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CAPÍTULO III: Trilhas

1. Fontes da Pesquisa

Emm vviirrttuuddeeddeessuuaass áágguuaass sseemmpprreeccaammbbiiaanntteess,, aa ffoonnttee s siimmbboolliizzaa,, nnããoo aa iimmoorrttaalliiddaaddee,,mmaass ssiimm uumm ppeerrppééttuuoo r reejjuuvveenneesscciimmeennttoo.. (CHEVALIER, 1991, p. 444)

A assertiva de Jean Chevalier é resgatada por Lombardi (2004, p. 146), que insinua um passado, não só ligado ao presente, mas também a um projeto de futuro, ou seja:

Qualquer que seja a opção do investigador quanto ao fazer científico, não se pode desvinculá-lo dos contraditórios interesses da sociedade e do tempo histórico em que vive. Em outras palavras, nenhum pesquisador é neutro, nenhum procedimento científico é asséptico, e muito menos o conhecimento produzido por ele é dotado de neutralidade em relação às questões de seu tempo. Ao contrário, todo conhecimento produzido implica e pressupõe métodos e teorias que enformam (no sentido de dar forma) o processo e o resultado da construção do conhecimento científico, sendo estes igualmente produtos sociais e históricos (LOMBARDI, 2004, p.146).

Em uma pesquisa histórica, a “credibilidade” está intimamente ligada ao confronto das fontes, que tem seu início no levantamento, mas continua com a seleção e observação criteriosa das mesmas. O que não é tão simples quanto parece; conforme enfatiza Ragazzini (2001. p. 14):

[...] a fonte é o único contato possível com o passado que permite formas de verificação. Está inscrita em uma operação teórica produzida no presente, relacionada a projetos interpretativos que visam confirmar, contestar ou aprofundar o conhecimento histórico acumulado. A fonte provém do passado, é o passado, mas não está mais no passado quando é interrogada. A fonte é uma ponte, um veículo, uma testemunha, um lugar de verificação, um elemento capaz de propiciar conhecimentos acertados sobre o passado.

O autor ainda observa que, ao se usar uma determinada fonte para uma pesquisa em História, deve-se atentar para três dimensões relacionais: uma primeira, que diz respeito ao contexto em que a fonte é produzida; a segunda refere-se aos condicionantes históricos que permitiram desde a seleção até a catalogação de determinada fonte, e uma terceira, que está diretamente ligada à interpretação que o historiador faz desta fonte.

Portanto, mapear e interpretar as fontes históricas é estar ciente que estas são dados sobreviventes (por motivos históricos ou não) de um passado, que nos diz o que estamos preparados para ouvir; entretanto, esta preparação é feita no presente, sob os diversos “óculos” da contemporaneidade.

Se esta etapa terá ou não sucesso depende de outras variantes, das quais a mais influente é a existência de arquivos, bem como a conservação e a disponibilidade do acervo sob sua responsabilidade, o que muitas vezes afeta a relação entre pesquisador e arquivo, onde muitas escolhas influenciam a pesquisa e sua qualidade (FARIA FILHO, 1998, p. 96).

Diante disso, é de fundamental importância para esta pesquisa o acervo da Biblioteca Pública de Pelotas, bem como o arquivo documental da ASRP e o arquivo documental do 24º núcleo do CPERS. Com a cooperação dessas instituições, pude coletar vários dados referentes ao processo histórico da ASRP, desde sua criação até os fins dos anos 1980, como por exemplo: notícias em jornais e periódicos, livros-atas da ASRP e do 24º núcleo do CPERS, além de fotografias de diversos momentos da ASRP.

O uso de livros-atas, jornais e fotografias têm sido cada vez mais recorrentes nas pesquisas de História da Educação. Entretanto é necessário um apoio contextual e legal, que permitam a explicitação de categorias que tornem a interpretação dos dados o menos tendencioso possível; ou, no mínimo, apresente um alto grau de transparência.

Além das fontes já citadas, sentiu-se a necessidade de incorporar a este rol uma fonte mais tradicional, mas com olhares distintos da simples descrição: a legislação a respeito de associações e sindicatos, a fim de perceber os limites legais dessas instituições.

