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Associação Sul Rio-Grandense de professores: um nicho de desenvolvimento da consciência de classe docente em Pelotas (1929-1979)

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(1)

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO

ASSOCIAÇÃO SUL-RIOGRANDENSE DE PROFESSORES:

um nicho de desenvolvimento da consciência de classe

docente em Pelotas (1929-1979)

SERGIO RICARDO PEREIRA CARDOSO

Pelotas / RS 2011

(2)

ASSOCIAÇÃO SUL-RIOGRANDENSE DE PROFESSORES:

um nicho de desenvolvimento da consciência de classe

docente em Pelotas (1929-1979)

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação da UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Educação.

LINHA DE PESQUISA: Filosofia e História da Educação. ORIENTADOR: Prof. Dr. Antonio Elomar C. Tambara

Pelotas / RS 2011

(3)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação: Bibliotecária Daiane Schramm – CRB-10/1881

C585a Cardoso, Sergio Ricardo Pereira

Associação Sul Rio-Grandense de professores: um nicho de desenvolvimento da consciência de classe docente em pelotas (1929-1979) / Sergio Ricardo Pereira Cardoso; Orientador: Antonio Elomar C. Tambara. – Pelotas, 2011.

269f.

Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação. Programa de Pós - graduação em educação. Universidade Federal de Pelotas.

1. História da Educação. 2. Associações docentes. 3. Formações/ qualificação docente. 4. Consciência de classe. 5. Associação Sul Rio- Grandense de professores. I.

Tambara, Antonio Elomar C.; orient. II. Título.

(4)

ORIENTADOR:

...

Prof. Dr. Antonio Elomar Callegaro Tambara

BANCA EXAMINADORA:

...

Prof. Dr. Lúcio Kreutz - UCS

...

Prof. Dr. Gomercindo Ghiggi - UFPel

...

Profa. Dra. Carmem Schiavon - FURG

...

(5)

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a todas as

pessoas que de algum modo possibilitaram e deram

condições para a realização deste trabalho.

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Ao meu pai, Waldir Maciel Cardoso, que me apoiou

nos momentos mais difíceis de minha vida;

Às minhas irmãs e meu irmão, pela compreensão

de minha ausência durante este projeto;

A Jezabel, pela amizade e apoio técnico, sem os

quais esta caminhada seria muito mais árdua;

Aos funcionários e professores da FaE / UFPel, que

contribuíram positivamente para a elaboração

desta pesquisa;

(7)

À Secretaria do PPGE, em especial à Ana, pelo

apoio administrativo sempre cordial e eficiente

prestado a nós;

Aos camaradas dos campi Bento Gonçalves e Rio

Grande, do IFRS, pela solidariedade a mim

prestada quando precisei me ausentar em função

da tese;

Aos meus entrevistados pelas revelações e trocas de

experiências que possibilitaram as reflexões aqui

contidas;

Às professoras e funcionários da Associação

Sul-Riograndense de Professores, que sempre me

receberam e me serviram com material da

instituição, sem o qual seria impossível tal

realização;

(8)

À Biblioteca Pública de Pelotas, em especial à D.

Sônia, bibliotecária do acervo de periódicos e

jornais,

pela

amizade,

disponibilidade,

conhecimento e descontração com que me auxiliou

nos labirintos do acervo;

Aos Professores Gomercindo Ghiggi, Lúcio Kreutz,

Carmem Schiavon e Cleiva Aguiar de Lima pela

disponibilidade em ler este trabalho, bem como as

valiosas considerações no sentido de qualificá-lo;

Ao Professor Dr. Elomar Tambara, orientador e

amigo, pelas valiosas contribuições e devidas

repreensões, indispensáveis à construção do

presente trabalho.

(9)

Ou se tem chuva e não se tem sol,

ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,

ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,

quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa

estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,

ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...

e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,

se saio correndo ou fico tranquilo.

Mas não consegui entender ainda

qual é melhor: se é isto ou aquilo.

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MEEIIRREELLEESS,,CCeeccíílliiaa..OuOu iissttoo oouu aaqquuiilloo.. RRiioo ddee JJaanneeiirroo:: NNoovvaa FFrroonntteeiirraa,, 11999900..

Renda-se, como eu me rendi.

Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.

Não se preocupe em entender,

viver ultrapassa qualquer entendimento.

C

(10)

Partindo da premissa de que as associações mutualistas promoveram também a tão perseguida (e muitas vezes distorcida) consciência de classe, esta tese tem como objetivo analisar o processo histórico da Associação Sul-Riograndense de Professores (ASRP), desde sua fundação nos anos 20 do século passado até a década de 1980. As fontes utilizadas foram os jornais locais, as atas de reuniões, os relatórios anuais da ASRP, as atas do 24º núcleo do Centro dos Professores do Estado do Rio grande do Sul (CPERS), além de fotografias e objetos da ASRP, tais como bandeira, flâmula, etc. Além da pesquisa documental, recorreu-se à história oral no que concerne aos seus instrumentos para a captação de fontes. Dessa forma, trabalhou-se categorias derivadas da sociologia do trabalho e, mais especificamente, do trabalho docente, tais como classe, experiência de classe, consciência de classe, identidade profissional, qualificação profissional, etc. Basicamente a ASRP é criada devido ao aumento de escolas e professores na região de Pelotas no início do século passado; devido à insegurança de direitos em que a profissão docente se configurava nos anos de 1920, os professores no intento de organizarem a classe, fundam esta associação, que seria a primeira da região sul do Rio Grande do Sul. Ao longo de sua existência, pode-se verificar que a ASRP não era apenas uma “ação entre amigos”, como posteriormente será acusada pelo chamado “sindicalismo docente vermelho”, mas sim uma entidade que reuniu a classe docente de Pelotas e região, e lutou por esta classe, sempre procurando resguardar seu status material e moral, reformando sem revolucionar. Atrelados à elevação da classe dos professores surgem os esforços da ASRP em corroborar com o processo de profissionalização docente que ocorria na cidade de Pelotas e região ao longo do século XX, cujos cursos e palestras lhe renderam o título de “Instituição de Utilidade Pública”. Nos anos 70, porém, com a criação da Faculdade de Educação (FaE) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a ASRP perde este espaço devido a função de formação/ qualificação docente ser legitimada como sendo da UFPel, e não mais da ASRP. Consequentemente, no final da década de 1970 e início da década de 1980, a ASRP declina até perder todas as características e intenções de quando foi fundada. Por fim, conclui-se que, devido a uma mudança nos vários perfis do professorado pelotense, a ASRP, ao congregar diversas experiências de classe docente, entrou em crise de identidade; a opção por conservar os valores e princípios de sua história deslocou-a para uma situação de constante relutância ao decesso, que perdura até hoje. Com o declínio da ASRP, extinguiu-se sua característica que mais saltava aos olhos e que as entidades que a sucederam não foram capazes de conservar, que é o poder de agregar além da esfera econômica, como revelam as falas dos entrevistados.

PALAVRAS-CHAVE: História da Educação - Associações Docentes – Formação/Qualificação Docente – Consciência de Classe - Associação Sul-Riograndense de Professores.

