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Experiência, imaginação e invenção: chaves para um estudo da leitura e escrita entre pessoas pouco escolarizadas

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Academic year: 2017

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INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO

MELINA BRANDT BUENO

EXPERIÊNCIA, IMAGINAÇÃO E INVENÇÃO:

CHAVES PARA UM ESTUDO DA LEITURA E

ESCRITA ENTRE PESSOAS POUCO

ESCOLARIZADAS

Rio Claro 2013

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MELINA BRANDT BUENO

EXPERIÊNCIA, IMAGINAÇÃO E INVENÇÃO:

CHAVES PARA UM ESTUDO DA LEITURA E ESCRITA ENTRE

PESSOAS POUCO ESCOLARIZADAS

Orientadora: Maria Rosa R. Martins de Camargo

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Câmpus de Rio Claro, para obtenção do grau de Licenciada em Pedagogia

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estudo da leitura e escrita entre pessoas pouco escolarizadas / Melina Brandt Bueno. - Rio Claro, 2013

59 f. : il., figs.

Trabalho de conclusão de curso (licenciatura - Pedagogia) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro

Orientador: Maria Rosa Rodrigues Martins de Camargo

1. Leitura. 2. Processos de leitura. 3. Práticas culturais. 4. Educação de jovens e adultos. I. Título.

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AGRADECIMENTOS

Não há um caminhar sozinho. Este seria muito mais difícil e menos prazeroso se não tivesse a presença e o apoio de pessoas que me acompanhassem. Por esse trabalho não representar somente os caminhos de meu estudo, e sim a travessia de minha vida, os aprendizados e vivências dos anos de graduação, agradeço, primeiramente, a Deus, que me proporcionou esse caminhar e a companhia de pessoas queridas, e me deu forças.

Agradeço à Maria Rosa, não só pela orientação, mas pelo cuidado, amizade, e por me apresentar os caminhos que acabei por seguir. Ao PIBID, e todas que compartilharam dessa experiência comigo, Nayara, Beatriz, minha duplinha Camila, Natalia (que foi ficando, assim como eu), Marina Chicone (a bixetinha que melhor foi educada), Júlia e Carol.

A Secretaria Municipal de Educação de Rio Claro, e a toda equipe da Escola Prof. Sylvio de Araújo, que permitiram o desenvolvimento desse trabalho. Aos alunas e alunos da EJA que toparam compartilhar as leituras, sem as quais meu estudo não teria o mesmo significado.

Agradecimentos especiais a minha família, pelo carinho, apoio e dedicação, sem os quais eu não seria como sou, e principalmente pela paciência para comigo. A meu avô João Brandt (in memorian), que infelizmente não conseguiu presenciar o início dessa nova caminhada, mas que sempre esteve do meu lado, e à minha avó Dona Cida, que desde as primeiras séries escolares me acompanhou, e cuidou de mim. A minha irmã Marina que, sem dúvida, carrega todo o sentimento que a palavra irmã traz, estando do meu lado em todas as dificuldades e bons momentos. Agradeço também, sem conseguir expressar o quanto, à Cleri Brandt, minha orientadora da vida, conselheira, professora, amiga, minha mãe, sem a qual esse trabalho, de certo, não estaria em suas linhas finais. E a Lucy, minha companhia enquanto escrevia, qual melhor e mais fiel é a amizade que se pode encontrar em seu cão.

Agradeço aos amigos pela irmandade... aos de sempre, Lucas, Bruna, André, Leonardo, Vítor, Juliana, e os sempre preocupados comigo, Mônica, Andrey, Diego e Bruno. Aos amigos que a UNESP me trouxe, as Deliders e a toda a M.O.C.O, querida comissão de formatura 2012, que fortaleceram os laços com Leticia, Maibi, Marina Simões, Renata (Sandy), as quais sou grata pelo apoio, companhia e desvio dos momentos de estudo.

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RESUMO

Pensando na importância do contato com o livro e com a leitura, bem como da difusão deste contato, o estudo propõe como objetivo geral, buscar compreender e apontar alguns elementos de como se dão os processos de leitura e como esses podem contribuir para o conhecimento de si e do mundo em que se vive, entre pessoas leitoras e/ou pouco escolarizadas. Para criar esse espaço de leitura, a obra de Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas foi escolhida como material por oferecer amplas possibilidades de leitura, desafiando ao entendimento e proporcionando a busca do leitor pela identificação com as (des)venturas vivenciadas pela protagonista. O compartilhar da leitura foi proposto e desenvolvido junto a alunos e alunas de uma sala de Educação de Jovens e Adultos em uma escola do município de Rio Claro/SP. O estudo é organizado em três momentos de leituras: o primeiro momento apresenta as primeiras leituras realizadas, onde busco entender o lugar e o papel da leitura na formação, situando-me como leitora de Alice no País das Maravilhas, e entrelaçando os caminhos de Alice por esse mundo com os caminhos que percorremos como leitores. O segundo configura-se como uma pesquisa documental que objetiva conhecer mais profundamente o livro em pauta e as versões a que, como leitores, temos acesso, propondo levantar diferentes edições disponibilizadas no Brasil. O terceiro momento encaminha-se para as (re)leituras, onde apresento os registros referentes à pesquisa de campo, dos meus caminhos para compartilhar a leitura de Alice..., e das leituras compartilhadas. A proposta de estudo apoia-se, conceitualmente, nas noções de leitura e escrita como práticas culturais, sendo o livro assumido como um objeto cultural; a questão da leitura e escrita posta para pessoas pouco ou nada escolarizadas situa-se em uma perspectiva de interlocução com a cultura escolar e com a cultura cotidiana; e o que concerne às (des)venturas com Alice embrenha-se pelo campo da imaginação e invenção do ser vivente e pensante.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 6

LEITURA I Conselhos de uma Lagarta...: Leituras em Alice ... 9

[ ENTRETEXTOS um ] ... 16

LEITURA II Ler Alice e conhecer Alice... ... 17

... o longo rabo de uma história em um breve contexto ... 17

A História da Falsa Tartaruga: Traduções de Alice... ... 18

Levantamento das Traduções de Alice ... 21

Do texto a se compartilhar... ... 35

[ ENTRETEXTOS dois ] ... 36

(RE)LEITURAS Um chá de loucos: Leituras compartilhadas... 38

Registros outros ... 38

A entrada pela Toca do Coelho... ... 38

Durante a queda na Toca... ... 39

Caminhando pelo País das Maravilhas... ... 40

O (re)ler das leituras... ... 51

O depoimento de Alice: Algumas considerações... ... 55

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INTRODUÇÃO

No instante seguinte, lá estava Alice se enfiando na toca atrás dele, sem nem pensar de que jeito conseguiria sair depois.

Por um trecho, a toca de coelho seguia na horizontal, como um túnel, depois se afundava de repente, tão de repente que Alice não teve um segundo para pensar em parar antes de se ver despencando num poço muito fundo. (CARROLL, 2009a, p. 14)

Seguindo o caminho percorrido por Alice, damos entrada nesta espécie de túnel, despencando em seguida em um profundo poço, cujo fim parece não existir. Após essa longa queda, e de caminhos e acontecimentos confusos, ficamos sabendo que Alice entra em um maravilhoso e desconhecido mundo, onde cada acontecimento é uma (nova) experimentação. Assim como acontece com Alice, busquei com esse estudo enveredar por esses caminhos que, se por um lado geraram acontecimentos inusitados, confusos à primeira vista, por outro possibilitaram reflexões e (re)leituras acerca dos processos de leitura por pessoas leitoras e/ou pouco escolarizadas; os caminhos contribuíram ainda para minha formação leitora e como educadora.

Além dos desafios que a proposta do estudo trazia para a educadora em formação, leitora de Alice..., a inspiração para a realização deste trabalho surgiu a partir de experiências vivenciadas como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência – PIBID em uma sala de EJA, onde foi desenvolvido um projeto de leitura de contos. A constatação do pouco contato que estes alunos tiveram com o livro, e consequentemente com a leitura de livros, no decorrer de suas vidas, bem como do interesse demonstrado por eles quando da realização do projeto, impulsionou a busca pela compreensão sobre como a leitura pode contribuir para sua formação humana, social, política, educacional, influenciando e ampliando o conhecimento de si e do mundo em que vivem.

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ao entendimento e proporcionando a busca do leitor pela identificação com as (des)venturas vivenciadas pela protagonista.

