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Pornografia de vingança: análise da aplicação da lei nacional ou estrangeira quanto à responsabilidade civil no ciberespaço

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JOÃO MAURÍCIO DE SOUZA NETTO

PORNOGRAFIA DE VINGANÇA:

ANÁLISE DA APLICAÇÃO DA LEI NACIONAL OU ESTRANGEIRA QUANTO À RESPONSABILIDADE CIVIL NO CIBERESPAÇO

Tubarão 2017

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JOÃO MAURÍCIO DE SOUZA NETTO

PORNOGRAFIA DE VINGANÇA:

ANÁLISE DA APLICAÇÃO DA LEI NACIONAL OU ESTRANGEIRA QUANTO À RESPONSABILIDADE CIVIL NO CIBERESPAÇO

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e sociedade

Orientadora: Prof. Milene Pacheco Kindermann, Dra.

Tubarão 2017

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Dedico este opúsculo à minha querida e fiel amiga Katherine Maurício Antunes.

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AGRADECIMENTOS

À minha mãe S. R. S., pelo amor incondicional e preocupação com meu futuro, mesmo quando lhe dei alguns desgostos na minha adolescência. Imagino que, sem sua presença sempre atenta, nunca conseguiria chegar onde estou.

A meu pai S. S., pelos ensinamentos, dedicação e amor desmedidos. Seus conselhos e broncas me livraram de opções macabras e me deram algum sentido na caminhada.

A meu irmão D. S., pelo incentivo no estudo.

À minha namorada T. M. Z., pelo companheirismo, paciência e relacionamento tão agradável. Seu respeito, paixão e vontade de estar comigo é o que me motiva a pensar, sobremaneira, em nosso futuro.

À minha tia R. R., minha segunda mãe. Pessoa que me acompanhou de perto desde meus primeiros passos até o presente momento, abdicando de viver a sua vida para cuidar-me desde a infância.

A meu padrinho, hoje falecido, M. J. M., pelo seu jeito estranho de amar. Sempre me exigiu o máximo para que eu pudesse ser um melhor profissional.

À minha madrinha M. S., por ser uma pessoa tão incrível que nunca mediu esforços para me acompanhar nos momentos de moléstias e sadios.

A meu primo D. F. M., pessoa que me deu o primeiro emprego. São 8 anos juntos no escritório. Sua paciência, humildade e amizade foi o que me incentivou a ingressar na carreira jurídica.

A meus antigos e novos amigos e amigas que me elogiaram, criticaram e, muitas vezes, me deram conselhos para ser uma pessoa melhor.

A meu amigo e professor V. L., pelos grandes ensinamentos e auxílio na vida pessoal e acadêmica. Caso não fosse este docente acreditando no meu potencial, talvez esta monografia nem teria sido concluída.

À minha brilhante orientadora M. P. K., que, mesmo com os meus atrasos, sempre foi paciente e persistente durante todo o processo, dando-me liberdade para escrever meu texto de forma singular e profissional.

A Deus, agradeço pela vida.

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Nos dois próximos séculos, à medida que o mundo continue se encolhendo, e suas distâncias diminuindo, uma tentativa bem que poderia ser feita, com o consentimento ou à força, de se instalar um governo mundial. Se durará muito tempo é uma pergunta deixada em aberto. Na história da humanidade, quase nada pode ser predeterminado. (BLAYNEI, 2007, p. 342).

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RESUMO

Este estudo discute a possibilidade de reparação em favor da vítima de pornografia de vingança. O objetivo geral foi investigar se há possibilidade da utilização da legislação material e processual civil brasileira para a punição de pessoa domiciliada no estrangeiro em razão da prática de pornografia de vingança no ciberespaço contra vítima domiciliada no Brasil. A pesquisa, quanto ao nível foi exploratória, quanto ao procedimento de coleta de dados bibliográfica e documental, e quanto à abordagem qualitativa. O trabalho está estruturado em cinco capítulos: no primeiro foram descritos o problema e as razões que motivaram a presente pesquisa; no segundo foi abordado o histórico da internet e sua regulamentação até os dias de hoje, bem como apresentados os fundamentos que deram sustentação à legislação atual a respeito do tema em questão; no terceiro capítulo, foi abordada a responsabilidade civil e o direito de reparação, quando há violação da integridade moral de pessoa domiciliada no Brasil; no quarto capítulo, foram tratadas questões processuais e materiais, tanto no plano nacional, como também no plano internacional; e no último capítulo a conclusão. Os resultados, de acordo com os dados obtidos, evidenciam-se que o direito à integridade moral violado garante o direito à reparação, porém, devido à divergência existente entre as legislações dos países, necessitaria de um tratado regulamentasse os atos e fatos jurídicos realizados na internet. Conclui-se, destarte, que mesmo ante a ausência da legislação específica que regule sobre a internet em situações multiconectadas, existe possibilidade de utilização da legislação material e processual brasileira, bem como de acessar o poder Judiciário nacional, para punir pessoa domiciliada no estrangeiro em razão da prática de pornografia de vingança perpetrada em desfavor de vítima domiciliada no Brasil.

Palavras-chave: ciberespaço; pornografia de vingança; responsabilidade civil na internet. .

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ABSTRACT

This study discusses the possibility of redress in favor of the victim of revenge pornography. The general objective was to investigate whether there is a possibility of using Brazilian civil and procedural legislation to punish a person domiciled abroad because of the practice of revenge pornography in cyberspace against a victim domiciled in Brazil. The research, regarding the level was exploratory, regarding the procedure of collection of bibliographical and documentary data, and the approach was qualitative. The work is structured in five chapters: in the first the problem and the reasons that motivated the present research were described; in the second, the history of the internet and its regulation up to the present day was approached, as well as the fundamentals that gave support to the current legislation regarding the subject in question; in the third chapter, civil liability and the right to reparation were addressed, when there is a violation of the moral integrity of persons domiciled in Brazil; in the fourth chapter, procedural and material issues were dealt with, both at the national level and internationally, and in the latter the conclusion. The results, according to the data obtained, show that the right to moral integrity violated guarantees the right to reparation, but due to the divergence between the laws of the countries, it would require a treaty to regulate the acts and legal facts carried out in the country. Internet. It is concluded, therefore, that even in the absence of specific legislation governing the Internet in multiconnected situations, there is a possibility of using Brazilian material and procedural legislation, as well as access to the national judiciary, to punish a person domiciled abroad in reason for the practice of pornography of revenge perpetrated in the face of a victim domiciled in Brazil.

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PALAVRAS ABREVIADAS

AC: Apelação Cível.

CADH: Convenção Americana de Direitos Humanos. CC: Código Civil.

CP: Código Penal.

CPC: Código de Processo Civil.

CRFB: Constituição da República Federativa do Brasil. CTN: Código Tributário Nacional.

DUDH: Declaração Universal dos Direitos Humanos. LINDB: Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. MCI: Marco Civil da Internet.

Nº: número. PL: Projeto de Lei.

STF: Supremo Tribunal Federal. STJ: Superior Tribunal e Justiça. TJ: Tribunal de Justiça.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Comparativo entre a Lei do Marco Civil da Internet, A Constituição Federal e o

Código Civil Brasileiro (liberdade de Expressão): ... 33

Quadro 2 – Comparativo entre a Lei do Marco Civil da Internet, a Constituição Federal e o Código Civil Brasileiro (Liberdade de Expressão e Liberdade de Comunicação): ... 34

Quadro 3 – Comparativo entre a Lei do Marco Civil da Internet, a Constituição Federal e o Código Civil Brasileiro (integridade moral):... 35

Quadro 4 – Julgados favoráveis nos Tribunais de Justiça Estaduais a respeito de pornografia por vingança: ... 56

Quadro 5 – Tratados internacionais aplicáveis no Brasil em casos privados ... 63

Quadro 6 – Elementos de Conexão Processual Civil ... 66

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 13 1.1 DESCRIÇÃO PROBLEMA ... 13 1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 15 1.3 HIPÓTESE ... 15 1.4 JUSTIFICATIVA ... 15 1.5 OBJETIVOS ... 16 1.6 DELINEAMENTO DA PESQUISA ... 16

