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Ao Circuito Espacial Produtivo e Circuitos da Economia Urbana: elo entre o comércio varejista de vestuário de União dos Palmares-AL e o Polo de Confecções de Pernambuco

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Academic year: 2021

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DOI: 10.17648/diversitas-journal-v4i2.708

Volume 4, Número 2 (mai./ago. 2019) pp: 433-457.

www.kentron.ifal.edu.br/index.php/diversitas_journal

© Diversitas Journal

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Ao Circuito Espacial Produtivo e Circuitos da Economia Urbana: elo

entre o comércio varejista de vestuário de União dos Palmares-AL e o

Polo de Confecções de Pernambuco

To the Productive Space Circuit and Circuits of the Urban Economy:

a link between the retail trade of apparel from União dos Palmares-AL

and Polo de Confecções de Pernambuco

Cristiane da Silva(1)

(1)Mestra do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Geografia, Desenvolvimento e Meio Ambiente – IGDEMA, da Universidade Federal de Alagoas-UFAL; Bolsista FAPEAL–Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas; Membro pesquisador do Grupo de Estudos Territoriais-GETERRI, da Universidade Estadual de Alagoas-UNEAL, Campus Zumbi dos Palmares. E-mail: crys-silva13@hotmail.com.

Todo o conteúdo expresso neste artigo é de inteira responsabilidade dos seus autores.

Recebido em: 18 de dezembro de 2018; Aceito em: 25 de abril de 2019; publicado em 19 de 05 de 2019. Copyright© Autor, 2019.

RESUMO: O trabalho busca compreender a dinâmica da economia de União dos Palmares-AL, a partir da interpretação da teoria dos dois circuitos da economia urbana (2008, [1979]) e atuação dos circuitos espaciais de produção na caracterização das etapas no ramo de vestuário. Propõe-se analisar o circuito inferior do ramo varejista de vestuário na cidade de União dos Palmares e sua relação com o circuito inferior e superior marginal do Polo de Confecções de Pernambuco, constituído pelo triângulo das cidades de Caruaru - PE, Santa Cruz do Capibaribe - PE e Toritama – PE. Entendemos que o circuito inferior é formado pelo conjunto de atividades de pequeno porte que atende as necessidades da população pobre, nas cidades. O circuito superior marginal corresponde, a sobrevivência de atividades que não interessam aos agentes que comandam a economia ou da emergência de atividades que preenchem as vagas deixadas pelas modernizações recentes. Para entender as dinâmicas das atividades dos circuitos, consideram-se, características a organização das atividades. A análise do circuito inferior a partir da atuação de micro e pequenas empresas, porém entende-se que essa caracterização nos dá apenas uma apreensão de modo muito parcial, já que engloba várias atividades desde o vendedor ambulante ao pequeno estabelecimento. Considera-se outros elementos na investigação, que evidenciam os rumos do consumo e a persistência da pobreza e a inserção de novas variáveis atribuídas ao processo de modernização no circuito inferior. Contudo, entendemos que a modernização é seletiva, se dá em diferentes níveis numa mesma cidade, no centro e na sua periferia.

PALAVRAS-CHAVE: Circuitos econômicos, Etapas de produtividade, Dinâmica da atividade interurbana e intraurbana

ABSTRACT: The paper seeks to understand the dynamics of the economy of the Palmares-AL Union, based on the interpretation of the theory of the two circuits of the urban economy (2008, [1979]) and the performance of space production circuits in the characterization of stages in the garment industry. It is proposed to analyze the lower circuit of the clothing retail sector in the city of União dos Palmares and its relation with the lower and upper marginal circuit of the Polo de Confecções de Pernambuco, constituted by the triangle of the cities of Caruaru - PE, Santa Cruz do Capibaribe - PE and Toritama - PE. We understand that the lower circuit is formed by the set of small activities that meets the needs of the poor population, in the cities. The upper marginal circuit corresponds to the survival of activities that do not interest the agents who command the economy or the emergence of activities that fill the vacancies left by recent modernizations. In order to understand the dynamics of the activities of the circuits, they are considered, characteristics the organization of the activities. The analysis of the lower circuit from the performance of micro and small companies, however it is understood that this characterization gives us only a partial apprehension, since it encompasses several activities from the peddler to the small establishment. It is considered other elements in the investigation, which show the directions of consumption and the persistence of poverty and the insertion of new variables attributed to the process of modernization in the lower circuit. However, we understand that the modernization is selective, occurs at different levels in the same city, in the center and in its periphery.

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INTRODUÇÃO

O Período Técnico-Científico-informacional marca um acelerado processo de transformação do espaço geográfico “formado por um conjunto indissociável de sistemas de objetos e de ações” (SANTOS, 1994, p.55). Esse período caracteriza um novo momento do capitalismo, especialmente após os anos 1970, quando se configura a difusão seletiva dos novos vetores da globalização que promoveram um enorme processo de reestruturação da produção e do consumo.

Nesse contexto a difusão dos vetores da globalização nos países periféricos tem conduzido a organização e a reorganização do espaço geográfico, em função de interesses distantes. Como lembra Milton Santos (2008), nas nações periféricas, a chegada de duas variáveis elaboradas no centro do sistema - a informação e o consumo - são fatores fundamentais para compreendermos as mudanças na economia, na sociedade e na organização do espaço.

O advento das novas tecnologias e a inovação do mercado marca uma reestruturação nos sistemas produtivos, no caso da produção de vestuário, processo que se torna evidente na década de 1990. O ramo varejista de vestuário inserido na indústria de confecções constitui a etapa final do circuito espacial produtivo de confecções.

Assim, a pesquisa tem como recorte a cidade de União dos Palmares no Estado de Alagoas e sua comunicação com o Polo de Confecções de Pernambuco, a partir do circuito espacial produtivo nas etapas: produção, distribuição, comercialização, consumo e sua integração com os circuitos da economia urbana: circuito superior e inferior.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Desta feita, para compreender as atividades do circuito inferior do ramo varejista de vestuário e a importância desses agentes para o funcionamento da dinâmica de União dos Palmares, adotamos os seguintes procedimentos metodológicos: atualização bibliográfica, e levantamento de dados secundários, em fontes como, IBGE, SEBRAE, SEPLAG, ABIT, Sindilojas-União dos Palmares-AL e Prefeitura Municipal de União dos Palmares-AL.

