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Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo aup A Formação do Espaço Nacional. Paula Custódio de Oliveira

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Academic year: 2021

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O Plano Col or

e sua possível influência no impeachment de 1992

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Redemocratização e euforia

Em janeiro de 1985, Tancredo Neves é eleito presidente da República, acabando com a ditadura militar no país. Tragicamente, Tancredo morre antes de tomar posse e cabe a José Sarney, seu vice, assumir o cargo sobre forte suspeita se seu futuro governo seria mesmo a reabertura política do país, já que Sarney fazia parte de uma dissidência da Aliança Renovadora Nacional, o partido dos militares. Entretanto, o governo Sarney de fato redemocratiza o país: em 1986, acontecem eleições para formar a Assembléia Nacional Constituinte, que promulgou uma nova constituição em 1988. A Constituição determinava a realização de eleições diretas para presidente, governador, senadores e deputados no ano seguinte. Durante o governo Sarney, partidos até então clandestinos como o PSB e o PCdoB foram legalizados.

Desde modo, as eleições de 1989, foram as primeiras diretas desde 1960, com grande participação e entusiasmo da população. Existia no ar uma intenção de renovação, de mudanças que deveria ser atendia pelo presidente eleito. A eleição foi a segundo turno, disputado pela direita com Fernando Collor de Mello e pela esquerda com Luís Inácio Lula da Silva.

De Prefeito à Presidente

Fernando Collor de Mello iniciou sua carreira política na ARENA e se tornou prefeito de Maceió em 1979, renunciando ao cargo em 1982, para tomar posse como deputado federal pelo PDS.

Filiado ao PMDB, foi eleito em 1986, governador de Alagoas. Foi durante essa gestão que Collor ficou conhecido como "Caçador de Marajás", já que estabeleceu um estratégico combate a alguns funcionários públicos que recebiam salários altos e desproporcionais. Visando as próximas eleições presidenciais, a fama do governador foi espalhada por todo o país, especialmente quando anunciou a cobrança de 140 milhões de dólares dos usineiros do estado para com o Banco do Estado de Alagoas, o que repercutiu de forma positiva diante da opinião pública. Já fora do PMDB, afiliou-se ao PRN e por ele concorreu, em 1989, à Presidência da República.

Collor teve um apoio fenonemal das camadas altas da sociedade, sendo o melhor exemplo, aqui citado, a figura do empresário já falecido Roberto Marinho. Marinho, queria evitar a qualquer custo a vitória da esquerda e, desse modo, acabou por apoiar o candidato de direita Fernando Collor. Esse apoio teve grande influência para sua ascensão à presidência, já que a Rede Globo, a qual Marinho era dono,

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formadora de opinião, era claramente a favor do candidato do PRN, desfavorecendo, durante o segundo turno, o quanto possível - e às vezes até mais do que isso - o canditado do PT, Luís Inácio Lula da Silva. A esquerda com forte discurso socialista, apoiada por movimentos sociais organizados, pelo MST e pelos sindicatos se via cada dia mais enfraquecida, com escândalos de cunho pessoal envolvendo o candidato Lula e mais fortemente com a queda do Muro de Berlim em novembro de 1989, fato decisivo para a sociedade brasileira tomar a decisão de que não era esse o governo que queria para si. Assim, em dezembro de 1989, Fernando Collor é eleito o 32o presidente do Brasil, com uma vitória apertada sobre seu adversário (53,03% sobre 43,97%, fonte: TSE).

Plano Collor, o confisco e o processo de impeachment

O Brasil, a partir de 1990, se encontrava em vias de uma hiperinflação derivada da dívida externa acumulada durante os anos 70, do choque externo de 1979 envolvendo preço do petróleo e a taxa de juros e da suspensão dos investimentos externos a partir de 1982. As diversas tentativas de controle da inflação no governo Sarney (1985 - 1990) se apresentaram ineficientes, sendo o Plano Verão, de janeiro de 1989, a sua última tentativa fracassada. O governo atual, tendo já esgotado sua capacidade de elaboração de planos anti-inflação, fez com que as atenções se voltassem para o governo seguinte, a ser eleito em dezembro de 1989 e as políticas a serem adotadas por este.