1.7 ESTRUTURA BÁSICA DA MONOGRAFIA ... 17

2 INTERNET E O DIREITO ... 18

2.1 EVOLUÇÃO DA INTERNET NO MUNDO FÁTICO: PONTO DE PARTIDA ... 19

2.1.1 Primeiras linhas sobre internet: 1960-1970 ... 20

2.1.2 Novas redes e origem da palavra internet: década de 1980 a 1999 ... 21

2.1.3 Redes sociais: anos 2000 até 2017 ... 23

2.2 NORMAS DE REGULAMENTAÇÃO DA INTERNET ... 26

2.2.1 Marco civil da internet: inovação (não) positiva ... 28

3 PORNOGRAFIA DE VINGANÇA E RESPONSABILIDADE CIVIL ... 37

3.1 NOÇÕES SOBRE A PORNOGRAFIA DE VINGANÇA ... 37

3.1.1 Consequências da pornografia de vingança para a vítima ... 38

3.2 REGULAMENTAÇÃO DA PORNOGRAFIA DE VINGANÇA ... 39

3.3 RESPONSABILIDADE CIVIL ... 41

3.3.1 Classificações e espécies da responsabilidade civil ... 42

3.3.2 Pressupostos da responsabilidade civil ... 45

3.3.3 Excludentes de Nexo de Causalidade ... 47

3.3.4 Excludentes de responsabilidade civil ... 49

3.3.5 Dano moral e quantum indenizatório ... 50

3.3.6 Liberdade de expressão e integridade moral ... 55

4 CONFLITOS DE APLICAÇÃO DAS NORMAS ... 59

4.1 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA ... 59

4.1.1 Fontes do Direito Internacional ... 62

4.1.2 Elementos de Conexão ... 64

4.1.2.1 Elementos de conexão em matéria processual ... 66

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4.1.3 Cooperação Internacional ... 76

5 CONCLUSÃO ... 82

REFERÊNCIAS ... 85

ANEXOS ... 103

ANEXO A – TJDF: PORNOGRAFIA DE VINGANÇA ... 104

ANEXO B – TJRS: PORNOGRAFIA DE VINGANÇA ... 105

ANEXO C – TJSC: PORNOGRAFIA DE VINGANÇA ... 118

ANEXO D – TJPR: PORNOGRAFIA DE VINGANÇA ... 134

ANEXO E – STJ: CONFLITO JURISDICIONAL ... 156

ANEXO F – STJ: LIBERDADE DE EXPRESSÃO E INTEGRIDADE MORAL ... 182

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1 INTRODUÇÃO

Esta monografia tem por objeto de estudo a Pornografia de Vingança e suas consequências no mundo virtual e real, tanto no campo dos fatos, como também no do Direito, com vistas a analisar o instituto da responsabilidade civil e do conflito entre a jurisdição nacional ou estrangeira, decorrentes de fatos jurídicos multiconectados.

1.1 DESCRIÇÃO PROBLEMA

O Estado Constitucional e Democrático de Direito tem como fundamento a dignidade da pessoa humana, valor supremo (NUNES, R., 2010, p. 60) e inabdicável (FERREIRA FILHO, 2008, p. 298) ao ser humano, que garante o status de inviolabilidade dos direitos e garantias fundamentais à vida, à liberdade, à igualdade, à autonomia, à integridade física e à integridade moral (SLAIBI FILHO, 2009, p. 128).

São denominados de direitos de gerações porque valorizam a pessoa humana em sua singularidade contra as arbitrariedades e ingerências estatais (BONAVIDES, 2012, p. 581), com reconhecimento “internacional-universal” porque, além de estar contido no texto da Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) de 1988, também possui descrição na Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948 e na Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) de 1969 (MENDES; BRANCO, 2014, p. 217).

O direito à liberdade e à integridade moral são garantias humanas intrínsecas a cada sujeito na própria singularidade. A primeira diz respeito ao direito de ir e vir, bem como de se expressar sobre o que quiser. E a segunda diz respeito à defesa da intimidade, imagem, honra e vida privada (MATHIEU, 2009, p. 47 e 48).

A liberdade de expressão, apesar da vaga extensão na conceituação, justifica-se como a transmissão e recepção de informação independentemente da forma que é utilizada (ROMANO, 1977, p. 166;), porque se “incluem-se na liberdade de expressão faculdades diversas, como a de comunicação de pensamentos, de ideias, de informações e de expressões não verbais” (SILVA, J., 2002, p. 252).

A liberdade de expressão e a de comunicação obtiveram mais força com a ascensão da internet no mundo, pois o que antes era limitado para fins militares, atualmente, atinge dimensões incomensuráveis (LAQUEY; RYER, 1994, p. 1 e 4), contando hoje com a interação de mais de 4 bilhões de pessoas (ONU, 2017). Com a internet (ou ciberespaço) o acesso a

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qualquer tipo de informação ou conhecimento é atingido em questão de minutos (ERNER; SINGH SANDHU; GOODMAN, 2005, p. 134; SANTAELLA, 2004, p. 46), em razão deste universo inimaginável (FERRARI, 2010, p. 102/103).

O Brasil, inclusive, possui regulamentação para os direitos e deveres na internet em lei específica chamada de Constituição da Internet ou Marco Civil da Internet (LEMOS, R., 2014, p. 6), regramento este que faz notáveis remissões à CRFB e ainda atribui ao direito de liberdade de expressão a característica plena (BRASIL, 2014). Se caso haja algum embate entre o direito da liberdade de expressão com outros direitos, ainda mais aqueles que tutelam a integridade moral, qual prevaleceria? Neste pensar, devido a estes múltiplos direitos, garantias e princípios atribuídos ao ser humano em sua própria singularidade, em situações específicas e conflitantes, é necessário tratamento diferenciado de acordo com o seu próprio peso valorativo (CADEMARTORI; DUARTE, F., 2009, p. 34 e 127).

Todavia, sopesando estes direitos, garantias ou princípios, difícil é saber como se poderá sanar quando há violação de direito proveniente de pessoa domiciliada no estrangeiro e realizado no ciberespaço, já que “é inegável que a Internet representa um grande avanço comunicativo e, infelizmente, as consequências deste avanço não foram completamente assimiladas pelo sistema jurídico” (VEZZANI, 2015, p. 10), porque não se sabe o que é lícito em muitas situações ocorridas no meio eletrônico (COSTA, J., 2011, p. 42).

Assim, como a violação da integridade moral do ofendido pode constituir ou não ilícito no país do ofensor, é que se impõe a dúvida sobre a possibilidade de pleitear indenização ou não. E, por assim dizer, não se sabe, a priori, se há necessidade um marco regulatório universal (SABINO JÚNIOR, 1978, p. 106); se basta a retificação da legislação existente (BRASIL, 2004, p. 34/35); se se aplicam os elementos de conexão positivados no ordenamento jurídico (MAZZUOLI, 2015, p. 94); ou se o critério da diplomacia ou reciprocidade (CASELLA; ACCIOLY; SILVA, 2012, p. 72/73) seria para violação deste conflito.

Deste desconhecimento, também é uma incógnita o Poder Judiciário ao qual se poderia acessar (brasileiro ou estrangeiro), já que ambos possuem poder jurisdicional e soberania (AMARAL JÚNIOR, 2012, p. 65; BIERRENBACH, 2011, p. 42).

É a partir de tais questões que este trabalho monográfico procurará discutir a problemática apresentada (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 126), por intermédio de um estudo tanto da legislação brasileira, como também do tratado internacional, assim como em orientações jurisprudenciais e doutrinárias, para localizar soluções viáveis sobre a violação da integridade moral de pessoa domiciliada no Brasil quando vítima de pornografia de vingança realizada por pessoa domiciliada no estrangeiro.

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1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

O estudo teve como problema de pesquisa: há a possibilidade da utilização da legislação e do Poder Judiciário brasileiros para a punição de pessoa domiciliada no estrangeiro em razão da prática de pornografia de vingança?

1.3 HIPÓTESE

E como hipótese de trabalho que há a viabilidade da utilização da legislação e do Poder Judiciário brasileiros para a punição de pessoa domiciliada no estrangeiro em razão da prática de pornografia de vingança contra vítima domiciliada no Brasil.

1.4 JUSTIFICATIVA

A escolha do objeto desta pesquisa surgiu a partir da dificuldade de respostas objetivas do ordenamento jurídico brasileiro quando uma pessoa, domiciliada no Brasil, é vítima de pornografia de vingança por ato de pessoa domiciliada no estrangeiro praticado pela internet.

O direito em si não conseguiu acompanhar a evolução tecnológica da internet (ANDRADE, 2014, p. 1/2), o que abriu lacunas na legislação e embates jurídicos, sendo esta ausência de respostas específicas que leva aos conflitos jurídicos existentes, pois não se sabe qual Poder Judiciário seria competente para julgar fatos jurídicos ocorridos na internet (COSTA, 2011, p. 98).