(11)

Starting with the premise that the mutualist associations also promoted the very aspired (and many times distorted) category consciousness, this thesis aims to analyze historic process of “Associação Rio-grandense de Professores (ASRP)”, from its foundation in 1920’s till 1980’s last century. The sources were the local newspapers, the meeting proceedings, the ASRP annual written reports, the proceedings of 24º nucleus of “Centro de Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS)”, moreover ASRP photographies and objects as flags, banners, etc. Besides documental researches, it resorted to the instruments of oral history to have the informations. This way, it was dealed with derivated categories of labour sociology, more specific, the teachers work as class, class experience and consciousness, professional identity and qualification, etc. Basicly, the ASRP creation is due to the increasing of teachers and schools in the region of Pelotas in the beginning of last century. The teachers establish that association because of the insecurity of the rights that the career configured in the 1920’s and to organize the class. It would be the first one of south region of Rio Grande do Sul. Through its existence, the ASRP showed that it was not just a “friends association”, as later it will be accused by the called “red teacher syndicalism”, but a society that assembled the teachers of Pelotas and region, and fought for this group, always aiming to protect the material and moral status of the group, renovating without revolution. Linked to the elevation of the class, the ASRP strengthened to corroborate with the profissionalization process of the teachers that occurred in Pelotas and region through the 20th century. The given courses and talks gave to the institution the title of “Institution of Public Utility”. In the 1970’s, however, with the creation of College of Education (FaE) of Federal University of Pelotas (UFPel), the ASRP loses this place. The activity of formation/qualification of teachers is authenticated to UFPel. Consequently, at the end of 1970’s and beginning of 1980’s, the ASRP decreases, losing every intention and characteristic of its foundation. At last, it is concluded that, because of a changing in the various profiles of teaching of Pelotas, the ASRP, in assembling several experiences of teachers’ class, started an identity crisis. The option of maintaining the principles and values of its history, placed it into a situation of constant resistance to decease that still remain today. With the decrease of ASRP, it vanished its most impressive characteristic and the other after institutions could not be maintain the power of aggregating beyond the economical sphere, as revealed in the interviews.

KEY-WORDS: History of Education - Teachers Associations – Teacher

Formation/Qualification – Class Consciousness - “Associação Sul-riograndense de Professores”.

(12)

Figura 01 Convite para Reunião Geral da ASRP... 095

Figura 02 Gráfico de crescimento do número de associados de 1929 a 1972.. 146

Figura 03 Sessão solene de entrega do título de “Sócio Benemérito” à

Professora Cecy Sacco, na sede própria da ASRP, em 15/10/1970. 148

Figura 04 Mapa do RS, mostrando as áreas de influência da ASRP... 150

Figura 05 Manchete de comemoração do Dia do Professor (DIÁRIO

POPULAR, 7/10/1928)... 154

Figura 06 Hora da Arte, comemorando 10 anos de ASRP (DIÁRIO

POPULAR, 17/10/1939, p. 08)... 156

Figura 07 Manchete denunciando salários baixos dos professores (DIÁRIO

POPULAR, 13/10/1968)... 159

Figura 08 Anúncio de conferências didáticas promovidas pela ASRP (DIÁRIO POPULAR, 02/08/1934, p. 01)... 164

Figura 09 Prof. Alfredo da Rosa fala sobre Fernando Pessoa, em 09/10/1969. (ARQUIVO DA ASRP)... 165

Figura 10 Curso de Atualização Pedagógica, agosto a setembro de 1971

(ARQUIVO DA ASRP)... 165

Figura 11 Curso de Planejamento Educacional, em 25 de maio de 1971

(ARQUIVO DA ASRP)... 166 Figura 12 Curso de Atualização Pedagógica, agosto a setembro de 1971

(13)

Figura 13 Relação “ANO versus QTD-USUÁRIOS” da caixa beneficente da

ASRP (1935-1963)... 181

Figura 14 Imagem do prédio adquirido pela ASRP para instalação de sua

sede própria (DIÁRIO POPULAR, 16/10/1958, p. 08)... 187

Figura 15 Sede da ASRP atualmente (registro realizado em 16/01/2008)... 188

Figura 16 Propaganda dos serviços da ASRP (DIÁRIO DA MANHÃ,

27/07/2009, p. 06)... 190

Figura 17 Organograma funcional da ASRP (ESTATUTOS DA ASRP,

1930/1953)... 194

Figura 18 Ato solene por conta do 40º aniversário da ASRP, em 1969

(ARQUIVO DA ASRP)... 201

Figura 19 Assembleia Geral ordinária da ASRP, em sua sede, em 15/10/1969, no momento em que a presidente da ASRP,

Professora Olga Maria Dias Bainy, dava início à mesma (ARQUIVO DA ASRP)... 202

Figura 20 Ato solene em homenagem ao Dia do Professor, na sede da

ASRP, em 15/10/1971 (ARQUIVO DA ASRP)... 202

Figura 21 Ato solene por ocasião do 25º aniversário da ASRP, em

15/10/1954 (ARQUIVO DA ASRP)... 203

Figura 22 Marca da ASRP, criada em 1936... 206

(14)

Figura 24 Bandeira da ASRP... 209

Figura 25 Retrato de Suely Gomes de Oliveira... 223

Figura 26 Relação da votação de Suely Gomes de Oliveira para Deputada

Estadual (TERLERA, 2007, p. 25)... 226

Figura 27 Notícia sobre a visita da Dep. Est. Suely de Oliveira à ASRP

(15)

Quadro 01 Exemplo de ficha técnica de entrevista de História Oral usada na

pesquisa... 113

Quadro 02 Modelo da ficha de autorização do entrevistado... 116

Quadro 03 Modelo de análise proposto pela pesquisa para investigação de

associações docentes... 123

Quadro 04 Quadro comparativo das Diretorias da SPABE e da ASRP... 130

Quadro 05 Quadro de comparação entre os estatutos da ASRP... 140

Quadro 06 Quadro comparativo entre uma notícia local e uma de São Paulo

(1958)... 158

Quadro 07 Quadro de Presidentes e seus respectivos períodos de gestão a

frente da ASRP (DIRETORIAS, 1929-1981)... 197

Quadro 08 Quadro analítico do discurso imagético presente no símbolo da

ASRP... 208

Quadro 09 Marcas da ASRP desde os anos 60 até 2009... 210

Quadro 10 Hino da ASRP, criado em 1971... 211

Quadro 11 Ações da ASRP junto aos Poderes Públicos (RELATÓRIOS DOS

(16)

Tabela 01 Termos versus quantidade de registros... 044

Tabela 02 População Rural e Urbana do Brasil de 1900-80... 052

Tabela 03 Associativismo Docente da Educação Básica no Brasil,

1901-1931... 053

Tabela 04 Jornais de Pelotas utilizados como fontes nesta pesquisa... 104

Tabela 05 Lista de filiais da APC e anos de suas fundações... 134

Tabela 06 Trechos dos livros-ata da ASRP demonstrativos de

aproximação com a ACP-Pel... 136 Tabela 07 Relação dos políticos e partido que tiveram relações com a

(17)

ABE Associação Brasileira de Educação

ABPPSP Associação Beneficente do Professorado Público de São Paulo

ACPCS Associação Católica de Professores e Cultura Social ADUCPEL Associação de Docentes da Universidade Católica de

Pelotas

ADUFPel Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pelotas

AIM Associação Internacional de Mutuais AMP Associação dos Municipários de Pelotas APC Associação de Professores Católicos

APC-Pel Associação de Professores Católicos/ Sucursal Pelotas APPMG Associação das Professoras Primárias de Minas Gerais ASETFPel Associação dos Servidores da Escola Técnica Federal de

