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Semanario ilustrado, editado pel
lira
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Suplemento bimensal ilustrado da Revista missionaria "ESTRELA DAS MISSÕES".
Com licença e aprovaç. eclesiástica
Mis-Com o 1943 14 de Novembro Licença do DIP para circular em 1943 — Proc. DI/C-42 de 5-1-43. Registrado por despacho da Inspetoria de 4-2-43. — Processo 1318. Oficinas sob o n. 18.619.—Fil.*à Assoc. dosJ. Católi-cos. — Assinatura
annal Cr. f 15,00.
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XXII Domingo depois de Pentecostes
Da a D» o tea air
JUSTIÇA manda
que se dê a cada um o que lhe pertence. E* natural
que demos a Deus "o que é de Deus".
Porque recusaríamos a Nosso Senhor o que lhe é devido ?
Que é devido antes de tudo a Deus e que devemos dar-lhe principalmente? Nosso
coração, nosso amor. Temos tantos motivos
de amar a Deus! Ele nos fez inúmeros
be-neficios, de toda a especie.
Caro cristão, percorre tua vida.
Qual é o primeiro beneficio que Deus te fez? "A vida". Pois si vives, deves a Deus. Ele te
chamou à existencia. Criou tua
imor-tal e dotou-a de diversas forças. E si não
existisses ? Não podes imaginá-lo
absoluta-mente. Mas seria possível que Deus
deixas-se de criar tua alma e em lugar dela,
tives-se criado centenas de outras, que agora
permanecem eternamente no nada.
A ti, porém, tirou do nada. Acaso o
me-receste ? Pode alguém merecer alguma
cou-sa antes de existir ? JPensa que si não vi-vesses, jamais poderias ver, ouvir,
pensar, sentir,, falar! Pois não foi só a vida que
Deus te deu, mas também todos os dons que
possues.
Tens os teus sentidos sadios. Podes vêr.
Conheces talvez um cégo? Entra numa
es-cola de cégos e contempla as pobres crianças
privadas da luz dos olhos, que jamais vêem o sol, nem a natureza, nem o rosto amavel
de uma mãe, ou de um pai; nada, sinão à
noite e sempre a noite e as trevas.
Sentes então o que vale teres teus olhos
sãos? Sentes a obrigação que tens, de dar
graças a Deus ?
A vida é também um beneficio para os
cegos e" si pudessem escolher o que
prefe-rissem: não existir absolutamente ou ser
cegos, não hesitariam muito tempo;
ha-riam de querer viver, embora cegos.
Eles sabem que a cegueira cessa um dia.
Eles podem merecer o céu e nò seu tumulo
se há de rezar um dia: "Que a luz eterna
os ilumine!"
Mas mesmo abstraindo destas razões
so-brenaturais, a vida lhes oferece tantas cou-sas alegres!
Não vêem. Mas ha outras portas afrida
pelas quais o mundo exterior penetra na alma e esta pode entrar em comunicação
com os seus semelhantes.
Que beneficio lhe é o ouvido! Que ma-ravilhosa organização,
pela qual, pelo falar, eu ponho em vibração o ar, estas vibrações
conduzem os sons e estes despertam em
tua alma os mesmos pensamentos
que eu primeiro tinha pensado! E
para ensinar aos cegos, é exatamente o ouvido o meio
preferível. Por isso também o cego tem mo-tivo de agradecer a Deus.
Mas tu o tens tanto mais, quanto vês e ouves. E agora pensa em outras
circuns-tancias.
Tens membros sãos, podes andar, usar
das mãos, cuidar de ti mesmo. E mesmo
quando o homem não pode andar, nem se mexer, a vida é ainda um beneficio,
por-que é sempre uma escola preparatória pa-ra o céu.
Evangelho
S. Mat. XXII, 15 — 21
NAQUELE tempo os Fariseus,
consulta-ram entre si como o surpreenderiam no que
falasse. E enviam-lhe seus discípulos junta- '
mente com os Herodianos, os quais
disse-ram: Mestre, nós sabemos qhe és
verdadei-ro, e que ensinas o caminho de Deus
segun-do a verdade, sem atender a ninguém,
por-que não fazes acepção de pessoas: Dize-nos
pois o teu parecer. E' licito dar o tributo a
César ou não?
Porém Jesus conhecendo a sua malícia,
disse: Porque me tentais, hipócritas?
Mos-trai-me a moeda do tributo. E eles lhe
apre-sentaram um dinheiro. E Jesus disse-lhes:
De quem é esta imagem e inscrição? Eles
responderam: De César. Então disse-lhes:
Dai pois a César o que é de César: e a Deus o que é de Deus".
E quando a criatura fica presa ao leito
de enfermidade, durante toda a vida,
co-mo Santa Lidwina, pode a
passos de gi-«ante preparar-se para o céu. E si é um
fiel filho do bom Deus, jamais lhe faltará
a proteção
particular de Nosso Senhor, lois Deus
jamais abandona um filho fiel. E si alguém realmente tivesse de
ser aban-donado, devia bater apenas no peito e
exa-minar o seu proprio coração.
Havia de en-contrar a razão
disso.
Si, porém, até um pobre hidrópico tem a obrigação de agradecer ao bom Deus,
quan-to mais tu, com teu corpo vigoroso e teus
membros sadios ?
Si vissemos com olhos
de justiça aqui-lo que Deus fez por nós, acharíamos
bastan-te motivo para um
grato amor para com Deus, já em nossos dons corporais.
