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Impactos de projetos de engenharia realizados entre 2007 e 2016 de uma empresa do setor de petróleo e gás natural em uma comunidade de pescadores no município de Magé/RJ na perspectiva dos stakeholderes

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE ESCOLA DE ENGENHARIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE MESTRADO EM SISTEMAS DE GESTÃO

THIAGO DA SILVA FERREIRA

IMPACTOS DE PROJETOS DE ENGENHARIA REALIZADOS ENTRE 2007 E 2016 DE UMA EMPRESA DO SETOR DE PETRÓLEO E GÁS NATURAL EM

UMA COMUNIDADE DE PESCADORES NO MUNICÍPIO DE MAGÉ/RJ NA PERSPECTIVA DOS STAKEHOLDERES

Dissertação apresentada ao Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Organizações e Estratégia. Linha de pesquisa: Responsabilidade social e sustentabilidade.

Orientador:

Prof. Fernando Oliveira de Araujo, Dr.Eng.

Niterói 2016

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Ficha Catalográfica

F 383 Ferreira, Thiago da Silva.

Impactos de projetos de engenharia realizados entre 2007 e 2016 de uma empresa do setor de petróleo e gás natural em uma comunidade de pescadores no município de Magé/RJ na perspectiva dos stakeholderes / Thiago da Silva Ferreira. – 2016.

102 f. : il color.

Orientador: Fernando Oliveira de Araújo.

Dissertação (Mestrado em Sistema de Gestão) – Universidade Federal Fluminense. Escola de Engenharia, 2016.

Bibliografia: f. 85-92.

1. Responsabilidade social. 2. Gestão de stakeholder. 3. Justiça social. 4. Justiça ambiental. I. Título.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço minha família, esposa Karina e filhos Vitor Hugo e Pedro, pela paciência, e carinho de sempre. Não poderia deixar de faltar ainda a lembrança dos amigos Carlos Torres, pelas sugestões, contatos e inclusive participação na banca da defesa como parecerista, e Bárbara e Israel, pelas valiosas contribuições.

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“Magé tem 46 linhas de dutos, mas não possui esgoto encanado” - Alexandre Anderson, presidente da Associação Homens do Mar

da Baía de Guanabara (AHOMAR) em palestra ocorrida em março de 2016.

“Sobre indenizações a pescadores, a EMPRESA XXXX não questiona a reparação aos mesmos, mas reforça que a quantidade de pescadores à época do vazamento era 3.339, de acordo com o IBAMA (órgão oficial responsável pelo cadastramento destes profissionais à época do acidente), e que o período indenizatório deve ser de 32 dias (período de suspensão da pesca na Baía da Guanabara). A ação da Federação dos Pescadores do Rio de Janeiro (FEPERJ) reivindica pagamento para 20.517 pescadores, incluindo os cadastrados na FEPERJ após a ocorrência do vazamento” - Declaração da empresa estudada constante em seu press-relase, em 2010.

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RESUMO

O presente estudo tem o objetivo de analisar os impactos da implementação por uma empresa de petróleo e gás natural dos empreendimentos GNL (gás natural liquefeito) e GLP (gás liquefeito de petróleo) aos pescadores artesanais de Magé, Estado do Rio de Janeiro no período de 2007 a 2016. Em termos metodológicos, a pesquisa se apoiou na revisão sistemática da literatura adotada tanto para oferecer o devido embasamento teórico sobre licença social para operar e justiça ambiental, quanto para apoiar a construção de instrumentos de coleta de dados aplicados junto a distintos stakeholders. Dentre os resultados destacaram-se: a necessidade de um maior esforço por um diálogo para além dos requisitos legais para licenciamento dos empreendimentos, assim como a busca por uma maior contribuição da academia e poder público na comunicação e esclarecimentos sobre os riscos e impactos locais do empreendimento, e suas respectivas oportunidades, quando existem.

Palavras-chave: Justiça ambiental. Licença social para operar. Pescadores artesanais. Gerenciamento de stakeholders em projetos de investimento. Indústria de petróleo.

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ABSTRACT

This study aims to analyze the impacts of the implementation from LNG projects (liquefied natural gas) and LPG (liquefied petroleum gas) by an oil company and natural gas to the fisherfolk of Magé, State of Rio de Janeiro in the period 2007-2016. In terms of methodology, the research relied on the systematic review of the literature to both provide theoretical basis of social license to operate and environmental justice, and to support the construction of data collection instruments applied along the different stakeholders. The results highlighted the need for a greater effort for dialog beyond the legal requirements for the licensing of enterprises, as well as the search for a greater contribution of academia and public power in communication on the local risks and impacts, as their opportunities, when it exists.

Keywords: Environmental justice. Social license to operate. Artesanal fisherfolk. Stakeholder management in investment projects. Oil industry.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01– Estrutura metodológica de pesquisa... 21

Figura 02 – Estruturação da pesquisa em periódicos ... 23

Figura 03 – Resumo das Pesquisas nas bases SciELO, Scopus e ISI Web of Science ... 28

Figura 04– Distribuição de artigos do núcleo de partida por ano de publicação... 31

Figura 05 - Pirâmide da LSO ... 39

Figura 06 - Mecanismos pelos quais protesto social, e sua influência nos tomadores de decisão ... 40

Figura 07 - Construção de capital social, para obter um maior nível de licença social ... 43

Figura 08 - Efeitos primários, secundários e terciários no desenvolvimento de comunidades locais ... 45

Figura 09 - Desenvolvimento de uma análise ... 59

Figura 10 – Situação da pesca em Magé-RJ e região ... 66

Figura 11 – Perfil dos pescadores entrevistados: faixas etárias ... 67

Figura 12 – Perfil dos pescadores entrevistados: escolaridade ... 67

Figura 13 – Perfil dos pescadores entrevistados: tempo de pesca ... 68

Figura 14 – Perfil dos funcionários da empresa entrevistados: faixa etária ... 71

Figura 15 – Perfil dos funcionários da empresa entrevistados: escolaridade ... 71

Figura 16 – Perfil dos representantes do setor público entrevistados: faixa etária... 74

Figura 17 – Perfil dos representantes do setor público entrevistados: escolaridade ... 74

Figura 18 – Perfil dos representantes da Academia e Sociedade Civil: faixa etária ... 75

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Palavras-chave pesquisadas e artigos encontrados... 24

Tabela 02 – Distribuição de registros de artigos por autores na base SciELO ... 25

Tabela 03 – Distribuição de registros de artigos por autores na base ISI Web of Science ... 26

Tabela 04– Identificação dos periódicos, número de artigos e o critério Qualis para compor o “núcleo de partida” da pesquisa. ... 30

Tabela 05 – Levantamento da cronologia e ciclo da produção no “núcleo de partida” ... 31

Tabela 06– Quantidade de referências por tipo de fonte ... 32

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LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Artigos selecionados para o núcleo de partida ... 29

Quadro 02 – Metas possíveis da LSO ... 42

Quadro 03 – Fatores em destaque no conceito de licença social para operar (LSO) ... 51

Quadro 04 – Mapa de entrevistas ... 55

Quadro 05 – Fundamentação das questões propostas (questionário) ... 57

Quadro 06 – Mapa de entrevistas previsto x realizado ... 64

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

ACP – Ação Civil Pública.

AHOMAR – Associação Homens do Mar da Baía de Guanabara. COMPERJ –Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro

DHESCA – Plataforma de Direitos Humanos, Econômicos, Sociais e Ambientais EJOLT - Environmental Justice Organizations, Liabilities and Trade.

INCID –Indicadores da Cidadania.

FAPP-BG –Fórum dos Atingidos pela Indústria do Petróleo e Petroquímica nas Cercanias da Baía de Guanabara.

FASE – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional. FIOCRUZ – Fundação Instituto Oswaldo Cruz.

FPIC – Free, Prior and Informed Consent. GNL – Gás Natural Liquefeito.

GLP – Gás Liquefeito de Petróleo. LSO – Licença Social para Operar.

MOVA –Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos. MPF – Ministério Público Federal.

OFFSHORE – exploração de petróleo e gás em alto mar. ONU – Organização das Nações Unidas.

PIB – Produto Interno Bruto.

