá explanar sobre as atividades de animação desenvolvidas nas unidades de agroturismo inseridas e identificadas nas zonas DOC anteriormente referidas, abordando o tema do turismo criativo como uma extensão do agroturismo. No Quadro 4 são apresentados os 70 sítios da internet utilizados.

No desenvolver da investigação, verificou-se que, uma parte significativa das unidades de agroturismo não disponibilizam informações online sobre atividades de animação, quer sejam relacionadas com a agricultura (vindimas, apanha da azeitona, maçã, cereja, entre outras) quer sejam relacionadas com atividades de outra natureza (cultural, desportiva,…). Aferiu-se de igual modo que, 33 unidades de agroturismo apresentam-se como quintas não

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produtivas, ou seja de acordo com Phillip et al., (2010) funcionam numa antiga quinta produtiva, pressupondo que estas apenas foram restauradas para fins de alojamento turístico. No que diz respeito às atividades desenvolvidas para além das relacionadas com a agricultura, entenda-se vindimas, a apanha da azeitona ou da maçã, entre outras, aferiu-se que, algumas unidades de agroturismo possuem atividades relacionadas com o turismo de aventura, nomeadamente, nas atividades – terra: trilhos pedestres, cycling, passeios a cavalo; e nas atividades – água: canoagem, canyoning, kayak, passeios de barco, ver Figura 3.

Figura 3: Nuvem de palavras das atividades oferecidas nas unidades de agroturismo Fonte: elaboração própria

Visando caracterizar as unidades de agroturismo quanto à sua vocação para o enoturismo apurou-se que, 47 unidades não se encontram direcionadas para a atividade enoturística, uma vez que maioritariamente são quintas não produtivas. Para efetuar a caracterização foram consideradas como atividades básicas numa unidade de enoturismo as provas de vinho, as visitas guiadas às instalações e vinhas, e ainda a existência de loja (Turismo de Portugal, 2014).

Os dados levam igualmente a concluir que, as unidades de agroturismo que se qualificam como quintas produtivas com vocação para o enoturismo possuem vinhas fazendo maioritariamente produção de vinho, logo capacitando-as de estruturas para suportar atividades enoturísticas, nomeadamente, provas de vinho e visitas guiadas às instalações e às vinhas.

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Quadro 4: Unidades de agroturismo nas DOC Douro, Vinhos Verdes (VV) e Trás-os-Montes (TOM)

DOC Nome Quinta produtiva e

não produtiva Atividades disponíveis

Vocacionado para o enoturismo Nível de complexidade (I/II/III)

Douro Quinta de Merouço Quinta produtiva Apanha da azeitona, colher da fruta, vindimas;

bicicleta; provas de vinho; pesca; Sim II Douro Casa das Pipas Quinta produtiva Biblioteca vínica; tarefas vinícolas; vindima,

provas de vinho; Sim III

Douro Morgadio da Calçada Quinta produtiva Visita às vinhas e à adega, prova de vinhos; Sim II Douro Quinta da Azenha Quinta não produtiva Pesca, canoagem, caminhadas, bicicleta,

equitação; Não I

Douro Quinta da Barroca Quinta não produtiva Apanha da maçã, prova de vinhos, piquenique; Sim II Douro Quinta da Cumieira Quinta não produtiva Tiro aos pratos; Não I Douro Quinta da Marka Quinta produtiva Passeios pela vinha; visita à adega; prova de

vinhos; Sim III

Douro Quinta da Timpeira Quinta produtiva Bicicleta; prova de vinhos; Sim I

Douro Quinta das Aveleiras Quinta produtiva X Não I

Douro Quinta de Fiães Quinta produtiva Vindimas e desmancha do porco; Sim I Douro Quinta do Carvalhal Quinta produtiva Provas de vinho, passeio de burro e

observação de aves; Sim I

Douro Quinta do Monte

Travesso Quinta produtiva X Sim

Impossível de avaliar Douro Quinta do Pessegueiro Quinta produtiva Visita à adega; provas de vinho; Sim III

