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UNIVERSIDADE DE CUIABÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM ENSINO LUIZ EDUARDO BRESCOVIT

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UNIVERSIDADE DE CUIABÁ

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

MESTRADO EM ENSINO

LUIZ EDUARDO BRESCOVIT

OS CADERNOS DE PLANEJAMENTO E O ENSINO DE

MATEMÁTICA NA ESCOLA PRIMÁRIA PARANAENSE NA

DÉCADA DE 1980

CUIABÁ/MT 2020

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LUIZ EDUARDO BRESCOVIT

OS CADERNOS DE PLANEJAMENTO E O ENSINO DE

MATEMÁTICA NA ESCOLA PRIMÁRIA PARANAENSE NA

DÉCADA DE 1980

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu, Mestrado Acadêmico em Ensino da Universidade de Cuiabá/UNIC (Programa associado ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso/IFMT) como parte do requisito para obtenção do título de Mestre em Ensino, área de concentração: Ensino, Currículo e Saberes Docentes e da linha de Pesquisa: Ensino de Matemática, Ciências Naturais e suas tecnologias, sob a orientação da Professora Dra. Laura Isabel Marques Vasconcelos de Almeida.

CUIABÁ/MT 2020

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FICHA CATALOGRÁFICA

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca UNIC

B842c

BRESCOVIT, Luiz Eduardo

Os cadernos de planejamento e o ensino de matemática na escola primária paranaense na década de 1980. / Luiz Eduardo Brescovit – Cuiabá, MT 2020

130 p.: il.

Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação stricto sensu, em Ensino como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ensino: área de concentração:

Ensino, Currículo e Saberes Docentes e da linha de Pesquisa: Ensino de Matemática, Ciências Naturais e suas tecnologias.Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – IFMT associado à Universidade de Cuiabá – UNIC, 2020

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Laura Isabel Marques Vasconcelos de Almeida

1. Cadernos Escolares. 2. Ensino de Matemática. 3. Escola Primária.

CDU:371.3:510 Terezinha de Jesus de Melo Fonseca - CRB1/3261

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SECRETARIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ENSINO

ATA DE DEFESA

Aos 18 dias do mês de Novembro do ano de 2020, na Universidade de Cuiabá, ás 14:00 horas, reuniu-se a Banca Examinadora, composta por 1. Profa. Dra. Laura Isabel Marques Vasconcelos de Almeida, presidente da banca, 2. Profa. Dra. Edenar de Souza Monteiro, 3. Profa. Dra. Luciane de Fátima Bertini. A reunião tem por objetivo julgar o trabalho do aluno Luiz Eduardo Brescovit sob o título “Os cadernos de planejamento e o ensino de matemática na escola primária paranaense na década de 1980”. Os trabalhos foram abertos pelo presidente da banca. A seguir foi dada a palavra ao aluno para apresentação do trabalho. Cada Examinador arguiu o mestrando, com tempos iguais de arguição e resposta. Terminadas as arguições, procedeu-se do julgamento do trabalho, concluindo a Banca Examinadora de Dissertação por sua aprovação. Houve sugestão de alteração do título da Dissertação pela Banca Examinadora? ( ) Sim (X) Não. Título sugerido _________________________________________________________________ _________________________________________________________________

Cuiabá, 18 de novembro de 2020. Examinadores:

Profa. Dra. Laura Isabel Marques Vasconcelos de Almeida

Profa. Dra. Edenar de Souza Monteiro

_____________________________ Profa. Dra. Luciane de Fátima Bertini

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DEDICATÓRIA

A aprendizagem é um processo que só tem sentido, diante de situações de mudança. Jean Piaget (1993)

Dedico este trabalho a Deus, meu Pai, justo, amigo fiel o qual me concedeu a oportunidade de estudar e aprender cada vez mais e me conduziu até aqui. Minha amada avó Donida a qual encontra-se nos braços Dele e com toda a certeza do mundo, torceu pelo sucesso deste trabalho que representa seu legado. Meu sentimento de gratidão eterna por conviver anos aprendendo ao seu lado.

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AGRADECIMENTOS

Esta pesquisa é fruto de muita dedicação e algumas pessoas foram fundamentais para a concretização desse trabalho. Não poderia deixar de registar e agradecer as inspirações que me fizeram chegar até aqui. Sem dúvidas, sou eternamente grato às amizades, sejam as que antecedem o mestrado ou as que construí durante este processo, as quais me dão suporte, amor e respeito, nunca faltando com a verdade ou me privando da liberdade.

Aos queridos amigos, Juliana, Priscylla, Alyne, Adílcima, Antonia, Fran, Tayná, Jusciele, Sonia, Geovana, Thuane e Relicler que entenderam os momentos de ausência e contribuíram direta ou indiretamente para a realização desta etapa tão sonhada em minha vida.

Meus pais, Alvaro e Iara, que nunca mediram esforços para que eu e meus irmãos, Alvaro e Mayara tivéssemos o melhor possível dentro das suas limitações. Agradeço pela parceria, amor incondicional e principalmente por depositar tanta confiança em mim: sem vocês, família, nada disso seria possível.

Ao Maurício, pelo incentivo e companheirismo, pois sempre esteve ao meu lado desde o tão sonhado processo de seleção de mestrado e por me cobrar todos os dias: “vai escrever, não deixe para amanhã”. Sem dúvidas, ao longo dos anos, valorizou o que há de melhor em mim. Obrigado por estar ao meu lado!

Maria Sônia, meu braço direito na empresa, e a todos da FAEST, agradeço por entender minha falta, meus deslizes e tenho a certeza que todo este processo de estudos amplia o campo profissional, agregando maior conhecimento e experiência nas competências profissionais a qual incluo a todos. Obrigado por fazerem parte desta caminhada e construção.

Aos colegas e professores da UNIC/IFMT, instituições que apostam na Educação como meio transformador e a cada encontro demudaram nossos conhecimentos, nos (re) inventando e trazendo a compreensão, de que a profissão docente precisa cada vez mais de mediadores tão importantes como vocês nesse processo de formação profissional e humana a qual se dedicaram.

A Professora Dra. Luciane de Fátima Bertini, pela inspiração para desenvolver este trabalho e tratar os cadernos escolares com maestria, oportunizando durante o Seminário Internacional uma melhor compreensão sobre a pesquisa histórica e também por

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se disponibilizar para avaliar com zelo e carinho meu trabalho, contribuindo sobremaneira para construção da dissertação. Outro apreço é reconhecer a importância nos cadernos escolares, como fontes de pesquisas, objeto na qual a pesquisadora tem se debruçado e dedicado ao longo dos anos.

Minha querida Profª Dra. Edenar Souza Monteiro, professora e amiga, sempre disposta a ajudar, ensinar e reconhecer o melhor de todos em nossas aulas. Contribuiu com maestria em nossos aprendizados e dedicou seu tempo e conhecimento avaliando minha pesquisa. Minha total admiração a essas Professoras que certamente contribuirão com minha pesquisa, cabendo somente dizer-lhes: GRATIDÃO.

A minha Orientadora Dra. Laura Isabel Marques Vasconcelos de Almeida que sem dúvida, me fez chegar até este momento, pegou na minha mão, me ensinou a revisitar um passado e o mais importante, “sem fazer julgamentos”. Mostrou-me a importância da história da educação matemática, fez compreender a grandiosidade presente na materialidade escolar, ensinou-me a ser crítico (comigo mesmo), conduzindo dois anos de estudo com maestria, orientou-me, foi amiga, mãe e cabe a mim, agradecer a profissional exemplar e inspiradora que és. Aprender contigo desde 2018 foi um dos meus melhores presentes. A você, minha eterna gratidão, admiração e respeito.

E por fim, à coordenação do PPGEN/UNIC, Profª Dra. Cilene Maria Lima Antunes Maciel, que luta e defende a Pós-graduação de qualidade e fornece aos discentes todo respaldo e acolhimento necessário para alcançar os objetivos. Gratidão!!