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

PPGSD – Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF)

ETTERN/ IPPUR/UFRJ – Laboratório Estado, trabalho, território e natureza do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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TAC - Termo de Ajuste de Conduta, uma forma de compensação a impactos socioambientais comum em licenciamentos de obras e projetos de investimento

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 15 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... 15 1.2 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA ... 17 1.3 OBJETIVOS ... 18 1.3.1Objetivo geral ... 18 1.3.2 Objetivos específicos ... 19 1.4 QUESTÕES-PROBLEMAS ... 19 1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ... 19 1.6 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO ... 20

1.7 ESTRUTURA METODOLÓGICA DO ESTUDO ... 21

1.8 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO ... 21

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 23

2.1 LEVANTAMENTO BIBLIOMÉTRICO... 23

2.1.1 Pesquisas nas bases SCOPUS, ISI Web of Science e SciELO ... 24

2.1.2 Estatísticas de Pesquisa: composição do “núcleo de partida” ... 26

2.2 JUSTIÇA AMBIENTAL ... 33

2.3 LICENÇA SOCIAL PARA OPERAR (LSO)... 38

2.4. ANÁLISE DAS PRÁTICAS INTERNACIONAIS DA INDÚSTRIA EM TERMOS DE LSO: GESTÃO DE STAKEHOLDERES ... 45

2.5. CONTRIBUIÇÃO DA LITERATURA TÉCNICA E CIENTÍFICA PARA OS OBJETIVOS DA PESQUISA ... 51

3 METODOLOGIA DE PESQUISA ... 53

3.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ... 53

3.2 DESCRIÇÃO DA AMOSTRA DE PESQUISA... 54

3.3. TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS ... 56

3.3.1 Procedimentos de validação do instrumento de coleta ... 57

3.4 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS ... 57

3.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ... 60

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ... 63

4.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS E DAS INSTITUIÇÕES... 65

4.1.1 Perfil dos Pescadores entrevistados ... 66

4.1.2 Perfil dos funcionários da Empresa entrevistados ... 70

4.1.3 Perfil dos representantes do Poder Público entrevistados ... 73

4.1.4 Perfil dos entrevistados da Academia e Sociedade Civil ... 75

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4.3 CONFRONTAÇÃO DOS RESULTADOS COM A REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 79

5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE NOVOS ESTUDOS ... 81

REFERÊNCIAS ... 84

APÊNDICE 01: MODELO DE QUESTIONÁRIO PARA PESCADORES (P) ... 91

APÊNDICE 02: MODELO DE QUESTIONÁRIO PARA EMPRESA (E) ... 93

APÊNDICE 03: MODELO DE QUESTIONÁRIO PARAPODER PÚBLICO (PP) ... 96

APÊNDICE 04: MODELO DE QUESTIONÁRIO PARA ACADEMIA (A) ... 98

APÊNDICE 05: REGISTRO FOTOGRÁFICO DA VISITA AOS PESCADORES EM MAGÉ-RIO DE JANEIRO ... 100

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Conforme se observa em Lobão (2011), Diegues (2008), Alier (2007), Elkington (2011) e Kotler (2015), a agenda socioambiental nem sempre foi considerada central na perspectiva dos tomadores de decisão tanto do setor privado, como de entes públicos e órgãos reguladores. Essa negligência, ao longo do tempo, tem implicado em consequências deletérias para a sociedade, como: poluição; criminalidade; ampliação da desigualdade social.

Este panorama é retratado por conflitos pela posse de território, assim como a perda das formas de subsistência de comunidades tradicionais manifestadas em quilombolas, grupamentos indígenas e aldeias de pescadores.

Neste contexto, seja por esforço de sua força de trabalho e lideranças, seja pelo aumento das exigências regulatórias, legais e da sociedade, a preocupação com os riscos e impactos da atividade econômica no meio ambiente e comunidades estão na pauta das empresas (UNEP, 2009; ABNT, 2010). Esta questão é premente, sobretudo no setor extrativista de óleo e gás, responsável pela geração de grandes impactos ao meio ambiente e economia circunvizinha.

Neste sentido, verifica-se um grande contingente de conflitos socioambientais oriundos da divergência entre empresas, governos, populações em vulnerabilidade social e comunidades tradicionais acerca da propriedade e uso dos recursos naturais (PORTO et al, 2013; LEFF, 2011; ACSERLRAD, 2010; ALIER, 2007).

Estes conflitos serão analisados no presente estudo sob a perspectiva das temáticas da justiça ambiental e licença social para operar (LSO).

A justiça ambiental refere-se ao empoderamento1 dos movimentos sociais como

portadores de direitos, contemplando críticas quanto ao desproporcional impacto dos empreendimentos econômicos às populações em situação de vulnerabilidade econômica e social (ACSELRAD, 2010; ALIER, 2007).

O movimento pela justiça ambiental tem gerado iniciativas ao redor de todo o planeta em prol da defesa de povos e comunidades tradicionais, assim como o

1Prática de dar voz ativa e poder decisório.

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mapeamento de conflitos, incluindo a iniciativa internacional EJOLT (Environmental Justice Organizations, Liabilities and Trade), que indica o Brasil como 3º país com maior quantidade de casos de conflitos2.

Em especial no Brasil, há um conjunto de iniciativas da academia e da sociedade civil, ainda que tímidas, em mapear os referidos conflitos, com destaque para a obra “Mapa de conflitos envolvendo injustiça ambiental e Saúde no Brasil”, iniciativa de uma equipe de pesquisadores da FIOCRUZ em conjunto com a organização da sociedade civil FASE - Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional, contando ainda com o apoio do Ministério da Saúde.

Esse panorama sugere uma crescente visibilidade dos movimentos sociais e suas causas socioambientais, em contraponto à perspectiva do crescimento econômico que desrespeita os limites naturais dos ecossistemas, e os danos à qualidade de vida e saúde das pessoas (LEFF, 2011). O mapa de conflitos da plataforma FIOCRUZ indica que os pescadores artesanais contemplam 14,81% dos conflitos mapeados3, o que os coloca entre

os públicos com maior número de casos.

Já o conceito de licença social para operar retrata um esforço originado das empresas extrativistas, sobretudo no ramo da mineração, a fim de aperfeiçoar seu relacionamento com as comunidades locais. Este processo é realizado através da coleta e tratamento de reclamações, aproveitamento de mão-de-obra e aquisições em empreendimentos locais, ou mesmo o desenvolvimento ou patrocínio a iniciativas de cunho socioambiental, dentre outras ações (MEIRELLES, 2014; PNRO & SLOCOMBE, 2012; PNRO, 2013).

O objetivo principal da LSO é obter a anuência da população local quanto a grandes empreendimentos econômicos em uma determinada localidade, assim como angariar o apoio do setor público quanto à viabilização destes empreendimentos através das licenças e concessões necessárias (RUGGIE, 2011; WACHENFELD, ÂNGULO & KEMP, 2014).

Observa-se que, na prática, a LSO tem ocorrido nas grandes empresas de três formas:

2 Fonte: http://ejatlas.org/, acesso em 27/01/2016 às 23:00h

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1. Iniciativas relacionadas a condicionantes definidas pelo órgão público, de caráter legal e obrigatório, ou seja, exigências para a instalação de empreendimentos em determinada comunidade ou bioma;

2. Patrocínio voluntário a projetos de desenvolvimento social, ambiental, cultural e esportivo; e

3. Busca pelo engajamento da comunidade e tratamento das principais queixas desta, incluindo questões relativas a potenciais violações dos direitos humanos.

Desta forma, será analisado como as iniciativas da justiça ambiental e da licença social para operar podem atuar como mitigadoras das externalidades negativas dos grandes empreendimentos econômicos, além de prover benefícios socioeconômicos às comunidades vizinhas.

1.2 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA

As iniciativas pesquisadas integram o portfólio de investimentos de uma das mais importantes empresas do Brasil na área de exploração e produção petróleo e gás, que possui grande capilaridade de atuação, em termos técnicos e geográficos.

Em particular, o presente estudo visa a uma melhor compreensão sobre os impactos do licenciamento, construção e operação de gasodutos submarinos e terrestres de transferência de GNL (gás natural liquefeito) e GLP (gás liquefeito de petróleo) aos pescadores artesanais na região do município de Magé, Estado do Rio de Janeiro, sobretudo no período de 2007 a 2016.