Douro Quinta do Salgueiro X X X Impossível de

avaliar Douro Quinta do Valbom e Cuco Quinta não produtiva Passeio com cavalos e póneis; ovelhas e aves;

amendoeiras, oliveiras, vinhas; Não II Douro Quinta Nova de Nossa

Senhora do Carmo Quinta produtiva

Circuitos nas vinhas; apanha da fruta; provas

de vinho; vindimas; enólogo por um dia; Sim III Douro Quinta de Santo

António Quinta produtiva

Vindimas; provas de vinhos; passeios pelas

vinhas; Sim II

Douro Solar Quinta da Portela Quinta produtiva Vindimas; visita à adega; Sim I

VV Casa da Breia Quinta não produtiva X Não I

VV Casa da Cevidade Quinta não produtiva X Não I

VV Casa da Quinta Quinta produtiva X Não I

VV Casa da Quinta do Rei Quinta não produtiva X Não I

VV Casa da Roseira Quinta não produtiva X Não I

VV Casa de Luou Quinta produtiva Visitas à quinta; prova de vinhos; Sim II

VV Casa de São José Quinta não produtiva X Não I

VV Casa do Carvalho Quinta não produtiva X Não I

VV Casa do Espigueiro Quinta não produtiva X Não I

VV Casa do Olival Quinta não produtiva X Não II

VV Quinta da Agra Quinta não produtiva X Não I

VV Quinta de Brei Quinta produtiva X Não I

VV Quinta de Padreiro Quinta não produtiva X Não I

VV Quinta do Ameal Quinta produtiva Prova de vinhos; Sim II

VV Quinta do Cerqueiral Quinta produtiva X Não Impossível de

avaliar

VV Quinta do Fortunato Quinta não produtiva X Não I

VV Quinta do Olival Quinta produtiva Bicicleta; contato com animais, horta

(17)

VV Paço d'Anha Quinta produtiva X Não Impossível de avaliar VV Paço de Calheiros Quinta produtiva Participação nas vindimas; Sim II VV Quinta do Sobreiro Quinta não produtiva Percursos pedestres; yoga na natureza;

caminhada com asininos; workshop de broa; Não II VV Quinta do Vale do Monte Quinta não produtiva X Não Impossível de

avaliar

VV Quinta Lamosa Quinta não produtiva X Não II

VV Casa do Casal do

Carvalhal Quinta não produtiva X Não I

VV Casa do Sobreiro Quinta não produtiva X Não Impossível de avaliar VV Casa Lata Quinta produtiva Vindimas; participação nas atividades da

adega; Sim II

VV Quinta Da Seara Quinta produtiva Provas de vinhos, participação nas vindimas,

visitas à adega; Sim II

VV Quinta de Cachopães Quinta não produtiva X Não II

VV Quinta de Casais Quinta produtiva X Não I

VV Quinta de Gestaçós Quinta não produtiva Bicicletas; Não I

VV Quinta de Sara Quinta não produtiva X Não I

VV Quinta do Burgo Quinta não produtiva X Não II

VV Quinta Pedras de Baixo Quinta não produtiva X Não I

VV Casa da Lavandeira Quinta não produtiva X Não II

VV Casa dos Becos Quinta não produtiva X Não II

VV Casa dos Esteios Quinta não produtiva X Não I

VV Quinta Calçada do Souto Quinta produtiva Participação nas vindimas; Não II VV Quinta da Bouça Quinta produtiva Passeios a cavalo; frutas e legumes disponíveis

para os hóspedes; Não II

VV Quinta de Gildinho Quinta produtiva Bicicleta; percursos pedestres e participação

em atividades agrícolas; Não II VV Quinta do Outeiro Quinta produtiva Apanha da cereja; da maçã, do diospiro,

vindima, castanha e azeitona; Sim II

VV Vale de Rans Quinta não produtiva Bicicleta; Não I

TOM Casa das Argolas Quinta não produtiva X Não I

TOM Casa de l cura Quinta não produtiva X Não I

TOM Casa do Bodelgo Quinta produtiva Bicicleta; passeios de burro; vindimas, a

apanha da azeitona, matança do porco; Sim II TOM Casa do Forno Quinta produtiva Tarde com o pastor; fazer pão; Não II TOM Casa do Guieiro Quinta produtiva Tarde com o pastor; fazer pão; Não II

