Universidade Federal de Sergipe
Centro de Ciˆ
encias Exatas e Tecnologia
Programa de P´
os-Gradua¸
c˜
ao em Matem´
atica
Curso de Mestrado em Matem´
atica
O n´
umero graduado de Betti
por
Jos´
e ´
Everton de Jesus Rezende
2013
Universidade Federal Sergipe
Centro de Ciˆ
encias Exatas e da Tecnologia
Programa de P´
os-Gradua¸
c˜
ao em Matem´
atica
Curso de Mestrado em Matem´
atica
O n´
umero graduado de Betti
por
Jos´
e ´
Everton de Jesus Rezende
sob a orienta¸c˜ao do
Prof
o. Dr. Andr´
e Vinicius Santos D´
oria
Disserta¸c˜ao apresentada ao Corpo Docente do Programa de P´os-Gradua¸c˜ao em Matem´atica - PROMAT - UFS, como requisito parcial para obten¸c˜ao do t´ıtulo de Mestre em Matem´atica.
Dezembro/2013 S˜ao Cristov˜ao - SE
Sum´
ario
1 Preliminares 3
1.1 An´eis noetherianos . . . 3
1.2 M´odulos . . . 4
1.3 An´eis e m´odulos graduados . . . 7
1.4 Um breve apanhado homol´ogico . . . 9
1.5 O espa¸co projetivo Pn . . . . 12
2 Resolu¸c˜oes Livres e Fun¸c˜ao de Hilbert 14 2.1 Contribui¸c˜oes de Hilbert . . . 14
2.1.1 O Estudo de siz´ıgias . . . 14
2.1.2 O Polinˆomio de Hilbert . . . 18
2.2 Resolu¸c˜ao livre minimal . . . 20
2.2.1 Descrevendo resolu¸c˜ao atrav´es do diagrama de Betti . . . 24
2.2.2 N´umero Graduado de Betti . . . 25
3 Exemplos de Resolu¸c˜oes Livres 28 3.1 Ideais monomiais e complexos simplicial . . . 28
3.1.1 Complexo simplicial . . . 28
3.1.2 Representa¸c˜ao monomial . . . 29
3.2 Siz´ıgias de ideais monomiais . . . 31
3.2.1 Exemplos . . . 33
3.3 Uma cota superior para os n´umeros de Betti e prova do teorema de Hilbert das siz´ıgias . . . 35
4 Pontos em P2 37 4.1 O ideal de um conjunto finito de pontos . . . 37
4.1.2 Invariantes da resolu¸c˜ao . . . 43
4.2 Exemplos . . . 47
4.2.1 Pontos em uma conica . . . 47
4.2.2 Quatro pontos n˜ao colineares . . . 50 4.3 A existˆencia de conjuntos de pontos com invariantes num´ericos prescritos 52
Resumo
Esta disserta¸c˜ao tem como objetivo um estudo detalhado da fun¸c˜ao de Hilbert e do n´umero graduado de Betti e as demonstra¸c˜oes de alguns teoremas que relacionam essas duas teorias. Faremos tamb´em um breve apanhado sobre resolu¸c˜oes livres mi-nimais e complexo simplicial para demonstrar o teorema de Bayer, Peeva e Sturmfels e por fim e n˜ao menos importante concluiremos com o seguinte resultado: dado um ideal J exibiremos um conjunto X ⊂ P2 tal que a resolu¸c˜ao minimal do ideal de defini¸c˜ao de X tenha o mesmo diagrama de Betti da resolu¸c˜ao minimal de J .
Palavras - chave: n´umero graduado de Betti; invariantes num´ericos; fun¸c˜ao de Hilbert.
Abstract
This dissertation aims at a detailed study of the Hilbert function and graded Betti number and the statements of some theorems that relate these two theories. We will also a brief overview on free resolutions and minimal simplicial complex to demonstrate the theorem of Bayer, Sturmfels and Peeva and then, we will conclude with the following result: given an ideal J we will display a set X ⊂ P2 such that the minimal resolution the ideal of definition of X has the same Betti diagram of the minimal resolution of J.
Introdu¸
c˜
ao
Esta disserta¸c˜ao tem como metas a serem atingidas a apresenta¸c˜ao da no¸c˜ao de siz´ıgia e da fun¸c˜ao de Hilbert as quais relacionamos com os n´umeros graduado de Betti para descobrir algumas de suas propriedades. Essa teoria ´e um t´opico cl´assico e fun-damental da ´algebra comutativa e da geometria alg´ebrica, justificando a abordagem do tema.
Uma das motiva¸c˜oes desta disserta¸c˜ao ´e a inexistˆencia de referˆencias sobre o as-sunto na literatura em portuguˆes. Al´em disso, a mera transcri¸c˜ao do conte´udo de referˆencia not´avel, tal como a de [Eisenbud 2002], n˜ao seria poss´ıvel em uma dis-serta¸c˜ao de mestrado. Nosso desafio foi o de repensarmos a teoria, em muitos detalhe al´em do usual, de modo a darmos um formato pr´oprio, adequando `a detec¸c˜ao dos principais resultados.
Usamos como principal referˆencia o livro [Eisenbud 2002]. Outras referˆencias muito usadas nesta disserta¸c˜ao far˜ao [Bayer et al. 1998] e [Bruns and Herzog 1998] entre outras.
Este trabalho est´a dividido em quatro cap´ıtulos. No primeiro teremos as prelimi-nares, com o intuito de fornecer alguns conceitos essenciais para melhor compreens˜ao desta disserta¸c˜ao. Nesta parte fazemos uma revis˜ao sucinta, sem demonstra¸c˜oes, de an´eis e m´odulos graduados, an´eis noetherianos, homologia, o espa¸co projetivo Pn e
para o texto n˜ao ficar exaustivo faremos alguns exemplos sobre tais conceitos. No segundo cap´ıtulo, iniciamos com a teoria de siz´ıgias e da fun¸c˜ao de Hilbert, juntamente com o teorema de Hilbert das siz´ıgias. Dando continuidade, definiremos resolu¸c˜oes minimal, demonstramos o lema de Nakayama e enunciaremos o teorema de unicidade de uma resolu¸c˜ao livre minimal os quais serviram como suporte para as demonstra¸c˜oes de alguns resultados, em seguida come¸caremos a trabalhar com os n´umeros de Betti, com o intuito de construir uma rela¸c˜ao com a fun¸c˜ao de Hilbert.
J´a no terceiro cap´ıtulo, construiremos um complexo de m´odulos por meio de com-plexo simplicial e estabeleceremos um crit´erio para saber quando este complexo ´e uma
resolu¸c˜ao minimal e em seguida faremos alguns exemplos.
No ´ultimo cap´ıtulo, trabalharemos com pontos em Pna fim de exibir um conjunto X em Pn, de modo que a resolu¸c˜ao minimal do ideal I(X) formado pelas formas que se anulam em X tenha o mesmo diagrama de Betti do que a resolu¸c˜ao minimal de um ideal dado.
Esperamos proporcionar ao leitor um material de f´acil entendimento e de leitura envolvente, que seja capaz de incit´a-los a buscar mais sobre este assunto, que tanto nos cativou.
Cap´ıtulo 1
Preliminares
Enunciaremos alguns resultados importantes que ser˜ao necess´arios para uma me-lhor compreens˜ao desta disserta¸c˜ao.
Observamos que nesse trabalho a palavra anel significar´a anel comutativo com identidade.
1.1
An´
eis noetherianos
A propriedade noetheriana ´e central na teoria dos an´eis e em ´areas que utilizam de forma intensiva o conceito de an´eis, como a ´algebra comutativa, a geometria alg´ebrica e a teoria de singularidades. A raz˜ao para isto ´e que a propriedade noetheriana ´e um conceito de finitude que mant´em sobre controle diversos aspectos na teoria de an´eis. Defini¸c˜ao 1.1.1. Dizemos que um anel S ´e noetheriano quando todo ideal de S ´e finitamente gerado.
Exemplo 1.1.2. Um corpo ´e um anel noetheriano, pois os ´unicos ideais s˜ao h0i e h1i.
Exemplo 1.1.3. Todo dom´ınio de ideais principais ´e noetheriano. Em particular, o anel dos n´umeros inteiros Z e o anel de polinˆomios sobre um corpo em uma vari´avel K[x] s˜ao noetherianos.
Caracteriza¸c˜oes alternativas para a no¸c˜ao de anel noetheriano s˜ao dadas pelo seguinte teorema
(1) S ´e noetheriano;
(2) Toda cadeia de ideais I1 ⊆ I2 ⊆ I3 ⊆ · · · , estabiliza, isto ´e, existe um k ∈ N tal
que Ik = Ij para j ≥ k.
(3) Toda fam´ılia n˜ao-vazia de ideais de S admite elemento maximal na fam´ılia.
Mediante a condi¸c˜ao (2) fica f´acil argumentar que dado um anel S, o anel S[x1, . . . , xn, . . .]
n˜ao ´e noetheriano pois a cadeia de ideais
hx1i ⊂ hx1, x2i ⊂ · · · ⊂ hx1, x2, . . . , xni ⊂ · · ·
n˜ao estabiliza.
Uma maneira prof´ıcua de criar exemplos de an´eis noetherianos ´e atrav´es do c´elebre Teorema da Base de Hilbert o qual enunciamos logo abaixo.
Teorema 1.1.5. (Teorema da base de Hilbert (1890)) Se S ´e um anel noetheriano, ent˜ao o anel de polinˆomios em uma vari´avel S[x] ´e noetheriano.
Utilizando o Teorema da base de Hilbert recursivamente tem-se:
Corol´ario 1.1.6. Se S ´e um anel noetheriano, ent˜ao S[x1, . . . , xn] ´e noetheriano.
Em particular, se K ´e um corpo ent˜ao K[x1, . . . , xn] ´e noetheriano.
1.2
M´
odulos
Um dos conceitos mais importantes da ´algebra moderna ´e o conceito de m´odulo. No caso em que S ´e um corpo, temos que um S-m´odulo ´e um S-espa¸co vetorial. Dentro desse ponto de vista podemos dizer, a grosso modo, que a no¸c˜ao de m´odulo ´e uma generaliza¸c˜ao da no¸c˜ao de espa¸co vetorial. Contudo, em geral, as propriedades de m´odulos s˜ao diferentes das propriedades de espa¸co vetorial.
Defini¸c˜ao 1.2.1. Sejam S anel e M um conjunto n˜ao vazio. Dizemos que M ´e um S-m´odulo quando existe duas opera¸c˜oes
+ : M × M −→ M
(x, y) 7−→ x + y e
• : S × M −→ M (a, x) 7−→ a • x
(1) a • (x + y) = a • x + a • y; (2) (a + b) • x = a • x + b • x; (3) (a • b) • x = a • (b • x); (4) 1 • x = x.