Agora,
porém, pensa nos Mdons da ai-ma" ! Pensa na inteligência! Podes
pen-sar, refletir, resolver. Podes ler e pela
lei-tura de bons livros, apropriar-te dos pen-samentos de outros homens.
Podes refletir sobre os
pensamentos dos homens
que viveram ha milhares de anos e fazer deles tua propriedade.
Podes com teus pensamentos, num mo-mento, abarcar o mundo inteiro; podes
su-bir ao céu e descer ao inferno. Podes
tor-nar presentes espiritualmente
os entes queridos que ha muito tempo já faleceram, como si lhes visses o rosto, como si lhes
ouvisses a voz, como si lhes sentisses a mão.
Quantas cousas podes com tua inteligen-cia! Não é motivo para um grato amor
para com Aquele que t'o deu? Não teria Ele podido recusar-te também todos esses
dons ? Lembra-te daqueles que são
doen-tes mentais! Não pensam, não lêem, não
podem conversar judiciosamente com os ou-tros! Durante toda a vida são Iguais &s
crianças de» colo!
Não é verdade que são pobres criaturas
humanas ? E si fosses também do numero
deles ? Si em tçu espirito se fizesse noite e
se interrompesse o
pensamento regular? Agradece-o,
pois, a Deus e ama-O, em re-conhecimento por estes dons! E usa
de tua inteligência sempre segundo ã vontade de
Deus apenas! Assim
poderíamos recordar detalhadamente muita cousa
ainda: a von-a
LAR CATÓLICO
542 14 de Novembro de 1943
tade com seus atos, as sensações, os
sen-timentos, a memória. Mas basta.
Si tf* bons sentimentos, has de achar
sempre novas razões para um grato amor.
Quando falta, porém, a
retidão de
espi-rito, falta o amor divino.
Recorda-te, além disso, de todos os
«dons sobrenaturais".
A verdade de Deus te é anunciada, o ca-minha da salvação te é mostrado, a graça
de Deus te é proporcionada, a filiação
di-vina é concedida a tua alma. "De
quem é a Imagem e a
inscrição?"
Pode-se perguntar a respeito de tua
alma.
E a resposta? — E' a imagem de Deus e
a inscrição é a seguinte: FOho e imagem
de Deus. A Providencia paternalmente
sa-bia e amorosa de Deus vela por ti e
guar-da-te.
Caro cristão, Deus não merece teu "amor"
? Sim, dá a Deus o que é de Deus.
Dá-lhe o teu amor, agora e por toda a
eternidade.
Casamento e enterro!...
Um piedoso, velho, experimentado
viga-rio traria sua administração economica
muito bem escriturada, separando
emolu-mentos de missa, de batizados, de
esmo-Ias, de funções sacras; tudo separadinho e
em ordem.
Todavia, o encanecido pároco, após
inu-meras e longas experiencias na espinhosa
cura das almas, costumava colocar na
mes-ma os emolumentos de casamentoC
e enterros.
Aos que estranhavam essa atitude,
o
«-loso cura respondia, com vincos de
triste-za e pessimismo:
mm- «Hoje f dia, infelizmente, casamento
e enterro são, ás veies, a mesma coisa!
CoiisMcirsdaw as leviandade® da mulher
mo-e a devaaridáo do homem
moderai-gado, aflgura-se-me que casar, eqüivale a
enterrar-se vivo! Por Isso, Julgo
• enterro a mesma coisa! Vai tudo na caixa!
De fato.
Casamento foi sempre um problema gra-- -
Hoje, porém, mais do que
'nunca,
à inrfnceridade dos interessados.
n-r*- modernizada, de um
fyU« de ditei timentos, de
ves-le modas, sendo quari Incapaz de se • •
iwr «das prendas domésticas, pela
arte culinária, pela sá literatura. Numa daria de frases, diz uma centena de
ter-mss de gíria. Agravou-se, ultimamente, o
dcUeado problema do casamento.
Dai
acontece que, sobejas veies,
casar eqüivale
a enterrar-se vivo, mormente
em face uo
modernizado!...
Frei Benvindo Destéfanl, OJJW.
0 homem colhe, o que semeiou
Era em 1895 que Jaurès, o famoso
®o-cialista desaparecido no
limiar da
guer-ra de 1914, lançava, na Camara dos
Depu-tados de Paris, este repto: 0 que é o
bem mais estimavel conseguido pelo
ho-mem através de todos os preconceitos,
todos os sofrimentos e todos os
comba-tes, è a idéia, a certeza de que nao ha
uma verdade sagrada; de que toda a
verdade que não vem de nós proprios e
por nós proprios, é uma mentira.
Se Deus
em pessoa aparecesse
às multidões sob
uma forma pàlpavel, o primeiro
dever do
homem moderno era recusar-lhe
obe-diencia, e tratá-lo como um
igual com
quem- se discflte e não
como um Senhor
a quem se serve".
Tal foi a lição que o século XIX nos
deixou. O homem fez-se o seu proprio
Deus e, logicamente, adorou-se a si
pro-prio. Que frutos diversos
dos que ainda
hoje vemos no mundo haveria a esperar
de tal sementeira de idéias ? Que admira
a extensão e a profundidade do trabalho
de laicização operado ? A messe, é bem
certo, não amadura num dia. Leva
tem-po. Levou anos, décadas, a
amadurecer.
Mas tinha de chegar, e tomar vulto nas
doutrinas mais subversivas.
Esperar o contrário era querer o
cir-culo quadrado.