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Página | 435 Para obter as características e elementos constituintes das atividades ligadas ao

ramo varejista de vestuário no recorte espacial de União dos Palmares, definimos duas áreas em que o comércio exerce influência na dinâmica da cidade a citar o Centro: em que as atividades do circuito inferior aparecem concentradas, primeiramente, na área central surgida a partir da feira livre; e após o bairro Roberto Correia de Araújo, na periferia da cidade, com pouco mais de 8.000 habitantes e um circuito inferior mais ocasional, atividades comumente encontradas nas residências. Do conjunto total da amostra, na pesquisa, aplicamos 140 formulários nos dois bairros, subdividido da seguinte forma: na parte central foram, 40 para proprietários (gerentes), 40 funcionários (vendedores) e 30 na feira livre que funciona cinco dos sete dias da semana. Já no bairro Roberto Correia de Araújo foram 15 para proprietários (gerentes) e15 funcionários (vendedores).

MEIO TÉCNICO-CIENTÍFICO, INFORMACIONAL: A ARQUITETURA DA GLOBALIZAÇÃO

Ápice do processo de internacionalização do mundo capitalista, a globalização é o resultado do estado das técnicas e do estado da política. Milton Santos (2012) nos lembra que o fenômeno da globalização não é apenas conduzido pela existência de um sistema de técnicas, mas resultado de ações e processos políticos que contribuem, para explicar a arquitetura do atual sistema global, a saber: a unicidade da técnica, a convergência dos momentos, a cognoscibilidade do planeta e a existência de um motor único na história, representado pela mais - valia globalizada (SANTOS, 2012, p. 24).

A unicidade técnica é, no atual período histórico, marcado pela existência de um sistema técnico que está presente, em graus diferenciados, em todo o planeta. Esse sistema, por sua vez, se comunica entre si, graças às técnicas da informação - dadas pelo desenvolvimento da cibernética, da informática e da eletrônica. Na indústria têxtil é possibilitada pela utilização de técnicas modernas para gerenciamento da cadeia de suprimentos integrando as etapas do circuito espacial produtivo, reduzindo o tempo entre produção e comercialização. Isto se dá “pela formação de redes compostas por ateliês de design, fornecedores de fibras e outras matérias-primas, tecelagens, confecções e grandes cadeias varejistas, em que a logística de toda a cadeia foi otimizada via

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Página | 436 informatização: electronic data interchange (EDI) e efficient consumer response (ECR)”

(GORINI, 2000, p.21).

A convergência dos momentos ou unidade do tempo tem permitido a simultaneidade das ações responsáveis pela aceleração do processo histórico, em função do advento das novas tecnologias que rompe com o paradigma entre espaço e tempo, imediatizando as criações que passam a ser lançadas em tempo real. É a busca pelo novo e imediato constantemente.

A cognoscibilidade do planeta, abre a possibilidade de conhecer extensiva e profundamente o planeta. Na indústria têxtil ocorre graças às inovações alcançado pelo desenvolvimento da química. O site da empresa Metachem (2018), mostra que o beneficiamento de tecidos é uma etapa que engloba diversos processos que visam garantir características específicas para cada produto, como o aspecto visual e de toque. Isto se dá com aplicação dos produtos químicos em tecidos sintéticos e artificiais, com aplicação de branqueador óptico / alvejante, corantes, antiespumantes, agentes redutores, fixadores, dispersantes, sequestrantes, umectantes, desengomantes, encorpantes e agentes antimofo (METACHEM:2018).

O motor único ou mais-valia mundializada é a competitividade das empresa globais, fruto do contínuo progresso técnico-cientifico-informacional, forma de exercício da mais-valia universal que se torna fugidia porque a cada momento da história, demanda de mais técnica, ciência e informação. É obtida pelos crescentes esforços nos ativos inatingíveis das marcas, desenvolvimento de produto, marketing, canais de distribuição e comercialização que passaram a deslocar as etapas produtivas para regiões onde o custo com mão de obra é menor, especialmente nas etapas mais intensivas, configurando esquemas de subcontratação principalmente dentro de acordos regionais (Estados Unidos com México e Caribe, Países desenvolvidos da Europa com a Turquia e países do Norte da África, e Japão e Tigres Asiáticos com China, Indonésia, Bangladesh e Vietnã).

A presença de marcas, internacionais nos centros comerciais dos países criam um ambiente competitivo de marcas e estilos, ligados a uma tecnosfera1 que garante o

funcionamento do setor de confecções, propriamente a indústria do vestuário. O poder de penetração das grandes marcas, que se sobrepõe às características e aos códigos

1 A tecnosfera o mundo dos objetos se adapta aos mandamentos da produção e do intercâmbio e, desse modo, frequentemente traduz

interesses distantes; desde que porém se instala, substituindo o meio natural ou meio técnico que a precedeu, constitui um dado local, aderindo ao lugar como uma prótese (Milton Santos, A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção, 2012, p. 256).

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Página | 437 locais, e o desejo que despertam os consumidores forma uma psicosfera2 poderosa que

alimenta um mercado cujos produtos são efêmeros. A moda e a busca da identidade, através da exibição das marcas e signos das grifes de roupas e acessórios de fama global são influenciados pela mídia e os sistemas de comunicação globalmente interligados. Uma marca de origem francesa, japonesa ou americana, por exemplo, pode ser encontrada em países de todo o mundo, sendo objeto de desejo de pessoas de poder aquisitivo diferenciados.

A DINÂMICA DOS CIRCUITOS DA ECONOMIA URBANA NO RAMO DE VESTUÁRIO

Na década de 1970 assistimos a consolidação do processo de urbanização, com densidades desiguais de técnica, ciência e informação que se difundem no território (ALMEIDA: 2017). Esse crescimento acelerado do processo de urbanização dos países periféricos como o Brasil se organiza em função da coexistência de dois subsistemas urbanos, responsáveis por processos econômicos – o circuito superior e inferior da economia urbana, como enfatiza Milton Santos em sua obra O Espaço Dividido: os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos (2008 [1979]). A teoria dos circuitos possibilita o estudo da cidade em sua totalidade.

