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Caracterização dos limites das áreas ardidas no distrito de Vila Real (2003-2008)

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

JOÃO MANUEL ALMEIDA PINTO

Caracterização dos limites das áreas ardidas

no distrito de Vila Real (2003 - 2008)

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JOÃO MANUEL ALMEIDA PINTO

Caracterização dos limites das áreas ardidas

no distrito de Vila Real (2003 - 2008)

Dissertação de Mestrado em Engenharia do Ambiente Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Orientador: Doutor Paulo Alexandre Martins Fernandes

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Agradecimentos

A realização deste trabalho é fruto do contributo de várias pessoas. Como não é possível enuncia-las a todas, evidencio aquelas que mais me apoiaram para o surgimento desta obra.

Ao Doutor Paulo Fernandes, que aceitou ser meu orientador, quero expressar toda a gratidão, pela dedicação e disponibilidade que teve para com a minha investigação. A sua orientação foi fundamental para o alcançar os objetivos propostos.

À minha mãe, Aurélia (in memoriam) por todo o amor e dedicação.

Aos meus irmãos Ana, Eduardo e Germano pela força e união.

À minha esposa Fatí pelo companheirismo, incentivo e por fazer parte da minha vida.

Ao Tiago agradeço os seus sorrisos, apesar do seu nascimento ter coincidido com a realização deste trabalho, veio fortalecer os meus objetivos e modificar-me como pessoa.

Aos meus sogros e cunhado, Conceição, Manuel e Ricardo, pelo apoio constante e pela importância e significado que representam para mim.

Ao amigo Francisco que comigo iniciou este percurso académico, agradeço a sua amizade e as conversas estimulantes que serviram de tónico ao desgaste provocado por este trabalho.

Aos meus colegas Bombeiros Flavienses pela camaradagem demonstrada ao logo destes 15 anos nesta viagem difícil que é o voluntariado, louvo o vosso esforço e dedicação em prol da sociedade.

Ao “CMDT” Almor Salvador que foi sempre uma referência para mim, quer pela sua postura, quer pela forma humana e equitativa como sempre soube lidar com todos aqueles que o rodearam e estiveram sobre o seu comando.

A todas as pessoas que, direta ou indiretamente, estiveram presentes nesta fase e em todos estes anos académicos.

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Caracterização dos limites das áreas ardidas

no distrito de Vila Real (2003 - 2008)

Resumo

No interior norte de Portugal existe uma tendência quase que natural para a ocorrência de incêndios florestais. Entre os muitos fatores que favorecem tais incidentes, destacam-se por um lado os fatores naturais, a vegetação (espécie e quantidade), ambientes meteorológicos favoráveis e o relevo montanhoso, por outro lado, os fatores humanos com o tradicional uso do fogo pelas populações rurais, nomeadamente para revigorar pastos.

Nesta dissertação é feita uma análise generalizada às medidas implementadas no nosso país para minimizar os efeitos do fogo sobre a floresta e o que pode ser feito para reduzir o eleva-do número de ocorrências de incêndios e a extensa área ardida. Identificaram-se os incêndios decorridos no distrito de Vila Real (n=183) entre 2003-2008 e caracterizaram-se as respetivas orlas do ponto de vista da ocupação do solo, quantificando a extensão do perímetro final associado a cada tipo de ocupação. Para cada incêndio foi determinada a razão perímetro-área, que indica a complexidade da forma do incêndio que pode estar relacionada com a extinção em tipos de uso do solo ou obstáculos distintos. Foram associados a cada incêndio os índices de perigo meteorológico de incêndio do Sistema Canadiano, uma vez que as condições meteorológicas e o estado de secura da vegetação influenciam fortemente o comportamento do fogo e portanto a capacidade da sua expansão ser influenciada pelo tipo de zona de extin-ção de cada incêndio. Analisou-se a distribuiextin-ção das orlas dos incêndios por situaextin-ção de ocupação do solo e de interrupção do combustível para identificar o efeito das variáveis envolvidas.

Nos incêndios analisados (n=183) verificou-se que a maior percentagem de extinção de cada incêndio ocorreu em zonas de matos (49%). As extinções em zonas de caminhos e estradas, afloramentos rochosos e floresta apresentam valores mais baixos, embora muito aproximados entre si (13,69%, 13,18% 12,95% respetivamente). Também com alguma relevância aparecem as extinções em zonas de agricultura (7, 52%). As restantes zonas, linhas de água, sociais, corpos de água e agricultura revelaram dados pouco significativos (1,28%, 1,07%, 0,93 e 0,34%), ainda assim com relativa importância para se perceber a extinção de determinados incêndios.

Palavras-chave: vegetação e combustíveis, incêndios florestais; comportamento do fogo, caracterização dos limites das áreas ardidas, distrito de Vila Real.

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Characterization of the limits of burnt areas

in the district of Vila Real (2003 - 2008)

Abstract

There is a natural tendency to the occurrence of forest fires in northern inland Portugal. Both natural (type and amount of vegetation, favorable weather, steep terrain) and human-related factors such as the use of fire by rural populations to maintain rangelands contribute to this high fire incidence. The measures implemented in Portugal to minimize the effects of fire on forests and to decrease the high number of fires and burned area are mentioned.

We identified the fires that occurred in the district of Vila Real between 2003 and 2008 and selected 183 fires whose edges were tipified in terms of land use and obstacles to fire spread, quantifying the extent of perimeter corresponding to each type. The perimeter-to-area ratio was determined for each fire, indicating the fire shape complexity that can be related to the nature of the fire boundaries. Each fire was associated to the indexes of the Canadian Forest Fire Weather Index System, as weather conditions and vegetation dryness strongly influence fire behaviour and so the likelihood of wildfire containment by natural or artificial features. We analyzed the fires edges distribution by land occupation or fuel interruption type to identify the effect of the variables involved.

In the examined fires (n=183), we verified that the largest percentage of extinctions occurred in shrubland (49%). Extinctions in areas of roads and paths, rocky outcrops and forests had lower values, respectively of 13,7, 13,2 and 12,9%. Extinctions in agricultural areas also had some relevance (7,5%). The remaining types (waterlines, social, water bodies) were much less significant (10,3-1,3%).

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Í

NDICE

:

Capítulo 1 ... 13 1. Introdução geral ... 13 PARTE I ... 20 Capítulo 2 ... 20 2. Vegetação e combustíveis ... 20 2.1. Introdução... 20 2.2. Vegetação ... 21 2.3. Combustível florestal ... 22 2.4. Combustão ... 26 3. Comportamento do fogo ... 30 3.1. Introdução... 30

3.2. Perigo meteorológico de incêndio ... 32

3.2.1. Índices de comportamento do fogo... 36

Capítulo 4 ... 39

4. Incêndios florestais ... 39

4.1. Introdução... 39

4.2. Detecção e ataque inicial ... 41

4.2.1. Focos secundários ... 44

4.2.2. Reacendimentos ... 45

4.3. Operações de combate ... 46

Capítulo 5 ... 51

5. Planeamento e gestão nos incêndios florestais ... 51

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7

5.2. A auto-defesa e a legislação relativa ao uso do fogo ... 53

PARTE II ... 56

Capítulo 6 ... 56

6. Metodologia e ferramentas utilizadas ... 56

6.1. Introdução... 56

6.2. Região em estudo ... 57

6.3. Descrição da região em estudo ... 58

6.3.1. Caracterização geral ... 58

6.3.2. Caracterização física ... 60

6.4. Critérios de seleção dos incêndios ... 66

6.5 . Análise dos dados ... 68

Capítulo 7 ... 70

7. Resultados e discussão ... 70

7.1. Características das orlas de extinção dos incêndios ... 73

7.2. Relações entre a distribuição da orla dos incêndios por ZEI e outras variáveis ... 76

Capítulo 8 ... 78

8. Conclusão ... 78

Referências Bibliográficas ... 85

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8

Índice de Figuras:

Figura 1. Estrutura da dissertação. ... 18

Figura 2. Incêndios florestais e área ardida em Portugal Continental (1980-2010). Fonte: (AFN/MADRP, 2011). ... 22