Defini¸c˜ao 1.2.2. Sejam M um S-m´odulo e N um subconjunto de M . Dizemos que N ´e subm´odulo de M quando N for um subgrupo aditivo de M e fechado em rela¸c˜ao a multiplica¸c˜ao por elementos de S.
Sejam M um S-m´odulo e X um subconjunto n˜ao vazio de M. O conjunto N = {x1a1+ x2a2+ . . . + xkak| xi ∈ X, ai ∈ S para cada i}
´
e um subm´odulo de M , e ´e chamado de subm´odulo gerado pelo conjunto X. Se M = N , ent˜ao dizemos que X ´e um conjunto de geradores de M . Se M admite um conjunto finito de geradores, dizemos que ele ´e um m´odulo finitamente gerado.
Tamb´em temos a defini¸c˜ao de m´odulos noetherianos
Defini¸c˜ao 1.2.3. Um S-m´odulo M ´e dito noetheriano se todo subm´odulo de M ´e finitamente gerado.
Proposi¸c˜ao 1.2.4. Seja M um S-m´odulo finitamente gerado. Se S ´e noetheriano ent˜ao M ´e noetheriano.
Um ponto crucial em que a no¸c˜ao de m´odulo distingue-se da de espa¸co vetorial ´e com rela¸c˜ao a existˆencia de base (i.e., conjunto gerador e linearmente independente). Mesmo que o m´odulo seja finitamente gerado pode ocorrer dele n˜ao possuir uma base (ver Exemplo 1.2.7). Por conta disso, faz sentido considerarmos a seguinte defini¸c˜ao. Defini¸c˜ao 1.2.5. Dizemos que um S-m´odulo M ´e um m´odulo livre se ele tem uma base.
Exemplo 1.2.6. Se S ´e um anel, ent˜ao Sncom a soma e o produto definido de forma usual, ´e um m´odulo livre sobre S.
Exemplo 1.2.7. Seja S := Z[√−5] = {a + b ·√−5 | a, b ∈ Z} e considere o ideal I gerado por 3 e 2+√−5. Sabemos que um elemento de I ´e da forma u·3+v ·(2+√−5), com u, v ∈ S. Note que para quaisquer dois elementos n˜ao nulos x, y ∈ I, temos
x · y + (−y) · x = 0
isto ´e, estes dois elementos n˜ao s˜ao linearmente independentes. Dessa forma, se I fosse livre, ele teria que ter uma base constitu´ıda de um elemento, ou seja, I deve ser principal. Mas veja que I n˜ao ´e principal. Considere o mapa ϕ : S −→ Z dado por ϕ(a + b√−5) = a2+ 5b2.
Assim, a + b√−5 = 1 se e somente se ϕ(a + b√−5) = ϕ(1) ,ou seja, a2 + 5b2 = 1
que tem como solu¸c˜ao a = 1 e b = 0.
Agora suponha que I seja um ideal principal. Ent˜ao, existe f ∈ I tal que I = f S. Vamos primeiro eliminar o caso em que f ´e uma unidade, isto ´e, S = I.
Suponhamos por contradi¸c˜ao que S = I. Se considerarmos que S ' Z[X]
(X2+5), ent˜ao
I corresponde ao ideal (3, 2+X)/(X2+5) de modo que se I = S, seguiria (3, 2+X) =
Z[X]. Escreva 1 = g(X) · 3 + h(X) · (2 + X), para g(X), h(X) ∈ Z. Se n´os definirmos X = −2, teremos que 1 = g(−2) · 3 em Z, o que ´e uma contradi¸c˜ao. Logo, segue que I 6= S, ou seja, f n˜ao ´e uma unidade em S.
Escrevendo 3 = f s , para s ∈ S, temos 9 = ϕ(3) = ϕ(r)ϕ(f ), como ϕ(f ) 6= 1, ent˜ao ϕ(r) = 3 ou ϕ(r) = 1. O primeiro caso n˜ao pode acontecer pois a equa¸c˜ao 3 = a2+ 5b2 n˜ao possui solu¸c˜ao em Z.
Se ϕ(r) = 1, ent˜ao r 6= 1, o que nos d´a I = 3S. Mas ent˜ao podemos escrever 2 +√−5 = (a +√−5) · 3 em S, e isto claramente n˜ao ´e poss´ıvel. Ent˜ao, mostramos que I n˜ao ´e um ideal principal, e desta forma, n˜ao pode ser um S-m´odulo livre.
Um enfraquecimento da no¸c˜ao de m´odulo livre ´e dado da seguinte maneira: Defini¸c˜ao 1.2.8. Um S-m´odulo M ´e chamado projetivo se ele ´e um somando direto de algum S-m´odulo livre.
A no¸c˜ao de m´odulo livre e projetivo se confundem em algumas situa¸c˜oes especiais. Exemplo desse fenˆomeno ´e dado pelo seguinte resultado.
Teorema 1.2.9. Se (S, m) ´e anel local ent˜ao todo S-m´odulo projetivo ´e livre.
Defini¸c˜ao 1.2.10. Sejam M e N S-m´odulos e ϕ : M → N uma fun¸c˜ao. Dizemos que ϕ ´e um homomorfismo de S-m´odulos quando, para todo a ∈ S e x, y ∈ M temos
(1) ϕ(x + y) = ϕ(x) + ϕ(y); (2) ϕ(a • x) = a • ϕ(x).
Exemplo 1.2.11. Seja M um S-m´odulo e defina ϕ : M −→ M dada por ϕ(x) = ax onde a ∈ S. Verificaremos que ϕ ´e um homomorfismo.
(1) Sejam x, y ∈ M e a ∈ S. Temos,
ϕ(x + y) = a • (x + y) = a • x + a • y = ϕ(x) + ϕ(y);
(2) Seja b ∈ S. Temos
ϕ(b • x) = b • a • x = b • ϕ(x).
1.3
An´
eis e m´
odulos graduados
Dado um anel S considere o anel de polinˆomios S[x1, . . . , xn]. Os elementos de
S[x1, . . . , xn] da forma xα1 1 x α2 2 · · · x αn n ,
com α1, . . . , αn∈ N e α1+ . . . + αn = d s˜ao chamados monˆomios de grau d. Definamos
S[x1, . . . , xn]d como sendo o S-m´odulo livre gerado por todos os monˆomios de grau
d. ´E fato que o anel de polinˆomios S[x1, . . . , xn] admite a seguinte decomposi¸c˜ao em
soma direta
S[x1, . . . , xn] =
M
d∈Z
S[x1, . . . , xn]d.
Veremos nesta se¸c˜ao que uma tal decomposi¸c˜ao pode ser estendida para outros an´eis e m´odulos.
Defini¸c˜ao 1.3.1. Dizemos que um anel S, n˜ao nulo, ´e Z-graduado, quando existe uma fam´ılia {Sn}n∈Z de subgrupos aditivos de S, satisfazendo:
(1) S =M
n∈Z
Sn;
(2) Si· Sj ⊂ Si+j ∀ i, j ∈ Z.
Um elemento homogˆeneo de S de grau i ´e simplesmente um elemento de Si. Um
Exemplo 1.3.2. Sejam S = K[x1, x2, x3] e I = hx21 + x1x3, x33, x41− x1x2x23+ x32x3i.
Como os geradores s˜ao polinˆomios homogˆeneos de grau 2, 3 e 4 respectivamente, temos por defini¸c˜ao que I ´e homogˆeneo.
Observa¸c˜ao 1.3.3. Note que,
(1) Para todo i o zero de S ´e um elemento homogˆeneo de grau i; (2) Todo elemento de S ´e uma soma finita de elementos homogˆeneos; (3) S0 ´e um subanel de S, logo Sn ´e S0-m´odulo ∀n ∈ Z.
No caso de um anel de polinˆomios S = K[x1, . . . , xn] tamb´em chamamos os
po-linˆomios homogˆeneos de grau d de formas de grau d.
Defini¸c˜ao 1.3.4. Um ideal monˆomial I em um anel S ´e um ideal gerado por monˆomios em S.
Exemplo 1.3.5. Sejam S = K[x1, x2, x3, x4] e I = hx42, x1x23, x2i. Ent˜ao I ´e um ideal
monˆomial. ´
E imediato a partir da defini¸c˜ao que um ideal monˆomial ´e tamb´em um ideal homogˆeneo.
Dado um anel Z-graduado S = M
n∈Z
Sn, podemos definir ideais graduados. Dizemos
que I ´e um ideal graduado se I =M
n∈Z
In, onde In= Sn∩ I.
A conex˜ao entre ideais homogˆeneos e graduados ´e dada pelo seguinte teorema. Teorema 1.3.6. Seja I um ideal de S. Ent˜ao I ´e homogˆeneo se e somente se I ´e graduado com a gradua¸c˜ao In= Sn∩ I.
O anel quociente S
I de um anel graduado S por um ideal graduado I ´e natural-mente um anel graduado. Escrevendo
S = S0⊕ S1⊕ · · · e I = I0 ⊕ I1⊕ · · · temos S I = S0 I0 ⊕S1 I1 ⊕ · · · .
Onde I ´e um ideal monˆomial e cada In ´e a parte monˆomial de I de grau n. Mais
ainda, cada Sn In
´
e a classe de equivalˆencia de grau n em S I.
Exemplo 1.3.7. Sejam S = K[x, y] e I = hxy2, x2i um ideal monˆomial em S. Ent˜ao
I = M
i
Ii, logo, I0 ´e formado pelos monˆomios de I que s˜ao de grau 0. Portanto,
I0 = ∅. Similarmente, I1 ´e formado pelos monˆomios de I de grau 1, assim, I1 = ∅.
Mais ainda, I2 ´e gerado por x2 em K. Tamb´em, I3 ´e gerado por {x3, x2y, xy2} em K.
Podemos calcular Sn In
. Como S0 = h1i, temos
So
I0
= h1i, onde 1 representa a classe de equivalˆencia do elemento 1. Similarmente, S1 = hx, yi. Assim,
S1
I1
= hx, yi. Tamb´em, S3 = hx3, x2y, xy2i, portanto,
S3
I3
= hy3i. E assim por diante.
A generaliza¸c˜ao da no¸c˜ao de an´eis graduados para m´odulos ´e bastante natural Defini¸c˜ao 1.3.8. Seja S um anel graduado, dizemos que M ´e um S-m´odulo graduado se:
1. M =M
i∈Z
Mi;
2. Si· Mj ⊂ Mi+j para todo i, j ∈ Z.
Os elementos de Md s˜ao chamados de elementos homogˆeneos de grau d. Por
defini¸c˜ao temos que qualquer elemento x ∈ M pode ser escrito como uma soma finita de elementos homogˆeneos xi ∈ Mi. Os elementos xi s˜ao chamados de componentes
homogˆeneas de grau i de x.