Pelotas

ASRP Associação Sul Riograndense de Professores BPP Biblioteca Pública Pelotense

CLT Consolidação das Leis Trabalhistas

CNTE Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação CPB Confederação de Professores do Brasil

CPB Confederação do Professorado Brasileiro

CPERS Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul CPP Confederação do Professorado Paulista

CPPB Confederação dos Professores Primários do Brasil CPPE Centro dos Professores Primários Estaduais

(18)

DNE Departamento Nacional de Ensino

FaE Faculdade de Educação

SOEM Sociedade de Oficiais e Empregados da Marinha

SPABE Seção Pelotense da Associação Brasileira de Educação SPESCDF Sindicato dos Professores do Ensino Secundário e

Comercial do Distrito Federal UCPEL Universidade Católica de Pelotas

UDN União Democrática Nacional

(19)

CONSIDERAÇÕES INICIAIS... 018

CAPÍTULO I: O que se fala por aí... 030

1. Das Associações e Sindicatos... 031

2. Das Associações e Sindicatos Docentes... 044

CAPÍTULO II: Terceiras pessoas... 058

1. Identidade profissional docente... 059

2. Qualificação docente... 066

3. Mutualismo... 072

4. Consciência, experiência e cultura de classe... 078

CAPÍTULO III: Trilhas... 086

1. Fontes da Pesquisa... 091

2. Sobre o uso da História Oral... 110

3. Estratégia de Análise... 118

CAPÍTULOIV: Um olhar sobre a Associação Sul-Riograndense de Professores... 124

1. O início... 125

2. Dimensão Teleológica... 138

3. Dimensão Estrutural... 191

4. Dimensão Cultural... 200

5. Dimensão Política / Interacionista... 215

PARA EFEITO DE CONCLUSÃO... 232

1. Da construção do texto... 234

2. Da tese em si... 237

REFERÊNCIAS... 241

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(21)

Começo este texto questionando: o que viria a ser uma tese? Para alguns seria apenas um rito de passagem que a academia impõe aos seus aspirantes a doutores e/ou pesquisadores; outros encarariam como um espaço de construção de saberes notórios e o reconhecimento de seus pares por tal; há aqueles que diriam ser a obra de sua vida, simbolizando o ápice de sua formação profissional. Particularmente, acredito ser mais um passo numa longa caminhada em que já venho buscando, na medida do possível, colaborar nos vários processos de transformação social de libertação, seja pelo viés da ação direta, seja pela constituição de um discurso crítico-reflexivo sobre tais processos; esta tese se enquadra neste último caso.

Esta tese não é o fim, mas sim o resultado de uma demanda iniciada em minha vida profissional e, depois transferida para a academia. Durante os quatro anos de doutorado, esta demanda qualificou-se, tomando formas mais consistentes, aperfeiçoando-se nos vários artigos expostos em congressos, periódicos e livros, bem como nos trabalhos finais das disciplinas do programa de doutorado.

Nestes quatro anos, os envolvidos com a tese (especialmente a pessoa que vos escreve) embeberam-se da temática “associativismo docente”, seus cotidianos, suas estratégias, suas reivindicações, entre outras dimensões. Evidenciou-se, ao longo do desenvolvimento da tese, a insuficiência dos subsídios teóricos para a compreensão do processo histórico da Associação Sul-Riograndense de Professores (ASRP)1, tamanha a complexidade da realidade a ser apreendida. Fez-se necessário, então, novas composições de áreas de conhecimento, aproximando da História o campo da Sociologia, mais especificamente a Sociologia das Organizações.

Sendo assim, esta tese tem como objeto de estudos o associativismo docente dos anos 20 à década de 70 do século XX, privilegiando-se a ASRP, bem

1

Tendo em vista que nas atas da ASRP escrevia-se de várias formas o nome da entidade, adotou-se a grafia “Associação Sul-Riograndense de Professores” por ter sido aprovada em assembleia da mesma: “Foi proposta pela 1ª tesoureira a uniformização da grafia da palavra “Sul-Riograndense de Professores”, sendo sua sugestão aprovada pelo Conselho” (LIVRO DE ATAS DE ASSEMBLÉIA GERAL 1947-1951, Ata nº 280, 08/11/1947).

(22)

como a desmistificação da ideia de inércia das associações docentes perante a organização e construção da profissionalização docente.

Entende-se por profissionalização docente

[…] um conjunto imbricado de processos/movimentos que se articulam na direção de promover condições satisfatórias para a melhoria da formação e identidades profissionais, tais como: a) formação inicial articulada à formação continuada; b) construção democrática e justa da carreira profissional com amplo reconhecimento social, junto às garantias salariais e às condições de trabalho condignas do profissional; c) domínio de conhecimentos e saberes especializados e valores necessários à sua condição de profissional e de cidadão(ã), gerados na relação intrínseca entre a formação e o trabalho (articulação orgânica entre as agências formativas e contratantes); d) conscientização do profissional quanto à importância da sua condição profissional com independência e autonomia perante as burocracias estatais e institucionais; e) código de ética funcionando como um “ controle

social” mais amplo na sociedade (AGUIAR; MELO, 2005, p. 976).

A ASRP foi consequência indireta do “Entusiasmo da Educação” e do “Otimismo Pedagógico” da década de 20 (NAGLE, 2001), ou seja, o espírito entusiástico e otimista dos anos 20 foi o catalisador de um panorama econômico, político e cultural que estabeleceu, em relação à educação, duas perspectivas distintas: por um lado, a demanda educacional solicitada por uma crescente população urbana; e de outro, a preocupação de uma elite que via na educação a modernização do país.

Desde a sua criação, em 1929, até a década de 1970, a ASRP constituiu-se como a principal instituição de promoção da profissionalização docente em Pelotas, propiciando inclusive o desenvolvimento da consciência de classe ao longo dos 50 anos propostos por este estudo.

Por outro lado, o professorado, em suas aspirações e necessidades, passou a identificar-se com o proletariado clássico, principalmente devido à

(23)

pauperização2 progressiva da classe docente. A ASRP, entretanto, continuou a encarar o docente como um tipo diferenciado de trabalhador; não visualizou também que o processo de desenvolvimento dos diversos sistemas educacionais favoreceu o surgimento de distintas experiências de classe docente, ou seja, várias culturas de classe.

Em contrapartida, no momento em que as configurações das atividades docentes e de seus sujeitos sofrem transformações, surgem novas instituições que comportam e dão respostas aos desejos e necessidades deste novo trabalhador da educação; em Pelotas, isso ocorre no final dos anos de 1970 e início da década de 1980. Entre estas instituições encontra-se o 24º núcleo do CPERS, que foi a expressão mais profícua desse fenômeno; entretanto, é possível mapear outras entidades como o ADUFPel3, ADUCPEL4, SINASEFE5 e AMP6.

No contexto dos anos 80, então, diante das mudanças políticas, sociais e econômicas do professorado pelotense, os docentes, seguindo uma tendência nacional, passam a se identificar mais com o proletariado clássico. O profissional liberal, como era a aspiração da classe docente no início de sua construção como profissão (NÓVOA, 1995), se afasta da realidade do professorado, momento em que o declínio da ASRP passa a ser um caminho sem volta.

