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Prevalência de helmintos em resíduos sólidos orgânicos domiciliares; um risco à saúde ambiental e humana / Prevalence of helminths in household solid organic waste; a risk to human and environmental health

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Prevalência de helmintos em resíduos sólidos orgânicos domiciliares; um risco à

saúde ambiental e humana

Prevalence of helminths in household solid organic waste; a risk to human and

environmental health

DOI:10.34117/bjdv6n5-350

Recebimento dos originais: 13/04/2020 Aceitação para publicação: 18/05/2020

Monica Maria Pereira da Silva

Doutora em Recursos Naturais (UFCG). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPB). Especialista em Educação Ambiental (UEFPB). Bióloga (UEPB). Profa. Aposentada (UEPB).

Colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia Ambiental (UEPB). E-mail: monicaea@terra.com.br

Rosilene Barros Gomes

Mestranda em Ciência e Tecnologia Ambiental (UEPB). Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade.

E-mail: rosilene_barrosgomes@hotmail.com

Elaine Cristina dos Santos Araújo

Doutoranda em Engenharia e Gestão de Recursos Naturais (UFCG). Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental (UEPB). Bióloga (UEPB).

E-mail: crys_lainne@yahoo.com.br

Ivanise Gomes

Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental (UEPB). Bióloga (UEPB). E-mail: ivanisegomesbio@gmail.com.

António Fraga Freitas

Mestrando em Ciência e Tecnologia Ambiental (UEPB). Licenciado em Ciências da Natureza e Matemática, habilitado em Física (UNILAB).

E-mail: fragafreitas92@gmail.com

Adriana Veríssimo da Silva

Mestranda em Ensino de Ciências e Educação Matemática (UEPB). Bióloga (UEPB). E-mail: verissimo-pb@hotmail.com

Fernando Luiz Barbosa Farias

Licenciando em Ciências Biológicas (UEPB). E-mail: fernando.luiz.2327@gmail.com

Valderi Duarte Leite

Doutor em Hidráulica e Saneamento (USP). Mestre em Engenharia Civil (UFPB). Engenheiro Químico (UFPB). Professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental e do Programa

de Ciência e Tecnologia Ambiental (UEPB). E-mail: mangabeiraleite@gmail.com

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RESUMO

Seguindo o perfil de outros países, no Brasil os resíduos sólidos constituem foco de debates em diferentes setores da sociedade, tendo em vista os impactos negativos que afetam os sistemas ambientais, econômicos e sociais. A atenção deve ser intensificada para parcela orgânica de origem domiciliar. Esses resíduos representam riscos à saúde ambiental e humana, dentre outros aspectos, por reunir condições favoráveis ao desenvolvimento de organismos com potencial patogênico. Somente nas últimas décadas as possibilidades de contaminação da parcela orgânica dos resíduos sólidos domiciliares foram reconhecidas, compreendendo-se que os riscos são similares aos de serviços de saúde. Os objetivos deste trabalho foram avaliar a prevalência de helmintos em resíduos sólidos orgânicos domiciliares gerados em município de grande porte da Paraíba, Brasil e apontar alternativas para o tratamento e aproveitamento desses resíduos, com o propósito de reduzir os riscos citados. A pesquisa foi realizada em três bairros situados em Campina Grande, estado da Paraíba, Brasil. Os critérios para escolha desses bairros foram a localização (oeste), o número de habitantes (> 10 mil habitantes), a participação dos líderes comunitários no processo de formação em Educação Ambiental, oferecido desde 2007 e em projetos de coleta seletiva. Para a análise, por meio de quarteamento múltiplo, o material coletado foi pesado, despejado em lona plástica e homogeneizado, constituindo-se amostras compostas. Constatou-se um número expressivo de ovos de helmintos nos resíduos analisados, de 0,84 a 6,5 ovos/gST. Dentre as espécies, prevaleceram Ascaris lumbricoides (49%), seguidos de Ancylostoma sp. (30%), Hymenolepis nana (15%) e Enterobius vermicularis (6%). Pode-se inferir que os resíduos sólidos orgânicos domiciliares são um veículo de transmissão de agentes patogênicos quando dispostos de forma imprópria, podendo provocar infecções subsequentes para animais e seres humanos, notadamente em locais com ausência de Educação Ambiental e/ou em condições precárias de saneamento. A disposição desses resíduos sem tratamento aumenta as probabilidades de contaminação ambiental e humana, há, no entanto, tecnologias que podem ser aplicadas para o tratamento, dentre as quais, o tratamento biológico aeróbio descentralizado, cujas estruturas e princípios permitem a modificação de problema em solução, transformação da parcela orgânica em composto, com características agronômicas viáveis aos fins agrícolas. O tratamento constitui uma das ações da gestão integrada de resíduos sólidos. Todas as ações que constituem esse tipo de gestão requerem a formação em Educação Ambiental.