O estudo é organizado em três momentos de leituras: A Leitura I apresenta as primeiras leituras realizadas por mim, onde busco entender o lugar e o papel da leitura na formação (da educadora e de leitores em geral), situando-me como leitora de Alice no País das Maravilhas, e entrelaçando os caminhos de Alice por esse mundo com os caminhos que percorremos como leitores. Que percorro como leitora.

O segundo momento, que nomeio como Leitura II, surge da necessidade de conhecer um pouco de Alice... dentre as “Alices brasileiras”, para que pudesse, assim, compartilhar de sua leitura com outros leitores. Este momento configura-se como uma pesquisa documental que objetiva conhecer mais profundamente o livro em pauta e as versões a que, como leitores, temos acesso, propondo levantar diferentes edições disponibilizadas no Brasil.

A partir dessas primeiras leituras realizadas, o estudo encaminha-se para (Re)leituras, sendo esse o terceiro momento. Neste, apresento os registros referentes à pesquisa de campo, dos meus caminhos para compartilhar a leitura de Alice..., e das leituras compartilhadas. A leitura coletiva foi realizada junto aos educandos de EJA I – Termos III e IV (3ª e 4ª séries), com idade entre vinte e quarenta e oito anos, na Unidade Escolar da Rede Municipal de Rio Claro denominada Escola Municipal “Prof. Sylvio de Araújo”, localizada no bairro São Miguel deste município. Nessa ocasião, os alunos e alunas foram convidados a realizar a leitura do livro selecionado e a compartilhar dela.

A proposta do estudo apoia-se, conceitualmente, nas noções de leitura e escrita como práticas culturais, sendo o livro assumido como um objeto cultural. O compartilhar da leitura do livro possibilitou o compartilhar de outras leituras pelos educandos, aportando-se nas possíveis e diversas interpretações manifestadas na e a partir da leitura da obra. Segundo Chartier (1996), as obras não têm um sentido determinado, embora seus autores ou estudiosos busquem lhe fixar um significado, estas

estão investidas de significações plurais e móveis, que se constroem no encontro de uma proposição com uma recepção. Os sentidos atribuídos às suas formas e aos seus motivos dependem das competências ou das expectativas dos diferentes públicos que delas se apropriam. (CHARTIER, 1996, p.9)

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ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência de mundo” (FREIRE, 2009, p.11).

Finalizando esse terceiro momento do estudo, inicio uma, entre outras, releitura do texto; a partir do compartilhar da leitura, no que concerne às (des)venturas com Alice..., o estudo embrenha-se pelo campo da imaginação e invenção do ser vivente e pensante, e busca (re)ler e repensar as exposições dos leitores, sujeitos da experiência e da leitura.

Faz-se necessário ainda, utilizando das palavras de Freire (2009), destacar

o reconhecimento do direito que o povo tem de ser sujeito da pesquisa que procura conhecê-lo melhor. E não objeto da pesquisa que os especialistas fazem em torno dele. Nesta segunda hipótese, os especialistas falam sobre ele; quando muito, falam a ele, mas não com eles, pois só escutam enquanto ele responde às perguntas que lhe fazem. (FREIRE, 2009, p. 34)

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LEITURA I

Conselhos de uma Lagarta...

1

: Leituras em Alice

O Coelho Branco pôs os óculos.

– Por onde devo começar, Majestade? – perguntou ele.

– Comece pelo começo – respondeu o Rei muito sério. – Continue depois até chegar ao fim e então pare. (CARROL, 2009b, p.140)2

Para falar de Alice, para falar da história, não há como contá-la começando pelo começo e continuar até chegar o fim. A narrativa vai além da entrada da menina pela toca do coelho em uma queda interminável, junto à inconstância de tamanho, diálogos com diferentes criaturas, cada uma com diferentes conselhos, seguida por sua entrada em um lindo jardim, cuja dona é uma rainha louca que quer a cabeça de todos cortada, e que se finaliza ao despertar do sono, chegando ao fim da aventura, do sonho, da história, do livro.

O mundo percorrido por Alice pode ir além das aventuras de uma menina para a distração de seus leitores. O próprio país que a garota passa a conhecer, em diversas circunstâncias remete à reflexão acerca dos processos de leitura, onde “uns olhos novos e umas perguntas novas convertem o mundo (o livro) em desconhecido.” (LARROSA, 2009, p.26)

Enquanto segue um coelho de colete, que olha apressadamente em seu relógio repetindo que está atrasado (o que desperta a curiosidade de Alice, assim como despertaria em qualquer um) a menina despenca em um poço muito profundo, em uma queda que parece não ter fim, “[...] aproveitando para olhar em volta e perguntar o que haveria de acontecer em seguida.” (CARROL, 2009b,p.12)

Cair nesse poço traz à menina uma nova (outra) realidade, onde não há significados corretos, a queda se faz necessária para que ela saia do costumeiro, que enverede pelo que lhe é desconhecido. Com a leitura também se faz necessário despencar em um poço profundo para que se vá além do que se tem. A leitura traz essa insegurança da queda, do quão profundo é o poço em que entrou, e do que vem em seguida, há sempre algo além do que se lê. Em seu estudo sobre Nietzsche e a Educação, Larrosa (2009) apresenta uma relação semelhante ao se aprofundar em um poço, indicando que

1 (CARROL 1999, p. 61). Título do Capítulo IV em Alice no País das Maravilhas; tradução de Isabel de

Lorenzo.

2 A versão de Alice no país das Maravilhas referida neste capítulo é Carrol (2009b); tradução de Nicolau

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[...] não existe uma leitura final e definitiva que dê sentido verdadeiro: “detrás de cada caverna, uma caverna mais profunda ainda – um mundo mais amplo, mais estranho, mais rico, situado além da superfície, um abismo detrás de cada fundo, detrás de cada fundamentação [...]” Sempre há outras leituras possíveis, perspectivas novas. (LARROSA, 2009, p.27)

É com a possibilidade de novas leituras e perspectivas que Alice dá continuidade à sua aventura, e inicia a caminhada pelo País das Maravilhas. O primeiro lugar que ela conhece é um corredor comprido com muitas portas, todas trancadas, este é também o primeiro desafio posto à Alice, sendo que a única porta que possui chave é muito pequena, na qual não há espaço para passar nem mesmo a cabeça da menina. A partir deste desafio, iniciam-se muitas mudanças, principalmente em relação a seu tamanho, pois ao tomar um líquido diminui, ao comer um bolo cresce, luvas e leques também a fazem ficar grande e pequena durante a história. Tudo parece impossível, mas a menina se acostuma ao extraordinário, e passa a achar “totalmente sem graça que a vida seguisse seu curso normal.” (CARROL, 2009b,p.19), mas nada a faz entrar pela pequena porta.

Diante das dificuldades que encontra, Alice passa a se perguntar sobre as coisas que conhece e questiona, sobretudo, a sua existência, quem de fato é, pois já não se reconhece:

Será que mudei durante a noite? Deixe-me ver: será que eu era a mesma quando acordei hoje de manhã? Quase consigo me lembrar de ter me sentido um pouco diferente... Mas, se não sou a mesma, a questão seguinte é: Quem sou eu neste mundo? (CARROL, 2009b, p.25)

O leitor, a leitora, se depara com essa situação quando é envolvido/a pelo que lê, quando isso o/a faz parar, pensar, questionar e inquietar-se, e seguir as palavras de Larrosa que convida “[...] o leitor a que pare para pensar, a que questione o que já sabe, e convidá-lo também a que leia incendiando o que lê, não é outra coisa que provocar seu próprio pensamento, suas próprias perguntas, suas próprias palavras” (2004, p.316).

Alice utiliza o que sabe para perguntar-se se é a mesma, do que conhece para conhecer a si mesma, e permanece nesse questionamento durante toda a sua aventura, toda a sua leitura e sua leitura de si, e, quando questionada, é provocada a parar e pensar. Tenta se explicar para si mesma, para explicar sobre si, em um pensamento confuso de não saber e não saber dizer quem é e quem era. Talvez seja um estado de sonho... Essa situação é encontrada em diálogos com diferentes criaturas que passa a conhecer, entre elas, a Lagarta, a primeira personagem a provocar esses questionamentos em Alice:

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– Eu... Eu neste momento não sei muito bem, minha senhora... Pelo menos, quando acordei hoje de manhã, eu sabia quem eu era, mas acho que depois mudei várias vezes...

– O que você quer dizer com isso? – perguntou a Lagarta secamente – Você não pode se explicar melhor?