TOM Casa dos Valdarmeiros Quinta não produtiva X Não I

TOM Curral De L Tiu Pino Quinta produtiva Vindimas; caça; pesca; apanha de cogumelos;

confeção de pão, compotas e licores; Sim II TOM Casa Grande do Seixo Quinta produtiva Provas de vinhos e licores, bicicleta, percurso

pelas vinhas; loja Sim

II TOM Quinta da Pereira Quinta produtiva Apanha da azeitona, amêndoa, cereja e

vindimas; Não

II TOM Quinta da Ribeira de

Lodões Quinta produtiva Vindimas e apanha da azeitona; Não

II TOM Quinta do Barracão da

Vilariça Quinta produtiva

Apanha da amêndoa e azeitona, vindimas e

maneio do gado; Não

II TOM Quinta Rota D'Oliveira Quinta produtiva Apanha da azeitona; Não II

(18)

Todavia, as unidades de agroturismo que possuem um maior nível de complexidade, segundo os critérios de Leeds e Barrett (2004) supracitados, e que se aproximam dos pressupostos do turismo criativo, onde o turista tem a possibilidade de se envolver numa atividade são uma minoria. Verifica-se que, apenas 4 unidades de agroturismo, que encerram em si atividades de enoturismo são as que possuem o nível de complexidade mais elevado, ou seja de nível III (complexo e sofisticado), uma vez que detêm todos os serviços e atividades possíveis (ex: loja, restaurante, visitas guiadas, programas educativos). As 4 unidades de agroturismo com o maior nível de complexidade localizam-se na DOC Douro.

5. CONCLUSÕES E LIMITAÇÕES

Com a presente investigação pretendeu-se discutir a oferta e potencial relação entre as atividades desenvolvidas no âmbito do agroturismo e o seu contributo para o turismo criativo, no estudo de caso das DOC Douro, Vinhos Verdes e Trás-os-Montes.

Considerando os elementos caraterizadores do agroturismo, isto é, a possibilidade dos turistas participarem nas atividades desenvolvidas nas quintas, permite construir uma ligação com o conceito de turismo criativo, onde a cocriação e aprendizagem se formam como o núcleo do mesmo. A aposta na criatividade, inovação e nas ferramentas aplicadas na promoção dos territórios, de forma a melhorar as suas dinâmicas económicas através da atividade turística deverá ser refletido.

Retém-se em geral que, o turismo criativo não deve ser considerado como um modelo universal, mas antes, como um “modo” de desenvolver produtos e serviços turísticos, uma vez que este se baseia nos recursos endógenos de um destino.

Este estudo exploratório pretendeu abrir caminho para futuras investigações respeitantes às potenciais dinâmicas entre as atividades de agroturismo e às experiências criativas. Contudo, este estudo apresenta limitações. O estudo apenas se circunscreveu às três DOCs: Douro, Vinhos Verdes e Trás-os-Montes. Considerando a relevância do TER e especificamente do agroturismo no Alentejo, sul de Portugal, seria de igual modo importante avaliar a oferta de atividades desenvolvidas nessa região.

Considerando que, neste estudo exploratório somente foi executada uma análise de conteúdo aos sítios das unidades de agroturismo referente às atividades disponíveis, seria relevante

(19)

compreender a perceção dos proprietários das mesmas quanto à oferta e tipologia de atividades mais procuradas pelos turistas.

Este trabalho é financiado por INNOVINE & WINE Plataforma de Inovação da Vinha e do Vinho (projeto n.º NORTE-45-2015-22); pelos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento, na sua componente FEDER, através do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização (COMPETE 2020) [Projeto nº 006971 (UID/SOC/04011)]; e por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do projeto UID/SOC/04011/2013.

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Figura 1: Evolução do número de estabelecimentos de TER por NUTS II, 2012-2015 Fonte: Instituto Nacional de Estatística (2016; 2015; 2014; 2013)
Figura 2: Passos e filtros aplicados para obtenção das unidades de agroturismo Fonte: elaboração própria

Referências

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