Desta forma, considerando assim a divulgação das reservas petrolíferas da camada denominada pré-sal, a concessão de licença ambiental e a implementação dos projetos citados (MPF, 2009; TJ-RJ, 2014a; TJ-RJ, 2014b; TJ-RJ, 2015), e seus respectivos impactos socioambientais aos pescadores artesanais locais.

O principal pleito desta comunidade tradicional refere-se à redução indicada da pesca na Baía de Guanabara devido à poluição e construção dos gasodutos e o estabelecimento de zonas de exclusão, sobretudo durante as obras citadas e posteriormente próximas aos dutos construídos (FAUSTINO & FURTADO, 2013:60).

Adicionalmente, há outros fatores que geram potencial impacto à atividade pesqueira, conforme Inquérito civil no Ministério Público Federal, 2009, p. 13:

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Os pescadores relataram vários prejuízos decorrentes da instalação de empreendimentos petrolíferos no Município de Magé: o barulho do “bate-estaca” e das máquinas, que afugentam os peixes; a volta enorme que têm que dar, contornando os dutos, para chegar onde querem pescar (para ir à praia de Ipiranga, por exemplo, têm que passar por Paquetá); a quantidade de dutos e tubulações, que faz com que “a Baía mais pareça um ferro-velho do que um lugar de pesca”; as redes rasgadas pelas embarcações da empresa; a temperatura da água que se altera com a presença dos tubos; entre outros (...)

Basicamente, entende-se que “o conflito entre pescadores e a empresa de petróleo em estudo é dado pelo uso do território do espelho d’água da Baía” (CHAVES, 2011: 92), fato este reconhecido nos próprios Relatórios de Impacto Ambiental (RIMA) dos referidos empreendimentos. Por outro lado, alguns representantes da categoria (pescadores) têm recorrido a ações civis públicas, considerando o prejuízo para famílias que viviam tradicionalmente desta atividade.

Historicamente, a empresa estudada tem tratado estes impactos de suas atividades de duas formas: reativamente, atendendo aos pleitos de condicionantes ambientais impostas pelos órgãos de controle ambientais, e voluntariamente por meio de patrocínio a iniciativas de investimento socioambiental, cultural e esportivo oriundas da sociedade civil, sobretudo organizações não-governamentais e órgãos públicos.

De acordo com especialistas da empresa, há mapeadas diversas iniciativas socioambientais realizadas em parceria com organizações não governamentais e instituições públicas no período estudado que contemplam direta ou indiretamente o público de pescadores da região, dentre voluntárias e condicionantes. Destacam-se os projetos Baía Limpa, Caranguejo Uçá, MOVA (alfabetização), Projeto INCID- cidadania e sustentabilidade socioambiental na área de influência do COMPERJ (voluntários), e os projetos de monitoramento dos golfinhos, programas de comunicação social e de educação ambiental (condicionantes para licenciamento ambiental).

1.3 OBJETIVOS

1.3.1Objetivo geral

Estudar os impactos dos empreendimentos GNL e GLP aos pescadores artesanais de Magé, Estado do Rio de Janeiro, entre 2007 e 2016 através dos diversos stakeholders, poder público, empresa e academia.

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1.3.2 Objetivos específicos

1. Pesquisar a relação da empresa em estudo com os pescadores de Magé, buscando os principais aprendizados e problemas relatados pelos públicos envolvidos (empresa, poder público, e pescadores artesanais), assim como principais reclamações e pleitos. 2. Analisar por meio de entrevistas mecanismos de mitigação de impactos adotados pela

empresa para lidar com as externalidades negativas geradas aos pescadores, assim como protocolos utilizados para nortear o seu relacionamento com a comunidade local.

3. Analisar através de documentos e depoimentos as principais iniciativas de investimento socioambiental (patrocínios, convênios, termos de ajuste de conduta) e relacionamento com as comunidades (mapeamento das comunidades baseado na Agenda 21) da empresa em estudo, e sua efetividade na mitigação na melhoria da qualidade de vida e condições sociais dos pescadores locais.

4. Propor alternativas para a melhoria do relacionamento empresa-comunidade. 1.4 QUESTÕES-PROBLEMAS

Com o desdobramento da questão da pesquisa, considera-se também relevante a perseguição de respostas para as seguintes questões:

1. Seriam as iniciativas de desenvolvimento econômico e investimento socioambiental suficientes para promover a mitigação dos impactos à pesca artesanal em Magé? 2. Quais são as iniciativas da empresa para relacionamento com os pescadores artesanais

de Magé sob a perspectiva de desenvolvimento socioeconômico e preservação ambiental, e quais os seus impactos à comunidade local?

3. Quais seriam as alternativas disponíveis para melhoria do relacionamento com a comunidade local e mitigação de impactos sob o olhar dos múltiplos stakeholders? 4. Quais as principais lições aprendidas provenientes do fenômeno estudado?

1.5 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

A empresa estudada é citada em grande número de publicações específicas sobre o tema, o que sugere a recorrência de práticas não conformes. Dessa forma, o estudo se propõe a contribuir com a análise das eventuais não conformidades, apontando oportunidades de aprimoramento no modus operandi da empresa estudada.

Considerando-se que dos 343 conflitos mapeados pela iniciativa “Mapa de conflitos envolvendo injustiça ambiental e Saúde no Brasil” (PORTO et al, 2013) no

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período de 2007 a 2010, trinta e quatro envolvem a referida empresa, verifica-se que a organização esteve presente em cerca de 10% do total, sendo seis conflitos no Rio de Janeiro, todos estes envolvendo pescadores. O mapa ainda é atualizado, sendo disponibilizados conteúdos através das redes sociais, apesar de relatos dos pesquisadores sobre restrições de equipe e recursos.

Como objeto de pesquisa, dentre os conflitos mapeados, serão analisadas as questões socioambientais que tem afetado uma comunidade tradicional, os pescadores artesanais do município de Magé, Estado do Rio de Janeiro, observando-se os impactos de uma empresa de petróleo atuante na região, sobretudo no período de 2007 a 2016. Desta maneira, com esta pesquisa pretende-se contrabalancear as demandas comunitárias, sob o prisma da justiça ambiental e o conceito de licença social para operar (LSO).

O tema não possui fronteiras teóricas densamente delineadas, observando oportunidade de avançar no âmbito científico, a partir da compreensão da problemática suportada pelas vertentes teórica e empírica. Entende-se ainda que há a necessidade de se avançar na conciliação das pautas da justiça socioambiental, iniciativa em geral originada da sociedade civil e da academia, com os esforços das empresas para atendimento à melhoria de relacionamento comunitário e redução de seus impactos socioambientais.

Em termos socioambientais, o estudo é relevante no sentido de provocar a incorporação das dimensões sociais e ambientais em consonância às discussões técnicas em projetos de engenharia, valorizando os saberes locais e contribuindo para o aumento da interlocução proativa empresa-comunidade-meio ambiente.

1.6 DELIMITAÇÕES DO ESTUDO

O presente estudo refere-se ao município de Magé, com ênfase no período de 2007 a 2016. De igual forma, não se aplica a outras localidades, ou outras comunidades tradicionais ou públicos de interesse.

Considera a obtenção de informações da empresa disponibilizadas publicamente e de seus principais públicos de relacionamento relativos a presente pesquisa, ou seja, os próprios pescadores locais, o poder público responsável (Ministério Público e órgãos de defesa do meio ambiente) e a comunidade científica.

A delimitação do estudo se refere à análise do relacionamento entre as partes interessadas, empresa e pescadores marítimos, buscando-se averiguar as possibilidades

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de atuação conjunta em prol de um desenvolvimento econômico com menores impactos ao meio ambiente e subsistência das populações locais.

1.7 ESTRUTURA METODOLÓGICA DO ESTUDO

O presente trabalho contempla levantamento de dados secundários, livros e periódicos (artigos mais recentes, artigos mais citados, artigos mais relevantes e seus respectivos contrapontos, assim como principais críticos). Além de pesquisa de campo para compor um relato institucionalmente relevante a partir do problema de pesquisa proposto, visando observar as perspectivas dos múltiplos atores envolvidos.

