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No labirinto das fontes do Hospício Nacional de Alienados.

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Academic year: 2017

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No labirin to das fo n tes do

Ho sp ício Nacio n al d e Alien ad o s

Inside the m aze of sources on the

National Asylum for the Insane

FACCHINETTI, Cristian a et al. No labirin to d as fon tes d o Hosp ício Nacion al d e Alien ad os. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio d e Jan eiro, v.17, su p l.2, d ez. 2010, p .733-768.

Re su m o

Os d ocu m en tos clín icos, p eriód icos, relatórios, leis, d ecretos e im agen s ora ap resen tad os referem -se ao Hosp ício Nacion al d e Alien ad os, d u ran te o p eríod o em q u e Ju lian o Moreira foi seu d iretor, além d e d iretor d a Assistên cia a Alien ad os d o Distrito Fed eral (1903-1930). O m aterial será reu n id o n a Biblioteca Virtu al em Saú d e p ara Am érica Latin a e Caribe – História e Patrim ôn io Cu ltu ral d a Saú d e (com in form ações sobre d iagn ósticos, p acien tes, terap êu ticas e

fu n cion am en to d o Hosp ício Nacion al) em 2011. O con ju n to d e fon tes oferece elem en tos p ara a reflexão sobre a atu ação d e em in en tes p siq u iatras cariocas p eran te a alien ação e a socied ad e brasileira n a Prim eira Rep ú blica, q u an d o a p siq u iatria n acion al se in stitu cion alizava e gan h ava ap oio estatal.

Palavras-ch ave: h istória d a p siq u iatria; Hosp ício Nacion al; fon tes clín icas; fon tes arq u ivísticas; Brasil.

A b st ra ct

The article presents a set of clinical docum ents, periodicals, reports, laws, decrees, and im ages about the National Asylum for the Insane dating from Juliano Moreira’s tenure as its director and as director of Federal District Assistance for the Insane. In 2011, the m aterial will be available at the site of the V irtual Library on Health in Latin Am erica and the Caribbean: Health History and Cultural Heritage. This m aterial, which includes inform ation on diagnoses, patients, treatm ents, and the operation of the National Asylum , enhances our ability to investigate the activities of em inent psychiatrists in Rio de Janeiro and their attitudes towards “insanity” and Brazilian society under the First Republic, when Brazilian psychiatry was first gaining institutional form and winning governm ent support.

Keywords: history of psychiatry; Hospício Nacional de Alienados; clinical sources; archival sources; Brazil.

Cristiana Facchinetti

Pesquisadora do Departamento de Pesquisa e professora do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde/Casa de Oswaldo Cruz (COC)/Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) cfac@coc.fiocruz.br

Andrea Ribeiro

Bolsista Tec-tec Faperj/Fiocruz (2008-2009)

aoribeiro@gmail.com

Daiana Crús Chagas

Mestre em História das Ciências e da Saúde (COC/Fiocruz) daianacrus@gmail.com

Cristiane Sá Reis

Bolsista Pibic-CNPq/Fiocruz Cris.sa.reis@hotmail.com

Av. Brasil, 4036/400

21040-361 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil

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A construção de um acervo de fontes para a história da psiquiatria no Rio de Janeiro

Em 2003, em m eio a u m a p esq u isa sobre a h istória d a p siq u iatria brasileira (Facch in etti, 2004) tivem os acesso a u m gran d e acervo d e d ocu m en tos clín icos sob a gu ard a d o In stitu to

Mu n icip al Nise d a Silveira, ad vin d o d a p rim eira in stitu ição brasileira p ara tratam en to d os alien ad os, in au gu rad a em 1852, o Hosp ício Nacion al.1

Ao levan t arm o s a d o cu m en t ação lá d ep o sit ad a, b u scávam o s au xílio p ara d iscu t ir a p assagem d a h egem on ia d o alien ism o fran cês p ara a p siq u iatria alem ã n as p ráticas asilares d o Distrito Fed eral d as p rim eiras três d écad as d o sécu lo XX. Até en tão h avíam os trabalh ad o ap en as com artigos cien tíficos de alien istas p u blicados n o p eriódico Arquivos Brasileiros de

Psiquiatria, N eurologia e Ciências Afins. O acesso ao s p ro n t u ário s p erm it iria verificar a

m u d an ça p ro clam ad a p ela revist a, b em co m o vislu m b rar su as co n seq u ên cias p ara o s in d ivíd u os tratad os com o alien ad os n aq u ele p eríod o, u m a vez q u e o p eriód ico p arecia ser u m a esp écie d e d ivu lgad or d os n ovos m od elos q u e a Socied ad e Brasileira d e Psiq u iatria, Neu rologia e Med icin a Legal2 p rop u n h a. Qu estão correlata era com p reen d er o q u e era a

d o en ça m en t al p ara o s m éd ico s b rasileiro s, n o p erío d o em q u e a p siq u iat ria se in s-titu cion alizava e gan h ava ap oio p ú blico. Orien tava, p ortan to, n ossas leitu ras a id eia d e

q u e a lo u cu ra, co m o d o en ça m en t al, d eve ser t rat ad a co m o o b jet o h ist ó rico à lu z d a socied ad e e d a ciên cia d o p eríod o (Fou cau lt, 1978, 2006; Rosen berg, Gold en , 1992).

Para u m a m elh or com p reen são d o fu n cion am en to d o Hosp ício, in iciam os em 2004 u m a p esq u isa so b re a in st it u ição , d esd e seu s p rim ó rd io s, em b ib lio grafia secu n d ária (Mach ad o et al., 1978; En gel, 2001; Portocarrero, 2002; Jacó-Vilela, Esp írito San to, Pereira, 2 0 0 5 ) e est ab elecem o s co m o m arco o s an o s d e 1 9 0 0 a 1 9 3 0 , p erío d o cru cial p ara a in stitu cion alização e o recon h ecim en to d a p siq u iatria e da assistên cia n o cen ário cien tífico

lo cal.3

Nesse em p reen d im en to, d ois objetivos se torn aram p rioritários: d e u m lad o, ap reen d er o cotidian o do h osp ício, o p ercu rso e o d estin o d e seu s m oradores, bem com o as m u d an ças ao lon go d o p eríod o in vestigad o; d e ou tro, reu n ir as fon tes em u m in stru m en to cap az d e viabilizar n ovas p esq u isas sobre o tem a. Este ú ltim o objetivo se exp lica ao con sid erarm os q u e o p rocesso de criação e su p ressão con tín u as d e in stitu ições exigia a relocação d e u m a gran d e m assa d e in tern os en tre as d iversas in stitu ições p ú blicas sob a ju risd ição d a Assistên cia

a Alien ad os, ocasion an d o d isp ersão d as p ap eletas d os p acien tes, o q u e d ificu lta a p esq u isa co m essas fo n t es. Vejam o s co m o se d eu a m u lt ip licação d e in st it u içõ es p ert en cen t es à Assistên cia.

O Hosp ício Nacion al foi en tregu e à Assistên cia a Alien ad os4 n o com eço d a Rep ú blica,

em 1890, ju n to com as colôn ias d a Ilh a d o Govern ad or (São Ben to e Con d e d e Mesq u ita), tam bém in au gu rad as n o m esm o an o (Am aran te, 1982) n o esforço d e resolver os p roblem as

d a su p erlotação d a Seção Pin el, ou Prim eira Seção d o Hosp ício Nacion al.

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Em 1905 três estabelecim en tos p articu lares ju n taram -se à Assistên cia: a Casa d e Saú d e Dr. Eiras, a Casa d e Saú d e Dou tor Leal e a d e S. Sebastião (Brasil, MJNI, 1905, An exo D)6; e

em 1921 foi a vez d o San atório Botafogo e d a Casa d e Saú d e Dr. Abilio.

Em 1911 in au gu rou -se a Colôn ia d e Alien ad as d e En gen h o d e Den tro, q u e recebeu d a Seção Esq u irol o exced en te d e m u lh eres ‘in d igen tes’ d o Hosp ício Nacion al (Brasil, MJNI, 1911, 1912). Em 1918, ap ós Gu stavo Ried el assu m ir a d ireção (1918-1932), p assou a se ch am ar C o lô n ia d e Alien ad o s d e En gen h o d e Den t ro e a ab rigar t am b ém p acien t es m ascu lin os. Deixan d o d e ser ap en as u m an exo p ara au xiliar n o excesso d e con tin gen te d o Hosp ício Nacion al, a Colôn ia sofreu im p ortan tes m odificações em su a estru tu ra. Abrigou u m serviço h eterofam iliar de assistên cia extra-h osp italar, bem com o o p rim eiro órgão de d ivu lgação d a h igien e m en tal, o In stitu to d e Profilaxia Men tal (1921), q u e origin ou , em 1923, a Liga Brasileira d e Higien e Men tal. A ên fase n a p rofilaxia d as d oen ças m en tais, p or su a vez, fez com q u e a colôn ia in stau rasse o p rim eiro am bu latório p siq u iátrico d o Brasil (Am bu latório Rivad ávia Correia). O in teresse d e Gu stavo Ried el p ela ren ovação d o p rojeto p siq u iátrico brasileiro red u n d ou ain d a n a criação d o Laboratório Exp erim en tal d a Colôn ia d e Psicop atas d o En gen h o d e Den tro (1923)7 e d a Escola d e En ferm eiros Alfred o Pin to

(Oliveira, 2004).