1.1. Os livros de atas, registros e relatórios como evidências históricas

Tomando por base o dicionário de Direito “Vocabulário Jurídico”, conceitua- se ata pelo seguinte:

[...] em sentido genérico, designa a palavra, o ato pelo qual se registra por escrito tudo o que ocorre em certas reuniões ou solenidades, promovidas pelas associações, pelas sociedades ou entidades quaisquer [...] o sentido atual é o de registro de tudo quanto se tenha deliberado em reunião ou seção de associações, sociedade, corporações, etc., na qual as deliberações tenham de ser tomadas por votos dos membros associados, sócio ou particulares dela (DE PLÁCIDO E SILVA, 1990, p. 220).

O autor ainda descreve o que viria a constituir um “livro de atas”, bem como o que cada ata deve conter “a data de sua realização, local, convocação prévia ou determinação estatutária, mesa que a preside, assuntos discutidos, votação e deliberação tomada” (p. 220).

Livros de registros, relatórios e atas, bem como documentos administrativos, como protocolos, portarias, entre outros, fazem parte de uma gama de textos documentais, que intenciona manter, segundo Chartier (1990, p. 63), “uma relação transparente com a realidade que apreende”, obedecendo a lógicas processuais fortemente influenciadas por conceitos e concepções de seus produtores.

Seja como for, deve-se levar em consideração três aspectos para que as atas sejam adotadas como fontes pelo historiador: suas características de

oficialidade, em que pesa o fato de ser um documento aberto ao público, por isso, o

das pessoas que exercem mais poder dentro das instituições às quais as atas pertencem; subsequente ao primeiro aspecto, torna-se necessário, então, a adoção de um suporte metodológico que permita analisá-la em confronto com dados obtidos através de outras fontes, o que justifica o uso diverso de fontes que esta pesquisa se propõe trabalhar; diretamente ligada aos dois aspectos anteriores, há uma premissa de o historiador que trabalha com atas vá além do discurso explícito, é necessário que ele desvele o implícito, que é o que o diferencia do historiador positivista, pois as falhas deste não estavam em usar apenas os documentos, mas sim enxergar somente o que estava escrito nestes relatórios.

Esquinsani (2007, p. 103-110), ao analisar as atas de reuniões de uma Secretaria Municipal da Educação de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul, chama atenção para a dimensão ritualística destas; nas palavras da autora: “os ritos das reuniões com a mantenedora eram arquitetados a partir de seqüências e arranjos que permitiam vislumbrar a reunião a partir de um sujeito, de um dono” (p. 105).

Na ASRP, estas reuniões apresentavam claramente o caráter ritualístico de suas reuniões, onde os donos incorporam-se nas pessoas da diretoria, cuja autoridade máxima era o presidente. Os rituais das reuniões estão expressos nas atas e seguem, na maioria das vezes, o seguinte padrão:

 Antes propriamente das reuniões, era publicado nos jornais locais um convite direcionado aos associados, indicando data, hora, local e a pauta (“Ordem do Dia”) da mesma, conforme o exemplo a seguir (Figura 01);

Figura 1: Convite para Reunião Geral da ASRP (DIÁRIO POPULAR, 23/10/1930).

 Na reunião propriamente dita, o Presidente da ASRP abria a sessão, “declarando a assembleia aberta, lendo-se a ata da reunião anterior; em seguida, debatia-se a pauta principal da mesma e abria-se a

pauta para se tratarem outros assuntos que quisessem por em discussão; por fim se manifestavam a proposição de novos sócios, inclusive os honorários.

 A escrita da ata, além das informações já mencionadas, agregava data, hora e local das reuniões, assim como deliberações das mesmas, sendo sua confecção responsabilidade do secretário em exercício, mas era assinada tanto pelo presidente como pelo secretário que a confeccionou.

Ademais, ao se ignorar a leitura das atas, corre-se o risco de a pesquisa perder alguns acontecimentos pertinentes, bem como inibiria as percepções dos procedimentos coletivos no que diz respeito aos dispositivos políticos e estratégicos.

Diante disso, é perceptível que as atas e os relatórios da ASRP são fontes oficiais por excelência; logo, assim como qualquer outra fonte, devem ser consideradas produtos de um processo de desenvolvimento relacional de seres humanos. Portanto, as atas e registros da ASRP não são fontes incontestáveis nem tampouco fontes em si que assegurem o sucesso qualitativo de uma pesquisa histórica; é o manuseio e a interpretação do documento, assim como de qualquer outra espécie de fonte, que vai proporcionar a qualidade da pesquisa histórica, ou seja, o resultado qualitativo das investigações em História está intimamente ligado aos parâmetros teórico-metodológicos adotados na pesquisa.