2

Najjar (1992), Nunes (1998) e Therrien (1998) enfatizam que o professor sofreu um processo de pauperização semelhante ao do operário, ou melhor, trabalhador fabril; basicamente as argumentações situam-se nos seguintes indicativos: a emergência de especialistas na escola, a baixa remuneração, a “vulgarização” da atividade docente, a progressiva desqualificação e fragmentação do trabalho docente, a perda de autonomia e, consequentemente, o desprestígio social do professorado. Nesses estudos, a pauperização é investigada a partir das influências do capitalismo sobre as peculiaridades do trabalho docente em seus saberes-fazeres, bem como as implicações desse processo na perda de autonomia e no controle do professor. Outro autor que já se debruçava sobre a temática da proletarização docente foi Wright Mills (1979), chegando a afirmar: “os professores, especialmente os do primário e secundário, são, do ponto de vista econômico, os proletários das profissões liberais” (p. 147). No Brasil, entretanto, a pauperização do professor foi além da perspectiva do capital econômico, atingindo também o capital cultural: “... a proletarização do professorado não significou apenas o empobrecimento econômico, mas também a depauperação do próprio capital cultural que a antiga categoria possuía, ou seja, a velha formação social composta de profissionais liberais – como advogados, médicos, engenheiros, padres etc. – constituía um cabedal cultural amealhado em cursos universitários de sólida tradição acadêmica. Ao contrário, as licenciaturas instituídas pela reforma universitária do regime militar operaram um processo aligeirado de formação com graves consequências culturais” (FERREIRA JR.; BITTAR, 2006, 1162).

3 Associação de Docentes da Universidade Federal de Pelotas. 4 Associação de Docentes da Universidade Católica de Pelotas. 5 Sindicato Nacional dos Servidores das Escolas Técnicas Federais. 6

(24)

Seguindo o exposto, percebe-se claramente uma tensão na relação

docentes versus associativismos (no sentido plural do termo), na qual a

organização do movimento de professores em Pelotas se dá a partir da Associação Sul-Riograndense de Professores. Esta passa a ser, desde então, uma instituição fundamental para a constituição dos saberes-fazeres dos professores de Pelotas

Ou seja, a ASRP foi também responsável pelas diversas e mutantes identidades profissionais docentes em Pelotas entre os anos 20 e 80, consequência dos “diversos processos de socialização que, em conjunto, os indivíduos e as instituições constroem” (DUBAR, 1997, p. 105).

Para efeito de síntese, então, embora o início do associativismo docente em Pelotas apresente características de associações mútuas, tal iniciativa foi, sob certo aspecto, a gênese de uma experiência de classe do magistério pelotense, pois estes estavam tanto inseridos no processo de produção como se identificavam conscientemente como um grupo de pessoas que possuem atividades específicas, com saberes-fazeres específicos.

Sendo assim, a tese defendida neste trabalho é a de que a ASRP foi, durante aproximadamente 50 anos, uma manifestação do desenvolvimento da consciência de classe do professorado pelotense. Pois, à medida que se desenrolava em Pelotas e região as diversas redes de ensino (particular, estadual, municipal e federal), propagava-se também as distintas experiências de classe docente.

Mas, se a ASRP ocupou um espaço de grande dimensão na construção da profissão docente em Pelotas, por que ela entra em crise a partir do final da década de 1970? É bem provável que os três fatores descritos a seguir, interligados a tese, corroboraram para um esvaziamento da ASRP na década de 1980, colocando-a numa situação de quase extinção.

(25)

O primeiro fator a destacar diz respeito às identidades docentes; no decorrer de 50 anos, produziu-se no interior da ASRP várias “culturas de classe”7 tensionadas entre o associativismo mútuo e o sindicalismo.

Paralelamente ao primeiro, desenvolve-se o segundo ponto a ser ressaltado: as experiências de classe vivenciadas por estes docentes, que sofreram um processo de proletarização ao longo do século XX, induzem a formação de dissidências na ASRP, bem como um movimento de evasão em massa.

Um terceiro aspecto, mas não menos importante, pode-se resumir na criação da Faculdade de Educação (FaE) da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), que pôs em cheque o principal serviço prestado pela ASRP à comunidade professoral pelotense, ou seja, a formação continuada dos professores através de palestras, seminários e cursos de curta duração, bem como uma biblioteca sobre assuntos educacionais, que ainda hoje é o orgulho da instituição.

Esta pesquisa, a fim de dar conta da tese e questionamento pautados, ajusta-se na tipologia denominada “história sociológica” na medida em que, ao mesmo tempo que colabora para a construção da memória sobre associações e sindicalismo docente, traz uma discussão sociológica a respeito do associativismo docente no Brasil.

Paul Veyne (1983), em sua obra “O Inventário das diferenças” argumenta que toda história é sociológica, pois não se contenta em narrar ou a entender, assim como a Astronomia, a História deve fazer um inventário completo de seu objeto de estudo; contudo, da mesma maneira com que a Astronomia recorre aos conceitos da Física para explicar os fenômenos astronômicos, a História recorre às teorias e conceitos da Sociologia.

[...] a História informa seus materiais recorrendo a uma outra ciência, a Sociologia [...] a História existe apenas em relação às

7

O termo “cultura de classe” será utilizado mais como uma dimensão do que um conceito propriamente dito; conceitualmente, entretanto, aqui o termo se aproxima mais de Bourdieu (1980) e sua categoria “ethos de posição”, tendo como base a relação entre o “habitus” e a posição do agente no campo social; dessa forma, a “cultura de classe” seria resultado das experiências de socialização, ou seja, da apropriação das referências culturais apropriadas. Sendo assim, cada associado teria uma trajetória diferente, o que relativiza a ideia de consenso na classe, ou seja, uma classe comporta várias culturas de classe.

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questões que nós lhe formulamos. Materialmente, a História é escrita com fatos; formalmente, com uma problemática e conceitos [..] os fatos são apenas a matéria da História, para informá-los um historiador deve recorrer à teoria política e social (VEYNE, 1983, p. 6-7)

A valorização da memória de uma instituição como a ASRP já é motivo significativo à realização do pretendido estudo, pois “o processo de profissionalização docente [...] tem-se caracterizado por uma clara indefinição da compreensão dos efetivos mecanismos sob os quais o mesmo ocorreu” (TAMBARA, 2005, p. 17). Nesse sentido, Arroyo (2002, p. 17) ratifica tal posicionamento ao dizer que “guardamos em nós o mestre que tantos foram. Podemos modernizá-lo, mas nunca deixamos de sê-lo. Para reencontrá-lo, lembrar é preciso”.

De certa forma, a inserção dessa pesquisa no cotidiano das associações e sindicatos docentes foi proporcionada por um estudo prévio do 24º núcleo do CPERS, e que encaminhou as investigações para a ASRP. Este deslocamento proporcionou uma determinada desestabilização nas hipóteses e categorias em relação às culturas de classe que permearam o associativismo docente em Pelotas.

Numa primeira análise, inclusive, transferiu-se para os estudos sobre a ASRP todas as categorias típicas dos estudos sobre sindicalismo, usadas durante as investigações no 24º núcleo do CPERS como, por exemplo, luta, greve, salário, trabalho, entre outros. Em seguida, compreendeu-se que a ASRP tinha suas especificidades e que era preciso explorá-las; o que não quer dizer que não se utilize das categorias citadas em determinados momentos do processo histórico da ASRP; são trabalhadas, mas não de maneira a asfixiar possíveis categorias próprias dos estudos sobre associativismo.

