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4. Incêndios florestais

4.2. Detecção e ataque inicial

A vigilância tem como objetivo principal a detecção dos incêndios, contribuindo para um alerta mais rápido, tornando a primeira intervenção mais eficaz. A rapidez na deteção seguida de um planeamento e gestão eficaz do incêndio são fundamentais tanto para o controlo do fogo, como para a redução dos custos nas operações de combate e atenuação dos danos materiais e humanos. O conhecimento inadequado das condições no terreno, meteorologia, vegetação e extensão do perímetro do incêndio, pode prejudicar gravemente a capacidade de o dominar, sendo determinante para o impacto que este pode provocar nas suas variadas formas.

Embora a vigilância e a detecção não pertençam diretamente ao âmbito da prevenção, são fatores que podem também actuar como um meio dissuasor de possíveis infrações, como vandalismo e incendiarismo. Estas três vertentes em associação, silvicultura preventiva, vigilância e detecção aplicadas com sucesso, poderão contribuir para minimizar o problema dos incêndios em Portugal, não só no que concerne ao número de ignições, mas também em relação ao número de ocorrências e área ardida (Colaço, 2006).

Quando ocorre uma ignição que potencialmente dará origem a um incêndio, é necessário antes de mais que o mesmo seja detetado e que o alerta chegue às respetivas entidades. A demora na mobilização dos MC, incluindo o transporte do pessoal e a preparação do equipa- mento, condiciona fortemente o sucesso das operações. Quando a detecção do incêndio é

42 rápida e a mobilização dos MC efetuada com prontidão, conjuntamente com um planeamento eficaz, o incêndio pode ser controlado com alguma facilidade, dependendo sempre dos fatores condicionantes já referidos anteriormente. Mesmo após o ATI o incêndio pode continuar a crescer de forma constante ou até mesmo com mais intensidade.

Podem ser utilizadas diversas formas de detecção de IF, dependendo das características do local, tendo em conta principalmente a extensão da área a ser monitorizada. No nosso país o mais comum são os meios de detecção através de vigilância terrestre, postos de vigilância e torres de observação. Noutros países onde o território é mais extenso, além dos referidos, é feito também o patrulhamento aéreo com aeronaves e a monitorização através da utilização de satélites.

Os métodos de detecção e o devido reconhecimento de cada IF são fundamentais para o rápido controlo do incêndio, bem como para a redução dos efeitos produzidos pelo fogo sobre o ambiente. Na realidade o que se verifica é que o tempo decorrido entre o início da detecção e o início do combate são determinantes para evitar que o incêndio atinja proporções maiores ou se torne incontrolável (Fig. 9).

Figura 9. Conceptualização do desenvolvimento de um incêndio florestal desde a sua ignição até à ação de combate, adaptado de Alexander (2000).

43 O tempo de resposta a um alerta de incêndio deve contemplar sempre o tempo envolvido na preparação dos homens e equipamento e/ou o tempo para a aeronaves, tanto de asas rotativas como de asas fixas, tendo em conta o tempo que necessitam para aquecerem os motores antes de deslocar para a zona do incêndio, um tempo mínimo adicional que nunca será menos de cinco minutos, dependendo se as aeronaves já estavam em funcionamento ou não. O ataque aéreo pode ser um recurso extremamente eficiente nas ações de combate ao fogo, especial- mente durante a fase inicial do incêndio e quando devidamente apoiado pelas equipas de combate terrestre. A atuação destes últimos é normalmente demorada, essencialmente devido à distância e à dificuldade nos acessos para o local do incêndio. Um problema maior no que concerne à intervenção aérea é que é exageradamente cara, tanto na manutenção mecânica das aeronaves como em gasto de combustível nas ações de combate, mesmo quando em regime de contrato (Alexander, 2000).

A necessidade de estabelecer e manter a capacidade de detecção dos IF torna possível que a intervenção se faça mais cedo. Um ATI mais rápido e eficaz constitui a pedra angular de qualquer organização de gestão do fogo, não esquecendo que deve existir um equilíbrio adequado em termos de custo-eficácia.

O planeamento do ATI a um IF deve ter como princípio base, que todos os fogos atingem a sua máxima propagação e intensidade em função do tipo e quantidade dos combustíveis, da topografia e das condições meteorológicas. Qualquer atraso desnecessário entre a deteção de um incêndio e o início das operações de ATI pode comprometer o sucesso no combate ao incêndio. Os MC devem considerar formas de rentabilização de tempo entre o momento da ignição e o início do trabalho efetivo no perímetro do fogo.

O reconhecimento é o momento crucial em toda a operação de combate aos incêndios. O tempo que pode ser considerado perdido no reconhecimento será rapidamente recuperado depois de se passar à ação de combate. Um reconhecimento correto em muitas das situações pode significar a diferença entre o sucesso e o fracasso.

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Figura 10. Fases de um incêndio florestal, relação entre o tempo decorrido e a área queimada.

A intensidade da cabeça do fogo e a sua propagação vão ditar os meios necessários para o combate ao incêndio (veículos, homens e equipamentos), que em associação com as taxas de produção dos MC irão ser determinantes para conter um incêndio num determinado setor ou no seu perímetro, dentro de um período especificado de tempo. Assim, podemos verificar através da figura 10 que o tempo decorrido desde o momento do alerta até à extinção do incêndio depende da prontidão e do nível de eficácia dos MC em cada uma das fases, sabendo que quanto mais prontamente se combater e extinguir o incêndio menor será a área ardida.