Expostas as devidas considerações sobre os aspectos teórico- metodológicos referentes às atas e registros como fontes históricas, declara-se que serão usadas livro de atas das ASRP de 1929 a 1975, bem como o livro de registros / relatórios desde 1929 a 1981 ___ estes documentos apresentam o relatório final de cada diretoria da ASRP, comportando, além de um resumo das atividades citadas nas atas dos referidos anos, outros aspectos que não constam nas mesmas como, por exemplo, número de sócios, falecimentos, movimento da

Secretaria, palestras, assuntos de biblioteca, atividades de integração, movimento da tesouraria, auxílios federais, estaduais e municipais, entre outros.

A partir do ano de 1980, os livros de atas do 24º núcleo do CPERS compuseram também o rol de documentos que foram analisados na pesquisa, já que esta instituição teve relação direta com a evasão de professores da ASRP.

Num primeiro momento, será feito o confronto destes primeiros documentos. Ressalta-se o privilégio de ser concedido o acesso a tais registros, que mesmo faltando os últimos livros de atas da ASRP, pode-se, somando-se às outras fontes documentais, cobrir praticamente mais de 50 anos de existência do associativismo docente em Pelotas, o que permite a esta investigação analisar as continuidades, descontinuidades e rupturas do período proposto nesta pesquisa, ou seja, devido perpassar um longo período, imprimiu-se uma dinâmica de leitura mais focada nas regularidades e rupturas, e não tanto nos fatos mais pontuais.

Posteriormente, foram utilizadas outras fontes de pesquisa como: a legislação sobre associações e sindicatos, dando ênfase ao movimento docente; a imprensa pelotense, cujo acervo é acessado na Biblioteca Pública Pelotense e fotografias de reuniões da ASRP, registradas nas décadas de 1950 e 1960, decorrentes dos jubileus de prata, rubi e ouro da ASRP.

Numa última etapa, a fim de preencher as lacunas ainda existentes no estudo, serviu-se da história oral, principalmente no que diz respeito aos seus instrumentos de pesquisa do que a história oral enquanto metodologia propriamente dita.

1.2. O Uso de jornais como fonte de pesquisa

A apropriação da imprensa como fonte na História da Educação é uma prática recente; isso está intimamente vinculado à relação intrínseca entre a História da Educação e a produção historiográfica do final dos anos 80, fortemente

influenciada pelo movimento da História Nova, mais especificamente História Cultural.

É dessa forma que nos anos de 1990 acrescenta-se aos subsídios da História da Educação uma infinidade de fontes como, por exemplo, diários, cartas pessoais, memoriais, cadernos de alunos, livros, cartilhas, livros-atas e, num número bem menor, os jornais de grande circulação, seja em nível regional ou nacional.

A pouca atração em se adotar os jornais como fonte de pesquisa esta no fato de esta ser uma fonte em que as informações se encontram pulverizadas, assim como o degradável estado de conservação e apresentação em que se encontram os jornais antigos.

A pergunta-chave para os pesquisadores de arquivos de jornais é: há objetividade na prática jornalística?

Marques de Melo (1994) é avesso a qualquer possibilidade de objetividade nas práticas jornalísticas. O ator salienta que a “distinção entre jornalismo opinativo e informativo”1

não passa de uma dissimulação retórica.

Tal separação entre jornalismo opinativo e informativo vem se propagando; para os que aceitam tal modelo, chega-se a evidenciar, no jornalismo mais recente, a demarcação de poucas páginas para o jornalismo opinativo, em que as opiniões sobre os fatos são incisivas, induzindo o leitor a pensar que no restante do jornal não há opiniões, apenas informações; Para Melo (1994, p. 88), isso é uma falácia, pois as opiniões ficam dissimuladas ao longo do periódico.

Ciro Marcondes Filho (1989), adepto da epistemologia marxista, vê a notícia como um produto transformado em mercadoria, que sofre um processo de reificação por meio de técnicas jornalísticas a serviço de um grupo social e/ou de uma ideologia. Nas palavras do autor:

1 Um dos primeiros a fazer a distinção entre jornalismo opinativo e informativo é o editor inglês Samuel Buckeley, no “Daily Courant”, na primeira metade do século XVIII. Este autor faz uma distinção entre “news” e “comments” (OLSON, 1966).