A partir de então, pesquisou-se diversas metodologias para se analisar a ASRP. Entretanto, estudar as associações profissionais de caráter mutualista é um grande desafio principalmente devido à diversidade de ideologias, doutrinas e complexidades das condições em que estas se propõem a desenvolver estratégias

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públicas enquanto sociedades civis. Mais complicado ainda é analisar estas estratégias nas associações mutuais da classe docente.

Diante disso, os procedimentos adotados na coleta das informações e dados referentes ao conteúdo da pesquisa resumem-se no seguinte: relatos de história oral de sujeitos que vivenciaram ativamente a ASRP, principalmente aqueles que a vivenciaram no período de 1975 a 1982, posto que os registros de livros-atas da ASRP vão até 1975. Ademais, serão analisados documentos da ASRP e do 24º núcleo do CPERS, bem como pesquisa em jornais e periódicos da imprensa local.

Após extensas leituras e uma análise prévia dos dados coletados, optou-se em trilhar no campo epistemológico da Sociologia das Organizações, pois vivemos num mundo de organizações; nelas nascemos, crescemos, nos desenvolvemos e morremos (ETZIONI, 1986). Levando isso em consideração, tornou-se imperativo considerar as associações docentes como organizações burocráticas e formais.

Buscando um núcleo comum entre tais instituições, emerge o fato de todas elas serem orientadas por fins concretos, o que induz a pensar que o conceito de organização é latente; entretanto, não é tão fácil assim conceber o que viria ser organizações. Com relação a isso, Litterer (1970, p. 25) argumenta:

Uma dificuldade que acompanha o estudo de organizações é que uma organização não é tão prontamente visível ou descritível […] Para descrever uma organização, é necessário considerar uma série de propriedades que ela apresenta, tornando assim gradualmente claro, ou pelo menos mais claro o que ela é.

Em geral as organizações são instituições burocratizadas que surgem nos espaços mais importante do ser humano, como por exemplo, as empresas, os hospitais, as prisões, as escolas, as universidades, as Forças armadas, as unidades de administração pública, as igrejas, etc. Um outro grupo que pertence a tais formações, objeto central do referido estudo, são as associações, podendo ser partidos políticos, sindicatos, associações profissionais, econômicas, etc. (MAYNTZ, 1972, p. 11).

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Uma organização formal, além de burocrática, recorre à especialização e à divisão do trabalho no empenho da produção, bem como estratégias relacionais que atuem como neutralizadores das influências ambientais, pois “o ideal, do ponto de vista da produção eficiente, é que as organizações contem com um ambiente estável e que seu pessoal não seja influenciado por fatores alheios à organização” (PERROW, 1976, p. 75).

Contudo, já que uma organização não consegue neutralizar por completo as influências alheias, desenvolve-se regulamentos e normas para amenizar o desconforto do descontrole. Em suma, as organizações formais e burocráticas resumem-se na especialização do serviço prestado e no controle dos influxos externos à organização, nem sempre previsíveis e estáveis.

Max Weber, diante do proposto, passa a ser fundamental para as análises da associações docentes, já que traduz a burocracia como um fenômeno tipicamente sociológico, dando uma visibilidade eminentemente às organizações e, por conseguinte, às associações docentes.

Para Weber a burocracia nasce com o Estado Moderno à medida que se desenvolvia um processo de racionalização do próprio Estado, ou seja, a racionalidade imposta pelo projeto de modernidade acaba por estruturar uma significativa tendência à burocratização nos mais diversos âmbitos da vida social.

Entretanto, ao mesmo tempo, essa racionalidade impõe a institucionalização da organização. Mesmo se constituindo num modelo racional, a organização perpassa, num segundo momento, suas regras e normas, bem como o sentimento de solidariedade solidificados na silhueta de instituição social, o que dá vida própria aos componentes informais da organização institucionalizada (SELZNICK, 1972).

Nessa perspectiva, os elementos não formais da ação social são engendrados à organização, fomentando uma interação informal, o que possibilitará o aparecimento de núcleos próprios de identidade, e o que frequentemente levará às dissidências. É nesse sentido que se pensou o período a ser estudado: da criação dessa organização

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até o momento em que se daria, em torno de 50 anos depois, a dissidência que a levaria à crise.

Mais especificamente, demarcou-se uma periodização de estudo de 1926 a 1980; a escolha do período a ser estudado se dá, no caso do marco inicial, pela conjuntura contextual em que é formada a ASRP, e o segundo marco da periodização se justifica por ser o último ano em que se dá uma maior relação entre a ASRP e o 24o Núcleo do CPERS, configurando desde já uma delicada situação em relação a ASRP, que se agravaria na década de 1980:

Aos vinte e três dias do mês de maio de mil novecentos e oitenta, às 20 horas e 30 minutos, na sala cento e quarenta e cinco da Faculdade de Educação, da Universidade Federal de Pelotas, reuniram-se os professores sócios do CPERS residentes em Pelotas, a Comissão Provisória Pró-Criação do Núcleo Regional e os professores Danton Donatelli e Eugenio Fulkmann, para tratarem dos seguintes assuntos:

[...] 3 – Discussão por parte de professores presentes a respeito da

situação que poderá ser criada entre a Associação Sul Riograndense de professores e o Núcleo Regional do CPERS a

ser instalado em nossa cidade (LIVRO DE ATAS no 01, Ata no 1, p. 01) [grifo intencional].

Este processo culminará na fundação do 24º núcleo do CPERS em 03/10/1980, conforme registro a seguir:

Aos três dias do mês de outubro de mil novecentos e oitenta, às nove horas e trinta minutos, na sala 026 da UCPEL, com a presença da Comissão Eleitoral, dos candidatos e alguns sócios, teve início a apuração dos resultados da Eleição da Lista Tríplice de candidatos à Diretoria do Núcleo do CPERS/Pelotas. [...] O resultado geral da eleição foi o seguinte: Sonia Fontoura Cardoso, oitenta (80) votos; Flávio Medeiros Pereira, cinqüenta (50) votos; Enadir Ferreira Martins, quarenta e oito (48) votos, Marco Antônio Viana, dezessete (17) votos; Ana Helena Beckemcamp, dezesseis (16) votos (LIVRO DE ATAS no 01, Ata no 17, p. 11, verso).

Levando em consideração, então, as informações supracitadas, optou-se dividir a tese em quatro capítulos, além destas considerações iniciais e da

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conclusão, que se achou por bem cunhar “Concluindo”. Os quatro capítulos foram denominados de “O que se fala por aí”, “Terceiras pessoas”, “Trilhas” e “Um olhar sobre a Associação Sul-Riograndense de Professores”. As metáforas não foram escolhidas ao acaso, pois cada título é reflexo de uma rigorosa escolha de conceitos, paradigmas e sentidos; são expressões e termos agregadores de ideias e visões sobre um determinado fenômeno histórico e social.

O primeiro capítulo da tese, “O que se fala por aí”, apresenta um breve levantamento sobre o estado de conhecimento / estado da arte em relação ao associativismo e associações docentes no Brasil e no Rio Grande do Sul, abrangendo, inclusive, os sindicatos. Priorizou-se, nesse capítulo, elencar teorias e estudos sobre a temática em questão.