Palavras-Chave: Meio Ambiente; helmintos; contaminação; resíduos sólidos.

ABSTRACT

Following the profile of other countries, solid waste in Brazil is the focus of debates in different sectors of society, in view of the negative impacts that affect environmental, economic and social systems. Attention should be intensified for organic portion of household origin. These residues represent risks to environmental and human health, among other aspects, as they bring together favorable conditions for the development of organisms with pathogenic potential. Only in the last few decades have the possibilities of contamination of the organic portion of household solid waste been recognized, understanding that the risks are similar to those of health services. The objectives of this study were to evaluate the prevalence of helminths in household solid organic waste generated in a large municipality in Paraíba, Brazil and to point out alternatives for the treatment and use of these residues, with the purpose of reducing the risks mentioned. The research was carried out in three neighborhoods located in Campina Grande, state of Paraíba, Brazil. The criteria for choosing these neighborhoods were the location (west), the number of inhabitants (> 10,000 inhabitants), the participation of community leaders in the process of formation in Environmental Education, offered since 2007 and in selective collection projects. For the analysis, through multiple quarting, the collected material was weighed, poured into plastic canvas and homogenized, composing composite samples. An expressive number of helminth eggs was found in the analyzed residues, from 0.84 to

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6.5 eggs / gST. Among the species, Ascaris lumbricoides (49%) prevailed, followed by Ancylostoma sp. (30%), Hymenolepis nana (15%) and Enterobius vermicularis (6%). It can be inferred that solid organic household waste is a vehicle for the transmission of pathogenic agents when improperly disposed, and may cause subsequent infections for animals and humans, notably in places with a lack of Environmental Education and / or in poor sanitation conditions. The disposal of these untreated residues increases the likelihood of environmental and human contamination, however, there are technologies that can be applied for the treatment, among which, the decentralized aerobic biological treatment, whose structures and principles allow the modification of the problem in solution, transformation of the organic portion into compost, with viable agronomic characteristics for agricultural purposes. Treatment is one of the actions of integrated solid waste management. All actions that constitute this type of management require training in Environmental Education.

Keywords: Environment; helminths; contamination; solid waste.

1 INTRODUÇÃO

Os resíduos sólidos constituem foco de debates em diferentes setores da sociedade brasileira, seguindo o perfil de outros países, tendo em vista os impactos negativos acarretados aos sistemas ambientais, econômicos e sociais. O cenário demanda tomada de decisão de gestores públicos e privados, no sentido de adotar um conjunto de alternativas voltado para prevenir, mitigar ou mesmo, evitar esses impactos.

Os resíduos sólidos domiciliares de acordo com Silva (2016; 2020) podem ser classificados em recicláveis secos (papel e papelão, plástico, metal e vidro), recicláveis úmidos ou orgânicos (cascas de frutas e verduras, restos de alimentos, galhos, folhas e flores, dentre outros) e não recicláveis ou rejeitos (papel higiênico, absorventes, fraldas descartáveis, luvas, máscara de proteção). Estes, anteriormente a Lei 12.305/2010 (BRASIL, 2010), eram denominados de lixos.