O homem moderno tornou-se o homem
descristianizado, campo aberto
a todas aa
aberrações. Então o
fruto amadureceu.
Somos nós, os homens de
hoje, que o
co-memos tal como ele é*
Os nossos maiores, desde ha um
secu-lo, semearam ventos e imaginaram
le-gar-nos tempos mais
bonançosots. Nós
apenas colhemos os frutos logicos dessa
sementeira.
Jaurès e os da «ua igualha intelectual
e doutrinária são grandes malfeitores da
humanidade.
Senhor do Bom-fim
Para o Azeredo Neto
Desces nos braços de Teu povo unido
Pelos milagres do divino Amor,
Provando em cada coração ferido
A fé crista com verdadeiro ardor.
Implora a pai õ Teu Brasil querido,
Temendo as garras de feroí traidor
E deplorando tanto bem perdido,
Tanto desprezo pela própria dor...
Desces nos braços que se vão cruzando
E sem fadigas, outra vez, querendo
Levar-Te assim por devoção sincera.
Longe, acompanho teu cortejo, orando
Pelos que lutam no setor horrendo Em prol da Pátria que a vitória
espera.
Belo Horizonte, 29 de Setembro de 1943.
José E/esbâo de Castro
Calendário da Semana
De 14 a 2* de Novembro
14—Domingo; ria. Venerando, ata.
Gertrudes,
a. Joaafat.
1*—Segunda; a. Alberto Magno, a. Leopoldo
da Anatria.
II Terça; a. Edmnndo, atoa. Elpldlo, Mar-ceio, Enataqnlo e companheiro!.
17 Quarta; a. Eugênio, a. Gregorio, o
tau-matmrgo, atoa. Alféo o Zachéo, atoa.
Ariaclo o Vitória, a. Hugo.
18—Quinta; a. Romano, a. Dtonlalo.
1»—Sexto; êuT Iaabel da Turingla, a
Ponela-20 Sabado; a. Pellx da Volola, a. Naraea, atos. Am pelo e Caio, atoa. Otávio»
Sa-Intar o Adrentor. M ? # M ? ? M • ? M ? ? II ? ? H • ? M ? ? M ? ? M ? ? M ? ? M ? ? II ? ? M ? ? M ? ? II ? ? II ? • II ÊL Pregando..¦
Á terra e minha alma
?
Na «Divina Comédia",
"Dante", em
ca ao céu, Imagina-se ás portas do Paraiso,e
dirige um
der-radeiro olhar á terra:
— "Voltei meu rosto, dii ele, e olhei através das sete
esferas - vi a terra. Era tio pequenina, que
ao ve-la,. sorri.
Que ?! Aquilo que lá está, aquele lugar pequenino é o que noa absorve completamente e tão freqüentemente
?
Tal ha de ser também o nosso modo de pensar á hora
da morte, quando ao olharmos para
a rirta qne se vai, i»
terra que vamos deixar, chegarmos
a esta realidade
tremen-da: — a terra é este lugar tão pequeno e passa tao
depres-sa assim ?! ,.
Veremos a verdade das palavras do Evangelho:
— Que
adianta ao homem ganhar o mundo inteiro ri chega a
per-der a sua alma! E' loucura pensar em tudo, cuidar de
tu-da exceto da salvação eterna. Vale a pena tanto sacrifício por um
mimdo que
passa tão depressa ? Tanto sangue,
tanta calamidade, tantas vidas »crifl<»dM
pela posse da
"terra?" Terra "pequenina", um grão de areia entre os mundos
criados por Deus. Ha homens que não pensam
na brevidade da vida e na
eter-nidade aue se aproxima. Vivem como ri nunca tivessem de morrer. Sao tao
saga-e prudentes em negócios, e apegados á terra se esquecem do céu.
Sejamos prudentes e cautelosos. Um celebre astronomo
mundial, "Tico Brahe",
queria ensinar ao seu cócheiro, a guiar
os animais e saía-se sempre maL Ao que
o hff—"" rude lhe disse francamente: —
"Meu
bom patrão, o senhor entende
multo do céu e das suas maravilhas, mas aqui na terra, queira me desculpar —
o senhor é um ignorante"...
Bem o contrário se ha de diier de certos homens: — entendem muito das
coisas terrenas, guiam-se muito pelos caminhos do prazer e dos negocies da
ter-ra. porém... ai! ignoram ou desprezam sempre
as coisas do céu, as coisas
eter-nasilsto é viver eomo cristão ? E' de quem foi criado á Imagem e semelhança de
Deus e tem um destino sublime ?
O "ur** passa, só nos preocupe acima de tudo a eternidade... O resto...
um dia quando chegarmos á hora derradeira e tivermos
transposto os humbrais
da outra vida, não como Dante em sua fantasia, mas na dura realidade, veremos
a terra que nos seduziu, tão pequenina, tão
miserável E um grito de espanto sairá
de nossa alma: — "Foi só por aquilo que me sacrifiquei e perdi tanto tempo ?!~
LAR CATÓLICO 14 de Novembro de 1943 — 543 &•- *JBs& ¦ J ;¦ • • •> .. • ;&mmz ... ,.,rx ¦¦ , » . jfi . .V*»'. *i JaW tffiit . ¦ ; . %., -sj2 "...^ j'JLCl-/^ ' , Sw W ' . Stt /' '«• :¦'" ' ' 4.4 * V .'' ¦':/''. • . -, ¦ : . V-. ..<'fr:V.' t? • : ¦¦ ^'. J. . ^ ^.fc
->"ii^i nTfciiYl i ,r« i .&*!, Ha ¦...- . ? a
¦••'¦.¦ ••;¦"¦ - . '""' •'(?$ '. .•''¦/¦ ' - . /'.*. ' . *»' r • ' 1 • : - ' ' '" . ; •. .•: ' ' 'V* . •¦'./ , ¦ • • • -<V-"Si
conhecesses o dom de Deus..."
