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A QUESTÃO DA IDENTIDADE NO MUNDO ATUAL

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Academic year: 2021

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A QUESTÃO DA IDENTIDADE NO MUNDO ATUAL

A PRODUÇÃO SOCIAL DA IDENTIDADE E DA DIFERENÇA

IDENTIDADE E DIFERENÇA

Atualmente fala-se muito em “identidade” e “crise de identidade”. Ora só existirá crise de identidade se ela, a identidade se tornar um problema, se de uma posição considerada coerente e estabilizada se desloca pela experiência da dúvida e da incerteza. Parece que o estudioso da sociedade a coloca como uma característica da vida contemporânea ou modernidade tardia. A globalização, por exemplo, pode levar tanto ao distanciamento da identidade relativamente à cultura local e à comunidade como a uma resistência que, ao invés de afastar, reforça ainda mais as identidades nacionais e locais. Além da globalização muitos outros fatores podem gerar e geram crises de identidade. Veja-se o caso das migrações de pessoas em todo o globo. Esse movimento produz identidades que são estruturadas em locais diferentes e por diferentes locais onde se fixam. Elas tanto podem se desestabilizar como às outras com as quais convive1.

O multiculturalismo apoia-se num apelo à tolerância e ao respeito para com a diversidade e a diferença. Identidade é aquilo que se é. Assim parece ser uma positividade (sou isso, sou assim etc) é auto- contida e auto- suficiente.

Também a diferença nesta linha de raciocínio é uma entidade independente. Em oposição a identidade, neste caso é “aquele que o outro é” – ela é assim, ela é...A diferença tal qual a

identidade, simplesmente existe.

Se todos com os quais convivemos são humanos, não é necessário que eu afirme a todo instante a minha identidade de humano. Só em circunstancia muito raras afirmo: “Eu sou humana”. “Quando digo” “Sou brasileira” estão por trás muitas negações “não sou portuguesa, não sou inglesa etc”. Ficaria muito complicado afirmar minha identidade brasileira por negativas.

A gramática ajuda: - Eu sou... Mas também esconde: - Eu não sou... A identidade depende da diferença e vice-versa. São, pois inseparáveis.

Na perspectiva de diferença como produto derivado da identidade esta é o ponto original, a referência... Elas são mutuamente, determinadas.

Numa visão mais radical, contudo, a diferença vem em primeiro lugar. Na origem está a diferença como processo. Ambas são produzidas, de acordo com a perspectiva que se toma.

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IDENTIDADE E DIFERENÇA: CRIATURAS DA LINGUAGEM

A identidade e a diferença são resultados, atos de criação lingüística. Elas têm que ser ativamente produzidas pelo mundo cultural e social. Somos nós que as fabricamos.

Segundo Ferdinand de Saussure “a linguagem é fundamentalmente um sistema de diferenças” (ser isto significa “não ser aquilo” e “não ser mais aquilo etc”).

Os elementos os signos não tem qualquer valor absoluto. Por ex.: Cão só tem sentido numa cadeia infinita de conceitos que são diferentes que não são cão. A palavra “cão” é uma forma abreviada de dizer “isto não é porco, não é boi, não é ave etc”

A linguagem não passa de um sistema de diferenças e por extensão, a identidade, também; ambas se instituirão cultural e socialmente. Tanto a linguagem como a identidade são estruturas instáveis, e como diz Derrida. “A linguagem vacila”. Ou como bem disse Edward Sapir “todas as linguagens vazam”.

O texto de Kathrin Woodward aqui em referência, apresenta uma analogia interessante da linguagem com a identidade e a diferença.

O signo, característica fundamental da linguagem, não é uma presença, ou seja, a coisa ou o conceito, mas ele dá a ilusão “metafísica da presença” ainda citando Derrida. Essa “ilusão” é necessária para que o signo funcione. Como tal o signo, afinal, está no lugar de alguma outra coisa. O signo carrega não apenas o traço daquilo que é como o traço daquilo que não é. “A mesmidade (identidade) carrega sempre o traço da outridade (diferença)”.

Somos dependentes da estrutura lingüística, cujas características são a indeterminação e a instabilidade, logo, estas características terão efeitos importantes na identidade e diferença culturais, uma vez que são identidade e diferença definidas pela linguagem.