“Terceiras pessoas” refere-se às posturas epistemológicas que se fazem

presente na tese, sendo incorporadas de lugares e formas diferentes amalgamadas à tese no ideário de autores, as terceiras pessoas que fundamentam todo o referencial teórico adotado no decorrer da pesquisa a fim de aprofundar as categorias essenciais para a comprovação da mesma como, por exemplo, associativismo mútuo, identidades profissionais e docentes, qualificação docente, experiência e consciência de classe, bem como suas inter-relações ao longo do referido período de estudo.

O capítulo intitulado “Trilhas” diz respeito ao aspectos teórico-metodológicos tanto da coleta quanto da análise de dados. É neste que se apresenta a construção mais concreta da tese: um modelo de análise das

organizações, constituído a partir da Sociologia das Organizações.

Tendo por base a matriz de análise proposta, o quarto capítulo, “Um olhar

sobre a Associação Sul-Riograndense de Professores”, é a explicitação do

contexto dimensional do processo histórico da ASRP, bem como todas as suas implicações intra e inter-relacionais. Após um breve histórico do início da ASRP, analisa-se, nesse momento, os aspectos teleológicos, políticos e culturais da associação para enfim ser sintetizado no módulo final da tese.

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O momento final deste estudo é intitulado “Concluindo”, onde se faz uma recapitulação dos principais momentos do estudo, objetivando ratificar a tese, além de seus desdobramentos a exemplo do fato de ser a ASRP a principal instituição de organização civil responsável pela construção e reconstrução dos diversos processos de identidades profissionais docentes em Pelotas.

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1. Das Associações e Sindicatos

Cattani (2002, p. 287) conceitua que “os sindicatos de trabalhadores são formas institucionais da ação coletiva dos produtores diretos. São instâncias organizativas decorrentes do movimento associativo, criado para compensar a fraqueza do trabalhador, atomizado na sua relação contratual com o capital”.

Tipologicamente, Cattani (2002) enquadra a luta sindical em três categorias: o sindicalismo de negócios, que procura defender prioritariamente os interesses de seus associados; o sindicalismo de reivindicação e de participação, que, sob uma perspectiva weberiana, procura defender os interesses da classe implementando políticas reformistas; o terceiro é o sindicalismo de reivindicação e oposição, que procura implementar ações que contestam os malefícios do sistema capitalista em geral, e não apenas de seus associados ou de sua classe.

Já Rodrigues (1968, p. 5) classifica o sindicalismo brasileiro em 5 fases distintas: Fase mutualista (pré 1888); Fase de resistência (1888-1919); Fase de ajustamento (1919-1934); Fase de controle (1934-1945), e a Fase competitiva (1945-1964).

A “fase mutualista” corresponde às perspectivas associativas em que, pela ausência do Estado, os trabalhadores sentiram a necessidade de se protegerem contra alguns infortúnios que assolam os trabalhadores ao longo de sua vida profissional (assistência à saúde, auxílio-funeral, caixa beneficente para aposentadoria, etc.).

Essa “fase” foi pouco estudada no Brasil, diferentemente da Europa e de alguns países latino-americanos. Isso se deve principalmente à postura preconceituosa de nossos historiadores em se dedicar a investigar um tipo de associativismo que não possuía entre suas prioridades a clássica oposição da “classe trabalhadora versus sistema capitalista”, ou seja, preferia ser reformista a revolucionário. Tal posicionamento provocou tendências historiográficas que acabaram por transformar o mutualismo numa espécie de “proto-história” do associativismo sindical, negando suas categorias próprias de análise. A respeito

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disso, cita-se Viscardi & Jesus (2007, p. 23-24), ao escrever sobre o porquê de se estudar associações mutualistas:

Em primeiro lugar, para afastar definitivamente a tese (sem comprovação empírica) de que as associações mutualistas, ou de mútuo socorro, constituíam uma espécie de proto-sindicalismo que mais tarde evoluiriam para a formação de associações de resistência no âmbito político das esquerdas. Em segundo lugar, para destacar, como vem demonstrando as pesquisas mais recentes, que a experiência mutualista foi simultânea à organização dos sindicatos (inclusive os de esquerda) e contribuiu para a formação e fortalecimento de uma cultura cívica entre os trabalhadores, indispensável ao processo de construção da cidadania no Brasil. Por fim, para demonstrar que a experiência mutualista representou um nível significativo da capacidade de organização da sociedade civil brasileira em torno do direito à proteção social.

Geralmente, a produção acadêmica brasileira se detém em estudar continuidades e rupturas entre o associativismo mútuo e os sindicatos, como é o caso de Batalha (1990, 1999, 2000), Fortes (1999) e Costa (1990, 1998). Segatto (1987, p. 35), por exemplo, afirma serem “as associações mutualistas e de socorro mútuo [...] as primeiras formas de organização de classe e surgiram na primeira metade do séc. XIX, como a Sociedade de Oficiais e Empregados da Marinha (SOEM), fundada em 1833”, e Simão (1966), ao afirmar que em substituição às associações mutualistas entram em cena as Uniões Operárias.

Entretanto tal perspectiva tem se alterado, como é o caso de Batalha, Silva & Fortes (2004) e Costa (1990, 1998). Emília Viotti da Costa (1998), por exemplo, fez um um balancete sobre as tendências historiográficas operárias, apontando o seguinte dilema: o risco de os historiadores recaírem apenas no que ela chamou de “ilhas alternativas de cultura [...] uma compilação não-crítica de detalhes cuja relevância não é questionada [...] um cemitério de fontes ou um museu de curiosidades” (COSTA, 1998, P. 17); entretanto, na mesma obra, a autora indica “a articulação entre a micro e macro-física do poder” a fim de extirpar “todas as formas de reducionismo e de reificação, seja econômico, cultural ou lingüístico”, reconhecendo também que “a subjetividade humana é ao mesmo tempo constituída por e constituinte de realidades sociais” (p. 20).

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Sendo assim, nos estudos sobre a construção identitária de classe, é fundamental levar em consideração as especificidades locais, com suas rupturas e desdobramentos, sem, no entanto, esquecer que o local faz parte de um contexto maior, estadual, nacional e internacional.

Um estudo regional que articula muito bem a micro e macro-física do poder é a tese de Silva Jr. (2004), “As sociedades de socorros mútuos: estratégias privadas e públicas”, que focaliza uma abordagem econômica, social e política sobre as associações mutuais, contextualizando o desenvolvimento das dinâmicas promovidas pelas sociedades mutuais, bem como a implementação de estratégias públicas.

Silva Jr. (2004, p. 22), complementa:

De certa forma, ainda vigora entre alguns historiadores do trabalho a idéia de que as sociedades de socorros mútuos pertenceriam à “pré-história” do movimento operário e, quando muito, mereceriam apenas uma investigação mais motivada pela erudição que pelo desejo de compreensão do próprio movimento social.[...] Claro que também há matizes nessa qualificação, quando o mutualismo é tratado como um tipo de organização embrionária de trabalhadores, prenunciando o sindicalismo, cujo aparecimento faz daquele um fenômeno de pesquisa interessante pelo seu devir, pelo que lega ao sindicalismo do futuro. [...] Contudo, tais concepções, ao proporem uma periodização das formas de associação dos trabalhadores, inviabilizariam ou desestimulariam esforços no estudo das sociedades de socorros mútuos depois da criação de entidades de tipo sindical, como se as mutuais simplesmente deixassem de existir.