Dentre os resíduos sólidos domiciliares, os orgânicos representam riscos à saúde ambiental e humana, dentre outros aspectos, por reunir condições favoráveis ao desenvolvimento de organismos com potencial patogênico, a exemplo de helmintos na forma de ovo. Todavia, com o tratamento adequado, esses resíduos se transformam em composto com condições apropriadas para o uso agrícola.

Os helmintos detém alta capacidade de sobrevivência em condições adversas e a dose infectante é considerada baixa. Apenas um ovo viável de helminto é suficiente para contaminar um indivíduo. Sendo assim, muito comum a sua ocorrência em seres humanos. Morfologicamente e fisiologicamente apresentam considerável adaptabilidade ao estresse ambiental.

O número de pessoas infectadas é expressivo no mundo e no Brasil (WHO, 2015), em decorrência, principalmente, das condições precárias de saneamento ambiental. A universalização do saneamento constitui um objetivo distante de ser alcançado, embora seja imperativo ao desenvolvimento sustentável e ao alcance dos objetivos previstos na Agenda Mundial 2030.

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Dos organismos patogênicos presentes nos resíduos sólidos orgânicos, os ovos de helmintos são o que apresentam grande relevância, em virtude de sua importância sanitária, ampla distribuição geográfica e elevada resistência a fatores ambientais (METCALF; EDDY, 2003; SILVA et al., 2010; NEVES, 2010).

O expressivo número de agentes infecciosos envolvido nos resíduos sólidos orgânicos está associado à ampla variedade de manifestações clínicas de doenças gastrointestinais aguda, sendo possível traçar um perfil das condições de saúde da população (WHO, 2015). Há, porém, a percepção predominante de vários segmentos da sociedade humana que esse tipo de resíduos compreende um problema secundário, diferentemente da percepção em relação aos resíduos de serviços de saúde que são objetos de cuidados peculiares e de leis específicas. Essa forma de percepção ocasiona, na ótica de Silva et al. (2010) o negligenciamento dos parâmetros de avaliação sanitária e de sua relevância quando se considera o aspecto saúde ambiental e pública.

O conhecimento da qualidade sanitária dos resíduos sólidos orgânicos domiciliares é essencial entre as ações que compõem a gestão de resíduos sólidos, por propiciar a compreensão da necessidade de tratá-los antes de destinar ou dispor no meio ambiente. A análise de ovos de helmintos é um parâmetro que favorece a tomada de decisão em relação ao tipo de tratamento que deverá ser adotado, devido as suas peculiaridades, como sugerem Silva (2008) e Silva et al. (2010).

Nesse contexto, questiona-se se os resíduos sólidos orgânicos domiciliares contem realmente quantidade expressiva de helmintos na forma de ovo? Os helmintos encontrados expressam riscos à saúde humana e ambiental? Há tecnologias que possam evitar esses riscos?

Foram esses questionamentos que guiaram os objetivos desse trabalho: avaliar a prevalência de helmintos em resíduos sólidos orgânicos domiciliares gerados em município de grande porte da Paraíba, Brasil e apontar alternativas para o tratamento e aproveitamento desses resíduos, de modo a reduzir os riscos à saúde ambiental e humana.

As respostas para as indagações que nortearam esse trabalho serão de suma importância no compasso da gestão integrada de resíduos sólidos. Implantar a coleta seletiva não é suficiente para resolver os problemas inerentes aos resíduos sólidos; é fundamental favorecer formas de destinação e disposição final centradas na premissa do desenvolvimento sustentável e na legislação ambiental vigente. No que se refere à parcela orgânica, é urgente que os gestores públicos e privados e a população em geral, compreendam a necessidade de realizar o seu tratamento antes da destinação e disposição final.

No cenário de pandemia mundial provocado pelo coronavírus é ainda mais urgente que a problemática que abrange os resíduos sólidos seja levada a sério e que os gestores e geradores adotem

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medidas não apenas corretivas. As medidas preventivas são essenciais para evitar os riscos que envolvem a saúde ambiental e humana.