Os circuitos são resultados da modernização. O circuito superior resultado direto do processo de modernização e o circuito inferior resultado indireto. Ambos são complementares e antagônicos e são dotados de uma lógica interna que caracterizam e particularizam seu funcionamento, portanto, é fundamental o “exame da dialética entre os dois circuitos, responsável pela definição social e econômica e pelas possibilidades e formas de evolução tanto do organismo urbano como de sua área de influência” (SANTOS, 2009, p. 53).

Como resultado direto dessa modernização, o circuito superior possui atividades com alto grau de tecnologia, alto grau de organização e capital intensivo. Podemos incluir as grandes empresas nacionais e estrangeiras, os bancos, o setor quaternário (que engloba empresas de propaganda e publicidade, consultorias, marketing entre outras), o

2 A psicosfera é a esfera da ação. A psicosfera, reino das idéias, crenças, paixões e lugar da produção de um sentido, também faz parte

desse meio ambiente, desse entorno da vida, fornecendo regras à racionalidade ou estimulando o imaginário. (Milton Santos, A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção, 2012, p. 256).

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Página | 438 comércio e serviços modernos. No ramo de vestuário, as marcas sueca Hennes &

Mauritz (H&M), a empresa espanhola Inditex, dona da rede de loja Zara, a japonesa Uniqlo, a americana Nike, a francesa Hermès, a Ralph Lauren, a Coach, Prada, a Nike, Adidas são alguns exemplos de logotipos internacionalmente conhecidas que integram o circuito superior da indústria da moda.

Muitas dessas marcas estão hoje presentes em todas as regiões do Brasil, como por exemplo, as lojas Zara: Norte (Amazonas), Nordeste (Bahia, Maranhão, Pernambuco), Centro-Oeste (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo), Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). A sede administrativa e centro de distribuição, está localizada no bairro Alphaville na cidade de Barueri (Região metropolitana de São Paulo).

Milton Santos (2008) em suas análises sobre as características e composição dos circuitos da economia urbana, o circuito superior e inferior, observou que as atividades do circuito superior são subdivididas entre o circuito superior propriamente dito, as formas de fabricação capital intensivo, e outra é o circuito superior marginal, resultado de sobrevivência de formas menos modernas e da incapacidade do circuito superior de se fazer presente em todo território nacional.

O circuito superior marginal é composto de formas mistas. A parcela do circuito superior denominada por Milton Santos (2008) de circuito superior marginal pode ser tanto o resultado da sobrevivência de atividades que não interessam aos agentes que comandam a economia ou da emergência de atividades que preenchem as vagas deixadas pelas modernizações recentes.

Na indústria, de vestuário as empresas podem ser incluídas no circuito superior, superior marginal e inferior, dependendo do grau de incorporação técnica, capital intensivo, propaganda, publicidade, organização, tecnologia, crédito, reutilização de bens/produtos e atividades mistas que englobam formas pretéritas a formas presentes. Analiticamente os circuitos de acordo com Santos (2008) são um verdadeiro sistema de vasos comunicantes. A esse exemplo pode-se citar a empresas que englobam o Polo de Confecções de Pernambuco, que atuam no atacado e varejo e mantêm relações muitos próximas com o local de origem. São caracterizadas de empresas territoriais ou ainda hegemonizadas segundo Marcos Antonio de Moraes Xavier (2017).

O circuito inferior é resultado indireto da modernização constitui serviços menos modernos, menor teor de capital investido e/ou praticamente nenhum, pouca tecnologia,

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Página | 439 pouca organização e uma intensiva mão-de-obra de trabalho; o comércio popular, os

ambulantes, as vendas a varejo, o setor de serviços e outros pequenos estabelecimentos que atuam em menor escala. O circuito inferior dotado de trabalho intensivo e de formas menos modernas apresenta em suas características transformações e permanências. O trabalho intensivo continua como a principal característica do circuito inferior, mais atualmente há introdução de capitais em seu funcionamento com modificações nas estruturas de comercialização e consumo, o que permite falar nas transformações ocorridas neste circuito. O aparato tecnológico passa a ser presente na comercialização dos produtos, o sistema financeiro começa a inserir suas teias nestas pequenas economias via cartão de crédito, e até mesmo com a inserção de um pequeno crédito institucional. Outro fator são as tecnologias da informação utilizadas como ferramentas para divulgação, além da propaganda boca a boca, o circuito inferior utiliza publicidades, através de redes sociais, como facebook, instagram, whatsApp, aparelhos smartphones, computadores estão cada vez mais presentes no cotidiano de milhares de trabalhadores. Essas novas tecnologias têm sido absorvidas, especialmente, no comércio varejista do ramo de vestuário.

Em relação à capitalização das atividades do circuito inferior tem se realizado, por exemplo, com os microcréditos que tem beneficiado os pequenos empreendedores. É o caso, do Rio Grande do Norte, que liberou R$ 3,5 milhões para o Programa Microcréditos do Empreendedor, beneficiando mil pequenos empreendedores. O setor de confecções e comércio de roupas foi um dos beneficiados. Lançado em 2015, o Programa atinge 74 cidades do Estado. Em Toritama, Pernambuco, o microcrédito é usado para investimento produtivo em maquinaria, equipamentos, matéria-prima como mostra o estudo das autoras Jéssica Karolyne Soares de Brito; Juliane Feix Peruzzo (XXIII CONIC VII CONITI IV ENIC). Apesar do microcrédito, o setor de confecções do circuito inferior que engloba micro e pequenas empresas tem acesso restrito ao crédito, tornando-as dependentes das empresas fornecedoras como observa (SILVA, SILVA, PERALTA: 2015). Essa atividade tem grande pulverização no território nacional. Podemos dizer que o território é abrigo3 para a grande maioria dos micro e pequenos

empreendedores, diferentemente das grandes indústrias que tem o território como um

3Partindo da compreensão do mundo como sendo um conjunto de possibilidades e, sugerindo que o espaço geográfico seja assumido

como uma categoria de análise social, sinônimo de território usado, território abrigo de todos os homens de todas as instituições e de todas as organizações, ele recupera o sentido do “espaço banal” proposto pelo economista François Perroux (Milton Santos: O retorno do Território).