Pe. Sebastião Maria, SS. CC.
QUEM não Já procurou, nas horas de lazer e de descanso, um desses bucólicos e
silenciosos recantos qne nos oferece, em
toda parte, a natureza pródiga e bela da
na nossa terra?... De mim, eu sei dizer
que mais conforta o meu espirito, descansa meu corpo e alegra a minha al-ma, como um desses passeios feitos por
es-trada sombreada e solitária, onde, longe
do ruido do mundo, se sente um'transporte
a regiões que nos fazem sonhar em outros
mundos muito melfeores do que o que
es-tamos e em outros seres diversos, mais
elevados do que aqueles com quem vivemos.
A vida só considerada sob o prisma
pu-ramente humano vale tão pouco, é tão
cheia de misérias e tão corta que dá
tris-teza e angustia assim viver. Alguém já
comparou a nossa vida aos rios que vão
morrer ao mar... Certamente, quem assim
pensou, andou bem acertado. Esta bela
imagem, miis de uma vez, velu ao meu
pensamento, dias passados, estando eu sen-tado em extática meditação nas fraldas
ver-dejantes duma das nossas encantadoras
montanhas tijucanas, de onde contemplava
fnff«.afr"», riachos, fontes, lagos, águas to-«ia«
puras e cristalinas que, em suave e
ale-gre harmonia, iam desligando até
se
perde-rem na e profunda baia que ao
lon-ge se avistava.
Afastei, por um momento, a minha vista
daquele lindo e encantador panorama, e,
embalado pela orquestra sem par da
natu-reza, tomei, entre as minhas mãos, o livro
amigo e fiel companheiro de todas as mi-nh« viagens: "O Santo Evangelho". O
capitulo da m<n^a leitura e meditação,
aberto ao acaso, era a cena sublime e
en-ternecedora do encontro e coloquio intimo
do Divino Nazareno com a pecadora de
Sa-maria, à beira do poço de Jacó, o que veiu mala ainda empolgar meus pensamentos.
Na leitura da cena da Samaritana,
depara-ram-se-me duas fontes antagônicas: a das
aguas lamacentas dos bens da terra,
figu-rada na agua do poço e a fonte das aguas
cristalinas que jorram até a vida eterna.
Quem bebe das aguas da primeira, diz Jesus, terá ainda mais sêde, mas quem
provar da agua que Eu lhe dou
não terá
mais sêde. Sim, disse de mim para mim:
Os bens caducos da terra refrescam, por
uns instantes, a sêde insaciavel das noásas
concuplscencias, todavia, quanto mais se
beber dessas aguas salobras, amargas e
turvas nesta vida, tanto maior é a sêde
inextinguivel e abrasadora que nos devora.
Até no" leito da agonia, Senhor Jesus,
quantos ainda vi segurar, com
sofreguidão,
a taça vil dos prazeres que a morte,
den-tro em pouco, iria quebrar para sempre,
abafando-lhe o ultimo grito de desespero.
Debalde o coração humano procurará
re-frigerio e sossego se não descansar em Vós,
Senhor. "Fecisti nos Domine ad Te et
in-quietum est cor nostrum donec requiescat in Te!" (Santo Agpstinho).
Ah! si bem soubessemos avaliar a
doçu-ra e sublimidade do dom de Deus, das
1) Parte central de Campos do Jordão,
ven-do-se a Igreja Matriz em construção, onde,
presentemente, trab&lham quatro Padres
Franciscanos.
2) Residência principal dos Pgdres
Francia-canos, em Campos do Jordão. No fnndo do'
vale, fica a Usina Elétrica, movida à
ágaa.
aguas puras e cristalinas da sua divina
gra-ça como iriamos a sua procura e ouviria» mos, dentro de nós, a.cada instante, as
pa-lavras fascinantes do bom Jesus à pecadora
de Siquém. "Si
conhecesses o dom de Deus e
soubes-ses quem te diz: — dá-me de beber — por
certo tu lhe pedirias, e Ele dar-te-ia da agua viva que brota até a vida eterna".
Poucos, porém, escutam a sua divina voz,
e assim a profecia de Jeremias tem, dia a
dia, sua cabal realização: "Porque o meu
povo fez dois males: abandonaram-me a mim,
que sou fonte de agua viva, e cava-ram para si, cisternas rotas, que não
po-dem reter as aguas".
Na verdade, não ha, na terra, doçuras
mais intimas nem mais sinceras do que
aquelas cujo preço é a doação completa de nma alma ao seu Criador, que, pela sua vez,
se dá inteira e generosamente à sua
cria-tora arrependida.
E continuei a leitura, absorto nos meus
pensamentos, que me falavam e me diziam: Primeiro é Jesus que tem sêde da aíma- pe-cadora e lhe pede de beber: "da mihi
bi-bere". Depois é a criatura que tem sêde do seu Criador: "da mihi hanc aquam".
Fe-liz encontro, aparentemente casual, o da
Samaritana. Indo pecadora ao poço de
Ja-có, voltou ã cidade de Siquém,
transforma-da num apostolo ardoroso do seu Deus e
Salvador...