– Eu acho que não consigo me explicar, minha senhora, pois não sou mais eu mesma, como a senhora pode ver.

– Não vejo nada... – disse a Lagarta.

– Receio que eu não posso ser mais clara – respondeu Alice educadamente –, já que, pra começar, eu mesma não consigo entender o que se passa. E, além do mais, ficar de tantos tamanhos diferentes num só dia é uma coisa que deixa a gente muito confusa. (CARROL, 2009b, p.53)

Além de não conseguir se explicar, em sua caminhada, Alice busca sempre por esclarecimentos, indicações, por algo ou alguém que diga o que deve fazer, os caminhos que deve seguir...

– Como é que eu faço para entrar? – perguntou novamente Alice, com uma voz mais alta ainda.

– Há alguma razão para você entrar? – perguntou o Criado. – Essa é a primeira questão, como você sabe. [...]

– Mas o que é que eu devo fazer? – perguntou Alice.

– Faça o que você quiser – disse criado, e se pôs a assobiar. (p.69)

– Gatinho Inglês – começou ela, meio tímida, pois não tinha muita certeza se ele iria gostar de ser tratado desse modo.

O Gato apenas alargou um pouco o sorriso.

“Ora, vejam só! Parece que ele está gostando muito”, pensou Alice e foi em frente. – Você poderia me dizer, por gentileza, como é que eu faço para sair daqui?

– Isso depende muito de para onde você pretende ir – disse o Gato. – Para mim tanto faz para onde quer que seja... – respondeu Alice. – Então pouco importa o caminho que você tome – disse o Gato.

– ...contanto que eu chegue em algum lugar... – acrescentou Alice, explicando-se melhor.

– Ah, então você chegará lá se continuar andando bastante... – respondeu o Gato. (CARROL, 2009b, p.74)

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trazer o pensado à proximidade do que fica por pensar, trazer o respondido à proximidade do que fica por perguntar.” (LARROSA, 2003, p.142)

Dentre os caminhos que se pode seguir durante uma leitura, para se fazer uma leitura, ou para ensinar a leitura, é possível tomar qualquer um, sendo inútil a indicações de caminhos, Larrosa (2009) também nos aponta que não há um caminho a ser seguido, que “ensinar a arte da leitura não é transmitir um método” (LARROSSA, 2009, p. 24), não existem normas comuns e indispensáveis para se realizar uma leitura, assim como nos diz o Gato Inglês, “pouco importa o caminho que você tome [...] você chegará lá se continuar andando bastante...” (CARROL, 2009b, p. 74), o importante é se colocar nos caminhos que encontra, caminhar e se enveredar por eles,

[...] o recolher-se àquilo que dá o que dizer, ao texto, o encarregar-se disso, o responsabilizar-se por isso, é colocar-se nos caminhos que ele abre. Por isso, na lição, a ação de ler extravasa o texto e o abre para o infinito. Por isso, reiterar a leitura é re-itinerar o texto, en-caminhá-lo e encaminhar-se com ele para o infinito dos caminhos que o texto abre. (LARROSA, 2003, p.142)

E estar nesses caminhos é estar acompanhado pelo desassossego, é o perguntar se preferia não ter entrado ali e pensar na possível calmaria de onde se encontrava antes, assim como se sente Alice em determinado momento da história. Mas há neste incomodo a curiosidade, estar incomodado com as dificuldades encontradas é também experimentar o curioso, a inquietação, a “liberdade da leitura está em ver o que não foi visto nem previsto. E em dizê-lo. Mas para que essa liberdade seja possível, é preciso entregar-se ao texto, deixar-se inquietar por ele, e perder-se nele” (LARROSA, 2003, p.145);

“Era bem mais gostoso lá em casa”, pensou, “quando não se ficava crescendo e diminuindo e recebendo ordens de ratos e coelhos. Eu quase preferia não ter entrado naquela toca de coelho... e no entanto... e no entanto... Esse tipo de vida é tão curioso, sabe? Eu fico pensando: o que será

que aconteceu comigo? Quando lia contos de fada, eu achava que aquele tipo de coisa nunca acontecia, mas agora... Eis-me aqui bem no meio de um deles! Eu tenho absoluta certeza de que deve existir um livro escrito sobre mim. E quando crescer, vou escrever um...” (CARROL, 2009b, p.45)

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modificamos. Assim como não há uma maneira de Alice viver o País das Maravilhas sem se transformar, não há uma maneira de se sair de uma leitura do mesmo jeito que era quando lá entrou. Considerando esse aspecto, Certeau (1996) expõe:

Análises recentes mostram que “toda leitura modifica o seu objeto”, que (já dizia Borges) “uma literatura difere de outra menos pelo texto que pela maneira como é lida”, e que enfim um sistema de signos verbais ou icônicos é uma reserva de formas que esperam do leitor o seu sentido. Se portanto “o livro é um efeito (uma construção) do leitor”, deve-se considerar a operação deste último como uma espécie de lectio, produção própria do “leitor”. (CERTEAU, 1996, p.264)

Assim como o leitor dá o sentido ao texto, Alice dá o sentido aos acontecimentos inusitados desse mundo novo, “como se vê, tantas coisas extraordinárias vinham se passando, que Alice começou a pensar: muito pouca coisa era realmente impossível” (CARROL, 2009b, p.16). Passa-lhe a ser comum conversar com os animais e obter uma resposta, bem como, se apropriar do que a principio a incomodava, como a mudança de seu tamanho; Alice dá sentido e ganha sentido nesse mundo, permitindo-se experienciar o novo naquilo que já lhe era conhecido. Há nesse caminho da aventura uma relação com a loucura.

– Que tipo de gente vive por aqui?

Naquela direção – disse o Gato, apontando com a pata direita – mora um Chapeleiro e naquela direção fez ele, apontando com a outra pata – vive uma Lebre Aloprada. Visite qualquer um deles, tanto faz. Ambos são loucos. – Mas eu não quero ir parar no meio de gente maluca – observou Alice. – Ah, mas não adianta nada você querer ou não – disse o Gato. – Nós todos somos loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca.

– E como é que você sabe que eu sou louca? – perguntou Alice.

– Bem, deve ser – disse o Gato – ou então você não teria vindo parar aqui. (CARROL, 2009b, p.75)

O que parece “normal” no contexto da história, nos parece “loucura”, a reflexão de Larrosa (2004) em torno do poema de Gozalo Rojas, “escrito com L”, onde associa o L da leitura com o L da loucura, nos ajuda a pensar nesta relação loucura-leitura.

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Com o sentido que dá a esse lugar, com a inocência de sua imaginação, Alice passa a fazer parte do País das Maravilhas, apropria-se desse mundo a partir da leitura que faz dele, e se aproveita do extraordinário que lhe passa a ser comum.

[...] ela notou que uma das árvores tinha uma porta que dava para o seu interior.

“Que coisa mais estranha!”, pensou. “Mas tudo está tão curioso hoje... Acho que devo entrar agora mesmo.” E entrou.

Uma vez mais, ela se viu na sala comprida, junto da mesinha de vidro. – Mito bem, agora e já sei o que devo fazer – falou consigo.

Começou pegando a pequenina chave dourada e abrindo a porta que dava para o jardim. Feito isso, pôs-se a mordiscar o cogumelo (ainda tinha uns pedacinhos dele no bolso), até ficar com uns trinta centímetros de altura. Desse modo, ela pôde atravessar a portinha estreita e até que enfim: ela entrou no jardim maravilhoso. (CARROL, 2009b, p.89)

Alice teve que caminhar bastante por esse lugar misterioso para que passasse a ser conhecido, mas ainda assim não se trata da mesma situação, ela retornou à sala comprida, e embora seja o mesmo lugar, o momento é outro. Com a leitura acontece o mesmo, pode-se ler um mesmo livro diversas vezes, mas sempre será uma leitura diferente, mesmo conhecendo o que diz, a apropriação do que diz é nova, pois “ler é recolher o que se vem dizendo para que se continue dizendo outra vez (que é outra vez a mesma e cada vez outra vez) como sempre se disse e como nunca se disse, numa repetição que é diferença e numa diferença que é repetição.” (LARROSA, 2003, p. 141)

Há, ainda, no caminho de Alice, o encontro com a Rainha de Copas e o reencontro com algumas das criaturas que conheceu no decorrer da história. A aventura da menina chega então ao último capítulo do livro, onde Alice é convocada a fazer um depoimento no julgamento sobre o roubo de tortas, neste ponto retomo o inicio deste texto, onde o Coelho pergunta ao rei por onde começar, e volto ao fim, onde Alice desperta de seu sonho.