A Figura 01 ilustra a estrutura metodológica descrita. Figura 01– Estrutura metodológica de pesquisa

Fonte: Adaptado de Araújo (2011)

1.8 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

O presente estudo está subdividido em cinco capítulos, conforme ordenação expressa a seguir.

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O Capítulo 1 traz a Introdução, contemplando a contextualização da situação problema, abordando brevemente suas implicações.

O Capítulo 2 refere-se à Fundamentação teórica e trata dos dois principais arcabouços teóricos deste estudo: os conceitos licença social para operar e justiça ambiental.

Já o Capítulo 3 reflete a Metodologia da pesquisa, descrevendo-a. O método proposto consiste em entrevistas com os diversos públicos de interesse envolvidos, além de depoimentos, análise da literatura, de relatórios e declarações públicas dos envolvidos, assim como documentos de audiências públicas relativas ao fenômeno estudado.

O Capítulo 4 apresenta a pesquisa de campo, o perfil dos respondentes e a correlação dos depoimentos com a literatura pesquisada, assim como eventuais informações e conceitos emergentes.

Por fim o Capítulo 5 contempla as conclusões do estudo, assim como sugestões para estudos futuros.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 LEVANTAMENTO BIBLIOMÉTRICO

A presente seção contempla o resultado do levantamento bibliométrico, desenvolvido no sentido de coletar e analisar uma variedade de material de referência obtidos com o suporte de técnicas de pesquisa sistemática em bases de periódicos.

Conforme proposta metodológica de Treinta et al (2014), ilustrada na Figura 02, os conceitos principais a serem tratados, “justiça ambiental” e “licença social para operar”, foram selecionados por contemplar a abordagem pretendida nesta pesquisa, incluindo as manifestações dos movimentos sociais e da sociedade como um todo aos conflitos socioambientais constituído se o respectivo posicionamento das empresas, sobretudo as dos setores extrativista, mineradoras e de energia.

Figura 02 – Estruturação da pesquisa em periódicos

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A pesquisa sistemática da literatura foi realizada em três bases de periódicos (Scopus, ISI Web of Science e Scielo), dada à sua robustez e abrangência. Em seguida, foi realizada a leitura inspecional dos materiais contemplando a análise dos títulos e resumos / abstract. Desta forma, foi utilizada a filtragem dos conteúdos encontrados na pesquisa em quatro oportunidades, que serão mais bem detalhadas nas seções subsequentes.

2.1.1 Pesquisas nas bases SCOPUS, ISI Web of Science e SciELO

A presente pesquisa foi realizada no período de 13/04/2016 a 30/04/2016, na base de periódicos da CAPES, considerando as bases Scopus, ISI Web of Science e SciELO. Foram utilizados os seguintes termos de pesquisa: “social license” OR “licença social” AND “environmental justice” OR “justiça ambiental”, oriundas das pesquisas prévias do autor, e contemplando assim os idiomas português e inglês, sendo que os resultados contemplaram referências em espanhol, e um texto no idioma russo.

A pesquisa resultou em 182 artigos para compor o portfólio deste estudo, sendo 134 na base ISI Web of Science (74% do total), 40 na Scielo (22%) e 8 na Scopus (4%).

Tabela 01 - Palavras-chave pesquisadas e artigos encontrados

Conectores

booleanos Palavras-chave

Número de artigos encontrados SCIELO SCOPUS ISI Web of

Science

“social license”

40 8 134

OR “licença social” AND “environmental justice”

OR “justiça ambiental”

Fonte: baseado em SciELO, Scopus e ISI Web of Science em 18, 19 e 30/04/2016.

Vale registrar dois fatos observados. Primeiramente, foi verificada uma taxa de resultados extremamente baixa na base Scopus (apenas oito resultados, ou 4% do total). Entende-se que a referida base não foi relevante para esta pesquisa específica, pois após leitura analítica se verificou que apenas um dos dois artigos relacionava-se aos temas pesquisados. Em segundo lugar, a pesquisa na SciELO foi quase que plenamente duplicada na consulta à base ISI Web of Science.

No caso da base SciELO, dos 40 resultados, 11 indicaram-se repetidos na própria base e, portanto, foram excluídos, resultando em 29 referências válidas. Dentre estes, além de artigos, havia 2 “reviews” e 1 “press release”. Visualiza-se ainda que a produção intelectual encontrada se concentra sobretudo no período de 2009 a 2015.

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Após filtragem inicial (leitura inspecional), constatou-se pela pertinência de 13 artigos à temática pesquisada. Esta filtragem foi baseada na leitura dos títulos e dos resumos / abstract. Nesta base de dados, foi verificado que os textos encontrados em sua maioria tratavam da temática “justiça ambiental”, em detrimento da licença social.

O autor mais recorrente nesta pesquisa, Porto, publicou quatro artigos. As citações aos autores Acselrad e Porto nos artigos encontrados foram frequentes. Paralelamente, foram citados autores como Alier, Leff e Georgescu-Roegen, tendo sido os dois primeiros incluídos na pesquisa posteriormente por meio de livros publicados.

Ainda é importante registrar os principais periódicos, áreas temáticas e qualificações (Qualis) dos artigos pré-selecionados (13) na SciELO, análise consolidada na Tabela nº02.No caso da temática “justiça ambiental”, verifica-se que os artigos se concentram nas áreas de conhecimento “Engenharias III”, “Interdisciplinar”, “Administração”, e “Saúde coletiva”.

Tabela 02 – Distribuição de registros de artigos por autores na base SciELO

Título do periódico

Nº de artigos

Classificação Qualis (artigos SciELO)

Engenhari as III Economia Inter-disciplinar Adminis-tração, ciências contábeis e turismo Sociologia Saúde Coletiva Ciências sociais aplica-das I Estudos Avançados 1 - B2 - B2 - - - Estudios Sociales 1 - - B2 - - - - Revista Latinoamericana 1 - - - - Ambiente & Sociedade 1 B3 B5 B1 B1 B2 B3 - Trabalho, Educação e Saúde 1 - - B2 B2 B1 B1 - Horizontes Antropológicos 3 - - A1 - A1 B3 - Ciência & Saúde Coletiva 3 - - B1 - - B1 - Physis: Revista de Saúde Coletiva 1 - - - - Revista Colombiana de Geografía 1 - - - -

Fonte: baseado na SciELO, em 02/05/2016 (consolidação), Qualis 2014.

Referente à análise da base ISI Web of Science, foram encontrados 134 resultados. Verifica-se que a produção científica se concentra sobretudo no período entre 2008 e 2016, sobretudo a partir de 2012, conforme ilustrado na Figura 04.

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Igualmente na base ISI Web of Science, após filtragem dos artigos repetidos, temas não correlatos ou artigos similares, chegou-se a um resultado prévio de 17 artigos (leitura inspecional). Novamente, não se evidenciou repetições de autores, apesar de muitas citações a PNRO (71).

No aspecto de análise das publicações (periódicos) e suas respectivas conceituações da Capes verifica-se em comum com a pesquisa na base anterior as áreas de “Engenharias III”, “Administração” e “Interdisciplinar”. Esta análise encontra-se ilustrada na Tabela 03.

Tabela 03 – Distribuição de registros de artigos por autores na base ISI Web of Science

Título do periódico

Nº de artigos

Classificação Qualis (artigos ISI Web of Science)

Engenharias III Economia Interdiscipli nar Administração, ciências contábeis e turismo Sociologia Saúde Coletiva Ciências sociais aplicadas I Journal of rural studies 1 - - A2 - A2 - - Renewable Energy 1 A2 - A1 - - - - Journal of International Management 1 - - - - Journal of Cleaner Production 2 A1 - A1 A1 - - - Resources Policy 6 B1 - - - - The Extractive Industries and Society 3 - - - - Global Environmental Change 1 - - - - Estudios gerenciales 1 - - - - Ciência & Saúde Coletiva 1 - - B1 - - - -

Fonte: baseado na ISI Web of Science, em 02/05/2016 (consolidação), Qualis 2014.

A seguir faz-se pertinente, a partir desta análise inicial (leitura inspecional dos títulos e resumos), a realização de uma filtragem mais apurada, considerando a pertinência dos títulos pesquisados às temáticas estudadas.