Já foram objeto de publicação estudos sobre a universalização da internet (VEZZANI, 2015, p. 124), criação de um tribunal internacional para julgar causas envolvendo pessoas de Estados diversos quando ocorridas no ciberespaço (COSTA, j., 2011, p. 98), os quais foram utilizados como base na presente monografia.

Ademais, há embase jurídico acerca da resolução da pergunta problema, porque enquanto alguns defendem a aplicação da legislação já existente (MAZZUOLI, 2015, p. 94), outros sustentam a necessidade de uma legislação universal específica para os problemas ocorridos na internet (TOMASEVICIUS FILHO, 2016, p. 15).

Desta forma, há necessidade de reflexão permanente sobre o assunto, a fim de se buscarem respostas, objetivas e adequadas, para vítimas de pornografia de vingança no ciberespaço, independente se o ofensor seja nacional ou estrangeiro.

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1.5 OBJETIVOS

O trabalho teve como objetivo geral investigar a possibilidade da utilização da legislação e do Poder Judiciário brasileiros para a punição de pessoa domiciliada no estrangeiro em razão da prática de pornografia de vingança perpetrada no ciberespaço contra vítima domiciliada no Brasil.

E como objetivos específicos, apresentar a conceituação e a evolução da internet no mundo dos fatos e a sua regulação no âmbito do Direito; definir o instituto da responsabilidade civil por danos à honra e sua aplicação nos casos de pornografia por vingança; e avaliar qual legislação processual e material deve ser aplicada no caso da prática de pornografia de vingança realizada por pessoa domiciliada no estrangeiro no ciberespaço contra vítima domiciliada no Brasil.

1.6 DELINEAMENTO DA PESQUISA

Para o desenvolvimento da pesquisa foram utilizados alguns procedimentos metodológicos e científicos, descritos a seguir.

No que concerne ao nível de profundidade, o trabalho utilizou a pesquisa exploratória, tendo em vista a busca de maior familiaridade com o tema, bem como, o aprimoramento e amadurecimento de ideias acerca da problemática apresentada (GIL, 2002, p. 41).

Já no que toca aos procedimentos de coleta de dados, deu-se a pesquisa bibliográfica e documental, com levantamento de obras já publicadas (ou fontes secundárias), como base para feitura e conclusão do trabalho, utilizando-se fichamentos (MEDEIROS, 2012, p. 39), bem como consulta à legislação em fontes oficiais (ou fontes primárias), sendo que estas últimas não receberam qualquer tratamento interpretativo (LEONEL, MARCOMIM, 2015, p. 15)

A abordagem foi qualitativa, isso porque “a compreensão das informações é feita de uma forma mais global e inter-relacionada com fatores variados, privilegiando contextos” (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2006, p. 110), e assim, o pesquisador teve contato direto com a problemática apresentada, inclusive, analisando cada teoria expungida na bibliografia pesquisada.

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1.7 ESTRUTURA BÁSICA DA MONOGRAFIA

A presente monografia se dividiu em 5 capítulos, sendo o primeiro esta introdução. No segundo capítulo, apresenta-se a origem histórica de fato e de direito da Internet. No terceiro capítulo, são descritos os aspectos da responsabilidade civil relacionados à questão da pornografia por vingança. No quarto capítulo, está descrita a problemática da utilização dos elementos de conexão descritos na lei brasileira, a fim de investigar se a pornografia de vingança, quando a vítima for domiciliada em território nacional, pode ser reconhecida pelo magistrado brasileiro ou se deva ser tratada por órgão jurisdicionado estrangeiro, bem como qual lei deva ser aplicada ao caso concreto (se a brasileira ou a alienígena). No quinto capítulo estão apresentadas as conclusões.

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2 INTERNET E O DIREITO

O ser humano é comunicativo por natureza, pois “a cooperação social é essencial para a sobrevivência e a reprodução” (HANARI, 1976, p. 28). Assim, desde os primeiros relatos da civilização, há 2 milhões de anos, os hominídeos já se moviam em pequenos grupos, em busca de novas descobertas. Logo, a comunicação já se fazia necessária, portanto, para o convívio (BLAINEY, 2007, p. 7 e 9).

As mutações genéticas, desde os tempos de outrora, permitiram o desenvolvimento do ser pensante, isso porque “o surgimento de novas formas de pensar e se comunicar, entre 70 mil anos atrás a 30 mil anos atrás, constitui a Revolução Cognitiva” (HANARI, 1976, p. 27). Em razão desta evolução, criou-se a escrita em 5.000 a.C., o alfabeto em 2.000 a.C., o primeiro livro em 868 d.C., e, mil e cem anos após, em 1969, surgiu a internet (BRIGGS; BURKE, 2016, p. 383/384).

A internet, em conceituação básica, é o conjunto global de redes de computadores interligados entre si, que permite o compartilhamento de todo o tipo de informação com os usuários conectados (PEREIRA, 2008, p. 34). Erenberg (2003, p. 5), inclusive, destaca que “internet é uma palavra que vem da expressão inglesa ‘INTERaction or INTERconnection between computer NETwork’ (interação ou interconexão entre redes de computadores)”.

A internet, ainda, possui como sinônimo a palavra ciberespaço (GIBSON, 2013, p. 57), rede mundial de computadores (MEDINA, 2015, p. 71), aldeia global (KAKU, 2012, p. 49), ou uma sociedade de produção de informação digital (PINHEIRO, 2007, p. 21), e “consiste de uma realidade multidimensional, artificial ou virtual incorporada a uma rede global, sustentada por computadores que funcionam como meios de geração de acesso” (SANTAELLA, 2004, p. 40). E para acessar às informações digitais (ou conteúdo) bastaria se conectar (NICOLA, 2004, p. 119). É, notadamente, o “paradoxo da modernidade”, sediado por um mundo que é possível conviver com intensa disparidade da realidade (BUSSATO, 2006, P. 119).

Costa (2011, p. 19) descreve que a palavra “conteúdo”, em referência à internet, será sempre uma “informação digital” (sons, imagens, textos ou vídeos), difundida por hardware (programas físicos e externos do computador) ou software (programas não físicos e internos do computador). O conteúdo é fruto de novas formas de relação social, isso porque o mundo virtual (ou cyber) procura transformar tudo em informação digital, desde a febre dos jogos eletrônicos, agregação social no ciberespaço, forte ativismo político até o erotismo (LEMOS, A., 2004, p. 259). Quanto mais usuários conectam-se à rede, consequentemente, mais

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conteúdo é produzido e, nesse rol de “conteúdos” produzidos e publicados na rede, encontram-se aqueles que encontram-se caracterizam como lícitos (de acordo com a legislação do local em que são produzidos) ou ilícitos (contrários a esta mesma legislação). Em ambas as situações, os conteúdos, lícitos ou não, podem atingir outras pessoas e seus direitos (RIZZARDO, 2015, p. 672).

Pode-se dizer que a internet é algo que a humanidade criou e não compreende, com exatidão, todas as suas especificidades. E, por isso, a indagação: será que a internet é uma terra sem lei? Qualquer conteúdo pode ser veiculado na rede? Não haverá responsabilidade e punição pelo que acontece no mundo virtual?

Para conhecer melhor este ambiente de comunicação é que se apresenta este capítulo.

2.1 EVOLUÇÃO DA INTERNET NO MUNDO FÁTICO: PONTO DE PARTIDA

Afirmam Ryer e Laquey (1994, p. 4) que a internet teve sua origem na Advanced Research Projects Agency Network (Arpanet). Para Pinheiro (2007, p. 13), a sociedade digital (ou sociedade convergente) só teve construção/evolução devido à necessidade de instrumentos que auxiliaram o ser humano no próprio cotidiano, citando, primeiramente, o ábaco (criado há mais de 2.000 anos), sucedido pela calculadora em 1677 (industrializada somente em 1830).

Santos (2009, p. 100) descreve a questão, porém, de forma diversa. Ela reconhece a influência da palavra “net” proveniente da Arpanet, mas prefere deduzir que a internet teve seu ponto de partida com o telégrafo elétrico em 1844, quando havia comunicação entre as máquinas por Alfabeto Morse, substituído tecnologicamente após 32 anos pelo telefone, em 1876.

Logo após, em 1943, surge o primeiro computador feito na Universidade de Harvard, denominado Mark I. Depois, o Eniac na Pensilvânia, em 1946, o Univac na Remington Rand, em 1951, entre outros. Então, em 1969, houve a criação da Arpanet pela Agência de Projeto e Pesquisa Avançadas nos Estados Unidos da América (SANTOS, 2009, p. 102).

