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TEORIA GERAL DO PROCESSO

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2016

PAULO ROBERTO DE GOUVÊA MEDINA

2ª edição

Revista, ampliada e atualizada

TEORIA GERAL DO PROCESSO

(3)

Capítulo III

CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA TEORIA GERAL DO

PROCESSO

Sumário: 1. A trilogia estrutural da ciência do processo. 2. Conceituação do trinômio e de outros termos do Direito Processual 2.1. Jurisdição. 2.2. Competência. 2.3. Ação. 2.4. Demanda. 2.5. Interesse de agir. 2.6. Pretensão. 2.7. Ação de direito material. 2.8. Lide. 2.9. Defesa. 2.10. Revelia. 2.11. Exce-ção. 2.12. Ônus. 2.13. Processo. 2.14. Procedimento. 2.15. Partes e terceiros. 2.16. Atos processuais. 2.17. Atos do juiz e dos tribunais. 2.18. Recurso. 2.19. Preclusão. 2.20. Coisa julgada

1. A TRILOGIA ESTRUTURAL DA CIÊNCIA DO PROCESSO.

A teoria geral do processo assenta-se em três institutos fundamentais: ju-risdição, ação e processo. RAMIRO PODETTI qualificou essa tríade de trilogia

estrutural da ciência do processo civil, cujos elementos compõem “la base meto-dológica y científica del estudio de la teoria y de la práctica del proceso”. Segundo

o autor citado, esse estudo “debia fundamentarse em una consideración unitária y

subordinada de estos três conceptos”. E o processualista argentino esclarecia:

trata--se de uma concepção unitária “porque ninguno de los três puede tener existencia

independiente”; subordinada, porque a ideia de cada um desses termos constitui

pressuposto lógico do entendimento que se deva formar acerca do outro.62

Cada um desses institutos será estudado, a seguir, em capítulos específicos. Cumpre, por ora, fixar-lhes os conceitos, associando-os, desde logo, a outras noções essenciais do processo, que os completam.

2. CONCEITUAÇÃO DO TRINÔMIO E DE OUTROS TERMOS DO DI-REITO PROCESSUAL

2.1. Jurisdição

Jurisdição é a função de julgar ou de emitir pronunciamentos judiciais,

exercida por órgãos independentes e imparciais que a lei indica, com o escopo

62 RAMIRO PODETTI, Teoría y Técnica del Proceso Civil y Trilogia Estructural de la Ciencia del Proceso Civil. Buenos Aires: EDIAR Soc. Anón. EDITORES, 1963, pp. 338/339, nº 2.

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de estabelecer a certeza jurídica em torno das pretensões deduzidas no processo, por meio da ação própria.

Quando a jurisdição tem por objeto o julgamento de litígios ou lides, ela se diz contenciosa. Quando, ao revés, o seu exercício se dá com a finalidade de constituir negócios jurídicos que, por envolverem interesses indisponíveis, exigem a intervenção estatal para que adquiram validade, ela se diz jurisdição

voluntária.

A jurisdição pode ser vista sob três aspectos: como poder, como função e como atividade. Antes de tudo, a jurisdição corresponde ao poder de julgar atribuído, no nosso sistema, ao Judiciário. Na frase de JOÃO MENDES DE AL-MEIDA JÚNIOR, “é o poder de julgar constituído”, enquanto o Poder Judiciário é “o poder de julgar instituído”. 63

O traço característico da jurisdição é o de função – a função jurisdicional. Para o exercício desta, os juízes e tribunais praticam uma série de atos que se operacionalizam mediante a atividade judiciária.

A função jurisdicional revela-se ínsita no poder dos juízes, na medida em que estes se investem nos respectivos cargos. A natureza da função é a mesma, quaisquer que sejam o cargo em que o juiz esteja investido e o grau de jurisdição respectivo. Diz-se, por isso, que todo juiz é dotado de jurisdição. Mas o exercício desta se diversifica conforme o setor da Justiça a que pertença o magistrado e, dentro de um mesmo ramo, conforme a especialização da Vara de primeiro grau, Câmara ou Turma de Tribunal em que atue ou segundo, ainda, o terri-tório jurisdicional (Comarca ou Seção Judiciária) para o qual seja designado. Há a considerar também a jurisdição especial ou extraordinária dos Tribunais Superiores, que decorre da função que lhes é atribuída no organismo judiciário – como sucede com o Superior Tribunal de Justiça e o Supremo Tribunal Federal. 2.2. Competência

A distribuição do exercício da função jurisdicional dá-se por meio das regras de competência.

A competência costuma ser referida como a medida da jurisdição ou, mais precisamente, como a forma de direcionar o exercício da jurisdição a determi-nadas matérias e de delimitar o seu campo de atuação em limites territoriais certos. Fundamentalmente, a competência é definida, pois, segundo dois critérios básicos: o critério ratione loci (em razão do lugar) e o critério ratione materiae (em razão da matéria). Na Justiça Federal de primeiro grau e no plano dos Tribunais, um terceiro critério é, em alguns casos, invocado: o critério ratione

personae (em razão da pessoa).