Trazendo a preocupação de Adhemar Silva Jr. para o objeto de pesquisa desta tese, confessa-se que, num primeiro movimento analítico, procurou-se olhar tal objeto sob o viés das categorias clássicas da história do trabalho. Não que estas não sejam pertinentes em determinadas fases, principalmente no período crítico da ASRP, porém não dão conta do fenômeno “associativismo” em sua totalidade.

Apesar de não ser direcionado às associações mutuais de professores, o autor resgata e analisa associações mutualistas do Rio Grande do Sul, no período de 1854 a 1940, fazendo em alguns momentos uma comparação em relação ao

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contexto nacional e internacional. Silva Jr. também aponta uma linha tênue entre os “valores espirituais e materiais” no cotidiano das mutuais:

Os sinistros materiais aos sócios levam as mutuais a pagarem o que julgam dever ao sócio, e o valor dessa dívida é comumente pago com bens materiais e espirituais [...] a incorporação de valores espirituais aos critérios de fechamento não é uma idiossincrasia das sociedades de socorros mútuos, mas uma necessidade para que a expectativa de reciprocidade se transforme em uma expectativa de lealdade, lealdade que não pode ser obtida de outra forma que não recorrendo a bens e interesses espirituais (SILVA JR., 2004, p. 287-288).

O autor ainda salienta que enquanto os associados estivessem predominantemente interessados nos valores espirituais, as lideranças das mutuais estariam mais preocupadas com os interesses espirituais e/ou políticos.

A pesquisa sobre a ASRP está inserida tanto no campo das associações mutuais quanto das organizações sindicais, mais especificamente da classe docente; sendo assim, parte-se do pressuposto de que os valores espirituais são reflexos da vida material assim como a vida material é influenciada pelos valores espirituais, Isto é, há um movimento dialético constante entre os valores espirituais e materiais.

Nas investigações sobre mutualismo em outros países, observou-se que poucas mutuais se transformaram em sindicatos, e mesmo que isso tivesse acontecido, continuaram com suas características de ajuda mútua, bem como espaços de sociabilidade. A ASRP é uma dessas associações que não se transformaram em sindicatos, mas sofreu algumas alterações significativas ao longo de seu processo histórico, que são objeto central deste estudo.

Outro fator foi preponderante no rebaixamento do associativismo mutualista, que chegou a ser cunhado de “sindicalismo amarelo” (de caráter mais colaboracionista) em oposição ao denominado “sindicalismo vermelho” (com características mais combativas): o fato de haver poucas mutualistas com a finalidade de lutar e defender melhores condições de trabalho. No geral,

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organizaram-se com o propósito de ocupar um espaço surgido a partir da ausência de um Estado protetor, provedor de políticas públicas de amparo e previdência, ou seja, as mutualistas não estavam preocupadas em lutas trabalhistas, mas sim na proteção social de seus associados; além disso, não eram de exclusividade de trabalhadores, pois muitas associações eram filantrópicas e de caráter étnico (SILVA JR., 1999).

A fase de resistência do sindicalismo é uma continuidade e ao mesmo tempo uma ruptura consequente do contexto ___ a emergência do capitalismo no Brasil ___ em que se encontravam os associados e suas organizações mutuais.

Conforme Rodrigues (1968, p.8), diversas associações se apropriarem do termo “resistência” como uma estratégia de forçar a caracterização da identidade como, por exemplo, “Sindicato de Resistência”, “Associação de Resistência”, “Liga de Resistência” e “União de Resistência”.

Foi um período de intensa atividade sindical e política nos meios operários, fundando-se inúmeras organizações de classe e círculos políticos e desempenhando também uma inédita atividade cultural. Realizam-se conferências, comemorações, congressos locais, regionais e nacionais. Em conseqüência da permanente mobilização popular, desencadeiam-se greves, por empresa, por categoria ou abrangendo vários setores e transformando-se mesmo em algumas greves gerais que marcaram época, como a greve de 1917 em S. Paulo (RODRIGUES, 1968, p. 12).

De fato, devido à crescente industrialização brasileira, principalmente na região sudeste do país, nos primeiros decênios do século XX, um número considerável de trabalhadores ingressavam nas “sociedades de resistências” com o intuito de que estas, sendo sindicatos ou associações, lutassem por suas demandas e direitos trabalhistas junto aos patrões e ao Estado; a consequência visível disso foi a disseminação dos “momentos de luta coletiva organizada, como as greves, um instrumento do qual os trabalhadores brasileiros já vinham lançando mão, embora em escala bastante restrita nas décadas anteriores” (MATTOS, 2003, p. 08).

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A terceira periodização de Rodrigues (1968, p. 16) diz respeito a uma indeterminação dos sindicatos, em que, assim como as incertezas daqueles tempos ___

fim da Primeira Guerra Mundial, Revolução Russa, entre outras, atravessam uma crise de identidade, diminuindo consideravelmente suas atividades. No entanto, o espírito entusiástico de transformação que floresce nos anos 20 influencia os intelectuais progressistas e socialistas, principalmente no Distrito Federal. Nesse período:

O movimento sindical adquire cunho acentuadamente político, buscando inclusive uma atuação parlamentar. É uma característica que contrasta com o período anterior que, se não era apolítico, poderia ser chamado de antipolítico. O movimento sindical perde nessa fase o caráter revolucionário e violento de que se revestia anteriormente e adquire um tom mais brando, buscando algumas composições com correntes políticas sem penetração sindical e tentando, por todas as vias a atuação, parlamentar. Em síntese, torna-se menos revolucionário e mais reformista (RODRIGUES, 1968, p. 16).

Após tomar o poder, o Estado varguista, objetivando controlar o movimento operário, implementa no Brasil uma estrutura sindical engendrada por uma legislação trabalhista; dessa forma, o Estado institui dispositivos sociais e políticos que limitam as atividades das entidades sindicalistas, controlando as condições de trabalho, bem como os trabalhadores; daí a designação “período de controle” dos sindicatos, pois “às leis sociais de amparo ao trabalhador, promulgadas nessa fase, acrescentava-se uma predisposição de aceitar o emprego na fábrica como dádiva oferecida pelo patrão que, aos olhos do operário, não se distinguia muito do fazendeiro ou do usineiro” (RODRIGUES, 1968, p. 21).

Mantendo os sindicatos sob controle em prol de uma legislação de proteção mínima dos trabalhadores, além de um discurso tutelador, o Estado constrói o alicerce para a posterior expansão capitalista brasileira.

O projeto liberal, instituído por meio da constituição de 1891, malogra a partir de 1926 com a emenda que regulamenta as profissões e as atividades industriais. O Estado não para aí: por meio de um conjunto de decretos, entre 1931

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e 1934, amplia a intervenção do Estado, aumentando mais ainda o controle dos trabalhadores ao regulamentar as relações de trabalho.

Mesmo com a Constituição de 1934 assegurando a autonomia e a pluralidade sindical, o Estado varguista centralizava o poder de reconhecer quais associações/sindicatos seriam legalizadas, sem contar o sistema de cooptação das lideranças sindicais, pois seus líderes eram trazidos para os quadros burocrático, legislativo e judiciário do governo (MORAES FILHO, 1978).