2.1.2 Estatísticas de Pesquisa: composição do “núcleo de partida”

Considerando-se as pesquisas realizadas nas três bases citadas, foram utilizados quatro filtros para seleção do “núcleo de partida”, considerando 1) exclusão de artigos

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repetidos entre as bases ou na própria base e artigos de acesso restrito a assinantes, 2) leitura do título e do resumo / abstract, 3) leitura analítica contemplando os principais temas considerados, e por fim 4) leitura dos artigos.

Este procedimento encontra-se detalhado na Figura 03, contemplando os resultados quantitativos de cada etapa, considerando um total de 182 resultados de pesquisa, e um núcleo de partida proposto para leitura de 20 artigos.

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Figura 03 – Resumo das Pesquisas nas bases SciELO, Scopus e ISI Web of Science

(29)

Registra-se que alguns dos artigos e autores citados nas tabelas 02 e 04 não foram contemplados na seleção do núcleo de partida, após filtragem das leituras inspecional e analítica.

A pesquisa bibliográfica via bases de dados foi sistematizada conforme Quadro 01, de forma a permitir a rastreabilidade do conteúdo pesquisado.

Quadro 01 – Artigos selecionados para o núcleo de partida Artigos das bases SciELO, Scopus e ISI Web

of Science Autores

Ano de

publicação Periódico

1 Ambientalização das lutas sociais – o caso do movimento por justiça ambiental

Acselrad, H.

2010 Estudos avançados

2

A corporate responsibility? The constitution of fly-in, fly-out mining companies as governance partners in remote, mine-affected localities

Chesire, L. 2009

Journal of rural studies

3 Social license and consultation criteria for community wind projects

Corscadden, K.;

Wile, A.; Yiridoe, E. 2012 Renewable energy 4 La dimensión espacial de los conflictos

ambientales en Chile

Fuenzalida, M;

Quiroz, R. 2012

Revista lationamericana

5 Responsible mineral and energy futures: views at the nexus

Giurco, D.; McLellan, B;Franks, D.M.; Nansai, K. 2014 Journal of cleaner production 6

Conceptualizing social protest and the significance of protest actions to large projects Hanna, P.; Vanclay, F.; Langdon, E.J.; Arts,J. 2016 The Extractive Industries and Society 7 Assessing corporate–community involvement strategies in the Nigerian oil industry: An empirical analysis

Idemudia, U. 2009 Resources policy

8

Justiça ambiental, conflitos latentes e externalizados: estudo de casso de pescadores artesanais do norte fluminense

Leal, G.F.

2013 Ambiente & Sociedade

9

A conceptual model of the socioeconomic impacts of unconventional fossil fuel extraction Measham, T.G.; Fleming, D.A.; Schandl, H. 2015 Global Environmental Change 10 Construcción de juicios de confianza hacia

compañías mineras en el norte de Chile

Olivos, F.

2015

Estudios gerenciales

11 Social inequalities and environmental

conflict Pellow, D.N.

2006 Horizontes antropológicos

12

Exploring the origins of ‘social license to operate’ in the mining sector: Perspectives from governance and sustainability theories

Pnro, J.; Slocombe,

D.S. 2012 Resources policy

13 Gestão ambiental e democracia: análise crítica, cenários e desafios

Porto,M.F.S.; Schutz, G.E.

2012 Ciência & Saúde Coletiva

14

Riscos, saúde e justiça ambiental: o protagonismo das populações atingidas na produção de conhecimento

Porto, M.F.S.;

Finamore,R. 2012

Ciência & Saúde Coletiva

15

Classifying critical factors that influence community acceptance of mining projects for discrete choice experiments in the United States Que, S.; Awuah-Offei,K.; Samaranayake, V.A. 2015 Journal of cleaner production 16

Measuring the extent of a social license to operate: the influence of marine biodiversity offsets in the oil and gas sector in Western Australia

Richert, C.; Rogers, A.; Burton, M.

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Artigos das bases SciELO, Scopus e ISI Web

of Science Autores

Ano de

publicação Periódico

17

Regulating mining resource investments towards sustainable development: the case of Papua New Guinea

Sing, J. 2014

The extractive industries and

society

18

Além dos humanos: reflexões sobre o processo de incorporação dos direitos ambientais como direitos humanos nas conferências das nações unidas

Steil, C.A.; Toniol, R.

2013 Horizontes antropológicos

19

How you start matters: a comparison of Gold Fields' Tarkwa and Damang Mines and their divergent relationships with local small-scale miners in Ghana

Teschner, B.

2013 Resources policy

20

Corporate social responsibility and power relations: Impediments to community development in post-war Sierra Leone diamond and rutile mining areas

Wilson, S.A.

2015

The extractive industries and

society Fonte: baseado na SciELO, Scopus e ISI em 03/05/2016 (consolidação).

Dentre os vinte artigos selecionados, foram verificadas procedências e classificação Qualis/ CAPES, neste momento considerando apenas as três áreas temáticas comuns aos dois termos pesquisados (justiça ambiental e licença social para operar), conforme Tabela 04.

Tabela 04– Identificação dos periódicos, número de artigos e o critério Qualis para compor o “núcleo de partida” da pesquisa.

Título do periódico Nº de artigos

Classificação Qualis/ CAPES Engenharias III Interdisciplinar

Administração, ciências contábeis e

turismo

Ambiente &sociedade 1 B3 B1 B1

Ciência &saúde coletiva 2 - B1 -

Estudios gerenciales 1 - - -

Estudos avançados 1 - - B2

Global environmental change 1 - - -

Horizontes antropológicos 2 - A1 -

Journal of cleaner production 2 A1 A1 A1

Journal of rural studies 1 - A2 -

Renewable energy 1 A1 A1 -

Resources policy 4 B1 - -

Revista lationamericana 1 - - -

The extractive industries and

society 3 - - -

TOTAL 20

Fonte: baseado na SciELO, Scopus e ISI em 03/05/2016 (consolidação), Qualis 2014 Por fim, quanto à pesquisa nas bases já filtrada em um núcleo de partida, organizadas por ano de publicação, a pesquisa indica um debate concentrado no período entre 2006 e 2016 e ainda em construção, conforme ilustrado na Tabela 05. Em geral, os dois temas de pesquisa aparecem separados, em artigos e abordagens diferentes.

(31)

Tabela 05 – Levantamento da cronologia e ciclo da produção no “núcleo de partida” Ano Nº de artigos 2006 1 2009 2 2010 1 2012 5 2013 3 2014 2 2015 5 2016 1

Total artigos publicados 20

Fonte: baseado na SciELO, Scopus e ISI em 03/05/2016 (consolidação).

Vale registrar que foram verificados os “picos de produção” acadêmica em 2012 e 2015, neste último aparentemente revertendo uma tendência aparente de queda na quantidade de publicações, conforme Figura 04. Este fato pode sinalizar o periódico e renovado interesse pelos conflitos socioambientais.

Figura 04– Distribuição de artigos do núcleo de partida por ano de publicação

Fonte: baseado na SciELO, Scopus e ISI em 03/05/2016 (consolidação).

Paralelamente ao levantamento dos artigos componentes do “núcleo de partida” foram realizadas pesquisas a bancos de teses e dissertações, livros e bancos de dados abertos ao público. Esta nova pesquisa foi baseada na imersão anterior comas temáticas em estudo, e indicação de especialistas. Foram incluídos mais dois artigos científicos, dez textos de encontros e redes temáticas, seis livros e oito dissertações de mestrado. Estas referências são indicadas na Tabela 06.

0 1 2 3 4 5 6 2006 2009 2010 2012 2013 2014 2015 2016

Quantidade de Artigos

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Tabela 06– Quantidade de referências por tipo de fonte Tipo de fonte Nº de referências % em relação ao total Artigos científicos 22 48%

Artigos de encontros científicos / fóruns temáticos 10 22%

Livros 6 13%

Teses e dissertações 8 17%

Total 46 100%

Fonte: o autor (2016).

Os estudos de Leff (2011) e Alier et al (2014) foram incluídos por serem citados de forma recorrente na temática da “justiça ambiental”.