As m od ificações d e seu p rojeto acabam p or se firm ar com o p rop osta h egem ôn ica em relação ao Hosp ício Nacion al. Assim é q u e, n a d ireção d e Ern an i Lop es, q u e su bstitu iu Ried el q u an d o este ad oeceu e em m eio à reestru tu ração d o Min istério d a Ed u cação e Saú d e Pú blica (Mesp ) o co rrid a em 1937, a Co lô n ia fo i am p liad a e t ran sfo rm ad a em Co lô n ia Gustavo Riedel para h om en s e m ulh eres. Em 1938, logo após Adauto Botelh o ter assum ido a d ireção d a Assistên cia d e Psicop atas e criar o Serviço Nacion al d e Doen ças Men tais (SNDM)8,

a colôn ia foi rem od elad a, p assan d o a ser ch am ad a d e Cen tro Psiq u iátrico Nacion al, q u an d o foi an u n ciad a com o su bstitu ta d o Hosp ício Nacion al.9 A tran sferên cia fin al d o Hosp ício

ocorreu em 1943.10 Na Praia Verm elh a restou o Pavilh ão d e Observação – q u e p assou a se

ch am ar In stitu to de Psicop atologia – e o In stitu to de Neu rossífilis, h oje In stitu to Ph ilip p e Pin el.11

Em 1921 foi in au gu rad o o Man icôm io Ju d iciário (Brasil, 25 m aio 1921), com o objetivo de retirar da Seção Lom broso, n o in terior da Seção Pin el d o Hosp ício Nacion al, os p acien tes co n sid erad o s p erigo so s.12 A p art ir d e en t ão , o Man icô m io p asso u a receber o s ‘lo u co

s-crim in osos’ en cam in h ad os p ela Ju stiça d o Distrito Fed eral.13

Em 1923 as colôn ias d e alien ad os d a Ilh a d o Govern ad or foram fech ad as e seu s p acien tes, t ran sferid o s p ara Jacarep agu á, n ascen d o assim a C o lô n ia d e Psico p at as H o m en s d e Jacarep agu á, n os terren os d e u m d os m ais an tigos en gen h os d e can a-d e-açú car d a região (Ven an cio, 2008, p .6).14 A colôn ia recebeu d iversos in tern os ‘in d igen tes’ d a Seção Pin el d o

Ho sp ício Nacio n al, assim co m o p acien t es d as an t igas co lô n ias d a Ilh a d o Go vern ad o r (Brasil, MJNI, 1922-1923, 1923). Foi ren om ead a Colôn ia Ju lian o Moreira em 1935 e p assou a abrigar, a p art ir d e 1938, p art e d o s h o m en s e d as m u lh eres t ran sferid o s d o Ho sp ício Nacion al, q u e em 1943 term in ava p or fech ar su as p ortas (Cassília, Ven an cio, 2007).

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d a Assistên cia con tin u aram a ser p u blicad os até 1931 n a p asta d o Min istério d a Ju stiça e Negócios In teriores (MJNI).15 A p artir d e en tão, a Assistên cia saiu d o Dep artam en to Nacion al

d e Saú d e Pú b lica, ligad o ao MJNI, e p asso u a in t egrar o Mesp (Brasil, 30 d ez. 1931). Com p u n h am -n a o Serviço d e Assistên cia a Psicop atas (d e âm bito n acion al) e a Divisão d e

Assist ên cia a Psico p at as d o Dist rit o Fed eral, q u e co m p reen d ia “o Ho sp it al Nacio n al, o Man icôm io Ju d iciário, as colôn ias esp eciais p ara h om en s e p ara m u lh eres, assim com o os asilos-colôn ias p ara ébrios, ep ilép ticos e atrasad os m en tais, q u e forem criad os” (Brasil, 23

m aio 1927). Em 1937, o m in istério a q u al estava su bord in ad a p assou a ch am ar-se Min istério d a Ed u cação e Saú d e (MES), com a reestru tu ração ad m in istrativa p rom ovid a p elo titu lar d a p asta, Gu stavo Cap an em a (Mellon i, 2009, p .26).16

Os efeitos dessas alterações in stitu cion ais e m u dan ças n o organ ogram a do govern o se fizeram sen tir n a d ocu m en tação, p rovocan d o a d isp ersão de fon tes h istóricas relativas ao Hosp ício Nacion al. Hoje, en con tram os n o In stitu to Mu n icip al Nise d a Silveira (h erd eiro

do Cen tro Psiquiátrico Nacion al) pron tuários de in tern os daquele h ospício desde m eados do sécu lo XIX ao sécu lo XX, além d e d ocu m en tos clín icos dos p acien tes q u e foram in tern os da Colôn ia do En gen h o d e Den tro e d o p róp rio Cen tro Psiq u iátrico (n a m esm a in stitu ição estão os d ocu m en tos ad m in istrativos d o an tigo Hosp ício). Já a d ocu m en tação referen te

aos in tern ados n a Colôn ia da Ilh a do Govern ador, aos tran sferidos do velh o h ospício e aos d a Colôn ia d e Jacarep agu á ach am -se n o In stitu to Mu n icip al Ju lian o Moreira (on d e tam bém se en con tra a d ocu m en tação ad m in istrativa d o Serviço Nacion al d e Doen ças Men tais). Os

p ap éis con cern en tes aos an tigos p acien tes d o Pavilh ão d e Observação e d o In stitu to d e Neu ro-sífilis estão n o In stitu to d e Psq u iatria d a Un iversid ad e Fed eral d o Rio d e Jan eiro (Ip u b) e n o In stitu to Ph ilip p e Pin el, resp ectivam en te. En fim , os d ocu m en tos clín icos e

lau dos p siq u iátricos dos in tern os da Seção Lom broso e do Man icôm io Ju diciário en con tram -se n o Ho sp it al d e Cu st ó d ia e Trat am en t o Psiq u iát rico Heit o r Carrilh o . Tais in st it u içõ es situ am -se em d iferen tes esferas ad m in istrativas d os govern os fed eral, estad u al e m u n icip al. Q u an t o ao s relat ó rio s an u ais d o Ho sp ício Nacio n al e d a Assist ên cia, p art e d eles se

en co n t ra n o acervo d o In st it u t o Mu n icip al Nise d a Silveira, m as fo m o s im p ed id o s d e trabalh ar com eles p orq u e o acervo esteve fech ad o ao p ú blico, p ara recod ificação d e seu s docu m en tos, du ran te o an o de n ossas p esq u isas. Bu scam os os relatórios da Assistên cia em

ou tras in stitu ições, m as, sem su cesso, tivem os de n os con ten tar com os relatórios do MJNI ao p resid en te d a Rep ú blica. Esse d ocu m en tos oficiais trazem ora a sú m u la, ora a rep rod u ção d e relatórios an u ais d e d iversas in stitu ições su bord in ad as ao Min istério, com o o Mu seu Histórico Nacion al, a Biblioteca Nacion al, o Arq u ivo Nacion al, e tam bém a Assistên cia aos

Alien ad o s.

Form ou -se, assim , u m labirin to, q u e n ossa eq u ip e d e p esq u isa arriscou -se a d esafiar.

Banco de dados para a história da psiquiatria no Rio de Janeiro

Ap esar d a abu n d ân cia d e fo n t es, as d ificu ld ad es d e acesso , o est ad o em q u e elas se en co n t ram , o risco d e m an u seá-las (p ara a in t egrid ad e d o s d o cu m en t o s e a saú d e d o s

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a su a u tilização e p u blicação. Ten d o isso em vista, tivem os a id eia d e reu n i-las, ao m en os p arcialm en t e, n u m a base d e d o cu m en t o s, q u e acabo u p o r se co n st it u ir n ão ap en as d e in fo rm açõ es co n t id as em d o cu m en t o s clín ico s p ro d u zid o s n o Ho sp ício Nacio n al e n o Pavilh ão d e O bservação, en tre 1900 e 1930. Co m a ad esão d e o u t ro s p esq u isad ores ao m étod o d e arm azen am en to d e in form ações d e p esq u isa, a base p assou a con tar tam bém com d ocu m en tos clín icos d a Colôn ia Ju lian o Moreira, d o fin al d a d écad a d e 1930 e 1940, ad vin d os d a p esq u isa d e An a Teresa A. Ven an cio, e d o Man icôm io Ju d iciário, d a d écad a d e 1920 e 1930, m at erial est e p ro ven ien t e d a p esq u isa d e Flávio Ed ler (Facch in et t i, Ed ler, Ven an cio, 2007).17

A p rin cíp io , a t ran sp o sição d esses p ro n t u ário s p ara p lan ilh as em Access fo i feit a d e aco rd o co m a est ru t u ra d a fo n t e d e o rigem , d e fo rm a q u e o s cam p o s exist en t es n o s p ron tu ários eram tran sp ortad os p ara as colu n as, in serin d o-se en tão as in form ações n as p lan ilh as. Com o d esd obram en to d o p rojeto, em 2006, h ou ve a n ecessid ad e d e se rep en sar a form a e a estru tu ra d as p lan ilh as, agora em Excel. Ch egam os a u m m od elo d e p reen -ch im en t o d o s cam p o s q u e at en d ia à varied ad e d e t ip o s d e d o cu m en t o s – p ro n t u ário s en con trados n o In stitu to Mu n icip al Nise da Silveira, fich as do In stitu to Mu n icip al Ju lian o Moreira, livros d e observação, p areceres e lau d os p ericiais d o Heitor Carrilh o, e ain d a livros d e observação d o Ip u b.18 Elaboram os u m m an u al d e p reen ch im en to, p ara p ad ron izar a

en trad a dos dados n o ban co e u n iform izar n om en clatu ras; in stru m en to valioso p ara n os gu iar p or en tre as fon tes, serviu -n os igu alm en te p ara a discu ssão d os critérios de classificação e n o m en clat u ra ad o t ad o s.

Os d ocu m en tos con têm in form ações d e d etalh am en to variável: n om es, n acion alid ad e, en d ereço, ocu p ação, características físicas e m en tais, d iagn óstico, com p ortam en tos etc. A Base de Dados de Docu m en tos Clín icos se p rop ôs a referen ciar tu do isso tal com o ap arece n a d ocu m en tação, assim com o as an otações feitas p or cad a m éd ico. O objetivo foi con stru ir u m a b ase p assível t an t o d e t rat am en t o q u an t it at ivo e serial, q u an t o d e u m a an álise q u alitativa cap az d e p erm itir a recu p eração d e trajetórias in d ivid u ais e d e gru p o n o am bien te asilar.19

A estru tu ração dessa base gerou rico m aterial secu n dário, com o o Glossário de Term os Médicos, a Lista de Médicos e de Diretores do Hosp ital Nacion al20, além d e am p lo m aterial

in form ativo (textu al e visu al) sobre as seções e p avilh ões d o Hosp ício Nacion al, sobre as in stitu ições m an ten edoras de acervo e sobre os diagn ósticos da ép oca.