Fechei o livro, parei a minha leitura e
meditação, e tornei a contemplar o
pano-rama já todo ele tépido e roseado pelo
cre-pusculo da tarde, que ia a findar. Mas as aguas das fontes, dos regatos, do riacho em
curso, do lago tranqüilo, do poço escondido,
da cascata sonhadora, do mar imenso, tudo
aquilo se avolumava na minha mente e
fan-tasia, ouvindo os gritos das multidões que
pedem agua, agua de prazeres, de honras# de riquezas, de... tudo, menos da agua que
brota até a vida eterna.
Desci, pausadamente a'encosta verdejan-te da bucólica montanha è ainda os meus
olhos e pensamentos pousaram-se,
apaixo-nadamente, no lençol das aguas dum lago
encantador. As florestas, jardins e humildes
casebres projetavam-se no espelho
limpis-simo da sua superfície... Um pouco além
ainda se avistava um convento de Irmãs de
Caridade, asilo acolhedor de órfãs
desvali-das.
São seis horas, o sino do convento
co-meça a badalar espalhando as notas
angé-licas da "Ave Maria" pelos vales e
monta-nhas daquele rincão tijucano... Rezo e
penso que, comigo, rezam, sem duvida, as muitas almas boas do mundo, as dos
mos-Iteiros
solitários, dos conventos, das ermidas,
dos claustros religiosos, que se me
afigu-ram, naquela hora crepuscular, lagos
en-cantados, no meio do mundo corruptor, que,
com a sua prece e mortificação, aplacam as
iras divinas e atráem as bênçãos do céu,
graça miraculosa que se derrama conver-tendo as almas Samaritanas deste século
em almas eleitas e mimadas do
Senhor.-Mais nn« passos e me aproximo do ponto
final do meu passeio. Lá, tomo o bonde e,
em rápida descida, chegamos a ter os
pri-meiros contatos com a vida agitada e
fe-bril da nossa maravilhosa metrópole. Sem
pensamen-v ™
544 — 14 de Novembro de 1943
LAR CATÓLICO
tos a repetir as palavras de Cristo:
"Si
co-nhecesses o dom de Deus". Entretanto, ha
tantas
Samaritanas
nestas
modernas
ci-dades de Siquém, procurando as águas
la-macentas dos prazeres impuros, sem
aten-der aos apelos contínuos do Divino
Salva-dor que dá pena e tristeza vêr como
esque-cem ou ignoram, por completo, a fonte da
vida
eterna, que és
"Tu, meu amado
Je-sus".
___.
Ainda
antes
de abandonar o bonde que
me trouxe até à porta da minha residência
conventual, lancei um triste olhar para
tan-tos daqueles, que, só preocupados com
as
coisas da terra, nem
siquer se lembraram
de olhar para a Casa de Deus.
Já no silencio da noite estrelada, em meu
quarto de janela escancarada por
onde
per-cebia vagamente o longínquo e fascinante
panorama que, na tarde, percorri e que
as
trevas da noite já amortalharam com a sua
escuridão, comecei a escrever estas minhas
impressões, como recordação
"de um
pas-seio que foi um sonho, de um sonho que é
realidade".
Rio, Tijuca — 1943.
li Matriz le Sio Joio Bitislo ie Ceiie
De
noite resplandece a luz da lâmpada
sagrada na parede da igreja de São João
Batista. Ondas encarnadas espalham-se
so-bre as construções sagradas
e as inundam
num
mar
vermelho...
Tudo
revela
vida,
vida
elevada,
vida
transcendental...
Tudo
está em silencio. Lá fora cantam as ondas
marajoaras... Este altar é vida, guarda no
Tabernaculo A Vida, revela a vida,
renas-ce na vida... Tudo aqui é vida verdadeira.
Este
altar
foi
antigamente
uma
arvore.
Ninguém
de nós a viu, mas todos nós a
conhecemos. Era uma grande arvore na
fio-resta virgem.
Quando estava ainda
.nova,
gozava
da
sombra' das
maiores arvores.
Neste tempo só desejava uma coroa
maior.
Ela bebeu as águas da terra e
o vigor do
sol. Cresceu e cresceu e emprestava
a
som-bra às menores. Era misericordiosa
com os
passarinhos, os animais
se agasalhavam
à
boca da noite em suas raizes. Sob
sua
pro-teção
se
passava bem.
Ela
desejava
fazer
feliz e servir aos outros. Os homens
perse-guidos se
escondiam
na
sua
coroa.
As
águas da chuva encontravam
uma fortaleza..
Deus chamou-a para o serviço
mais alto,
mais santo, mais elevado.
Mas o novo serviço
exigiu um sacrificio
total,
como
a
semente
deve
morrer
para
dar a vida à
planta.
Certo
dia
chegaram
os lenhadores e derrubaram a
sua
coroa.
O serrote
chorava
durante
o
movimento.
Toda
a
sua
beleza
morreu,
desapareceu,
eomo uma flor emurchecida...
A arvore sofria, mas não
chorava.
Que-ria morrer
para dar a vida.
Revelava-se
na construção
do altar a sua vida, a sua
beleza interna, a sua força
acumulada
du-rante tantos anos de trabalho,
exposto ao
sol e à chuva, à tempestade e
à noite.