A IDENTIDADE E DIFERENÇA – O PODER DE DEFINIR

- A identidade tal como a diferença é uma relação social e como tal é imposta. As duas não estão em convivência harmoniosa, elas são disputadas.

- Quando se afirma a identidade e se enuncia a diferença está-se colocando em tela a vontade de se impor de um grupo social.

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Há uma ligação muito próxima entre elas e as relações de poder. Pode-se mesmo dizer que onde há diferenciação – ai está o poder. A identidade traduz “inclusão” e a diferença “exclusão” do ponto de vista da identidade e o contrário do ponto de vista da diferença.

Quando estabelecemos uma identidade demarcamos limites, fronteiras. Indico quem fica dentro e quem fica fora. Divido, “as classificações são sempre feitas a partir do ponto de vista da identidade”.

Segundo o autor francês Jacques Derrida. As relações de identidade e diferença são todas ordenadas em oposições binárias onde o primeiro termo é sempre de valor positivo e Ao

colocar determinada identidade como parâmetro, modelo, como norma está-se hierarquizando, elegendo arbitrariamente uma identidade em detrimento de outras, que a partir dessa forma de identidade são avaliadas, tal é a sua força homogeneizadora.

Dessa forma ao se definir uma identidade depende-se da diferença, tal como a definição de anormal depende da definição de anormal, ou seja, de algo que é definido como “diferente” de normal. Todas as pessoas são dependentes de uma estrutura “que balança”, da linguagem, instável e caracterizada pela indeterminação.

Também a questão da diferença e da identidade sofre as conseqüências dessa qualidade distintiva fundamental da linguagem. A identidade hegemônica está sempre acossada pelo seu “Outro”, do qual depende para ter sentido. Podemos dizer, enfim, que a identidade e a diferença são tão imprecisas e variáveis como o é a linguagem, de que dependem.

A FIXAÇÃO DA IDENTIDADE: TENDÊNCIA E IMPOSSIBILIDADE

O processo de produção da identidade se desloca entre duas direções: a primeira que tende a fixar, determinar a identidade; a segunda com a disposição para subversão e desestabilização.

A tendência da identidade tal como a da linguagem é para fixação, que é ao mesmo tempo uma tendência e uma impossibilidade, dada as características similares de ambas.

A REPRESENTAÇÃO OBRIGATÓRIA DA IDENTIDADE E DA DIFERENÇA

Ambas estão estreitamente ligadas a sistemas de representação. Há duas dimensões de representação – externa - através de sistemas de signos, pintura, escrita, linguagem e a interna ou

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mental, a representação do real na consciência isso na história da Filosofia ocidental. No contexto do pós-estruturalista a representação é externa, uma marca visível, exterior e nunca mental ou interior. (pintura, um filme, uma foto, uma expressão oral etc.). Nessa concepção a representação é sempre uma marca ou traço que se pode ver, não é algo interior, mental, é pura marca material. É sob o ponto de vista pós-naturalista, que a representação se liga à identidade e à diferença. A representação aqui é como qualquer sistema de significação é uma maneira de se atribuir sentido. E é neste enfoque que identidade e diferença são dependentes da representação. É a representação que lhes dá sentido, que as faz existirem e que as conectam ao poder. Ao representar adquire-se o poder de definir e determinar a identidade e levantar questões sobre identidade e diferença e, portanto questionar os sistemas de representação.

Daí vão surgir as implicações pedagógicas e curriculares, de preparar o educando para a crítica e o questionamento dos sistemas e formas dominantes de representação da identidade e da diferença.

A LINGUAGEM PERFORMÁTICA E A IDENTIDADE E DIFERENÇA

O conceito de “performatividade” se deve a J.A. Austin (1998) para ele

A linguagem não se limita a proposições que simplesmente descrevem uma ação, uma situação ou estado de coisas. Assim, se nos pedirem para dar um exemplo de proposição típica, provavelmente diríamos” o livro está sobre a mesa”. Trata-se de uma proposição que Austin chama de “constatativa” ou “descritiva”.2

Mas há proposições que não só descrevem, mas fazem o que foi descrito acontecer. Por exemplo: “Eu vos declaro marido e mulher”. São as proposições performativas.

