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Ref.: Ataque à comunidade Guarani e Kaiowá Ñande Ru Marangatú e assassinato do jovem Semião Vilhalva.

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Rua 19, n° 35, Ed. Dom Abel, sala 02, Centro - CEP: 74030-090 - Goiânia/GO - Brasil Goiânia e Heidelberg, 02 de setembro de 2015 Senhora

Dilma Rousseff

Presidenta da República Federativa do Brasil

Palácio do Planalto, Praça dos Três Poderes, Brasília – DF

Ref.: Ataque à comunidade Guarani e Kaiowá Ñande Ru Marangatú e assassinato do

jovem Semião Vilhalva.

Excelentíssima Senhora Presidenta:

Receba as saudações da FIAN Internacional, uma organização de Direitos Humanos que trabalha pela realização do direito à alimentação e nutrição adequadas há cerca de 30 anos. O nosso Secretariado Internacional tem sede em Heidelberg, Alemanha. Contamos com seções e coordenações nacionais em 20 países por todo o mundo, incluindo o Brasil. A FIAN tem status consultivo ante a Organização dos Estados Americanos e das Nações Unidas, incluindo representação permanente em Genebra. A Seção Brasileira da FIAN Internacional e o próprio Secretariado Internacional acompanham, desde 2005, a situação das comunidades indígenas Guarani e Kaiowá do Estado de Mato Grosso do Sul.

O propósito desta carta é expressar nossa profunda preocupação com o ataque contra a comunidade Guarani e Kaiowá Ñande Ru Marangatú, que culminou com a

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Rua 19, n° 35, Ed. Dom Abel, sala 02, Centro - CEP: 74030-090 - Goiânia/GO - Brasil morte de jovem Semião Vilhalva de 24 anos e outros feridos; dentre eles, uma criança de um ano de idade atingida por bala de borracha1.

No dia 29 de agosto, cerca de cem fazendeiros armados e com coletes à prova de balas, em quarenta caminhonetes, se dirigiram à Fazenda Barra2, com o propósito de expulsar, de maneira ilegal, os Guarani e Kaiowá do seu território ancestral.

No dia 30 de agosto, o caixão com o corpo do jovem Semião Vilhalva foi entregue à comunidade por um motorista terceirizado da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai)3.

A terra indígena Ñande Ru Marangatú foi homologada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 28 de março de 2005, mas o processo foi suspenso por meio de uma liminar concedida pelo então Ministro do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, no mesmo ano de 2005 (MS nº 25463). Desde então, o processo aguarda julgamento e atualmente está sob a relatoria do Ministro Gilmar Mendes.

A comunidade de Ñande Ru Marangatú tem sido afetada, nos últimos 10 anos, pelo uso protelatório de ações judiciais, que visam impedir a execução do decreto de homologação, o qual foi emitido segundo o ordenamento jurídico brasileiro. Os recursos judiciais e a morosidade em seu julgamento têm causado a violação do direito dos povos indígenas ao seu território e à alimentação adequada. Em razão da demora de 10 anos para o julgamento, pelo STF, do Mandado de Segurança nº 25463, a comunidade decidiu, em 23 de agosto deste ano, ocupar as áreas que se sobrepõem ao seu Tekoha Ñande Ru Marangatú. Foi esta reocupação que gerou o ataque do dia 29 de agosto.

1

- CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO. Nota Pública. Disponível em: http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&action=read&id=8297 . Acesso em: 31 de ago. 2015.

2

-CORREIO DO ESTADO. Notícias. Disponível em:

http://www.correiodoestado.com.br/cidades/autoridades-confirmam-morte-de-indigena-em-area-de-conflito-no/256339. Acesso em: 31 de agos.205.

3

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO. Nota Pública. Disponível em: http://www.cimi.org.br/site/pt-br/?system=news&action=read&id=8297. Acesso em: 31 de ago.2015.