Notícia é a informação transformada em mercadoria com todos os seus apelos estéticos, emocionais e sensacionais; para isso, a informação sofre um tratamento que a adapta às normas mercadológicas de generalização, padronização, simplificação e negação do subjetivismo. Além do mais, ela é um meio de manipulação ideológica de grupos de poder social e uma forma de poder político. Ela pertence, portanto, ao jogo de forças da sociedade e só é compreensível por meio de sua lógica (MARCONDES FILHO, 1989, p. 13).

Em princípio, seria muito difícil separar a notícia ___ fato, que ao ser selecionado passa a ser a matéria prima do jornalismo ___ da sociedade que concebe o jornalismo enquanto indústria de comunicação, isto é, a complexidade geracional da notícia é fruto da sociedade na qual ela está inserida.

Partindo do pressuposto que não há objetividade no jornalismo, Michael Kuncsik (1997) aponta a existência de, no mínimo, 5 tipos de jornalismo: “jornalismo-defensor”, que têm por base as minorias, procurando denunciar as mazelas sociais que oprimem estas parcelas da população; “jornalismo-mediador”, que tenta trabalhar com a objetividade, entendendo esta categoria como a não omissão nem a distorção dos fatos; “jornalismo-professor-e-guia”, que procura nitidamente promover novas idéias e doutrinas, ou mesmo ideologias; “jornalismo- precisão”, aquele que trabalha com metodologias científicas para dar veracidade aos dados os quais publica; “jornalismo-entretenimento”, que se assume como um produto da indústria cultural.

Mais recentemente, Chaparro (2001), num surto de realismo e desilusão, distingue os conceitos de jornalismo e jornal:

O conceito de “jornalismo” precisa ser separado do conceito de “jornal”. Jornal é negócio, cada vez mais negócio, e como negócio é pensado e gerido. Trata-se de objeto concreto, mensurável, comercializável, produto industrial que dá lucro, e pela lógica do lucro é controlado [...] Jornalismo pertence ao lado dos valores. Integra o Universo da cultura, como espaço público dos discursos sociais conflitantes. É objeto abstrato, inserido no cenário humano da complexa construção do presente (CHAPARRO, 2001, p. 22-23).

É evidente que o autor, ao diferenciar Jornalismo de jornal, constrói um discurso a fim de salvar o “jornalismo” dos malefícios consequentes das práticas comerciais em que está inserido, que tendem a sujar a postura ética e comprometida do jornalista, como se o sistema fosse sempre muito maior do sua pretensa objetividade ou mesmo um desejo de menos subjetividade.

Entretanto, Chaparro, apesar da intencionalidade utópica de separar jornalismo de jornal, faz emergir o jornalismo como prática cultural; dessa maneira, ao ser inserido no campo da cultura, o jornalismo cria uma maior autonomia em relação a sua materialidade enquanto suporte.

Seja como for, o jornalismo sempre estará infectado por uma visão parcial e/ou comprometida e/ou engajada da realidade; são as ideologias e doutrinas dessa realidade que darão os subterfúgios para a seleção e construção de qualquer fato, seja ele jornalístico ou não.

Glénison argumenta que é impossível encarar os acontecimentos expressos num periódico como confiáveis. Mesmo desaconselhando a prática desta fonte, ele chama atenção para certos cuidados:

Sempre será difícil sabermos que influências ocultas exerciam-se num momento dado sobre um órgão de informação, qual o papel desempenhado, por exemplo, pela distribuição da publicidade, qual a pressão exercida pelo governo (GLÉNISON apud LUCCA, 2005, p. 116).

Algo é certo: o uso dos periódicos é tentador tanto no que diz respeito ao uso deste material como fonte quanto objeto de pesquisa. Da mesma forma, esta atração, que também é o principal motivo apontado por Glénison para sua recusa, é a dialética existente entre o periódico (fonte e/ou objeto de pesquisa) e sua facticidade histórica.

A dimensão factícia de um jornal se dá no cotidiano em que o fato está inserido, afetando e sendo afetada por fenômenos sociais, políticos, econômicos e

culturais, incorporando e (re) produzindo um imaginário social sobre determinada ideologia e/ou doutrina.

De certa forma, a escolha crescente dos historiadores da educação em usar a imprensa nos assuntos relacionados à educação reflete-se na própria construção desta “Tecnologia de Imaginário”2

, espelhada na própria concepção de modernidade à qual ela está vinculada: sem educação pública, não seria viável a promoção e a difusão de uma ideologia e/ou uma doutrina, ou seja, o periódico não seria uma tecnologia eficiente à criação de um imaginário social.