Os dez artigos de encontros científicos, treinamentos e redes temáticas se concentram em ambos os temas, justiça socioambiental e LSO, muitos dos quais já tratando a temática especificamente quanto à questão dos direitos humanos nas atividades das empresas, e os impactos dos setores extrativista e de energia nas comunidades tradicionais (JENKINS, 2004; SEVÁ FILHO, 2010; RUGGIE, 2011; THOMSOM & BOUTILIER, 2011; HERCULANO, 2012;OWEN& KEMP, 2013; FAUSTINO & FURTADO, 2013; PNUD, 2014; WACHENFELD,ÂNGULO & KEMP, 2014; LOWEY, 2016).

Igualmente os seis livros (ALIER, 2007; DIEGUES, 2008; BRONZ, 2009; RODRIGUES, 2010; FAPP-BG, 2013; KOTLER, 2015) foram selecionados na busca prévia, já inserindo a temática da justiça ambiental de forma mais ampla no debate da responsabilidade social corporativa, mais especificamente em empresas de energia e seus impactos em comunidades tradicionais.

Por fim, foram incluídas oito dissertações de mestrado, sendo destas quatro do Mestrado em Sistemas de Gestão da Latec/UFF, uma do programa de pós-graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UFRJ, uma do programa de pós-graduação de Ciências Sociais em desenvolvimento, agricultura e sociedade da UFRRJ, uma do programa de pós-graduação interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC e a última do programa de pós-graduação em Ecologia da UFRJ.

Estas pesquisas contemplam a responsabilidade social empresarial em empresas de pequeno e médio portes, nos setores siderúrgico, e de óleo e gás (PENALVA, 2008; MARSICO, 2008; GOULART, 2009; CHAVES, 2011; VIANNA, 2013; LOSICER, 2013; MAIA, 2014; FERNÁNDEZ, 2007).

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As referências consolidadas oriundas da bibliometria e as leituras indicadas concentram-se sobretudo entre 2012 e 2015, conforme ilustrado na Tabela 07.

Tabela 07– Número de referências por ano de publicação

Ano de publicação Nº de referências % em relação ao total

2004 1 2% 2006 1 2% 2007 2 4% 2008 3 7% 2009 4 9% 2010 3 7% 2011 4 9% 2012 7 15% 2013 7 15% 2014 6 13% 2015 6 13% 2016 2 4% Total 46 100% Fonte: o autor (2016).

Desta forma, compreende-se tanto a pesquisa bibliométrica nas principais bases de dados quanto às indicações do próprio autor e de especialistas, contemplando a diversidade de perspectivas sobre o tema, a interdisciplinaridade e a busca tanto na academia quanto nos movimentos e coletivos sociais.

Devem-se registrar os esforços da comunidade empresarial na mitigação dos impactos desproporcionais das atividades produtivas em populações em vulnerabilidade social e comunidades tradicionais.

2.2 JUSTIÇA AMBIENTAL

A crise ambiental, explicitada por fenômenos tais como o aquecimento global, o esgotamento de recursos naturais e a poluição do ar e da água é resultado do desajuste causado pela ação humana na natureza (LEFF, 2011). A constante pressão econômica para aumento da produção, do consumo de produtos e serviços, e crescimento do PIB característicos da racionalidade econômica traz consequências deletérias ao meio ambiente, prejudicando a qualidade de vida da população.

Neste sentido, alguns autores propõem uma nova racionalidade, em contraponto à puramente econômica, considerando a limitação dos recursos naturais disponíveis. Defendem a adoção de uma racionalidade ambiental (LEFF, 2011), a qual destoa da pressão por crescimento contínuo como finalidade exclusiva para o desenvolvimento das

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nações. A contestação ao racionalismo puramente econômico embasa o movimento ambientalista. Alier (2007) identifica três vertentes do ambientalismo, a saber:

1) culto ao silvestre: cujos adeptos e pesquisadores pregam a conservação do meio ambiente como maior objetivo e a qualquer custo;

2) evangelho da ecoeficiência: uma forma de adaptação das empresas com a adoção de medidas pontuais com destaque para economia de água e de energia, e a revisão dos processos produtivos, mas sema revisão da lógica consumista que efetivamente gera impactos aos ecossistemas existentes; e

3) “ecologismo dos pobres”: movimento de empoderamento das camadas em situação de vulnerabilidade social, comunidades tradicionais, minorias e população pobre sob a forma da ambientalização das lutas sociais (ACSELRAD, 2010; PORTO et al, 2013).

Ou seja, a incorporação de pautas de conservação do meio ambiente e dos recursos naturais ao movimento em prol dos direitos humanos e justiça social, com um alerta aos impactos socioambientais que afetam desproporcionalmente as camadas mais vulneráveis da sociedade.

Pellow (2006) e Acselrad (2010) identificam duas vertentes do ambientalismo igualmente preocupadas com os impactos ambientais da sociedade, a saber:

1. Questionamento ao estilo de vida consumista e sistema de produção em massa que tem gerado a penalização ambiental dos mais despossuídos ao mesmo tempo em que tem negado aos mesmos os benefícios do padrão de consumo e conforto capitalista dos países em desenvolvimento em razão dos limites entrópicos do planeta, ou seja, da limitação dos recursos naturais disponíveis, finitos, e da redução da capacidade de recuperação quanto aos impactos gerados pela ação humana.

Desta forma, estes mesmos prejudicados muitas vezes não usufruem dos benefícios dos referidos empreendimentos (LEAL, 2013), mesmo quando plenamente estabelecidos os projetos; e

2. Economia de matéria-prima através da ecoeficiência, ou seja, da modernização ecológica e da redução de custos sem, entretanto, atuar para reduzir o consumo e a produção. Esta abordagem trata o meio ambiente como oportunidade de negócios, com perspectivas a ganhos financeiros e obtenção de vantagem competitiva pela empresa.

(35)

Quanto a esta segunda vertente, Losicer (2013) problematiza:

(...) quando se trata de empresas, é preciso pensar em termos de priorização de investimentos, se o objetivo final das corporações é a produtividade eficiente. Afinal, uma empresa não troca o carpete antes de ter tubulações adequadas ou investe em decoração antes de possuir sistemas inteligentes. Da mesma forma, não deveria ter projetos sociais antes de solucionar os impactos ambientais que causa. (LOSICER, 2013:118)

Sobretudo considerando a primeira vertente apresentada, constitui-se um imbróglio quando conquistar legitimidade para as questões ambientais pode constituir um obstáculo ao enfrentamento do desemprego e da pobreza pela não-concretização ou atraso de empreendimentos econômicos, projetos de investimento e grandes obras.

Nesse sentido, Acselrad (2010) alerta para o “duplo padrão”, ou seja, a adoção de critérios e exigências legais e ambientais distintos por uma mesma empresa em cada local em que atua de acordo com suas específicas regulações, punindo assim com a falta de recursos os espaços mais críticos e organizados.

Desta forma, o “prêmio” pelo engajamento da comunidade sobre as questões que a afetam seria revertido como punição pela migração de investimento para outras localidades com legislação e demandas menos rigorosas, deixando de gerar empregos e oportunidades localmente. O referido autor assevera ainda que:

Enquanto os males ambientais puderem ser transferidos para os mais pobres, a pressão geral sobre o ambiente não cessará [...]. Aí se dá a junção estratégica entre justiça social e proteção ambiental (ACSELRAD, 2010:114).

Convém registrar o conceito de justiça ambiental, que consiste na apropriação da temática do meio ambiente por dinâmicas sociopolíticas tradicionalmente envolvidas com a construção da justiça social, promoção e conservação dos direitos humanos.

Adota-se a perspectiva dos direitos ambientais como parte integrante do portfólio de direitos humanos constituídos (STEIL & TONIOL, 2013), ou seja, direitos inalienáveis, universais e, ao menos em teoria, amplamente aceitos, de forma a defender um meio ambiente mais equilibrado simultaneamente à busca por um desenvolvimento econômico mais inclusivo, equitativo, e a redução das desigualdades sociais.

Pode-se traçar um paralelo entre a justiça ambiental e a vertente ambientalista do “ecologismo dos pobres” proposta por Alier (2007), ou mais recentemente como indicado por este autor em um “manifesto” com diversos pesquisadores e movimentos sociais, com a ecologia política “bottom-up”. Em suma, o referido manifesto defende que as grandes

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questões da temática socioambiental não se originariam apenas de pesquisa científica, das normas e leis constituídas, mas do estabelecimento e atuação de grupos de pressão na própria sociedade, considerando as demandas e sugestões das comunidades locais afetadas pelas atividades econômicas.