1.4
Um breve apanhado homol´
ogico
Abordaremos alguns aspectos sobre homologia para que possamos em alguns casos identificar se um complexo de m´odulos ´e uma resolu¸c˜ao.
Defini¸c˜ao 1.4.1. Seja S um anel arbitr´ario. Um complexo F ´e uma sequˆencia de S-m´odulos e homomorfismos F : · · · −→ Fi+1 ϕi+1 −→ Fi ϕi −→ Fi−1−→ · · ·
Se todos os Fi do complexo F acima s˜ao livres, dizemos que F ´e um complexo
livre.
Dado um complexo, uma das maneiras mais ´obvias de se obter um novo complexo ´
e atrav´es da seguinte defini¸c˜ao:
Defini¸c˜ao 1.4.2. Seja F um complexo. Se Fn0 ⊂ Fn, ∀n ´e uma sequˆencia de subgrupos
tal que ϕn(Fn0) ⊂ F
0
n−1 para todo n, ent˜ao
· · · → Fi+10 ϕ 0 i+1 → Fi0 ϕ 0 i → · · · onde ϕ0i = ϕi|F0 i ´
e um complexo, chamado de subcomplexo do complexo F .
Note que, a condi¸c˜ao ϕi◦ ϕi+1 = 0 ´e equivalente a Imϕi+1 ⊂ ker ϕi, isso mostra
que ker (ϕi)/Im(ϕi+1) est´a bem definido. Portanto, faz sentido a seguinte defini¸c˜ao.
Defini¸c˜ao 1.4.3. A homologia do complexo F em Fi ´e definida como sendo
HiF := ker (ϕi)/Im (ϕi+1).
Defini¸c˜ao 1.4.4. O complexo F ´e dito exato em Fi quando HiF = 0. No caso de F
ser exato em todos os Fi, dizemos que F ´e um complexo exato.
Dizer que HiF = 0 ´e equivalente a escrever ker (ϕi)/Im (ϕi+1) = 0, isto ´e,
Im ϕi+1 = ker ϕi. Desta maneira, supor que F ´e exato em Fi ´e o mesmo que ter
Im ϕi+1 = ker ϕi.
Defini¸c˜ao 1.4.5. Uma resolu¸c˜ao de um S-m´odulo M ´e um complexo F : · · · −→ Fn
ϕn
−→ · · · −→ F1 ϕ1
−→ F0
de S-m´odulos tal que Coker ϕ1 = M e F ´e exata.
Em alguns momentos iremos acrescentar o m´odulo M a resolu¸c˜ao F , ou seja, F : · · · −→ Fn
ϕn
−→ · · · −→ F1 ϕ1
−→ F0 −→ M −→ 0.
A imagem da fun¸c˜ao ϕi ´e chamada de i-´esima siz´ıgia do m´odulo M .
Defini¸c˜ao 1.4.6. Seja M um S-m´odulo e F : · · · −→ Fn
ϕn
−→ · · · −→ F1 ϕ1
uma resolu¸c˜ao de M.
(a) Se cada Fi ´e S-m´odulo livre dizemos que F ´e uma resolu¸c˜ao livre.
(b) Se cada Fi ´e S-m´odulo projetivo dizemos que F ´e uma resolu¸c˜ao projetiva.
Anteriormente definimos m´odulos graduados, tal defini¸c˜ao nos permite definir uma resolu¸c˜ao graduada.
Defini¸c˜ao 1.4.7. Sejam M e N m´odulos graduados sobre S. Um homomorfismo ϕ : M → N
´
e um homomorfismo graduado de grau d se ϕ(Mt) ⊂ Nt+d
para todo t ∈ Z.
Defini¸c˜ao 1.4.8. Seja M um S-m´odulo graduado. Uma resolu¸c˜ao graduada de M ´e uma resolu¸c˜ao da forma
F : · · · −→ Fn ϕn
−→ · · · −→ F1 ϕ1
−→ F0 −→ M −→ 0,
onde os Fi,s s˜ao m´odulos graduados e os homomorfismos entre os m´odulos graduados
tem grau 0 (isto ´e, levam elementos homogˆeneos em elementos homogˆeneos de mesmo grau).
No Corol´ario 2.2.6 veremos que, se M ´e um S-m´odulo graduado e finitamente gerado, ent˜ao a dimens˜ao projetiva de M ´e igual ao comprimento da resolu¸c˜ao livre minimal de M . Desta forma, precisamos das seguintes defini¸c˜oes
Defini¸c˜ao 1.4.9. Seja M um S-m´odulo com a resolu¸c˜ao F : · · · −→ Fn
ϕn
−→ · · · −→ F1 ϕ1
−→ F0 −→ M −→ 0,
se para algum n < ∞ tivermos Fn+1 = 0, mas Fi 6= 0 para 0 ≤ i ≤ n, ent˜ao dizemos
que F ´e uma resolu¸c˜ao de comprimento n
Defini¸c˜ao 1.4.10. Seja M um S-m´odulo com a resolu¸c˜ao F : · · · −→ Fn ϕn −→ · · · −→ F1 ϕ1 −→ F0,
a dimens˜ao projetiva de M ´e o menor comprimento dentre todos os comprimentos das resolu¸c˜oes projetivas de M e denotamos por pd(M ). Se n˜ao admite resolu¸c˜oes projetivas finitas, ent˜ao dizemos que pd(M ) = ∞.
1.5
O espa¸
co projetivo P
nNesta se¸c˜ao, assumiremos sempre que K ´e um corpo algebricamente fechado. Defini¸c˜ao 1.5.1. O espa¸co projetivo de dimens˜ao n ´e dado por
PnK := K
n+1− {0}/ ∼
onde
(x0, . . . , xn) ∼ (y0, . . . , yn) ⇐⇒ existe λ ∈ K∗ tal que xi = λyi, ∀ i = 0, . . . , n.
O ponto de Pn
K correspondente a (x0, . . . , xn) ´e denotado por (x0 : . . . : xn) e
dizemos que x0, . . . , xn s˜ao coordenadas homogˆeneas ou coordenadas projetivas do
ponto.
Dado um polinˆomio homogˆeneo f ∈ K[x0, . . . , xn] de grau r, faz sentido definirmos
quando um ponto (x0 : . . . : xn) ∈ PnK se anula em tal polinˆomio, pois:
F (λx0, . . . , λxn) = λrF (x0, . . . , xn),
para cada λ ∈ K, ou seja, esta ´e uma no¸c˜ao que independe de representantes. Tendo isso em mente, podemos considerar a seguinte defini¸c˜ao
Defini¸c˜ao 1.5.2. Seja I um ideal homogˆeneo de S = k[x0, . . . , xn]. Um subconjunto
X de Pn
K ´e chamado de conjunto alg´ebrico projetivo definido por I, se
X = {(x0 : . . . : xn) ∈ PnK | f (x0, . . . , xn) = 0 para cada f ∈ I}.
Defini¸c˜ao 1.5.3. Seja X um subconjunto de Pn
K. O ideal definido por X, denotado
por I(X), ´e dado por
I(X) = {f ∈ K[x0, . . . , xn] | f (x0, . . . , xn) = 0 para cada (x0 : . . . : xn) ∈ X}.
´
E imediato que o ideal I(X) ´e homogˆeneo e radical.
Temos a seguinte vers˜ao projetiva para o teorema dos zeros de Hilbert:
Proposi¸c˜ao 1.5.4. Seja I um ideal n˜ao irrelevante e homogˆeneo de K[x0, . . . , xn].
Ent˜ao I(V (I)) =√I.
Assim, temos as seguintes aplica¸c˜oes bijetoras ( Conjuntos alg´ebricos de Pn K ) I(−) −→ V (−) ←− (
Ideais homogˆeneos e radicais de K[x0, . . . , xn]
)
uma inversa da outra.
Defini¸c˜ao 1.5.5. Um conjunto alg´ebrico projetivo X de PnK ´e chamado variedade projetiva se o ideal I(X) ´e primo.
Defini¸c˜ao 1.5.6. Dado um conjunto alg´ebrico X de Pn
Kchamamos o anel K[x0, . . . , xn]/I(X)
Cap´ıtulo 2
Resolu¸
c˜
oes Livres e Fun¸
c˜
ao de
Hilbert
Estudaremos resolu¸c˜oes m´ınimas livres de m´odulos finitamente gerados, onde o anel base ´e o anel de polinˆomios S = K[x0, . . . , xr] sobre um corpo K com cada
vari´avel tendo grau 1. As informa¸c˜oes fornecidas pelas resolu¸c˜oes ´e um refinamento das informa¸c˜oes fornecidas pelas fun¸c˜oes e polinˆomios de Hilbert.
2.1
Contribui¸
c˜
oes de Hilbert
2.1.1
O Estudo de siz´ıgias
O anel de coordenadas homogˆeneas do r-espa¸co projetivo Pr = Pr
K ´e o anel de
po-linˆomios S = K[x0, . . . , xr] . Seja M =
M
d∈Z
Md um S-m´odulo graduado e finitamente
gerado. Assim, podemos ver cada Mdcomo um K-espa¸co vetorial de dimens˜ao finita.
Diante desse cen´ario temos a seguinte defini¸c˜ao:
Defini¸c˜ao 2.1.1. A aplica¸c˜ao HM : Z → N definida por
HM(d) = dimKMd
´
e chamada fun¸c˜ao de Hilbert de M
Exemplo 2.1.2. No caso particular em que M = S temos
HS(d) = dimKSd =
r + d r
.
Exemplo 2.1.3. Sejam S = K[x0, x1, x2], I = hx0x1, x1x2, x0x2i e M = S/I.
Escre-vendo
S = S0⊕ S1⊕ · · · e I = I0⊕ I1⊕ · · ·
temos a seguinte gradua¸c˜ao para M
M = S0 I0
⊕ S1 I1
⊕ · · · = S0⊕ S1⊕ hx20, x21, x22i ⊕ hx30, x31x32i ⊕ · · · ⊕ hxd0, xd1, xd2i ⊕ · · · .
Assim a fun¸c˜ao de Hilbert do S-m´odulo graduado M = S/I ´e
HM(d) =
(
1 se d = 0 3 se d 6= 0
Denotamos por M (a) o S-m´odulo M munido com a seguinte gradua¸c˜ao M (a)d= Ma+d
Faremos uso diversas vezes do S-m´odulo S, com a gradua¸c˜ao deslocada. Exemplo 2.1.4. Para S = K[x0, x1] temos:
grau i = 0 1 2 3 . . . base de K[x0, x1]i = 1 x0, x1 . . . .
base de K[x0, x1](−2)i = 0 0 1 x0, x1 . . .