Há que se entender que, partindo da premissa de que a internet teve origem em atos sucessivos e de desenvolvimento das máquinas, acredita-se que, desde os tempos passados, significava, conforme Iizuka (1986, p. 28), um “canal de comunicação”, pois este é o caminho percorrido de uma máquina para outra, com a finalidade de transmitir informação.

Contudo, a própria Santos (2009, p. 101) e Pinheiro (2007, p. 16), bem como, Pereira (2008, p. 22), Silva, A., (2011, p. 242), Pena (2012 p. 272) e Comer (2016, p. 316)

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descrevem que a internet, assemelhada à utilização que se tem hoje, teve a origem na Arpanet em 1969, cujo objetivo era a transmissão de informação em um ambiente não físico (conectividade entre computadores).

2.1.1 Primeiras linhas sobre internet: 1960-1970

Em continuidade histórica, importante ressaltar que o Departamento de Defesa Norte Americano (DARPA), em clima de Guerra Fria, e também, por manifesta desvantagem tecnológica (em 1957 a União Soviética havia lançado em órbita o satélite “artificial” denominado Sputnik), com o apoio governamental, criou, em 1958, a Advanced Research Project Agency (PEREIRA, 2008, p. 23).

Afirma Silva, A., (2011, p. 243) que a ARPA tinha como propósito a liderança tecnológica das Forças Armadas norte-americanas e a tática anticomunista contra a União Soviética, pois havia certo temor de uma possível guerra nuclear. Assim, após forte investimento durante anos (1958-1969), deu-se origem à Arpanet, que “interligava computadores de quatro universidades americanas por uma rede de troca de dados em um servidor central” (PENA, 2012 p. 272).

Até chegar na conceituação da internet, como conhecida atualmente, cumpre esclarecer que, em 1972, em Washington, DC, houve a primeira demonstração pública da Arpanet, bem como, a criação do primeiro programa de correio eletrônico interno. Já, no ano seguinte, em 1973, a rede que se tornou internacional, permitindo o protocolo de transmissão e arquivos entre computadores (FTP) para a permissão de tráfego de dados; o protocolo terminal remoto (TELNET), representando um computador que permitia interatividade com outros da mesma rede; e o protocolo de controle e transmissão (TCP) um sistema de controle de riscos dos tráfegos realizados (PEREIRA, 2008, p. 24/25).

Em 1974, o uso da Arpanet começa a ter redução econômica, e surge, portanto, a B.B.N. Technologies, aliada do governo que fez a primeira versão comercial da “Arpanet”, denominada Telenet (SILVA, 2011, A., p. 241), o que proporcionou, em 1975, a criação da primeira mailing list (lista de dados), isto é, registros de endereços eletrônicos que comerciantes obtinham para enviar a seus clientes atuais e futuros os atos de merchandising (PEREIRA, 2008, p. 26; TEIXEIRA, 2015, p. 42/4). E “embora mantivessem listas de endereços de e-mail dentro desses serviços, os membros não identificavam seus amigos da vida real nem estabeleciam vias de comunicação regular com eles” (KIRKPATRICK, 2011, p. 67). Mas, ainda no mesmo ano, foi fundada por Bill Gates e Paul Allen a Microsoft Corporation, cujo

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interesse, era, precipuamente, computacional. E, em 1976, surge o programa de computador Unix-to-Unix-Copy (UUCP), que permitia acesso à rede via telefone ou à famigerada “internet discada” (SILVA A., 2011, p. 242).

Em 1977, foi feita a primeira demonstração da capacidade da Arpanet, conectando a cidade de São Francisco (EUA) até Londres (Inglaterra) (PEREIRA, p. 26). Então, os protocolos criados em 1974 (FTP, TELNET e TCP) foram, em 1978, aprimorados e modificados (retificados) para o Transmission Control Protocol – Internet Protocol (TCP/IP), padronizando-se, assim, o sistema de comunicação entre as redes de computação (SANTOS, 2009, p. 103). E a partir de então o IP ficou com a característica de informar o usuário e a conexão pelo computador, enquanto o TCP tem como finalidade o transporte destas informações e a garantia que estas cheguem em segurança a seu destino, independente de como a pessoa está usando-as (COMER, 2016, p. 319 e 381).

Ademais, grande transformação ocorreu em 1979, com a popularidade do TCP/IP, pois a Arpa fundou o Internet Configuration Control (ICCB) para controlar e administrar o desenvolvimento da Rede, e, consequentemente, “nasceu” a Usenet ou melhor, “The newsgroup” (RUBIO et al., 2001, p. 94 apud PEREIRA, 2008, p. 27). Estes eram grupos de notícias que envolviam discussão por assuntos e utilizavam linhas discadas para as trocas de mensagens por assunto (MAIA, 2013, p. 10; SILVA, A., 2011, p. 243).

2.1.2 Novas redes e origem da palavra internet: década de 1980 a 1999

Em 1980, a ARPA liberou o acesso ao TCP/IP para quem quisesse utilizá-lo. A ascensão econômica e globalizada fez com o que os governos investissem também na área da tecnologia (COSTA; CARVALHO, 2016, p. 15): em 1981, surgiram nos EUA a Computer Science Network (CSNET) e a Because It’s Time Netword (BITNET); em 1982, a European Unix Network (EUNET); em 1983, a European Academic and Reasearch Network (EARN): em 1984, a Japan Unix Network (JUNET), no Japão, e a Joint Academic Network (JANET), na Inglaterra (PEREIRA, 2008, p. 27).

Ainda, em 1983, além da criação dos browsers (atuais navegadores que funcionam por comandos), a Arpanet se dividiu: continuou Arpanet para fins científicos e Milnet voltada somente para uso e orientações militares (ERENBERG, 2003, p. 9). Desta data em diante, houve a proliferação da rede no mundo todo. E “a partir de então, começou-se a utilizar o termo ‘Internet’ para referir-se às distintas redes que se encontravam conectadas entre si e tendo como origem a rede Arpanet” (PEREIRA, 2008, p. 28).

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Em 1984 “a Apple lança o computador Macintosh 128K (nome da conhecida maçã dos EUA) muito fácil de ser operado” (SILVA, 2011, A., p. 243) e a National Science Foundation (NSF) criou para a comunidade científica a rede privada denominada National Science Foundation network (NSFNET) (PEREIRA, 2008, p. 28).

Em 1985, a recém-inaugurada América Online (AOL) passou a fornecer ferramentas para que seus usuários criassem perfis virtuais, nos quais poderiam se descrever ou criar comunidades para discussão de variados assuntos (GOBLE, 2012 apud CALAZANS; LIMA, 2013, p. 10).

Em 1986, foi criado pelos irmãos paquistaneses Basit Amjad e Farooq Alvi o primeiro programa de computador que serviria para deixá-lo mais lento, reduzindo a memória interna, denominado, então, de primeiro vírus (SANTOS, 2009, p. 104).

No ano seguinte (1987), “ocorre uma ligação de correio eletrônico ou e-mail entre a Alemanha e a China. Em 28-9-87 foi enviada a primeira mensagem pelo segundo país” (SILVA, 2011, A., p. 244).

Em 1988, surgiu a primeira rede social ou Internet realy chat (IRC), que permitia a um usuário conversar com outro usuário de internet em tempo simultâneo, bem como surge o WAIS, programa destinado à pesquisa de arquivos na rede (ERENBERG, 2003, p. 9).

Pereira (2008, p. 30) e Santos (2009, p. 104) descrevem que, no ano de 1989, surgiu a famosa World Wide Web (WWW): um sistema de informação que dá acesso a imagens e gráficos, entre outros, levando, em 1990, ao fechamento da Arpanet e tudo que era relacionado à rede passou a ser de competência exclusiva da NSF.

No ano seguinte, em 1991, foi lançado o GOPHER, o primeiro programa de navegação pela rede; em 1992, a Microsoft lança o Windows 3.1; e, em 1993, lança o MOSAIC, aplicativo mais simplificado de navegação (SILVA, 2011, A., p. 245). “A partir de então, desenvolveram-se outros navegadores, tais como Netscape Navigator (1994) da empresa Netscape, e Internet Explorer (1995) da empresa Microsoft” (PEREIRA, 2008, p. 31).

Ainda, em 1995, houve a privatização e a comercialização mundial da internet (SANTOS, 2009, p. 104), inclusive, a popularização da rede no Brasil, pois era uma medida acessível e de propagação de ciência e pesquisa. E, em 1997, nos EUA, o presidente da época Bill Clinton propôs uma zona livre de comércio e regularização da internet.