Esse fim não representa o final dessa aventura; Alice conta para sua irmã toda a experiência vivenciada nesse País das Maravilhas, o que faz o pensamento da irmã buscar esse lugar,

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(18)

[ ENTRETEXTOS

um

]

Cada dia lemos, às vezes falamos de nossas leituras e das leituras dos outros, todos nós sabemos ler, habitualmente usamos com plena normalidade e competência a palavra ler... mas talvez ainda não sabemos o que é ler e como tem lugar a leitura.

(LARROSA, 2004, p. 18)

De leituras

De sonho

De caminhos que se produzem e me produzem

leitora.

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LEITURA II

Ler

Alice

e conhecer

Alice...

... o longo rabo de uma história3em um breve contexto

Para que pudessem chegar à nossas mãos, os livros de Alice, a menina teve que realizar uma longa caminhada. Ler Alice, e somente lê-la, tratava-se da proposta deste estudo, entretanto, senti a necessidade de conhecê-la um pouco mais para poder re-lê-la, e propô-la a outros leitores.

Publicada pela primeira vez em 1865 com o título Alice’s Adventure in Wonderland, a história da menina Alice pelo País das Maravilhas foi criada por Lewis Carroll, pseudônimo de Charles Lutwidge Dodgson, nascido em 1832, na cidade de Daresbury, condado de Cheshire, Inglaterra; viveu até 1898, falecendo em Guildford, no sul da Inglaterra.

Carroll estudou na Universidade de Oxford, onde, posteriormente, tornou-se professor de Matemática. Nesse local conheceu o reverendo Henry Liddell e, consequente, a menina Alice Liddell, sua segunda filha, à época com 10 anos de idade, com quem iniciou uma profunda amizade. A menina Alice do conto fantástico retrata, de fato, uma Alice real; a história da menina que caminha pelo País das Maravilhas foi criada por Carroll durante um passeio de barco com Alice e suas irmãs, pelo rio Tâmisa, no ano de 1862, em um dia que ficou conhecido como a “tarde dourada”.4

Considero ser necessário destacar, mesmo que brevemente, o contexto histórico em que o livro foi escrito, visto a sua importância para o entendimento de algumas situações apresentadas na história, o qual é caracterizado como

um período de grandes avanços nos campos científicos e tecnológicos, bem como do surgimento de diferentes formas de pensamento filosófico, como o positivismo e o evolucionismo, ao mesmo tempo em que é uma época de moralidade rígida, puritana, que traçou um comportamento social marcado pelo radicalismo. (BRITO, [21-?], não numerada)

A obra de Carroll é produzida em meio ao reinado da Rainha Vitória – período conhecido como Era Vitoriana – uma época em que a literatura, especialmente a voltada ao público infantil, possuía uma “função moralizante e pedagógica” (BRITO, [21-?], não

3 (CARROLL, 1999, p. 38). Referência ao Título Uma corrida eleitoral e o longo rabo de uma história, Capítulo

III, em Alice no País das Maravilhas; tradução de Isabel de Lorenzo.

(20)

numerada), marcada pelo “conservadorismo cultural e moral puritana”, onde “não se toleravam desvios do comportamento orientado pelas rotinas metódicas, pela onipresença do planejamento racional, pela aplicação incansável ao trabalho e pelas mais rigorosas normas de conduta e virtude” (CARROLL, 2009b, p. 152). Tais características afastam-se dos propósitos de Carrol, que, em seu texto, utiliza-se do maravilhoso e do nonsense para, de maneira inventiva e enigmática, colocar “de ponta-cabeça a própria cultura vitoriana, expondo o mal estar, a impostura e esterilidade de uma sociedade fechada e repressiva” como nos diz Sevcenko, tradutor desta edição referenciada. (CARROLL, 2009b, p. 152).

A História da Falsa Tartaruga5: Traduções de Alice...

E a moral disso é: “Seja como pareceria ser”. Ou, se você preferir isso dito de uma maneira mais simples: “Nunca se imagine como não sendo outra coisa do que aquilo que poderia parecer aos outros que aquilo que você foi ou poderia ter sido não fosse outra coisa do que você poderia ter sido parecia a eles ser outra coisa”. (CARROL, 2009b, p. 107)

A obra Alice no País das Maravilhas, além de servir de objeto ou tema de diversificados estudos, teve seu texto traduzido para diversos idiomas. No Brasil, essa tradução é apresentada em diferentes versões e por diferentes tradutores; assim, para a realização deste trabalho, considerei ser necessário fazer um levantamento preliminar das edições a que, como leitores, temos acesso, a fim de tomar conhecimento do conteúdo – ou da escrita – apresentado em cada uma, para, dessa forma, poder selecionar a que melhor se adequasse ao propósito do estudo pretendido.

Dentre as edições em língua portuguesa disponibilizadas aos leitores brasileiros, pode-se perceber uma variedade de versões e adaptações e isso, pode-segundo Amorim (2005, p.126), deve-se ao fato de a obra ser “tradicionalmente considerada „intraduzível‟, em virtude de trocadilhos e referências culturais e intertextuais do texto-fonte”. Essa questão é confirmada por Gardner, nesta edição referenciada, ao destacar que “muitos personagens e episódios em

Alice são resultados direto de trocadilhos e outros jogos lingüísticos, e teriam assumido formas completamente diversas se Carroll estivesse escrevendo, digamos, em francês”. (CARROL, 2002, p. viii)

5 (CARROLL, 2009b, p. 105). Título do Capítulo IX em Alice no País das Maravilhas; tradução de Nicolau

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O estudo desenvolvido por Pereira (2002) em torno das traduções dessa obra indica que o próprio autor, Lewis Carroll, experimentou essa dificuldade ao tentar contá-la em outros idiomas, como o francês e o alemão, principalmente no que se refere aos jogos de palavras à composição dos poemas, os quais só possuem verdadeiro sentido na língua original, ou seja, no inglês. De acordo com este autor, editadas e publicadas no ano de 1869, estas foram as primeiras traduções da obra de que se tem conhecimento.

Ainda segundo a autora, no Brasil, a história chegou no ano de 1931, pela tradução e adaptação de Monteiro Lobato, que foi publicada pela Companhia Editora Nacional. Nesta edição, bem como em algumas posteriores, há um prefácio escrito por Lobato onde este narra as dificuldades em se traduzir a obra para o português.

Traduzir é sempre difícil. Traduzir uma obra como a de Lewis Carrol, mais que difícil, é dificílimo. Trata-se do sonho duma menina travessa – sonho em inglês, de coisas inglesas, com palavras, referências, citações, alusões, humorismo, trocadilhos, tudo inglês, isto é, especial, feito exclusivamente para a mentalidade dos inglesinhos. (CARROLL, 1960, p.8)6

Como se pode observar, os trocadilhos, “fenômenos textuais, caracterizados pela combinação, em uma estrutura linguística (fonológica, grafológica, sintática, morfológica ou lexical), de palavras com forma semelhante e significados diferentes” (PEREIRA, 2002, p.70), ou seja, a brincadeira com a escrita, sonoridade, e o sentido das palavras presentes no texto original de Alice, em inglês, e os poemas, que são “em sua maioria [...] paródias de poemas e canções populares muito conhecidos pelos leitores contemporâneos de Carroll” (CARROLL, 2002, p.22), como apontado por Gardner, colocando em questão a intertextualidade presente na obra, que, segundo Amorim (2005), não pode ser traduzida, são os principais obstáculos encontrados à tradução de Alice, e que, também impede que a obra seja lida em outro idioma, cultura e/ou época, com o mesmo propósito sugerido pelo autor ou com o mesmo entendimento do leitor inglês da Era Vitoriana.

Neste sentido, o tradutor de Alice depara-se com um grande desafio, conforme destaca Faria (1987, p. 793 apud Amorim, 2005, p. 128), onde este

[...] se vê diante de um paradoxo e de um impasse. Um paradoxo, porque ele traduz o texto, mas não traduz o intertexto; um impasse, porque, para os teóricos que pretendem que se deve adaptar os aspectos culturais do texto da língua-fonte ao contexto cultural do texto da língua-meta – deixando aí, não as marcas do passado do contexto cultural da língua-fonte, mas as marcas do

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passado do contexto cultural da língua-meta – traduzir o intertexto seria afastar-se tanto do texto original, que o texto traduzido não seria mais uma tradução criativa, seria outra forma de intertextualidade ou, mais precisamente, uma imitação.