O d esd obram en to d as p esq u isas, com a in corp oração d e n ovas fon tes, p erm itiu a criação d e ou tras bases d e d ad os, com o a d e Relatórios Min isteriais, a Base d e Im agen s e a Base d e Periódicos do Hosp ício Nacion al(Facch in etti, Ribeiro, 2008). O m aterial será reu n id o p or m eio d a Biblioteca Virtu al em Saú d e p ara Am érica Latin a e Caribe – História e Patrim ôn io Cu ltu ral d a Saú d e.

Documentos clínicos como fonte histórica

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m od o q u e n ão se p od e con sid erar esgotad a a q u estão d as p ráticas p siq u iátricas brasileiras e de seu s con dicion an tes e referen ciais.

Nesses d ocu m en tos – sejam eles p ron tu ários, fich as, livros d e observação ou m esm o lau d os p ericiais –, o d iscu rso sobre a lou cu ra d istin gu e-se d aq u ele en con trad o em textos q u e tratam d o tem a sob o p on to d e vista teórico e q u e p reten d em ap resen tar u m sistem a

in terp retativo e cien tífico p ara o fen ôm en o d a lou cu ra. Tam p ou co é p ossível eq u ip ará-los a textos d e d ivu lgação cien tífica, com retórica p róp ria p ara atin gir o leitor leigo. Afin al, lid am o s co m o s p ro ced im en t o s levad o s a efeit o p elo co rp o m éd ico -ad m in ist rat ivo d a in stitu ição, n o cu rso d as p ráticas d e observação, in terp retação e in terven ção, n ão n a d oen ça,

m as em in d ivíd u os con sid erad os d oen tes, com vistas a su a cu ra (Jabert, 2008).

Assim , o trabalh o com esse tip o d e fon te p erm ite ver o p erfil e o cotid ian o d a in stitu ição, com seu s m édicos, seções e p acien tes, assim com o as p ráticas d iagn ósticas, terap êu ticas e de

con trole a eles relacion ad os. As in form ações gerais e d e cu n h o q u an titativo n os levam a p erfis d e d o en t es d e d et erm in ad o p erío d o , h ip ó t eses cau sais d e d o en ças, relação en t re sin tom as e n orm as sociais, lu tas in tern as en tre diferen tes gru p os m édicos p or referen ciais

teóricos e classificações, e a m u d an ças p au latin as n os p lan os d a con d u ta e tratam en to. Trat a-se, além d isso , d e u m a o p o rt u n id ad e p ara p erceber co m o a so cied ad e cario ca iden tificava e in terp retava os lou cos, esse ‘ou tro’ situ ad o à m argem d a form ação d e n ovos cid ad ão s d a Rep ú blica. Afin al, reu n id a e o rgan izad a n o h o sp ício , a lo u cu ra “co n figu ra

form as d e relação com o am bien te d este m u n d o q u e os con d en ou ” (Cu n h a, 1986, p .115). Desse m od o, a d ocu m en tação clín ica p erm ite tam bém o acesso a casos in d ivid u ais q u e ilu stram a exp eriên cia cotid ian a d a lou cu ra através d a ap licação d e d iscu rsos a situ ações

esp ecíficas, sin gu lares (Mu ñ oz, 2010; Wad i, 2002).

Tran sp arece, assim , o q u e era lou cu ra p ara o gru p o social n o q u al estava in serid o o in divídu o con siderado doen te. Podem os detectar os tip os de com p ortam en tos iden tificados com o sin ais d e su a in sân ia, q u e p roced im en to era ad otad o q u an d o ela se m an ifestava e os

fatores con sid erad os cau sais.

Paten teia-se, em sum a, com o esse acon tecim en to era in terpretado pelos diferen tes atores que con figuravam a loucura do período. Assim , por exem plo, os policiais que recolh em um

h om em por vadiagem , con sideram -n o suspeito de alien ação m en tal e o en viam , ao Hospício Nacion al, qu an do “afirm am qu e o acu sado n ão tem m eios de su bsistên cia n em ocu pação h on esta, e que vive de m eios ilícitos, ... com o gatun o que é” (Livro de Observação, 1922).

Do m esm o m o d o , a o p in ião p ú blica p o d e ser vislu m brad a n as freq u en t es n o t as d e jorn al an exad as aos d ocu m en tos clín icos, com o esta, cu ja m an ch ete an u n ciava a ten tativa d e h om icídio p raticada p or u m in d ivíd u o p osteriorm en te in tern ad o: “Deliran do? História m isteriosa d e ‘m oam bas’ e ‘d esp ach os’, q u is m atar u m a m u lh er e u m h om em e tam bém

est á ferid o ”. Ain d a segu n d o o jo rn al, o h o m em ap resen t ava asp ect o “d o en t e”, sen d o “evid en te o seu m au estad o p síq u ico e m en tal” (A Noite, s.d ., citad o em Mu ñ oz, 2010, p .149).

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Um a d elas (fls. 38v.) d isse q u e “n ão lh e p arece q u e u m a p esso a n o rm al, n a id ad e e eru d içõ es [p alavra ilegível] d a acu sad a, p o ssa p rat icar o s at o s q u e ela p rat ico u ”; o u t ra d eclaro u (fls. 39) “q u e a p rim eira vez q u e a d ep o en t e viu a acu sad a n ão t eve a im p ressão de se tratar de u m a pessoa an orm al, pois con versara lu cidam en te; q u e, en tretan to, q u an do a viu n a d elega cia n o t o u n ela m u it a n er vo sid a d e”; o u t ra m a is d isse (fls. 3 9 v.) “q u e d esd e a p rim eira vez q u e a acu sad a ap areceu em casa d a d ep oen te q u e se lh e afigu rou n ão ser p esso a n o rm al”. Fin alm en t e, o u t ra t est em u n h a (fls. 42v.) d eclaro u “q u e a acu sad a, p ela m an eira p o r q u e se ap resen t ara n a Po lícia, p areceu ao d ep o en t e ser u m p o u co d eseq u ilibrad a” (Lau d o d e exam e..., 1932a).

Em con son ân cia com os vizin h os, o m éd ico q u e assin a o lau d o reiterou q u e a p acien te

n ão tin h a “cap acid ad e d e im p u tação p elos atos d elitu osos q u e p raticou ”, p orq u e sen d o “sen h ora d e con d ição e n ível sociais lison jeiros, vem ap resen tan d o, n a fase d e clim atérios em q u e se en con tra, e em con trad ição com os seu s h ábitos an teriores, d esord en s d o caráter e dos atos, viven d o em con stan tes con flitos d om ésticos, in stável n o m od o de se con du zir, sem resid ên cia fixa, com d esvios éticos evid en tes, q u e cu lm in aram n o d elito” (Lau d o d e exam e..., 1932a).

Os d ocu m en tos clín icos oferecem tam bém u m a visão p rivilegiad a d os p acien tes e d e su a fala. Se p ara en ten d er a lou cu ra é n ecessário con h ecer com o exp eriên cias, d iscu rsos e acon tecim en tos tran sform aram o h osp ício com o destin o p ara algu n s (Wadi, 2006, p .303-307), o s regist ro s asilares “evid en ciam su a resist ên cia su rd a e co n st an t e, p erm it in d o o estabelecim en to d e relações p ara as q u ais os h istoriad ores estiveram m u ito d esaten tos” (Cu n h a, 1986, p .16). Assim , além d e n os oferecer op ortu n id ad e d e an alisar a in stitu ição, tais d ocu m en tos n os d ão acesso à exp eriên cia sin gu lar d e su jeitos in tern ad os. Eles falam

sobre su a con d ição através d e lau d os, jorn ais e fich as d e observação. Pod em fazê-lo, p or exem p lo, afirm an d o e in terp retan d o su a alien ação: “Com relação a su a in tern ação d iz-n os que ela ‘a deve ao seu próprio gêiz-n io’ que é, assegura, a ‘desgraça de sua vida’. Se iz-n ão fora o m esm o, d iz-n os a observad a, ‘n ão teria esbofetead o a m in h a p atroa p or m e n ão q u erer p agar a m en salid ad e, bem com o u m a m u lh er e algu n s gu ard as, n a Casa d e Deten ção p or m otivos in sign ifican tes’” (Lau d o d e exam e..., 1932b). Su a voz n os n os ch ega tam bém sob a form a d e h istória d e vid a:

era o b ed ien t e, ... b rin cava n at u ralm en t e co m o s irm ão s e as m en in as d a vizin h an ça. In d agan d o n ó s p o r q u e n o s d izia q u e b rin cava co m as m en in as e n ão co m o s m en in o s, retorq u iu -n os q u e n ão brin cava com m en in os p orq u e su a m ãe form alm en te lh e p roibia. Falecen d o o p ai, q u an d o A. t in h a a id ad e in d icad a acim a, fo i co lo cad a em casa d e u m a d e su as irm ãs p ela gen it o ra. Est a irm ã, p o rém , m alt rat ava-a p o rq u e n ão sab ia fazer o s serviço s, n ão o b st an t e ser o b ed ien t e e p ro cu rar t o m ar co n t a d o s so b rin h o s, q u e eram p eq u en o s. Po r cau sa d o s m au s t rat o s, fu giu A. p ara casa d e o u t ra irm ã, a q u al, co n t u d o , n ão a p ô d e gu ard ar p o rq u e n ão d isp u n h a d e recu rso s q u e p erm it issem m an t er o u t ra p esso a em casa. A m ãe d a o b servad a co lo co u -a en t ão , em casa d e fam ília d o Co ro n el E. C., o n d e p erm an eceu A. d o s 7 at é o s 14 an o s. Diz q u e n est a casa era d ó cil, q u e go st ava e gosta d os p atrões, q u e sem p re foram bon d osos p ara ela. Nu n ca freq u en tou escola (Lau d o de exam e..., 1928).