Figura 3. Classificação dos combustíveis florestais (Macedo e Sardinha, 1987 cit Carvalho, 2003). ... 24

Figura 4. Fases da combustão. ... 27

Figura 5. Mecanismos de transferência de calor e que determinam o comportamento do fogo. .. 27

Figura 6. Estrutura do CFFWIS (Viegas et al., 2004). ... 35

Figura 7. Previsão do Índice Meteorológico de Perigo de Incêndio (FWI) e da Classe de Risco de incêndio florestal (RCM) por concelho e para o dia 15 de outubro de 2012 (Instituto de Meteorologia, 2012). ... 37

Figura 8. Padrão geral de crescimento de um incêndio florestal adaptado de Alexander (2000). 40

Figura 9. Conceptualização do desenvolvimento de um incêndio florestal desde a sua ignição até à ação de combate, adaptado de Alexander (2000). ... 42

Figura 10. Fases de um incêndio florestal, relação entre o tempo decorrido e a área queimada. . 44

Figura 11. Proibições durante o período crítico (DUDEF, 2012). ... 55

Figura 12. Enquadramento e localização da área de estudo. Fonte: (Mapa de Portugal, 2011). .. 59

Figura 13. Diagrama termopluviométrico de Gaussen para Vila Real no ano hidrológico 2007/08. Dados da estação climatológica da UTAD (Salgado et al., 2010b). ... 64

Figura 14. Exemplo da representação dos incêndios florestais no Google Earth exibidos na forma de polígonos ... 67

Figura 15. Distribuição (%) da orla total dos incêndios (n=183) pelas diferentes por zona de extinção dos incêndios desde 2003 a 2008 no distrito de Vila Real. ... 73

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9 Figura 16. Distribuição (%) da orla dos incêndios (n=183) por zona de extinção dos incêndios em cada ano do período 2003-2008 no distrito de Vila Real. ... 74

Figura 17. Histogramas de distribuição (%) dos incêndios estudados (n=183) pelas variáveis zona de extinção dos incêndios . ... 75

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Índice de Tabelas:

Tabela 1. Classificação dos combustíveis florestais por estrato. ... 25

Tabela 2. Métodos de indexação do perigo meteorológico de incêndio considerados no estudo de Viegas et al. (2004) ... 33

Tabela 3. Classes do índice meteorologico de perigo de incêndio e a sua interpretação no

combate aos incêndios florestais (Instituto de Meteorologia, 2012). ... 37

Tabela 4. Número de ocorrências e correspondente área ardida anual em Portugal Continental (2003 - 2008) (AFN, 2011). ... 58

Tabela 5. Subdivisões regionais do distrito de vila Real. ... 60

Tabela 6. Número de ocorrências e correspondente área ardida anual no distrito de Vila Real (2003 - 2008) (AFN, 2011). ... 71

Tabela 7. Totais anuais de área ardida e perímetro dos incêndios (n=183) estudados no distrito de Vila Real. ... 72

Tabela 8. Variação dos índices de perigo meteorológico de incêndio no conjunto de incêndios estudados (n=183). ... 72

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Índice de Siglas:

AF – Áreas Florestais

AFN – Autoridade Florestal Nacional

ATA – Ataque Ampliado

ATI – Ataque Inicial

BUI – Índice de combustível disponível (Build Up Index)

CF – Combustíveis Florestais

CFFWIS - Sistema Canadiano de Indexação de Perigo Meteorológico de Incêndio

CMA – Centros de Meios Aéreos

DC – Índice de Seca (Drought Code).

DECIF - Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais

DMC – Índice de Humidade da Manta Morta (Duff Moisture Code)

FFMC – Índice de Humidade do Combustível Morto Fino (Fine Fuel Moisture Code)

FWI – Índice de Perigo Meteorológico de Incêndio (Fire Weather Index)

GE – Google Earth

IF - Incêndios Florestais

ISI – Índice de Propagação do Fogo (Initial Spread Index)

IUR – Interface urbano - Rural

MC – Meios de Combate

PCOC – Posto de Comando Operacional Conjunto

PF – Povoamentos Florestais

PNDFCI - Plano Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios

PNA – Parque Nacional do Alvão

TO – Teatro de Operações

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Capítulo 1

1. Introdução geral

A importância do papel desempenhado pelas florestas para a qualidade de vida do ser humano e para a obtenção de matérias-primas é fundamental e não deve ser desprezada. É pertinente promover a sua preservação e conservação, assim como do resto da natureza, os solos, os recursos hídricos e a vida selvagem, só assim poderá ser possível assegurar o futuro do planeta.

Os ecossistemas florestais estão sujeitos a perturbações naturais e antrópicas com consequên-cias graves que provocam desequilíbrio no sistema, que mais tarde se poderão refletir nas gerações humanas, na fauna e na flora.

As características mediterrânicas do nosso clima, com invernos chuvosos em grande parte do território favorecem por um lado o desenvolvimento da vegetação e os verões quentes e secos, por outro lado provocam evaporações fortes, fazendo com que a vegetação devido à secura estival se torne facilmente inflamável, facilitando a sua combustão. Todos estes fatores fazem com que grande parte do território português seja particularmente suscetível à ocorrência de incêndios florestais (Silva et al., 2008a). Para Pyne et al. (2006) cit (Bergonse e Bidarra, 2010) o ciclo anual de temperatura e de precipitação característico do clima mediterrânico é o fator mais determinante no regime de fogo que afeta os países do Sul da Europa: Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia. A alternância entre chuvas invernais e tempo seco estival potencia o crescimento e combustão de biomassa, que constitui um fator diferenciador destes países face aos da Europa Central, com menor propensão natural para a ocorrência de incên-dios. Tal como acontece noutras regiões de todo o mundo, “na Região Mediterrânica o fogo constitui uma perturbação ancestral associada às características climáticas desta região e à forte presença humana ao longo de milhares de anos” (Morgado e Moreira, 2010), sendo um fenómeno natural que faz parte da renovação da paisagem e da estratégia de desenvolvimento

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14 de algumas espécies, o fogo é um fenómeno que contribui para a modelação das florestas (Verde, 2008).

Com o aumento significativo do número de ocorrências de incêndios florestais e da sua elevada dimensão, nos últimos 25 anos verificou-se uma destruição de mais de 2,7 milhões de hectares de áreas florestais, uma dimensão quase igual à da totalidade do território da Bélgica, por exemplo, um facto que se refletirá nos indicadores de inventário florestal e nos resultados macroeconómicos dos próximos anos (ISA, 2006). Anualmente além de serem devastadas pelas chamas grandes áreas de matos e floresta são também ameaçados frequentemente vidas e haveres, quando não chegam mesmo a destruí-los (Lourenço, 2007).

As florestas em Portugal Continental têm vindo a sofrer danos irreparáveis ao longo das últimas décadas, resultando em elevados prejuízos, quer na destruição de edificados, quer na devastação de vastas áreas de povoamentos florestais, dos quais as populações retiram rendi-mentos, justificando claramente a necessidade de se aplicarem medidas focadas nos vários fatores que facilitam a propagação dos incêndios (Verde, 2008).

Portugal tem um papel de destaque em relação a outros países europeus com clima semelhan-te, já que com apenas uma quarta parte da população e uma quinta parte da área florestal da vizinha Espanha, as estatísticas do Sistema de Informação Europeu de incêndios revelam que entre 2000 e 2007 teve mais 34% de ocorrências e mais 28% de área queimada que Espanha (Silva et al., 2008a). Alguns dos fatores que explicam estes acontecimentos, devem-se às profundas transformações que se começaram a fazer sentir nas populações residentes, onde predominam as áreas florestais (Lourenço, 2007). Essas transformações foram-se intensifi-cando de dia para dia, devido essencialmente à grande redução dos efetivos populacionais nessas mesmas áreas, acompanhados de substanciais mudanças, quer na estrutura etária, social, económica e cultural das populações que se mantiveram, quer nos setores de atividade por elas desenvolvidos, com significativa redução das pessoas que faziam da agricultura e das floresta a sua principal atividade, para além do sucessivo aumento das atividades associadas à indústria e aos serviços.