63 JOÃO MENDES DE ALMEIDA JÚNIOR, Direito Judiciário Brasileiro. 5ª edição. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos S. A., 1960, p. 47.

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Segundo JOÃO MENDES DE ALMEIDA JÚNIOR, a competência é “o

poder de julgar organizado”.64 Significa isso dizer que as normas de

competên-cia são normas de organização da função jurisdicional ou regras que definem perante tal ou qual órgão do Judiciário as ações deverão ser propostas.

2.3. Ação

Ação é o direito público subjetivo de demandar ao órgão estatal competente

o exercício da jurisdição, segundo o processo adequado.

Trata-se de modalidade especial do direito de petição, por meio da qual se provoca o exercício da função jurisdicional. Esta é, em si, uma função passiva, que somente se movimenta ou se exerce quando provocada. E o meio próprio para fazê-lo é a ação.

Numa palavra, a ação é o direito à jurisdição.

Em se tratando de um direito exercido em face de órgão estatal, com o escopo de obter deste uma prestação a que, em determinadas circunstâncias, está obrigado – a prestação jurisdicional –, a ação é um direito público subjetivo. Trata-se de outro direito, distinto do direito subjetivo a que tem por fim tutelar. Ou seja, a ação é um direito autônomo.

2.4. Demanda

O exercício da ação pressupõe a iniciativa da parte interessada. Essa ini-ciativa caracteriza a demanda.

Demanda é, pois, o ato de exercício da ação. A demanda tem por

instru-mento a petição inicial.

Cumpre distinguir ação de demanda.

Ação, como já foi dito, é o direito à jurisdição. Demanda é a iniciativa to-mada pelo autor no sentido de exercitar a ação de que é titular. A mesma ação pode ser exercitada mais de uma vez, por meio de mais de uma demanda. Isso ocorre, por exemplo, quando o processo foi extinto sem resolução do mérito, por inépcia da petição inicial; outro processo poderá ser instaurado, mediante o exercício regular do direito de ação, por meio de nova demanda. O mesmo se verifica nos casos de litispendência, isto é, quando se reproduz, perante outro Juízo, ação que está em curso. A redundância, na verdade, está na demanda que se repete e não, exatamente, na ação, que continua sendo a mesma.65

64 Ob. e p. cits.

65 V. CÃNDIDO RANGEL DINAMARCO, Vocabulário do Processo Civil. São Paulo: Malheiros Editores, 2009, verbete demanda, pp. 114/118, nº 53.

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2.5. Interesse de agir.

O exercício do direito de ação está subordinado a determinadas condi-ções. A principal dessas é a da existência de um interesse especial: o interesse na composição da lide, que se distingue do interesse em lide. Este corresponde ao conteúdo do direito subjetivo que se intenta ver tutelado; aquele é o interesse que move a ação – ou seja, o interesse de agir.

Interesse de agir é o interesse de ir a juízo, em virtude da necessidade de

obter a tutela jurisdicional. Pressupõe a existência de uma pretensão e a idonei-dade ou adequação da providência reclamada para satisfazê-la.

No processo penal, a justa causa corresponde ao interesse de agir, como condição da ação. Sua falta pode determinar a extinção do processo, por meio de habeas corpus, uma vez que a ação penal, em tal hipótese, constituirá coação ilegal (CPP, art. 648, I).

2.6. Pretensão

Pretensão é a exigência de subordinação de um interesse alheio a um

interesse próprio.

A pretensão corresponde à exigibilidade de reconhecimento do direito subjetivo. Enquanto este, na lição de CARNELUTTI, é algo que se tem, a pre-tensão é algo que se faz.

Pretensão e direito subjetivo são, pois, dois aspectos da situação jurídica subjetiva amparada pelo Direito. “Direito subjetivo é direito à prestação, enquanto

pretensão seria o direito de exigir a prestação ou mais propriamente, o poder de exigir a prestação.” 66

Ou, como ensinava PONTES DE MIRANDA: “Pretensão é a posição

sub-jetiva de poder exigir de outrem alguma prestação positiva ou negativa.”67

A pretensão normalmente se exerce por meios suasórios ou mediante en-tendimento entre os sujeitos da relação de direito material. É essa a forma natural e pacífica mediante a qual a pretensão é satisfeita. Em certos casos, requererá, para o seu atendimento, mera providência na esfera administrativa, perante um órgão estatal ou junto a uma concessionária de serviço público. Em outros poderá resultar em compromisso firmado pelas partes, de modo a submeter o desate da questão a um Tribunal Arbitral. Poderá, ainda, dar ensejo a medida judicial que não configure, propriamente, ação, quais sejam a notificação e a interpelação. Somente quando à pretensão se opõe resistência, por parte do

66 ANDRÉ FONTES, A Pretensão como situação jurídica subjetiva. Belo Horizonte: Del Rey,

2002, p. 41.