Em 1998, surgiram os equipamentos portáteis com acesso à internet e a Netscape Navigator modifica seu nome para Mozilla, mas o monopólio do mercado ainda pertencia à Microsoft em 1999 (SILVA, 2011, A., p. 244/245).

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Só em 1999, a rede de computadores (internet) proporcionou cerca de 2,3 milhões de vagas de empregos e já possuía 455 milhões de contas de e-mails pessoais (BLUM, 2001, p. 39). A partir do presente cenário, “as projeções dão conta de que até o início da segunda década do século todos terão acesso à internet” (ERENBERG, 2003, p. 13), um grande avanço da tecnologia que passaria a exercer influência em outras áreas, como na economia até na pornografia (ALBANI, 2008, p. 5; WILLIAMS, 2012, p. 18)

2.1.3 Redes sociais: anos 2000 até 2017

Briggs e Burke (2016, p. 360) descrevem que a tecnologia invadiu o território real e físico, pois o que é produzido no ciberespaço tem reflexos na vida humana. Partem do pressuposto os autores que a rede social (apesar da crítica que seria um isolamento do mundo do indivíduo) é um meio de interação com outros usuários.

Redes sociais são comunidades online e interativas, compostas por membros (usuários) geograficamente distantes (LACY, 2008, p. 147 apud KIRKPATRICK, 2011, p. 66). Ou seja, é a conectividade de usuários em determinado sistema que permite interação entre eles, e, uma vez criado o perfil, este se manterá independente do uso ou não, até que a pessoa decida excluí-lo ou modificá-lo (RECUERO, 2009, p. 54).

Comer (2016, p. 513) considera que as redes sociais tiveram influência direta dos blogs, porque havia interação entre pessoas no ciberespaço, seja por meio de conteúdo digital positivo ou negativo, sendo “uma das características básicas do blog, como meio de comunicação, é que ele consegue fazer que o processo de publicação na rede seja quase completamente transparente e praticamente simultâneo à escrita” (ORDUÑA, 2007, p. 7). Porém, para Silva, A., (2011, p. 244), a origem da rede social foi no Internet Realy Chat (IRC). De qualquer forma, as redes sociais ganharam força em 2000, pois foi, a partir deste ano, que houve mudanças significativas no âmbito da computação e da rede, já que a velocidade da internet cresceu, possibilitando maior interação entre pessoas físicas e/ou jurídicas, inclusive, maiores uploads (conteúdo do computador para internet) e downloads (conteúdo da internet para o computador) de vídeos com alta resolução (conteúdo digital) (COMER, 2016, p. 21), na época pelos denominados Weblogs (hoje blog), páginas para compartilhar informações digitais, seja de caráter pessoal ou profissional (ORDUÑA, 2007, p. 6). Nesta época, a internet contava com três milhões de usuários no Brasil (NICOLA, 2004, p. 154).

Em 2001, a internet ganha mais internautas, devido ao aumento expressivo de adesão à rede pela população, tendo, como consequência, maior conectividade, atualizações de

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softwares e mais celeridade na produção de conteúdo digital. O fenômeno (atualização da própria rede pela via interna e mais conectividade de pessoas) foi denominado de Web 2.0 ou de Internet 2.0. (COSTA, 2011, p. 23). Ainda, no mesmo ano, o engenheiro Orkut Buyukkokten desenvolveu os primeiros traços de uma rede social semelhantes às hoje conhecidas, denominada Club Nexus, página de interação social entre os alunos da universidade, o que, mais tarde, em 2004, tornou-se a rede social Orkut, aberta para todos os públicos, desde que declarassem ser maiores de dezoito anos (RECUERO, 2009, p. 163).

Recuero (2009, p. 120 e 166) descreve que, em 2002, surgiu o Fotolog (página virtual para compartilhamento de fotos e comentários), sendo superado em 2003 pelo My-Space e pelo Skype (como software), já que o primeiro permitia a conversação e interação entre os usuários sobre as fotos postadas, enquanto o segundo (Skype) voltava-se às ligações e conversações pela internet. Em seguida, em 2004, o Flickr e o Facebook, que tinham aspectos mais de comunidade virtual, pois pela rede de amigos era possível e fácil a troca de conteúdo digital.

Porém, Carvalho et al. (2015, p. 2) descrevem que o Ning, desenvolvido em 2005, era uma rede muito mais ampla que o Orkut e o Facebook, pois permitia criar a rede social individualizada (comunidade própria), gratuita e sem a necessidade de seguir um padrão como eram, na época, as outras redes sociais.

Entretanto, nenhuma rede social teve um crescimento tão grande como o Facebook. O que era à época da sua criação (2004) uma rede interna para comunicação entre os universitários de Harvard, em menos de um ano já funcionava em mais de 800 faculdades americanas e atingia o público jovem, batendo a marca de 19 milhões de usuários em 2007 e 300 milhões em 2009. A possibilidade de crescimento era notável, até que, em 2010, o Google e o Facebook começaram a disputar os anúncios, pois enquanto a primeira tinha como objetivo básico “responder perguntas” a segunda era a “conexão entre pessoas” e muitos internautas estavam migrando para o Facebook (PARISER, 2012, p. 27 e 31). “Várias vezes Zuckerberg foi acusado de roubar ideias para criar o Facebook, mas, na verdade, seu serviço é o herdeiro de ideias que vêm evoluindo há quarenta anos” (KIRKPATRICK, 2011, p. 66).

Enquanto o Facebook fazia interagirem pessoas no ciberespaço, o site Secondlife, também uma rede social e ao mesmo tempo um jogo, concedia a possibilidade de os usuários ganharem dinheiro (taxado pelo governo americano). Em 2009, o Secondlife possuía mais de 16 milhões de contas, com muitos dos usuários recebendo, anualmente, mais de 1 milhão de dólares (KAKU, 2012, p. 50).

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Mas o Facebook estava em alta, o que o tornava insuperável. Em 2010, segundo Kirkpatrick (2011, p. 16 a 274), representava a receita mensal de 1 bilhão de dólares, hospedando mais de 40 bilhões de fotografias, com interatividade diária nos jogos com mais de 10 milhões de jogadores. As empresas que têm páginas e comunidades na própria rede social têm mais de 50 milhões de visitas diárias, ou seja, o Facebook possui 51% da população mundial, com perspectiva gigantesca de crescimento. E não parou nestes percentuais. Ainda em 2010, o Facebook associou-se ao Skype, o que permitiu fazer ligação pela própria página, e também criou uma própria caixa de correio eletrônico particular para enviar e receber e-mails, isto é, o “exemplo@Facebook.br” tem destinação para isto.

No ano seguinte, 2011, o Orkut, até então predominante no Brasil, é superado pelo Facebook, pois, segundo registro da própria rede social, houve no ano mais de 80 milhões de conteúdo digital produzido. Em 2012, o Facebook, com potencial em crescimento, possuía 618 milhões de pessoas conectadas diariamente, 757 milhões em 2013 e 1,23 bilhões (61,2 milhões são brasileiros) em 2014 (KIRKPATRICK, 2011, p. 273).

Ainda em 2014 o Facebook comprou os aplicativos Instagram (rede social para compartilhamento de fotos e vídeos por celular) e o WhatsApp (mensageiro utilizado somente com internet que permite fazer ligação) por mais de 16 bilhões de dólares, dominando, assim, o ciberespaço (PORTO; SANTOS, 2014, p. 30 e 409).

Só em 2015, o WhatsApp, aplicativo que, embora surgido em 2009, só se tornou popular depois de comprado pelo Facebook, já contava com 800 milhões de usuários, com média de 1 milhão por dia (GRINGS; KAIESKI; FETTER, 2015, p. 4), destes, 52 milhões só no Brasil (FIORILLO, 2016, p. 119). O exponencial crescimento do WhatsApp fez com que Pereira, Pereira e Alves (2015, p. 37), em entrevista com 66 professores (no período de 27 de maio de 2015 a 16 de julho de 2015), com 1 até 25 anos a mais de docência, concluíssem que o uso do aplicativo era necessário no ensino a distância (m-learning), já que as redes sociais como um todo são realidades factuais e presentes no cotidiano. Ou seja, os alunos universitários utilizam constantemente as redes para produção e reprodução de conteúdo diariamente (BONA, PARAVISI, 2016, p. 16 e 21). Ainda, o próprio Rettberg (2014, p. 11e 46) descreve que as redes sociais, hoje, servem para expor as próprias vidas, como o Instagram para publicar fotos com filtros selecionados; o Snapchat para expor vídeos ou fotos aleatórias e não selecionadas; o Facebook para atualizar o estado emocional que o sujeito se encontra; o Blog para expor o que o “blogueiro” pensa; e o WhatsApp como interação imediata com os contatos telefônicos – também usuários da internet (PORTO; SANTOS, 2014, p. 230). Ou seja, a cada ano, as redes sociais tornam-se parte da vida humana.