(8)

Arran car u m a in d efesa m u lh er d e su a casa o n d e p ed iu agasalh o e p ro t eção , so b falsas alegações, au xiliad o p ela p olícia e levá-la à força e arbitrariam en te ao h osp ício, on d e esse velh aco [o m arido] in ven tou as m ais in fam es m en tiras para con segu ir a m in h a in tern ação! ... No h o sp ício eu fu i t rat ad a co m o u m a crim in o sa. Não t iveram a m ín im a d eferên cia co m igo , q u an t o ao m eu est ad o d e saú d e e m eu s h ábit o s o u co st u m es co m o est ran geira, em bora eu ch am asse p or isso n o d ia im ed iato ao d a in tern ação ao Dr. Hen riq u e Roxo. ... Desgraçad a a so rt e d o s p o b res lá d en t ro , sem p ro t eção d e fo ra! (O IX Man d am en t o ..., 14 ju l. 1925, p .6, citad o em Mu ñ oz, 2010, p .206).

A form a tam bém é im p ortan te p ersp ectiva d e an álise d esses d ocu m en tos. En tre 1900 e 1930, o H o sp ício Nacio n al u t ilizo u t rês m o d elo s d e p ro n t u ário s21 p ara o regist ro d e

in form ações sobre os p acien tes lá in tern ad os, trad u zin d o as m u dan ças teóricas, p olíticas e ad m in istrativas em cu rso n o asilo. Tais m u d an ças foram d ifu n d id as extram u ros através d e p eriódicos, con gressos e artigos. Na gestão de Ju lian o Moreira22 com o diretor da Assistên cia

a Alien ad os, observa-se claram en te o esforço d e im p lan tar u m m od elo teórico, p olítico, ad m in istrativo e clín ico cap az d e in trod u zir a p siq u iatria kraep elin ian as, con sid erad a a

m ais cien tífica, m od ern a e eficaz p ara o tratam en to d e alien ad os.

Ap esar d as d iferen ças en tre m od elos d e p ron tu ários, fich as e livros d e observação n o p eríodo p esq u isado, foi p ossível id en tificar n eles u m a m esm a rotin a m etodológica n o q u e d iz resp eito ao p reen ch im en to d as in form ações d os p acien tes. Assim , n a seção in icial d e tod os os m od elos figu ram os d ad os p essoais: n om e, en d ereço/ p roced ên cia, o req u eren te (d a in t ern ação ), p ro fissão , n ação , co r, sex o , id ad e, n at u ralid ad e, co n st it u ição , t em

-p eram en to, estatu ra, estad o civil e -p rofissão. Logo a-p ós, seção (on d e foi in tern ado), classe (se é ou n ão p en sion ista, isto é, p agan te), d iagn ósticos, m éd icos e d iretor (d o p eríod o), tem p o d e in tern ação (através d as d atas d e en trad a, alta, tran sferên cia e d e falecim en to), cau sa m ortis. Há ain d a os cam p os tran sferên cia (p ara on d e foi e/ ou d e on d e veio o p acien te), terap êu tica (m u itas vezes in d icam -se ap en as as ciru rgias e os exam es feitos), corresp on d ên cia (com observações acerca d e q u em se com u n icou p or escrito com o d iretor d o h osp ício sobre o caso, ou a q u em se d everia com u n icar alta, tran sferên cia ou falecim en to d o p acien te)

e h averes (ben s q u e o p acien te p ossu ía ao d ar en trad a n o h osp ício). Nas fich as gerais d e observação (dos acervos do In stitu to Ju lian o Moreira e do Hosp ital Heitor Carrilh o), con sta tam bém a h istória d o crim e, caso o p acien te ten h a com etid o algu m .

Tais in form ações p erm itiam à Assistên cia fazer as estatísticas n ecessárias à con stru ção d e d ad os q u an titativos e com p arativos ao m od o d e Kraep elin . Tais estatísticas, q u e ap arecem n os relatórios d irigid os ao MJNI, d em on stram a p reocu p ação d os gestores d a Assistên cia em articu lar, tam bém com ap oio em Kraep elin , classe social, gên ero, estad o civil, raça,

n acion alid ad e e p rofissão, n a bu sca d e su bstratos objetivos e cien tíficos p ara fu n d am en tar os d iagn ósticos, com o bem an alisa En gstrom (2007, p .392).

A seção segu in t e d o s d o cu m en t o s é co n st it u íd a p o r o b servaçõ es, m ais o u m en o s d etalh ad as, sobre a h istória d e vid a d o p acien te e su as h eran ças fam iliares. Sabem os, assim , se os ascen d en tes m atern os e p atern os estavam vivos, se h aviam sofrid o d e alien ação, se tiveram sífilis, tu bercu lose ou eram alcoólicos. Ou tros p aren tes são m en cion ados, em esp ecial

(9)

doen ças in fan tis ou n ervosas, con vulsões, febres, ataques – e, n a fase adulta, h ábitos e doen -ças sexu ais, filh o s e abo rt o s, h ábit o s alco ó lico s, p resen ça o u n ão d e in fecção sifilít ica,

h istórico de h isteria, ep ilep sia ou lou cu ra.

A d esp eit o d a p ro p o st a t eó rica, n em sem p re a an am n ese era t ão d et alh ad am en t e rep rodu zida n as fon tes. Ao con trário do q u e ocorre n as fich as e livros de observação, p or exem p lo, n a m aioria d os p ron tu ários esses q u esitos são resp on d id os d e form a bastan te red u zid a. Mu itos são p arcam en te p reen ch id os. Isso n ão ch ega a cau sar su rp resa, visto q u e o Ho sp ício Nacio n al at en d ia p rin cip alm en t e à p o p u lação caren t e d o Dist rit o Fed eral e

su as cercan ias.

Segun do verificam os (Facch in etti,2006), o n úm ero de pagan tes girava em torn o de 1% da população do Hospício Nacion al. Os in tern os eram um a m escla de in divíduos com pouco ou n en h um vín culo com o m ercado form al de trabalh o, a exem plo de E.M, que, en volvido em “freq u en tes arru aças, era violen to, bebia e n ão tin h a p rofissão d efin id a” (Pron tu ário, 1919). Predom in avam os sem ian alfabetos e an alfabetos, con siderados de “n ível in telectual apoucado” (Pron tuário, 1902), com o é o caso da pacien te que “lê corren tem en te; n egou-se

porém a escrever, fican do m uito em ocion ada e trêm ula n esta ocasião” (Pron tuário, 1909). A alta taxa d e m ortalid ad e e baixa exp ectativa d e vid a eram características d a p op u lação de in tern os. Sobre m uitos deles era im possível realizar um a an am n ese com pleta, por falta de in fo rm açõ es e lem b ran ças, co m o o p acien t e q u e “p o u co p o d e in fo rm ar acerca d e su a fam ília, p orq u e com sete an os foi colocad a p or su a m ãe, em casa d e fam ília estran h a, on d e esteve até os q u atorze an os, n u n ca m ais ten d o con vivid o com seu s p aren tes” (Lau d o d e exam e..., 1928). Mas, ain d a q u e n em sem p re com p letam en te p reen ch id os, os d ocu m en tos

clín icos ch am am a aten ção p or d en otar a in sistên cia com q u e se bu scavam in form ações sobre a h istória fam iliar d o p acien te, evid en cian d o as teorias p siq u iátricas q u e n orteavam os p rofission ais du ran te o p rocesso diagn óstico, p ois o registro de ocorrên cias n a h istória d e vid a d o p acien t e t raz im p lícit as as in d icaçõ es d e Kraep elin d e q u e se est u d e lo n gi-tu d in alm en te a m arch a d a m oléstia m en tal (Jablen sky, 2007). Assim é q u e as fich as d e observação e os lau dos são rep letos de in form ações com o estas:

Do p o n t o d e vist a p esso al, F. refere-se a u m a in fân cia u m t an t o d o en t ia, era, segu n d o d iz, m u it o “fraca e an êm ica”. O u viu cert a vez su a m ãe d izer q u e, em crian ça, t in h a t id o con vu lsões, m as n ada se sabe de m ais p ositivo n este p articu lar, além desta vaga referên cia. Ao s set e an o s t eve varío la. Em 1918, fo i aco m et id a gravem en t e d e grip e. At é p o u co t em p o , segu n d o d iz, n ão fazia u so d o álco o l. No Ho sp it al São Fran cisco , cert a vez, t eve n ecessid ad e d e ser su bm etid a a u m a op eração cesarian a. De d oen ças ven éreas m en cion a ap en as leve in fecção go n o có cica. No s an t eced en t es so ciais, p o u co h á q u e referir: a vid a esco lar fez-se n o rm alm en t e, caso u -se ao s q u in ze an o s d e id ad e, m as, u m p o u co d ep o is, viu -se o b rigad a a d eixar a co m p an h ia d o m arid o q u e a m alt rat ava e, segu n d o in fo rm a, n ão tin h a bom caráter n em p rofissão d efin itiva. Teve d ois filh os e algu n s abortos (Lau d o de exam e..., 1929).