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RESUMO

Este trabalho refere-se à pesquisa de Mestrado intitulada “Os cadernos de planejamento e o ensino de Matemática na escola primária paranaense na década de 1980” e vincula-se a Linha de Pesquisa de Ensino de Matemática, Ciências Naturais e suas Tecnologias do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ensino da Universidade de Cuiabá/ UNIC em associação ampla com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso/IFMT. Tem como objetivo investigar o ensino de Matemática, a partir dos cadernos de planos utilizados pela professora para ministrar aulas na 4ª série, na escola primária paranaense. A abordagem metodológica da pesquisa desenvolvida na vertente histórico-cultural fundamenta-se nos autores que discutem os conceitos inerentes ao objeto de pesquisa: disciplinas escolares, Chervel (1990); Cultura, Geertz (1989) e cultura Escolar, Julia (2001); representação e apropriação, Chartier (1990; 2009); saberes profissionais, Hofstetter; Valente (2017) história da educação matemática, Pinto (2008); Valente (2007;2017); cadernos escolares, Mignot (2010); Viñao (2008) e Hébrard (2001). Além dos cadernos de planejamento, as fontes foram constituídas com os documentos oficiais e escolares, Manual do Professor, fotografias, apostilas de cursos, certificados de cursos e também com os depoimentos de protagonistas (ex-professoras e ex-alunas) que contribuíram para construção da narrativa e a história do ensino de Matemática de outros tempos. As análises apontam que o ensino adotado pela professora parece se apoiar nos preceitos do Movimento da Matemática Moderna pela sistematização, organização e estruturalismo que aparecem os conteúdos e registros das atividades nos cadernos. Ainda permitiram identificar que os saberes profissionais presentes nos cadernos foram constituídos ao longo da carreira docente. Nas fontes analisadas há indícios que a professora ensinava os conceitos básicos da Matemática escolar adquiridos durante sua formação acadêmica e práticas vivenciadas no decorrer de sua trajetória profissional. Relacionava os saberes (a ensinar) advindo das formações, participação dos cursos de treinamento e da prática docente, envolvendo, além dos conteúdos, conceitos inerentes ao currículo do Magistério, da Didática, Psicologia dentre outras ciências (saberes para ensinar) consideradas essenciais para a formação. Constata-se neste estudo, que os saberes a e para ensinar são indissociáveis e se perpetuam ao longo da carreira docente.

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ABSTRACT

This work refers to the Master's research entitled “The planning notebooks and the teaching of Mathematics in the primary school of Paraná in the 1980s” and is linked to the Research Line for the Teaching of Mathematics, Natural Sciences and their Technologies of the Education Program Stricto Sensu Post-Graduation in Teaching at the University of Cuiabá / UNIC in broad association with the Federal Institute of Education, Science and Technology of the State of Mato Grosso / IFMT. It aims to investigate the teaching of Mathematics, from the notebooks of plans used by the teacher to teach classes in the 4th grade, in the primary school of Paraná. The methodological approach of the research developed in the historical-cultural aspect is based on the authors who discuss the concepts inherent to the research object: school subjects, Chervel (1990); Culture, Geertz (1989) and School culture, Julia (2001); representation and appropriation, Chartier (1990; 2009); professional knowledge, Hofstetter; Valente (2017) history of mathematical education, Pinto (2008); Valente (2007; 2017); school notebooks, Mignot (2010); Viñao (2008) and Hébrard (2001). In addition to the planning notebooks, the sources were constituted with official and school documents, the Teacher's Manual, photographs, course handouts, course certificates and also with the testimonies of protagonists (former teachers and former students) who contributed to the construction of narrative and the history of mathematics teaching from other times. The analyzes point out that the teaching adopted by the teacher seems to be based on the precepts of the Modern Mathematics Movement due to the systematization, organization and structuralism that appear in the contents and records of the activities in the notebooks. They also allowed to identify that the professional knowledge present in the notebooks were constituted throughout the teaching career. In the analyzed sources there are indications that the teacher taught the basic concepts of school mathematics acquired during her academic training and practices experienced during her professional career. In the analyzed sources, there are indications that the teacher taught the basic concepts of school mathematics acquired during her academic training and practices experienced during her professional career. It related the knowledge (to be taught) resulting from training, participation in training courses and teaching practice, involving, in addition to the contents, concepts inherent to the curriculum of Teaching, Didactics, Psychology, among other sciences (knowledge to teach) considered essential for teaching. formation. It appears in this study, that the knowledge to and to teach are inseparable and are perpetuated throughout the teaching career.

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RELAÇÃO DAS FIGURAS

Figura 1 - Concepções de Cultura Escolar. ... 30

Figura 2 - 4ª Série – Colégio Estadual Rocha Pombo, 1980. ... 32

Figura 3 - Alunas uniformizadas –Escola Maria Montessori, 1979. ... 34

Figura 4 - Momento Cívico - Grupo Escolar Rocha Pombo, 1985. ... 35

Figura 5 - Formatura Curso Normal - Donida Ferreira Tomasini, 1972 ... 40

Figura 6 - Vida escolar - Donida Bastos Ferreira, 1964. ... 43

Figura 7 - Certificado do Exame de Admissão ao ginásio, 1964. ... 44

Figura 8 -Nomeação ao cargo de Professora Primária, 1964. ... 45

Figura 9 - Grupo Escolar José Francisco da Rocha Pombo, 1958. ... 49

Figura 10 - Escola Municipal Professor Joaquim Modesto da Rosa, 1960. ... 49

Figura 11 - Escola Municipal Professor Joaquim Modesto da Rosa, 2020. ... 51

Figura 12 - Diploma de Licenciada em História, 1981. ... 52

Figura 13 - Certificado - Curso de Atualização em Matemática, 1985. ... 54

Figura 14 - Cadernos de Planejamento – 4ª Série, 1985/1986. ... 68

Figura 15 - Avaliação Terapêutica em Comunicação e Expressão, 1986. ... 71

Figura 16 - Calendário Escolar -1985/1986. ... 73

Figura 17 - Cartão Dia das Mães, 1985. ... 74

Figura 18 - Preenchimento de Cheque, 1986. ... 75

Figura 19 - Ciências - Noções de Saneamento Básico, 1985. ... 78

Figura 20 - O dia 15 de Novembro, 1986. ... 79

Figura 21- Apostilas de Curso de Alfabetização e Matemática, 1985/1986. ... 80

Figura 22 - Atividades Complementares de Matemática, 1985 ... 82

Figura 23 - Múltiplos de um número – Caderno de Planejamento, 1985 ... 83

Figura 24 - Manual do Professor - Atividades, 1979. ... 84

Figura 25 - Teoria dos conjunto - Manual do professor, Atividades, 1979. ... 85

Figura 26 - Questões para avaliação - Teoria de conjuntos, 1979. ... 86

Figura 27 - Atividades Complementares, 1979. ... 87

Figura 28 - Orientações Metodológicas, 1979... 87

Figura 29 - Certificado: Curso de Atualização de Matemática, 1985. ... 88

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Figura 31 - Caderno de Planejamento, 1986. ... 91

Figura 32 - Sistema de numeração decimal, 1986. ... 97

Figura 33 - Número Antecessor e Sucessor, 1986. ... 97

Figura 34 - Uso de Sinais, 1985. ... 98

Figura 35 - Propriedades da adição, 1985 ... 101

Figura 36 - Propriedades da multiplicação, 1985. ... 104

Figura 37- Exercícios de multiplicação, 1985/1986. ... 105

Figura 38 - Multiplicação, 1985. ... 106

Figura 39 - Dê o resultado, 1986. ... 106

Figura 40 - Medidas de Tempo, 1985... 108

Figura 41 - Números Romanos, 1985. ... 110

Figura 42 - Divisão, 1986. ... 111

Figura 43 - Divisibilidade, 1985 ... 112

Figura 44 - Frações ou Números fracionários, 1985. ... 113

Figura 45 - Exercícios anexados aos cadernos, 1986...116

QUADROS Quadro 1 - Dias letivos, 1985. ... 70

Quadro 2 - Dias letivos, 1986. ... 72

TABELAS Tabela 1 - Atividades de Matemática 1985/1986. ... 93

GRÁFICOS Gráfico 1– Disciplinas - Cadernos de Planejamento, 1985/1986. ... 76

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A.C. Antes de Cristo

BA Bahia

CEEBEJA Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos

CETEPAR Centro de Seleção, Treinamento e Aperfeiçoamento de Pessoal do Estado do Paraná

