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CAPÍTULO III: Trilhas

3. Estratégia de Análise

A abordagem analítica da tese insere-se no campo epistemológico contemporâneo da Sociologia das Organizações que foca as inter-relações entre os universos da macro e microestrutura, superando os sistemas analíticos centrados em um ou noutro. Afinal, “o homem moderno passa a maior parte do seu tempo dentro de organizações, das quais depende para nascer, viver, aprender, trabalhar, ganhar seu salário, curar suas doenças, obter todos os produtos e serviços de que necessita” (CHIAVENATO, 1994, p. 54).

A Sociologia das Organizações é atualmente uma área específica da Sociologia que, desde suas origens, se encontra vinculada à Sociologia do Trabalho. As primeiras especulações desse campo fundamentavam-se em avaliar as formas de organizar a produção, já que as empresas só podiam contar com uma tecnologia comparativamente rudimentar.

Considerava-se então que se poderia incrementar a produção a partir de uma melhor organização racional da empresa e das estratégias aplicadas no desenvolvimento das atividades; quando se evidencia a relevância das motivações individuais, se introduzem pesquisas organizacionais que consideram esse fator como outro elemento a ser analisado, mas o fim era o mesmo: funcional.

Já na década de 60, as investigações se centram principalmente nos problemas derivados da alienação dos trabalhadores atrelada geralmente às consequências sofridas por eles devido à Organização Científica do Trabalho. Desse modo, os estudos se apoiavam principalmente nas teorias de raiz marxista, cujo objetivo era dar conta dos conflitos, suas gêneses e consequências, análises sobre sindicalismo, poder e motivação, a redução das desigualdades e negociações na sociedade em geral.

Desde a década de 1960, como consequência da crítica incisiva sobre o estruturalismo e funcionalismo na sociologia das organizações, as pesquisas deste campo começam a focar mais a dinâmica organizacional (fruto dos conflitos individuais) em contraposição à até então predominante teoria da estabilidade das

organizações, privilegiando o dissenso ao consenso de opiniões no interior das organizações.

Nos anos 70, a Sociologia das Organizações, pautada na teoria weberiana da abordagem interpretativa e ação dos indivíduos, consolida a ideia de que o ser humano é produto e produtor de seu próprio ambiente, ou seja, não deve ser visto somente como um elemento passivo da estrutura. A partir de então, passou-se a compreender os fenômenos sociais como construções culturais, bem como enxergar as organizações enquanto processos, e não mais apenas estruturas.

A década de 80, por sua vez, acentua a ideia de movimento nas organizações, causando uma ruptura com a teoria organizacional clássica. Dessa forma, ocorre um processo de repúdia à racionalidade, formalismo e burocratização, tendendo a uma inversão de princípios na estrutura organizacional. Observa-se também que a mudança de foco nas investigações, anteriormente centrada nas abordagens macropolíticas cedem espaço às investigações de caráter mais micro como, por exemplo, estudos sobre as representações, identidades e outras especificidades organizacionais.

Mais recentemente, a partir de uma série de transformações como globalização, alto desenvolvimento tecnológico, crises político-ideológicas, etc.; destaca-se o tema cultural na Sociologia das Organizações, Procura-se estudar então como a organização constitui-se num lugar de socialização e de aquisição de cultura, procurando unir as exigências pessoais e coletivas de seus membros em benefício da organização de e de seus integrantes (SAINSAULLIEU, 1997).

De certa forma, a expansão das Ciências Sociais, que influenciou diretamente a Sociologia, a Antropologia e a Psicologia Social, estimulou o estudo das organizações, inclusive as associações docentes, contrapondo-se aos paradigmas funcionalistas e estruturalistas predominantes até então. A postura crítica incide sobre a precisão de preencher algumas lacunas deixadas pelas teorias clássicas da Sociologia da Organização, podendo ser simplificada a partir da seguinte ideia: a categoria organização deve ser trabalhada como uma instituição repleta de significações, ou seja, como um espaço de comunicação; sob

essa perspectiva, a organização passa ser então um “construto no qual pessoas, coletivos e a estrutura se comunicam” (DUART, 1999, p. 60).

Ou seja, as organizações não são estruturas nem sistemas, pois são criadas e alimentadas pelas pessoas. Isso não significa admitir que as organizações são exclusivamente as pessoas, pois seria inviável trabalhar com alternativas teóricas que separassem as determinações humanas das ações humanas. Assim, os valores aparecem numa organização quando, efetivamente, os indivíduos têm lugar nela.

Pagès (1987, p. 31) afirma que uma organização seria então “um conjunto dinâmico de respostas e contradições” e, portanto, seria um “sistema de mediações que só pode ser compreendido pela referência à mudança das condições da população e das condições dos trabalhadores por um lado, a empresa e o sistema social, do outro”. Para o autor, a organização é fruto de relações e ações coletivas; por isso, “se interpõe entre as contradições de classe, evita ou atenua os conflitos, os absorve e os integra em um sistema social unificado, mas é, entretanto, constantemente sustentada e produzida por elas”.

