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Planeamento e gestão nos incêndios florestais

5.1. Introdução

No planeamento e na gestão dos IF a segurança dos intervenientes deve ser prioritária em todas as situações. Alguns aspetos que podem ser aplicados como regras simples para evitar que os MC se exponham a riscos desnecessários, são a tentativa de controlo ao longo de estradas, suprimindo desta forma o avanço do fogo e contribuindo para a proteção de bens e vidas humanas. Estes aspetos são especialmente úteis quando a estratégia de supressão implica o confronto direto com incêndios de extrema intensidade (Fernandes, 2003).

Com vista a facilitar a tarefa dos MC seria importante incluir no planeamento do ATI, infor- mações várias que poderão fazer toda a diferença, tais como, as vias de acesso, tempo de viagem, tipo de CF, condições topográficas e meteorológicas e pontos de abastecimento de água. Em determinadas situações, a preparação de mapas e cartas topográficas atualizados (na falta de GPS) é também uma ajuda extremamente valiosa para a orientação dos MC no TO. Verifica-se com regularidade que os MC demoram muito tempo na deslocação para o incên- dio por desconhecimento das vias de acesso (Alexander, 2000).

Por norma o que acontece nos IF é que não existe um esforço regular para diminuir a área ardida, mas sim uma tendência para a proteção civil, onde se vê uma constante preocupação por parte dos MC em proteger casas, pessoas, povoações e infra-estruturas. O sistema para se tornar mais eficaz, deveria incidir mais, além dos bombeiros, na utilização de sapadores florestais com ferramentas manuais e, no caso da aplicação do contrafogo ser feito por especi- alistas1.

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52 Em Portugal o planeamento e a gestão no combate aos IF têm sido apontados como sendo as áreas mais frágeis das forças de proteção e socorro. Para colmatar esta falha a Autoridade Nacional da Protecção Civil (ANPC) cria anualmente uma Diretiva Operacional Nacional com o nome de Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) com base na legislação em vigor e nos contributos dos agentes e entidades que a integram, pretendendo-se criar uma plataforma estratégica que sirva de instrumento de planeamento, organização, coordenação e comando operacional (ANPC, 2012).

Os IF propiciam condições para o surgimento de situações complexas, que são normalmente potenciadas por condições meteorológicas extremas de difícil previsão, podendo originar situações catastróficas, sendo necessário para o efeito a preparação e organização de um dispositivo adequado para os combater através da intervenção das forças de proteção e socor- ro, quer na defesa da floresta enquanto bem estratégico do país, quer na proteção das popula- ções e do ambiente. Foi neste contexto que foi instituído o DECIF que visa garantir uma resposta operacional permanente, adequada e articulada, em conformidade com os graus de gravidade e probabilidade de IF durante os períodos de perigo considerados (ANPC, 2012).

A gestão do combate deve englobar necessariamente duas tarefas essenciais:

A primeira prende-se com a organização e gestão das forças de protecção e so- corro;

A segunda passa pela análise do comportamento e evolução do incêndio, iden- tificando as oportunidades de combate e os elementos expostos (Martins, 2010).

Num estudo realizado por (Martins, 2010) concluiu-se que a formação dos elementos que assumem o comando nos IF é orientada sobretudo para a gestão e organização do teatro de operação e não para a análise do comportamento do fogo. Mesmo os elementos de comando que assumem o controlo das operações de combate em incêndios mais complexos, apenas têm como formação base conceitos básicos sobre o comportamento do fogo e análise dos fatores condicionantes. Não quer isto dizer que não existam elementos de comando que analisam devidamente os incêndios e que optem por estratégias adequadas, embora nos casos em que isso acontece, deve-se sobretudo à sua experiência e empenho pessoal e não à formação fornecida.

53 A falta de uma gestão eficaz no combate ao incêndio faz com que os combatentes sejam surpreendidos por alterações súbitas do comportamento do fogo, muitas das vezes associadas erradamente a mudanças de ventos. Também se verifica constantemente uma certa dificuldade em definir estratégias alternativas ao combate direto.

A falta de recurso a métodos de apoio à decisão não permite prever com a mesma eficácia o comportamento e evolução do incêndio. O conhecimento atualizado sobre os fatores meteoro- lógicos, uma carta militar e imagens aéreas ou até mesmo um Sistema de Informação Geográ- fico, são importantes para esquematizar a gestão do incêndio, essencialmente definindo estratégias de combate e métodos de combate (direto ou indireto) e posicionando os MC de acordo com a evolução do incêndio. O desconhecimento do comportamento do fogo e da evolução do incêndio para além de constituir uma enorme risco, dificulta a gestão no comba- te.