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A Organização das Nações Unidas registrou que, em 2017, registrou mais de 4 bilhões de usuário (ONU, 2017, p. 1). Neste sentindo, vislumbra-se que a internet possui o maior reservatório de conteúdo já conhecido (SANTOS, 2009, p. 106).

2.2 NORMAS DE REGULAMENTAÇÃO DA INTERNET

Entre 1994 e 1995, após a privatização da internet (SANTOS, 2009, p. 104), a comercialização desta disparou exponencialmente, o que permitiu que muitos conteúdos (digitais) fossem passados pela rede: alguns lícitos, outros ilícitos, ou até mesmo imorais, necessitando, assim, de regulamentação, aqui discutida a partir de quatros correntes divergentes. A primeira (a) descreve que o ciberespaço é um mundo anárquico por natureza, não devendo ser regulamentado; a segunda (b) defende a regulamentação técnica e por filtros com acordos entres os provedores, mas não por legislação específica para separar o legal do ilegal e o moral do imoral; a terceira (c) defende a aplicação da legislação existente com critério de subsunção (adequar a norma ao caso concreto); a quarta (d) já vai mais além, porque descreve a criação de um tratado que estabeleceria normas e princípios que governariam a internet no seu todo (OLIVO, 1998, p. 107).

Com crescente evolução dos meios tecnológicos, muitos ilícitos eram e ainda continuam sendo propagados no ciberespaço, fazendo que com que a legislação específica seja um norte para, ao menos, minimizá-los (ANDRADE, 2014, p. 1; COSTA, 2011, p. 42; DELGADO, 2000; ORTIZ, 2002; LÁ CUEVA, 1990 apud PEREIRA, 2008, p. 141 e 148; TOMASEVICIUS FILHO, 2016, p. 6; VEZZANI, 2015, p. 124).

Mas, quanto à corrente que defende a aplicação da legislação existente, como critério de subsunção, cita-se Santos (2009, p. 98 e 111), segundo o qual a internet não é um espaço sem lei. Ou seja, deve-se aplicar as disposições existentes no mundo físico ao virtual adequando a norma ao caso concreto, mas não menciona sobre legislação específica para a internet.

A corrente que defende a universalização da internet fundamenta-se em Costa (2011, p. 95), Vezzani (2015, 124) e Tomasevicius Filho (2016, p. 15), baseando-se na máxima de Sabino Júnior (1978, p. 112), para quem “são necessárias, portanto, convenções e leis para ligar os direitos aos deveres e reconduzir a justiça ao seu objetivo”, já que há grande incerteza sobre o acesso à justiça quando se tem a violação de nacional no mundo virtual por estrangeiro.

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Da mesma maneira, Costa (2011, p. 143) vai além, defendendo tanto uma lei universal, como também, a criação de um tribunal específico para julgar atos/fatos ocorridos no ciberespaço.

Apesar de esta corrente já ter sido levantadas (uniformidade da internet) ainda não houve algum reflexo no âmbito nacional ou internacional (OLIVO, 1998, p. 107).

Briggs e Burke (2016, p. 367), a primeira legislação sobre internet surge nos EUA, a Communications Assistance for Law Enforcement Act (CALEA), aprovada em 1994 como resposta à segurança nacional, tendo em vista que muitos usuários estariam utilizando a rede para conversar e negociar com outros Estados vizinhos, em total anonimato e sobre qualquer conteúdo (digital), muitas vezes ilícitos, ilegais e/ou imorais. Desse modo, a CALEA permitia ao governo grampear e controlar as pessoas que utilizavam a internet, apesar das críticas de que o Estado estaria ferindo os direitos individuais básicos, como a privacidade do usuário do ciberespaço.

Logo em seguida surgiu a primeira legislação com conteúdo específico a dispor sobre material pornográfico no mundo digital (COSTA, 2011, p. 74), também nos EUA, em 1996: a denominada “Lei de Decência” ou Communications Decency Act (CDA), que proibia conteúdo digital indecente para menores de 18 anos, como acesso, reprodução de pornografia na rede, seja por palavras ou imagens. Todavia, a Suprema Corte dos Estados Unidos da América declarou esta lei inconstitucional, por ferir a liberdade de expressão, conteúdo este da primeira emenda constitucional estadunidense (OLIVO, 1998, p. 29).

Após a privatização da internet em 1995, a rede tornou-se conhecida no mundo todo, inclusive, no Brasil (SILVA, 2011, A., p. 244). Neste ano, o Deputado brasileiro Ildemar Kusller já propunha o primeiro Projeto de Lei nº 1.070, que punia de 1 a 4 anos quem dispusesse material erótico na “rede mundial de computadores” (BRASIL, 1995, p. 2).

No Brasil, desde 1995 a 2017, foram propostos, segundo o site da própria Câmara dos Deputados, 2181 projetos, sendo destes, 1964 Projetos de Lei; 79 Projetos de Leis Complementares; 41 Projetos de Decretos Legislativos; 38 Propostas de Emenda à Constituição; 26 Medidas Provisórias. E desse total, 88 foram transformados em normas jurídicas (BRASIL, 2017).

Dentre os projetos que viraram norma jurídica, destaca-se o Projeto de Lei nº 2126/2011, assinado por José Eduardo Martins Cardozo, Miriam Aparecida Belchior, Aloizio Mercadante Oliva e Paulo Bernardo Silva, elencado 19 razões para sua aprovação. Após 3 anos, foi aprovado o Projeto citado (com modificações), dando origem à Lei Ordinária nº 12.965/14,

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ou como é popularmente conhecida o “Marco Civil da Internet”, que “estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil” (BRASIL, 2014).

2.2.1 Marco civil da internet: inovação (não) positiva

A constituição da internet ou Marco Civil da Internet foi uma proposta de toda a nação, porque teve participação do Poder Executivo e também de vários atores da sociedade, seja por propostas e petições formais, seja por opiniões informais exaradas nas próprias redes sociais (LEMOS, R., 2014, p. 5). “Por diversas vezes as discussões colocaram em lados diametralmente opostos segmentos das mais diferentes matizes” (BRASIL, 2014, p. 9). Ou seja, “o texto foi submetido a consultas públicas em diversas cidades brasileiras, bem como se franqueou a possibilidade de oferecimento de sugestões pela própria internet”. (TOMASEVICIUS FILHO, 2016, p. 5)

Lemos (2014, p. 4) descreve que projeto do Marco Civil da Internet teve como inspiração o famoso Projeto de Lei de Eduardo Azeredo, que buscava criar um amplíssimo rol de criminalização dentro do ciberespaço. Todavia, devido à grande mobilização dos movimentos sociais da internet, bem como devido a uma petição online com 150 mil assinaturas, conseguiram barrar o Projeto de Lei de Azeredo, preferindo assim, “a criação” (ou regulamentação) dos direitos políticos e civis na internet.

A justificativa para a criação desta da Lei era a resposta à famigerada frase de que “internet seria uma terra sem lei” e “grande insegurança jurídica”, já que pessoas mal intencionadas a usavam livremente sem algum pudor ou medo de punição, pois percebiam a ausência de efetividade nas leis já existentes que combatessem as atrocidades difundidas no ciberespaço (OLIVEIRA, 2014, p. 2).

Porém, passou muito tempo entre a proposta (2009), as consultas públicas, a formalização do projeto em 2011 (que também tinha debate público) até a aprovação em 2014 (TOMASEVICIUS FILHO, 2016, p. 5). O Projeto do Marco Civil só teve aprovação, por causa dos escândalos de espionagem envolvendo o Brasil e outros países como vítimas. Era uma resposta perfeita contra o governo norte-americano, além do que “países que vão do Chile à Jordânia seguiram vários dos passos do Marco Civil brasileiro, transformando em leis internas dispositivos do projeto concebido no Brasil” (LEMOS, R., 2014, p. 7).