Hoje em dia temos predominantemente em grande parte das zonas rurais, uma população envelhecida, derivado essencialmente à concentração da população ativa nas áreas urbanas. O que restou da população que continuou a residir nessas áreas rurais passou a optar

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preferenci-15 almente por atividades dos setores secundário e terciário, resultando no abandono de muitos dos campos agrícolas (Lourenço, 2007).

Outro dos fatores que também fragilizam as nossas florestas referido por Silva et al. (2008b) é a fragmentação das propriedades com uso florestal, uma vez que se apresentam de um modo geral por todo o país em dimensões reduzidas. Estas propriedades resultam na maioria dos casos na ausência de gestão e de investimento, contribuindo por sua vez para facilitar a propagação dos incêndios. Em Portugal, verifica-se que 31% das propriedades têm menos de 1 hectare e que 61% têm menos de 5 hectares, correspondendo a 26% do total da área flores-tal. Como é possível verificar através do estudo efetuado pelo mesmo autor, onde predomi-nam as pequenas propriedades, é onde o país se confronta com mais incêndios florestais.

Há alguns anos que em vários países da Europa as entidades do governo incentivam os agricultores com pequenas parcelas a procederem ao emparcelamento, este método pode trazer inúmeras vantagens para os agricultores principalmente ao nível da produção, da redução dos gastos em função da produção e desta forma tornarem-se competitivos com os outros países. No que diz respeito aos incêndios florestais, o cultivo das terras com grandes áreas é uma forma de evitar os grandes incêndios, uma vez que as parcelas de cultivo irão criar literalmente maiores barreiras ao avanço do fogo. O próprio incentivo à produção mantem os agricultores mais ativos levando-os a cuidar dos caminhos e aceiros, e do resto da vegetação envolvente e sobrante.

Outros aspetos importantes que embora indiretamente, também condicionam o progressivo aumento da biomassa disponível na floresta, é a fácil acessibilidade a fertilizantes artificiais, que passaram a substituir os estrumes tradicionais que durante décadas eram feitos, entre outras substâncias, com matos. O mesmo acontecendo com a crescente utilização dos com-bustíveis fosseis (gás e gasóleo) e da eletrificação.

Todos os incêndios florestais têm a sua origem em fontes de ignição que em grande percenta-gem (mais de 95%) são causadas negligentemente ou propositadamente por ações humanas. A primeira medida direta a ser tomada no combate aos incêndios, é sem dúvida identificar a ignição (deteção do incêndio), para se seguir uma atuação de combate, partindo do princípio que quanto mais pronta for esta atuação, mais rápido e eficazmente teremos o domínio e a

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16 extinção do incêndio, evitando que o mesmo atinja maiores proporções e se torne incontrolá-vel.

As causas dos incêndios podem ser bastante diversificadas, tendo apenas um aspeto em comum: as causas que têm origem sobretudo por iniciativa das populações, pois, apenas 3% têm como origem causas naturais, essencialmente por trovoadas. Determinar e compreender as causas dos incêndios florestais, incluindo os seus padrões espaciais e temporais, tem elevada importância, constituindo um elemento fundamental para a definição de políticas e estratégias de prevenção adequadas a cada local e a cada público-alvo (Silva et al., 2008b).

Havendo consciência de que é difícil uma sociedade valorizar e defender um património para o qual nunca antes foi quantificado um valor, têm-se desenvolvido em Portugal vários estudos com o objetivo de estimular a discussão pública em torno dos impactos dos incêndios flores-tais e das questões associadas à defesa da floresta.

Assim, o objetivo geral desta dissertação de mestrado é explicar algumas das fraquezas do nosso sistema no que se refere à gestão das florestas e ao combate aos incêndios, apresentan-do algumas alterações que de alguma forma poderiam ajudar a reduzir substancialmente o número de ocorrências e as vastas extensões de áreas ardidas com que nos deparamos todos os anos. As grandes questões levantadas em torno deste estudo são: a que se deve o elevado número de incêndios florestais e vastas áreas ardidas? O que é possível fazer para minimizar esses acontecimentos? Como questão específica de investigação procurámos relacionar a extinção dos incêndios com a natureza da orla de extinção. Desta forma classificou-se o perímetro do incêndio por tipo de zona de extinção, tal como definida pelo tipo de vegetação e uso do solo ou de barreira à propagação do fogo, natural ou construída.

Por conseguinte, na primeira parte fez-se uma revisão de literatura abordando os seguintes temas: a gestão dos combustíveis florestais, explicando o perigo que dos mesmos pode resultar e a sua importância para a redução do número de incêndios; é feita também uma abordagem sobre o combate, a gestão e o planeamento nos incêndios de forma que seja possível compreender a realidade no nosso país; e na segunda parte foi elaborado um estudo de forma que se pudesse estabelecer uma relação entre o perímetro dos incêndios extintos no distrito de Vila Real e as diversas variáveis selecionadas.

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17 Esta tese está organizada em oito capítulos, incluindo esta Introdução. Por sua vez é possível dividir este trabalho em duas partes (Figura 1): na 1ª parte temos a revisão da literatura consubstanciada nos Capítulos 2, 3, 4 e 5; na 2ª parte é apresentada a investigação empírica que envolve os Capítulos 6, 7 e 8.

Os Capítulos 2, 3, 4 e 5 têm como objetivo analisar a literatura considerada relevante com vista ao enquadramento teórico do fenómeno em estudo. Assim, os Capítulo 2 e 3 apresentam uma análise geral sobre a gestão dos combustíveis e o comportamento do fogo e de que forma podem ou não condicionar o aparecimento e desenvolvimento dos incêndios florestais. Neste contexto é evidenciada a importância da vegetação enquanto combustível florestal e são explicados alguns fenómenos naturais e humanos que ajudam a perceber o perigo e o risco de incêndio e o consequente elevado número de ocorrências e grandes incêndios em Portugal.

No Capítulo 4 procede-se à descrição de aspetos específicos relacionados com os incêndios florestais, desde a detecção, ao combate. No Capítulo 5 é feita uma análise sobre o planea-mento e a gestão dos incêndios, as suas fragilidades, melhorias e contributos, e a importância para o melhoramento da atuação dos meios de combate em Portugal.

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Figura 1. Estrutura da dissertação.

A 2ª parte da investigação inicia-se com o Capítulo 5 no qual se justifica e descreve a metodo-logia de investigação seguida na dissertação, é feita a caracterização da área em estudo e o critério de seleção dos incêndios deste estudo.

No Capítulo 6 é feita apresentação dos dados e os métodos utilizados na parte prática deste estudo, procedendo-se posteriormente à sua análise comparativa discutindo os respetivos resultados.

No Capítulo 8 são expostas as contribuições do estudo para a investigação científica e as consequentes implicações práticas. São ainda referenciadas algumas das limitações inerentes ao estudo, concluindo-se com um conjunto de propostas para investigações futuras.

Parte I

Revisão da Literatura

Capítulo 2 Vegetação e Combustíveis Capítulo 3 Comportamento do Fogo Capítulo 4 Incêndios Florestais Capítulo 5

Planeamento e Gestão nos Incêndios Florestais Capítulo 8 Conclusão

Parte II

Investigação Empírica

Capítulo 6 Metodologia e Ferramentas Utilizadas Capítulo 7 Resultados e Discussão

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20

PARTE

I

REVISÃO DA LITERATURA

Capítulo 2

2. Vegetação e combustíveis

2.1. Introdução

Para um melhor entendimento do assunto a tratar neste capítulo, considerámos necessário fazer uma abordagem sobre alguns conceitos básicos do contexto da vegetação enquanto combustível florestal (CF), com relevada importância para a sua compreensão.

A prevenção e o combate aos incêndios florestais (IF) são ações no campo da silvicultura que visam proteger a floresta contra o agente destruidor que é o fogo, para esse efeito é necessário que os agentes da silvicultura incluam nos programas de gestão das florestas, medidas de prevenção e domínio das técnicas adequadas.

