Variáveis envolvidas no
comportamento de
percepção de risco em
desastres
Dafne Rosane Oliveira
Instituto de Psicologia/USP, CEPED-USP
Contexto
Logística Humanitária
– demanda complexa e
multifatorial de um desastre/ Interdisciplinariedade
envolvida na gestão de riscos e gerenciamento de
desastres
Mapeamento de áreas de risco - ações para garantir a
proteção das populações
Percepção de risco
Síndrome de Cry-Wolf
Objetivo
Investigação conceitual
Apresentar um panorama geral das variáveis
envolvidas na percepção de risco e a
chamada síndrome de cry-wolf.
Conceitos
DESASTRE
Uma questão central de várias definições, é a ideia da
ausência de recursos suficientes para lidar com os efeitos
de um evento adverso.
VULNERABILIDADE
Ayres (2002) a vulnerabilidade depende da combinação dos elementos da
vulnerabilidade individual, social e programática. Côelho (2016), comenta:
Vulnerabilidade individual (que compreende aspectos biológicos,
emocionais, cognitivos, atitudinais e referentes às relações sociais, o que compreenderia o nível de informação em relação aos riscos de um evento adverso);
Vulnerabilidade social (é caracterizada por aspectos culturais, sociais e
econômicos que determinam as oportunidades de acesso a bens e serviços, relacionada ao acesso aos meios de comunicação e recursos disponíveis para o enfrentamento de um desastre),
Vulnerabilidade programática (refere-se aos recursos sociais necessários
para a proteção do indivíduo a riscos, à integridade e ao bem-estar físico, psicológico e social, que está ligada à necessidade de uma minuciosa
avaliaçãodos programas para responder à demanda, de forma que hajam recursos e que eles possam ser utilizados.)
RISCO
Risco se refere à probabilidade de que ocorram consequências prejudiciais e/ou danos (mortes, lesões ou prejuízos econômicos) como resultado da interação entre as ameaças e a vulnerabilidade.
RISCO = Ameaça X Vulnerabilidade (CEPED/RS, 2015)
Capacidade
Risco não é um mero estímulo físico objetivo, pois trata-se de uma construção social, subjetiva e multidimensional, que envolve valores,
crenças, juízos, atribuições, memória, emoção, sentimentos, motivação, categorização sobre o risco ou as distintas fontes de risco, sejam elas tecnológicas, ambientais ou sociais. (KUHNEN, 2009)
Importante propor medidas de prevenção e preparação, a fim de
conhecer e diminuir os riscos e potencializar os recursos para lidar com eventos adversos.
Desenvolvimento e Discussão
Mapeamento de áreas de risco – viver em área de risco
Escolha x intrincado conjunto de fatores políticos, econômicos e sociais.
PERCEPÇÃO DE RISCO
As percepções sobre a realidade envolvem o modo como aprendemos a ver o mundo a partir de nossas experiências anteriores de aprendizagem. A percepção é efeito da cultura e influencia nossos comportamentos,
orientando nossa tomada de decisão referente ao que se percebe. CEPED/RS (2015) aponta que a “percepção de riscos é o processo de coleta, seleção e interpretação dos sinais que pessoas ou comunidades fazem em relação aos impactos (incertos) de eventos, atividades e
tecnologias.“
Percepção de risco influencia positivamente a adoção de estratégias eficazes de mitigação e resposta. (DAHAL & HAGELMAN, 2011).
Variáveis envolvidas
Experiência das pessoas com desastres,
O conhecimento biofísico e geográfico dos eventos,
A localização e proximidade com as fontes de perigo,
Características sociais tais como gênero, raça/etnia, renda,
escolaridade, idade e vulnerabilidades.
(DAHAL & HANGELMAN, 2011)
Alarmes, alertas e avisos
Avisos de desastres são considerados como uma medida
importante de mitigação.
As autoridades muitas vezes ficam no dilema de como
noticiar e espalhar os alertas, uma vez que muitas vezes se
espera “aumentar” o alerta para que as pessoas se
comportem preventivamente ao possível evento. Mas muitas
vezes, conforme apontado pela literatura, isso pode ser uma
variável para descrédito em situações futuras.
Alarmes, alertas, avisos
Ampla gama de fatores que afetam as decisões de evacuação no momento após as pessoas ouvirem uma previsão de furacões e
outras informações.
Três grandes áreas de pesquisa estão envolvidas, sendo que muitas vezes elas se sobrepõem; são elas: aviso, percepção de risco e
investigação de evacuação.
Não se trata de simplesmente responder a avisos oficiais. Avisos por si só não motivam a evacuação.
Avisos e alertas - um processo social, que tem vários graus. *(Confiança, emoções e incerteza)
Estudo de Dahal & Hangelman (2011)
A probabilidade da adoção de comportamentos de proteção das pessoas diminuiu em função de um alarme falso, e de uma evacuação diante de tal alarme.
Inundação brusca de um lago glacial no Nepal.
Entrevistas a moradores da área de risco - baixo nível de percepção de risco.
Variáveis analisadas:
Síndrome de Cry-Wolf (resistência em aceitar os riscos mediante uma história
passada de alarmes falsos)
Crença de que o lago não representa qualquer risco por causa da conclusão da fase inicial de um projeto de mitigação estrutural.
Questões relacionadas ao controle dos riscos por poderes atribuídos a divindades.
Qualidade dos alarmes
Caruzzo, Manso & Belderrain (2013) apontam que é importante ressaltar que a previsão de um evento, meteorológico, por exemplo, sem as
condições necessárias para apoiar o decisor, pode provocar a perda de credibilidade.
Síndrome de Cry-Wolf – ausência de estudos no Brasil.
Necessidade de estudos - melhoria da emissão e da precisão dos alertas, e da forma como as informações são passadas aos envolvidos e possíveis afetados.
Estudos nessa temática podem diminuir as chances de que falsas crenças continuem a controlar o comportamento das pessoas que estão expostas às áreas de risco, por exemplo: “não aconteceu antes, não é agora que vai acontecer.
Considerações finais
Percepção de risco deva ser entendida como um conceito amplo, que leva em consideração diversas variáveis como experiência pessoal, conhecimento técnico, valores, crenças, apego ao local habitado e condições sociais e
econômicas.
A percepção de risco está relacionada a um comportamento que pode e deveria ser ensinado, contemplando uma cultura de prevenção.
Síndrome de cry-Wolf – considerar as variáveis de qualidade dos alertas e confiança
Promover uma cultura de prevenção, principalmente a partir da história de aprendizagem e das vivências daquela localidade é fundamental para que a relação entre a equipe técnica e as populações de risco sejam de confiança, proteção e segurança.
REFERÊNCIAS
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CÔELHO, A. Percepção de risco no contexto da seca: um estudo exploratório. Psicol. Am. Lat. n.10 México jul, 2007.
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