Dados elementos homogˆeneos mi ∈ M de grau ai que geram M como um
S-m´odulo, considere o S-m´odulo livre graduado F0 =
M
i
S(−ai). Podemos definir um
homomorfismo de m´odulos livres graduados de F0 em M enviando o i-´esimo gerador
de F0 em mi (neste texto, um homomorfismo de m´odulos graduados significa um
homomorfismo que preserva grau). Seja M1 o n´ucleo de F0 → M no qual ´e graduado.
Como S ´e noetheriano e F0 ´e finitamente gerado temos que F0 ´e noetheriano e,
portanto, M1 ´e um m´odulo finitamente gerado. Os elementos de M1 s˜ao chamados
de siz´ıgias de M .
Escolhendo um n´umero finito de siz´ıgias homogˆeneas que geram M1, podemos
definir um homomorfismo de um m´odulo F1 graduado livre para F0 com imagem M1.
graduados livres, F : · · · −→ Fi ϕi −→ Fi−1−→ · · · −→ F1 ϕ1 −→ F0.
Este complexo ´e uma resolu¸c˜ao graduada livre de M , pois ´e uma sequˆencia exata de homomorfismos de grau zero entre m´odulos livre graduado de tal forma que cokernel de ϕ1 ´e M . Como ϕi preserva graus, podemos considerar uma sequˆencia exata de
espa¸cos vetoriais de dimens˜ao finita, tomando a parte de grau d de cada m´odulo desta sequˆencia, e usando resultados de ´algebra linear temos
HM(d) =
X
i
(−1)iHFi(d).
O pr´oximo teorema, provado por Hilbert, mostra que esta soma pode ser feita de maneira finita.
Teorema 2.1.5 (Teorema de Hilbert das siz´ıgias). Qualquer S-m´odulo graduado e finitamente gerado M tem uma resolu¸c˜ao graduada finita e livre
F : 0 −→ Fm −→ Fm−1 −→ · · · −→ F1 −→ F0.
Al´em disso, podemos supor que m ≤ r + 1, onde r + 1 ´e o n´umero de vari´aveis do anel S.
A prova desse Teorema ser´a feita no cap´ıtulo 3.
Vamos considerar como primeiro exemplo, trˆes complexos que s˜ao chamados de complexo de Koszul nos quais s˜ao resolu¸c˜oes livres, pois s˜ao formados por sequencias regulares. K(x0) : 0 → S(−1) (x0) → S K(x0, x1) : 0 −→ S(−2) x1 −x0 −→ S2(−1) x0 −x1 −→ S K(x0, x1, x2) : 0 −→ S(−3) ϕ2 −→ S3(−2) ϕ1 −→ S3(−1) ϕ0 −→ S,
onde ϕ2 = x0 x1 x2 , ϕ1 = 0 x2 −x1 −x2 0 x0 x1 −x0 0 e ϕ0 = x0 x1 x2 .
O primeiro destes complexos ´e obviamente uma resolu¸c˜ao de S/(x0), pois o
co-kernel de S(−1) (x→ S ´e S/(x0) 0) e a imagem de S(−1) (x0)
→ S ´e o n´ucleo da seguinte aplica¸c˜ao S → S/(x0). J´a o segundo complexo ´e uma resolu¸c˜ao devido ao exemplo
2.1.6, e o terceiro ´e uma resolu¸c˜ao, mas vamos fazˆe-lo com uma t´ecnica desenvolvida na primeira metade do cap´ıtulo 3.
Exemplo 2.1.6. Sejam f e g polinˆomios (n˜ao necessariamente homogˆeneos) de S, tais que um n˜ao divide o outro. Veremos que o complexo
0−→ Sϕ2 g0 −f0 −→ S2 f g −→ S, ´
e uma resolu¸c˜ao livre de I = hf, gi, onde f0 = f /h, g0 = g/h e h ´e o maior divisor comum de f e g. Sejam ϕ0 e ϕ1 os homomorfismos representados pelas matrizes
f g e g 0 −f0 !
respectivamente. Para chegarmos ao resultado desejado, basta mostrar as seguintes igualdades
ker ϕ1 = Im ϕ2, ker ϕ0 = Imϕ1, e ker ϕ = Imϕ0
onde S −→ϕ S
(f, g). Se s ∈ ker ϕ1, ent˜ao sg ˆA´= −sf
0 = 0; logo, como S ´e dom´ınio,
tem-se s = 0. Assim, ker ϕ1 = Im ϕ2 = S, i.e, H2 = 0. Agora, suponha
s t ! ∈ ker (ϕ0). Ent˜ao f g s t ! = f s + gt = 0;
logo, gt = −f s. Dessa igualdade decorre que g0t = −f0s. Como mdc(f0, g0) = 1 e S ´e dom´ınio fatorial, ent˜ao g0 divide s. Considerando ` ∈ S tal que s = `g0 temos
s t ! = ` g 0 −f0 !
igualdades f g `g0 −`f0 ! = `(f g0 − gf0) = `h(f0g0− g0f0) = 0
Finalmente, a igualdade ker ϕ = Im ϕ0 segue do fato que ϕ ´e a proje¸c˜ao canˆonica de
S no quociente S/I.
2.1.2
O Polinˆ
omio de Hilbert
De uma resolu¸c˜ao livre de M podemos calcular a fun¸c˜ao de Hilbert de M explici-tamente.
Proposi¸c˜ao 2.1.7. Se um S-m´odulo graduado M tem uma resolu¸c˜ao finita livre 0 → Fm ϕm → Fm−1 → · · · → F1 ϕ1 → F0 onde Fi = L
jS(−ai,j), ent˜ao
HM(d) = m X i=0 (−1)iX j r + d − ai,j r .
Prova. J´a vimos que HM(d) = m
X
i=0
(−1)iHFi(d), logo ´e suficiente mostrar que
HFi(d) = X j r + d − ai,j r .
assim, basta mostrar que HS(−a)(d) = r+d−ar , pois
HFi(d) = dimK(Fi)d= dimK M j S(−ai,j) ! d =X j
dimKS(−ai,j)d=
X
j
HS(−ai,j)(d).
Deslocando a gradua¸c˜ao de S(−a) para S reduzimos para HS(d) = r+dr , mas a
´
Exemplo 2.1.8. Seja I o ideal do Exemplo 2.1.3. Considere a seguinte resolu¸c˜ao 0 → S2 →η S3 → S → Iϕ k k S(−3)2 S(−2)3 , onde η = −x2 −x2 0 x0 x1 0 e ϕ = x0x1 x1x2 x0x2 .
Calculando a fun¸c˜ao de Hilbert segundo a Proposi¸c˜ao 2.1.7 temos
HM(d) = m X i=0 (−1)iX j 2 + d − ai,j 2 =d + 2 2 − 3d 2 + 2d − 1 2 .
Expandindo as contas obtemos
HM (d) =
(
1 se d = 0 3 se d 6= 0 como j´a hav´ıamos percebido antes.
Exemplo 2.1.9. Sejam S = K[x, y, z, w] e I = hx3, xyzw, w2i com a seguinte re-solu¸c˜ao 0 −→ S −→η S3 −→ϕ S3 −→ I k k k S(−6) S(−5)3 S(−3) ⊕ S(−4) ⊕ S(−2) , onde η = −w x −z e ϕ = zw 0 −w2 −x −w 0 0 xyz x2y .
Calculando a fun¸c˜ao de Hilbert segunda a proposi¸c˜ao 2.1.7 temos
HM(d) = m X i=0 (−1)iX j 3 + d − ai,j 3 =3 + d 3 −d 3 −d − 1 3 −d + 1 3 +d − 2 3 −d − 3 3 .
Para d ≥ max{ai,j− r} = 6 − 3 = 3 como exigido no pr´oximo corol´ario temos
HM(d) = 15.
O pr´oximo resultado nos garante que a fun¸c˜ao de Hilbert ´e assintoticamente uma fun¸c˜ao polinomial.
Corol´ario 2.1.10. Seja M um S-m´odulo graduado. Existe um polinˆomio PM(d)
(chamado o polinˆomio de Hilbert de M ) tal que PM(d) = HM(d) para d ≥ max{ai,j−
r}.
Prova. Quando d + r − a ≥ 0 temos d + r − a r = (d + r − a)! r!(d − a)! = (d + r − a)(d + r − 1 − a) · · · (d + 1 − a) r!
que ´e um polinˆomio de grau r em d. Assim, no intervalo desejado todos os termos na express˜ao de HM(d) da Proposi¸c˜ao 2.1.7 podem ser vistos como polinˆomios na
vari´avel d.
2.2
Resolu¸
c˜
ao livre minimal
Anteriormente garantimos a existˆencia pelo teorema devido a Hilbert de uma resolu¸c˜ao de um m´odulo finitamente gerado e graduado, e agora veremos quando tal resolu¸c˜ao ´e ´unica a menos de isomorfismo com o intuito de assegurar a unicidade dos n´umeros graduados de Betti.
Todo S-m´odulo graduado e finitamente gerado tem uma resolu¸c˜ao livre minimal, que ´e ´unica a menos de isomorfismo. Veremos tal resultado no teorema de singulari-dade.
Nas hip´oteses do nosso trabalho, o m´ınimo de uma resolu¸c˜ao livre pode ser descrito da seguinte maneira: Dado um m´odulo graduado M finitamente gerado, escolha um conjunto m´ınimo de geradores mi homogˆeneos e mapei um m´odulo livre graduado F0
em M enviando uma base de F0 para o conjunto dos mi. Seja M0 o kernel do mapa
F0 → M , e repita o procedimento, come¸cando com um conjunto m´ınimo de geradores
homogˆeneos de ponto. Assim obtemos uma resolu¸c˜ao livre.
Para indic´a-la vamos usar a seguinte nota¸c˜ao M para designar o ideal homogˆeneo maximal (x0, x1, . . . , xr) ⊂ S.
Defini¸c˜ao 2.2.1. Um complexo de S-m´odulo graduado · · · −→ Fi
δi
−→ Fi−1−→ · · ·
´
e chamado minimal se para cada i, a imagem de δi esta contida em MFi−1.
Podemos dizer que um complexo de m´odulos livres ´e minimal se cada um dos seus diferenciais ´e representado por uma matriz com entradas no ideal homogˆeneo maximal.
A rela¸c˜ao entre esta defini¸c˜ao e a no¸c˜ao intuitiva de uma resolu¸c˜ao minimal ´e uma consequˆencia do Lema de Nakayama. Veja [Eisenbud 1995, se¸c˜ao 4.1] para uma discuss˜ao e uma prova no caso local, aqui faremos o lema no caso graduado.