O Marco Civil da Internet tem como precípuo basilar garantir os mesmos direitos no mundo real no ciberespaço, com limitações aos atores que a utilizam, tanto as pessoas físicas

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e jurídicas como o próprio governo, devendo todos respeitar a liberdade, a privacidade e a intimidade na rede. Com reciprocidade (BRASIL, 2014, p. 25). ,

A Lei nº 12.965 de 2014 é separada em cinco capítulos: o primeiro trata das “disposições preliminares”, e neste, há seis artigos (do 1º a 6º); o segundo capítulo, intitulado “direitos e garantias dos usuários”, possui dois artigos (do 7º e 8º); o terceiro capítulo, dividido em quatro seções, possui quinze artigos (do 9º a 23º); o quarto capítulo, “atuação do poder público”, possui cinco artigos (do 24º a 28º); o quinto e último capítulo, “disposições finais”, possui quatro artigos (do 29º a 32º). Vale ainda ressaltar que, nesta Lei, há cento e quarenta e três disposições regulamentadas (BRASIL, 2014).

Apesar do grande debate acerca da referida legislação (LEMOS, R., 2014, p. 4), a Câmara dos Deputados (BRASIL, 2014, p. 10/26) e o Senado Federal (OLIVEIRA, 2014, p. 5/25) elencam pontos importantes (ou “aspectos principais”) que justificam a aprovação do Marco Civil da Internet.

O 1º ponto, Garantia da liberdade de expressão, privacidade, intimidade dos usuários e inviolabilidade das comunicações, justifica-se pelo fato de que, sem o Marco Civil, poderia haver insegurança jurídica acerca da censura nos comentários e/ou bloqueio de páginas virtuais no ciberespaço. Ainda, na Lei 12.965/14, a liberdade de expressão aparece nos arts. 2º, caput, 3º, I, 8º, caput, 19º caput e §2º; a privacidade nos arts. 3º, II, 8º, caput, 11º, caput e §3º; a intimidade nos arts. 7º, I, 10º, 21º, caput e parágrafo único, e 23º, e, a vida privada nos arts. 7º, I, 10º e 23º (BRASIL, 2014, p. 20). Neste sentido:

O legislador fez questão de elencar o fundamento principal no caput do artigo, qual seja a “liberdade de expressão”. Tudo que atente a tal direito será́ uma violação ao Marco Civil Brasileiro. A liberdade de expressão prevalecerá sempre, desde que não viole direitos de terceiros. Pelo texto, elimina-se a censura na rede ou remoção de conteúdos da internet com base em mero “dissabor” por parte daqueles que não concordam. Importante destacar que tal garantia era inexistente no Direito brasileiro. Antes do Marco Civil, diante de denúncias “online”, muitos conteúdos eram removidos extrajudicialmente, por provedores que se sentiam “inseguros” em mantê-los (JESUS, 2014, p. 19).

O 2º ponto, Coleta de dados pessoais, é a permissão ou não para empresas para que estas exerçam o oferecimento de produtos e promoções; uma malha fina de informações. É uma prática rotineira pelas empresas para angariar clientes (usuários) pelos gostos e aplicações que fazem no ciberespaço. Contudo, os movimentos sociais discordam da possibilidade de possuir informações sobre o que o usuário acessa, considerando impossível ter comercializada a “coleta de dados” obtida do internauta sem aquiescência deste (BRASIL, 2014, p. 14 e 20). Devem, assim, os provedores questionar, de modo expresso, se o internauta quer ou não disponibilizar

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seus dados pessoais para outras empresas (OLIVEIRA, 2014, p. 7). Estas regras correspondem aos arts. 3º, III, 5º, V, 7º, VII, VIII, IX e X, 10º, 11º, 13, do Marco Civil da Internet (BRASIL, 2014).

O 3º ponto, Registros de conexão, é, segundo a Lei nº 12.965 de 2014, art. 5º, inciso VI, “o conjunto de informações referentes à data e hora de início e término de uma conexão à internet, sua duração e o endereço IP utilizado pelo terminal para o envio e recebimento de pacotes de dados” (BRASIL, 2014).

A Câmara dos Deputados menciona a polêmica residual a respeito do assunto, porque há quem defenda o registro em prol do crescimento econômico das empresas, enquanto há os que repudiam com fulcro as liberdades individuais. Antes da Lei, o provedor podia ter todo o acesso e o tempo que o usuário ficou na internet. Agora, com esta, o provedor (fornecedor de serviço de internet) poderá continuar, a todo o tempo, coletando o registro de conexão, mas deverá guardá-lo somente por um período de 1 ano (BRASIL, 2014, p. 14, 20 e 32). Correspondem a isso os arts. 5º, VI, 7º, VI e VII, 10º, 13º, caput, §§1º e 2º e 22º da lei (BRASIL, 2014)

O 4º ponto, Tutela Antecipada cibernética, se aplica os mesmos requisitos da tutela específica de urgência quando há violação de algum bem jurídico no qual se busca defendê-lo. E, neste sentido, deve o juiz analisar os direitos garantidos pela própria constituição (OLIVEIRA, 2014, p. 25). Esta determinação corresponde ao art. 19º, §4º, do Marco Civil da Internet (BRASIL, 2014).

O 5º ponto, Retirada de conteúdos infringentes (notice and take down), seria para as empresas que, funcionando dentro do país, noticiam conteúdos ofensivos a alguma vítima. Neste caso, o Marco Civil impõe a necessidade de ordem judicial para retirar o conteúdo e, se for matéria que envolva a questão sexo ou nudez, a simples notificação extrajudicial bastaria, sob pena de multa diária ou até mesmo responsabilidade subsidiária (e solidária em relação de consumo). Todavia, a legislação não interferirá no acesso ou imposição de retirada do conteúdo ofensivo de empresas estrangeiras (BRASIL, 2014, p. 15 e 21; OLIVEIRA, 2014, p. 13 e 22). A tal referência, correspondem os arts. 18º a 21º e parágrafo único da Lei 12.965 de 2014.

A regra do art. 18 do Marco Civil da Internet possui a expressão de não responsabilidade do provedor de conexão: “o provedor de conexão à internet não será responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros” (BRASIL, 2014). E esta regra seria um obste ao direito de reparação do usuário do ciberespaço. Mas, a regra possui severa crítica por Fiorillo (2015, p. 107), porque:

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Assim, em decorrência da regra geral de solidariedade, imposta no âmbito da interpretação da lei para o uso da internet no Brasil, ou seja, em face de interpretação constitucional indicada no art. 3o, I, da Carta Magna e já́ comentada anteriormente, fica ao que tudo indica bem clara a inconstitucionalidade do art.18, uma vez que o provedor de conexão à internet, ao contrário do que tentar impor o art.18, poderá́ sim ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros, sendo certo que referida responsabilidade será́ solidária (provedor de conexão e terceiros).

Ou seja, o provedor de internet (ou fornecedor) caso haja algum ato lesivo comprovado ficará obrigado a reparar nos termos do artigo 5º, V e X, CRFB.

O 6º ponto, Neutralidade da Internet, consiste em que “as empresas de conexão e demais empresas de telecomunicações deverão agir com transparência, isonomia, em condições não discriminatórias e que garantam a concorrência” (BRASIL, 2014). A neutralidade significa que as operadoras de internet não poderão interferir na velocidade da conexão, discriminando aplicações ou priorizando um serviço no lugar do outro. Ou seja, “a nova lei indica que o tráfego poderá ser discriminado (gerenciado) para a prestação adequada dos serviços e aplicações contratadas” (BRASIL, 2014, p. 11, 13 e 21). “Nesse sentido, não se admitiria que os provedores de conexão estabeleçam escalas de valores de seus pacotes de acesso à internet de acordo com o conteúdo dos sites visitados pelos internautas” (OLIVEIRA, 2014, p. 8), o que corresponde aos arts. 3º, IV; 9º e 24, VII, do Marco Civil da Internet

O 7º Ponto é o Cenário Estrangeiro. O Marco Civil deverá ser aplicado para serviços que funcionam no Brasil, desde que a empresa em questão seja estabelecida ou pertença a mesmo grupo econômico estabelecido no território nacional. Será aplicado também contra pessoas estrangeiras que não pertençam a mesmo grupo econômico no Brasil, quando houver

serviços relacionados à coleta, guarda, armazenamento ou tratamento de registros, dados pessoais ou de comunicações. Fora isso, aplica-se a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e a Jurisprudência (OLIVEIRA, 2014, p. 9 e 12), correspondente ao art. 11º do Marco Civil da Internet.