O debate sobre o que deveria ser feito para o controle da inflação cada dia mais alta era desenvolvido de forma geral, não sendo exclusivo de nenhum partido ou filiação. No período de eleições, esse debate foi amplo e visava propostas efetivas a serem implantadas pelo presidente eleito, sendo ele quem fosse. Caracterizava-se como

um debate acadêmico.

O novo governo, com Fernando Collor de Mello eleito, estava encarregado de desenvolver um plano de estabilização da economia brasileira, tendo como meta principal o controle efetivo da inflação. Nasce assim, após muito debate entre os assessores do presidente-eleito (entre eles, a futura Ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello), o Plano Brasil Novo.

Adotado em seu primeiro dia de mandato (16 de março de 1990), o Plano Brasil Novo, ou como ficou conhecido, Plano Collor, incluía medidas de médio prazo como liberação do comércio exterior e privatização das empresas nacionais, além de quatro medidas de curto prazo:

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1. Reforma monetária, incluindo o bloqueio dos ativos financeiros do setor privado;

2. Ajuste fiscal;

3. Política de rendas baseada em um novo congelamento de preços; 4. Introdução de uma taxa de câmbio flutuante.

Dentre todas as medidas adotadas, o bloqueio de liquidez - ou mais popularmente conhecido como confisco - foi a medida que mais repercutiu. Muitas vezes o plano inteiro é associado somente ao bloqueio dos ativos financeiros, tamanho impacto que causou na sociedade.

Durante a campanha, Collor chegou a repudiar o uso do bloqueio e a acusar seu adversário, Lula, de planejar o uso desse artifício, se eleito. Provavelmente, isso lhe rendeu mais votos, porém não é tão simples afirmar que foi uma manobra de campanha, de modo que á aquela altura é plausível que Collor não pretendesse mesmo utilizar-se do bloqueio em seu futuro plano estabilizador. Somente através do constante debate em sua equipe e da falta de outras políticas viáveis de estabilização da economia, que se considerou a adoção do bloqueio ao Plano, em meados de dezembro.

Ou seja, Collor pode ser considerado hipócrita por fazer uso, no governo, daquilo que, em campanha, repudiava, mas se deve ter cuidado ao considerá-lo manipulador da opinião pública, levando em consideração que as decisões relativas ao bloqueio de liquidez foram tomadas nas vésperas das eleições e durante os primeiros meses antes da posse.

A decisão pela adoção do bloqueio baseou-se na experiência, que mostra que medidas graduais de estabilização em casos de inflação crônica que atinge níveis elevados são ineficazes e somente tratamentos de choques, como o bloqueio da liquidez, conseguiriam o efeito desejado. Acreditava-se que o bloqueio acabaria com a inflação, já que impediria o uso do dinheiro aplicado, diminuindo a procura, na tentativa de igualá-la com a oferta da produção do país (cenário ideal). Neste cenário ideal, a inflação se estabilizaria. Obviamente, após a devolução dos recursos confiscados, (feita após dezoito meses em doze parcelas, com 6% de juros ao ano) ocorreria uma série de problemas, entre eles, a monetarização acelerada e um possível crescimento exagerado da demanda agregada que deveriam ser controlados, em teoria, por taxação de juros e/ou controle de expansão do crédito. O uso da moeda indexada também se faria viável à medida que controlaria o poder de compra da população. Após 90 dias da implantação do Plano Brasil Novo, não aconteceu o que as cabeças por trás do plano esperavam: a inflação havia voltado e com ela trouxe um período de recessão.