(10)

d egen era çã o (C o ffin , 2 0 0 3 ; En gst ro m , 2 0 0 7 ). O su b t ít u lo “a n t eced en t es m ó rb id o s h ered itários” já d en u n cia a p ersp ectiva d e in terp retação d a h istória fam iliar d os in tern os, com o a q u e segu e, a in form ar sobre tu bercu lose, alcoolism o, sífilis e p ertu rbações m en tais n a fam ília d a observad a, m arcan d o-a com a p ech a d a d egen eração:

Seu p ai, q u e faleceu n a Bah ia, em con seq u ên cia d e tu bercu lose p u lm on ar, era alcoolista in veterad o. Um d os seu s tios, irm ão d o seu p ai, faleceu igu alm en te d e tu bercu lose e com p ertu rbações m en tais ligad as tam bém ao álcool. Su a m ãe m orreu atrop elad a p or u m au to cam in h ão, n o d ia 23 d e m arço d este an o, q u an d o p rocu rava tom ar u m bon d e n a Ru a 24 d e Maio. Dos seu s oito irm ãos, u m é gen ioso, im p u lsivo, rixen to e d ad o ao u so d o álcool; o u t ro teria m orrid o , ao q u e se ap u ra d as in form ações colh id as, ao s 33 an os d e id ad e, em con seq u ên cia d e sífilis; ou tra, d o sexo fem in in o, faleceu com p ertu rbações m en tais, ap ós u m p art o labo rio so (Lau d o d e exam e..., 1927).

Não é, p ois, in esp erad a a con clu são d os p siq u iatras, p len am en te em basad os em Morel e M a gn a n :

A exam in ad a, gravad a p or taras p sicop áticas h ered itárias m an ifestas, tem a d efin ir a su a p erson alidad e os req u isitos da con stitu ição h ip erem otiva de Leu p ré, com traços h istéricos evid en t es. Haven d o p ro criad o p ro le excep cio n alm en t e n u m ero sa – 23 gest açõ es –, co m m u itos abortos e vários filh os falecid os em ten ra id ad e, exem p lifican d o assim a fórm u la “m u ltin atalidade e poliletalidade”, qu e defin e a descen dên cia dos h eredoalcoolistas ou das p esso as d e frágeis e an o rm ais co n d içõ es bio ló gicas, realizo u ao s q u aren t a e cin co an o s, q u an d o já se m o st raram o s sin ais d e u m clim at ério p reco ce, u m d elit o d e m o rt e, d isco r-d an te r-d os seu s p rin cíp ios religiosos e r-d e su a form ação m oral (Lau r-d o r-d e exam e..., 1927).

Com o se p od e observar, u m d os asp ectos fu n d am en tais d o d iagn óstico era o u so ou abu so d e bebid as alcoólicas – seja p elo observad o ou p or algu m fam iliar. As d rogas seriam cap azes d e afetar o cérebro e p rovocar m u d an ças p atológicas d e h u m or, agressivid ad e e ciú m e, aceleran d o a d egen eração d o in d ivíd u o, o q u e é con son an te com a p reocu p ação d a p siq u iat ria o rgan icist a alem ã e d o s t eó rico s fran ceses d a d egen eração (C o ffin , 2 0 0 3 ; En gst ro m , 2007). Algu m as vezes, u t ilizava-se a Pro va d e Gu d d en p ara u m a avaliação ‘o b jet iva’ d e t o lerân cia o u t en d ên cia à em b riagu ez p at o ló gica. Nesse caso , o alien ist a ad m in istrava cerca d e 20cm3 d e álcool e observava o exam in ad o p or u m a h ora (Facch in etti,

2005). O d iscu rso p siq u iátrico d o p eríod o ligava fortem en te à d egen eração e à lou cu ra os efeitos d o álcool n o in d ivíd u o e em seu s d escen d en tes.

O cam p o Observação d o p ron tu ário traz tam bém q u estões relativas à m oléstia m en tal q u e levara o p acien te a ser in tern ad o n a in stitu ição. Bu scavam -se id en tificar tran sform ações de com p ortam en to do p acien te e se algu m acon tecim en to m ais recen te p oderia ter deflagrado a en ferm id ad e. Nessa p arte, en con tram -se in form ações sobre q u an d o e com o com eçou a m oléstia em cu rso, e com o foi caracterizad a p elos fam iliares, p ela p olícia ou p elo p róp rio in d ivíd u o. São d escritas ain d a m an ifestações d a d oen ça, atos agressivos, p erd a d e afeto p elos m em bros fam iliares, m au s costu m es, m u d an ças d e h ábito etc., m an ten d o-se u m a p reocu p ação com as cau sas p recip itan tes d a d oen ça, q u e p ercorream a m ed icin a m en tal d esd e o alien ism o d e Pin el. Leiam os o relato abaixo:

(11)

q u e ela t rat asse d e d eixar su a casa. A p acien t e n ão se co n fo rm o u co m est a afirm at iva, d izen d o q u e n ão se o p u n h a à u n ião d ele co m o u t ra m u lh er, en t ret an t o , q u e ele fo sse à Glória, on d e era fu n cion ário, e fizesse u m a d eclaração d e q u e d eixava u m a m en salid ad e p ara a m esm a, co n sign ad a n a fo lh a d e p agam en t o . Co m est a d eclaração exasp ero u -se o m arid o , in d o em segu id a d o rm ir, ad m o est an d o -a, p o rém , d e q u e n ão d esejava t o rn ar a vê-la n aq u ela casa, q u an d o acord asse. Do q u e se p assou d aí p or d ian te, até o d ia segu in te, d e n ad a se record a. Ap en as sou be p or p essoas d a fam ília e p elos jorn ais q u e era acu sad a d e t er assassin ad o o m arid o (Lau d o d e exam e..., 1934).

A seguir, tal com o Kraepelin sugere, são con sign adas in form ações sobre o exam e psíquico da pacien te. Noção de m eio, tem po e lugar; con fusão ou clareza de espírito; o h um or em suas várias m odalidades; com portam en tos estran h os, tipos de fala; cam po ideativo, educação, m em ória, juízo sobre si e sobre os outros – eram estes, basicam en te, os aspectos in vestigados.

De su as resp o st as su rp reen d e-se d esd e lo go a su a acen t u ad a p o b reza m en t al q u e est á a p at en t ear-se n o seu red u zid o vo cab u lário , n a su a p recária cap acid ad e d e p erceb er, d e calcu lar, de descrever objetos e an im ais, de com p reen der p alavras abstratas, n a carên cia de n o çõ es gerais et c. Não t em a p acien t e n o ção exat a d e su a sit u ação legal, n ão saben d o se est á p ro cessad a, p o rq u e est á p ro cessad a, et c; p ed in d o -n o s aju d a, cad a vez q u e a exam in ávam os, p ara a deixarm os sair. Não con h ece bem as cédu las do n osso din h eiro, diz t er 16 an o s q u an d o t em 35 an o s p resu m íveis e n ão t em p erfeit a o rien t ação cro n o ló gica. Os seu s con ceitos ... são p u eris. Qu an to à m em ória, su rp reen d em os a existên cia d e falh as, m áxim e p ara o s d et alh es d o s fat o s. Q u an t o a su a cap acid ad e p ara o t rab alh o , ach a-se, co m o é fácil d e p rever, co n sid eravelm en t e lim it ad a p o r esse ap o u cam en t o in t elect u al, sen d o d eficien t e a su a in iciat iva p ara o m esm o . O seu h u m o r é calm o , sen d o a p acien t e u m tan to h u m ild e. Não tem alu cin ações n em d elírios. Om issos são os seu s an teced en tes m ó rbid o s h ered it ário s e p esso ais, graças a su a co n d ição m en t al q u e n ão lh e p erm it e d ar in form ações fid ed ign as (Lau d o d e exam e... 1924).

Esta era a etap a em q u e se trabalh ava d e form a m ais su bjetiva, visan d o ap reen d er o p siq u ism o do exam in ado. Hen riq u e Roxo (1925, p .50-54), p or exem p lo, exp licava m in u ciosa-m en te cociosa-m o d everia ser o exaciosa-m e: o ciosa-m étod o con sistiria d e p ergu n tas abertas, orien tad as segu n d o cad a caso clín ico, d even d o h aver ap en as u m a orien tação com u m . O observad or precisava exercitar a percepção e in terpretação dos m ais im perceptíveis detalh es. In icialm en te,

a tarefa d o alien ista era d efin ir o estad o d o p acien te – calm o ou agitad o, alegre ou triste. O tom com q u e o observado resp on d ia às p ergu n tas já p oderia in d icar traços d egen erativos ou m arcas d e alu cin ação. A an am n ese, a p esq u isa sobre con d ições d e vid a, n oções éticas, com p ortam en tos sociais, bem com o sobre m em ória, m od o d e falar e in teligên cia ficariam p ara o fin al d o exam e. Avaliar-se-ia em segu id a o tem p eram en to con sid erad o resu ltan te d as co n d içõ es o rgân icas, b ase fisio ló gica d o carát er in d ivid u al, co m p erfis n o rm ais e an orm ais, d ep en d en d o d a in terligação en tre os d ad os acerca d a h ered itaried ad e, an

ato-m ofisiologia e d a etiologia d a d oen ça.

(12)

O falar poderia in dicar a presen ça de an om alias com o lalom an ia, h iper ou h ipossem ia e

h ip er ou h ip om im ia (u so d e m u itos/ p ou cos gestos); p arassem ia e p aram im ia (falar com gestos con trários e extravagan tes); p seu d ologia fan tástica (p razer em m en tir) e d isartria (palavra en trecortada). Já o pen sam en to deveria ser avaliado con form e a em oção suscitada

pelas pergun tas, a preferên cia por certos tem as e a aversão a outros, olh ares in vestigadores e m om en tos de distração. Porém , em algun s casos – com o os de m elan colia –, podia ser preciso “arran car as palavras, para se ch egar a um resultado qualquer” (Medeiros, 1908, p.21). Mas

Medeiros lem brava que um a pergun ta bem form ulada podia ter resultado “m ágico” (p.21). No tocan te ao exam e m en tal, Med eiros (1908) d efen d ia avaliações objetivas e cien tíficas, basead as em in stru m en tos d e p esq u isa e tecn ologias cad a vez m ais avan çad as: avaliação d o grau d e at en ção p elo m ét o d o d e Bo u rd o n (d o cilid ad e p ara h ip n o se); avaliação d a

cap acid ad e m en tal e d o n ível in telectu al p or m eio d a fala, d e escritos ou d a p sicom etria d e Bu ccola – q u e p reten d ia m ed ir o tem p o d e reação e d u ração d os atos p síq u icos elem en tares e com p lexos, p or m eio do cron oscóp io de Hip p23 (Roxo, 1925, p .55). “Um alien ista q u e se

lim it a à o bservação – escreve Med eiro s (1908, p .32) – n ão co n segu e saber o q u e o seu p acien te está p en san do. Para isso ele n ecessita em p regar m étodos p sicofisiológicos, com o, p or exem p lo, ap licar-lh e o ap arelh o p n eu m ógrafo d e Marey, p ara p erceber em su a resp iração

traços de excitação ou dep ressão”.