Partindo dessa problemática, das dificuldades em situar o leitor brasileiro nas páginas do livro de Alice, bem como das diversas edições encontradas no Brasil, Amorim (2005) apresenta uma importante discussão acerca do sentido do termo adaptação. Segundo este autor

A noção de adaptação, no contexto dessa obra teria, pelo menos, dois significados. Uma vez que a obra é tida como “intraduzível”, adaptá-la significaria realizar uma simplificação dela, “contornando”, como afirma Uchoa Leite (1980, p.6), os problemas de linguagem e tornando a história acessível a determinados públicos, como o infantil – nesse caso, o termo adaptação seria sinônimo de condenação. Curiosamente, porém, a adaptação seria o que tornaria “traduzível” o texto original, “recriando”, para utilizar o termo de Haroldo de Campos, situações e trocadilhos que reestabeleceriam efeitos de sentido numa relação de reciprocidade com o texto-fonte. (AMORIM, 2005, p. 126)

Desse modo, a adaptação do texto poderia trazer ao leitor brasileiro alguns dos sentidos que Carroll procurou provocar em sua obra original, mas, em contrapartida, transforma o texto, como se o tornasse um texto novo, um texto outro, ou mesmo, uma imitação. Entretanto, a discussão entre tradução e adaptação prossegue sem se chegar a uma conclusão, não existindo uma “resposta econômica que seja capaz de resumir toda a complexidade de que se constituem o fenômeno tradutório e sua relação com outras formas de interpretação textual, como a adaptação” (AMORIM, 2005, p. 230), sendo destacada a questão de apropriação do texto feita pelo tradutor enquanto leitor.

Além desta apropriação, há de se considerar em uma tradução (ou adaptação), os aspectos que vão além do texto, “como a época em que é realizada a tradução, o público a quem é dirigida, os editores e as necessidades de mercado e a ideologia do tradutor” (PEREIRA, 2002, p. 72), que, de uma forma ou de outra, influenciam a escrita (tradução/ adaptação), deixando suas marcas e fazendo com que se acabe apresentando uma edição diferente da outra, indicando que “[...] a passagem de uma forma de edição para outra direciona, ao mesmo tempo, transformações no texto e a condição de um novo público” (CHARTIER, 1994, p.19).

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Ao apresentar a obra ao público brasileiro, seus tradutores preocuparam-se, em diferentes graus, em criar uma identificação na comunidade interpretativa por eles idealizada, por vezes ambientando a personagem principal em um contexto mais brasileiro. Esse tipo de ambientação do texto parece refletir o cuidado do tradutor-autor com o nível interpessoal de sua produção – o público idealizado a que se dirige – e seu julgamento do que é ou não necessário para os propósitos de sua tradução. (WESTPHALEN et al., 2001, p.121, 122)

A partir destas considerações, e verificando, além das diferenças apresentadas na estrutura das edições, bem como do texto, pode-se compreender que cada tradutor de Alice

utilizou-se de estratégias e propósitos distintos, em conformidade com a época em que foi realizada a tradução, bem como ao público a que se destinava, visto que, este público é, na maioria das vezes, determinado pelo momento histórico vivenciado.

Os estudos acerca das diferenças entre as traduções auxiliaram no levantamento de algumas das versões disponibilizadas em língua portuguesa, abrindo um leque de possibilidades de entendimentos de e sobre elas.

Levantamento das Traduções de Alice

Na busca da edição a ser lida com os alunos da Educação de Jovens e Adultos, preocupei-me em escolher uma tradução que apresentasse o texto integral, fugindo de “condensações” e de textos traduzidos com foco no público infantil. Os estudos de Amorim (2005), Pereira (2002), e Westphalen (et al., 2001), apresentando as principais características de determinadas edições, ofereceram as primeiras ferramentas para a seleção daquela que seria utilizada para o desenvolvimento da leitura junto aos alunos, visto possibilitarem um conhecimento prévio de cada edição.

A partir deste levantamento, busquei o contato com o livro impresso em diferentes edições, primeiramente, por aqueles pertencentes à biblioteca pessoal e, posteriormente, pela busca em bibliotecas públicas localizadas no município de Rio Claro/SP, o que permitiu acompanhar as edições disponibilizadas para o acesso da população.

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Lobato, Nicolau Sevcenko e Maria Luiza X. de A. Borges, terão como suporte as informações oferecidas por estudos sobre a obra realizados anteriormente.

Alice por Sebastião Uchoa Leite

Conforme já explicitado, não foi possível o acesso ao texto apresentado por este tradutor, assim, as considerações são apresentadas a partir de estudos focando as diferenças que permeiam as traduções de Alice. A tradução de Uchoa Leite é apresentada como sendo direcionada ao público adulto, mais especificamente, conforme diz Pereira (2002, p.78), a um público “mais maduro, com maior acesso à cultura e maior poder aquisitivo”. Amorim (2005) destaca um trecho da introdução desta tradução, escrita pelo próprio tradutor, onde este ressalta a visão existente sobre a obra de Carroll e expõe sua opinião contestando a ideia de ser uma obra para o público infantil.

Lewis Carroll carrega até hoje o fardo de ser considerado autor de literatura infantil. A maioria só ouviu falar de Alice no país das Maravilhas, que vagamente leu na infância em adaptações. ... Que os dois livros mais celebrados de Carroll, Alice... e Through the looking-glass, sejam livros para crianças, é verdade muito relativa. Na época talvez. Hoje, mais de um século depois que foram publicados, são cada vez mais leitura para adultos. (CARROL, 1980, p.7 apud AMORIM, 2005, p.130)

Importante salientar que Amorim (2005) e Pereira (2002) utilizaram em seus estudos a mesma edição, publicada no ano de 1980 pela editora Summus, sendo que ambos apresentam considerações acerca das características desta edição. Pereira (2002) destaca a maneira pela qual a obra encontra-se organizada. Segundo este autor, podemos encontrar

Além dos dois livros de Alice, a edição traz ainda fotos de Carroll e de Alice Liddell, uma página do manuscrito original com que o autor presenteou a menina em 1864, vários apêndices e ainda um ensaio do tradutor intitulado “O que a Tartaruga disse a Lewis Carrolll”, em que explica, entre outras coisas, o sistema de referências em Alice. (PEREIRA, 2002, p.75-76)

Em Amorim (2005) encontram-se informações sobre as ilustrações presentes nesta edição, “embora não haja nenhuma menção à autoria das ilustrações presentes no livro, são mantidas as mesmas figuras de autoria de Carroll” (AMORIM, 2005, p.131). É importante destacar que antes das edições serem publicadas com as ilustrações de John Tenniel, o “texto-fonte” continha ilustrações feitas pelo autor.

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referentes culturais”, além disso, a autora destaca a preocupação deste tradutor com as “questões literárias e estilísticas”, bem como a “intenção de realizar um trabalho de resgate do contexto em que foi produzido o original.” (PEREIRA, 2002, p. 78)

Alice por Ana Maria Machado

A edição traduzida por Ana Maria Machado, assim como a de Uchoa Leite, será caracterizada a partir das pesquisas desenvolvidas por Amorim (2005) e por Pereira (2002), que utilizaram das publicações da editora Ática, nas edições de 1997 e 1998 respectivamente. Como apresentado pelos autores, se a tradução de Uchoa Leite é considerada como destinada ao público adulto (ou melhor dizendo, acadêmico), a tradução de Ana Maria Machado é voltada ao público infantil.

O livro é apresentado por Pereira (2002) a partir de sua estruturação, indicando que a edição estudada

traz uma Alice com costumes bem brasileiros, adaptada ao nosso cotidiano. Até mesmo as ilustrações, feitas em xilogravuras inspiradas nos cordéis, já lembram as tradições do Brasil. Acompanha a edição um posfácio da tradutora, no qual, além de um ensaio sobre Carroll [...] Ana Maria Machado explica seus procedimentos adotados na tradução e as razões de suas escolhas. (PEREIRA, 2002, p. 76)

As ilustrações dessa edição, conforme destaca Amorim (2005), são de autoria de Jô de Oliveira, sendo essa informação destacada na contracapa do livro.