Em determinados IF onde se verifica alguma complexidade, torna-se óbvio que até as condi- ções meteorológicas serem favoráveis se torna quase impossível para os MC controlar a propagação do fogo. Por norma isso só acontece se o incêndio estiver no seu início e as forças de combate estejam nas proximidades ou se desloquem com prontidão para o local do sinistro (Alexander, 2000).

4.2.1.

Focos secundários

Nos IF podem por vezes deflagrar pequenas ignições afastadas do seu perímetro, esses pontos exteriores são designados focos secundários. Normalmente estes focos acontecem quando se dá a projeção de matéria inflamada impulsionada pelas correntes de conveção provocando desta forma focos de curta (50 m), média (50-500 m) ou longa distância (mais de 500 m) (Martins, 2010). Os materiais projetados mantendo-se em combustão durante alguns minutos

45 permitem que outros combustíveis fora da área do incêndio principal também se inflamem, este fenómeno depende essencialmente da intensidade do fogo, do tipo de combustível e da velocidade do vento.

Os focos secundários de curta distância podem ser extremamente perigosos, uma vez que podem contribuir para o aumento da velocidade da frente do incêndio principal provocando o encurralamento dos MC. O incêndio tem um comportamento dinâmico, mesmo que sejam conhecidos com precisão os fatores condicionantes, não é certo que se consiga prever com exatidão o seu comportamento (Martins, 2010).

O deslocamento da matéria inflamada pelo solo é também um fenómeno importante para o aparecimento de novos focos de incêndio, sendo responsável pelo aparecimento de focos secundários em locais relativamente afastados do incêndio principal. São situações em que os materiais inflamados são mais pesados e se deslocam em chamas encosta abaixo, nomeada- mente pinhas, pequenos troncos e em situações mais esporádicas a deslocação de animais com o pelo a arder, que podem também alastrar o fogo a outros locais (ENB, 2009).

4.2.2.

Reacendimentos

Os reacendimentos são novas ocorrências que têm início no perímetro da área afetada por um incêndio recente e que foi considerado extinto, neste caso supõe-se que todos os meios já tenham abandonado o teatro das operações (TO). São ocorrências com área ardida às quais são atribuídas o tipo de causa negligente, a sua origem será identificada como uma fonte de calor do incêndio anterior. A data e hora de início do reacendimento serão sempre posteriores à data e hora de extinção do incêndio de origem (ANPC, 2012).

Os reacendimentos correspondem aos fogos que resultaram de ocorrências anteriores que não foram completamente extintos, ou seja, aqueles em que o rescaldo não ficou devidamente consolidado. Os procedimentos ao nível do rescaldo e da vigilância pós rescaldo são muitas das vezes ineficazes, mesmo quando o perímetro do foco inicial não ultrapassa algumas dezenas de metros. Em várias situações verifica-se uma certa dificuldade em aceitar a realida- de dos reacendimentos, porque é comprometedora para os intervenientes, sendo preferível imputar as culpas a presumíveis incendiários, esse fenómeno é desde sempre uma realidade entre os intervenientes dos IF (Lourenço e Rainha, 2005).

46 Quando após a extinção do incêndio persistem CF em combustão entre as áreas queimadas e as intactas, não isolados, nomeadamente combustíveis (mortos ou vivos) com baixos teores de humidade devido ao pré-aquecimento sofrido, estas áreas podem em pouco tempo ou passado várias horas voltar a inflamar-se e dar continuidade ao incêndio anterior.

Apesar de a água ser um meio eficaz e rápido no domínio de grandes extensões de linhas de chamas, verifica-se no dia-a-dia uma utilização quase exclusiva no combate. Este meio de intervenção, além de caro, escasso e de difícil transporte, nem sempre é o mais eficaz para todas as situações de combate, pelo que a sua utilização deve ser cuidada e rentabilizada ao máximo. Em várias circunstâncias existem outros meios que podem revelar-se mais vantajo- sos, principalmente quando se trata da fase de rescaldo e sobretudo quando a manta morta é espessa, neste caso não restam dúvidas que o material sapador (ferramentas manuais), máqui- nas de rastos e as faixas de contenção (faixas limpas de vegetação) seriam mais adequadas para garantir um rescaldo mais eficaz.

Para alterar a forma de atuar no combate aos incêndios, em particular nos de maiores dimen- sões, o elemento de comando responsável pelo teatro das operações deveria efetuar um plano para o rescaldo e para a vigilância pós-rescaldo, com indicação clara das operações a efetuar, dos meios necessários a envolver, calculados em função do perímetro do fogo e das caracte- rísticas do terreno e dos combustíveis. Apenas com a implementação de algumas alterações simples nos rescaldos dos incêndios, alterando hábitos enraizados essencialmente entre os MC, seria suficiente para reduzir o número de ocorrências e consequentes efeitos significati- vos na redução das áreas ardidas. Muitos dos incêndios resultam de reacendimentos onde o rescaldo não é efectuado de forma eficaz e os incêndios não ficam completamente extintos (Lourenço e Rainha, 2006).

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