Agora serve a sua madeira como
moradia
do Senhor. Ela cerca o Altíssimo
com sua
força jovem. Em sua nova vida#
sonha
to-da a floresta virgem do Marajó,
com todas
as plantas e flores,
com todos os animais,
com o sol e a chuva, com « trovoada
dos
trópicos, com toda a criação:
"Montes
et
omnes
colles;
ligna fruetifera, et omnes cedri...
laudent nomen Domini".
Padre
Carlos
Borromeu,
CJPP.S.
Belém — Pará.
PROPAGAI O
"LAR CATÓLICO*
ASSINATURA ANUAL, Cr. f 15.M.
Campos do Jordão
DA-se o nome genérico de
"Campos-do-Jordão" a uma extensa série de lombas nos
altos da
Serra da Mantiqueira, a uns
du-zentos quilômetros a nordeste da capital do
Estado de São Paulo. Em sua maioria, as
lombadas estão cobertas de ervas rasteiras,
inferiores para
boa pastagem, e de matas,
em que abundam os pinheiros que vegetam
sobretudo pelos vales e pelas encostas.
A altitude oscila entre 1.500 a 2.000
me-tros. O clima é muito bom, de
invariabilida-de
térmica,
de
pouca
nebulosidade
e
cer-ração,
de
muito
sol
sem
calor
asfixiante,
fresco e frio sem umidade. O ar puríssimo,
limpa os pulmões, tonifica a saúde,
dilata
as energias, motivo esse por que
Campos-do-Jordão
está
sendo
altamente
procurado
pelos que sofrem dos bronquios
e por
vera-nistas, os quais, fugindo à canícula de
ou-tros
lugares,
vêm
aqui
gozar, no verão,
uma
das melhores temperaturas do Brasil.
No
inverno,
sob
um
céu
diáfano,
caem
densas geadas que bem se assemelham
a
nevadas, cobrindo com seu lençol branco os
outeiros e as chapadas.
No outono, despregam-se todas as folhas
das macieiras, dos pessegueiros,
das
perei-ras e dos caquieiros que, na primavera,
re-nascem
em
florações
esplêndidas
e
visto-sas.
Espalhadas
pelos vales, pelas quebradas
da serrania, pelas vilas, pelos sítios e
peque-nas fazendas, a paróquia abrange doze mil
almas, aproximadamente.
Foi
nos
princípios
de
1700 que Gaspar
Vaz, o primeiro povoador destas terras,
par-tindo
da
vila Pindamonhangaba,
hoje
im-portante estação da
Estrada de
Ferro,Cen-trai
do
Brasü, abriu
uma
picada
manti-queira acima.
Em
1760, Inácio Caetano,
organizou
a
primeira
fazenda nestas alturas.
Em
1825,
o brigadeiro
Manuel
Rodrigues
"Jordão"
adquiriu pela quantia de dez
mil cruzeiros
as vastas propriedades, denominadas
"Bom
Sucesso"
e
"São Miguel". Daí por diante,
os campos do
"Jordão" começaram a
pas-sar ao domínio de diversos donos.
Um
destes,
já
então
convencidos
das
qualidades terapêuticas
em alto grau deste
clima, abriu, em 1870, uma casa para
doen-tes dos pulmões, o que proporcionou
a
ori-gem de verdadeiros sanatórios,
amplos e
are-jados,
que,
hoje,
numerosos
e
modernos,
honram
sumamente
os
afamados
Campos-do-Jordão,
estação
climatérica
de
combate
à
tuberculose.
De um pico da alcantilada cordilheira,
a
dois
mil
metros
de
altitude,
distante
dois
quUometros
da igreja
Matriz, pincaro esse
em que está situado um
luxuoso palácio de
veraneio,
cujas
obras
se
acham
presente-mente paralizadas, descortina-se
magnífico,
empolgante
e arrebatador
panorama,
avis-tando-se
dali vários
sanatórios
encravados
nas montanhas, bem como alguns
castelos,
construídos nos pináculos dos
montes,
poi
grandes capitalistas
ou por abastados
vera-nistas.
A
freguezia
de
Campos-do-Jord&o
está
entregue aos cuidados dos Padres
Francis-canos, que exercem a cura
de
almas
na
extensa
paróquia,
e,
entre
os
tuberculo-sos,
abrigados
em
sanatórios,
em
pensões
e em casas avulsas.
Muitos
doentes,
mediante a
assistência
religiosa, feridos
pela enfermidade
e
to-cados pela graça divina, encontram aqui o
suave e misterioso caminho para Deus,
co-mo
belamente canta, por exemplo, Ari de
Andrade em uma de^suas formosas baladas
que damos em resumo, por
ser extensa:
"Campos-do-Jordão ! Campos-do-Jordão !
Porto seguro de naus desarvoradas,
De anseios moribundos, de tantos corações.
Campos-do-Jordão cheio de Luz,
Campos-do-Jordão,
onde
encontrei Jesus.
O Jesus que eu havia perdido
Pelos caminhos da minha dôr
O Jesus que me apareceu um dia
No sorriso bom, no sorriso luminoso,
De um irmão de Francisco de Assis.
O Jesus que leniu meu sofrimento,
Que adoçou minha agonia.
Este Jesus que ficou comigo
Para a vida e para a morte !...
Frei
Benvindo
Destéfani,
O.F.M.
Dois campos na vida
NOS
DIAS
presentes, mais do que
em
tempos passados, os homens não querem
sa-ber da Religião Católica,
mas
odeiam-na
satanicamente.