A inexistência do uso de métodos e ferramentas deve-se essencialmente à falta de formação dos COS, quer por falta de conhecimento da sua existência, quer pelo facto de este trabalho ser difícil de compatibilizar com as funções de COS. Na atualidade em incêndios iniciais ou de menor dimensão o COS na grande maioria das situações acumula funções de Planeamento, Organização e Logística, e ao mesmo tempo é responsável pelas ações de combate. Apenas em incêndios de grande amplitude se verificam organizações com maior complexidade, aumentando consoante a dimensão do incêndio e as dificuldades inerentes.

5.2. A auto-defesa e a legislação relativa ao uso do fogo

A prevenção e o combate a incêndios são fatores que se complementam. Como as técnicas preventivas não são suficientes para evitar a ocorrência de IF, torna-se indispensável que os MC estejam organizados de forma a garantirem a eficácia nas operações de combate.

Devido à intensidade das construções permanentes e secundárias, desprezando sucessivamen- te a legislação que diz respeito às características físicas do território e das diferentes formas de ocupação dos solos, nos últimos anos tem-se verificado em diversas regiões do país uma sucessão de situações invulgares, dando origem à ocorrência de IF a invadirem áreas urbanas, causando elevados prejuízos materiais e perda de vidas humanas (Lourenço e Rainha, 2006).

54 Às áreas onde se verifica o avanço do fogo do espaço com ocupação agrícola, florestal ou inculto para o espaço edificado (urbano), são designadas áreas de Interface Urbano- Rural- (IUR). Nestas situações quando o fogo se aproxima das povoações verifica-se frequentemente que os populares ficam exaltados, preocupando-se com as suas propriedades, reclamando constantemente a presença e a atenção dos MC, embora nem sempre se justifique. Acontece que normalmente estes casos dificultam as ações dos MC, que em vez de estar concentrados em combater o incêndio em concreto evitando o seu avanço, limitam-se a esperar o fogo perto das populações, como consequência os MC ficam de tal forma dispersos que a eficácia no combate fica totalmente debilitada.

Neste contexto torna-se importante desenvolverem-se estratégias de prevenção e de educação, dirigidas especificamente para as populações das áreas de IUR, no sentido de tornar mais eficaz a gestão destas áreas e dos incêndios que as afectam. Algumas destas estratégias passam pela implementação de planos de sensibilização dos proprietários e de evacuação dos residentes e das comunidades ameaçadas ou em situações de risco (Vieira, Gonçalves et al. 2009). O que se espera, tal como a legislação prevê, é que a população em geral proceda à limpeza da vegetação numa faixa (faixa de gestão de combustíveis) de 50 m em volta das casas. “O não cumprimento desta obrigação legal, faz com que exista um desvio do esforço de combate para a protecção às casas, permitindo dessa forma o alastramento dos incêndios para outras áreas, muitas vezes colocando em risco outras casas” (Silva et al., 2008a).

As leis, regulamentos e normas relacionadas com a gestão das florestas e dos IF constituem também uma forma de prevenir incêndios, fundamentalmente através da fiscalização e legali- zação das ações de queimas e queimadas controladas e na penalização dos infratores respon- sáveis por provocar IF. Em Portugal atualmente a legislação que regula esta matéria é a Portaria n.º 196/2012, de 22 de junho, que determina a vigência do período crítico do Sistema de Defesa da Floresta contra Incêndios (SDFCI) entre 1 de julho e 30 de setembro (Figura 10). Esta determinação respeita o que, em sede do SDFCI, se estabelece no Decreto-Lei n.º 124/2006 de 28 de junho, com as alterações produzidas pelo Decreto-Lei n.º 17/2009 de 14 de janeiro, em matéria de adoção de medidas e ações especiais de prevenção contra IF (DUDEF, 2012).

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Figura 11. Proibições durante o período crítico (DUDEF, 2012).

Sabendo que os IF vão continuar a ocorrer, porque existe vontade e necessidade por parte da população de controlar a vegetação através do uso do fogo, torna-se necessário insistir em diferentes e melhores esforços na prevenção, no planeamento e na gestão no combate aos IF.

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PARTE II

Capítulo 6

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