Amorim (2005) enfatiza também a preocupação de Machado em aproximar o leitor do texto, evidenciado no trecho do posfácio que faz referência, onde a tradutora indica que,

[...] o fundamental foi transmitir a intimidade absoluta com os jogos de linguagem que caracteriza Carroll, a falta de cerimônia dele em brincar com as palavras, como uma criança brinca com a sombra. E respeitar o papel que essa brincadeira desempenha na invenção da história. Então procuramos fazer com que todos os poemas-paródias no texto fossem fáceis de identificar (como eram para o leitor britânico de seu tempo), mesmo sabendo que para isso fosse necessário mudar as referenciais iniciais e aproximá-las do leitor jovem do final deste século XX. (MACHADO, 1997, p.133 apud AMORIM, 2005, p.142)

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[...] o poema do crocodilo, por exemplo, foi traduzido: “Como pode um crocodilo/viver dentro da água fria?” [...]; a quadrilha da lagosta [...] se transforma em marchinha de carnaval: “Ó tartaruga, por que estás tão triste?/ Mas o que houve com o camarão?...” [...], e o poema “You are Old Father William” (Carrol, 1995, p. 34), que Alice recita errado no original vira o poema “A casa” de Vinicius de Moraes, também às avessas: “Era uma escola muito engraçada,/ não tinha livro,/ não tinha nada...” (PEREIRA, 2002, p. 77)

Conforme já mencionado, evidencia-se a preocupação da tradutora com a identificação do leitor com a obra; segundo Pereira (2002, p. 77), “para a tradutora [...] o contato verdadeiro com a cultura se dá quando o leitor é capaz [...] de compreender as alusões de um jogo e divertir-se com ele, sendo isso somente possível se puder reconhecê-lo”.

Alice por Fernanda Lopes de Almeida

A tradução de Fernanda Lopes de Almeida é apresentada somente por Amorim (2005), sendo utilizada a edição de 2001, publicada pela editora Ática. Segundo o autor, o texto apresenta-se como traduzido a partir de uma reescritura francesa. Em relação ao público a que se destina, ainda segundo o autor, não há uma informação explicita sobre isso, visto que o livro não traz introdução ou outros textos além da narrativa da história, é “apresentada no catálogo infantil da editora como pertencente à série Clara Luz, voltada para crianças a partir da 2ª. série” (AMORIM, 2005, p. 144), assim, subentende-se que seja para o público infantil.

Sobre as ilustrações nesta edição, observa-se um destaque em relação ao próprio texto, sendo evidenciada por Amorim (2002) a identificação na capa do nome do tradutor, Nicolas Guilbert, mas sem nenhuma outra referência ao tradutor.

Alice por Rosaura Eichenberg

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Alice no País das Maravilhas

Tradução: Rosaura Eichenberg Ano de publicação: 2003

Esta Reimpressão: agosto de 2007 Coleção L&PM POCKET

Editora: L&PM

Local de publicação: Porto Alegre Ilustração: John Tenniel

Sobre esta edição:

Com 172 páginas, o livro se apresenta como uma edição de bolso. Além do poema sobre a tarde dourada, escrito por Carroll, a edição conta com a tradução de dois prefácios produzidos pelo autor, um destinado à edição de 1886 e outro à de 1897.

Alice por Monteiro Lobato

Teve-se contato com a tradução de Monteiro Lobato em três edições diferentes, uma publicada pela Abril Cultural em 1972, e duas pela Editora Brasiliense, sendo editadas nos anos de 1960 e 1978 respectivamente, sendo a primeira apresentada nas pesquisas de Pereira (2002) e Westphalen (et al., 2001, p.142), que foram de grande auxílio para o conhecimento sobre as estratégias utilizadas pelo tradutor, bem como das questões históricas e culturais de sua época. Com as duas últimas, foi possível o contato direto com o livro impresso, assim, serão destacadas algumas informações sobre a estrutura do livro.

Conforme apresentado anteriormente, a tradução de Lobato foi a primeira a chegar ao Brasil, no ano de 1931. Seu texto é voltado ao público infantil, mais especificamente, às crianças brasileiras de sua época, assim, os “traços característicos do cotidiano da Inglaterra vitoriana” explorados por Carroll, são transformados por Lobato para que “se adapte à realidade e à rotina da sociedade brasileira de sua época” (WESTPHALEN et al. 2001, p.137).

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Revolução de 1930 e o início do governo Getúlio Vargas, houve grande expansão na produção e comércio editoriais. Vargas promoveu a reforma do ensino básico – o que aumentou a demanda por publicações didáticas – e criou o Instituto Nacional do Livro, facilitando a distribuição de livros a bibliotecas e a reedição de clássicos brasileiros. E a desvalorização da moeda brasileira, o mil-réis, ocasionou o aumento dos livros importados, o que fomentou a publicação de traduções e o declínio do livro francês. (PEREIRA, 2002, p 78)

Além destas questões, é importante ressaltar que o período é marcado pelo nacionalismo e pela literatura modernista, a qual busca “o uso da forma simples e despojada de escrever” (PEREIRA, 2002, p. 78). A opinião de Lobato de como deveriam ser os livros infantis, vai ao encontro das características da época, evitando as formalidades da língua escrita, e o “emprego de elementos estilísticos, o que em sua opinião tornava o livro desinteressante para a criança, a quem julgava alheia aos manejos lingüísticos” (PEREIRA, 2002, p. 75).

Partindo dessas características, podemos compreender os propósitos de Lobato em sua tradução, sendo o texto editado enquanto é traduzido. O tradutor corta diversos trechos da obra, observando-se uma despreocupação em se manter os trocadilhos, traduzindo-os literalmente, sem as brincadeiras com as palavras apresentadas por Carroll no original, ou são totalmente excluídos juntamente com os trechos que os contextualizam.

Os poemas também são retirados, permanecendo somente trechos de dois desses poemas adaptados, onde o tradutor, além de escolher poemas populares, “se imbui de um propósito nacionalista” (WESTPHALEN et al., 2001, p.140), sendo “Canção do Exílio” um dos poemas utilizados por Lobato. O poema inicial de Carroll sobre a “tarde dourada” também não foi encontrado nas traduções de Lobato.

Encontra-se nessa tradução uma “Alice brasileira”, bem como as características presentes nas obras do autor que são apresentadas por Lobato logo no prefácio do livro, onde explica que

As crianças vão ler a história de Alice por Artes de Narizinho. Tanto insistiu a menina em vê-la em português (Narizinho ainda não sabe inglês), que não houve remédio, apesar de ser, como dissemos, uma obra intraduzível. [...] Dá uma idéia, embora “muito pálida”, como diz a Emilia... (Lobato in CARROLL, 1960, p.9)

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são bastante limitadas, sendo apresentada por Pereira (2002, p.74), como “parte da coleção „Clássicos da Literatura Juvenil‟ que apresenta, em capa dura, as duas Alice numa mesma edição, com ilustrações de Lila Figueiredo”.

As edições publicadas pela Brasiliense serão contextualizadas tendo com base a observação por meio do contato do livro impresso.

Alice no País das Maravilhas

Tradução e adaptação de Monteiro Lobato Ano da publicação: 1960

9.ª edição

Editora: Brasiliense

Local de publicação: São Paulo

Ilustração: Não há informações sobre o ilustrador.

Sobre esta edição:

A edição apresenta capa dura, sendo composta por 143 páginas, contando ainda, com o prefácio escrito por Monteiro Lobato em 1931.

Alice no País das Maravilhas

Tradução e adaptação de Monteiro Lobato Ano de publicação: 1978

13.ª edição

Editora: Brasiliense

Local de publicação: São Paulo

Ilustração: Não há informações sobre o ilustrador.

Sobre esta edição:

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Alice no País das Maravilhas

Tradução de Monteiro Lobato Ano da publicação: 2005

Editora: Companhia Editora Nacional Local de publicação: São Paulo Ilustração: Darcy Penteado

Sobre esta edição:

Indicada como uma edição comemorativa aos oitenta anos de fundação da Companhia Editora Nacional, esta edição encontra-se em capa dura composta por 111 páginas. O livro traz uma introdução escrita por Nelly Novaes Coelho, que apresenta Alice ao leitor, junto ao tradutor e ao ilustrador, justificando a escolha destes para a edição, e segue pelo prefácio escrito por Lobato em 1931.