O CF é todo o material orgânico vegetal tanto vivo como morto nas suas variadas formas, no solo, sobre o solo ou acima deste, suscetível de entrar em ignição e arder. Alguns combust í-veis contêm determinadas substâncias voláteis, tais como óleos e resinas, que fazem co m que os mesmos estejam mais disponíveis para se inflamarem. São várias as espécies existentes em Portugal que se englobam neste contexto, nomeadamente o pinheiro, o eucalipto e alguns arbustos.

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2.2. Vegetação

A floresta portuguesa ocupa uma área aproximada a 3,4 milhões de hectares, perto de 40% do território nacional, sendo caracterizada pela pouca diversidade de espécies. Aproximadamente 2/3 de toda a área florestal (AF) são ocupados por apenas 3 espécies: eucalipto, sobreiro e pinheiro-bravo. Silva et al. (2008b) verificaram que num intervalo aproximado de 10 anos, o eucalipto foi a espécie que registou o maior aumento na superfície ocupada (23%). O pinhei-ro-manso e o sobreiro registaram um aumento de 28% e 5%, respetivamente. A azinheira, o pinheiro-bravo, os carvalhos e os castanheiros diminuíram significativamente (15%, 20%, 5% e 28%, respetivamente).

Sobre os tipos de vegetação que predominam em Portugal, Fernandes (2003) refere que se evidenciam pela sua elevada combustibilidade, e que a probabilidade de ocorrência de incên-dios extensos e/ou severos é minimizável através da adequada gestão da vegetação, que permite tornar relevante e efetiva a ação dos meios de combate.

A capacidade de resposta das plantas pode variar significativamente de fogo para fogo ou nas diferentes áreas dentro de um mesmo incêndio. O tipo de resposta será na maior parte dos casos variável em função da interação entre uma série de fatores, como o regime de fogo (e.g., intensidade do fogo, duração da combustão, época do ano), as características do local (solos, topografia e clima) e as características de cada planta (espécie, vigor vegetativo e idade)

(Catry et al., 2010).

O conhecimento sobre as características da vegetação e do fogo, bem como a compreensão dos mecanismos que influenciam a resposta das diferentes espécies de plantas após um incêndio, constituem fatores-chave no planeamento florestal e na gestão de áreas ardidas. A capacidade de sobrevivência e de regeneração das comunidades vegetais no período após o fogo depende ainda da intensidade de ocorrência de fatores adicionais de perturbação (seca, pastoreio, mobilizações de solo, pragas etc.). Para este efeito existem técnicas apropriadas para monitorizar os efeitos específicos do fogo sobre a vegetação, sendo possível desta forma verificarem-se as alterações que surgem na flora. O objetivo passa pelos gestores e pela capacidade destes preverem os efeitos do fogo nas plantas, baseados no conhecimento das condições do incêndio, nas características das espécies e comunidades existentes antes do fogo (Catry et al., 2010).

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22 Portugal Continental tem 89 mil km2 de área e nas últimas 3 décadas arderam 34.119 km2, o equivalente a quase um terço do país (Figura 2).

Figura 2. Incêndios florestais e área ardida em Portugal Continental (1980-2010). Fonte: (AFN/MADRP, 2011).

As causas da fácil progressão dos incêndios estão intimamente associadas às condições que interferem na propagação do fogo e que normalmente se resumem a fatores de natureza física, nomeadamente ao tipo e quantidade de vegetação acumulada um pouco por toda a floresta.

2.3. Combustível florestal

No estudo dos CF tendo por base que são compostos por todos os materiais vegetais existen-tes na floresta que possam arder, é pertinente ter conhecimento sobre a variedade e quantidade das espécies que se podem encontrar nas várias situações de ocupação do solo. As espécies vegetais e a sua biomassa condicionam as atividades de prevenção e o combate aos IF, tornando-se indispensável caracteriza-las em função da sua aptidão para arder, isto é, como um combustível (Fernandes, 2003). É no CF que se encontra a energia que sustenta a combus-tão e a propagação do fogo, sendo através da sua gescombus-tão que a propagação e a severidade dos incêndios podem ser condicionadas. O tipo de combustível, a estrutura, a carga, a distribuição

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23 por classes de dimensão e continuidade e o teor de humidade são algumas das propriedades do CF que podem ter maior influência no comportamento do fogo (Fernandes, 2003).

As características permanentes e temporárias da biomassa vegetal influenciam de forma decisiva o comportamento do fogo. A quantidade de vegetação que existe numa determinada área denomina-se carga de CF, que pode incluir folhada, pinhas, ramos, troncos mortos, herbáceas, arbustos e sobrantes de corte (Martins, 2010). Quanto maior for a carga de CF disponível para arder, maior será o potencial de libertação de calor. A carga de combustível exprime-se em termos de quantidade por unidade de área (em kg m-2 ou t ha-¹ de peso seco) (Catry et al., 2010).

Fernandes e Rego (2010) expondo a relevância do CF, referem que é a energia que o mesmo contém que sustenta a combustão e a propagação do fogo, uma vez que o combustível inter-medeia os efeitos do fogo sobre o ecossistema e o impacte do homem sobre o fogo, sendo através da gestão dos combustíveis que a severidade e a extensão dos incêndios podem ser condicionadas.

Os CF podem apresentar-se essencialmente em dois estados:

Vivo, com atividade fisiológica (árvores, arbustos, ervas);

Morto, sem qualquer atividade fisiológica, em que o teor de água varia com as condições meteorológicas atuais e passadas. Ex: erva seca, troncos caídos e mortos, e folhada sobre o solo produzida pelas árvores.

Segundo Carvalho e Lopes (2001) “Os materiais vegetais, vivos ou mortos têm diferentes mecanismos de retenção de água e diferentes respostas ao clima, o material morto responde mais rapidamente às mudanças climáticas”. Importa saber que quanto maior for a humidade contida nos CF, mais difícil será a ignição e o desenvolvimento do IF, tal como referem Catry, Silva et al. (2010) o fogo nos combustíveis verdes ou húmidos tem mais dificuldade em propagar-se, enquanto que os CF quase completamente secos podem suscitar fogos extrema-mente rápidos e intensos.

Os CF além de vivos ou mortos também podem ser classificados por classes tendo em conta a sua dimensão. Podem ser finos, médios ou grossos (Figura 3).

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Figura 3. Classificação dos combustíveis florestais (Macedo e Sardinha, 1987 cit Carvalho, 2003).

Quando se apresenta um povoamento florestal (PF) limpo, sem matos e sem vegetação rasteira, desramado e desbastado (ex: pinhal), no qual não existe continuidade vertical dos combustíveis, o incêndio dificilmente se propagará verticalmente, considerando que esta é uma das formas mais severas da propagação dos IF (fogo de copas). Nestas condições sabe-se à partida que o risco de propagação do incêndio é reduzido em relação a outras situações.

Em função da ocupação do solo e de forma a estimar melhor o risco de incêndio, é frequente classificar-se os combustíveis por estrato (Tabela 1).

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Tabela 1. Classificação dos combustíveis florestais por estrato.

Classificação dos Combustíveis

Classificação

Subclassificação

Espécies vulgares

Estrato superior Arbóreos

Pinheiro, eucalipto, carvalhos, sobreiros, pinheiro bravo, pinhei-ro manso e outras resinosas.

Estrato intermédio Arbustos altos (> 2m) e regene-ração arbórea.

Estratos inferiores ou de superfície

Arbustivos Giesta, matos, carqueja, urze, tojo.

Herbáceos Ervas, pastagens e searas.

Manta morta

Solo orgânico composto por fo-lhas e outros materiais caídos em variado estado de decomposição (agulhas dos pinheiros, folhas de castanheiros, de carvalhos, de cedros, medronheiros etc…). Divide-se em:

- Folhada superficial, não decomposta);

- Folhada em decomposi-ção;

- Húmus, raízes e outros combustíveis subterrâ-neos.