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Rua 19, n° 35, Ed. Dom Abel, sala 02, Centro - CEP: 74030-090 - Goiânia/GO - Brasil Importante registrar que foi noticiado pela imprensa local, Dourados News4, que na data de 29 de agosto, pela manhã, houve reunião na sede da Federação de Agricultura de Mato Grosso do Sul (FAMASUL), na cidade de Antônio João. Desta reunião participaram produtores rurais, o Deputado Luis Henrique Mandetta (DEM), a Deputada Tereza Cristina (PSDB) e o Senador Valdemir Moca (PMDB). Logo após a reunião, cerca de cem pessoas, armadas e com coletes a prova de balas, em quarenta caminhonetes, se dirigiram para expulsar a comunidade.

Este fato é forte indício de que estão organizados representantes do poder público junto a particulares detentores de grande poder econômico, para a realização de atos ilícitos. Esses atos visam barrar o direito ao território que foi constitucionalmente reconhecido aos indígenas do Brasil e se constituem em reação criminosa a exigibilidade dos direitos das comunidades indígenas.

Desde a suspensão do processo de demarcação pelo STF, os indígenas que lutam pelas suas terras, há mais de quatro décadas, continuam sem direito ao seu território, nos termos que lhe garante a Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Vivem, portanto, em situação de marginalização e dentro de um quadro gravíssimo de violações de todos os seus direitos fundamentais em razão da ação e omissão do Estado Brasileiro.

É importante também registrar que, recentemente, em decisão ainda não publicada do STF no MS nº 31245, o Plenário do Supremo Tribunal Federal entendeu que o Mandado de Segurança não é a via adequada para discutir demarcação de terras indígenas.

Nesse contexto, o Estado Brasileiro não pode continuar descumprindo obrigações internacionais previstas em tratados de direitos humanos, como, por

4 DOURADOS NEWS. Notícias. Disponível em:

http://www.douradosnews.com.br/noticias/cidades/revoltada-presidente-de-sindicato-deixa-reuniao-e-diz-que-vai-retomar-terra-invadida. Acesso em 31 de ago.2015.

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Rua 19, n° 35, Ed. Dom Abel, sala 02, Centro - CEP: 74030-090 - Goiânia/GO - Brasil exemplo, o Pacto Internacional de Direitos Econômicos Sociais e Culturais, a Convenção Americana de Direitos Humanos, a Convenção 169 da OIT, entre outros. Em particular, perpetuando as violações do direito ao território, que é constitucionalmente reconhecido. Assim, em razão dos fatos expostos, a Fian Brasil e o Secretariado Internacional da FIAN requerem aos três poderes do Estado brasileiro:

Ao Poder Executivo:

a) Que sejam garantidas ações emergenciais de respeito, proteção, promoção e provimento de direitos fundamentais como saúde, alimentação, água, moradia, educação e segurança., até a data em que lhes seja efetivamente garantido o seu direito ao território;

b) Que sejam aceleradas as ações necessárias para conclusão definitiva do processo de demarcação da T.I Nhanderu Marangatu e de outras Terras Indígenas do Estado, para que não se repitam casos de violência como o que vimos em Ñande Ru Marangatu;

c) Que se crie uma força tarefa para investigar o ocorrido, identificar os autores e partícipes do assassinato do jovem indígena Semião Vilhalva e garantir a punição exemplar de todos responsáveis pelos atos de violência contra a comunidade Ñande Ru Marangatú, ocorridos no dia 29 de agosto.

Ao Poder Judiciário:

d) Que o STF julgue o Mandado de Segurança nº 25463, pendente de julgamento há 10 anos;

e) Que o mandado de segurança não seja aceito como instrumento para discussão de processos demarcatórios de terras indígenas;

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Rua 19, n° 35, Ed. Dom Abel, sala 02, Centro - CEP: 74030-090 - Goiânia/GO - Brasil Ao Congresso Nacional:

f) Que apure a participação e envolvimento de Deputados Federais e Senadores no ataque realizado no dia 29.08, no Município de São João/MS, contra a comunidade Ñande Ru Marangatú e adote as medidas adequadas.

Atenciosamente,

Marcelo Brito dos Santos

Diretor Presidente da FIAN Brasil

Flávio Valente

Secretário Geral da FIAN Internacional

Com cópia para:

Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo

Presidente da FUNAI

João Pedro Gonçalves da Costa

Presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça Ricardo Lewandowski

Relatores das Nações Unidas sobre povos indígenas, defensores de DDHH e Alimentação

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