2 METODOLOGIA

A presente pesquisa foi realizada em três bairros situados no município de Campina Grande, estado da Paraíba, Brasil: Bodocongó, Malvinas e Santa Rosa. Os principais critérios para a escolha desses bairros foram a localização (oeste), o número de habitantes ( > 10 mil habitantes), a participação dos líderes comunitários no processo de formação em educação ambiental, oferecido desde 2007 e projetos de coleta seletiva em execução e/ou em implantação.

O município de Campina Grande teve população estimada para 2019 de 409.731 habitantes e o salário médio mensal da população ativa é de 2,2 salários mínimos (IBGE, 2019). Conta com 54 bairros distribuídos em quatro zonas (norte, sul, oeste e leste), além de cinco distritos: Catolé de Boa Vista, Catolé de Zé Ferreira, São José da Mata, Santa Terezinha e Galante. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que aponta para a qualidade de vida da população, é de 0,720 (IBGE, 2019), inferior à média nacional (0,759).

Nos bairros Malvinas e Santa Rosa, os resíduos sólidos orgânicos foram recolhidos segregados diretamente da fonte geradora, as residências cadastradas que praticavam a coleta seletiva, durante três ciclos. Cada ciclo correspondeu à coleta de três semanas consecutivas e em dias alternados (1ª semana – terça-feira; 2ª semana- quinta-feira; 3ª semana- sábado), totalizando nove amostras compostas por bairro.

Em Bodocongó, a coleta ocorreu num condomínio residencial vertical e os resíduos sólidos orgânicos foram também coletados diretamente da fonte geradora, dos apartamentos das famílias que se dispuseram a realizar a coleta seletiva, durante sete dias consecutivos, totalizando-se sete amostras compostas. Esta diferença metodológica adveio das especificidades intrínsecas aos condomínios verticais.

Na tabela 1 está apresentada a organização do universo amostral referente às famílias que encaminharam os resíduos sólidos orgânicos para análise sanitária.

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Tabela 1. Organização do universo amostral referente às famílias que encaminharam os resíduos sólidos orgânicos domiciliares para análise sanitária. Campina Grande, Paraíba, Brasil. 2019.

Bairro de família envolvido Nº de família que repassou RSOD1 Universo amostral (%) Quantidade de RSOD coletada (kg) Bodocongó (apartamentos) 234 59 25,2 239 Malvinas (residências) 283 63 22,3 330 Santa Rosa (residências) 74 59 75,9 172

1. RSOD: resíduos sólidos orgânicos domiciliares

Para a análise dos resíduos sólidos orgânicos domiciliares, o material coletado foi pesado, despejado em lona plástica e homogeneizado. O método para determinar a composição das amostras de resíduos sólidos orgânicos domiciliares após cada dia de coleta foi o de quarteamento múltiplo, conforme Figura 1.

Figura 1. Desenho esquemático referente ao método de quarteamento múltiplo adotado para análise sanitária dos resíduos sólidos orgânicos domiciliares. Campina Grande, estado da Paraíba, Brasil. 2019.

Fonte: Nascimento et al. (2017) Araujo et al. (2019).

Esse método consistiu na mistura da amostra total (AT) do material. Em seguida, o material foi dividido em quatro partes iguais, correspondendo ao primeiro quarteamento e, dessas, colheram-se duas partes opostas da amostra total (A2). Essa amostra, A2, foi mais uma vez homogeneizada para obtenção de dez partes do material final. De cada porção foram retiradas amostras compostas para análise em laboratório (NASCIMENTO et al. , 2017; ARAUJO et al., 2019). Todas as análises foram feitas em triplicatas.

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A análise de ovos de helmintos foi realizada com base no método Meyer (1978), modificado por Silva (2008). As modificações consistiram na preparação da amostra: peso da amostra (25 g), lavagens prévias com solução de água sanitária a 50% e filtração dupla por filtro de nylon, para garantir o máximo de recuperação de ovos de helmintos.