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Página | 440 recurso4. Essas empresas apresentam um alto grau de concorrência e baixos índices de

concentração industrial. No setor de confecção, as micro e pequenas empresas possuem um ciclo de vida curto (SILVA, SILVA, PERALTA: 2015), o alto grau de natalidade é acompanhado pela elevada mortalidade dos empreendimentos.

Para Montenegro (2013) há uma imbricação maior entre o circuito inferior e as variáveis do processo de globalização, como a técnica, a informação, o consumo e as finanças que intensificam as transformações da economia pobre, como parte do processo das variáveis. O circuito inferior incorpora técnicas modernas em suas atividades, sua definição são atividades pouco capitalizadas e com menor teor de tecnologia, mas sua ausência não é completa. Por outro lado, de acordo com Montenegro (2013) um dos principais critérios que diferencia os circuitos hoje é o grau de organização embutido nas técnicas materiais e imateriais, e não mais o acesso à tecnologia em si. Para autora, embora haja, de fato, um uso crescente das variáveis-chave da globalização por parte dos agentes do circuito inferior, este processo deve ser analisado de forma dialética. Pois, as cidades abrigam diferentes formas de incorporação das variáveis pela economia pobre e de outro lado, a assimilação não deixa de representar novas formas de subordinação ao circuito superior da economia urbana.

AS ETAPAS DO CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO DO RAMO DE VESTUÁRIO

O processo de globalização da sociedade condiciona de acordo com Santos “a mundialização do espaço geográfico”. É sob a égide das variáveis do atual período que buscar-se-á compreender a dinâmica dos circuitos espaciais de produção e dos círculos de cooperação, para então entender o funcionamento do território, que de acordo Santos e Silveira (2012, p. 143) é “definido pela circulação de bens e produtos e, por isso, oferecem uma visão dinâmica, apontando a maneira como os fluxos perpassam o território.”

Os circuitos espaciais produtivos são formados por empresas de diversos tamanhos, incluídas no circuito superior, superior marginal e inferior da economia urbana, enfatizados anteriormente e que estão presentes em diferentes frações do

4 O território como recurso é o território como norma, espaço internacional de interesse das empresas (Milton Santos: O retorno do

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Página | 441 território. Portanto, o estudo dos circuitos da economia urbana e dos circuitos espaciais

de produção permite entender a totalidade e a atuação das empresas que participam das etapas de produção.

As etapas produção, distribuição, comercialização e consumo segundo Silvana Silva (2017), são responsáveis pela repartição dos fixos e condicionam os fluxos. O essencial dos fluxos é visto a partir dos círculos de cooperação, que não são necessariamente materiais. Segundo Santos e Silveira (2012, p. 144), são os “capitais, informações, mensagens, ordens.” No setor de confecções/vestuário os círculos de cooperação são mais bem vistos através, das redes de telecomunicações (propagandas áudio visual, outdoors, redes sociais), além de sites para compras no atacado e varejo; as redes de transportes que permitem a circulação e o deslocamento de pessoas, bens materiais, como a distribuição das peças de vestuário em várias empresas do país, enfatizando como circulação é fundamental para o funcionamento do circuito espacial produtivo, pois permite a interação entre os lugares. Outro elemento de cooperação é a atuação das finanças, a inserção de créditos para compras de mercadorias (cartão de crédito), empréstimos bancários, acordos e nexos estabelecidos entre as varejistas e instituições financeiras.

Tudo enaltecido com o advento das novas tecnologias e a inovação do mercado da moda, que condicionam esse processo de reestruturação, das etapas do circuito espacial produtivo e dos círculos de cooperação, seja na produção ou no consumo final. Empresas de diferentes tamanhos e ramos participam das etapas das etapas produtivas.

Bezerra (2014) argumenta que há uma flexibilidade na organização da produção e a existência de empresas com escalas de produção e níveis de atualização tecnológica diferentes. Esta diferenciação se concretiza na realização fragmentada de cada atuação no segmento na qual a tecnologia básica dos processos produtivos estão incorporadas aos equipamentos. A evolução tecnológica ocorrida no processo produtivo da indústria têxtil, provém dos avanços ocorridos na produção das matérias-primas, especialmente no desenvolvimento de novas fibras sintéticas, bem como nas máquinas e equipamentos utilizados em todo o processo, o que caracteriza o setor de confecções como incorporador de tecnologia desenvolvida em outros setores.

[...] uma característica marcante do setor têxtil é o alto grau de verticalização presente, especialmente nos elos de fiação + tecelagem, fiação + malharia e malharia + confecção, existindo também um pequeno número de empresas que possuem todos os elos da cadeia integrados verticalmente. Como exemplo de

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grandes empresas verticalizadas que atuam na região Nordeste pode se citar a Vicunha e a Coteminas (BEZERRA, 2014, p. 2:3).

A estrutura produtiva do setor têxtil/confecções, passa pela matéria-prima (fibras têxteis) que será transformada em fios (tecelagem e malharia) na fábrica de fiação onde os fios são transformados em tecidos, recebem produtos químicos e são tingidos. Posteriormente a etapa final desse processo é a confecção na indústria de acabamento que chega ao consumidor final na forma de vestuário, artigos de cama mesa e banho, embalagens, filtros de algodão etc.

De acordo como Relatório do Banco do Nordeste (2017) cada uma dessas etapas destacadas, possui características próprias, existindo assim, uma descontinuidade entre elas. O resultado final de cada etapa constitui o insumo principal da seguinte e os elos subdividem em operações conexas independentes entre si. A independência das fases decorre do fato de que cada etapa elabora um produto intermediário em condições pré-determinadas pelo sistema de produção.

A cadeia produtiva do setor têxtil e de confecções, em seus diversos segmentos, é uma cadeia autônoma, mas sua análise só é possível através da integração entre as suas etapas. Cada indústria participa de um momento de atuação até o processo final (beneficiamento). Posteriormente segue para o comércio e por fim para o consumo.