Não ha
governo
da
terra
que aceite
os
postulados
religiosos
e
tudo
fazem
para
obstacular sua ação civilizadora no meio do
mundo. Do
ostracismo à perseguição
vai
um triz;
do desprezo
ao ódio não ha
li-nha
divisória;
da
sistemática violação
dos
preceitos divinos à intolerância
dos
come-sinhos
preceitos
humanos
não
medeia
es-paço. Se tudo vai mal, em breve ainda
che-gará a ser muito pior.
Qual
a
nação,
em
todos
os
hemisférios,
que
não
recebera em seu
berço o convite
piedoso e amoravel
para a fé
católica ?
Quais os trabalhos apostólicos do
catolicis-mo em medrar, crescer
e fazer prosperar
tão belas esperanças na floração de um
fu-turo cheio de benemerencias ?
O' crua sorte !
Muitas dessas nações
co-briram com o pó negro da maior
ingrati-dão as sementeiras deixadas pelos
intrepi-dos missionários
de antanho;
muitas
des-sas nações ingratas preferem seguir o
ca-minho do filho pródigo e por lá ficar sem
nunca mais voltarem à casa paterna...
E
todo o estendal da descreça e
impie-dade
avassala
o
mundo
das
almas,
como
conspurca o individuo, desde a infância; a
familia, desde o lar; a sociedade toda
do
alto ao baixo; os povos da terra, dos
peque-nos aos grandes.
I
A criança
desde cedo bebe com o leite
materno o gosto para as cenas vistas nos
cinemas da vida; crescendo, suga os
folhe-tins escabrosos adrede preparados para
a
corromper; vai às escolas onde, num am-
•
biente leigo e agnóstico apura os apetrechos
para a mocidade mal preparada aos
deve-res imperiosos na grandeza de animo.
Ge-ração perdida!!
A juventude vem da famüia já
contami-nada e segue para a sociedade
em
deca-dencia. Não ha falar de uma vida elevada
longe da mundanidade...
Não é ser profeta dizer que a causa social
será o que fôr o lar; não é ser profeta
di-zer
que
todo
o
mundo
será o
que fôr
a
sociedade. Os homens para as culminancias
são formados nas baixadas sociais.
O que
os pequenos fazem, os grandes farão
cendo-bradamente;
o germe está
na
alma, no
coração dos indivíduos. Inútil é buscar
ml-lagres na formação enganadora do
ambien-te.
O mal, pequeno e grande, começa no
âmago de cada homem na sua educação. E
a verdadeira alma da cultura é a cultura
da alma; o resto será utopia
fantasmagó-rica. O mal jamais chegará a produzir
o
bem de nenhuma forma!
A Religião Católica vibra no coração cheio
de bondade; e n&o haverá bondade para oa
LAR CATOLICO 14 de Novembro de 1943 — 545 •/v:C>XO' , —* ' • ¦ ? I
Oportet sempre orare
(Conclusão)
Amemos a Oração
Praza a Deus, irmãos e filhos queridos,
que estas ligeiras reflexões valham a
fa-zer-nos amar, cada vez mais, a divina
oração, na qual a fé se ilumina, nutre-se
a esperança, acende-se a caridade,
acri-sola-se a humildade, concebe-se o
des-prezo das coisas mundanas, sente-se
me-lhor a nobreza do homem, e por vezes,
«tão suave deleite se infunde nas almas
pias, que os dias e as noites se lhes
pas-sam despercebidas, como se lê daquele
santo eremita a se queixar do sol,
por-que lhe parecia que, amanhecendo muito cedo, encurtasse a deliciosa
contempla-ção das suas vigílias noturnas.
Bem se pode dizer que na oração se
resume toda a santidade,. porquanto, embora consista esta na caridade, não
atua senão por essa união com Deus, que
é justamente a oração; e tanto assim que,
pela oração, costuma a teologia distinguir
as três vias da perfeição, falando-nos
na oração dos incipientes, na dos
profi-cientes e na dos perfeitos.
O cristão, em suma, que, por si só,
na-da pode, tudo pode pela oração, até
re-petir com o Apostolo:
"tudo
posso
na-quele, que me conforta". Omnia possum
in Eo, qui me confortai. Por isso
compa-rou S. João Crisóstomo a oração às mãos
do homem: nasce este, diz ele,
desprovi-do de quaisquer instrumentos e armas,
mas não pode lamentar-se do Criador,
porque lhe deu as mãos, que tudo lhe
alcançam; assim a oração na vida
espi-ritual da graça.
E grande consolação deve ser para nós
o rezarmos, porquanto, como faz notar
S. Agostinho, quem não abandona a
oração, penhor é seguro de que a
miseri-cordia de Deus também o não abandona,
segundo aquilo do Salmo:
"Bendito
Deus,
que não apartou de mim a minha oração,
nem a sua misericórdia".
¦
Rezemos, pois, todos, como tantas
ve-zes nos convida a Igreja: oremus! "Orem
os homens, diz S. Paulo, em todo
o lugar, levantando as mãos puras, sem
ira e sem contenda". "Orem também as
mulheres, continua ele, em traje honesto,
ataviando-se com modéstia e sobriedade,
q
pão com cabelos encrespados, ou com otrro, ou pérolas, ou vestidos custosos;
mas sim, com boas obras, como convém
a mulheres, que fazem profissão de pie*
dade".
Rezemos, enfim, mas rezemos bem, não
só com os lábios, do que censurava
Cris-to os judeus, senão também com o
co-ração, concios ainda de que, como disse
o mesmo Senhor, não são as muitas
pala-vras, que valem na oração, ma» sim, o
espirito, com que se faz. E pois que, como
diz S. Paulo, não sabemos orar, como
convém, repitamos com os discipulos: "Senhor,
ensinai-nos a orar".- Domine,
doce nos orare. Só assim verificar-se-á
em nós a sentença do já citado S.