EX. Exemplo

GHEMAT Grupo de Pesquisa de História da Educação Matemática GEEM Grupo de Estudos do Ensino da Matemática

IFMT Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso ISGML International Study Group for Mathematics Learning

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação MMM Movimento da Matemática Moderna PPGEN Programa de Pós-Graduação em Ensino

PR Paraná

RS Rio Grande do Sul

RJ Rio de Janeiro

SME Secretaria Municipal de Educação UFMT Universidade Federal do Mato Grosso

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciências e a Cultura UNIC Universidade de Cuiabá

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 14

Trajetória pessoal e profissional ... 14

Aspectos metodológicos: construindo o objeto de pesquisa. ... 17

1. CULTURA ESCOLAR – REVISITANDO CONCEITOS ... 23

1.1 - Concepções de Cultura ... 24

1.2 - Cultura Escolar ... 27

1.3 - A materialidade escolar como fonte de pesquisa ... 31

1.4 - Arquivos escolares: legislação e normativas ... 36

2. A TRAJETÓRIA PESSOAL E PROFISSIONAL DE UMA PROFESSORA PRIMÁRIA ... 40

2.1 – História de vida: Donida Ferreira Tomasini ... 41

2.2 - A carreira de Magistério ... 47

2.3 – Profissão: professora... 51

3 - RETRATOS DA CULTURA ESCOLAR – OS CADERNOS DE PLANEJAMENTO ... 57

3.1 – O legado da cultura escolar: os cadernos de planejamento ... 57

3.2 O Movimento da Matemática Moderna ... 63

3.3 – O que dizem os cadernos? Registros e Planejamentos (1985-1986) ... 67

3.2 – Manual do Professor – orientações pedagógicas ... 79

3.3 - Analisando os conteúdos de Matemática. ... 89

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 118

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INTRODUÇÃO

A pesquisa intitulada “Os cadernos de planejamento e o ensino de matemática na escola primária paranaense na década de 1980”, vincula-se ao Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Ensino da Universidade de Cuiabá (UNIC), em associação ampla com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso (IFMT) e compõe a Linha de Pesquisa Ensino de Matemática, Ciências Naturais e suas Tecnologias.

Tem como objetivo investigar o ensino de Matemática, a partir dos cadernos de planos utilizados pela professora para ministrar aulas na 4ª série, na escola primária paranaense na década de 1980.

A pesquisa fundamenta-se na abordagem histórico-cultural tendo como objeto de estudo, os cadernos de planejamentos de Matemática. A opção pelo tema vincula-se a descoberta do acervo familiar, dentre os quais se destacam os cadernos de planos de aula da professora Donida Ferreira Tomasini (avó do autor) que iniciou sua trajetória profissional na cidade de Barracão/PR e posteriormente investiu e dedicou-se à carreira docente na cidade de Guaraniaçu/PR lecionando por mais de três décadas (1960 – 1995) no município.

Partimos do pressuposto que a busca incessante por qualificação profissional torna-se pré-requisito na trajetória da formação do professor. Nesta perspectiva o interestorna-se em desenvolver o estudo acerca da temática, além de compreender como era o processo de ensino, limitado ao recorte temporal, também contribui com a historiografia da disciplina de Matemática em contextos diferentes dos dias atuais.

Trajetória pessoal e profissional

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Cursar uma Pós-Graduação stricto sensu em Ensino é sobretudo, um grande passo para a carreira profissional, uma vez que este ensejo possibilitou uma imersão em pesquisas e aprendizados que serviram de suporte para o trabalho e para a Instituição de ensino da qual faço parte. Neste contexto, busquei mais que uma titulação, quero sobretudo, contribuir com os colegas e discentes com o objetivo de ser e fazer a diferença.

1

Na Introdução, utiliza-se a primeira pessoa do singular por se tratar de experiências de vida do autor. Nos demais capítulos utiliza-se a primeira pessoa do plural.

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Ser professor está intimamente ligado à motivação familiar. A decisão para a carreira docente construiu-se desde a infância, observando os passos de meus avós e mãe. Trata-se, portanto, não somente de uma profissão, mas aquilo que define a minha identidade, por desde criança, pertencer a um meio preocupado com a construção educacional do indivíduo e, desta forma, como legado, contribuir para que outros indivíduos pensem a Educação como o melhor instrumento de transformação de uma sociedade.

A docência partiu da hipótese de que uma formação em licenciatura poderia concretizar os anseios de tudo que até então já fora vivenciado. Partindo daí, a formação em Educação Física possibilitando o primeiro contato com a carreira docente.

O curso permitiu uma gama de opções de atuação, possibilitando trabalhar nas academias esportivas com o intuito de socializar o conhecimento e a aprendizagem adquirida nos estudos em relação a consciência corporal e qualidade de vida, ao qual me propunha realizar naquele dado momento. Por outro lado, com a licenciatura, estaria mais próximo da sala de aula respondendo ao anseio pessoal de atuação e realização profissional.

A primeira oportunidade de lecionar foi na cidade de Cascavel/PR atuando na Educação infantil e Ensino fundamental em escolas públicas estaduais. Desde então, as inquietudes sobre a transformação pedagógica que percebi durante as experiências vivenciadas nas escolas, motivou-me seguir na carreira docente e trilhar novos caminhos visando amadurecer profissionalmente e por meio da Pedagogia o desejo de lecionar completaria a minha real vocação.

Em 2014, residindo no estado de Mato Grosso tive a chance de atuar no Ensino Superior como docente e, no ano de 2016, cursar Pedagogia. Nesta trajetória rememorei os passos de minha avó no ensino primário com a certeza de que o magistério completava-me como pessoa e profissional. Atualmente estou na função de Coordenador de Pedagogia, cargo que me motiva estar sempre em busca de melhorar, aprimorar e adquirir novas experiências que certamente me conduziram até a realização do Mestrado em Ensino.

Esta pesquisa tomou forma não somente pelo encontro dos materiais que documentam o estudo, mas também pelo valor imensurável de sentimento e orgulho por saber que os instrumentos de trabalho da minha avó, uma profissional tão dedicada, será de certa forma homenageada e sua história contada e registrada.

Partindo desses princípios é que nos propomos a investigar os cadernos como fonte de pesquisa com ênfase no ensino de Matemática, a partir dos registros diários presente nos

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Planos de Aula, considerando os seguintes questionamentos: Como era o ensino de Matemática na década de 1980? Como os conteúdos eram tratados pela professora? Quais conteúdos estavam prescritos nos Programas oficiais de ensino na década de 1980? Como os professores se apropriavam dos conceitos matemáticos? As indagações oportunizam uma reflexão constante do ofício de ser professor em tempos diferentes dos nossos, mas certamente com problemas semelhantes aos dias atuais.

O desejo de pesquisar sobre os cadernos escolares tem início como aluno especial no Programa de Mestrado em Ensino da UNIC, na disciplina “Escola, Memórias e Narrativas”. Neste dia, mal sabia que minha futura orientadora estaria ministrando a aula e quisera ali o destino promover o início de uma grande parceria. No intervalo da aula, quando comentei sobre ter uns cadernos velhos, cheirando a mofo e jogados na biblioteca da casa da minha mãe, lembro-me de ouvir: “você tem fontes valiosíssimas em mãos, elas podem ser no futuro seu objeto de estudo”. Para mim, aquele momento foi à propulsão que faltava para seguir adiante.