Lema 2.2.2 (Nakayama). Seja M um S-m´odulo graduado e finitamente gerado. Se m1, . . . , mn geram M/MM , ent˜ao m1, . . . , mn geram M .
Prova. Seja M = M/(P Smi) e dado um n ∈ M/MM temos que
n = m + MM = XSmi
onde m ∈ M . Assim, dado n ∈ M /MM temos que
n = m P Smi + MM P Smi = m + MM P Smi = 0. Portanto, M /MM = 0, logo M = MM .
Se M 6= 0, como M ´e finitamente gerado, podemos escolher um elemento homogˆeneo diferente de zero em M de menor grau em M e este elemento n˜ao pode esta em MM , pois os elementos de M tem grau pelo menos um. Assim, M = 0 e ent˜ao M ´e gerado pelos mi.
Usaremos o resultado acima com frequˆencia para dizer que o n´umero de geradores minimos de M ´e o mesmo que o n´umero de geradores minimos de M/MM .
O pr´oximo resultado nos d´a uma carateriza¸c˜ao de uma resolu¸c˜ao livre graduada minimal.
Corol´ario 2.2.3. Seja
F : · · · −→ Fi δi
uma resolu¸c˜ao livre graduada. Temos que F minimal, se e somente se, para cada i o mapa δi leva uma base de Fi para um conjunto m´ınimo de geradores da imagem de δi.
Prova. Considere a sequˆencia exata a direita
H : Fi+1−→ Fi −→ Imδi −→ 0. (2.1)
e o funtor
K ⊗ H = H : Fi+1/MFi+1 δi+1
−→ Fi/MFi −→ Imδi/MImδi −→ 0 (2.2)
que ´e invariante e exato a direita.
O complexo F ´e minimal, se e somente se, para cada i o mapa δi+1´e identicamente
nulo, pois se F ´e uma resolu¸c˜ao minimal temos que Imδi+1⊂ MFi e assim δi+1 = 0,
mas se δi+1 = 0 ´e porque Imδi+1 ⊂ MFi, logo Imδi+1 ⊂ MFi. Mas isso ocorre se e
somente se o mapa induzido Fi/MFi −→ (Imδi)/M(Imδi) ´e um isomorfismo, pois da
equa¸c˜ao 2.2 e do fato que δi+1´e identicamente nulo temos que ´e injetiva e do fato que
H ´e exato a direita segue que ´e sobrejetiva. Assim, pelo Lema de Nakayama 2.2.2 isso acontece se, e somente se, existir uma base de Fi que ´e levada para um conjunto
minimal de geradores da Im δi.
O leitor interessado em estudar funtor vide [Eisenbud 1995].
Considerando todas as escolhas feitas na constru¸c˜ao de uma resolu¸c˜ao livre mini-mal, talvez seja surpreendente que uma resolu¸c˜ao livre minimal seja ´unica a menos de isomorfismo.
Teorema 2.2.4. Seja M um S-m´odulo graduado e finitamente gerado. Se F e G s˜ao duas resolu¸c˜oes minimais livres graduada de M, ent˜ao existe um isomorfismo graduado dos complexos F −→ G induzindo o mapa identidade em M. Al´em disso, qualquer resolu¸c˜ao livre de M cont´em a resolu¸c˜ao minimal livre como um somando direto.
A demonstra¸c˜ao de tal resultado pode ser vista em [Eisenbud 1995].
Podemos construir uma resolu¸c˜ao livre minimal a partir de uma resolu¸c˜ao qual-quer, de acordo com a segunda parte do teorema 2.2.4. Se F ´e um complexo de m´odulos livres que n˜ao ´e minimal, pelo menos uma matriz que representa os diferen-ciais de F deve conter pelo menos um elemento diferente de zero de grau zero. Isto
corresponde a dizer que existe pelo menos um elemento da base de Fi que ´e levado em
um elemento de Fi−1que n˜ao estar em MFi−1. Assim, encontramos um subcomplexo
de F da forma
G : 0 −→ S(−a)−→ S(−a) −→ 0c
para um escalar c diferente de zero (tal subcomplexo ´e chamado de complexo trivial) incorporado em M de tal maneira que FL G ´e ainda um complexo livre. Uma vez que as homologias de G s˜ao identicamente nulas, a homologia de FL G ´e a mesma que a de F . Em particular, se F ´e uma resolu¸c˜ao livre de M, ent˜ao FL G tamb´em ´e uma resolu¸c˜ao livre de M. Continuando, desta forma, n´os eventualmente chegaremos a um complexo minimal. Portanto, dado F uma resolu¸c˜ao de M, podemos construir uma resolu¸c˜ao livre minimal.
Para n´os, o aspecto mais importante da singularidade de resolu¸c˜oes livres minimais ´
e que, se F : · · · −→ F1 −→ F0´e a resolu¸c˜ao livre minimal de um S-m´odulo graduado
e finitamente gerado, o n´umero de geradores necess´arios para os m´odulos livres Fi ´e
um invariante de M. A maneira mais f´acil para indicar um resultado preciso ´e usar o funtor Tor, ver por exemplo [Eisenbud 1995, se¸c˜ao 6.2], para uma introdu¸c˜ao a esta ferramenta ´ultil.
Proposi¸c˜ao 2.2.5. Se F : · · · −→ F1 −→ F0 ´e a resolu¸c˜ao livre minimal de um
S-m´odulo M graduado e finitamente gerado e K denota o corpo de res´ıduo S/M, ent˜ao qualquer conjunto m´ınimo de geradores homogˆeneos de Fi cont´em exatamente
dimKTorSi(K, M)j geradores de grau j.
Prova. O espa¸co vetorial TorSi(K, M)j ´e a componente de grau j da i-´esima
homo-logia do complexo K ⊗SF . Os homomorfismo de K ⊗SF s˜ao todos zeros.
De fato, como F ´e minimal, temos que Imδi+1 ⊂ MFi e
K ⊗ Fi+1
1⊗δi+1
−→ K ⊗ Fi
a ⊗ b 7→ a ⊗ δi+1(b) = a ⊗ mc
para algum m ∈ M e c ∈ Fi. Logo, a ⊗ mc = ma ⊗ c = 0, pois, a ∈ K.
Assim, TorSi (K, M) = ker (1 ⊗ δi)
Im1 ⊗ δi+1 = K⊗
SFi = Fi/MFi. Pelo Lema de Nakayama
2.2.2 dimKTorSi(K, M)j ´e o n´umero de geradores de grau j que requer Fi.
Corol´ario 2.2.6. Se M ´e um S-m´odulo graduado e finitamente gerado, ent˜ao a dimens˜ao projetiva de M ´e igual ao comprimento da resolu¸c˜ao livre minimal de M .
Prova. Uma das desigualdades ´e obvia. Para mostrar que o comprimento da re-solu¸c˜ao livre minimal ´e no m´aximo a dimens˜ao projetiva note que TorSi(K, M) = 0 quando i ´e maior do que a dimens˜ao projetiva de M , pois TorSi(K, M) independe da resolu¸c˜ao escolhida. Pela proposi¸c˜ao 2.2.5, isso implica que a resolu¸c˜ao livre minimal tem comprimento menor do que a dimens˜ao projetiva de M , como o desejado.
2.2.1
Descrevendo resolu¸
c˜
ao atrav´
es do diagrama de Betti
Vimos anteriormente que a fun¸c˜ao de Hilbert descreve um invariante num´erico associado a uma resolu¸c˜ao livre, e agora veremos que este invariante, quando a re-solu¸c˜oes livres ´e minimal cont´em mais informa¸c˜oes. Para tanto, introduziremos para exibir tais informa¸c˜oes o diagrama de Betti.
Come¸caremos com um exemplo, seja S = K[x0, x1, x2] o anel de coordenadas
homogˆeneo de P2. O teorema 4.3.1 e o corol´ario 4.1.15 abaixo, implica que existe
um conjunto X de 10 pontos em P2 cujo o anel de coordenadas homogˆeneo SX tem
resolu¸c˜ao livre da forma
0 → S(−6) ⊕ S(−5) → S(−4) ⊕ S(−4) ⊕ S(−3) → S
k k k
F2 F1 F0
.
Representaremos os n´umeros que aparecem pelo diagrama de Betti 0 1 2 0 1 - -1 - - -2 - 1 -3 - 2 1 4 - - 1 ,
onde a coluna i descreve o m´odulo livre Fi e as linhas j descreve os grau dos Fi.
Defini¸c˜ao 2.2.7 (N´umero de Betti). Seja
F : 0 −→ Fs −→ · · · −→ Fm −→ · · · −→ F0
dizemos que βi,j s˜ao os n´umeros de Betti. Definimos o diagrama de Betti de F como
segue
0 1 · · · s i β0,i β1,i+1 · · · βs,i+s
i + 1 β0,i+1 β1,i+2 · · · βs,i+s+1
· · · · j β0,j β1,j+1 · · · βs,j+s
Desta maneira, o diagrama de Betti consiste em uma tabela com s + 1 colunas, nomeadas de 0 at´e s, correspondente aos m´odulos livres F0, · · · , Fs e tem linhas
nomeadas com inteiros sucessivos que correspondem aos graus dos m´odulos livres. A m-´esima coluna especificar os graus dos geradores de Fm, deste modo, por exemplo,
os valores da primeira coluna da esquerda para direita corresponde aos graus dos poss´ıveis geradores de F0. Para facilitar, n´os sempre substitu´ımos um 0 por “ − ” e
um valor indefinido por “ ∗ ”.
Note que, a entrada da j-´esima linha e i-´esima coluna ´e βi,i+j em vez de βi,j. Essa
escolha n˜ao ´e a mais natural, contudo servir´a para nosso prop´osito descrito abaixo. Se F ´e uma resolu¸c˜ao livre minimal de M , nos referimos ao diagrama de Betti de F como o diagrama de Betti de M , pois as resolu¸c˜oes de M ´e ´unica a menos de isomorfismo e o βm,d de F ´e chamado de n´umero graduado de Betti de M , `as vezes
escrevemos βm,d(M ). Como Torm(M, K) ´e a m-´esima homologia de F ⊗ K e F ´e
minimal, os diferenciais do complexo s˜ao todos zeros, assim da proposi¸c˜ao 2.2.5 segue βm,d(M ) = dimK(Torm(M, K)d).
2.2.2
N´
umero Graduado de Betti
O n´umero β0,j ´e o n´umero de geradores de grau j exigidos entre os geradores
m´ınimos de M . N´os frequentemente consideraremos o caso onde M ´e o anel de coordenadas homogˆeneo SX =
S
I(X) de uma variedade projetiva X. Como SX ´e gerado pelo elemento 1, ent˜ao teremos β0,0 = 1 e β0,j = 0 para j 6= 0.