A implementação do Estado Novo cerceia de vez as atividades sindicais, pois a partir do Decreto Lei de 1939, estabelece-se que os sindicatos só poderiam funcionar se reconhecidos pelo Estado, dotando-o de total controle político-administrativo sobre suas ações. Desde então, “criou-se uma burocracia sindical dócil, vinculada e escolhida a dedo pelo Estado, cujo objetivo era outro senão controlar as reivindicações operárias” (ANTUNES, 1985, p. 62).

Devido a esta característica central, a maioria dos sindicatos foi denominada de “pelego”: O peleguismo, então, foi concebido como sendo um

[...] fenômeno gerador de dirigentes sindicais que se contentam com as atribuições legais e se tornam instrumentos dóceis para que a organização atue menos no interesse de sua classe do que no interesse particular da empresa econômica e da ordem política do momento (RODRIGUES, 1968, p. 19).

Pois bem, tanto a prática do peleguismo quanto a política fortemente repressiva do governo de Getúlio Vargas calaram e cercearam qualquer tentativa de dar-se voz coletiva às organizações de classe, entre elas as associações.

José Albertino Rodrigues (1968) defende uma certa passividade dos sindicatos em relação às estratégias varguistas; mas é bom ter em mente que os movimentos grevistas, durante a Era Vargas, foram bem ativos e intensos. Devido a estas atividades sindicais, os operários conquistaram direitos como as legisladas no Decreto Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1942, também conhecida “Consolidação das Leis Trabalhistas” (CLT), que instituiu, entre outros, o descanso semanal e férias

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remuneradas, a jornada de 8 horas, 48 horas semanais, a regulamentação do trabalho feminino, proibição do trabalho de menores de 14 anos, remuneração obrigatória da hora extra e proteção contra acidentes.

Fica claro então que, na “Fase de Controle”, os sindicatos se transformaram em colaboradores do Estado varguista, além de promotores da paz social. De um modo geral, na barganha com o governo, as organizações sindicais ganharam direitos trabalhistas mínimos, mas em troca pagaram com a diminuição de seus direitos políticos, além da perda da liberdade de atuação sob um forte corporativismo estatal.

No entanto, a perda da autonomia e a imposição de várias restrições institucionais não impediram o fortalecimento dos sindicatos; pois, nas décadas de 1950 a 1960, a mobilização da classe operária foi intensa.

Mesmo perdurando a essência da estrutura sindical herdada do regime varguista, entre 1945 e 1964, devido a uma maior liberdade política, além de uma ação administrativa e organizacional mais flexível, “o volume de sindicatos oficiais praticamente triplicou no país e no Estado do Rio Grande do Sul o número de sindicatos dobrou: tinha-se 147 em 1941, 235 em 51 e 319 em 61” (PETERSEN; PEDROSO, 2007, p. 202).

Os professores, entretanto, estavam à margem desse processo de organização sindical, pois vale ressaltar que a sindicalização de funcionários públicos nesse período era ilícita; organizações de esfera municipal, estadual e federal, estrategicamente montadas como alternativa à legislação de 1931, que proibia os funcionários públicos de se sindicalizarem. Inclusive, tal contexto retirava estas instituições das estatísticas oficiais.

Como era proibida a sindicalização dos funcionários públicos, não apareceu nas estatísticas oficiais a criação, em 45, daquela que veio a ser a maior organização sindical de base estadual: o Centro dos Professores do Estado do Rio Grande do Sul (CPERS). Representava inicialmente apenas os professores primários (Centro dos Professores Primários), vindo depois a representar a totalidade dos professores da rede pública (PETERSEN; PEDROSO, 2007, p. 202).

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Na crise ocorrida entre a renúncia do Presidente Jânio Quadros e a ascensão de seu vice João Goulart (Jango), os sindicatos dão amplo apoio a Jango, que se compromete a implementar reformas sociais no país, conhecidas como Reformas de Base:

Reforma agrária (com emenda do artigo da Constituição que previa a indenização prévia e em dinheiro); Reforma política (estendendo o

direito de voto aos analfabetos); Reforma universitária

(assegurando a plena liberdade de ensino e abolindo a vitaliciedade de cátedra); Reforma Constitucional (para a delegação de poderes legislativos ao Presidente) e a consulta através de plebiscito para referendá-las (PEDRO, 1987, p. 233).

Receosa com as Reformas de Bases, a União Democrática Nacional (UDN), articulada com as Forças Armadas, promove um “golpe de Estado” que derruba João Goulart e instaura no país um regime cujas características fundamentam-se no autoritarismo e a ratificação do capitalismo em detrimento dos salários e direitos sociais dos trabalhadores. Criticando a política trabalhista de João Goulart, a UDN legitima-se perante a sociedade, por meio de denúncias de fraudes e corrupções:

Em nota oficial logo após a queda de Goulart, a UDN congratula-se com as forças armadas pela vitória contra a ameaça da ditadura comunista, propondo-se a continuar na luta contra a inflação e o

câncer da corrupção e do empreguismo

(http://www.cpdoc.fgv.br/comum/htm).

O golpe decisivo no controle das associações e sindicatos é dado pelos dispositivos ditatoriais pós-1964. O governo militar, sob a égide da luta contra o comunismo, ao cassar os partidos políticos de esquerda, perseguir e/ou prender e/ou torturar e/ou exilar e/ou assassinar as lideranças e operários mais combatentes, persegue qualquer organização que questione as estruturas governamentais vigentes, como, por exemplo, os sindicatos: “entre abril e dezembro de 1964, 425 sindicatos e 45 federações sofreram intervenções, sendo

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seus líderes presos ou exilados, além de ser extinta a principal central sindical, o Comando Geral dos Trabalhadores – CGT” (HIRATA, 1980, p. 88).

Entre as medidas de controle do Estado pós-1964 em relação aos trabalhadores temos:

[...]

1) a intervenção direta do Estado na arrecadação do imposto sindical e na fiscalização dos recursos provindos dessa fonte. Os sindicatos ficam obrigados a restringir o uso desses recursos à compra de imóveis e à assistência médico- dentária;

2) o Estado possui também um estreito controle do aparelho sindical, na medida em que vai peneirar, através da exigência de um “atestado de ideologia”, os possíveis concorrentes a cargos de direção. Tal medida fez com que, nos primeiros anos que se sucederam ao golpe, a maior parte dos ativistas que pleiteavam cargos para a direção dos sindicatos fossem oriundos [...] das correntes não contestadoras da ideologia dominante;

3) a proibição através da lei [...] o que torna qualquer greve ilegal e, portanto, sujeita à repressão militar [...] (MANFREDI, 1986, p. 89-90).

Mas é preciso atentar para o fato de que as estratégias do período ditatorial militar não significam uma continuidade daquelas apresentadas na era Vargas; ao contrário da política populista de Vargas, não era intuito dos militares utilizar práticas populistas, como, por exemplo, a cooptação (NORONHA, 1998). Em vez disso, precisou-se somente aumentar o rigor sobre os dispositivos cerceadores das organizações sindicais, assim como reprimir violentamente qualquer indício de greve e/ou manifestação política.

No final dos anos 70, mais precisamente a partir de 1978, as manifestações grevistas de caráter estadual e até mesmo nacional, a exemplo das lideradas pelos metalúrgicos do ABC paulista ou mesmo a histórica greve de 1979 do CPERS, foram decisivas para romper com o atrelamento estatal no qual se encontravam os sindicatos. De 1978 a 1988, a quantidade de greves chega a proporções exorbitantes: “em 1978 foram deflagradas 118 greves, e dez anos depois elas

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