Após a seleção do Mestrado, cumpri etapa dos créditos, me apropriei das leituras e durante este período me desloquei até o estado do Paraná em busca de informações e vestígios que nos dessem suporte para o estudo, assumindo verdadeiramente, o ofício de historiador.

O percurso trilhado para a realização desta pesquisa não se restringiu apenas aos aproximados 1.500 km que separam os estados. Fez-se necessário retornar ao passado e aderir às novas leituras que pudessem contribuir para a compreensão da historiografia, ouvir histórias e rememorar as lembranças das ex-professoras que de forma saudosa, trouxeram à tona bons momentos da profissão.

Parte do trabalho apoia-se na relação pessoal com a autora dos cadernos. Minha avó Donida, sequer podia imaginar que um dia, eu me tornaria professor e assumiria temporariamente o ofício de pesquisador, para contar sua história de vida, sucessos e dificuldades inerentes à profissão, como professora da escola primária na década de 1980.

Os momentos de convivência possibilitaram-me enxergar a profissão de professor, despertando a paixão pelo ensino. Tornei-me um professor e o reencontro com esses materiais me inspiraram a debruçar sobre os cadernos e escrever sobre a trajetória de minha avó como professora primária da escola pública no estado do Paraná.

Faltam-me palavras que expressem a relevância dessa pesquisa, além dos laços de afetividade, implica na influência da escolha de hoje, tornar-me professor. Minha avó

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contribuiu por anos com a educação, deixou marcas e um legado nas instituições que desempenhou suas funções.

Durante a coleta de informações, os relatos deixam claras evidências do amor à profissão, a capacidade intelectual e o desejo por resultados satisfatórios em relação à aprendizagem dos alunos. Os relatos apontam que foi uma profissional que se destacou e continua viva nas lembranças de ex-alunos, ex-colegas de trabalho e deixou rastros de gratidão e amizade pelos anos partilhando saberes e aprendendo com seus pares, com a missão de fazer a diferença na vida dos seus alunos.

O acesso ao acervo pessoal nos conduziu ao estudo, a partir das inquietações e possibilidades de conhecer e compreender o ensino de outras épocas, a cultura escolar em contextos diferentes dos dias atuais. Outro desafio foi separar o vínculo pessoal do ofício de historiador, por se tratar dos cadernos de planejamento de uma profissional pertencente ao núcleo familiar. Assumir o ofício de historiador implica na tarefa de reconstruir o que “não existe mais” e se configura num movimento permeado de dúvidas, incertezas, que pode ser reconstituído pela representação de um passado recente.

Aspectos metodológicos: construindo o objeto de pesquisa.

Tardif (2014), em sua obra “Saberes Docentes e Formação Profissional”, expõe a ideia que a formação parte do princípio de sua trajetória escolar e os conhecimentos por ele assimilados e adquiridos durante este tempo. No entanto, para que a construção de conhecimentos passe a ser significativa é preciso desconstruir saberes para que sejam (re)construídos outros, deixando a zona de conforto, a qual as profissões perpassam e tornando como prioridade e metas uma formação imbricada no altruísmo.

A escola é portadora de uma cultura própria e, ao longo dos anos, tornou-se porta-voz de uma tradição curricular que contempla diferentes disciplinas. Descobrir os cadernos de Planos de aula da escola primária e assumir o ofício de historiador evidenciou a riqueza cultural que trazem os arquivos escolares, pois são fontes moldadas por uma cultura que permeia as gerações e conta a história do ensino de outros tempos, permitindo uma releitura e possibilidades de inúmeras pesquisas.

Ao compreender a grandeza histórica e cultural que emerge a partir desses cadernos, despertou-me o interesse pela investigação dos elementos da cultura escolar com a intenção de conhecer como era o ensino primário na década de 1980, como os conteúdos eram tratados e ensinados pela professora a partir das fontes inventariadas dando voz aos

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materiais, ora esquecidos e muitas vezes descartados dos acervos pessoais e escolares, que podem fornecer elementos significativos para a reflexão sobre o passado da instituição, das pessoas que a frequentaram, das práticas que circularam e, principalmente, as relações estabelecidas entre os pares.

Ao explorarmos os cadernos de planejamento, fez-se necessário uma análise minuciosa concebendo-os como fontes preciosas partindo da premissa da “perspectiva do joalheiro”, ou seja, analisar a partir de diferentes pontos de vista um objeto multifacetado.

A pesquisa torna-se relevante pelo fato de retratar a história profissional da professora primária e explorar os conteúdos trabalhados na década de 1980 que certamente sofreram influências do período, dando voz aos documentos que têm o compromisso de desvelar todo conteúdo explícito e implícito nas páginas escritas a mão. Outro aspecto advém dos olhares a respeito dos conteúdos e registros presentes nos cadernos, não permitindo ao pesquisador nenhum tipo de julgamento, a não ser, explorá-lo didaticamente e compreender o que está posto. No entanto, partindo dessas premissas e para melhor compreensão do objeto de estudo, elegemos a seguinte questão: Quais saberes

profissionais estão presentes nos Planos de aula de Matemática na escola primária na década de 1980?

Com o intento de respondê-la, a pesquisa foi desenvolvida na perspectiva histórico-cultural e fundamenta-se nos aportes teórico-metodológicos de autores que discutem os conceitos inerentes ao objeto de pesquisa, dentre os quais destacamos: Disciplinas escolares, Chervel (1990); Cultura, Geertz (1989) e Cultura Escolar, Julia (2001); Representação, Chartier (1990;2009); Saberes Profissionais, Hofstetter; Valente (2017); História da Educação Matemática, Pinto (2008); Valente (2005;2007;2017); Cadernos Escolares, Mignot (2010); Viñao (2008) e Hébrard (2001).

A pesquisa associada ao GHEMAT Brasil - Grupo de Pesquisa de História da Educação Matemática, coordenado pelo Professor Dr. Wagner Rodrigues Valente, conta com pesquisadores nas diversas regiões do país e no cenário internacional que contribuem com várias temáticas do campo historiográfico da educação matemática.

Ao iniciar o trabalho consideramos pertinente realizar o estado da arte que abordam os cadernos escolares ou que mais se aproximam do nosso objeto de estudo, com a intenção de constatar a existência ou não, de trabalhos científicos específicos sobre o ensino de matemática no estado do Mato Grosso.

Além de consultar o repositório do GHEMAT Brasil que dispõe de um acervo de pesquisas e fontes históricas, bem como, publicações acerca da História Cultural, visitamos

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outras plataformas como a Scielo, Google Acadêmico, Biblioteca Digital da Universidade Federal de Mato Grosso/UFMT e da Universidade de Cuiabá/UNIC e Periódicos da Capes em busca de produções científicas acerca dos Cadernos Escolares ou Planejamentos, delimitando esta pesquisa no recorte de 2016 a 2020.

Identificamos 78 trabalhos por meio da palavra-chave “Cadernos Escolares” em todo Brasil que compreendem artigos, dissertações, teses e pós-doutoramento. Na UFMT existem diversos trabalhos relacionados à disciplina de Matemática e não foram identificados nenhum específico sobre cadernos escolares com ênfase no ensino da disciplina. Tudo indica que a pesquisa se destaca como um estudo inédito sobre o tema abordado no estado mato-grossense.

O trabalho utilizado como referência para leitura e construção dos trabalhos é a Tese de doutoramento de Almeida (2010) intitulada “Ensino de Matemática nas séries

iniciais no Estado de Mato Grosso (1920-1980): uma análise das Transformações da cultura escolar” defendida no Programa de Pós Graduação Stricto Sensu da Pontifícia

Universidade Católica do Paraná na perspectiva da História Cultural, com o objetivo de compreender como as práticas do ensino de Matemática contribuíram para as transformações da cultura escolar das séries inicias em Mato Grosso. O estudo oportuniza conhecer o universo da pesquisa e nos apropriarmos dos conceitos básicos considerados referência para mergulharmos na abordagem teórico-metodológica da História Cultural.