Grande parte das ignições no ponto de origem acontecem devido a fatores relacionados com a disponibilidade dos combustíveis para arder, com base na sua humidade, temperatura, densi-dade e quantidensi-dade.

A quantidade de CF fino morto e o seu teor de humidade existente numa área florestal (AF), são dois aspetos fundamentais a ter em conta na análise e descrição das propriedades dos combustíveis. Na propagação dos IF os combustíveis finos mortos (secos) constituem o grupo de maior importância, porque geralmente controlam o comportamento do fogo, especialmente

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26 quando o seu teor de humidade é inferior a 10%, que neste tipo de CF pode variar muito rapidamente como resposta às condições meteorológicas, condicionando de forma determi-nante a intensidade e velocidade de propagação dos incêndios (Martins, 2010).

O combustível morto fino está essencialmente nas copas dos arbustos, nas ervas, na folhada e nos sobrantes de corte. São também os maiores responsáveis pela velocidade de propagação na cabeça do fogo nos IF. Os combustíveis finos ardem mais facilmente que os grossos porque têm maior relação entre superfície e volume, sendo mais rápido o seu pré-aquecimento, ignição e combustão.

Quando os combustíveis mortos têm teores de humidade muito baixos (<10%), o declive com inclinação superior a 30º e os ventos são fortes, estamos na presença de condições que isola-damente ou em conjunto podem gerar comportamentos extremos do fogo, diminuindo as condições de segurança e a eficiência no combate aos IF (Martins, 2010).

São vários os fatores que podem contribuir para reduzir os danos causados pelos incêndios, “em condições extremas de propagação do fogo a gestão de combustíveis pode não ter um reflexo na extensão da área ardida, mas seguramente mitigará os impactes ambientais, sociais e económicos dos incêndios nas áreas em que a vegetação for reduzida/modificada ou conver-tida” (Fernandes, 2006).

2.4. Combustão

Torna-se difícil falar de IF sem referir a combustão. Considera-se combustão a reação quími-ca do oxigénio com determinadas substâncias (ex. CF) que resulta na libertação de água, CO2

e energia, manifestando-se através de luz e calor. Esta reação em cadeia persiste enquanto se estiver na presença de combustível, calor e oxigénio em proporções convenientes.

O desenvolvimento do processo da combustão passa por várias fases (Figura 4), que são normalmente condicionadas por fatores que também se verificam no comportamento dos IF.

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27

Figura 4. Fases da combustão.

Na 1ª fase do processo da combustão dá-se um pré-aquecimento, a humidade passa ao estado de vapor (a temperaturas superiores a 100 °C) observando-se a libertação de fumo branco, os compostos que resultam da decomposição térmica da celulose são então volatilizados (a temperaturas superiores a 200 °C). Seguidamente entre os 300º e os 400 Cº dá-se a libertação das ceras, óleos e resinas quebrando-se as cadeias da celulose, provocando desta forma a libertação de gases inflamáveis, que misturando-se com o oxigénio dão origem ao apareci-mento da chama (início da combustão), que por sua vez requer energia em quantidade que depende do teor de humidade do combustível, sendo um processo de oxidação superficial que queima o carbono como um sólido.

Figura 5. Mecanismos de transferência de calor e que determinam o comportamento do fogo.

Pré-aquecimento Combustão com chama 3º Combustão sem chama

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28 Nos IF a combustão e a transferência do calor produzido traduz-se no comportamento obser-vado do fogo. A transferência de calor constitui o factor de maior relevo na forma como um incêndio se propaga, podendo dar-se essencialmente por condução, radiação, convecção e projeção e deslocamento de matéria inflamada (Figura 5):

A condução tem pouco significado nos IF, porque os combustíveis envolvidos são maus condutores (maioritariamente madeira);

Na radiação o calor é transmitido através do ar. Predomina nos fogos de menor intensidade;

 Na convecção o calor é transmitido pelo ar. Predomina nos fogos de maior intensidade;

Através da projeção e deslocamento da matéria inflamada, a transmissão de ca-lor dá-se pela queda ou contacto da matéria inflamada, provocando novos focos de incêndio. Ex.: fagulhas levadas pelo vento, queda de árvores e animais que fogem com o pelo em chamas (ENB, 2009).

A inflamabilidade de um determinado CF descreve qualitativamente a maior ou menor dificuldade do processo de ignição (Catry et al., 2010), daí a sua estrita relação com os CF e o risco de incêndio. A inflamabilidade varia fundamentalmente em função:

Do teor de humidade do CF;

Da presença de substâncias voláteis; Da relação superfície/volume do CF.

O facto da maior parte da matéria vegetal ser combustível, não implica necessariamente que seja inflamável. A inflamabilidade varia de acordo com a espécie e com a quantidade de humidade (Vélez 2000 cit Batista e Biondi 2009).

A combustibilidade caracteriza a intensidade da combustão e do consequente incêndio num determinado complexo combustível, por norma depende do arranjo espacial dos CF, isto é, a forma como a vegetação está disposta (ENB, 2009). A rapidez da combustão varia em função das dimensões dos combustíveis e da humidade contida nos mesmos, bem como do arejamen-to condicionado pela compactação com que se apresentam. A avaliação da combustibilidade

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29 dos CF pode ser feita através de observações das variáveis de velocidade de propagação e intensidade do fogo, em fogos experimentais, no campo ou em laboratório (Batista e Biondi, 2009).

A combustibilidade pode ser importante em várias situações. No caso de pretendermos reduzir ou impedir a propagação do fogo entre áreas diferentes, podemos recorrer a cortinas de segurança. Esta técnica de silvicultura preventiva pode revelar-se muito simples e eficaz, especialmente quando utilizamos espécies que pelas suas características ofereçam resistência à propagação do fogo (Batista e Biondi, 2009). Estas cortinas de segurança podem ser aplica-das preferencialmente, quando há grandes extensões de áreas reflorestaaplica-das com espécies altamente combustíveis; em zonas de interface rural-urbano; nas margens das estradas ou aceiros e noutras zonas de grande risco de incêndio.

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30

Capítulo 3

3. Comportamento do fogo

3.1. Introdução

Quando estão reunidas as condições favoráveis para a ignição dos combustíveis e o conse-quente início do incêndio, este expandir-se-á com forte função da continuidade, da quantidade e do teor de humidade dos combustíveis finos, mas também do declive e da velocidade do vento. O comportamento do fogo, incluindo a sua intensidade que condiciona a efetividade dos meios de combate refletindo-se na área ardida, combina as influências do clima, CF e topografia (Fernandes, 2008).

O comportamento do fogo é geralmente definido pela forma como o combustível se inflama, como a chama se desenvolve e como o fogo se propaga, estes fenómenos são normalmente provocados pela interação dos combustíveis, clima e topografia. Em termos qualitativos o comportamento do fogo é frequentemente referido como a combustibilidade ou perigo de incêndio que reflete o piro-ambiente. Da combinação do perigo de incêndio com a sua proba-bilidade de ocorrência e valores ameaçados resulta o risco de incêndio (Moreira et al., 2010).

Englobando um conjunto diverso de fenómenos, desde aspetos elementares da ignição e combustão até à interação entre um incêndio e a atmosfera, seria mais correto associar o comportamento do fogo às características físicas da frente de chamas, rapidez de propagação, dimensões e libertação de energia, que são determinadas pelo ambiente de fogo, isto é, pelas influências individuais e interações do combustível, meteorologia e topografia.

As características que melhor descrevem o comportamento do fogo são do ponto de vista do seu combate: a velocidade de propagação, a intensidade e dimensões da frente de chamas, o padrão de emissão de faúlhas (densidade e distância alcançada) suscetíveis de originar focos

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31 secundários, o tamanho e forma do incêndio, a sua velocidade de crescimento perimetral e a duração da combustão (Fernandes, 2003).

