LEADING CASE
REsp. 1.248.975/ES
TEMA:
-MULTIPLANO / FALÊNCIA DE PATROCINADORA ADERENTE
- FUNDO PREVIDENCIAIS NÃO SOLIDÁRIOS E SEGREGADOS
- TEORIA DA AFETAÇÃO PATRIMONIAL
EMENTA
RECURSO ESPECIAL. JULGAMENTO AFETADO À SEGUNDA SEÇÃO, SEM
SUBMISSÃO AO RITO DO ARTIGO 543-C DO CPC. PROCESSUAL CIVIL.
PREVIDÊNCIA PRIVADA. FALÊNCIA DE PATROCINADORA. RESPONSABILIDADE
PELO
PAGAMENTO
DE
COMPLEMENTAÇÃO
DE
APOSENTADORIA.
INAPLICABILIDADE DA INCIDÊNCIA DA MULTA DO ART. 461, § 4º, DO CPC EM
FACE DAS PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.
1. Até a liquidação extrajudicial do plano de previdência privada dirigido aos
empregados da Companhia Ferro e Aço de Vitória - COFAVI, a Fundação ..., é
responsável pelo pagamento, contratado no respectivo plano de benefícios,
de complementação de aposentadoria devida aos participantes/assistidos,
ex-empregados da patrocinadora COFAVI, aposentados em data anterior à
denúncia do convênio de adesão, em março de 1996, mesmo após a falência
da COFAVI,
observada a impossibilidade de se utilizar o
patrimônio pertencente ao fundo ... quando, na
instância ordinária, for reconhecida a ausência de
solidariedade entre os fundos
.
Trechos do Voto da Ministra Isabel Gallotti:
“As contribuições aportadas por patrocinadora e
participantes constituem patrimônio destes,
afetado à finalidade previdenciária definida no
plano de benefícios respectivo, não sendo
propriedade da entidade de previdência privada.
Por outro lado, o risco de insolvência do plano é,
também,
da
patrocinadora,
participantes,
Trechos do Voto do Ministro Antonio Carlos
Ferreira:
“Conforme dispõe o art. 21, caput, da Lei Complementar
n. 109/2001, “o resultado deficitário nos planos ou nas
entidades fechadas será equacionado por patrocinadores,
participantes e assistidos, na proporção existente entre as
suas contribuições, sem prejuízo de ação regressiva
contra dirigentes ou terceiros que deram causa a dano ou
prejuízo à entidade de previdência complementar". Tal
equacionamento "poderá ser feito, dentre outras formas,
por meio do aumento do valor das contribuições,
instituição de contribuição adicional ou redução do valor
dos benefícios a conceder" (§ 1º do referido dispositivo).
Essa primeira opção se dá, portanto, quando houver a
intenção – se possível for materialmente – de se
prosseguir com o fundo previdenciário, discutindo-se,
então, o equilíbrio atuarial.”
“Normas semelhantes eram encontradas na Lei n.
6.435/1977 (arts. 3º, II, e 34, § 2º).
Com efeito, admitido que uma entidade administre
vários planos, com diversos patrocinadores, e que
não
haja
solidariedade
entre
eles,
seria
contraditório impedir a liquidação parcial da
entidade,
apenas
relativamente
ao
plano
deficitário. Na hipótese de não se admitir a
liquidação parcial, um plano somente poderia ser
liquidado após o último fundo se tornar inviável, o
que seria uma enorme ilegalidade a ser praticada
contra os beneficiários, que cumpriram com as suas
obrigações e que esperam pelo obrigatório rateio.”
Trechos do Voto do Ministro Ricardo Villas Boas Cueva:
“Sobre o tema, válida é a seguinte lição de Rogério Aguirre, baseada em estudos de Arnoldo Wald e de Miguel Reale Júnior:
"(...)
IV - Do Regime da Solidariedade dos Fundos Múltiplos Anterior à Edição da Lei n.° 109/01
A questão da solidariedade nos fundos múltiplos restou simplificada com a edição da
Lei Complementar n.° 109/01, uma vez que esta não só determina, no parágrafo único do art. 13, que a solidariedade deve
estar expressamente prevista no convênio de adesão, como também deixou clara a possibilidade de existência de entidades que administram planos de benefícios para diversos participantes com independência patrimonial, os chamados 'multiplanos', previsto no art. 34,I, b.
No entanto, o grau de dificuldade aumenta por demasiado quando deparamos com a situação anterior à nova lei, ou seja, aquela compreendida pelo período em que vigorava a Lei n.° 6.435/77.
Sobre os efeitos da solidariedade neste período, destacamos dois pensamentos que, muito embora partam do mesmo princípio de que solidariedade nunca se presume e resultem no entendimento pela não-solidariedade entre patrocinadoras de fundos múltiplos, percorrem caminhos distintos para tal
conclusão.
O primeiro pensamento retirado do parecer exarado em 1998 pelo professor Arnoldo Wald sobre solidariedade e segregação de carteiras nos fundos de pensão multipatrocinados, a pedido do CCF Fundo de Pensão, baseia-se no art. 34 da Lei n.° 6.435/77 e na intenção do legislador em deixar a critério exclusivo das partes a previsão ou não de solidariedade.”