Alice por Nicolau Sevcenko

O texto é apresentado com uma linguagem simples, de fácil compreensão a qualquer leitor. Nesta tradução verifica-se a presença de todos os poemas, bem como a preocupação do tradutor em manter os trocadilhos de Carroll, buscando palavras no português que conservem o sentido original do texto e ao mesmo tempo o jogo com as palavras.

A edição utilizada para o estudo de Amorim (2005), publicada pela editora Scipione, faz parte das adaptações da série Reencontro, “voltadas para o mercado editorial de literatura infanto-juvenil” (AMORIM, 2005, p. 134), sendo destacado pelo autor a presença do termo “adaptação e tradução” na capa do livro.

Embora seja indicada como tradução e adaptação, segundo afirma Amorim (2005), não se trata de uma condensação do texto, sendo esta, uma noção “pouco consistente, já que não há uma alteração sistemática do modo de organização sistemática do modo de organização da obra original” (p. 136). O autor considera ainda que

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deve permanecer parcialmente silenciada (já que o termo “tradução” faz-se presente na folha de rosto ao lado de “adaptação”), para que a “voz do contador” possa insurgir na sua “visibilidade” condutora. (AMORIM, 2005, p. 175)

As edições apresentadas em sequência estão caracterizadas pelas informações contidas no próprio livro. A primeira trata-se da edição da série Reencontro da Scipione, objeto de estudo de Amorim (2005), a segunda, traz a tradução de Nicolau Sevcenko em uma edição mais recente, de 2009, publicada pela Cosac Naify.

Alice no País das Maravilhas

Tradução e Adaptação de Nicolau Sevcenko Ano da publicação: 1988

3.ª edição

Editora: Scipione – Série Reencontro Local de publicação: São Paulo Ilustração: Célia Seybold

Sobre esta edição:

A edição é composta por 126 páginas e não possui sumário. Nas páginas que precedem a história, há uma apresentação sobre Lewis Carroll e uma foto de sua autoria, retratando Alice Liddell. No final do livro, encontra-se uma breve apresentação sobre o tradutor, Nicolau Sevcenko.

O livro contém a informação de que os poemas das páginas 7 e 8, 43 e 44, 97 e 98, 103 e 104, 118 e 119, foram traduzidos por Geir Campos.

Alice no País das Maravilhas

Tradução: Nicolau Sevcenko Ano de publicação: 2009 3.ª reimpressão - 2010 Editora: Cosac Naify

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Sobre esta edição:

Com 168 páginas, o livro conta com 31 ilustrações. A edição apresenta-se com o sumário no início, e possui a tradução do poema de Carroll sobre a “tarde dourada” em que foi criada a história.

No livro há um interessante posfácio escrito pelo tradutor, uma foto de Alice Liddell (embora não haja referência, tem-se conhecimento de que ela é a modelo, cuja autoria é de Lewis Carroll). Segue-se com uma foto de Lewis Carroll e uma pequena apresentação sobre ele, bem como são apresentados o tradutor e o ilustrador. A edição é finalizado por um levantamento bibliográfico, contando com obras de Lewis Carroll, biografias deste, estudos, links, principais filmes e uma lista com alguns ilustradores de Alice no País das Maravilhas.

As ilustrações desta edição tem bastante destaque e apresentam-se completamente diferente de todas as edições levantadas. Trata-se de maquetes fotografadas confeccionadas pelo ilustrador com cartas de baralho, as quais, como referenciado no final dessa edição, “pertencem à coleção particular de Luiz Zerbini, formada por baralhos do mundo inteiro” (CARROLL, 2009, p. 160).

Alice por Maria Luiza X. de A. Borges

A tradução de Mariz Luiza de A. Borges é encontrada em uma edição comentada, publicada em 2002, pela Jorge Zahar Editor. O texto é acompanhado por diversas notas explicativas escritas por Martin Gardner (e também traduzidas por Borges). A tradução apresenta o texto completo, verificando-se a utilização de todos os poemas e a preocupação da tradutora em manter os trocadilhos.

Em edição posterior, publicada e também distribuída pela Editora Zahar no ano de 2009, a tradução de Borges é publicada sem as notas explicativas de Gardner.

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Alice: Edição comentada

Título original: The Annoted Alice: The Definitive Edition

Escrito por Martin Gardner

Tradução autorizada da edição norte-americana publicada em 2000 por W. W. Norton, de Nova York.

Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges Ano de publicação: 2002

Local de publicação: Rio de Janeiro Editora: Jorge Zahar Editor

Ilustrações: John Tenniel (ilustrações originais)

Sobre esta edição:

O livro apresenta as duas histórias de Alice com notas que comentam e buscam esclarecer algumas passagens da obra de Carroll. Há nele ainda as introduções das duas edições comentadas publicadas anteriormente, sob o título de Annotated Alice, de 1960, e

More Annotated Alice, de 1990, além da introdução desta ultima edição.

Na introdução de seu primeiro livro, indicada nesta edição, Gardner justifica seu trabalho, considerando que “há algo de insensato numa Alice comentada [...] mas nenhuma piada tem graça a menos que se possa entendê-la, e às vezes o sentido tem de ser explicado”, segundo Gardner. (CARROLL, 2002, p. vii).

Além dos comentários explicativos, consta nesta edição um capítulo inédito que pertenceria à história Através do Espelho e o que Alice encontrou por lá, chamado “O Marimbondo de Peruca”.

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Aventuras de Alice no País das Maravilhas; Através do Espelho e o que Alice encontrou por lá

Tradução: Maria Luiza X. de A. Borges Ano de publicação: 2009

Local de publicação: Rio de Janeiro Editora: Jorge Zahar Editor

Ilustrações: John Tenniel (ilustrações originais)

Sobre esta edição:

Esta edição cuida da tradução dos dois livros de Carroll. Composta por 317 páginas, sendo a última página reservada a uma breve apresentação do autor e do ilustrador. Encontra-se um sumário geral do livro, e os correspondentes a cada história.

Outras edições

As edições apresentadas neste tópico foram localizadas nas bibliotecas, não se utilizando estudos que analisam as questões referentes às estratégias de tradução, desse modo, encontram-se apresentadas as edições a partir das informações nelas encontradas.

Oliveira Ribeiro Netto

Alice no País das Maravilhas

Tradução de Oliveira Ribeiro Netto Editora: Editora do Brasil S. A. Local de publicação: São Paulo

Sobre esta edição:

O livro não apresenta muitas informações, não sendo identificado o ano de publicação nem a autoria das ilustrações. Com capa dura, a edição é composta por 110 páginas e poucas ilustrações (foi encontrado no livro apenas oito ilustrações).

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As aventuras de Alice No País das Maravilhas

Condensado e adaptado por Tony Ross Tradução de Ricardo Gouveia

Ano de publicação: 2002 1ª edição

Coleção literatura em minha casa; volume 4 – Clássico universal. Editora: Martins Fontes

Local de publicação: São Paulo Ilustrações: Alexandre Camanho

Sobre esta edição:

Com 96 páginas, a edição é encaminhada e distribuída gratuitamente pelo Ministério da Educação, aos alunos da rede pública de ensino. Na parte interna da capa, encontra-se um pequeno texto destinado ao aluno, explicando sobre a coleção e sua importância. O livro apresenta ainda um texto intitulado “Por que ler um clássico”, e faz em seguida uma breve apresentação sobre o autor e a obra, sendo de autoria de Elias José. Ao final desta edição encontra-se um glossário. Não consta o poema de introdução de Carroll sobre a “tarde dourada”.

Márcia Feriotti Meira

Alice no País das Maravilhas

Tradução: Márcia Feriotti Meira

Ano de publicação: 2009 – 2.ª reimpressão Coleção a obra-prima de cada autor

Editora: Martin Claret

Local de publicação: São Paulo Ilustração: John Tenniel (originais)

Sobre esta edição:

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a “tarde dourada”, complementado por uma nota explicativa; há também algumas notas explicativas durante o texto. Após a história, o livro conta com dados bibliográficos do autor e do ilustrador. O sumário localiza-se no final do livro.

Isabel de Lorenzo

Alice no País das Maravilhas

Tradução: Isabel de Lorenzo Ano de publicação: 1999

Editora: Editora Sol (Colégio Objetivo) Local de publicação: São Paulo

Ilustração: Peter Newell

Sobre esta edição:

A edição é destinada aos alunos do Colégio Objetivo, segundo informações disponíveis na apresentação do livro, e dirige-se ao público jovem. Com 152 páginas, o livro conta com uma apresentação sobre a edição e uma introdução que contextualiza a obra, contendo informações sobre a vida e obra de Lewis Carrol, e sobre o livro Alice no País das Maravilhas.