O comportamento do fogo e os fatores determinantes na propagação do incêndio condicionam de forma decisiva as ações de combate. A segurança e a eficácia dos meios e das técnicas de combate dependem das condições naturais existentes, pelo que têm de ser adaptadas às mesmas, tendo sempre em conta que estas podem apresentar grande variabilidade espacial e temporal. Nos IF é extremamente importante zelar pela segurança dos MC, até porque estes estão constantemente em perigo eminente de vida. Um aspeto determinante no combate para a segurança dos bombeiros referido por Martins (2010), é que nos IF deve dar-se especial atenção às condições que favorecem a ocorrência de comportamento extremo do fogo, o qual representa um perigo maior para os combatentes, estando mesmo associado a vários acidentes mortais, como se tem verificado nos últimos anos.

A ideia inicial no combate é impedir que o incêndio se propague o menos possível. Normal-mente onde se verifica a maior propagação e intensidade é na cabeça (frente) do fogo, embora o cuidado seja repartido também pelos flancos impedindo que o seu alastramento origine outras frentes de grande intensidade. Quanto menor for o perímetro do incêndio, mais hipóte-ses existem de o dominar e extinguir, a intervenção deve ser rápida e os meios de ação ade-quados, para isso é necessário que os MC tenham conhecimentos sobre o comportamento do fogo. Uma das várias formas de se estimar o potencial comportamento do fogo é através da avaliação da carga do combustível, uma vez que a libertação de energia e a intensidade do fogo são proporcionais a esta mesma carga. A intensidade do fogo é considerado um parâme-tro importante na avaliação do comportamento do fogo, diz respeito à quantidade de energia ou calor libertado durante um período de tempo numa determinada área.

Apesar da aplicação do conhecimento relativo ao comportamento do fogo ser fundamental na racionalização e aperfeiçoamento das ações de combate a incêndios, tal não parece ser uma preocupação premente no nosso País. No entanto, a indexação do perigo de incêndio e a capacidade de antever, analisar e interpretar as características da frente das chamas compor-tam várias aplicações no campo da pré-supressão e supressão do fogo, das quais se destacam no âmbito da prevenção, a vigilância e a deteção de ignições. A compreensão e quantificação do efeito destes fatores têm conduzido a métodos de predição do comportamento do fogo

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32 consistentes e consequentemente úteis nos processos de decisão associados à supressão de incêndios (Fernandes, 2003).

Para Alexander (2000) as características mais importantes a ter em conta relativamente ao comportamento do fogo do ponto de vista prático na supressão dos IF fogo são:

Rapidez de propagação; Intensidade do fogo;

Dimensões de chama na frente do fogo;

Tipo de vegetação/combustível florestal (densidade e distâncias); Tamanho e forma do fogo;

Aumento do perímetro; Tempo de avanço do fogo.

Para garantir a eficácia dos MC o ideal seria que os programas de formação das equipas de combate implicassem conteúdos sobre o comportamento do fogo no que toca à segurança, produtividade e eficiência. A ausência de projeções do comportamento e desenvolvimento espacial do fogo em muito diminui a credibilidade das decisões de gestão de meios e de coordenação em múltiplos ou grandes incêndios. Independentemente da intensidade e sucesso da gestão do CF, as organizações de combate a incêndios devem visar sempre padrões eleva-dos de eficácia e segurança no ataque inicial (ATI), esta depende em grande parte da capaci-dade de compreender e avaliar o comportamento do fogo (Fernandes, 2003).

3.2. Perigo meteorológico de incêndio

Existem vários métodos para avaliar o perigo de incêndio com base em parâmetros meteoro-lógicos, uma vez que “as condições meteorológicas afetam os IF em todas as suas fases, desde a sua eclosão, passando pela propagação, até à sua supressão” (Viegas et al., 2004). Entre os métodos conhecidos, o autor na parte prática deste trabalho optou por aplicar o Sistema Canadiano de Indexação do Perigo Meteorológico de Incêndio (CFFWIS), por ser aquele que apresenta melhor desempenho e também por ser o sistema utilizado em Portugal, entre vários países da Europa e de todo o mundo.

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33 Sobre este sistema foi realizado um estudo (Viegas et al., 2004) no qual foram testados o desempenho de um conjunto de seis diferentes métodos de indexação do perigo de incêndio, face aos dados de ocorrência de incêndios em vários países da Europa (Tabela 2). Foram então aplicados um conjunto de testes estatísticos e concluiu-se que o sistema Canadiano, caracterizado pelo seu índice de perigo de incêndio o Fire Weather Index (FWI) era de forma consistente aquele com melhor desempenho, quer na discriminação de número de incêndios por dia, quer da área ardida por dia, numa dada área geográfica (Viegas et al., 2004).

Tabela 2. Métodos de indexação do perigo meteorológico de incêndio considerados no estudo de Viegas et al. (2004).

.

Em 1995 foi recomendado pela Comissão Europeia que os países da Comunidade adotassem como método comum de indexação do perigo de incêndio o sistema Canadiano. O grande objetivo seria adotar um método comum que, entre outras vantagens, permitiria universalizar os conhecimentos e os métodos aplicados para melhor entendimento em operações internaci-onais conjuntas, “com indicadores de fácil reconhecimento e interpretação pelos diversos intervenientes” (Viegas et al., 2004), como já se tem verificado em varias ocasiões, princi-palmente entre Portugal e Espanha.

A utilização do FWI é bastante acessível, porque apenas requer dados que se encontram disponíveis na maioria das estações meteorológicas. É constituído por um conjunto de indica-dores ou sub-índices que estão assinalados seguidamente, com informação de grande interesse para a gestão dos IF (Viegas et al., 2004). Para avaliação do comportamento potencial do fogo à escala regional, tal como determinado pelas condições meteorológicas presentes e passadas, é possível recorrer aos índices do Sistema Canadiano (Van Wagner, 1987 cit (Fernandes e Rego, 2010). Normalmente a estimativa do risco de incêndio é realizada a partir de índices de

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34 perigo meteorológicos que são informatizados com as várias estações meteorológicas que estão distribuídas pelo país (Aguadoa et al., 2010).

Em Portugal o Instituto de Meteorologia passou a utilizar com alguma frequência o CFFWIS a partir de 1998, mas foi no decorrer de 2002 que o índice FWI passou a ser calculado diaria-mente sem interrupções ao longo do ano, com utilização operacional nas ações de prevenção e combate aos IF, inclusive na época de Inverno (Instituto de Meteorologia, 2008). Foram apresentadas relações empíricas que permitem estimar o teor de humidade de combustíveis finos da manta morta e do estrato arbustivo, com base em dois daqueles indicadores. Mostrou-se que o índice de propagação inicial pode Mostrou-ser empregue para estimar a velocidade de propa-gação das chamas em leitos de combustível arbustivo, salvaguardando algumas limitações, relacionadas com efeitos de vento ou de topografia (Viegas et al., 2004).

A estrutura do sistema Canadiano encontra-se representada esquematicamente na Figura 6, na qual são representados os três níveis dos índices seguintes:

Observações meteorológicas às 12 horas locais; Índices de teor de humidade;

Índices de comportamento do fogo.

O terceiro nível implica simultaneamente um indicador de comportamento e de perigo de incêndio, sendo aquele que é mais utilizado como variável de saída do sistema. O índice FWI representa a intensidade potencial do fogo, uma das facetas na interpretação da meteorologia nos incêndios, já que para se obter uma perceção mais completa devem analisar-se os sub-índices no seu conjunto (Viegas et al., 2004).

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Figura 6. Estrutura do CFFWIS (Viegas et al., 2004).

Como se pode verificar na Figura 6, os parâmetros meteorológicos que o CFFWIS requer como dados de entrada são os seguintes:

A temperatura do ar; A humidade relativa do ar;

A velocidade do vento, medida a 10 m de altura; A precipitação ocorrida nas últimas 24 horas.

Tendo em conta que o valor diário mais significativo do índice de perigo é precisamente o máximo diário e que este ocorre por volta do meio do dia, normalmente os parâmetros meteo-rológicos utilizados no sistema são os observados às 12 TUC ou previstos para as 12 TUC (13.00 horas locais, durante o Verão).