Tam bém eram registrad as n o cam p o Observação as in form ações oriu n d as d os exam es d iretos d os p acien tes. Variad os, tais exam es objetivavam aferir, p or m eio d e exam es clín icos e lab o rat o riais, t an t o o est ad o geral d e saú d e d o su jeit o co m o su a co n st it u ição física.

Veriricava-se in icialm en te a existên cia d e d oen ças crôn icas, com o a tu bercu lose e a sífilis, p or m eio d e ascu lta e d a reação d e Wasserm an n , resp ectivam en te. Ou tros exam es freq u en tes eram os d e u rin a, d o liq u id o cefalorraq u id ian o e d e san gu e.

Em segu id a, ain d a d e acord o com as in d icações d e Kraep elin e d as orien tações d e Magn an (Coffin , 2003; En gstrom , 2007), in iciavam -se as observações relativas a face, con stitu ição física, p ele, gân glios lin fáticos, n ariz, ou vid os, gargan ta, olh os, tórax, abd ôm en , ap arelh o

circu latório, ap arelh o gen itou rin ário. Tod as as p artes d o corp o d eviam ser exam in ad as d e m an eira a id en t ificar est igm as físico s q u e sin alizassem a d egen eração : d efo rm id ad es cran ian as, estrabism o, d efeitos em d en tes e orelh as, d eform ações ósseas, fem in ism o, m em bro viril excessivam en te gran d e ou p eq u en o, cegu eira, gagu ez, su rd o-m u d ez e até m esm o a

feald ad e (Roch a, 2003, p .174). Tórax, p u lm ões, coração, fígad o, baço, estôm ago e in testin os d eviam igu alm en te ser avaliad os, p rocu ran d o-se relacion ar su as lesões às m an ifestações d a alien ação m en t al.

Passava-se en tão ao exam e d o sistem a n ervoso. O observad o era su bm etid o a exam e d e p ercu ssão do crân io e avaliação do sistem a n ervoso p elos reflexos ten din osos, cu tân eos e p u p ilares. Dep o is, realizavam -se o s t est es an t ro p o m ét rico s, q u e ao lo n go d o t em p o se

d iversificaram e com p lexaram n o Hosp ício Nacion al (Brasil, MJNI, 1903). As m ed id as d o crân io serviriam p ara avaliar o d esen volvim en to d o córtex cerebral e estabelecer a p rop orção en tre cabeça e corp o. A m aioria dos docu m en tos clín icos traz descrição m in u ciosa desses ca ra ct eres m o rfo ló gico s, sen d o regist ra d o s t a m b ém o s t ra ço s físico s in d ica t ivo s d e

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In divídu o de estatu ra baixa, m edin do 1m 54, de com pleição física robu sta. Pesa 50 qu ilos. ... Pela in sp eção n ota-se u m a d iferen ça en tre o lom bo d ireito e o esq u erd o on d e aq u ele [é] m ais baixo. Tem p êlos abu n d an tes, bem d istribu íd os, tem p ele bem lu brificad a, p an ícu lo ad ip oso bem d esen volvid o. Mu scu latu ra d esen volvid a. Nota-se u m a p eq u en a cicatriz n a face in t ern a d a co xa esq u erd a, e u m a m an ch a [p alavra ilegível] n a face ext ern a d a co xa d o m esm o lad o . No p ên is t em várias cicat rizes d e t am an h o s e fo rm as variad as. Facies carregad a d e asp ecto triston h o. Tem barba cerrad a. Su p ercílios esp essos, n ão con flu en tes n a raiz d o n ariz. Orelh as bem im p lan tad as, sem lobos ad eren tes. Cabeleira vasta e p reta. Den t es em b o m est ad o d e co n servação . Dad o s an t ro p o m ét rico s: Cu rva fro n t o ccip it al 0,335; Curva biauricular 0,345; Circun ferên cia h orizon tal 0,560; Diâm etro an tero-posterior 0,180; Diâm etro tran sverso 0,165. Ín dice cefálico 91. Tipo em que se en quadra: Braquicéfalo [p alavra ilegível]. Q u an t o ao s exam es, Reação d e Wasserm an n : p o sit iva; Lin fo cit o se: p ositiva; Reação d e Non n e: p ositiva; (Pron tu ário, 1923).

Vem os en tão elaborar-se, ao lon go d as d écad as estu d ad as, u m in stru m en tal cad a vez m ais com p lexo e criterioso e, com ele, m ilh ares d e p ap eletas com h istórias p essoais, m odos d e in terp retar, d iagn osticar e tratar as d oen ças m en tais.

Os relatórios do Ministério da Justiça e Negócios Interiores

Para com p reen derm os o cotidian o dos p acien tes n o Hosp ício Nacion al p ercebem os q u e seria n ecessário obter m ais in form ações sobre os esp aços físicos em q u e eram in tern ados e os p ercu rsos desses in divídu os n o âm bito da in stitu ição. Além disso, q u eríam os con h ecer m elh or os resp on sáveis p elas seções e articu lar su as p ráticas aos artigos q u e escreviam , de m od o a id en tificar su as lin h as teóricas, o u so q u e faziam d as terap êu ticas d isp on íveis etc. Os relatórios an u ais24 en viad os p elo d iretor d a Assistên cia a Alien ad os ao MJNI, n os

p rop orcion aram dados sobre in stalações físicas, reform as feitas n o h osp ício, m édicos q u e lá trabalh avam , h ierarq u ia d os vários p rofission ais, q u eixas e p roblem as d estacad os p ela d ireção e, ain d a, a aten ção q u e o govern o d ava às su as d em an d as. No p eríod o estu d ad o – lem bram os – Ju lian o Moreiraera o d iretor d o Hosp ício Nacion al d e Alien ad os e tam bém d iretor geral d a Assistên cia a Alien ad os, sen d o, p ortan to, o au tor d os relatórios en viad os ao Min ist ério .

Os relatórios con stam de u m a in trod u ção do m in istro d a Ju stiça e Negócios In teriores, in fo rm açõ es d o ch efe d a Assist ên cia a Alien ad o s, d o d iret o r d o Ho sp it al Nacio n al d e Alien ad o s, d o s ch efes d as d iversas seçõ es d o H o sp ício N acio n al (C iru rgia, Farm ácia, Clin oterap ia etc.), d os d iretores d as colôn ias (Ilh a d o Govern ad or, Jacarep agu á e En gen h o d e Den t ro ) e d o s en carregad o s d as co m issõ es ad m in ist rat ivas ad hoc, co n st it u íd as p ara avaliar a situ ação d a Assistên cia.25

Sobre a forma dos relatórios

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Algu n s assu n t o s são freq u en t es n o s relat ó rio s, co m o a n ecessid ad e d e refo rm as n a in fraestru tu ra asilar e a p restação d e con tas d as m u d an ças realizad as. No q u e d iz resp eito aos in tern os, q u ase todos os relatórios trazem q u adros estatísticos com o flu xo de p acien tes, bem com o p ercen tu ais d e d iagn ósticos e d oen ças.

En con tram os, por vezes, a descrição dos pavilh ões e seções, os n om es de fun cion ários e sua m ovim en tação – licen ças m édicas, n om eações para cargos, viagen s, salários – (relatórios de 1901 a 1919). Há ain da in form ações esparsas sobre participação deles em con gressos n o Brasil e n o exterior (relatórios d e 1905, 1906 e 1913). Os relatórios tam bém m en cion am alterações n as leis que regiam a assistên cia (relatórios de 1900, 1901, 1902, 1903, 1904 e 1907) e con trovérsias en tre autoridades a respeito de sua aplicação (relatórios de 1900 e 1902).

En tre os relatórios an alisad os, d estacam os os an os d e 1902, 1904 e 1905, cu jos an exos exp õem q u estões im p ortan tes com o con flitos en tre o Pavilh ão de Observação e a diretoria d o h osp ício e a in au gu ração d e u m setor d ed icad o a crian ças.

O an exo d o relat ó rio d e 1902 in t it u la-se “Relat ó rio d a Co m issão d e In q u érit o so b re a s co n d içõ es d a Assist ên cia a Alien ad o s n o Ho sp ício Nacio n al e co lô n ias d a Ilh a d o G o vern ad o r”.2 6 Tra t a va d a s p éssim a s co n d içõ es d o H o sp ício , en fa t iza n d o a lo t a çã o

exced en te, a m istu ra en tre p en sion istas e in d igen tes e a “p rom iscu id ad e” en tre ad u ltos e crian ças.27 A Com issão con statou q u e tam p ou co h avia divisão en tre esp écies n osológicas,

q u er p siq u iátricas ou de n atu reza geral. Além disso, criticava o tem p o ocioso dos en ferm os n o asilo e a falta d e h igien e e organ ização, ressaltan d o os con flitos en tre o Pavilh ão d e Observação e a diretoria do Hosp ício.

O relatório d e 1902 refere-se à n om eação d e Ju lian o Moreira p ara o cargo d e d iretor d o Hosp ício Nacion al e à d estin ação d e verbas p ara as m u d an ças estru tu rais p or q u e p assaria a in stitu ição em su a gestão. O relatório d escrevia a am p liação d o Pavilh ão d e Observação, q u e m an teve su a au ton om ia em relação ao Hosp ício Nacion al e su a ligação com a Facu ld ad e d e Med icin a d o Rio d e Jan eiro.