FIGURA 1 - FLUXO PRODUTIVO DA CADEIA SETOR TÊXTIL E DE CONFECÇÕES.

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Página | 443 A cadeia produtiva da indústria têxtil, confecções e a indústria de vestuário

possui características que vão desde a matéria-prima, com as fibras, os filamentos artificiais e sintéticos, passando para a indústria têxtil e em seguida a indústria de confecções, cada uma desta etapa corresponde a um produto final que segue para a comercialização, como demonstrada no esquema acima, possibilitando que se tenha uma visão do funcionamento das etapas de produção.

No entanto, entende-se que essa visão é parcial, pois, é preciso desvendar os circuitos espaciais produtivos nas etapas (produção, distribuição, comercialização (troca) e consumo) e sua imbricação com os circuitos superior e inferior da economia urbana. A análise dos circuitos espaciais produtivos do setor têxtil/confecções,engloba ainda os círculos de cooperação (sistemas de transportes, sistemas de informação e as sinergias locais que alimentam as atividades). Portanto, o que nos interessa aqui é desvendar a sinergia do circuito superior marginal e inferior da economia urbana das empresas do ramo varejista de vestuário, pois hoje esses circuitos apresentam uma nova topologia com participação nas etapas da indústria de confecções e de vestuário.

A indústria do vestuário inserida no setor de confecções está subdividida entre as seguintes etapas produtivas: Produção primeira etapa do circuito espacial produtivo e segundo Silvana Silva (2017) subdivide-se na idealização, preparação (corte e modelagem), montagem (costura) e acabamento. Para a autora essa “segmentação corresponde à divisão técnica do trabalho, que se aprofundou no período da globalização” (SILVA, 2017, p. 164). Esta etapa corresponde à atuação de designers, para escolha do tecido, criação do modelo, as cores e o público que pretende atingir.

Há todo um processo de pesquisa de mercado, criação e investimentos científicos em novos produtos químicos que possam dar um efeito de toque e acabamento as peças. Nessa subetapa atuam as oficinas de costura. No Polo de Confecções de Pernambuco as empresas envolvidas na confecção do vestuário, enviam para empresas menores ou para casa de famílias envolvidas no ramo, as peças montadas para a costura (pregar botões, mangas, cava, colarinho, bolso, canga, bainha, remendo, macho etc).

A família Silva ilustra bem como as coisas funcionam por lá. Jane, uma das três filhas, é dona de uma facção num pequeno galpão no município de Taquaritinga. Semanalmente, [...], ela recebe 2 mil peças de um empresário que comercializa os produtos acabados numa das mais de 10 mil operações do Moda Center Santa Cruz do Capibaribe, a poucos quilômetros dali. O tecido chega à casa dos Silva apenas cortado no formato da peça (geralmente camisas). A mãe fica responsável por colocar a abertura. Uma das irmãs, a

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gola. E a outra, unir a frente às costas. Daí a peça, que rende R$ 1,20, segue para ser acabada na facção. No Moda Center, é vendida a R$ 10 (adulto) e R$ 7,90 (infantil). O pai já foi costureiro também, mas recentemente abriu uma pequena oficina no terraço de casa. “Se recebêssemos um pouco mais, seria melhor. Mas hoje temos que dançar conforme a música, dizem”(Entrevista concedida ao http://jconline.ne10.uol.com.br).

O segundo processo, a distribuição corresponde ao produto pronto, confeccionado, para seguir ao mercado. Esta etapa corresponde a rotas de distribuição que se dá “[...] em função do agente de comando de cada situação dentro do circuito espacial de produção” (SILVA, 2017, p. 169). Nesse processo participam, por exemplo, as empresas do Polo de Confecções de Pernambuco, em que as mercadorias produzidas no polo se destinam ao comércio local, escoada nas lojas e nas feiras de Caruaru-PE, Toritama-PE e Santa Cruz do Capibaribe-PE. Assim, “a proximidade entre a produção e o comércio condiciona o fluxo direto da oficina. O transporte é realizado por pequenos carros de propriedade dos donos das oficinas ou pelos lojistas ou mesmo por pequenos transportadores subcontratados” (SILVA, 2017, p. 170).

A terceira etapa é o comércio (comercialização), realizado por lojas de diversos tamanhos. Sejam as lojas franqueadas das grandes varejistas (circuito superior), ou lojas médias e pequenas do (circuito superior marginal e inferior), como as feiras e lojinhas do Polo de Confecções de Pernambuco e da cidade de União dos Palmares-AL.

Carvalho e Serra (1998) afirmam que o comércio de confecções no Brasil é efetuado pelo (i) comércio atacadista, (ii) pelas grandes redes de varejo (incluindo as lojas de departamento e as lojas especializadas), (iii) pelo pequeno comércio de varejo (inclui as pequenas redes e as lojas independentes) e (iv) pelas cooperativas e instituições governamentais, entre outras indústrias que compõem a complexa divisão social e territorial do trabalho e da distribuição deste tipo de produção. Dentre os canais de comercialização as grandes redes especializadas se destacam (25%), juntamente com as pequenas redes (21%), seguidas pelo atacado (16%) e pelas lojas de departamento (14%) (SILVA, 2017, p. 171).

No Polo de Confecções de Pernambuco o comércio de vestuário é uma das referências na região nordeste e no país. Com a produção subdividida entre suas principais cidades Caruaru, Toritama e Santa Cruz o polo têm uma produção diversificada, com estabelecimentos comerciais que atuam em moda feminina, masculina, moda praia, enxoval, bolsa e acessórios, cama, mesa e banho e na área de jeans como é o caso de Toritama. Nas cidades, há estabelecimentos que vendem no atacado e varejo com

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Página | 445 preços que variam de acordo com o tecido e a marca. A feira da cidade de Caruaru-PE

conhecida como (Feira da Sulanca) acontece, as segundas feiras, com início as 3hrs da madrugada e término as 13hrs, com fluxo enorme de pessoas que chegam a causar um intenso engarrafamento, é possível encontrar sacoleiras, consumidores de boutiques, lojas e pequenos comércio que compram no atacado e no varejo. A feira de Caruaru tem um perfil mais popular com peças a preços variados.