De acordo com Silva (2008) as análises dos resíduos retidos no filtro de nylon mostraram que após a segunda filtração, não são encontrados ovos de helmintos, reduzindo-se a probabilidade de erros, por conseguinte, aumentando a eficiência do método.

Os dados foram analisados considerando-se os princípios da estatística descritiva, sendo apresentados por meio de gráficos (figuras) em valores médios.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os dados coletados e apresentados por meio da Figura 2 e ponderando-se a dose infectante, foram identificados valores médios expressivos de ovos de helmintos nos resíduos sólidos orgânicos estudados (Bodocongó= 4,6 ovos/gST; Malvinas= 6,5 ovos/gST e Santa Rosa= 0,84 ovos/gST), apontando para os riscos à saúde ambiental e humana, especialmente para aqueles que lidam direta ou indiretamente com os resíduos sólidos, a exemplo dos garis e catadores de materiais recicláveis formais ou não formais.

Figura 2. Valores médios de ovos de helmintos identificados em resíduos sólidos orgânicos domiciliares coletados na fonte geradora, nos bairros de Bodocongó, Malvinas e Santa Rosa, em Campina Grande, Paraíba, Brasil. 2019.

Grande parte dos resíduos sólidos orgânicos domiciliares gerada nas áreas objeto de estudo (cerca de 80%) era encaminhada ao aterro sanitário privado, situado no distrito de Catolé de Boa Vista, próximo a Campina Grande, comumente, misturados aos demais resíduos. A forma de disposição final constituía o aterramento, sem nenhum procedimento prévio que reduzisse os efeitos adversos dessa prática, dentre os quais, aqueles inerentes à digestão anaeróbia.

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Conforme visita in locu ao aterro sanitário, há drenagem do chorume e o tratamento ocorre por meio de lagoas de estabilização que se mostraram próximas a sua capacidade de carga, sobretudo, em períodos de chuvas contínuas. Não foi observado o aproveitamento do biogás. Este era simplesmente lançado no meio ambiente.

Verificou-se que a outra parte dos resíduos sólidos orgânicos domiciliares gerada nas áreas objeto de estudo (cerca de 20%), é aproveitada para a alimentação animal (porcos e aves) por catadores de materiais recicláveis não formalizados que coletam diretamente das residências e/ou na área do condomínio reservada para acondicionar temporariamente os resíduos sólidos (“casa do lixo”). Esse tipo de destinação final é preocupante. O consumo de alimentos contaminados pelos animais que servirão de alimentos para os seres humanos, implica em possibilitar a continuidade do ciclo de vida de helmintos, especialmente aqueles que são parasitas heteróxenos ou digenéticos.

A contaminação dos resíduos sólidos orgânicos pode estar relacionada à manipulação dos vegetais utilizados na alimentação, à qualidade da água utilizada para o consumo humano e para irrigação e às condições precárias de saneamento ambiental. Aponta ainda para a inadequação em torno das formas de produção e armazenamento dos alimentos em suas diferentes etapa, como afirmara Silva et al. (2010).

Silva et al. (2018) em pesquisa realizada em hortaliças coletadas em barracas que as comercializavam no município de Crato, Ceará, Brasil, constataram que 18,8% das amostras das hortaliças estavam contaminadas por cistos de protozoários e/ou ovos e larvas de helmintos. Os autores citaram que a contaminação ocorre por diferentes formas, principalmente pelo contato da água contaminada com material fecal humano ou animal, aplicada para irrigação de hortas. As hortaliças podem configurar importante via de disseminação de parasitas intestinais, representando riscos à saúde dos consumidores.