Com o con seq u ên cia d a Com issão d e In q u érito e d o in gresso d e Ju lian o Moreira, h ou ve a in au gu ração d o Pavilh ão Bo u rn eville (d est in ad o às crian ças), relat ad a n o relat ó rio p u b licad o em 1 9 0 3 . O u t ras m u d an ças fo ram a in st alação d o s serviço s fo t o gráfico s, oftalm ológicos, od on tológicos e d o gabin ete an trop om étrico28, bem com o se rep ortava a

organ ização d as oficin as d e costu ra e a m elh ora d o laboratório d e h istoq u ím ica.29

O relatório referen te a 1904 tam bém p ossu i an exo, in titu lad o “Relatório d o Diretor In t erin o d o Ho sp ício Nacio n al d e Alien ad o s”. Escrit o p o r Afrân io Peixo t o , t rat ava em d etalh es d as m u d an ças em p reen d id as n as seções, os tratam en tos, as d oen ças m ais freq u en tes, a arq u itetu ra, as leis etc.30 Asp ecto ressaltad o é a in au gu ração, em 3 d e abril d e 1905, d o

Serviço Cirú rgico e d o Pavilh ão p ara Moléstias In fecciosas In tercorren tes. Foram edificad os, en tão, o Pavilh ão p ara Ep iléticos Tran q u ilos ou Sem itran q u ilos e o Pavilh ão Seabra, com algu m as o ficin as. In st alo u -se ad em ais u m a b ib lio t eca p ara fu n cio n ário s e o u t ra p ara en ferm os d a seção Calm eil, seção m ascu lin a p ara p en sion istas.

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d a Co m issão In sp et o ra d a Assist ên cia a Alien ad o s n o Dist rit o Fed eral”, d ed icad o ao s estabelecim en tos p articu lares existen tes n a cap ital d o p aís. O an exo d o d iretor d o Hosp ício m en cion a, p ela p rim eira vez, os Pavilh ões Gu islain e Griesin ger, am bos p ara ep iléticos (o p rim eiro p ara h om en s, o segu n d o p ara m u lh eres, p rovavelm en te o m esm o referid o n o relatório an terior, m as sem o n om e d a seção), o Laboratório An atom op atológico, alu din d o tam bém à criação d e u m a sala d e leitu ras n a seção Pin el, seção m ascu lin a d e n ão p agan tes, ou in digen tes, com o eram d en om in ados esses p acien tes n os relatórios.31

Desde 1900 são con stan tes as reclam ações d e su p erlotação d o Hosp ício, o q u e p assa a esten d er-se às colôn ias a p artir d e 1903. O d iretor d efen d ia a criação d e n ovas colôn ias ju stam en te p ara desafogar o Hosp ício Nacion al.32 As seções m ais lotad as eram a Pin el e a

Esq u irol (d e m u lh eres n ão p agan tes), q u e rep etid am en te atin giam o d obro d a su a cap acid ad e, q u e era d e 250 p essoas.33

A d oen ça q u e m ais óbitos cau sava n o Hosp ício Nacion al era a tu bercu lose, e p or isso co m freq u ên cia o d iret o r p ed ia u m p avilh ão d est in ad o a ab rigar esses d o en t es.3 4 O s

alcoólatras rep resen tavam o m aior n ú m ero d e rein cid en tes e tam bém o m aior n ú m ero d e diagn ósticos. Ap esar disso, os relatórios n os in form am sobre a p resen ça de “m u ita com ida, vin h o d o p orto, vin h o virgem e cerveja” n o Hosp ício Nacion al, o q u e foi criticad o p ela com issão d e 1902 (Brasil, MJNI, 1902, p .22). Dep ois d a p osse d e Ju lian o Moreira, a referên cia a esses p rodu tos desap arece dos relatórios. En tretan to, Hen riq u e Roxo (1910) com en ta q u e “n o Hosp ício é m ais fácil en con trar algu ém q u e te d ê o q u e beber d o q u e u m p ão” (p .410), a d em on strar a p erm an ên cia d e bebid as n o in terior d a in stitu ição.

En tre 1908 e 1928, os relatórios ficam m ais p ad ron izad os, com estru tu ras sem elh an tes. In iciam p elo m ovim en to d e in tern os, em segu id a d issertam sobre cad a seção e serviço e, p or ú ltim o, tratam d o m ovim en to d e fu n cion ários (licen ças, n om eações, su bstitu ições). Por fim , h á os relatos sobre as colôn ias. Tão p arecid os são, q u e os d e 1911 e 1912 ap resen tam os m esm os n ú m eros p ara os serviços d e eletricid ad e m éd ica e d e od on tologia, o q u e d eixa m argem a d ú vid as q u an to à veracid ad e d os d ad os.

Os serviços terap êu ticos m ais citad os são o gabin ete d a eletroterap ia35, a clin oterap ia36,

o s serviço s cin esio t eráp ico s37 e h id ro t eráp ico s o u d e b aln eo t erap ia38, co n st it u in d o est e

ú ltim o, segu n d o o relatório d e 1910, u m d os p rin cip ais elem en tos d e cu ra d e q u e d isp õe o alien ist a.

Conteúdo da base de dados

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são discrim in adas ou tras in stitu ições e serviços; n orm as m in isteriais, leis, decretos, p ortarias, est at u t o s e afin s (co m lin ks p ara cad a u m d eles). Fin alm en t e, ressalt am o s d isp u t as e con trovérsias in tern as ou extern as relatadas n os relatórios; idas de m édicos a con gressos e ou tras ativid ad es n o exterior; visitas d e m éd icos estran geiros n o Hosp ício; e, fin alm en te, con gressos organ izados pelos profission ais da in stitu ição.

Hospício Nacional de Alienados em imagens: a reforma Juliano Moreira e o estandarte da psiquiatria no Brasil

A reforma de 1904

O in ício da gestão de Julian o Moreira, em 1903, m arcou um a in flexão n a estrutura para tratam en to dos asilados n o Hospício Nacion al de Alien ados, tratado até en tão com o “casa p ara d et en ção d e lo u co s, o n d e n ão h á t rat am en t o co n ven ien t e, n em d iscip lin a, n em fiscalização ” (Relat ó rio t écn ico ..., 1903). À alegad a ru ín a m at erial e m o ral d o Ho sp ício con trapôs-se um a am pla reform a, viabilizada pela reorgan ização da Assistên cia a Alien ados em 1903 (Brasil, 22 dez. 1903), qu e in corporou diversas das solicitações feitas por Ju lian o Moreira em ofício de 16 de julh o daquele an o. Con cluídas em 1904, as obras foram relatadas e ju stificad as n os relatórios m in isteriais su bsequ en tes (1904 e 1905). A plan ta da Figu ra 1 d istin gu e, em p reto, as n ovas con stru ções e em h ach u ras, as ed ificações an tigas tam bém reform ad as.

Além d e relatar as van tagen s d as n ovas in stalações d o Hosp ício e seu s serviços, o relatório ap resen ta cin q u en ta fotografias39, com o registro in con teste d as m od ificações realizad as.

As im agen s refletem n ão ap en as as m od ern izações d o esp aço asilar, m as igu alm en te p acien tes em ativid ad es terap êu ticas ou a circu lar p elo asilo. Para além d o efeito com p robativo q u e exp ressam e q u e se coad u n a com os objetivos p ara o q u al foram p rim ariam en te p rod u zid as, as fo t o grafias d o Ho sp ício Nacio n al revelam algu n s elem en t o s d o co t id ian o d e u m a in st it u ição p siq u iát rica n o in ício d o sécu lo XX. A o p ção p o r u t ilizar m ajo rit ariam en t e registros con stru íd os d e form a elaborad a, com u m a rep resen tação h arm ôn ica d o am bien te, d o s p acien t es, d o s m éd ico s e d o s eq u ip am en t o s, p erm it e en t rever t an t o o q u e lá est á visivelm en te rep resen tad o q u an to as au sên cias igu alm en te sign ificativas.

O lu gar d os in san os, d os ep ilép ticos, d os lou cos p erigosos, d os im u n d os, d as lou cas, d as h ist éricas, d o s d em en t es, d o s d esasseiad o s, d o s id io t as e d o s im b ecis, co n fo rm e d en om in ação corren tem en te u tilizad a n esse p eríod o, n ão é o m esm o lu gar retratad o n as im agen s. Esses p acien tes ap arecem circu n stan cialm en te, p orém sem p re d e form a ord eira, cord ata e p articip ativa. De fato, em algu m as d as im agen s, o Hosp ício se assem elh aria a u m a casa de rep ou so, com lazer e exercícios. As p atologias, os sin tom as e seu s d iagn ósticos, m otivo p elo q u al aq u eles in d ivíd u os ali foram in tern ad os, n ão estão rep resen tad os n as im agen s. O esp aço físico ed ificad o e reform ad o n a gestão d e Ju lian o Moreira, retratad o em tod a a su a assep sia e ord en am en to, é o lu gar d a ciên cia p siq u iátrica, e n ão o rep ositório d e d oen tes q u e as con stan tes q u eixas d e su p erlotação m en cion avam .

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do Hospício Nacion al podem ser in terpretadas, portan to, com o a dem on stração desse m odelo cien tífico m odern o, posto em prática n o tratam en to psiqu iátrico por Ju lian o Moreira.40

Assim , u m a an álise p orm en orizad a d as fotografias d o Hosp ício p erm ite relacion ar a con ju n tu ra em q u e elas foram feitas a u m exam e d os p rin cip ais elem en tos con stitu tivos d e su a p ro d u ção (assu n t o / t em a, fo t ó grafo e t ecn o lo gia em p regad a). Co n fo rm e in d ico u o h istoriador Ulp ian o Bezerra d e Men ezes (2003), o em p irism o d as im agen s n ão está som en te n as in form ações q u e elas ap resen tam , m as tam bém n a form a com o foram visu alm en te elaborad as. Tal p ersp ectiva p erm ite-n os ap on tar a forte vin cu lação id eológica com o id eal d e p rogresso d a ciên cia m éd ica e p siq u iátrica. É o q u e vem os n as im agen s aq u i rep rod u zid as.