O Programa de Pós-Graduação da Universidade de Cuiabá tem colhido os frutos desse investimento. Atualmente constam quatro Dissertações defendidas na vertente histórica, que tem direcionado as pesquisas em desenvolvimento, com destaque para a formação de professores da escola primária de contextos históricos diferentes com ênfase na disciplina Matemática em território mato-grossense.

O trabalho defendido por Gama (2018), “O ensino de geometria e a formação de

professores primários: percursos historiográficos em Mato Grosso (1960-1980),” faz uma

análise da presença da geometria na formação das normalistas do Instituto Santa Marta, primeira Escola Normal do município de Barra do Garças/MT e a contribuição das irmãs salesianas para consolidação da escola primária.

O estudo de Oliveira (2019), “A Matemática para ingresso no Magistério primário

em Mato Grosso (1908-1910)” analisa os Regulamentos inerentes ao Provimento efetivo

para a Instrução Pública Primária e os saberes e pré-requisitos necessários para o ingresso na escola primária mato-grossense.

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Stascovian (2019) tem como objeto de estudo a “Revista Educação em Mato

Grosso: orientações pedagógicas sobre a disciplina de Matemática para o ensino primário nas escolas públicas mato-grossenses (1978-1986)” que circulou nas escolas

públicas estaduais de Mato Grosso, constituindo-se como um material de apoio à formação de professores com destaque para o ensino de Matemática.

A pesquisa defendida recentemente por Ferreira (2020) “As contribuições de

Theobaldo Miranda Santos para o ensino de Matemática e construção de saberes profissionais de professores primários em Mato Grosso (1950 - 1980)” destaca como os

saberes profissionais foram construídos durante o processo de formação de professores da escola primária, a partir das obras de Theobaldo Miranda dos Santos em território mato-grossense.

Os trabalhos em andamento destacam a formação de professores primários com destaque para disciplina de Matemática. Ventura (2020), com o estudo “Vestígios da

formação de professores primários e o ensino de Matemática em Nova Brasilândia (1970 – 2000)” investiga o percurso histórico da formação de professores primários no curso de

Magistério no município de Nova Brasilândia.

Rosa (2020) destaca a formação de professores indígenas e as estratégias que utilizam para ensinar os conceitos matemáticos nas aldeias indígenas, intitulado: “A

formação docente e o processo de ensino e aprendizagem de Matemática nas comunidades indígenas do Alto Xingu”.

Como fonte de pesquisa histórica, social e descobertas culturais, os cadernos escolares, elementos que constituem a cultura escolar, são fascinantes e ao mesmo tempo, enigmáticos, pois, pelo abandono como são tratados, passa a ser complexa sua interpretação aos olhos de quem utiliza como elemento de pesquisa (CHARTIER, 2007). Por mais fascinante que seja o fato de possuir fontes de pesquisas tão ricas, o uso banalizado poderia ser invalidado mediante as informações fora de contexto, de pesquisas sem fundamentação teórica, e salienta-se que poderia ser o inverso, tornando o trabalho uma grande armadilha ao pesquisador sem o uso correto.

Valente (2017) destaca que os cadernos escolares são um produto repleto de informações e pesquisas que estão inseridas nas investigações históricas na educação matemática, afirma ainda, que tais documentos são usados como propulsão na significação dos saberes ao longo dos tempos. Outro fato que soma este advento é o crescente número de pesquisas que vêm acontecendo em todo o mundo em referência aos cadernos escolares, sejam eles de alunos ou professores em seus planejamentos.

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Para a elaboração deste estudo, inicialmente buscou-se fontes documentais que auxiliassem na estruturação, estabelecendo interlocuções com os cadernos de planejamento. Além dos Cadernos de Planejamento, as fontes foram constituídas com o Manual do professor, documentos oficiais e escolares, fotografias, apostilas de cursos, certificados de cursos e conta também com os depoimentos de protagonistas, ex-professoras e ex-alunas que marcaram a história do ensino de Matemática na escola primária na década de 1980.

A busca teve início no estado do Paraná, na cidade de Guaraniaçu, na “Escola Municipal Professor Joaquim Modesto da Rosa”, onde os cadernos de planejamento foram elaborados e utilizados em sala de aula pela professora primária. Em posse dos documentos foi possível identificar e localizar as protagonistas da época. Não foi uma tarefa simples, mas aos poucos conseguimos realizar as entrevistas que contribuíram para a construção do enredo. Os documentos destacam os nomes das professoras que ainda residem no município e se dispuseram a participar da pesquisa: Paulina Jaskiu de Araújo, Terezinha Woicekoski França, Diva Maria da Luz Dias, Rovani Luiza Novelo, Dilair Caetano Ferreira, Maria Luiza Toaldo e Iara Maria Brescovit.

Durante as conversas, tivemos a conveniência de conhecer a secretária do estabelecimento, Nilce Michels Marinello que se identificou como ex-aluna da professora Donida e também nos concedeu entrevista. É importante ressaltar que as entrevistas estão de acordo com o uso de imagens devidamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas sob o parecer nº 3.771.385 a qual assevera o caminhar metodológico.

As entrevistas foram realizadas com professoras aposentadas que ministraram aulas na escola primária e relatam as experiências e revisitam as memórias atribuindo relevância ao processo de ensino e aprendizagem da época, considerando a forma de trabalhar os conteúdos, a metodologia, a forma de organização da escola, da sala de aula e ainda descrevem os elementos que compunham essa materialidade, característica marcante da época.

Os fragmentos de fala auxiliaram na reconstituição da história, rememorando fatos que aconteceram no período que lecionaram, com detalhes de informações sobre o processo de ensino da época, os processos didáticos e metodológicos acerca da profissão, e sobre a disciplina de Matemática.

As memórias e lembranças retratadas à época deixam transparecer a figura do professor, como uma pessoa de respeito e autoridade em sala de aula. Referem-se aos cadernos de planos de aula e do aluno e demais elementos que compõem a materialidade

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escolar, como instrumentos importantes que todos deveriam zelar, principalmente no ambiente escolar.

A pesquisa mostra-se relevante uma vez que os cadernos são uma forma de registro, cuja memória de pessoas comuns, nos ajuda compreender historicamente os modos de ensinar de outros tempos escolares. O que para muitos são considerados “entulhos ou lixos”, os cadernos possuem características muito importantes, visto que é possível extrair a essência do ensino de outras épocas bem como a aproximação das propostas do ensino em sala de aula juntamente a um enredo de documentos garimpados, reconhecendo que apenas questões ligadas a afetividade junto ao material escolar poderia ser a premissa para o arquivamento.

Para melhor compreensão do nosso objeto de estudo, o trabalho estrutura-se em três capítulos. No primeiro, apontam definições acerca da etimologia da palavra Cultura, com ênfase na cultura escolar e refletimos sobre a importância da sua materialidade como produto dessa cultura, considerada celeiro fértil para novas produções.

O segundo capítulo, destaca a trajetória de vida pessoal e profissional de Donida Ferreira Tomasini, professora primária e autora dos cadernos de Planos de aula com ênfase na disciplina de Matemática, com o intento de estabelecer relações entre os conteúdos trabalhados e o currículo no período de sua atuação profissional na década de 1980.

No terceiro capítulo, apresentamos as análises dos Cadernos de Planejamento, com ênfase na disciplina de Matemática e nos conteúdos trabalhados na escola primária paranaense na década de 1980. Neste estudo reconhecemos os cadernos como detentores de uma cultura específica que possivelmente retrata o ambiente pedagógico, o trabalho do professor, a presença do aluno condicionando os olhares não somente ao que está escrito, mas também, estabelecendo interlocuções entre os olhares de quem, como, e o porquê se vê.

Nas considerações finais, destacamos algumas reflexões isentas de julgamento, inerentes ao objeto de pesquisa, a materialidade escolar e principalmente sobre o ensino de Matemática de outros tempos, evidenciando que a prática pedagógica do professor e a sociedade estão em constantes transformações.