Encontra-se nessa edição o poema introdutório de Carroll, com nota de rodapé explicando o que seria a tarde dourada. Além desta, há outras notas de rodapé no decorrer da história.

No livro, encontram-se também informações sobre a autoria dos textos que o compõe, como sendo de Isabel de Lorenzo a tradução, introdução e notas, de Nelson Ascher a tradução dos poemas e de Francisco Achcar a apresentação.

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Sobre estas ilustrações, Gardner, na edição comentada de Alice, indica que utilizou destas ilustrações na continuação de seu livro, o More Annoted Alice (1990), apresentando o trabalho de Newell em sua introdução, indicando que

Peter Newell não foi o primeiro artista gráfico a ilustrar Alice após Tenniel, mas foi o primeiro a fazê-lo de maneira memorável. Uma edição do primeiro livro de Alice com 40 pranchas de Newell foi publicada pela Harper and Brothers em 1901, seguida pelo segundo livro de Alice, novamente com 40 pranchas, em 1902. (GARDNER in CARROLL, 2002, p. xviii)

Do texto a se compartilhar...

Desenhada por Tenniel com casco de tartaruga, cabeça, patas traseiras e rabo de bezerro, a Falsa Tartaruga, apresentada pela Rainha de Copas à menina Alice no Capítulo IX do livro como “aquilo de que é feita a Falsa Sopa de Tartaruga” (CARROL, 2009b, p.109); é representada neste momento do estudo como as traduções da história de Alice.

Trata-se de uma tartaruga, por ser uma tartaruga e ter um casco de tartaruga, mas não é uma tartaruga, pois o restante do corpo é de um bezerro; trata-se então de a história Alice no País das Maravilhas ser a história da travessia de uma menina por um mundo fantástico, mas não é a mesma Alice..., por estar traduzida, em sua impossível tradução, perdendo assim sua peculiaridade e propósito originais. É uma adaptação de Alice... como é a Falsa Tartaruga, uma adaptação.

E neste deparar com a Falsa Tartaruga, fez-se necessário estudá-la para escolher a tartaruga falsa que produzisse ainda uma boa sopa de falsa tartaruga. Fez-se necessário conhecer a versões brasileiras de Alice... para que pudesse encontrar a que o que seria a escolha a mais adequada para dar a ler.

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[ ENTRETEXTOS

dois

]

[...] Essa responsabilidade que se chama respeito, atenção, delicadeza ou cuidado, exige-lhe desaparecer ele mesmo das palavras que dá a ler para dá-las a ler em sua máxima pureza. E o mestre de leitura se faz responsável também dos novos leitores que deveriam produzir novas leituras. Por isso também tem de desaparecer na leitura do que dá a ler para que seja uma leitura nova e imprevisível.

(LARROSA, 2004, p. 26)

Tradução

Leituras (re)criadas

Da mesma forma que aquele que remete um presente ou uma carta, o professor sempre está um pouco preocupado para saber se o seu presente será aceito, se sua carta será bem recebida e merecerá alguma resposta. Uma vez que só se presenteia o que se ama, o professor gostaria que seu amor fosse também amado por aqueles aos quais ele o remete. E uma vez que a carta é como parte de nós mesmos que remetemos aos que amamos, esperando resposta, o professor gostaria que essa parte de si mesmo, que dá a ler, também despertasse o amor do que os receberão e suscitasse suas respostas.

(LARROSA, 2003, p. 140)

A seguir, a página das imagens...

do dito, do escrito, do pensado...

(39)

Caderno de leituras

Alguns Registros...

Registro livre – Caderno de leituras

Paulo, Abril/2013, folha I

Registro livre – Caderno de leituras

Paulo, Abril/2013, folha II

Registro livre – Caderno de leituras

Ana, Abril/2013, folha I

Registro livre – Caderno de leituras

(40)

(RE)LEITURAS

Um chá de loucos

7

:

Leituras compartilhadas

Registros outros

A entrada pela Toca do Coelho...

Entrar no mundo de Alice por meio da leitura compartilhada exigia o encontro com pessoas que estivessem dispostas a me acompanhar por um caminho que sabia onde começaria, mas que não tinha ideia de como e aonde chegaria, que estivessem dispostas a seguir os passos de Alice por meio da leitura de sua história. O primeiro passo para que esta caminhada se iniciasse foi buscar a entrada na toca, ou seja, a entrada em uma escola que oferecesse o ensino da modalidade “Educação de Jovens e Adultos” e que se dispusesse a ouvir e aceitar a proposta do trabalho que pretendia. O acolhimento foi encontrado junto a uma Unidade Escolar da Rede Municipal de Rio Claro denominada Escola Municipal “Prof. Sylvio de Araújo”, localizada no bairro São Miguel neste município. A referida escola oferece o ensino em três períodos, sendo que nos dois primeiros, manhã e tarde, recebe crianças do primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental I, atendendo no período noturno os alunos da modalidade Educação de Jovens e Adultos – EJA – das etapas I, Termos I à IV (1ª à 4ª séries) e II (5ª à 8ª séries).

A primeira parte do caminho não foi tarefa difícil. A equipe gestora me recebeu, mostrando-se totalmente aberta à proposta apresentada. No entanto, restava ainda conseguir a aprovação e autorização para desenvolver o trabalho nesta escola junto a Secretaria Municipal de Ensino.

Após atender âs primeiras exigências, voltei à escola para o encontro com aqueles que pretendia ter como companheiros de caminhada literária, os quais foram encontrados em uma sala de EJA I – Termos III e IV (3ª e 4ª séries) que atende a educandos da faixa etária de vinte a quarenta e oito anos.

Neste primeiro dia na escola, inicialmente entrei em contado com a Professora Coordenadora, para quem expliquei a proposta e os detalhes do trabalho que pretendia desenvolver. Após esta conversa, que ocupou o primeiro período da aula, fui encaminhada à professora, para quem expliquei também a proposta, convidando-a a dividir e compartilhar do

7 (CARROL 1999, p. 86). Título do Capítulo VII em Alice no País das Maravilhas; tradução de Isabel de

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meu trabalho. Com o aceite da professora, acompanhei-a, assim como Alice seguiu o coelho branco até a entrada da toca, me dirigindo à sala para conhecer os alunos, apresentar a eles minha proposta e fazer-lhes o convite para me acompanharem na caminhada de leitura do mundo de Alice.

Durante a queda na Toca...

Iniciei a conversa com os alunos explicando as razões que me traziam ali, o trabalho que pretendia realizar e o porquê de sua realização. Em seguida apresentei o livro que gostaria de compartilhar a leitura com eles, fazendo um breve contexto da obra e de suas traduções em nosso idioma. Expus ainda, que esta versão havia sido escolhida devido ao número de exemplares a que tive acesso nas bibliotecas públicas e sebos da cidade. Considero importante destacar essa informação, pois somente um aluno tinha conhecimento sobre essas bibliotecas públicas e sobre a possibilidade de se emprestar livros.

Com o livro e a proposta de leitura apresentados, fiz o convite aos educandos, informando que, se aceito, a leitura seria realizada durante o período de um mês e que eles poderiam decidir a quantidade e duração dos nossos encontros, além de que poderíamos escolher alguns trechos do livro para realizar a leitura. Ressaltei que a participação não era obrigatória, e que eles, mesmo tendo aceitado o convite, tinham total liberdade para deixar de participar a qualquer momento, se assim o quisessem.

Os alunos consideraram interessante a proposta, aceitando compartilhar a leitura da história de Alice. Assim, combinamos que o encontro se iniciaria na semana seguinte.

Expliquei aos alunos que, por se tratar de uma pesquisa, precisaria registrar nossos encontros, solicitando a eles a autorização para utilizar um gravador de voz durante os encontros, o que serviria como suporte para nortear o estudo, não sendo o material divulgado. A quantidade de livros com a mesma edição foi encontrada em número suficiente para que cada aluno pudesse acompanhar a leitura com o livro em mãos. Além dos livros, foi preparado e entregue os alunos um Caderno de leituras, onde poderiam registrar os encontros realizados, o lido, o pensado, o experienciado, da maneira que desejassem; não havendo cobrança de escrita, o material destinava-se ao registro individual da leitura coletiva, realizado se e quando da vontade dos educandos, bem como seriam entregues à mim no final da leitura, somente se desejassem.

Referências

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