Vale considerar que, na medida em que os riscos ambientais são diferenciados e desigualmente distribuídos, e que a comunidade em geral não é ouvida, são ocasionados os conflitos ambientais. Estes são caracterizados pela diferente valorização, posse e uso dos recursos naturais pelos diversos atores sociais, empresas, poder público, sociedade, comunidades tradicionais e do entorno de grandes empreendimentos econômicos (JENKINS, 2004; ACSELRAD, 2010; PORTO & Schutz, 2012; PORTO & FINAMORE, 2012).

Leal (2013) indica que os conflitos citados seriam originados de diferentes “condições e formas de reprodução social de indivíduos e grupos sociais”. Assevera ainda que estes imbróglios são especialmente estabelecidos em duas condições: na implementação de áreas de preservação ambiental e no caso dos empreendimentos econômicos com amplos impactos socioambientais tais como mineração, geração (e distribuição) de energia, exploração e produção de petróleo e de gás natural.

Esta temática passa a ser debatida a partir da década de 70, tendo sido capturada sobretudo na última década por autores atentos à sobrecarga desigual da água, ar e poluição do solo associados sobretudo à industrialização e práticas de consumo, atingindo especialmente minorias étnicas, indígenas, e comunidades de baixo poder aquisitivo. Isto ocasiona prejuízos à sua qualidade de vida, saúde (PORTO & Schutz, 2012; PORTO & FINAMORE, 2012; LEAL, 2013) e até mesmo condições de subsistência e sustento em alguns casos de atividades tradicionais, tais como a pesca e a agricultura, atividades estas com forte relação com a natureza e recursos naturais (DIEGUES, 2008).

Adicionalmente, é importante registrar o impacto da possibilidade de crescimento econômico e demográfico no entorno dos empreendimentos sem subsequente melhoria proporcional da infraestrutura pública (saúde, educação, transporte público), os quais afetam toda a comunidade circunvizinha ao referido projeto.

São caracterizadas diversas formas de conflitos, cujo embate provocado tem gerado movimentos de enfrentamento, contestação e pesquisa tais como o ecofeminismo,

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o racismo ambiental, o débito ecológico, a biopirataria, e o ambientalismo dos pobres, dentre outros (ALIER, 2007; ALIER et al, 2014).

Fernández (2007) contribui para o tema indicando que tais conflitos ocorrem em um período específico, de maior ou menor duração, podendo ou não resultar em oposição ao empreendimento por parte da população por ele afetada. Pode gerar amplas repercussões, quando o assunto se torna pauta pública, ou esvaziar-se rapidamente, com o prosseguimento da atividade econômica, ou seu abandono pela empresa.

Leal (2013) indica que os conflitos citados podem ser latentes, ou seja, não manifestos em razão de sua falta de consciência ou ausência de poder de pressão exercido pelas pessoas afetadas, ou externalizados, quando estes já são explícitos e compõem uma pauta da sociedade estabelecida na mídia, no setor acadêmico ou nas redes sociais.

Estudos como os de Fuenzalida e Quiroz (2012) asseveram sobre a dimensão territorial dos conflitos, relacionando-os ao acesso e uso das fontes produtivas (recursos naturais), acesso ao trabalho, perda de moradia, e mudanças nas condições econômicas, na medida em que habilidade de criar, recriar e apropriar-se dos espaços (e de seus recursos) é desigual. Estes autores alertam ainda que:

Sem dúvida alguma, o mercado aproveita a vulnerabilidade da pobreza dos territórios para fugir da denúncia e da cobrança das externalidades dos seus processos produtivos [...]A dimensão espacial da equação vulnerabilidade social + investimento estrangeiro no Chile revela câmbios territoriais de que o Estado deve compensar, tendo se limitado até o momento suas ações para reagir uma vez que ocorreu um impacto negativo sobre o meio ambiente, relegando para segundo plano impedi-lo (FUENZALIDA & QUIROZ, 2012:8).

Dentre outras, uma atividade com amplos relatos de impactos e conflitos de origem socioambiental é a atividade de exploração e produção e petróleo e gás natural. Relatam-se diversas ocorrências de violações de direitos humanos, apesar do discurso corrente de benefícios tais como geração de empregos, pagamento de impostos e desenvolvimento (FAUSTINO & FURTADO, 2013; MAIA, 2014).

Desta forma, não fica evidente se a gestão do território comum é possível como afirma a indústria (CHAVES, 2011; HERCULANO, 2012), de forma a prover uma partilha dos benefícios da instalação do projeto econômico junto às comunidades locais. Isto apresenta desafios, sobretudo para as empresas de energia, e extrativista em geral, no tratamento de seus riscos e impactos e no relacionamento com a sociedade, sobretudo a comunidade circunvizinha.

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2.3 LICENÇA SOCIAL PARA OPERAR (LSO)

Verifica-se que as comunidades locais se constituem como importante público de interesse da empresa; afinal, é onde se concentram a maior parte de seus impactos, assim como potencialmente sua mais forte oposição, o que pode ocasionar no atraso das atividades da empresa, aumento de custos, pagamento de multas, ou mesmo abandono a certos investimentos.

Para melhorar o seu relacionamento com a comunidade, a indústria extrativista, mineradora e de energia tem proposto o conceito de licença social para operar (LSO).

Lowey (2016), transcrevendo painel ocorrido em simpósio correlato ao tema no Canadá, aponta algumas questões pertinentes sobre este conceito:

Os membros do painel concordaram que a ascensão na consciência de licença social vem satisfazer diversas questões, incluindo: (...) declínio amplo de confiança do público nas autoridades institucionais (...) fragmentação global e "atomização" da sociedade; aumento da atenção mundial (...) a questões ambientais, juntamente com as preocupações sobre mudança do clima e eventos climáticos severos; globalização e um aumento significativo no uso das mídias sociais; e falta de um fórum ou processo pelo qual as pessoas preocupadas com questões políticas mais amplas, como as alterações climáticas, podem ter as suas preocupações ouvidas e significativamente abordadas (LOWEY, 2016:1).

Desta forma, a LSO constitui uma oportunidade e um problema (LOWEY, 2016), um risco não-técnico que afeta a implementação de grandes empreendimentos e obras (QUE, AWUAH-OFFEI & SAMARANAYAKE, 2015), envolvendo Estado, mercado e sociedade civil (CHESIRE, 2009; PNRO & SLOCOMBE, 2012), com o potencial de trazer incertezas e despesas adicionais à indústria.

Por outro lado, traz a oportunidade de estabelecer um relacionamento de confiança com a comunidade vizinha a suas atividades, reduzindo a potencial oposição aos projetos da indústria pela construção de uma agenda comum, e do diálogo entre as partes. Trata-se de uma licença “tácita”, intangível e informal (OWEN & KEMP, 2013), caracterizada pelo respeito da empresa com relação a questões de direitos humanos, equidade social e equilíbrio ambiental.

Em geral citam-se os seguintes motivadores dos conflitos causados por indústrias: fraco engajamento da comunidade e stakeholders; inadequada distribuição de benefícios; excessivo impacto econômico, social e ambiental; má administração dos recursos (corrupção); inadequada estrutura legal e institucional; e relutância para abordar o uso de recursos naturais nos acordos e ajustes de conduta entre empresa e poder público/sociedade (PNRO & SLOCOMBE, 2012; SING, 2014; WILSON, 2015).

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Thomsom e Boutilier (2011) indicam quatro estágios de relacionamento empresa-comunidade, partindo desde a alienação da empresa em relação ao seu entorno até a efetiva confiança da comunidade local quanto às intenções da empresa.

Inicialmente, a empresa estaria em “isolamento”, situação na qual o empreendimento se apresenta com pouca ou nenhuma possibilidade de diálogo com o seu entorno.

A etapa seguinte, na qual foi conquistada a legitimidade, seria o “aceite” da comunidade, situação em que ainda não há oposição, ou quando a mesma é pontual. Com o aumento da credibilidade, na visão de que o empreendimento é benéfico à população local, viria a sua “aprovação”.