O 8º Ponto, Registro de navegação ou registro de aplicações de internet feitas pelo usuário, isto é, que diz respeito ao que o usuário acessou na internet, apresentava na versão original a proibição à posse destes dados, dificultando a apuração de crimes cibernéticos. Segundo a própria Câmara, houve bastante divergência entre os movimentos sociais e os provedores de conteúdo, assim, “pelo novo instrumento, os provedores de aplicações de internet deverão guardar os registros de navegação por 6 meses, mas não há obstáculo que os impeça de continuar armazenando os dados por tempo indeterminado”, desde que os dados coletados

(33)

sejam, sempre, com o consentimento expresso do usuário (BRASIL, 2014, p. 14 e 20). A questão corresponde aos arts. 5º, VIII, 7º, VI, 14º, 15º, caput e §§1º e 2º, 16º, I, 17º e 22º da lei.

O 9º Ponto, Competência dos Juizados Especiais Cíveis, é justificada por utilizar um rito mais célere, quando, nas causas que envolvam ressarcimento por danos à integridade moral, bem como à indisponibilidade deste conteúdo no ciberespaço, é possível acessar ao Juizado Especial Cível para satisfazer o direito, desde que não ultrapasse a 40 salários mínimos (OLIVEIRA, 2014, p. 22). Corresponde à questão o art. 19º, §3º, do Marco Civil da Internet (BRASIL, 2014).

Portanto, os pontos supracitados inferem-se a direitos básicos de qualquer pessoa na internet, passando tanto pelas garantias constitucionais, como também, o respeito às outras legislações hierarquicamente subordinadas ao texto constitucional.

Lemos (2014, p. 10) lança somente pontos positivos acerca do Marco Civil da Internet, defendendo que a referida Lei é uma vitória, porque teve ampla participação da sociedade (uma democracia plena), bem como porque põe fim à insegurança jurídica com as decisões contraditórias existentes no país, entre juízes de uma mesma comarca ou julgadores de um mesmo tribunal. Inclusive, “os demais diplomas, como o CDC e outros mais, não serão ignorados, mas serão igualmente estimados na regulação dos fatos jurídicos cibernéticos, conforme convite expresso do parágrafo único do art. 3º e o art. 6º da nova lei” (OLIVEIRA, 2014, p. 6)

Porém, Tomasevicius (2016, p. 8 e 15) lança pontos negativos, pois o Marco Civil da Internet nada mais seria do que o extrato das normas contidas na Constituição Federal, Código Civil, Código Penal, Código de Processo Civil e Penal, Código de Defesa do Consumidor, Estatuto da Criança e do Adolescente e da Lei sobre interceptação telefônica, ainda não conseguindo dar respostas quando algo é cometido por atores que não estejam em território nacional.

Gonçalves (2017, p. 1) concorda com esta corrente e descreve que o legislador gastou “tintas” para reeditar princípios e regulamentações já existentes no ordenamento jurídico brasileiro. E ainda critica a Lei nº 12.965/14, afirmando que a função de estabelecer princípios, garantias, direitos e deveres é unicamente constitucional e não infraconstitucional, pois, abaixo da Constituição, devesse somente regulamentar e implementar os direitos já estabelecidos.

Nesse sentido, cabe fazer um breve comparativo por quadro se há ou não “gasto de tinta”, usando palavras de Gonçalves (2017, p. 1 e 2), na legislação do Marco Civil da Internet:

(34)

Quadro 1 – Comparativo entre a Lei do Marco Civil da Internet, A Constituição Federal e o Código Civil Brasileiro (liberdade de Expressão):

Marco Civil da Internet (L. 12.965/14) Constituição Federal Código civil

Art. 2º A disciplina do uso da internet no Brasil tem como fundamento o respeito à liberdade

de expressão. art. 5º CRFB [...] IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

Art. 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das

perdas e danos que sobrevierem ao ofendido, e

se este não puder provar prejuízo, tem aplicação o disposto no parágrafo único

do artigo antecedente. Art. 3º [...]:I - garantia da liberdade de

expressão, comunicação e manifestação de

pensamento, nos termos da Constituição Federal

Art. 19º. Com o intuito de assegurar a

liberdade de expressão e impedir a censura, o

provedor de aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do

prazo assinalado, tornar indisponível o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário. art. 5º [...] I - internet: o sistema constituído do conjunto de protocolos lógicos, estruturado em escala mundial para uso público e irrestrito,

com a finalidade de possibilitar a

comunicação de dados entre terminais por

meio de diferentes redes;

Art. 8º. A garantia do direito à privacidade e à

liberdade de expressão nas comunicações é

condição para o pleno exercício do direito de acesso à internet.

Fonte: Elaboração do autor (2017).

Conforme expresso no quadro acima, o direito à liberdade (pessoal e de expressão) vem repetidas vezes em outras legislações. Assim, passa-se no quadro seguinte analisar o direito à liberdade de expressão e comunicação.

(35)

Quadro 2 – Comparativo entre a Lei do Marco Civil da Internet, a Constituição Federal e o Código Civil Brasileiro (Liberdade de Expressão e Liberdade de Comunicação):

Marco Civil da Internet (L. 12.965/14) Constituição Federal Código civil

art. 4º [...] IV - da adesão a padrões tecnológicos abertos que permitam a

comunicação, a acessibilidade e a

interoperabilidade entre aplicações e bases de dados

Art. 220 CRFB. A manifestação do pensamento, a

criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não

sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. [...] § 2º É vedada

toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e

artística.

Sem referência

art. 19º [...] § 2o A aplicação do disposto neste artigo para infrações a direitos de autor ou a

direitos conexos depende de previsão legal específica, que deverá respeitar a liberdade de

expressão e demais garantias previstas no art. 5o da Constituição Federal.

art. 5º CRFB [...] IX - é livre a

expressão da atividade intelectual, artística, científica

e de comunicação,

independentemente de censura

ou licença;

Sem referência

Art. 27 [...] II - buscar reduzir as desigualdades, sobretudo entre as diferentes regiões do País, no acesso às tecnologias da

informação e comunicação e no seu uso; e

art. 4º CRFB [...] III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades

sociais e regionais

Sem referência

Fonte: Elaboração do autor (2017).

O artigo primeiro da MCI descreve que “esta Lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à matéria” (BRASIL, 2014). “O legislador fez questão de elencar o fundamento principal no caput do artigo, qual seja a ‘liberdade de expressão’. Tudo que atente a tal direito será uma violação ao Marco Civil Brasileiro” (JESUS, 2014, p. 19). Portanto, pode afirmar que algumas disposições foram copiadas, pelo menos no sentido, para a legislação da Constituição da República Federativa do Brasil.

Mas será que este direito possui limitação legal? Para saber a resposta, basta olhar o quadro comparativo abaixo:

(36)

Quadro 3 – Comparativo entre a Lei do Marco Civil da Internet, a Constituição Federal e o Código Civil Brasileiro (integridade moral):

Marco Civil da Internet (L.

12.965/14) Constituição Federal Código civil

Art. 3º. A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes

princípios: II - proteção da

privacidade;

art. 5º CRFB [...] X - são

invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,

assegurado o direito a indenização pelo dano

material ou moral decorrente de sua

violação;

Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do

interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar

ato contrário a esta norma. Art. 7 [...]I - inviolabilidade da

intimidade e da vida privada, sua

proteção e indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua

violação;

Art. 8o A garantia do direito à

privacidade e à liberdade de

expressão nas comunicações é condição para o pleno exercício do

direito de acesso à internet. Art. 10. A guarda e a disponibilização dos registros de conexão e de acesso a aplicações de

internet de que trata esta Lei, bem como de dados pessoais e do conteúdo de comunicações privadas,

devem atender à preservação da

intimidade, da vida privada, da

honra e da imagem das partes direta ou indiretamente envolvidas.

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à

manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a

utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins

comerciais. Fonte: Elaboração do autor (2017).

Conforme quadro comparativo acima, é possível visualizar que a Lei do Marco Civil da Internet incorpora grande parte dos dispositivos previstos na lei constitucional, como também, do Código Civil. Contudo, no art. 21 da referida Lei específica, verifica-se a inovação da legislação em tratar da possibilidade de retirar do mundo virtual conteúdos digitais que lesem a intimidade, decorrente da exposição não autorizada de fotos e/ou vídeos contendo cena de sexo ou nudez de caráter privado, publicados na internet. Ou seja:

Art. 21. O provedor de aplicações de internet que disponibilize conteúdo gerado por terceiros será responsabilizado subsidiariamente pela violação da intimidade decorrente da divulgação, sem autorização de seus participantes, de imagens, de vídeos ou de outros materiais contendo cenas de nudez ou de atos sexuais de caráter privado quando, após o recebimento de notificação pelo participante ou seu representante legal, deixar de promover, de forma diligente, no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço, a indisponibilização desse conteúdo. (BRASIL, 2014)

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