Como se trata de um índice cumulativo, existe a necessidade de conhecer os valores dos parâmetros meteorológicos para um conjunto sucessivo de dias. A fim de assegurar uma boa estabilidade das estimativas, o cálculo não deve ser interrompido, a não ser nos países com invernos rigorosos, uma vez que é possível a ocorrência de fogos em qualquer época do ano.

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36 O Sistema Canadiano apresenta três sub-índices que estão relacionados com o teor de humi-dade de estratos de combustíveis finos mortos (FFMC), dos combustíveis da manta morta em decomposição (DMC) e do húmus (DC).

3.2.1.

Índices de comportamento do fogo

Os dois índices relacionados com aspectos do comportamento ou propagação do fogo encon-tram-se num nível intermédio. São o índice de propagação inicial (ISI) e o índice de combus-tível disponível (BUI), que têm os seguintes significados:

Initial Spread Index (ISI) – Índice de propagação inicial, ou seja, sem o efeito do combustível disponível, incorpora o índice de teor de humidade dos com-bustíveis finos e o valor da velocidade do vento para produzir uma medida da velocidade de propagação do fogo em terreno plano.

Build Up Index (BUI) – Integra os dois sub-índices restantes, DMC e DC, para obter uma estimativa da proporção da vegetação disponível (partículas médias e grossas) que irá participar efetivamente na propagação. Esta fração depen-dente do teor de humidade dos vários componentes do leito combustível.

O resultado final do sistema é uma conjugação dos dois índices anteriores, designado por índice de perigo (FWI), que representa a intensidade do fogo e constitui o dado de saída que mais diretamente se relaciona com a possibilidade de ocorrência de incêndios e com a respeti-va perigosidade (Viegas et al., 2004).Ao ligar um indicador da velocidade de propagação (ISI) com um indicador do combustível disponível (BUI), o FWI constitui ao mesmo tempo uma boa medida da facilidade de ignição, relacionada com o teor de humidade dos combustíveis finos, da extensão possível dos incêndios dependente da velocidade de propagação e com a dificuldade de extinção proporcional à intensidade de propagação, ou ao comprimento das chamas, que lhe é equivalente (Viegas et al., 2004).

Um dado valor de FWI indica o mesmo comportamento do fogo em qualquer lado mas dependendo da região e no que respeita à ocorrência de incêndios e área ardida, a interpreta-ção varia de distrito para distrito (Figura 7). As cinco classes consideradas são as indicadas na

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37 Tabela 3, que correspondem à escala utilizada em Portugal e que foi desenvolvida por (Palheiro et al., 2006).

Tabela 3. Classes do índice meteorológico de perigo de incêndio e a sua interpretação no combate aos incêndios florestais (Instituto de Meteorologia, 2012).

Na Tabela 3 pode verificar-se o possível comportamento do fogo, a sua velocidade e intensi-dade, e a dificuldade de extinção de um IF. Este quadro completa-se com o mapa do território nacional (Figura 7) no qual se encontra representada a respetiva previsão. Para o público o Instituto de Meteorologia divulga diariamente as Classes de Risco de IF por concelho (RCM) que combina o FWI com a chamado risco conjuntural que reflete o historial de incêndios.

Figura 7. Previsão do Índice Meteorológico de Perigo de Incêndio (FWI) e da Classe de Risco de incêndio florestal (RCM) por concelho e para o dia 15 de outubro de 2012 (Instituto de Meteorologia, 2012).

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38 A Tabela 3 juntamente com esta figura e outros instrumentos de informação que não estão referenciados neste trabalho, são ferramentas que podem ter grande utilidade para as várias entidades que trabalham em associação com a ANPC.

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Capítulo 4

4. Incêndios florestais

4.1. Introdução

Desde a sua ignição, o fogo desenvolve-se em dimensão e envolve progressivamente vários estratos de combustível, desde a folhada à copa das árvores, dependendo da sua sobreposição e continuidade vertical. Quando um fogo consome apenas manta morta e vegetação do sub-bosque, dizemos que estamos perante um fogo de superfície, quando um fogo avança através do estrato arbóreo dizemos que estamos perante um fogo de copas, embora este último quase sempre em simultâneo com o fogo de superfície.

Após o alerta, quando o fogo não é controlado de imediato através do ATI, a propagação do fogo entra em equilíbrio com o piro-ambiente, dando-se uma aceleração no crescimento do incêndio. A expansão do fogo é aproximadamente elíptica, resultando em formas mais alo n-gadas quando o vento e/ou o declive são mais fortes e acentuados. As características do fogo variam acentuadamente ao longo do seu perímetro, onde se distinguem três secções com velocidade e intensidade crescentes: a cabeça ou frente, os flancos e a cauda ou retaguarda. Da combinação do perigo de incêndio com a sua probabilidade de ocorrência e valores ameaçados resulta o risco de incêndio (Fernandes e Rego, 2010).

Todos os IF se iniciam por um fogo pontual e à medida que se vão desenvolvendo tornam-se num foco de incêndio, ao qual também se pode chamar incêndio nascente. Decorrido algum tempo, com a progressão e o crescimento do incêndio, verifica-se que deixa de ser pontual e passou a ser um fogo em regime linear, com combustão contínua. O incêndio que inicialmente se apresenta em forma de círculo, com o seu desenvolvimento é muitas vezes impulsionado essencialmente pelo vento, pelo declive e também pelo tipo de vegetação, passando a ter a forma de elipse (Fig. 8).

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Figura 8. Padrão geral de crescimento de um incêndio florestal adaptado de Alexander (2000).

Torna-se fundamental para melhor compreender o comportamento de um incêndio, ter conhe-cimento sobre as partes que o constituem, saber qual a cabeça ou frente e as restantes partes de um incêndio. Para esse efeito viramo-nos para o sentido em que a progressão das chamas é maior, imaginamos que estamos no interior do incêndio (na área queimada) e pela nossa posição saberemos de imediato qual a frente e qual a retaguarda, que à nossa esquerda está o flanco esquerdo e à nossa direita o flanco direito.

Partes constituintes de um IF e correspondente definição:

Frente principal ou cabeça: zona onde o incêndio se propaga com maior velo-cidade;

Retaguarda ou cauda: zona oposta à frente onde o incêndio assume menor in-tensidade, progredindo também nessa direção;

Flanco: parte lateral situada entre a frente e a retaguarda;

Dedo: saliência num flanco correspondente ao local onde o incêndio se propa-ga com maior velocidade.

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41 Mesmo com estações meteorológicas e com sistemas de informação com base de dados sobre as condições do terreno, dos combustíveis e conjuntamente com as previsões meteorológicas (quase em tempo real), poderá ser difícil prever o comportamento do fogo. Além disso, deve-se ter deve-sempre predeve-sente que estas ferramentas não são projectadas para suportar tomadas de decisões operacionais, é sempre o homem quem toma as decisões, nunca o modelo (Alexander, 2000).

Embora o elevado número de ocorrências e a vasta extensão das áreas ardidas estejam direta-mente associados ao comportamento humano negligente e doloso, dependem essencialdireta-mente das condições meteorológicas que se fazem sentir anualmente, potenciadas pela ausência de ordenamentos do território e de gestão florestal e pela reduzida eficácia da atuação dos meios de combate (MC) (Lourenço, 2007).

4.2. Detecção e ataque inicial

A vigilância tem como objetivo principal a detecção dos incêndios, contribuindo para um alerta mais rápido, tornando a primeira intervenção mais eficaz. A rapidez na deteção seguida de um planeamento e gestão eficaz do incêndio são fundamentais tanto para o controlo do fogo, como para a redução dos custos nas operações de combate e atenuação dos danos materiais e humanos. O conhecimento inadequado das condições no terreno, meteorologia, vegetação e extensão do perímetro do incêndio, pode prejudicar gravemente a capacidade de o dominar, sendo determinante para o impacto que este pode provocar nas suas variadas formas.