Em sentido estrito performativa é a proposição cuja enunciação é absolutamente necessária para que o fato anunciado se realize. Mas muitas proposições descritivas acabam por funcionar como performativas num sentido amplo: Por exemplo: João não vai aprender este cálculo. Se repetirmos muito essa simples descrição do fato produzir-se-á de fato a falta de aprendizagem real. É nesse sentido que Judith Butler analisa a produção da identidade como uma questão de performatividade. Advindo deste fato a preocupação pedagógica com a performatividade na formação e no reforço da identidade e consequentemente da diferença.

A força da linguagem está exatamente na repetição e, sobretudo na possibilidade de sua repetição. Uma característica essencial do signo é ser repetível (daí as punições do racismo).

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Assim também na linguagem é a repetição do signo e o ser repetível que o faz ser a representação que é.

Derrida chama a repetibilidade da escrita e da linguagem oral de “citacionalidade”. Quando falo eu estou recortando e colando. Recortando de um contexto e colando num novo contexto, não é minha opinião, por exemplo: Negão, é apenas mais uma ocorrência de citação que tem sua origem em um sistema mais amplo de operações de citação, de performatividade e, finalmente, de definição, produção e reforço da identidade cultural que reforça o aspecto negativo atribuído à identidade negra do exemplo. Não é a minha simples opinião, na verdade estou apenas citando, recortando e colando num novo contexto, sob o disfarce de ser a “minha opinião”.

Segundo Judith Buther 1999 (Corpos que pensam) A repetição pode ser interrompida, contestada. É nesta interrupção que residem as possibilidades de instauração de identidades que não represente simplesmente reprodução das relações de poder existentes. É o interromper o “recorte e colagem” e parar o processo de “citacionalidade” característica dos atos performativos que reforçam as diferenças instauradas e pensar na produção de novas e renovadas identidades.

FAZENDO DIFERENÇA NA PEDAGOGIA

Não basta educar para que se tenha tolerância e respeito para com a diversidade cultural. Esses sentimentos, por mais edificantes que sejam impedem-nos de ver a identidade e diferença como processos de produção social que envolvem relações de poder. A identidade e diferença não são identidades pré-existentes, não são elementos passivos da cultura. Elas têm que ser continuamente criadas e recriadas.

Assim o que se tem a descrever é o que a identidade é e o que não é. E do mesmo modo o que a diferença é e o que não é. A identidade não é uma essência, não é um dado ou um fato (da natureza da cultura). Não fixa, não é estável nem coerente, nem unificada ou permanente. Não é homogenia, não é definida, acabada, idêntica transcendental. A identidade é uma construção, um efeito, um processo de produção, uma relação, um ato performativo, é instável, contraditória etc. A identidade está ligada a sistemas de representação tem estreitas conexões com relação de poder.

É problema pedagógico na escola a interage com o outro e também paga o outro e a diferença não pode deixar de ser matéria de preocupação na escola. Mesmo se ignorado e

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reprimido a volta do outro, do diferente e inevitável, é reforçada e multiplicada. E numa sociedade onde a identidade é cada vez mais descentrada e difusa este outro tem muitas dimensões, cor diferente, gênero diferente, raça diferente, sexualidade diferente, religião diferente. Etc.

- Cultivar e estimular bons sentimentos para com o outro

- Tratar terapeuticamente para os que rejeitam a diferença dinâmica de grupo, teatro etc. - Estudo superficial das diferentes culturas;

- Adotar uma teoria que descreva e explique o processo da produção da identidade e da diferença, e questioná-la;

- Estimular em matéria de identidade, o impensado, o erro, o inexplorado e o ambíguo.

Pode-se dizer da pedagogia o que Maurice Blanchot (1969, p.115) disse da palavra e da fala:

Procurar acolher o outro como outro e o estrangeiro como estrangeiro; acolher a outrem, pois, em sua irredutível diferença, em sua estrangeiridade infinita, uma estrangeiridade tal que apenas uma descontinuidade essencial pode conservar a afirmação que lhe é própria.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUSTIN, J.L. Como hacer cosas com palabras. Barcelona: Paidós, 1998. BLANCHOT, Maurice. L’entretien infini. Paris: Gallimard, 1969.

BUTLER, Judith. Corpos que pesam, in: LOPES LOURO, Guacira(Org.). O corpo educado. Pedagogia da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 1999:151-172. DERRIDA, Jacques. Limited Inc. Campinas: Papirus, 1991.

SAPIR, Edward. Language. Nova York: Harcourt Brace, 1921.

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