Com aumento da confiança se alcançaria a situação desejada, quiçá utópica, de “copropriedade” (identidade psicológica), na qual a população vizinha se torna defensora do empreendimento e participante de suas decisões, com a manutenção ou melhoria de sua qualidade de vida, conforme ilustrado na Figura 05.

Figura 05 - Pirâmide da LSO

Fonte: Adaptado de Thomsom e Boutilier (2011), p. 1784

Para isso aponta-se um consenso da indústria extrativista e de energia de que se faz necessário manter uma reputação positiva, a busca pelo entendimento da cultura local, assim como sua linguagem e história, instruir a comunidade local acerca do projeto / empreendimento, assegurar consulta pública, assim como uma comunicação aberta, o mais cedo possível e de mão dupla entre todos os stakeholders (PNRO & SLOCOMBE, 2012; HANNA et al, 2016).

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Entende-se que não seria suficiente a comunicação por meio de audiência pública, sendo esta uma obrigação legal já estabelecida, demandado que esta comunicação deve ser mais participativa. Desta forma, pretende-se garantir o empowerment local na tomada de decisões, com uma efetiva discussão e debate acerca dos desafios, oportunidades, ganhos e impactos em potencial (GOULART, 2009; PNRO & SLOCOMBE, 2012; CORSCADDEN; WILE; YIRIDOE, 2012)

A comunicação prévia e efetiva, constante ao projeto, é de suma importância para o relacionamento com a opinião pública, mídia de massa e mídias sociais. Verifica-se com o advento da justiça social o consequente empoderamento de parte das populações em vulnerabilidade social e situação de pobreza. Ou de agentes representativos ou solidários de seus problemas com poder de influência, tais como organizações não governamentais e órgãos reguladores (MAIA, 2014), ou até mesmo acionistas e investidores.

O referido empoderamento decorre muitas vezes da utilização de protestos como forma de ação política, reduzindo o desnível de poder existente e alterando a vantagem dos “oponentes”, em geral empresas, com maior poder econômico, ou poder público, com maior poder deliberativo.

Neste sentido Hanna, Vanclay, Langdon e Arts (2016) apontam mais de duzentos termos em um glossário de ativismo em prol da LSO, incluindo mecanismos como investimento ativista (comprar ações da companhia para intervir em suas decisões), advocacy4, lobbying, flashmob (coreografias coletivas para chamar a atenção de um evento ou causa), hacking (interrupção de recursos de informática), uso do humor como forma de protesto, greve de fome, petições online (tais como os coletivos Avaaz, Change, e MeuRio), publicações acadêmicas, vandalismo, tweeting, memes, dentre outros.

Todos estes constituem basicamente de mecanismos para conquista da opinião pública por meio da mídia de massa ou das redes sociais visando influenciar os tomadores de decisão, conforme ilustrado na Figura 06.

Figura 06 - Mecanismos pelos quais protesto social, e sua influência nos tomadores de decisão

4Intervenção política de um indivíduo ou organização com o objetivo de influenciar a formulação de políticas ou a alocação de recursos públicos de forma a promover a mobilização civil e a ação coletiva em defesa dos interesses que defendem.

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Fonte: Hanna et al (2016), p. 219

Em comum estes mecanismos coincidiriam em sete funções: 1) informar, 2) captar recursos, 3) dar publicidade, 4) mobilizar, 5) construir solidariedade para uma causa, 6) estabelecer pressão política, ou 7) exercer ação direta (desobediência civil, como bloqueios de estradas, e greves). Todos estes com potencial de gerar prejuízos para os empreendimentos econômicos que se tornam alvo de suas ações, podendo ocasionar o boicote de produtos ou mesmo o abandono de certos investimentos.

Ao mesmo tempo em que estes autores apoiam o ativismo “bem feito”, é digno de crítica “ativistas que fazem muito barulho, mas não oferecem qualquer solução” (LOWEY, 2016), reiterando desta forma que o diálogo deve estar aberto em ambas as direções, empresa e sociedade, em prol do estabelecimento de soluções conjuntas (VIANNA, 2013).

É importante ressaltar como mecanismos da licença social, além da comunicação já citada, a transparência, o desenvolvimento de mecanismos de resolução de conflitos, e a participação democrática no processo decisório, deixando a indústria de legitimar-se somente na esfera econômica e acrescentando legitimidade sociopolítica. Esta última ocorre através da participação da comunidade e dos diferentes públicos de interesse, sejam lideranças ou mesmo vozes dissonantes na comunidade, gerando confiança interacional por um debate de mão dupla (empresa>comunidade e comunidade>empresa) e culminando na confiança institucionalizada. São os chamados “quatro níveis de LSO”. Olivos (2015) identifica dimensões de desempenho econômico e social de um projeto de investimento industrial, alertando que a sociedade:

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(...) não deve aceitar a geração de emprego como o único precedente que faz com que seja possível atuar moral e corretamente, que exige mais e melhor regulamentação como salvaguarda (OLIVOS, 2015:8).

O autor, assim como Marsico (2008) vão além, indicando desde as ofertas mais básicas da empresa, de geração e empregos, objetivos econômicos tais como lucros para a empresa, impostos e taxas para o poder público, propondo ainda a prática da filantropia para apoio a causas sociais e ambientais, e até mesmo o atendimento às normas da comunidade (local), e àquelas estabelecidas e/ou consensuadas na sociedade mais ampla, na nação ou mesmo internacionalmente. O Quadro 02 ilustra essas duas dimensões e seus desdobramentos

Quadro 02 – Metas possíveis da LSO Dimensões de

Desempenho Variáveis Dimensões Definição

Econômico Capacidades Utilidades Capacidade de gerar utilidades.

Competências Capacidade de alcançar seus objetivos econômicos.

Social

Benevolência

Contratação Contratação de membros da comunidade.

Filantropia Doação de recursos para obras sociais para a comunidade.

Diálogo Frequência de espaços de comunicação entre a empresa e a comunidade.

Integridade

Micronormas

Respeito às normas do contrato social estabelecidas pela própria comunidade através da tradição e dos costumes.

Hipernormas

Respeito às normas do contrato social que vão além da comunidade e devem ser seguidas pela sociedade como um todo.

Fonte: Olivos (2015)

Em termos de rotinas para o alcance e manutenção da LSO, Boutilier e Thomsom (2011) propõem que se começa com a estratégia da empresa, e a incorporação na mesma dos subsídios dos diversos stakeholders, suas demandas, impactos, sugestões e críticas. Isso de forma estruturada, indo além da simples consulta das lideranças já constituídas na comunidade local, buscando também as vozes críticas, e suas contribuições ao processo.

Verifica-se assim um processo contínuo partindo da legitimidade, situação de baixo capital social auferido, ou seja, baixa confiança, passando pela credibilidade e culminando na confiança total, conforme Figura 07, situação em que a empresa estabelece um “legado” na comunidade (TESCHNER, 2013), nos limites de poder de influência e responsabilidade da empresa.

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Figura 07 - Construção de capital social, para obter um maior nível de licença social

Fonte: Boutilier e Thomsom (2011), p. 1782

Os autores Que, Awuah-Offei e Samaranayake (2015) vão além e propõem quatro dimensões de avaliação da LSO, a saber:

1. Social: considera as mudanças populacionais ocasionadas, melhoria (ou piora) de infraestrutura, impactos culturais, e potencial aumento da criminalidade e do tráfego; 2. Econômica: enfoca em oportunidades de emprego, elevação da renda, valorização e

especulação imobiliária, e a escassez de mão-de-obra para outras ocupações;

3. Ambiental: leva em conta a poluição sonora gerada pelo empreendimento (em sua implementação e após), além da escassez ou contaminação da água e da terra, e a poluição do ar; e por fim

4. Governança e outras: tomada de decisão sobre licenças e permissões para operação o projeto, disponibilidade e transparência de informações, impactos do

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empreendimento com foco nas comunidades circunvizinhas ao negócio e na sociedade em geral, e vida útil do projeto em questão.

Measham, Fleming e Schandl (2015) propõem, ainda neste sentido avaliativo, três níveis de impactos socioeconômicos relativos aos empreendimentos da indústria extrativista, ilustrados na Figura 08.

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