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1. CULTURA ESCOLAR – REVISITANDO CONCEITOS

Ao historiador cabe fazer flecha com qualquer graveto. (JULIA, 2001, p.17)

Este capítulo discute definições acerca da etimologia da palavra Cultura, permeando com ênfase a Cultura escolar e ainda, reflete sobre a importância da materialidade escolar como produto dessa cultura e celeiro fértil como fonte inesgotável de novas produções.

O presente estudo é fruto de uma investigação que tem como objeto de pesquisa os cadernos de planejamento da escola primária da década de 1980. Neste contexto, consideramos como “um produto da cultura escolar que representa uma forma determinada de organizar o trabalho em sala de aula, as formas de ensinar e aprender, de introduzir os alunos no mundo dos saberes acadêmicos, dos ritmos, regras e pautas escolares” (VIÑAO FRAGO, 2008, p. 22). O autor ainda destaca que a relação entre ensino e caderno escolar passou por uma transformação, de objetos escassos passaram a ser materiais corriqueiros na sala de aula desprovidos de questionamentos e reflexões (VIÑAO FRAGO, 2008).

Conceituamos caderno escolar, como “um conjunto de folhas encadernadas ou costuradas em forma de livro que formam uma unidade ou volume utilizados com fins escolares (VIÑAO FRAGO, 2008, p. 19). Os cadernos quase desapercebidos, recentemente sob a ótica da História Cultural, passaram a ser valorizados por diversos estudiosos, historiadores e pesquisadores que passaram a conceber este valioso objeto que retrata o vivido na sala de aula, como importante fonte de pesquisa a ser explorado. Não importa a época e período, sempre vai representar o cotidiano da sala de aula, a metodologia e conteúdos trabalhados, como um instrumento obrigatório dos registros diários do processo de ensino e aprendizagem.

Além da função destinada aos registros escolares, os cadernos prestam-se ao controle, organização e vigilância, pois são capazes de tornar transparente e visível a todos, o trabalho de alunos e professores. Assim, Santos (2002), embasado nos estudos de Foucault, descreve o caderno utilizando uma analogia com um instrumento panóptico, descrevendo-o como uma “máquina de observar”. O autor afirma que por meio dos cadernos escolares é possível compreender diversos fatores que estão explícitos ao aprendizado no documento escolar, permitindo ao professor ser vigilante no aprendizado de seu aluno tendo como base esse material escolar.

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Diante do exposto, esta dissertação propõe uma viagem ao passado, reconhecendo que os cadernos escolares constituem-se como fontes de pesquisas que podem ser esquadrinhados e, a partir dos seus registros, apontar vestígios de um passado ainda presente, retratando fielmente como eram trabalhados os conteúdos, adoção de metodologias, formas didáticas de organização, concepção de ensino e aprendizagem, avaliação, comportamentos, dentre outros aspectos, trazendo uma nova concepção de abordagem ao leitor quanto ao manuseio e armazenamento desse objeto tão presente na materialidade escolar das instituições de ensino.

Considerado elemento indispensável no processo de escolarização, os cadernos constituem fontes abundantes de pesquisa que merecem ser investigados, contribuindo para a historiografia do processo de ensino e aprendizagem como uma herança da cultura regional e, quiçá, brasileira.

1.1 - Concepções de Cultura

Para melhor compreensão do objeto e com o intento de delimitar o escopo deste estudo faz-se necessário conceituarmos o termo Cultura que apresenta multiplicidade de significados. Consideramos um conceito complexo e polissêmico, porém diversos estudiosos atribuem sua definição ligada aos costumes, as artes, leis, aos hábitos que possuem e adquirem ao longo dos anos, podendo ser assimilado de forma individual e coletiva.

Pela diversidade de significados, o conceito de Cultura, de forma geral defendido neste estudo, é proposto por Geertz na obra “Interpretação das Culturas” (1989) que assim o define como:

essencialmente semiótico. Acreditando como Max Weber, que o homem é um animal amarrado à teia de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não são como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do significado (GEERTZ, 1989, p.15).

Para Geertz (1989, p.103), a cultura é regida pelos padrões de significados, codificada em símbolos e transmitida historicamente, mediante os quais as pessoas se comunicam, transmitem e desenvolvem seus conhecimentos e atitudes sobre a vida, que passam de geração em geração podendo ser reproduzidas ou transformadas.

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Almeida (2010, p.37), nos seus estudos de doutoramento, apoia-se em Geertz (1989), quando define que o termo cultura refere-se ao significado que os sujeitos atribuem no modo de ver e conceber o objeto, depende do olhar de cada pesquisador, onde cada um vê o mesmo objeto, porém, na semiótica da interpretação, apresenta-se diferente do outro, com detalhes e características pessoais distintas.

O termo cultura defendido por Laraia (2001) é concebido como um processo inerente à ação humana que se desenvolve de forma natural a partir do pensamento, linguagem, conhecimento e arte, independente da origem ou linguagem, a diversidade cultural encontra-se em todos os estágios evolutivos de uma civilização, sendo que a cultura é estabelecida pelas práticas sociais e características de comportamentos próprios dos seres humanos em determinados locais.

Marconi e Presotto (2011) afirmam que a cultura abrange todas as crenças, valores, costumes e ideias de uma sociedade. Trata-se de uma condição essencial para a existência humana (GEERTZ, 1989). Neste sentido, a cultura relaciona-se diretamente às questões de direitos humanos, uma vez que a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) foi criada com o intuito de proteger universalmente o direito à cultura e suas multiplicidades.

Outro aspecto a ser levado em consideração quanto às definições das questões culturais derivam da ótica de Chervel (1990, p.43), consolidando a informação de que a escola não tem apenas por finalidade “instruir as crianças e os adolescentes, mas também lhes dar uma cultura sólida” podendo, portanto contextualizar o cotidiano escolar do aluno dando-lhes a concepção de uma cultura que lhe é própria.

O termo cultura do ponto de vista da antropologia é um recurso de análise da sociedade. Ao longo do tempo, os antropólogos buscam entender as diversidades culturais e as diferentes culturas entre os povos (FISCHER, 2011). Atualmente, há várias questões introduzidas na sociedade pós-moderna para discutir o conceito de cultura. Para interpretar uma cultura nos dias atuais, faz-se necessário considerar fatores que incluam materiais impressos, físicos, fotográficos, acervos escolares, pessoais, públicos e a mídia (internet, redes sociais), reforçando a ideia que há necessidade de interpretar e não emitir um juízo de valor, buscando-se a antropologia interpretativa.

Neste contexto, os objetos são fundamentais para a construção de identidade social em todas as épocas e sociedades, pois reproduzem fronteiras, gostos, classes, faixa etária e estilos de vida. A cultura se materializa nas escolhas e nas apropriações dos objetos que atuam como “pontes” ou “cercas” e o uso dos bens incluem e excluem indivíduos e, desta

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forma, acomodam as sociedades nas diversas camadas, níveis e grupos sociais (DOUGLAS, 2007).

Os conceitos abordados descrevem a cultura como algo imprescindível, construído durante anos pela sociedade que abrange os mais diversos segmentos sociais. No entanto, torna-se relevante destacar o tipo de cultura associado ao objeto de pesquisa que pertence a esse estudo, atribuindo-lhe o significado como uma fonte preciosa e inesgotável de pesquisa.

Para melhor compreensão destaca-se a importância de constituir os elementos da materialidade escolar que fizeram parte dos tempos de outrora e ainda estão presentes nos dias atuais. Neste cenário, torna-se necessário revisitar um passado recente com a tarefa de buscar vestígios da cultura escolar de outros tempos com o intento de reconstituir uma história que foi vivenciada, porém, não foi registrada.