Maria Helena Câmara Bastos, em sua obra “Espelho de Papel: a imprensa e a História da Educação”, complementa a associação entre educação e imprensa:

Nesta perspectiva, a imprensa cria um espaço público através do seu discurso ___ agindo como mediador cultural e ideológico privilegiado entre o público e o privado, fixa sentidos, organiza relações e disciplina conflitos. Com um discurso carregado de intenções, constitui verdades, ao incorporar e promover práticas que legitimam e privilegiam alguns conhecimentos em detrimento de outros, produz e divulga saberes que homogeneízam, modelam e disciplinam seu público leitor (BASTOS, 2002, p. 152).

Diante disso, é fácil apreender que imprensa e educação são duas tecnologias do imaginário social que guardam entre si a característica comum de estarem fundamentadas no processo de fundação das sociedades urbanas, ou seja, assim como a educação, é preciso perceber “a imprensa como um lugar estratégico de constituição do discurso; através dela é o social todo, inteiro, que fala, sendo o ponto de convergência de uma multiplicidade de falas” (IMBERT, 1983, p. 362).

Superada a questão da “falsa neutralidade” dos jornais, que, sob um determinado ângulo, faz o historiador que se debruça sobre estas fontes dormir mais “tranquilo”, a problemática que se apresenta é: quais os parâmetros de análise

2 “Tecnologias do Imaginário”, segundo Juremir Machado da Silva (2003), são “dispositivos (elementos de interferência na consciência e nos territórios afetivos aquém e além dela) de produção de mitos, de visões de mundo e de estilos de vida” (SILVA, 2003, p. 22).

da complexa relação existente entre as determinantes sociais e históricas nas quais um jornal é escrito?

Para atenuar esta questão, é imprescindível um conhecimento ínfimo a respeito do periódico, a fim de que as possíveis distorções sobre os fatos, dependentes de uma ideológica e/ou uma doutrina, possa ser levada em conta no momento da análise dos discursos presentes no mesmo. Sendo assim, a seguir, far-se-á algumas ponderações sobre os jornais de Pelotas utilizados na tese.

1.2.1. O jornais de Pelotas: algumas considerações. A A iimmpprreennssaa ddee PPeelloottaass ccoonnttaa ttrrêêss jjoorrnnaaiiss ddiiáárriiooss ______ “ “DDiiáárriioo PPooppuullaarr””,, ““OOppiinniiããoo PPúúbblliiccaa”” ee ““OO LLiibbeerrttaaddoorr””,, p poollííttiiccooss oo pprriimmeeiirroo ee oo uullttiimmoo,, óórrggããoo ddee iinntteerreesssseess ggeerraaeess oo s seegguunnddoo””.. (ALMANACH DE PELOTAS, 1928, p. 72).

Inicio este tópico com a citação acima já para justificar os jornais que foram consultados neste estudo; é evidente que, devido o estender do recorte de tempo da pesquisa, alguns dos jornais analisados já encerraram suas edições. No entanto, estes jornais, somados aos livros-atas da ASRP e do 24º núcleo do CPERS, são as principais fontes documentais desta pesquisa.

A imprensa pelotense começa a florescer na segunda metade do século XIX e início do século XX num panorama em que “Pelotas configurou-se, juntamente com Rio Grande, no segundo polo industrial do estado, e sua riqueza alicerçava-se sobretudo nas atividades agropecuárias” (LONER, 1998, p. 05).

O desenvolvimento urbano em Pelotas configura novas demandas sociais, tornando-se necessárias novas tecnologias de construção do imaginário social, dentre as quais se sobressaem os periódicos e, posteriormente, o sistema

educacional. É manifesto o fato de que as primeiras iniciativas tanto na imprensa quanto em reformas educacionais em Pelotas se deram por intermédio da elite intelectual3 da cidade.

Diante das poucas fontes de informações desse caldeirão modernizador, na cidade de Pelotas durante a República Velha, os jornais tornam-se “a grande fonte de informações e comunicação [...] Também era o melhor local para informar-se sobre o que estava acontecendo na cidade” (LONER, 1998, p. 15). Vale lembrar que a “Era do Rádio” no Brasil inicia na década de 30 do século passado; em consequência disso, os jornais, à medida que iam ficando mais baratos e popularizando, tornaram-se os principais veiculadores de informações.

Logo abaixo (Tabela 04), estão descritas algumas informações sobre os

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