Sá, Gomes e Maia (2019) avaliaram a presença de estruturas parasitárias em hortaliças folhosas oriundas de supermercados, sacolão, mercado, feira agroecológica e feiras livres e comercializadas em Montes Claros-MG e identificaram ovos e larvas de Ancylostoma sp. e larvas de Strongyloides stercoralis. Lopes e Santos (2019) identificaram ovos e larvas de helmintos em amostras de alface originadas de três cidades do interior paulista, dentre os quais se destacaram Ancylostoma sp. e Strongyloides stercolaris. Esses autores apontaram para a necessidade de higienização correta dos alimentos consumidos. Nascimento et al. (2020) avaliaram a ocorrência de diferentes formas parasitárias em hortaliças comercializadas na maior feira livre da América Latina, Ver-o-Peso, em Belém do Pará e averiguaram a contaminação por parasitas em 100% das amostras analisadas. Entre os helmintos, os ovos de Ancylostoma sp . e de Ascaris sp. foram os mais prevalentes. Os autores concluíram que a evidência de parasitas em hortaliças implica em riscos de

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contaminação por essa via. Eles sugerem que o processo de higienização dos alimentos deve ser cuidadoso, pois é essencial à redução de parasitoses.

Os trabalhos citados de Silva et al. (2018), Sá, Gomes e Maia (2019), Lopes e Santos (2019) e Nascimento et al. (2020) apontam para a possibilidade de contaminação das hortaliças na irrigação e no manejo e a sua permanência quando são transformadas em resíduos sólidos (cascas de frutas e de verduras, restos de alimentos, dentre outros), em decorrência de falhas de higienização.

Sabe-se que na região metropolitana de Campina Grande, a exemplo de outras regiões brasileiras, há a utilização de água residuária não tratada ou parcialmente tratada na irrigação de hortas, dentre outras culturas. Há também a percepção dominante da população de que os resíduos sólidos orgânicos não expressam riscos, favorecendo o cuidado mínimo com a higienização das frutas e verduras usadas como alimentos, por conseguinte, os resíduos resultantes dessa prática, seguem contaminados.

Na ausência da coleta seletiva na fonte, os riscos são potencializados, principalmente em relação aos catadores de materiais recicláveis, mesmo aqueles que trabalham de forma organizada em cooperativa ou associação. Fato confirmado pelos trabalhos de Batista et al. (2013), Cavalcante et al. (2016), Cavalcante (2018) e Soares (2019) ao comprovarem que os catadores de materiais recicláveis mesmo organizados em associação estavam submetidos a riscos biológicos, principalmente em virtude da falta de seleção na fonte geradora e/ou ausência de higienização dos resíduos sólidos recicláveis secos.

Em relação às espécies de helmintos (Figura 3), foram identificados ovos de Ascaris lumbricoides (49%), Ancylostoma sp. (30%), Hymenolepis nana (15%) e Enterobius vermicularis (6%). Todos os helmintos verificados nos resíduos sólidos orgânicos estudados nesse trabalho são de importância médica e de alta prevalência no Brasil e no mundo.

Figura 3. Prevalência de helmintos em resíduos sólidos orgânicos domiciliares coletados na fonte geradora, nos bairros de Bodocongó, Malvinas e Santa Rosa, em Campina Grande, Paraíba, Brasil. 2019.

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Os helmintos da espécie Ascaris lumbricoides são encontrados em praticamente todos os países do mundo e ocorrem com frequência variada, devido às condições ambientais e do grau de desenvolvimento socioeconômico da população. Atualmente, mesmo com o aumento das campanhas, os níveis de parasitismo continuam elevados, sobretudo em crianças menores de 12 anos (SILVA; MASSARA, 2005). As espécies de Ancylostomidae que parasitam o ser humano desencadeiam um processo patológico crónico, podendo levar a morte (LEITE, 2005). O Enterobius vermicularis, conhecido por oxiúros, apresenta distribuição geográfica mundial e é comum no Brasil; atinge comumente indivíduos de 5 a 15 anos (NEVES, 2005). O helminto Hymenolepis nana, também chamado de Tênia nana, é um organismo cosmopolita que atinge 75 milhões de pessoas que vivem em baixas condições sanitárias (NEVES, 2005).