A feira de Toritama (Feira do Jeans), outro ponto forte de vestuário ocorre também, as segundas feiras com início às 5hrs da manhã e término às 14hrs. O principal produto é o jeans. Em Toritama, há o Parque das Feiras um dos mais importantes polos comerciais de moda do agreste de pernambucano, foi inaugurado em 2001, tem nove hectares e comporta mais de 700 boxes, possui praça de alimentação e estacionamento. O parque funciona aos domingos das 8hrs as 14hrs, as segundas e terças feiras das 5hrs as 14hrs e as quartas, quintas, sextas e sábados das 8hrs as 16hrs.

FIGURA 2- PARQUE DAS FEIRAS TORITAMA-PE.

Fonte: http://toritama-jeans.com/parque-das-feiras-toritama acesso em 13 de setembro de 2018 às 19hrs 53min.

No polo há também, a feira de Santa Cruz do Capibaribe (Feira de Roupas), que funciona às segundas feiras das 7hrs as 18hrs. Santa Cruz do Capibaribe, conta com o Moda Center maior centro de compras de moda da América Latina que atrai lojistas de todo país em busca de confecções de qualidade e com preços acessíveis.

União dos Palmares é um importante centro de consumo dos produtos adquiridos no Polo de Confecções de Pernambuco, concretizando a última etapa do circuito produtivo - o consumo. Possuindo uma população consumidora heterogênea, pois “a origem do vestuário da população consumidora é híbrida, havendo predominância em alguma fonte, como as lojas varejistas especializadas ou as ‘lojinhas’ [...] para

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Página | 446 determinados extratos da população” (SILVA, 2017, p. 172:173). Desta etapa participam

as lojas e a feira livre da cidade de União dos Palmares-AL que compram os produtos e revendem a população local e de outras cidades vizinhas.

FIGURA 3 - FEIRA LIVRE DE VESTUÁRIO EM UNIÃO DOS PALMARES-AL (2018).

Fonte: Trabalho de Campo (2018).

As etapas descritas acima demonstram as articulações entre os circuitos da economia urbana e o circuito de produção do vestuário. O ramo de vestuário tem aumentado expressivamente, como umas das atividades mais recorrentes nos setores da economia, assim vestir como alimentar-se são necessidades básicas fundamentais na vida do indivíduo. Portanto, a análise a dialética entre circuito espacial de produção do vestuário, através do diálogo com a teoria de Milton Santos, permite-nos apreender a materialização da produção no espaço por diversos agentes sociais, enfatizando o uso do território em função do poder de atuação econômica de cada agente no espaço.

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A DINÂMICA URBANA: AS ATIVIDADES DO CIRCUITO INFERIOR DA ECONOMIA URBANA DO RAMO DE VESTUÁRIO EM UNIÃO DOS PALMARES-AL

No Brasil, segundo dados apresentados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) e pelo Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) em média 80% dos postos de trabalho são gerados pelas micro e pequenas empresas, que ocupam a maior parte da parcela da população.

De acordo com a SEPLAG (2016) as microempresas, empresas de pequeno porte e os microempreendedores individuais no Brasil, têm alcançado um importante espaço na composição do PIB - Produto Interno Bruto nacional, com cerca de 16,1 milhões de empresas ativas no país no ano de 2015 das quais 14,4 milhões eram MPE’s ou seja, 94,3% das empresas ativas no Brasil segundo o Portal Empresômetro5 desenvolvido

pela Secretaria Especial de Micro e Pequenas Empresas (SMPE).

Estudos no ano de 2003 a 2013 sobre as MPE’s realizados pelo SEBRAE (2014) demonstram o grande volume de empregos com carteira assinada, cerca de 7,3 milhões, saindo de 9,8 milhões em 2003 para 17,1 milhões em 2013. Dentre as principais atividades destacam-se o comércio (44%), serviços (35%) e a indústria de transformação (10%). As demais MPE’s do país estavam inseridas na Construção civil (7%) e em outras atividades (4%) (SEPLAG, 2016).

O maior número de Micro empresas está relacionado à figura do Microempreendedor Individual de acordo com dados do SEBRAE (2016), no setor de comércio (37,4%), seguido de serviços (37,2%), indústria (15,3%), construção civil (9,5%) e agropecuária (0,6%). De acordo com o órgão são frequentes, o comércio varejista de vestuário e acessórios (556.410; 10,4% do total); cabeleleiros (407.071; 7,6%); obras de alvenaria (216.320; 4,1%); lanchonetes e similares (150.570; 2,8%); outras atividades de tratamento de beleza (128.640; 2,4%) essas atividades se configuram entre as 20 maiores atividades registradas como MEI, que concentram 52,8%.

A região que lidera no número de microempreendedores individuais é o sudeste com 51,0%, seguido do nordeste 19,7%, sul 14,9%, centro-oeste 8,9% e norte 5,6% (SEBRAE:2016). Na região nordeste o Estado de Alagoas possui um total de 65.483

5O Empresômetro é uma ferramenta tecnológica idealizada pelo IBPT – Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. É um verdadeiro censo das empresas, entidades privadas e públicas em atividade no Brasil, portadores de Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ)

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Página | 448 MEI, dados de dezembro de 2015 do SEBRAE (2016). Em média esse número de

pequenos negócios são responsáveis por 27,7% do PIB alagoano (SEBRAE:2017), representando 99% das empresas. Carvalho (2016) afirma que o setor comércio apresenta um desempenho de 131%, na geração de empregos formais e o setor de serviços com 110%.

Em União dos Palmares-AL, o setor de comércio e serviços é primordial para a dinâmica de sua economia urbana. União dos Palmares, situada no estado de Alagoas. A cidade faz parte da Região Metropolitana da Zona da Mata Alagoana, instituída pela Lei Complementar estadual n°31, de 15 de novembro de 2011. Possui cerca de 62.358 mil habitantes de acordo com o IBGE (2010).