Imagens do Hospício

En tre as d iversas m od ificações n a estru tu ra d o asilo, os relatórios d e 1904 e 1905 ressaltam as n ovas in stalações d a cozin h a (Figu ra 2), d a lavan d eria e d o n ecrotério, d em on stran d o o cu id ad o n a p rep aração d e alim en tos, bem com o o asseio e a h igien e q u e im p eram n o Ho sp ício Nacio n al. A co zin h a fo ra ed ificad a en t re o ed ifício p rin cip al e o Pavilh ão d e Observação, e n ela in stalad o u m sistem a a vap or, com o objetivo d e facilitar o p rep aro d os alim en t o s. Tam b ém fo ram ad q u irid as q u at ro d u p las d e m arm it as, gran d es p an elas d e ferro fu n d id o ap oiad as em u m a base q u e girava em torn o d e u m eixo (Figu ra 3).

Para viabilizar o p len o fu n cion am en to d os n ovos serviços, in stalou -se u m a u sin a d e eletricid ad e, d estin ad a a forn ecer en ergia ao Hosp ício d u ran te a n oite e, p ara algu n s serviços, d u ran te o d ia. Foi in stalad a ain d a, em sala p róp ria, a Biblioteca Méd ica, e reform ad a a Bib lio t eca d o s En ferm o s, co m p u b licaçõ es esco lh id as p esso alm en t e p elo d iret o r d a in st it u ição .

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Figura 4: Biblioteca (Brasil, MJNI, 1904-1905, Anexo)

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Para acabar com os p roblem as q u e h aviam sid o d en u n ciad os p elas com issões an teriores, foram ed ificad os cin co n ovos p avilh ões: p ara crian ças, p ara ep ilép ticos e p ara p ortad ores d e d o en ças in feccio sas in t erco rren t es – est es ú lt im o s d ivid id o s em alas p ara h o m en s e m u lh eres. Qu an d o se fez o registro visu al d as reform as, os p avilh ões d ed icad os às m oléstias in fecciosas ain d a n ão tin h am sid o in au gu rad os. Os d estin ad os a ep ilép ticos tran q u ilos ou sem it ran q u ilo s já est avam fu n cio n an d o (Figu ra 5). Para est es fo ram ad q u irid as cam as esp eciais, lad ead as p or tábu as d e m ad eira q u e p reven iam con tra a q u ed a d os p acien tes, em caso d e con vu lsão n otu rn a (Figu ra 6).

O Pavilh ão -Esco la Bo u rn eville, d ed icad o exclu sivam en t e a crian ças, p ro p u n h a-se a o ferecer-lh es t rat am en t o esp ecializad o , d ist in t o d o m in ist rad o ao s ad u lt o s (Figu ra 7). Con tava com u m a sala com ap arelh os d e gin ástica, cu rso p ara ed u cação d e m en in os e m en in as, cam as ap rop riad as e u m jard im geom étrico, q u e tin h a com o fu n ção p rop iciar aos p eq u en os o con h ecim en to d e form as, relevo etc. (Figu ra 8).

O serviço d e elet ro t erap ia fo i refo rm ad o , p assan d o a d isp o r d e en ergia elét rica p ara tratam en tos com o eletrólise, ban h o d e lu z elétrica, ban h o h id roelétrico, raios d e Roen tgen , ozon izad or, rad ioscop ia e fototerap ia p ara o tratam en to d e d oen ças cu tân eas (Figu ras 9 e 10). Disp u n h a t am b ém d e in st alaçõ es p ara elet ro d iagn ó st ico . Fo i criad o u m serviço cin esio t eráp ico , q u e in clu ía gin ást ica, m assagem m an u al e elét rica e reed u cação d e m ovim en tos. A farm ácia p assou a cu id ar d a form u lação d e p rep arad os p referen cialm en te com p rodu tos brasileiros e d a im p ortação d e d rogas d a Eu rop a.

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Figura 6: Dormitório de epilépticos, com camas especiais (Brasil, MJNI, 1904-1905, Anexo)

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Figura 9: Sala de eletroterapia (Brasil, MJNI, 1904-1905, Anexo)

(23)
(24)

No s p avilh õ es Esq u iro l e Mo rel, d ed icad o s às m u lh eres, refo rm aram -se o s serviço s b aln eo t eráp ico s, co m in st alação d e n o vas d u ch as e b an h eiras. Em am b o s fo ram feit as m elh o ras n o s refeit ó rio s. No p avilh ão d e m u lh eres in d igen t es (Esq u iro l), in st alaram -se oficin as d e costu ra, com a d u p la fu n ção d e aten d er à d em an d a d e rou p as p ara os in tern os e d e ocu p ar as m u lh eres com ativid ad es laborais (Figu ra 11). Para essa seção foi, tam bém , ad q u irid o u m p ian o.

Os p avilh ões Pin el e Calm eil, p ara tratam en to d os h om en s, tam bém tiveram m elh oras n os serviços baln eoteráp icos e n os refeitórios. O p rim eiro p avilh ão era o m ais p op u loso do Ho sp ício . So b a ad m in ist ração d o d o u t o r An t o n io Au st regésilo , in t ro d u ziram -se m o d i-ficações n o tratam en to d ado aos in tern os: u so obrigatório d a clin oterap ia; sep aração, em esp aço à p arte, dos in tern os d elin q u en tes, im p u lsivos ou p erigosos; abolição do recu rso às cam isas d e força; in stalação d e u m a latrin a coletiva n o p átio; d em issão d e fu n cion ários q u e in fligiam m au s-tratos aos p acien tes; e reform a d os d orm itórios d os ‘im u n d os’ (Figu ras 13, 14 e 15).

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Figura 13: Pátio da seção Pinel (Brasil, MJNI, 1904-1905, Anexo)

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Figura 14: Pavilhão dos Desasseiados (Brasil, MJNI, 1904-1905, Anexo)

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A Seção Calm eil, so b a ad m in ist ração d o Dr. Afrân io Peixo t o , p asso u a d isp o r d e t rat am en t o open-door, co n ced en d o ao s in t ern o s m aio r lib erd ad e. O u t ra m elh o ria fo i a in stalação d e u m a sala d e d iversões p rovid a d e bilh ar, jogo d e d am as, xad rez, d om in ó e cartas (Figu ra 16).

Tam bém foi criad o u m Laboratório d e An atom ia Patológica e Qu im icoclín ico, além d e u m Gabin ete de Psicologia Exp erim en tal, e in au gu rou -se u m serviço cirú rgico p erm an en te, q u e in clu ía sala d e cu rativos, an tessala op eratória e sala d e op erações (Figu ra 17).

O Pavilh ão d e Oficin as, d en om in ad o Pavilh ão Seabra em h om en agem ao m in istro d a Ju stiça e Negócios In teriores, foi con stru ído p ara abrigar oficin as em q u e in tern os do sexo m a scu lin o rea liza ria m t ra b a lh o s m et ó d ico s, en t en d id o s co m o ferra m en t a d e d isci-p lin arização e t rat am en t o , além d e o ferecerem serviço s d e m an u t en ção d o Ho sisci-p ício a cu st o red u zid o . O esp aço ab rigo u o ficin as d e ferraria e b o m b eiro ; m ecân ica elét rica; carp in taria e m arcen aria; tip ografia e en cad ern ação; sap ataria; colch oaria, vassou raria e p in tu ra (Figu ra 18). Para as m u lh eres foram criad as oficin as d e tap eçaria, fabricação d e flores e costu ra. Às crian ças d estin ou -se u m a oficin a d e em p alh ação.

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Figura 18: Pavilhão Seabra (Brasil, MJNI, 1904-1905, Anexo)

O estandarte da psiquiatria brasileira

Em 1909, algu n s an os ap ós a reform a d o Hosp ício Nacion al, a cid ad e d o Rio d e Jan eiro sediou a Exp osição In tern acion al d e Higien e, p or ocasião d o 4o Con gresso Médico Latin

o-Am erican o . Era co m u m à ép o ca o rgan izar exp o siçõ es p ú b licas co n co m it an t em en t e à realização de en con tros, colóq u ios, con gressos e con ferên cias esp ecializadas, com o p rop ósito d e ap resen tar ao p ú blico leigo e esp ecializad o o q u e d e m ais m od ern o existia n o Brasil e n o m u n d o .

Segu n do Alm eida (2006), ap esar de d isp or d e p ou cos recu rsos, a Exp osição In tern acio-n al d e Higieacio-n e d e 1909 coacio-n tou com os p réd ios su acio-n tu osos coacio-n stru íd os p ara a Exp osição Nacion al d e 1908, em vasto terren o situ ad o en tre as p raias Verm elh a e d a Sau d ad e. Nos p avilh ões en tão reu tilizad os, foram exp ostos “esp écim es, artefatos, fotografias, q u ad ros, m ap as, tu d o acom p an h ad o d e in form ações p recisas e escritas em lin gu agem sim p les” (p .2), aten d en d o à m issão d e levar os p rin cíp ios d a h igien e p ara a p op u lação d e form a d id ática e acessível.

Imagem

Figura 1: Planta do Hospício Nacional de Alienados (Brasil, MJNI, 1904-1905, Anexo)
Figura 2: Fachada da cozinha do Hospício Nacional de Alienados (Brasil, MJNI, 1904-1905, Anexo).
Figura 3: Marmitas da cozinha a vapor (Brasil, MJNI, 1904-1905, Anexo)
Figura 5: Pavilhão dos Epilépticos (Brasil, MJNI, 1904-1905, Anexo)
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Referências

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