Por outro lado, β1,j ´e o n´umero de geradores de grau j precisos para gerar o ideal
I(X) de X. Se SX n˜ao ´e o anel nulo (isto ´e, X 6= ∅), n˜ao existe nenhum elemento do
ideal de X com grau 0, assim β1,0 = 0. Isto ´e o caso i = d = 0 da seguinte proposi¸c˜ao.
Proposi¸c˜ao 2.2.8. Seja {βi,j} os n´umeros graduados de Betti de um S-m´odulo M
βi+1,j+1 = 0 ∀ j < d. Prova. Seja F · · · δ2 −→ F1 δ1 −→ F0
uma resolu¸c˜ao livre minimal de M. Logo, os geradores de Fi+1 devem ser mapeados
para elementos n˜ao nulos do mesmo grau em MFi, como βi,j = 0 para todo j < d
significa que todos os geradores de Fi e, portanto, todos elementos n˜ao nulo de Fi
tem grau ≥ d. Assim, todo elemento n˜ao nulo de MFi tem grau ≥ d + 1. Assim, Fi+1
s´o pode ter geradores em grau ≥ d + 1. Logo, βi+1,j+1 = 0 para j < d.
A f´ormula para a fun¸c˜ao de Hilbert na Proposi¸c˜ao 2.1.7 admite uma express˜ao em termos do n´umero graduado de Betti.
Corol´ario 2.2.9. Se {βi,j} s˜ao os n´umeros graduados de Betti de um S-m´odulo
finitamente gerado M , as somas alternadas Bj =
X
i≥0
(−1)iβi,j determinam a fun¸c˜ao
de Hilbert de M via a f´ormula
HM(d) = X j Bj r + d − j r .
Al´em disso, os valores dos Bj podem ser deduzidos indutivamente da fun¸c˜ao HM(d)
via a f´ormula Bj = HM(j) − X k:k<j Bk r + j − k r .
Prova. A primeira f´ormula ´e simplesmente um rearranjo da express˜ao dada na proposi¸c˜ao 2.1.7, pois, dado Fi =
L
jS(ai,j) temos
HM(d) = m X i=0 (−1)iX j r + d − ai,j r = m X i=0 (−1)iX j βi,j r + d − j r =X j m X i=0 (−1)iβi,j r + d − j r =X j Bj r + d − j r .
Agora, para calcular Bj via a fun¸c˜ao de Hilbert HM(d) procedemos como segue.
digamos de grau j0, e pelo que vimos anteriormente temos HM(d) = 0 para d ≤ j0.
Segue que β0,j = 0 para todo j ≤ j0, e pela Proposi¸c˜ao 2.2.8 segue que β1,j = 0 para
todo j ≤ j0 e repetindo o argumento conclu´ımos que se j ≤ j0 ent˜ao βi,j = 0 para
todo i. Assim Bj = 0 para todo j ≤ j0. Como r+d−jr = 0 quando d < j temos
HM(d) = d X j=0 Bj r + d − j r = d−1 X j=0 Bj r + d − j r + Bd r + d − d r = d−1 X j=0 Bj r + d − j r + Bd Assim, Bd = HM(d) − d−1 X j=0 Bj r + d − j r
Cap´ıtulo 3
Exemplos de Resolu¸
c˜
oes Livres
Existe uma constru¸c˜ao de resolu¸c˜oes baseadas em complexos simpliciais, tal cons-tru¸c˜ao ser´a feita atrav´es de ideais monomiais, contudo nem sempre vai ser uma re-solu¸c˜ao minimal. Incluiremos os complexos de Koszul para estabelecer cotas superi-ores dos n´umeros graduados de Betti e tamb´em faremos a demonstra¸c˜ao do Teorema de Hilbert das siz´ıgias.
3.1
Ideais monomiais e complexos simplicial
Nesta se¸c˜ao faremos uma revis˜ao da teoria de complexo simplicial finito. Para um tratamento maior sobre o assunto, veja [Bruns and Herzog 1998]
3.1.1
Complexo simplicial
Um complexo simplicial finito ∆ ´e um conjunto finito V, chamado de conjunto dos v´ertices de ∆, e uma cole¸c˜ao F de subconjuntos de V, que s˜ao designados de faces de ∆, tal que se A ∈ F ´e uma face e B ⊂ A, ent˜ao B tamb´em est´a em F e dizemos que B ´e uma subface de A. Uma face maximal ´e chamada de faceta.
Um simplexo ´e um complexo simplicial em que cada subconjunto de V ´e uma face. Para qualquer conjunto de v´ertice V podemos formar o complexo simplicial nulo, que n˜ao tem nenhuma face. Assim o conjunto vazio ´e necessariamente uma face de ∆. Por constru¸c˜ao, chamamos o complexo simplicial que tem apenas a face ∅ por o complexo simplicial irrelevante em V .
Qualquer complexo simplicial ∆ tem uma representa¸c˜ao geom´etrica a qual ´e um espa¸co topol´ogico, fixado um complexo o seu conjunto de v´ertices de ∆ ´e um conjunto linearmente independente em um espa¸co vetorial real.
Uma orienta¸c˜ao de um complexo simplicial consiste em uma ordena¸c˜ao dos v´ertices de ∆. Deste modo, um complexo simplicial pode ter muitas orienta¸c˜oes.
3.1.2
Representa¸
c˜
ao monomial
Diremos que ∆ ´e representado por monˆomios de S, se para cada v´ertice de ∆ existe um monˆomio de S que o representa. Neste caso representamos cada face A de ∆ pelo menor m´ultiplo comum dos representantes dos v´ertices de A e escrevemos mA
para tal monˆomio que representa A. Por conven¸c˜ao, a representa¸c˜ao da face vazia tomaremos como sendo m∅ = 1.
Seja ∆ um complexo simplicial orientado, e escreva I ⊂ S como sendo o ideal gerado pelos monˆomios mj = xαj que s˜ao os representantes dos v´ertices de ∆.
Asso-ciaremos a ∆ um complexo graduado de S-m´odulo livres C = C(∆; S) : · · · −→ Fi
δ
−→ Fi−1 −→ · · · δ
−→ F0,
onde os Fi s˜ao os S-m´odulos livres, cuja base consiste no conjunto formado pelas faces
de ∆ com i v´ertices, o diferencial δ ´e dado por δA =X
n∈A
(−1)pos(n,A) mA mA\n
(A\n), (3.1)
que as vezes ´e uma resolu¸c˜ao de S/I, onde pos(n, A) ´e a posi¸c˜ao do v´ertice n em A, ou seja, ´e o n´umero de elementos precedente a n na ordena¸c˜ao de A e A\n denota a face obtida de A removendo o v´ertice n.
Se ∆ n˜ao ´e nulo, ent˜ao F0 = S, ou seja, ´e gerado pela face vazia, j´a os geradores
de F1 s˜ao os v´ertices de ∆ e
H0(C(∆)) = coker(F1 δ
−→ S) = S/I.
Fixaremos o grau da face A como sendo o expoente do monˆomio que representa a face A. Com respeito a esta gradua¸c˜ao, o diferencial δ tem grau 0, e C(∆) ´e um Zr+1-graduado complexo livre.
o complexo de cadeia reduzida usual de ∆ com coeficientes em K, sua homologia ´e escrita como Hi(∆; K) e ´e chamada de homologia reduzida de ∆ com coeficientes em
S. A trocar em grau homol´ogico acontece como segue: Hi(∆; K) ´e a (i + 1)-´esima
homologia de C(∆; K).
As homologias Hi(∆; K) e Hi(C(∆; S)) s˜ao independentes da orienta¸c˜ao de ∆, o
fato ´e que elas depende apenas da representa¸c˜ao geom´etrica de ∆ e o anel K ou S. Deste modo, frequentemente ignoramos orienta¸c˜oes.
Dizemos que o complexo C(∆; S), para um arbitr´ario conjunto de monˆomios, ´e obtido estendendo escalares de K para S e homogeneizando a f´ormula para o dife-rencial de C(∆; K) com respeito aos graus dos geradores dos Fi para os monˆomios de
∆.
Exemplo 3.1.1. Seja ∆ o complexo simplicial obtido atrav´es da figura
Figura 3.1:
com a orienta¸c˜ao obtida ordenando os v´ertices da esquerda para a direita e usando a f´ormula 3.1, o complexo C(∆) ´e 0 −→ S2(−3)−→ Sϕ2 3(−2) ϕ1 −→ S, onde ϕ2 = −x2 0 x1 −x1 0 x0 e ϕ1 = x0x1 x0x2 x1x2 .
Vamos verificar se este complexo ´e exato utilizando uma ferramenta que conhece-remos no cap´ıtulo 4.
´
E f´acil ver que ϕ2◦ ϕ1 = 0. Al´em disso,
(a) posto(ϕ1) = 1 e posto(ϕ2) = 2. Assim, posto(ϕ1)+posto(ϕ2) = 3 = posto(S(−2)3).
(b) I(ϕ1) = I(ϕ2) = (x0x1, x0x2, x1x2) logo prof(I(ϕ1)) ≥ 1 e prof(I(ϕ2)) ≥
2. O teorema 4.1.7 garante que F ´e exato. Assim F ´e uma resolu¸c˜ao de S/(x0x1, x0x2, x1x2). Lembrando que devemos verificar a exatid˜ao em trˆes
Esta resolu¸c˜ao ´e representada pelo seguinte diagrama de Betti 0 1 2
0 1 - -1 - 3 2
.
Se tom´assemos o mesmo complexo simplicial, mas agora com os monˆomios triviais, ou seja, os v´ertices representados por 1, teremos o seguinte complexo.
0 −→ S2 −→ Sϕ2 3 ϕ1 −→ S onde ϕ2 = −1 0 1 −1 0 1 e ϕ1 = 1 1 1
representado pelo diagrama de Betti
0 1 2 -2 - - 2 -1 - 3 -0 1 -
-,
onde as homologias reduzidas s˜ao todas nulas.
Vamos agora em busca de um crit´erio que nos dir´a quando C(∆) ´e uma resolu¸c˜ao de S/I, isto ´e, quando Hi(C(∆)) = 0 para i > 0, para tanto precisamos da seguinte
defini¸c˜ao.
Defini¸c˜ao 3.1.2. Sejam ∆ e m um monˆomio, escrevemos ∆m como sendo o
subcom-plexo de ∆ que constitui nas faces de ∆ cujo seu representante divide m.
Por exemplo, se m n˜ao ´e divis´ıvel por nenhum dos monˆomios que representam os v´ertices de um complexo simplicial ∆, ent˜ao ∆m ´e o complexo simplicial vazio, ou
seja, sem v´ertices e a ´unica face ´e a vazia. Por outro lado, se m ´e divis´ıvel por todos os representantes das faces de ∆, ent˜ao ∆m = ∆.