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O bloqueio de liquidez produzido pelo Plano Collor impossibilitou a todos a utilização de seus recursos financeiros, causando grande mal-estar na sociedade em geral. Não houve em momento algum um sentimento único da sociedade, demonstrando apoio ao confisco como modo de estabilizar a economia e controlar a hiperinflação absurda em que o Brasil estava prestes a entrar. Houve sim, um repúdio imediato à medida, devido principalmente ao modo como foi implantada, sendo considerada uma decisão tomada por uma minoria e implantada sem muitas explicações. As opiniões relativas à aplicação do bloqueio naquele momento e do jeito que o fizeram são divergentes: a quem considere que não existia alternativa e a quem considere que o bloqueio não deveria ter sido implantado naquele momento. Além do confisco em si, o Plano Collor, segundo Csaba Deák:

"(...) leva à transformação de algumas das características seculares mais fundamentais da economia brasileira (...). Entre as medidas concretas estão o fim do financiamento automático do déficit público pela via da emissão de moeda, a unificação do planejamento, execução orçamentária e política monetária, a montagem de um sistema financeiro capaz de crédito de longa maturação, e drástica redução da imunidade fiscal -tantas condições elementares de uma estrutura de produção regulada sob a primazia do mercado. Nesse mesmo sentido, a reforma inclui ainda a extinção (ou o anúncio de intenção para tanto) das muletas para indústrias selecionadas (subsídios, cartéis, monopólios, nichos de proteção), assim como a montagem de sistema de financiamento do comércio exterior (até hoje dependente de crédito de curto prazo levantado na praça de Nova York), e mais geralmente, favorecimento do desenvolvimento do Departamento I (de produção dos meios de produção), estímulo ao progresso técnico e correspondente elevação dos salários e primazia do mercado interno. No todo, tal reforma, sempre se implantada, eqüivale à remoção dos entraves auto-impostos à acumulação na economia brasileira. Por essa razão, de vez que uma tal transformação implica na transformação da própria sociedade -que deve perder seu caráter de elite-, a 'reforma' eqüivale também a uma revolução. Uma revolução 'por cima', oriunda que é da cúpula do poder executivo, e deixando a questão maior escancarada: qual a sustentação -se houver- para a efetiva implantação de tal 'reforma'?"

Assim, entende-se que a "revolução" decorrente do Plano Collor implicaria na transformação do modo de produção da sociedade de elite brasileira e não era nem um pouco interessante a essa elite apoiar e deixar que tais transformações fossem implantadas, ameaçando a manutenção favorável do status quo. Conclui-se, desse modo, que, o afastamento e subseqüente impeachment de Collor só foram possíveis com o apoio dessa elite, já que o governo não atendia aos seus interesses econômicos e sociais. Dificilmente, se o plano fosse "pró-elite", um presidente seria derrubado somente com o manifesto popular. Os esquemas de corrupção, oficialmente o motivo da derrubada, tornaram-se artifícios de mobilização de massa para formação de opinião

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pública contra o governo. Afinal, corrupto por corrupto, não deveria então - só para citar um exemplo - o presidente atual, Luís Inácio Lula da Silva, ter sofrido o mesmo processo, decorrente do escândalo no mensalão?

Bibliografia

DEÁK, Csaba. A Acumulação entravada no Brasil/ E a crise dos Anos 80,

Espaço & Debates 32, pp. 32-46,1991.

CARVALHO, Carlos Eduardo. As origens e a gênese do Plano Collor, Revista Nova Economia, no 16 (1), Belo Horizonte, pp.101- 134, 2006

BRÉSSER- PEREIRA, Luís Carlos e NAKANO, Yoshiaki. Hiperinflação e estabilização

no Brasil: o primeiro Plano Collor, Revista da Economia Política, vol.11, n° 4,

pp.89-114,1991

POSSAS, Luisa de Medeiros. O governo Collor, monografia referente à disciplina aup27O, 2008.

LIMA, Luiz Antônio de Oliveira. "Livre mercado" como pseudo-solução da crise

Referências

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