Neste estudo, utiliza-se dos conceitos inerentes à História Cultural, a qual, para melhor compreensão, buscou-se a definição dada por Chartier (2003, p.16-17), que descreve estas, como pesquisas que tem como premissa, “identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler” levando em consideração de que a história é vivida em tempos diferentes dos atuais. Trabalhar na perspectiva histórico-cultural implica buscar essas fontes e falar sobre tudo que as envolvem, pois é por meio delas que se identificam as características de um povo e a forma de organização das sociedades de épocas diferentes.

A cultura gera significados que são associados ao contexto histórico, político, religioso e social aos quais estavam imbuídos. Os elementos da cultura material representam os valores e desejos de uma sociedade e, neste caso, os cadernos de planejamento configuram-se como um elemento pertencente a esta sociedade que emerge de uma cultura própria, a cultura escolar.

Cavalcanti (2008), nos seus estudos aborda o conceito de cultura material, tendo como base a definição destacada pela UNESCO (2008):

Cultura material, portanto, é a resultante de tudo que é concreto e palpável de uma sociedade que represente um patrimônio cultural, ou seja, elementos que ajudem a identificar e principalmente caracterizar a história de determinada região e seu povoado, e pode-se aludir a estes como, galerias de arte, museus, igrejas, bem como todo e qualquer patrimônio histórico construído (UNESCO, 2008).

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É notório que as sociedades passam por transformações estéticas, visuais com o passar dos anos, seja pelo condicionamento de sua arquitetura e/ou sua preservação. Contudo, historicamente há obras que são preservadas propositalmente, pois as mesmas retratam determinado local, fazendo parte da história deste, compondo o patrimônio cultural material deste espaço (CAVALCANTI, 2008).

1.2 - Cultura Escolar

O historiador francês De Certeau (1982), que discorre sobre a historicidade, propõe aos leitores uma reflexão acerca das relações que promovem inteligibilidade aos fatos que a prática das pesquisas necessariamente precisam estar atreladas à cientificidade, em relação à produção dos discursos historiográficos, e ainda defende que, podem ser considerados nas categorias históricas, na medida em que construam significados conferindo posteriormente ordem à documentação.

Nesta conjectura, a escola tem se tornando alvo frequente de pesquisas em vários países investigando os mais variados tipos de pesquisas. “Da História à Sociologia, da política educacional à prática pedagógica, cada uma dessas abordagens têm servido para colocá-la no centro das pesquisas educacionais” (SILVA, 2006, p. 202).

Viñao Frago (2000) ressalta que a cultura escolar não é somente uma consequência de espaços educacionais, e converge aos pensamentos de que a cultura está associada às origens da escola, pois dela emergem contextos que remetem ao cerne daquele determinado lugar, tendo como protagonistas destes estudos, toda a comunidade escolar, os modos de gestão e organização escolar, o sistema educativo, as práticas e discussões acerca das disciplinas (SILVA, 2006, p. 202).

A cultura escolar aponta evidências que a escola é também um local de “inculcação de comportamentos e de habitus”, não somente faz alusão a transmissão de conhecimentos acadêmicos, reconhecendo que os fatores sociais possuem ligação direta com o contexto abordado e trabalhado em sala de aula (JULIA, 2001, p. 14).

O conceito de cultura escolar, mais do que compreender as características próprias de uma instituição de ensino, possibilita a discussão entre as relações que tangem a escola, a sociedade e a cultura sob a perspectiva histórica. Por meio dessa, é possível estabelecer conexões e diálogos relacionados às práticas pedagógicas de determinada época e às metodologias de ensino-aprendizagem imbricadas às questões políticas e sociais do período estudado (VIDAL, 2009).

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Reconstituir a história por meio de pesquisas que remetam à cultura escolar é uma tarefa difícil e requer um olhar minucioso de pesquisadores que se debruçam nesta temática, tendo como grande empecilho a falta de fontes a serem inventariadas na construção desta.

Castanho (2018), afirma: “com exceção de fontes oficiais e do sistema educativo, outras fontes são difíceis de serem encontradas. Em geral, procura-se por fontes alternativas, como iconográficas, orais e de plantas arquitetônicas”. Dentre as fontes escritas, os cadernos de planejamentos, os diários de classe e outros tipos de fontes escolares não são fáceis de serem encontrados.

De acordo com o estudioso Viñao Frago (2007), Dominique Julia (2001) foi um dos primeiros a utilizar a expressão “cultura escolar”, referindo-a como um objeto histórico. O autor define cultura escolar como:

Um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas - finalidades religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização (JULIA, 2001, p. 10).

É importante salientar que os estudos referentes à cultura escolar na sua maioria foram remetidos a Julia (2001) na década de 90, no entanto, os debates que norteiam a temática são anteriores. O autor remete suas inspirações a André Chervel (1990), com base ao artigo “História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa”, publicado pela revista Histoire de l´éducation, em 1988, e o mesmo publicado no Brasil em 1990 (JULIA, 2001).

Nestes termos, o conceito de cultura escolar tem sido utilizado colocando em evidência a função da escola como transmissora de uma cultura específica no processo de socialização e integração nacional das crianças e dos jovens (VIDAL, 2005a). A autora também ressalta que cultura escolar se dá pelo conjunto de práticas escolares, somados ao tempo de permanência no âmbito escolar, as interações, as disciplinas escolares, bem como, todo e qualquer objeto que permeia os espaços de uma escola, e a seu ver, há que se considerar que a sociedade, família e igreja influenciam veemente neste processo cultural. (VIDAL, 2005a).

Julia (2001) compara a cultura escolar com a “caixa preta” de aeronaves no sentido metafórico, pelos seus manuais, disciplinas e exercícios escolares, pois em seu núcleo, norteiam-se as lacunas nas instituições educativas e apresentam indícios de como é o

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funcionamento da instituição das práticas corriqueiras, das metodologias, dentre outros fatores que auxiliam na significação do espaço educacional.

A utilização desta metáfora nos remete a reconhecer que seu material interior, não é simplesmente composto por fatos sem argumentos e sua composição não é remetida somente à existência deste objeto. Sua essência faz conhecer, compreender e materializar a cultura como efetivamente ela é, com a intencionalidade de realizar uma análise cultural séria com consciência de seus propósitos históricos (WILLIAMS, 1989, p. 17).

Viñao Frago (1996), no compêndio de seus estudos sobre “cadernos escolares” afirma que cultura escolar é toda a vida escolar, e ainda “[...] neste conjunto há alguns aspectos que são mais relevantes que outros, no sentido que são elementos organizadores que a formam e definem” (1996, p.69). Para o autor é preferível falar no plural ao que se refere às culturas escolares por suas multi-facetas, afirmando que não exista uma só cultura escolar (VIÑAO FRAGO, 1996, p.23).

Para Viñao Frago (2007), cultura escolar neste contexto de amplitude refere-se a um conjunto de informações, hipóteses, apropriações, conceitos, protocolos, normas, e é pertencente ao imutável, reconhecendo-a como algo permanente aos costumes de um determinado local ou ser, ao longo dos tempos e que por ele se baseiam as memórias e preceitos. Sintetiza como “algo que permanece e dura; algo que as sucessivas reformas só arranham de leve, que a elas sobrevive, e que constitui um sedimento formado ao longo do tempo” (VIÑAO FRAGO, 2007, p. 87).

Dentre as várias definições acerca desta temática pode ser definida como “[...] uma forma de cultura apenas acessível por mediação da escola, uma criação específica da escola”. Neste viés é relevante mencionar dois aspectos fundamentais desta visão: o primeiro trata-se do carácter que possui certa autonomia da escola e que não tem uma metodologia “engessada” limitando-se a reproduzir somente o que está fora dela; e de outro lado as disciplinas escolares que representam a própria cultura escolar. Ou seja, “a sociedade pede à escola que difunda uma cultura determinada, mas a escola ao levar a cabo esta tarefa, cria os seus próprios procedimentos de ensino e entrega um produto cultural” (VIÑAO FRAGO, 2007, p.85) e ainda destaca:

O autor retrata em seus escritos que a cultura deveria ser observada por meio do cotidiano, da rotina escolar e fatores ambientais que compõem o espaço, sejam eles o horário, a divisão em períodos letivos, as férias, como também o uso dos espaços escolares (VIÑAO FRAGO, 2007, p.85).