Um subcomplexo completo de ∆ ´e um subcomplexo simplicial de ∆ que tem todas as faces de ∆ que envolve um conjunto particular de v´ertices. Note que todos os subcomplexos ∆m s˜ao completos.
3.2
Siz´ıgias de ideais monomiais
Teorema 3.2.1 ( Bayer, Peeva, e Sturmfels). Sejam ∆ um complexo simplicial representado pelos monˆomios m1, . . . , mt ∈ S e I = (m1, . . . , mt) ⊂ S o ideal em S
gerado pelos representantes dos v´ertices de ∆. O complexo C(∆) = C(∆; S) ´e uma resolu¸c˜ao livre de S/I, se e somente se, a homologia reduzida Hi(∆m; K) for nula
para todo monˆomio m e todo i > 0. Al´em disso, C(∆) ´e um complexo minimal, se e somente se, mA6= mA0, para toda subface A0 de uma face A.
Prova. Considere o complexo
C(∆) : . . . −→ Fi δ
−→ Fi−1 −→ . . . δ
−→ F0,
por defini¸c˜ao de δ temos S
I ´e o cokernel de δ : F1 −→ F0. Vamos identificar a homologia do C(∆) em Fi como uma soma direta de copias de Hi(∆m; K).
Como o complexo C(∆) ´e graduado, isto ´e, os homomorfismo de conex˜ao s˜ao homogˆeneos de grau zero podemos calcular, para cada α ∈ Zr+1, a homologia do
complexo C(∆)α : . . . −→ (Fi)α δ −→ (Fi−1)α−→ . . . δ −→ (F0)α,
formado a partir da componente de grau α de cada modulo livre Fi em C(∆). Por
constru¸c˜ao de C(∆) se qualquer das componentes de α forem negativas ent˜ao temos que C(∆)α = 0, neste caso fica claro que a homologia ´e nula. Assim, podemos supor
que α ∈ Nr+1.
Seja m = xα = xα0
0 · x α1
1 · · · xαrr ∈ S, para cada face A de ∆, o complexo C(∆)
tem um somando direto S · A de posto 1, no qual como um espa¸co vetorial tem uma base que designamos por {n · A | n ∈ S, ´e um monˆomio}. O grau de n · A ´e o expoente de n · mA, onde mA ´e o representante da face A. Para calcular a parte de grau α de
S · A temos que ir atr´as de todos os monˆomios n em S tal que o expoente de n · mA
seja α, isto ´e,
(S · A)α =
(
K · (xα/mA) · A se mA|m
0 caso contr´ario.
Segue por defini¸c˜ao que se mA|m ent˜ao A ´e uma face de ∆m e suponha que A seja
uma face com i v´ertices, ou seja, A ´e um gerador de (Fi)α, agora suponha que A seja
um gerador de (Fi)α, assim (S · A)α = K·(xα/mA) · A, logo mA|m e portanto, A ´e uma
face de ∆m. Desta maneira temos uma bije¸c˜ao entre as faces de ∆m e o complexo
C(∆)α.
com os termos do complexo de cadeia reduzida de ∆m com coeficientes em K. Tendo
identificado C(∆)α com o complexo de cadeia reduzida de ∆m, temos que o complexo
C(∆) ´e uma resolu¸c˜ao de S
I, se e somente se, Hi(∆m; K) = 0 para todo i ≥ 0 como o desejado para a primeira afirma¸c˜ao.
Para a minimalidade, note que, se A ´e uma (i + 1)-face e A0 ´e uma i-face de ∆, ent˜ao pela f´ormula 3.1 temos que a componente do diferencial de C(∆) que mapeia S · A para S · A0 ´e 0 a menos que A0 ⊂ A, e neste caso, temos novamente pela f´ormula 3.1 que ±mA/m0A6= 0 ´e a componente do diferencial de C(∆) que mapeia S · A para
S · A0. Assim, C(∆) ´e minimal, se e somente se mA6= mA0, ∀ A0 ( A, como queremos.
Exemplo 3.2.2. Continuaremos com o ideal (x0x1, x0x2, x1x2) como acima, para o
representante do complexo simplicial referente a figura 3.1. Os distintos subcomplexos ∆0 da forma ∆m s˜ao, o complexo vazio ∆1 e os complexos ∆x0x1, ∆x0x2, ∆x1x2, onde
cada um destes consiste em um ´unico ponto e o complexo ∆, como cada um destes ´e um espa¸co contr´atil temos que as homologias destes complexos s˜ao nulas, assim temos que o complexo C(∆) ´e uma resolu¸c˜ao livre minimal de S/(x0x1, x0x2, x1x2), pois as
faces de ∆ s˜ao ∅, (x0x1), (x0x2), (x1x2), (x0x1, x0x2), (x0x2, x1x2) e temos mA 6= mA0,
para toda subface A0 de uma face A e pelo teorema 3.2.1 segue que a resolu¸c˜ao livre ´
e minimal.
Qualquer complexo completo de um simplexo ´e um simplexo, e como estes s˜ao contr´ateis, suas homologias reduzidas s˜ao nulas. Esta ideia dar um resultado impor-tante, que foi primeiramente provado em um modo diferente por Diana Taylor, veja [Eiserbut 1995, Exerc´ıcio 17.11].
O leitor interessado em estudar homologias reduzidas vide [Alexandre].
Corol´ario 3.2.3. Sejam I = (m1, m2, . . . , mn) ⊂ S um ideal de monˆomios e ∆ um
simplexo com n v´ertices, representados por m1, . . . , mn. O complexo C(∆) chamado
de complexo de Taylor de m1, m2, . . . , mn ´e uma resolu¸c˜ao livre de S/I.
3.2.1
Exemplos
(a) O complexo de Taylor ´e raramente minimal. Por exemplo, tomando (m1, m2, m3) = (x0x1, x0x2, x1x2),
Figura 3.2:
Com a orienta¸c˜ao obtida ordenando os v´ertices no sentido anti-hor´ario e usando a f´ormula 3.1, o complexo C(∆) ´e 0 −→ S(−4) x0 x1 x2 −→ S3(−3) 0 x2 −x1 −x2 0 x0 x1 −x0 0 −→ S3(−2) x0x1 x0x2 x1x2 −→ S,
esta resolu¸c˜ao ´e representada pelo seguinte diagrama de Betti 0 1 2 3
0 1 - - 1 1 - 3 3
-na qual n˜ao ´e minimal, pois a face A0 = (x0x1, x0x2) est´a contida na seguinte
face A = (x0x1, x0x2, x1x2), mas mA0 = mA e pelo teorema 3.2.1 verificamos
que a resolu¸c˜ao n˜ao ´e minimal.
(b) Podemos definir o complexo de Koszul K(x0, . . . , xr) de x0, . . . , xr como sendo
o complexo de Taylor no caso especial onde o mi = xi. Exibimos um exemplo
trivial no cap´ıtulo 2, para o teorema 2.1. O complexo de Koszul ´e uma resolu¸c˜ao livre minimal de K = S/(x0, . . . , xr).
Substituindo as vari´aveis x0, x1, . . . , xr por quaisquer polinˆomios f0, · · · , fr
ob-temos um complexo que escrevemos como K(f0, · · · , fr) no qual chamamos
de complexo de Koszul da sequˆencia f0, · · · , fr, quando os fi s˜ao elementos
se e somente se os fi formam uma sequˆencia regular. Veja [Eisenbud 1995,
Te-orema 17.6].
3.3
Uma cota superior para os n´
umeros de Betti
e prova do teorema de Hilbert das siz´ıgias
Podemos usar o complexo de Koszul e o teorema 3.2 para provar o teorema de Hilbert das siz´ıgias 1.1 que aparece na afirma¸c˜ao da seguinte proposi¸c˜ao. Encontramos tamb´em um caminho alternativo para achar o n´umero graduado de Betti.
Proposi¸c˜ao 3.3.1. Seja M um m´odulo graduado sobre S. O n´umero graduado de Betti βi,j(M ) ´e a dimens˜ao da homologia, no termo Mj−i⊗
i ^ Kr+1, do complexo F : 0 → Mj−(r+1)⊗ r+1 ^ Kr+1→ · · · → Mj−i−1⊗ i+1 ^ Kr+1→ Mj−i⊗ i ^ Kr+1→ · · · → Mj⊗ 0 ^ Kr+1→ 0.
Em particular temos βi,j(M ) ≤ HM(j − i) r+1i . Assim, βi,j(M ) = 0 se i > r + 1
Prova. Para simplificar a nota¸c˜ao, seja βi,j = βi,j(M ). Pela Proposi¸c˜ao 2.2.5 temos
βi,j = dimKTori(M, K)j.
Como K(x0, . . . , xr) ´e uma resolu¸c˜ao de K, podemos calcular TorSi (M, K)j como a
parte de grau j da homologia de M ⊗SK(x0, . . . , xr) no termo
M ⊗S ∧iSr+1 = ∧i(M ⊗SSr+1) = ∧i(Mr+1) = ∧i(M ⊗KK
r+1) = M ⊗ K∧
i
Kr+1. Decompondo M em suas componentes homogˆeneas M = MMk temos que a parte
de grau j de M ⊗K∧i
Kr+1(−i) ´e Mj−i⊗K∧ i
Kr+1. Como os diferenciais de M ⊗SK(x0, . . . , xr)
preserva grau, decompondo o complexo como uma soma direta de complexo da forma Mj−i−1⊗K∧ i+1 Kr+1 −→ Mj−i⊗K∧ i Kr+1 −→ Mj−i+1⊗K∧ i−1 Kr+1 temos o resultado desejado para a primeira afirma¸c˜ao.
Agora observe que
βi,j = dim(HiF )j = dim
ker (ϕi+1) Im(ϕi) j , onde Mj−i−1⊗K∧ i+1 Kr+1 ϕ−→ Mi+1 j−i⊗K∧ i Kr+1 −→ Mϕi j−i+1⊗K∧ i−1 Kr+1. Assim
βi,j = dim(ker (ϕi+1)) − dim(Im(ϕi)) ≤ dim(ker (ϕi+1)) ≤ dim(Mj−i⊗ ∧iKr+1)
= dim(Mj−i) · dim(∧iKr+1) = HM(j − i) ·
r + 1 i
Cap´ıtulo 4
Pontos em P
2
Uma das rela¸c˜oes entre siz´ıgias e geometria ´e quando os objetos geom´etricos s˜ao conjuntos finitos de pontos em P2, apesar de existir diversos assuntos relacionados, o
nosso objetivo ´e modesto, vamos apenas, dar um ideal e exibir um conjunto X ⊂ P2 de tal maneira que a resolu¸c˜ao minimal livre e graduada do ideal formado pelas formas que se anulam neste conjunto de pontos tenha o mesmo diagrama do que a resolu¸c˜ao do ideal dado e relacionar com a geometria em casos simples.