FIGURA 4 - MAPA DAS ÁREAS LIMÍTROFES DO MUNICÍPIO DE UNIÃO DOS PALMARES – ALAGOAS

Fonte: Sepland-AL, 2014.

O centro da cidade de União dos Palmares, aglomera a maior parcela do comércio e serviços. A aglomeração de inúmeras atividades ligadas nesses setores configura segundo, Santos (2008) a presença de um “circuito inferior central”, que sobrevive em função das economias de aglomeração. Neste subespaço estão inseridos os fixos da Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, agência dos correios e o Supermercado Todo Dia (configurando a presença de um circuito superior marginal, que concorre com os supermercados e minimercados locais) pertencente à Rede Walmart, Lojas Guido, Ricardo Eletro, Banco do Nordeste do Brasil e Banco Bradesco. O centro abriga a feira

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Página | 449 livre que funciona cinco dos sete dias da semana e reúne pessoas de várias localidades

vizinhas, povoados, cidades e distritos. Na feira livre podemos encontrar uma variedade de produtos e vários tipos de alimentos frutas, verduras, legumes, queijos, doces, salgados, pipocas, entre outros, serviços com venda de peças de utensílios domésticos ou consertos em geral e ainda as barracas que comercializam roupas, peças de enxoval, etc.

MAPA 2 - BAIRROS DE UNIÃO DOS PALMARES-AL (2018) Elaboração cartográfica: Francisco Régis Barbosa Capistrano Organização: Cristiane da Silva

No bairro Roberto Correia de Araújo localizado em sua periferia, têm uma gama de atividades que abastece a população local, porém em menor intensidade. Neste há um circuito inferior mais ocasional, que sobrevive das relações de vizinhança, o “circuito inferior residencial”, segundo Santos (2008), pois a maior a parte dos estabelecimentos são voltados ao local de residencial do próprio indivíduo. O bairro também conta com a feira livre que funciona apenas aos domingos.

Em União dos Palmares tem-se um total de 1.459 empresas registradas como MEI até (2017) de acordo com estatísticas do Portal do Empreendedor. Destas empresas

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Página | 450 grande parcela está inserida no setor de comércio do ramo de vestuário e acessórios

(51%), seguido dos serviços de cabeleireiro (26%) e do comércio varejista de mercadorias em geral, com predominância de produtos alimentícios – minimercados, mercearias e armazéns (23%). Do total de MEI no setor varejista de vestuário e acessórios tem-se 259 atividades registradas, distribuídas em: Serviços de acabamento em fios, tecidos artefatos têxteis e peças de vestuário (2), Confecção de peças do vestuário, exceto roupas íntimas e as confeccionadas sob medida (4), Confecção sob medida, de peças do vestuário, exceto roupas íntimas (26), Comércio varejista de tecidos (1), Comércio varejista de artigos de cama mesa e banho (22), Comércio varejista de artigos do vestuário e acessórios (204).

Na pesquisa de campo a predominância das empresas encontradas no ramo de vestuário é do tipo, ME, MEI, LTDA-ME e EPP, além de trabalhadores autônomos não formalizados de acordo com o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas. Destaca-se que no centro da cidade o índice de formalização é bem mais intenso, haja vista estarem nestes estabelecimentos fiscais da prefeitura municipal para incentivar os registros e cadastros das empresas. Já no bairro Roberto Correia de Araujo não segue a mesma intensidade, dos estabelecimentos pesquisados encontrou-se 04 ME, 02 MEI e os demais são trabalhadores por conta própria que atuam em suas residências, para assim dinamizar sua renda. O gráfico e a tabela abaixo demonstram o total de empresas com registros na em União dos Palmares-AL, de acordo com a classificação do SEBRAE.

GRÁFICO 1- CLASSIFICAÇÃO DAS EMPRESAS FORMALIZADAS EM UNIÃO DOS PALMARES-AL (2018).

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Página | 451 Localizados em maior quantidade no centro da cidade as lojas de vestuário atuam

em diferentes segmentos, moda praia, infantil, infanto-juvenil, masculino, feminino, cama, mesa e banho e acessórios. Fernando Silva (2017) assevera que a “atuação do circuito inferior nessa demanda é, em boa medida, condicionada pelas possibilidades de localização dos pequenos negócios nas áreas centrais dessas cidades [...]” (SILVA, 2017, p. 277). Pois é nesta localidade por onde circulam a maior quantidade de pessoas, por se concentrar os principais serviços ofertados e ser local de atuação da principal feira livre da cidade.

União dos Palmares-AL, participa da etapa do circuito espacial produtivo do vestuário – consumo, ao adquirir os produtos do Polo de Confecções de Pernambuco e outras cidades e na comercialização, ao revender os produtos para as populações locais e de outras cidades vizinhas. União dos Palmares constitui-se como principal centro urbano mais próximo para o consumo de bens e serviços, portanto polariza cidades como Ibateguara, Santana do Mundaú, São José da Laje, Branquinha e Joaquim Gomes, além do Distrito Rocha Cavalcante e zonas rurais.

MAPA 3 - ÁREA DE INFLUÊNCIA DO COMÉRCIO VAREJISTA DE VESTUÁRIO DO CENTRO DE UNIÃO DOS PALMARES-AL, ORIGEM DO CONSUMO (2018).

Elaboração cartográfica: Francisco Régis Barbosa Capistrano Organização: Cristiane da Silva

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Página | 452 Os produtos comercializados nas lojas encontradas no centro de União dos

Palmares, são de procedência das cidades de Arapiraca-Al (7%), União dos Palmares-AL (2%), Caruaru-PE (45%), Toritama-PE (11%), Santa Cruz do Capibaribe (6%), Recife-PE (18%), São Paulo-SP (11%). Na feira livre figuram: Carauaru-Recife-PE (57%), Toritama-PE (15%), Santa Cruz do Capibaribe-Toritama-PE (15%), União dos Palmares-AL (9%) e Recife-PE (4%). Já os estabelecimentos pesquisados no bairro Roberto Correia de Araújo têm: Caruaru-PE (64%), Toritama-PE (14%), Santa Cruz do Capibaribe-PE (9%), Recife-PE (4%) e União dos Palmares-AL (9%). Esses dados são referentes ao trabalho de campo realizado em ambos os bairros com os agentes citado anteriormente, feirantes, comerciantes (lojistas) e funcionários (vendedores).