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Por sua vez, Julia (2001) institui que a concepção da cultura escolar, como objeto histórico, precisa ser analisada e construída com base na transmissão de conhecimento através dos saberes, reconhecendo a mesma em seu valor e espaço. E completa afirmando que não se deve fazer somente uma análise ideológica, cabe ao transmissor fomentar o conhecimento da cultura como elemento central reconhecendo sua grandeza.

Ademais, não há dúvidas que a cultura escolar seja formada, individualmente ou por um grupo de pessoas, por docentes ou não, por pais e alunos estes que estão relacionados direta e indiretamente na formação ou recepção de cultura dentro do espaço escolar que juntos possuam somente um objetivo, a formação de indivíduos estabelecendo que no decorrer da trajetória estudantil reconheçam elementos da história e a partir daí, instituam a construção da sua própria cultura.

A escola por si é o campo de expressão e de produção humana. Tendo em vista estes aspectos, Viñao Frago (1996) reconhece a cultura da escola sendo concebida através de contextos diferentes, da representatividade e interesse do estado; e de outro lado, a construção que é produzida no dia-a-dia. Além disso, como elemento essencial na educação, a cultura precisa ser propagada por meio do trabalho dos professores para que seja perpetuada, e de certo modo, com o passar do tempo, suas características renovadas.

A cultura escolar, impregnada de valores e costumes, direciona o trabalho a ser desenvolvido no âmbito escolar pelos sujeitos que nela estão envolvidos, abrangendo seu modo de vida, a forma de falar, agir, que aos poucos vão adquirindo hábitos congruentes às práticas escolares, conforme destaca a Figura 1.

Figura 1- Concepções de Cultura Escolar.

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Viñao Frago (2007, p. 87) ressalta que a cultura escolar é algo que transcende a temporalidade. Afirma que permanece e dura mesmo com mudanças sedimentadas ao longo do tempo, que sofra modificações, não perde sua essência, porque fundamenta-se nas memórias e preceitos, sobrevivendo às modificações impostas pelo tempo.

Vidal (2005a) também reconhece a materialidade escolar como um item fundamental nos desdobramentos históricos como forma de reconhecer a sala de aula e todos os itens que compõem a escola, (desde o prédio, carteiras, uniformes escolares, o caderno, lápis entre outros elementos que contextualizam estas) como uma inesgotável fonte de pesquisa, além de compreender os significados que os mesmos possuem.

A autora ainda ressalta que para invadir a “caixa preta” da escola, como afirma Julia (2001), os elementos investigativos inerentes à sala de aula precisam ser contextualizados e conservados pelos processos educativos com intento de valorizar o percurso da educação do passado.

1.3 - A materialidade escolar como fonte de pesquisa

A escola ao longo dos anos tornou-se porta-voz de uma tradição curricular que contempla as diferentes disciplinas. Ao analisarmos os cadernos de Planejamento, entende-se que o primeiro passo neste processo investigativo foi de assumir o ofício de historiador, reconhecendo que os arquivos escolares são fontes que merecem ser exploradas e investigadas, nos remetendo às práticas escolares de outros tempos, permitindo uma releitura e possibilidades de inúmeras pesquisas.

Na diversidade de significados que são representados pela escola, destaca-se a materialidade escolar como um elemento essencial, responsável por apontar indícios do ensino, currículo, e mudanças ocorridas no chão da escola considerando as transformações ao longo dos tempos. Os elementos que constituem a materialidade escolar são vastos. Vidal (2005a, p.5) contempla como parte desta materialidade, os espaços escolares, as disciplinas, o cotidiano educacional, as tarefas diárias de professores, alunos, arquitetura da escola, espaços de convívio, e todos esses elementos contribuem para reconstruir uma história institucional.

Forquin (1993, p.167) assevera que “a escola é também um “mundo social”, que tem suas características próprias, seus ritos, sua linguagem, seu imaginário, seus modos próprios de regulação, seu regime próprio de produção e de gestão de símbolos”. Sondando

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esta afirmativa, percebe-se notoriamente que ela é detentora de sua própria cultura somada a todos os itens que a compõe desde o espaço geográfico, a arquitetura, os materiais escolares utilizados pelos alunos, a lousa, o uniforme entre outros.

É preciso dar mais notoriedade aos elementos que constituem a materialidade escolar. A imagem explicita detalhes que nos dias atuais ainda são comuns nos ambientes educacionais: as carteiras em filas, os uniformes escolares, postura dos alunos e os cartazes expostos. A Figura 2 apresenta a sala de aula do Colégio Estadual Rocha Pombo, no município de Guaraniaçu na década de 1980. Ambiente que reproduz o espaço físico em que a professora primária lecionou no início da carreira profissional.

Figura 2 - 4ª Série – Colégio Estadual Rocha Pombo, 1980.

Fonte: Acervo pessoal da professora Paulina Jaskiu de Araujo.

É importante salientar que a fotografia é real e retrata características presentes no ambiente fotografado, dando ênfase a detalhes que compõem essa materialidade e que fazem parte da cultura escolar de outros tempos. Vale destacar que essa materialidade escolar perdura por anos, dando o real significado e sentido na composição dos aparatos didáticos e pedagógicos, gerando a compreensão de que não é apenas um suporte ao aprendizado, mas, a representação e valores de uma cultura inerentes aos ensinamentos daquele estabelecimento.

Essa materialidade constitui-se por elementos presentes na sala de aula e no ambiente escolar como por exemplo, é possível observar a disposição das carteiras e dos

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alunos em sala, evidenciando a postura pedagógica e práticas de cada época (VIDAL, 2009).

Roche (2000), na obra “História das Coisas Banais”, ressalta que:

O historiador não pode tratar os objetos unicamente como signos e a arte como linguagem. Ele deve restituir-lhes, entre a arte e o uso, um lugar conforme a um papel complexo, indo da instrumentalidade dominante à valorização estética, do banal ao prestigioso, até a capacidade de liberar uma mensagem, uma informação representada para servir de modelo e de referência para uma época (ROCHE, 2000, p.229).

Para o autor, a mesa representa uma função socializadora. Com sua invenção, considerada moderna, ela passou a conotar sentido de civilidade, uma vez que enfatiza o sentido de organização e postura. Já a cadeira, remete ao sentido de descanso (não repouso), uma vez que coloca o indivíduo em uma posição intermediária, entre ficar em pé e estar deitado em uma cama, contudo, possui o mesmo significado da carteira em relação ao cunho social. Na escola, passaram juntas a remeter aspectos relacionados ao conforto e aprendizagem, além da higiene do corpo, postura e comportamento, sendo considerados elementos para disciplinar, perpetuando a ideia de serem primordiais para um ensino de qualidade, além de serem considerados objetos potencializadores da escrita (CASTRO, 2009, p.27).

Almeida (2010), na sua tese de doutoramento destaca outro aspecto da materialidade escolar: a padronização dos uniformes escolares que, segundo Nascimento (1994), descreve as práticas dos estabelecimentos de ensino escolares ao padronizar cores e modelos desta indumentária. Nascimento (1994) afirma que em 1890 passam a ser utilizados pelos estudantes da Escola Normal, porém somente a partir da década de 20 que as escolas tradicionais adotam o uso do uniforme. Embora atualmente seja uma prática comum, traz consigo uma herança de significados e valores: disciplina, responsabilidade e postura social (ALMEIDA, 2010, p.73).

O uso dos uniformes escolares também estava presente na solenidade de inauguração da Escola Normal Maria Montessori em Guaraniaçu – Paraná no ano de 1979. A foto retrata os alunos da primeira turma onde a Professora Donida Ferreira Tomasini (destacada na foto), autora dos cadernos de planejamento, foi aluna, fontes essas que utilizamos para reconstituir historicamente o ensino da época, como destaca a Figura 3.

Referências

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