Por ser uma produção social resultante de relações de poderes, a organização deve ser encarada também como uma “rede de tomada de decisões” (MOTTA, 1986, p. 14), em que o comportamento do indivíduo rege sua participação. Mas a organização é uma rede decisória de “autonomia controlada”, pois “há a substituição de ordens e interdições por regras e princípios interiorizados conforme a lógica da organização” (PAGÈS, 1987, p. 36). Os valores e princípios concretizam-se, portanto, nas normas, em que a dialética entre a autonomia e o controle possibilita as relações de poder e, consequentemente, legitima a dominação.

Corroborando a ideia de serem as organizações os pilares que sustentam a modernidade, Outhwaite e Bottomore (1996) salientam que, na sociedade moderna, há inúmeros tipos de organizações, podendo ser classificadas em diversas óticas; contudo, podem ser diferenciadas com base em dois aspectos: o nível de burocratização e o grau de relação com o Estado. Acredita-se que estes aspectos

sejam fundamentais para a análise das associações docentes de caráter mutualista, cujas categorias centrais são a racionalidade e as relações de poder.

Compreende-se então que as organizações associativas docentes, onde se inclui a ASRP, ressignificam organizacionalmente os sistemas de normas instituídos. Ao se ressignificar, estas associações variam a racionalidade e as relações de poder.

A pesquisa, dessa forma, compromete-se a compreender os fenômenos sociais, também, enquanto produtos culturais, bem como a associação docente em suas especificidades e dinâmicas próprias, onde o contexto organizacional é encarado na perspectiva interativa e cultural, ou seja, como uma representação criada e sustentada pelos indivíduos em interação, onde a cultura organizacional torna-se ponto fulcral da abordagem, já que influi na constituição de interações grupais.

Sendo assim, a ASRP, assim como qualquer outra associação docente, pode ser caracterizada como uma representação cultural, ou melhor, um conjunto de crenças, valores, símbolos, rituais, códigos, ideologias, significações, normas, regras, práticas, etc.

Mas, diante de toda essa gama de complexidade, é necessário enveredar- se num modelo de análise organizacional que dê conta das particularidades da ASRP sem perder de vista o eixo principal, que é a história da referida instituição sob um prisma sociológico.

Os modelos têm a finalidade de simplificar uma determinada realidade complexa, pois, dessa forma, auxiliam na busca por soluções aproximadas para os dilemas humanos. Baseado, portanto, em Weber (1980), Perrow (1976), Mayntz (1972), Litterer (1970), Champion (1979) e Shein (1992), moldou-se um modelo de análise (Fig. 02), focando-se em 4 dimensões para se investigar as associações docentes: a teleológica, a estrutural, a cultural e a interativa:

É preciso atentar que, mesmo simplificando a realidade, não se pode perder de vista que as referidas dimensões, apesar de conservarem suas

peculiaridades, dissolvem-se uma nas outras, evidenciando-se pontos de articulação entre os vários elementos que compõem as dimensões, sendo aqui representadas de forma se tornar mais visível e palpável:

Quadro 03

Modelo de análise proposto pela pesquisa para investigação de associações docentes

Dimensões Aspectos das dimensões

Teleológica

Objetivos – são os melhores parâmetros de partida para se estudar uma

organização. Deve considerar-se, porém, aquilo que realmente guia as decisões de uma organização e, consequentemente, suas ações (MAYNTZ, 1972, p. 75).

Finalidades / Funções – intimamente ligadas aos objetivos, são as ações

contínuas prestadas aos membros da associação, ou seja, são os processos e ou produtos desejados associados e promovidos pela associação, sendo geralmente regulamentada por meio de normas (MAYNTZ, 1972, p. 76).

Estrutural

É o arcabouço relativamente estável de uma organização, pois “qualquer organização [...] apresenta padrões de comportamento mais ou menos estáveis, baseados em uma estrutura de papéis e tarefas especializadas” (PERROW, 1976, p. 73). Em outras palavras, é o sistema burocrático da organização, pois “quanto maior for a empresa, maior será a burocracia que a envolve” (WEBER, 1980, p. 40).

Cultural

(SHEIN, 1992)

Artefatos – São as manifestações visíveis da organização, interligadas às

estruturas e processos organizacionais visíveis.

Valores adotados - são as premissas consensuais, são as crenças e

filosofias que a organização estabelece como fundantes de sua identidade. Estes fundamentam os objetivos, as finalidades e as funções da organização.

Premissas básicas – estão no inconsciente dos membros da

organização. Engendram-se nas percepções, pensamentos e sentimentos individuais sob uma perspectiva de verdade absoluta; por isso, há uma tendência de imutabilidade das premissas básicas, pois geralmente não são debatidas nem sequer questionadas.

Política / interacionista

Já que a interação é uma negociação de forças e a política é um “elemento interveniente entre o meio e a organização” (LITTERER, 1970, p. 467), esta dimensão proporciona se visualize os conflitos de interesses entre os grupos (ambiente interno) ou as organizações (ambiente externo), buscando sempre a concretização das dimensões anteriores. “Na verdade, a organização é, em certo sentido, uma unidade destinada a gerar e exercer poder […] muito embora grande parte desse poder seja exercida sem que a consideremos como tal, ou simplesmente tendo-se como certo” (PERROW, 1976, p. 162).

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