Diante dos dados, pode-se apreender que grande parcela de origem dos produtos comercializados são do Polo de Confecções de Pernambuco, de Caruaru-PE, Santa Cruz do Capibaribe-PE e Toritama-PE, enfatizando a relação interurbana que o comércio varejista do ramo de vestuário palmarino estabelece com esse centro atacadista

Assim, na necessidade constante de abastecer seus estabelecimentos, nota-se que os comerciantes procuram o centro urbano mais próximo para responder as suas necessidades imediatas. A maior parte dos trabalhadores que comercializam vestuário se abastecem nas cidades do agreste de Pernambuco. Os proprietários fretam carros, vans para realizarem suas compras. Os preços do frete para Caruaru-PE são em média R$280,00 ou seja cada passageiro desembolsa o valor de R$70,00 reais, sendo o lucro do proprietário do veículo por volta de R$180,00. Outros vão de carro próprio. Há ainda o transporte realizado por um proprietário de ônibus que de acordo com Fernando Antonio da Silva (2017), trabalha cerca de 20 (vinte) anos transportando feirantes e sacoleiras para comprarem confecções no agreste de Pernambuco. O faturamento médio segundo o autor chega a R$ 1000,00, sendo o lucro por volta de R$500,00.

Constata-se que é no ramo de comercialização de vestuário que têm-se as maiores possibilidades da existência de pequenos negócios. Com preços diversificados que atraem o consumo de diversas famílias.

O surgimento de novos empreendimentos na cidade condiciona deveras, a dinâmica das atividades do circuito do circuito inferior da economia urbana e a dinâmica da economia local, impulsionando no surgimento de outros tantos pequenos estabelecimentos que responde as necessidades da população. O circuito inferior é um circuito que se apropria das relações estabelecidas com o local e são via de

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Página | 453 complementaridades de outras atividades já existentes. São agentes que ao perceber a

dinâmica do lugar e o fluxo de pessoas vêm possibilidades de atuação.

Destarte, o circuito inferior na cidade de União dos Palmares-AL, abriga uma miríade de empresas com diferentes capacidades de utilização dos subespaços em que se instalam. O circuito inferior do ramo varejista de vestuário tem a função de gerar trabalho e renda. Sua atuação permite a dinâmica econômica da cidade palmarina. Este setor se configura como abrigo aos agentes que buscam novas alternativas de sobrevivência, pela popularização do consumo e por ser uma atividade que não necessita de altos graus de investimentos. Os circuitos permitem captar as feições da cidade estabelecendo nexos de racionalidade entre suas dinâmicas e o meio ambiente construído.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os circuitos espaciais de produção sob a ótica dos circuitos da economia urbana permitem analisar a materialização da produção no espaço geográfico. É uma categoria de análise imprescindível para compreender os usos do território pelos diferentes agentes sociais inseridos nos circuitos da economia urbana: circuito superior e inferior, além de apreender a divisão territorial do trabalho em função das etapas: produção, distribuição, comercialização e consumo.

O circuito inferior é importante para as cidades do país, pois, fornece trabalho e renda para um número cada vez maior de pessoas. Sua existência possibilita a criação de formas de atuação dos agentes hegemonizados. Suas atividades estabelecem relações contíguas com o local. Mónica Arroyo (2012), ao tratar sobre “A economia invisível dos pequenos” demonstra que é preciso enxergar a cidade em sua totalidade, e os circuitos da economia urbana, é a teoria que permite esta análise, entre o todo e as suas partes. Assim, ressalta que é preciso entender a cidade dentro de outras totalidades mundo e a formação socioespacial, para então compreender o homem além do trabalho e do consumo.

Esse circuito desconsiderado nas análises estatísticas da dinâmica econômica das cidades brasileiras é a via de consumo da grande parcela da população pobre, além de gerar inúmeros postos de trabalhos nos micro e pequenos estabelecimentos comerciais.

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Página | 454 Contudo, é o meio ambiente construído das cidades brasileiras composta por diferentes

temporalidades que condicionam a articulação entre as diferentes frações do território e permitem sua dialética.

Na cidade de União dos Palmares, este circuito inferior constitui a principal via de dinâmica da economia urbana, que, decerto garante o sustento de inúmeras famílias incluídas nos setores de comércio ligados ao ramo varejista de vestuário. A atividade tem se tornado crescente nos últimos anos, por ser um ramo que não necessita de altos investimentos de capital e, sobretudo pela popularização do consumo, com peças a preços acessíveis e padronizadas as chamadas “modinhas”. Nas lojas não há uma singularidade das peças, ou peças únicas/exclusivas o que há são peças praticamente iguais mudando apenas o corte, a cor e a qualidade do tecido.

Destarte, a moda se constitui como um artifício permanente que gira em torno de um ciclo contínuo, no qual aparenta algo novo ou inédito, porém o caráter de transformação é um fetiche e as coisas continuam as mesmas. Há uma padronização nos gostos, nas culturas, no modo de se vestir que, através do bombardeio de propagandas, diz o que deve ou não ser prioridades na vida do homem. Cria-se primeiro o consumidor antes mesmo do produto. A moda se caracteriza como realização de status quo.

Em nossa sociedade, existem, necessidades socialmente construídas que substituem a necessidade original do indivíduo. A moda é mais que técnica e informação é ciência. Uma ciência alienante no qual o desejo de consumo fica maior que o psiquismo e destrói o senso crítico.

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FIGURA 1 - FLUXO PRODUTIVO DA CADEIA SETOR TÊXTIL E DE  CONFECÇÕES.
FIGURA 2- PARQUE DAS FEIRAS TORITAMA-PE.
FIGURA 3 - FEIRA LIVRE DE VESTUÁRIO EM UNIÃO DOS PALMARES-AL  (2018).
FIGURA  4  -  MAPA  DAS  ÁREAS  LIMÍTROFES  DO  MUNICÍPIO  DE  UNIÃO  DOS PALMARES – ALAGOAS
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