Ao longo deste cap´ıtulo, S denota o anel graduado K[x0, x1, x2] e os S-m´odulos
ser˜ao finitamente gerados e graduados. Nestas hip´oteses cada m´odulo admite uma resolu¸c˜ao livre minimal na qual ´e ´unica a menos de isomorfismo. Pelo corol´ario 2.2.6, o seu comprimento ´e igual a dimens˜ao projetiva do m´odulo.
4.1
O ideal de um conjunto finito de pontos
Seja X ⊂ Pn um conjunto finito, escreveremos I = I(X) para representar o ideal
gerado pelas formas que se anulam em X e vamos ver que, quando n = 2, I tem uma resolu¸c˜ao livre de comprimento 1.
Defini¸c˜ao 4.1.1. Seja M um S-m´odulo. Um elemento x ∈ S ´e M -regular se xa 6= 0 para todo 0 6= a ∈ M . Uma sequˆencia (x1, x2, x3, · · · , xr) de elementos em S ´e uma
M -sequˆencia ou uma M -sequˆencia redular se: (a) (x1, · · · , xr)M 6= M ;
Seja I ⊂ S um ideal. Dizemos que uma sequˆencia x1, . . . , xr de elementos de S ´e
uma sequˆencia em I se xi ∈ I para cada i.
Defini¸c˜ao 4.1.2. Sejam I ⊂ S e M um S-m´odulo. A I-profundidade de M ´e o supremo dos comprimentos das M -sequˆencias em I.
Nota¸c˜ao: profI(M ) = I-profundidade de M.
Na defini¸c˜ao acima o supremo dos comprimentos da M -sequˆencias quer dizer que a sequˆencia n˜ao admite mais extens˜oes pr´oprias.
Existe v´arias nota¸c˜oes diferentes na literatura para designar a profundidade de um m´odulo. Para evitar confus˜ao, profI(S) ser´a substitu´ıdo por prof(I), para indicar que M = S.
Defini¸c˜ao 4.1.3. Seja X ⊂ Pn uma variedade projetiva. A dimens˜ao de X ser´a o grau do polinˆomio de Hilbert PX.
Nota¸c˜ao: dim X = dimens˜ao de X.
Verifica-se pela demonstra¸c˜ao do Corol´ario 4.1.15 que quando X ´e um conjunto finito de pontos em P2 a dimens˜ao de X ´e igual a zero.
Lema 4.1.4. Se M ´e um S-m´odulo finitamente gerado e I ⊂ S ´e um ideal, ent˜ao profIM ≤ dim M .
A demonstra¸c˜ao de tal resultado pode ser vista em [Eisenbud 1995].
Proposi¸c˜ao 4.1.5. Se I ⊂ S ´e o ideal das formas que se anulam no conjunto finito X ⊂ P2, ent˜ao I tem uma resolu¸c˜ao de comprimento 1.
Prova. Pela f´ormula de Auslander-Buchsbaum temos pd(S/I) = prof(S) − prof(S/I). J´a pelo Lema 4.1.4 obtemos
prof(S/I) 6 dim S/I = dim SX = dim X + 1 = 0 + 1 = 1.
Seja X = {p1, . . . , pn} temos que,
I = I(X) = I n [ i=1 {pi} ! = n \ i=1 I(pi).
Logo, Ass (S/I) = {I(p1), . . . , I(pn)}. Certamente o ideal homogˆeneo maximal de S
n˜ao ´e um associado de S/I; logo, prof(S/I) > 0. Portanto, prof(S/I) = 1.
Sabendo que prof(S) = 3 temos pd(S/I) = 3 − 1 = 2, logo pd(I) = 1, pois I ´e o primeiro m´odulo de siz´ıgias na resolu¸c˜ao livre de S/I.
4.1.1
O Teorema de Hilbert-Burch
O Teorema de Hilbert-Burch fornece informa¸c˜oes sobre os ideais usando uma matriz ϕ2 de tamanho (n + 1) × n no qual ´e muito usado no estudo de an´eis com
codimens˜ao 2. Para qualquer matriz ϕ com entradas em S denotemos por It(ϕ) o
ideal gerado pelos t × t subdeterminantes de ϕ.
Teorema 4.1.6 (Hilbert-Burch). Sejam S um anel e I um ideal n˜ao trivial pr´oprio de S. (a) Se o complexo F : 0 −→ F2 ϕ2 −→ F1 ϕ1 −→ S −→ S I −→ 0
´e exato e F2 tem posto t, ent˜ao F1 tem posto t+1 e existe um n˜ao divisor de zero
a tal que I = aIt(ϕ2). Na verdade a i-´esima entrada da matriz de ϕ1 ´e (−1)ia
vezes o menor obtido de ϕ2 deixando de fora a i-´esima linha, nessas condi¸c˜oes
o ideal It(ϕ2) tem profundidade exatamente igual a 2, isto ´e, profIt(ϕ2) = 2.
(b) Reciprocamente, dada a matriz ϕ2 de tamanho (t) × t + 1 de tal maneira que
prof(It(ϕ2)) ≥ 2, e um n˜ao divisor de zero a, a aplica¸c˜ao ϕ1 obtido como na
primeira parte, transforma F em resolu¸c˜ao livre de SI, com I = aIt(ϕ2), nessas
circunstˆancias o ideal I tem profundidade 2, se e somente se, o elemento a ´e uma unidade.
A demonstra¸c˜ao de tal resultado pode ser vista em [Samuel].
Se ϕ ´e um mapa de S-m´odulos livres, escrevemos posto(ϕ) para o maior tamanho dentre os menores n˜ao nulos de ϕ e I(ϕ) para o ideal Iposto(ϕ)(ϕ). Fazemos a convers˜ao
que I0(ϕ) = S, em particular, se ϕ ´e um mapa identicamente nulo, o posto de ϕ ´e
zero, assim, I(ϕ) = I0(ϕ) = S.
O pr´oximo resultado fornece uma caracteriza¸c˜ao de um complexo exato, no qual n˜ao faremos a prova, mas o leitor que tenha interesse na prova veja [Eisenbud 1995, o Teorema 20.9].
Teorema 4.1.7 (Buchsbaum-Eisenbud). Um complexo de m´odulos livres F : 0 −→ Fm ϕm −→ Fm−1 −→ · · · −→ F1 ϕ1 −→ F0
sobre um anel Noetheriano ´e exato, se e somente se,
posto(ϕi+1) + posto(ϕi) = posto(Fi) e prof(ϕi) ≥ i para cada i.
Considere agora S como sendo um anel de polinˆomios em Kr+1. Se tomamos
p = (p0, . . . , pr) ∈ Kr+1 temos que
K[x0, . . . , xr] ) I(p) = (x0 − p0, . . . , xr− pr),
o que nos levar a observar que o corpo
K(p) ' S I(p)
onde I(p) ´e o ideal gerado pelos polinˆomios que se anulam em p, e escrevemos F (p) : 0 −→ Fm(p)
ϕm(p)
−→ Fm−1(p) −→ · · · −→ F1(p) ϕ1(p)
−→ F0(p)
para o resultado de F tensorial com o corpo K(p). As matrizes ϕi(p) s˜ao obtidas
pelas matrizes ϕi avaliadas em p. Antes do pr´oximo resultado precisamos de algumas
terminologia. Dados F : 0 −→ Fm ϕm −→ Fm−1 −→ · · · −→ F1 ϕ1 −→ F0
o complexo de m´odulos livres sobre o anel de polinˆomios S = K[x0, . . . , xr], onde K
´
e um corpo algebricamente fechado e Xi ⊂ Kr+1 o conjunto dos pontos p tal que o
complexo F (p) n˜ao ´e exato em Fi(p), o nosso objetivo agora ´e encontrar uma rela¸c˜ao
entre a exatid˜ao de F e F (p), para tanto prescisamos da seguinte defini¸c˜ao.
Defini¸c˜ao 4.1.8. Seja Y ⊂ X uma subvariedade de X, dizemos que o seguinte n´umero (dim(X) − dim(Y )) ´e a codimens˜ao de Y em X.
Corol´ario 4.1.9. O complexo F ´e exato se e somente se para cada i o conjunto Xi
descrito acima ´e vazio ou codim(Xi) ≥ i.
Ini-cialmente vamos mostrar que F ´e exato se e somente se profIri(ϕi) ≥ i para cada
i ≥ 1.
Suponha que F seja exato, ent˜ao pelo teorema 4.1.7 dispomos
posto(ϕi+1) + posto(ϕi) = posto(Fi) e profI(ϕi) ≥ i para cada i,
para o desejado, basta mostrar que ri = posto(ϕi) para cada i, no qual faremos isso
por indu¸c˜ao decrescente. Observe que rm = posto(ϕm), suponha ri+1 = posto(ϕi+1)
e vamos mostra que ri = posto(ϕi), no inicio da demonstra¸c˜ao fixamos
ri = posto(Fi) − posto(Fi+1) + . . . + (−1)m−iposto(Fm) =
= posto(ϕi+1) + posto(ϕi) − posto(ϕi+2) − posto(ϕi+1) · · · + (−1)m−i(posto(ϕm+1) + posto(ϕm))
eliminando os termos de sinais opostos e observando que posto(ϕm+1) = 0 temos que
ri = posto(ϕi).
Por outro lado, suponha que profIri(ϕi) ≥ i, da´ı ri ≤ posto(ϕi) para cada i ≥ 1,
logo posto(Fi) = ri+1+ri ≤ posto(ϕi+1)+posto(ϕi), assim, posto(Fi) = posto(ϕi+1)+
posto(ϕi) e temos que F ´e exato.
Seja
Yi = {p ∈ Kr+1 | posto(ϕi(p)) < ri},
e defina o conjunto alg´ebrico de Iri(ϕi) por
Z(Iri(ϕi)) = {x ∈ K
r+1| ϕ
i(x) = 0 ∀ ϕi ∈ Iri(ϕi)},
assim temos que Yi = Z(Iri(ϕi)). Como o anel de polinˆomios S ´e Cohen-Macaulay
a profundidade de Iri(ϕi) ´e igual a codimens˜ao deste anel, na qual ´e a mesma que a
codimens˜ao de Yi. Segue que F ´e exato se e somente se a codimens˜ao de Yi em Kr+1
´
e maior ou igual a i para cada i ≥ 1.
Mas, para que o complexo F (p) seja exato em Fj(p) ´e necess´ario e suficiente que
posto(ϕj+1(p)) + posto(ϕj(p)) = posto(Fj(p)),
tendo em vista que F (p) ´e um complexo, isso ´e o mesmo que dizer posto(ϕj+1(p)) + posto(ϕj(p)) ≥ posto(Fj(p)),