Em trabalho realizado em três municípios situados no semiárido paraibano (Cabaceiras, Caraúbas e Queimadas), Silva e colaboradores (2010) encontraram uma quantidade de ovos de helmintos que variou de 12,82 a 14,39 ovos/gST. Desses, 67% eram ovos de Ancylostoma sp., 19% de Enterobius vermiculares, 7% Ascaris lumbricoides e 7% Fasciola hepática. Essa espécie foi registrada pela primeira vez na Paraíba no trabalho de Silva (2008).

De acordo com Costa (2005), cerca de 20% da população humana mundial está parasitada por Ancylostomideo. Fato que não difere de Ascaris lumbricoides. Esse tipo de parasita resulta em infecções que culminam em diversos danos ao hospedeiro.

Os enteroparasitas podem afetar o equilíbrio nutricional e interferir na absorção de nutrientes, induzirem sangramentos, reduzirem a ingestão alimentar e causarem complicações significativas, tais como: obstrução intestinal, prolapso retal e formação de abscessos.

Os resíduos sólidos orgânicos, embora constituam na ausência de tratamento uma fonte potencial de contaminação, através de tratamento biológico aeróbio descentralizado é possível favorecer condições adversas aos organismos patogênicos, destruindo-os ou inviabilizando a continuidade de seu ciclo de vida. É possível também transformar os seus constituintes orgânicos em inorgânicos com características ideais à assimilação pelos organismos autotróficos, beneficiando, desse modo, a fertilidade do solo e evitando os riscos ao meio ambiente e à sociedade humana. Como cita Silva (2020) transforma-se problema em solução.

4 CONCLUSÃO

Nas condições estudadas, foi encontrado um número expressivo de ovos de helmintos em resíduos sólidos orgânicos domiciliares, de 0,84 a 6,5 ovos/gST. Dentre as espécies, prevaleceram os ovos de Ascaris lumbricoides (49%), seguidos de Ancylostoma sp. (30%), Hymenolepis nana (15%)

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e Enterobius vermicularis (6%), revelando a contaminação desse tipo de resíduo, mesmo quando selecionados na fonte geradora.

Pode-se inferir que os resíduos sólidos orgânicos domiciliares são um veículo de transmissão de agentes patogênicos quando dispostos de forma imprópria, podendo provocar infecções subsequentes para os animais e os seres humanos, notadamente em locais com ausência ou condições precárias de saneamento e de Educação Ambiental.

A destinação de resíduos sólidos orgânicos sem tratamento aumenta as probabilidades de contaminação ambiental e humana, há, no entanto, várias tecnologias que podem ser aplicadas para o tratamento, dentre as quais, o tratamento biológico aeróbio descentralizado, cujas estruturas e princípios permitem a modificação de problema em solução, transformação da parcela orgânica em composto, com características agronômicas viáveis aos diversos fins agrícolas. O tratamento constitui uma das ações que compõe a gestão integrada de resíduos sólidos, porém, sem a coleta seletiva na fonte geradora os objetivos dessa tecnologia não são obtidos. Todas as ações que constituem esse tipo de gestão requerem a formação em Educação Ambiental.

REFERÊNCIAS

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neglected tropical diseases. Third who report on neglected tropical diseases. Document production

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Figura 1. Desenho esquemático referente ao método de quarteamento múltiplo adotado para análise sanitária dos resíduos  sólidos orgânicos domiciliares
Figura 2.  Valores médios de ovos de helmintos identificados em resíduos sólidos orgânicos domiciliares coletados na  fonte geradora, nos bairros de Bodocongó, Malvinas e Santa Rosa, em Campina Grande, Paraíba, Brasil
Figura 3. Prevalência de helmintos em  resíduos sólidos orgânicos domiciliares coletados na fonte geradora, nos bairros  de Bodocongó, Malvinas e Santa Rosa, em Campina Grande, Paraíba, Brasil

Referências

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