Embora a vigilância e a detecção não pertençam diretamente ao âmbito da prevenção, são fatores que podem também actuar como um meio dissuasor de possíveis infrações, como vandalismo e incendiarismo. Estas três vertentes em associação, silvicultura preventiva, vigilância e detecção aplicadas com sucesso, poderão contribuir para minimizar o problema dos incêndios em Portugal, não só no que concerne ao número de ignições, mas também em relação ao número de ocorrências e área ardida (Colaço, 2006).

Quando ocorre uma ignição que potencialmente dará origem a um incêndio, é necessário antes de mais que o mesmo seja detetado e que o alerta chegue às respetivas entidades. A demora na mobilização dos MC, incluindo o transporte do pessoal e a preparação do equipa-mento, condiciona fortemente o sucesso das operações. Quando a detecção do incêndio é

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42 rápida e a mobilização dos MC efetuada com prontidão, conjuntamente com um planeamento eficaz, o incêndio pode ser controlado com alguma facilidade, dependendo sempre dos fatores condicionantes já referidos anteriormente. Mesmo após o ATI o incêndio pode continuar a crescer de forma constante ou até mesmo com mais intensidade.

Podem ser utilizadas diversas formas de detecção de IF, dependendo das características do local, tendo em conta principalmente a extensão da área a ser monitorizada. No nosso país o mais comum são os meios de detecção através de vigilância terrestre, postos de vigilância e torres de observação. Noutros países onde o território é mais extenso, além dos referidos, é feito também o patrulhamento aéreo com aeronaves e a monitorização através da utilização de satélites.

Os métodos de detecção e o devido reconhecimento de cada IF são fundamentais para o rápido controlo do incêndio, bem como para a redução dos efeitos produzidos pelo fogo sobre o ambiente. Na realidade o que se verifica é que o tempo decorrido entre o início da detecção e o início do combate são determinantes para evitar que o incêndio atinja proporções maiores ou se torne incontrolável (Fig. 9).

Figura 9. Conceptualização do desenvolvimento de um incêndio florestal desde a sua ignição até à ação de combate, adaptado de Alexander (2000).

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43 O tempo de resposta a um alerta de incêndio deve contemplar sempre o tempo envolvido na preparação dos homens e equipamento e/ou o tempo para a aeronaves, tanto de asas rotativas como de asas fixas, tendo em conta o tempo que necessitam para aquecerem os motores antes de deslocar para a zona do incêndio, um tempo mínimo adicional que nunca será menos de cinco minutos, dependendo se as aeronaves já estavam em funcionamento ou não. O ataque aéreo pode ser um recurso extremamente eficiente nas ações de combate ao fogo, especial-mente durante a fase inicial do incêndio e quando devidaespecial-mente apoiado pelas equipas de combate terrestre. A atuação destes últimos é normalmente demorada, essencialmente devido à distância e à dificuldade nos acessos para o local do incêndio. Um problema maior no que concerne à intervenção aérea é que é exageradamente cara, tanto na manutenção mecânica das aeronaves como em gasto de combustível nas ações de combate, mesmo quando em regime de contrato (Alexander, 2000).

A necessidade de estabelecer e manter a capacidade de detecção dos IF torna possível que a intervenção se faça mais cedo. Um ATI mais rápido e eficaz constitui a pedra angular de qualquer organização de gestão do fogo, não esquecendo que deve existir um equilíbrio adequado em termos de custo-eficácia.

O planeamento do ATI a um IF deve ter como princípio base, que todos os fogos atingem a sua máxima propagação e intensidade em função do tipo e quantidade dos combustíveis, da topografia e das condições meteorológicas. Qualquer atraso desnecessário entre a deteção de um incêndio e o início das operações de ATI pode comprometer o sucesso no combate ao incêndio. Os MC devem considerar formas de rentabilização de tempo entre o momento da ignição e o início do trabalho efetivo no perímetro do fogo.

O reconhecimento é o momento crucial em toda a operação de combate aos incêndios. O tempo que pode ser considerado perdido no reconhecimento será rapidamente recuperado depois de se passar à ação de combate. Um reconhecimento correto em muitas das situações pode significar a diferença entre o sucesso e o fracasso.

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Figura 10. Fases de um incêndio florestal, relação entre o tempo decorrido e a área queimada.

A intensidade da cabeça do fogo e a sua propagação vão ditar os meios necessários para o combate ao incêndio (veículos, homens e equipamentos), que em associação com as taxas de produção dos MC irão ser determinantes para conter um incêndio num determinado setor ou no seu perímetro, dentro de um período especificado de tempo. Assim, podemos verificar através da figura 10 que o tempo decorrido desde o momento do alerta até à extinção do incêndio depende da prontidão e do nível de eficácia dos MC em cada uma das fases, sabendo que quanto mais prontamente se combater e extinguir o incêndio menor será a área ardida.

Em determinados IF onde se verifica alguma complexidade, torna-se óbvio que até as condi-ções meteorológicas serem favoráveis se torna quase impossível para os MC controlar a propagação do fogo. Por norma isso só acontece se o incêndio estiver no seu início e as forças de combate estejam nas proximidades ou se desloquem com prontidão para o local do sinistro (Alexander, 2000).

4.2.1.

Focos secundários

Nos IF podem por vezes deflagrar pequenas ignições afastadas do seu perímetro, esses pontos exteriores são designados focos secundários. Normalmente estes focos acontecem quando se dá a projeção de matéria inflamada impulsionada pelas correntes de conveção provocando desta forma focos de curta (50 m), média (50-500 m) ou longa distância (mais de 500 m) (Martins, 2010). Os materiais projetados mantendo-se em combustão durante alguns minutos

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45 permitem que outros combustíveis fora da área do incêndio principal também se inflamem, este fenómeno depende essencialmente da intensidade do fogo, do tipo de combustível e da velocidade do vento.

Os focos secundários de curta distância podem ser extremamente perigosos, uma vez que podem contribuir para o aumento da velocidade da frente do incêndio principal provocando o encurralamento dos MC. O incêndio tem um comportamento dinâmico, mesmo que sejam conhecidos com precisão os fatores condicionantes, não é certo que se consiga prever com exatidão o seu comportamento (Martins, 2010).

O deslocamento da matéria inflamada pelo solo é também um fenómeno importante para o aparecimento de novos focos de incêndio, sendo responsável pelo aparecimento de focos secundários em locais relativamente afastados do incêndio principal. São situações em que os materiais inflamados são mais pesados e se deslocam em chamas encosta abaixo, nomeada-mente pinhas, pequenos troncos e em situações mais esporádicas a deslocação de animais com o pelo a arder, que podem também alastrar o fogo a outros locais (ENB, 2009).

4.2.2.

Reacendimentos

Os reacendimentos são novas ocorrências que têm início no perímetro da área afetada por um incêndio recente e que foi considerado extinto, neste caso supõe-se que todos os meios já tenham abandonado o teatro das operações (TO). São ocorrências com área ardida às quais são atribuídas o tipo de causa negligente, a sua origem será identificada como uma fonte de calor do incêndio anterior. A data e hora de início do reacendimento serão sempre posteriores à data e hora de extinção do incêndio de origem (ANPC, 2012).

Os reacendimentos correspondem aos fogos que resultaram de ocorrências anteriores que não foram completamente extintos, ou seja, aqueles em que o rescaldo não ficou devidamente consolidado. Os procedimentos ao nível do rescaldo e da vigilância pós rescaldo são muitas das vezes ineficazes, mesmo quando o perímetro do foco inicial não ultrapassa algumas dezenas de metros. Em várias situações verifica-se uma certa dificuldade em aceitar a realida-de dos reacendimentos, porque é comprometedora para os intervenientes, sendo preferível imputar as culpas a presumíveis incendiários, esse fenómeno é desde sempre uma realidade entre os intervenientes dos IF (Lourenço e Rainha, 2005).

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Figura 1. Estrutura da dissertação.
Figura 2. Incêndios florestais e área ardida em Portugal Continental (1980-2010). Fonte: (AFN/MADRP, 2011)
Figura 3. Classificação dos combustíveis florestais (Macedo e Sardinha, 1987 cit Carvalho, 2003)
Tabela 1. Classificação dos combustíveis florestais por estrato.
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Referências

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