67 PONTES DE MIRANDA, Tratado das Ações, tomo I. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1970, p. 52, § 6, nº 1.

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obrigado, é que se configura o interesse de agir, que traduz a necessidade de ir a juízo por meio da ação adequada.

O Código Civil, ao tratar da prescrição, diz, no art. 189: Violado o direito,

nasce para o titular a pretensão. Consubstancia-se, nesse dispositivo, o

concei-to de pretensão, como móvel da ação, ou seja, a ideia de pretensão resistida, a comportar a ação tendente a restabelecer o direito violado.

2.7. Ação de direito material

Nas hipóteses acima referidas, em que a pretensão se exercita indepen-dentemente de uma ação judicial, diz-se que há uma ação de outra natureza – a

ação de direito material.

PONTES DE MIRANDA primava por acentuar a distinção entre os dois tipos de ação, advertindo que, se é certo que “A ação exerce-se principalmente

por meio de “ação” (remédio jurídico processual)”, não é menos verdade que “A ação exerce-se [também] de outros modos”, não sendo “preciso ir-se contra o Estado para que ele, que prometeu a tutela jurídica, a preste”.68

Nessa perspectiva, o poder de agir, judicial ou extrajudicialmente, no plano do direito processual ou no plano do direito material, caracterizaria a ação. 2.8. Lide

Quando a ação provoca o exercício da jurisdição contenciosa, para solu-cionar uma pendência entre duas ou mais pessoas, tem por objeto uma lide.

Lide ou litígio é um conflito de interesses qualificado por uma pretensão

resistida ou insatisfeita.

Esse conflito de interesses verifica-se quando o titular da pretensão, ao tentar obter do outro sujeito da relação jurídica (o obrigado) a prestação devida, encontra resistência ou não logra êxito no seu objetivo. Tal ocorrendo, surge, para o titular da pretensão, o interesse de agir.

No processo penal, a lide apresenta conotações distintas. As pretensões em conflito, no processo penal, cingem-se, da parte do Estado, à apuração da ocorrência do crime e, sendo o caso, à punição do culpado e, da parte do acusado, à exclusão da responsabilidade ou, sendo o caso, à punição adstrita aos limites da lei. A lide não se qualifica, portanto, no processo penal, por uma pretensão resistida ou insatisfeita, mas, sim, por uma pretensão de subordinação à ordem jurídica, exercida pelo Estado, a que se contrapõe uma pretensão de ampla tutela da defesa invocada pelo réu.

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2.9. Defesa

A ação tem como contraponto a exceção ou defesa.

EDUARDO COUTURE observa que, na sua acepção mais ampla, “la

ex-cepción es el poder jurídico de que se halla investido el demandado, que le habilita para oponerse a la acción promovida contra el.” Nesse sentido, pode-se dizer que

a exceção é a ação do réu69.

Por isso, o processualista uruguaio propunha que se transformasse a tri-logia de PODETTI num quadrinômio composto por jurisdição, ação, defesa e processo.

Como quer que seja, a defesa, que, tanto quanto a ação (Constituição, art. 5º, XXXV), tem assento constitucional (Constituição, art. 5º, LV), revela um dos conceitos fundamentais da teoria geral do processo.

No processo penal, a defesa apresenta dois aspectos: a autodefesa e a defesa técnica. A primeira manifesta-se no direito ao interrogatório do acusado e no direito à presença deste em todos os atos processuais, especialmente nos que dizem respeito à prova, uma vez que esta se destina à formação do convenci-mento do juiz. A segunda envolve o direito de assistência por advogado, seja este constituído pelo réu ou designado pelo juiz (defensor dativo). A esta última é que se refere a Súmula nº 523 do Supremo Tribunal Federal: “No processo penal,

a falta da defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova de prejuízo para o réu.”

2.10. Revelia

O termo revelia traduz “o estado ou qualidade do que é revel”, ou seja, a situação da “parte que, sendo citada, não acode à citação”. É a lição de JOAO MONTEIRO, que acentua o sentido especial da revelia decorrente da intenção deliberada do réu em esquivar-se de responder à ação, incorrendo, nesse caso, em contumácia70.

No processo civil, a revelia induz presunção de verdade quanto às alegações de fatos formuladas pelo autor (Cód. de Proc. Civil, art. 344), ressalvadas as ex-ceções previstas no art. 345 do Código, entre as quais sobreleva a circunstância de tais alegações serem inverossímeis ou estarem em contradição com a prova

constante dos autos (Cód. de Proc. Civil, art. 345, IV).

69 EDUARDO COUTURE, Fundamentos del Derecho Procesal Civil. 3ª edição. Buenos Aires:

DEPALMA, 1972, p. 89, nº 54.

70 JOÃO MONTEIRO, Teoria do Processo Civil, tomo I. 6ª edição. Atualizada por J. M.

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