Agos-tinho, quando afirmou que
"vive
bem,
quem reza bem": recte novit vivere, qui
recte novite orare. Donde é licito
con-cluir que morrerá igualmente bem,
con-seguindo a eterna bem-aventurança.
Estas verdades levaram essoutro zeloso
Doutor da Igreja, S. Afonso de Ligório,
a escrever o edificantissimo opusculo, a
que pôs o titulo: "O
grande meio da
oração". E assim começa ele o
respecti-vo proemio: "Muitos, em verdade, são
os opusculos ascéticos, que tenho
publi-cado; convencido, porém, estou de que
nada jamais escrevi de mais util, do que
este livrinho sobre a oração". E pouco
adiante continua: "Se me fôra possivel,
quisera mandar imprimir tantos
exem-plares desta obra, quantos são os fiéis do mundo inteiro, e distribui-los a cada
um deles, de modo que nenhum deixasse
de saber quão necessaria é a oração para
salvar-se": E enfim conclue todo o
tra-tado com as seguintes palavras: "Digo,
repito e sempre repetirei, por toda a
vi-da, que nossa salvação eterna está na
oração. E por isso todos os escritores em
seus livros, todos os oradores sacros em
suas prédicas, e todos os confessores, no
administrarem o sacramento da
Peniten-cia, nada deveriam inculcar mais do que
a assídua oração, clamando sem cessar:
orai, orai e nunca deixeis de orar;
por-quanto, se orardes, certamente sereis salvos; se não orardes, sereis certamente
condenados".
Parece-nos que nada devamos
acres-centar a tão graves juízos, e só nos resta
rematar a presente Carta, que viemos
traçando em horas de profundas
emo-ções e saudades. Reportando-rios, pois,
ao pensamento inicial da mesma, vos
su-plicamos com o Apostolo, irmãos e filhos
diletissimos, "que nos ajudeis, orando
por nós, para que pelo dom, que se nos
tem concedido, em atenção a muitos, por
intervenção também de muitos, sejam
dadas graças por nós outros":
adjnvan-tibus et vobis in oratione pro nobis, ut
ex multorum personis, ejus quae in
no-bis est, donationis, per muitos gratiae
agantur pro nobis. .
Da nossa parte, fervorosamente
exo-ramos ao Senhor, por intercessão da
Vir-gem Imaculada, derrame a flux sobre
vós "o espirito da graça e das preces",
spiritam gratiae et precum, juntamente,
com a benção, que do mais intimo do
coração vos damos, em nome do Padre,
e do Filho, e do Espirito Santo. Amem I
Do Campo das Missões
SIR1A — Como todos os paises do Oriente
proximo, apresenta a Siria um mosaico de re* ligiões diferentes. Maronitas, Drusos,
Beduí-nos, Hebreus. Chega a um milhão o numero
dos cristãos dissidentes e a 400.000 dos
cató-licos de diversos ritos. Os católléos do rito
latino são 20.000, e estão debaixo da
jurisdi-ção do Administrador Apostolico de Alepo, residente em Beiruth. Os católicos dos outros
ritos formam '4
Patriarcados entre 34
Arce-bispados e Bispado.
Os trabalhos missionários de evangelisação
da Siria estão a cargo principalmente dos
Franciscanos, Capuchinhos, Jesuítas e
Laza-ristas. A Universidade Católica de Beirutb
tem uma matricula de 1.500 estudantes e o»
Colégios dos Irmãos das Escolas Cristãs
pros-peram igualmente.
CHINA — O
governo chinês declarou que cinco milhões de pessoas passam fome em
Honan, acrescentando que isto constitue o
maior desastre ocorrido ao povo chinSs desde
o começo da guerra, ^té o mês de Abril tinha
destinado dez milhões de dólares para
reme-diar esta situação. O Banco Agrícola tinha:
autorisado o dispendio de 100 milhões de
do-lares para a compra de alimentos. As
provin-cias visinhas de Shensi, Shansi e Hupeh,
de-vido à escassez de viveres, em nada puderam
socorrer a de Honan, e o plano de estabelecer
transporte de Anwei foi frustrado pela
inva-são Japonesa. Grande quantidade de cereais»
destinada ao exercito, foi distribuída entre a
população.
— De Chungking comunicam,
que foram totalmente destruídos pelos bombardeios
ae-reos os edifícios das- Missões. As casas da»
Missões em Yunnan-Fu, capital da Província
de Yunnan, nada sofreram.
BURMA — E' esplendida a missão
aposto-lica, que desde 40 anos os Padres
Frandaca-nos realiaam entre os leprosos da Btnnania,
em Eangoon e R. Bhame.
ÍNDIA — Na índia continúa o movimento
de retorno ao Catolicismo dos Jacobitas de
Malabar. As conversões são freqüentes, de
grupos mais ou menos numerosos, de fami-lias cismaticas de todas as classes sociais,
desde o campônio desconhecido até o
profla-sional ilustrado. Verdadeiramente
sensacio-nal foi á conversão do Dr. V. A. Varghese,
destacado educacionista de Trawancore, que
em Maio p. p., pronunciou o discurso oficial
(em dialeto malaio) na comemoração do Ju-bileu Episcopal de Sua Santidade Pio XH.
I
Em oração