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3. Quem é Deus (Parte 1)

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3. Quem é Deus (Parte 1)

Pr Luciano R. Peterlevitz

Tema e assunto

Nessa aula e na próxima estudaremos Quem é Deus. Na presente unidade, os seguintes tópicos serão abordados:

 A natureza de Deus.

 Os atributos que expressam a grandeza de Deus.

Objetivos

Após estudar essa lição você será capaz de:

 Reconhecer quem é Deus.

 Reconhecer a infinitude e a grandeza de Deus.

 Aumentar a confiança no Deus Soberano.

A natureza da Deus

Quem é Deus? Sem dúvida, essa é uma pergunta muito difícil de ser respondida. Em primeiro lugar, porque não podemos definir Deus completamente. Afinal, definir, em certo sentido, significa limitar, e Deus não pode ser limitado por nada, muito menos por nossas definições teológicas. Em segundo lugar, quando definimos Deus, corremos o risco de descrevê-lo a partir de nossas percepções e gostos pessoais ou de elaborar definições essencialmente filosóficas não encontradas na Bíblia. Portanto, nossa definição de Deus jamais será completa, porque Deus é infinito e ilimitado.

Embora não podemos definir exatamente Deus, certamente podemos descrevê-lo através do estudo da Bíblia, que é a autorevelação do próprio Deus. Mesmo que nossa descrição de Deus seja limitada, ela precisa ser essencialmente bíblica.

A natureza de Deus foi muito bem descrita por Mullis: Deus é o supremo espírito pessoal; perfeito em todos os seus atributos; quem é a fonte, o sustentador, e o fim do universo; quem o guia conforme seu propósito sábio, reto, e amoroso, revelado em Jesus Cristo; quem mora em todas as coisas mediante seu Santo Espírito, procurando sempre transformá-las conforme a sua própria vontade e trazê-las a seu reino.”1

Nessa descrição de Mullis, podemos notar que Deus é um Ser pessoal. Com isto, estamos dizendo que ele não é uma força impessoal. Equivocadamente muitas correntes místicas afirmam que Deus é um tipo de “energia” ou “força”. Contudo, conforme verificaremos nas páginas abaixo, nas Escrituras Deus se revela como possuidor de atributos pessoais: razão, consciência, emoção, vontade própria, entre outros. Deus tem

1 Edgar Mullis, The Christian religion in its doctrinal expression (Philadelphia: Roger Williams Press, 1917), p. 214.

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2 nome pessoal (Javé, o Senhor: Êx 3.14). Portanto, não é uma “coisa”. Desde o início da criação, Deus conhece os seres humanos e se relaciona com eles (veja Gn 2 – 3).

Outro ponto importante do texto de Mullis é que Deus é “perfeito em todos os seus atributos”. Os atributos de Deus são as qualidades inerentes à sua natureza. Observando os seus atributos, conforme apresentados na Escritura, podemos conhecer um pouco a respeito de quem é ele.

Uma das formas de classificar os atributos de Deus é dividi-los em duas categorias: os atributos incomunicáveis e os atributos comunicáveis.

 Os atributos incomunicáveis são aqueles que pertencem exclusivamente a Deus.

Por exemplo, Deus é onipresente (está em todos os lugares). Nenhuma criatura tem essa qualidade.

 Os atributos comunicáveis são aqueles que Deus transmitiu parcialmente à humanidade. Por exemplo, o amor e a justiça são qualidades da natureza de Deus que também podem ser encontrados nas criaturas humanas.

Na sequência, estudaremos os atributos de Deus sem a preocupação de encaixá-los em incomunicáveis ou comunicáveis. Na verdade, procuraremos, a partir das Escrituras, desenvolver algumas afirmações sobre quem é Deus.

Deus é espírito

A Bíblia diz que “Deus é Espírito” (Jo 4.24). Isso significa que ele possui uma essência destituída de todo elemento material. Como diz Jesus, “um espírito não tem carne, nem ossos” (Lc 24.39). Então, Deus não tem corpo físico. “Ele não tem membros, tamanho, nem dimensões. Ele não pode ser percebido pelos nossos sentidos corporais. Pensar sobre o seu ser em termos de qualquer outra coisa criada no universo seria uma representação equivocada, pois ele é mais excelente do que qualquer outro tipo de existência.”2

É verdade que algumas passagens bíblicas referem-se a algumas partes do corpo de Deus: rosto (Nm 6.25); costas (Êx 33.22); mãos (Êx 33.22); pés (Gn 3.8); olhos (1Reis 8.29); ouvidos (Ne 1.6). Na verdade, o que lemos nesses textos são representações antropomórficas, ou seja, formas humanas atribuídas a Deus. A Bíblia é a revelação de Deus para o homem, e, portanto, a fonte da Escritura é divina. Mas a linguagem da Escritura é humana, e esses antropomorfismos são figuras humanas aplicadas a Deus, e têm por objetivo “trazer o infinito ao alcance do finito”3.

Justamente porque Deus é espírito, ele também é invisível. “Ninguém jamais viu a Deus” (Jo 1.18). Quando se diz que Isaías viu o Senhor (Is 6.1), isso não significa que ele viu a Pessoa de Deus, pois homem nenhum pode ver a face de Deus e continuar vivo (Êx 33.20). Na verdade, Isaías viu a manifestação da glória do Senhor. Do mesmo modo, Moisés não viu o Ser de Deus, mas sim sua “forma / semelhança” (Nm 12.8).

Portanto, quando lemos na Bíblia que algumas pessoas viram a Deus (Gn 32.20; Êx 3.6;

24.9,10; Dt 34.10), isso significa que elas viram a manifestação da presença gloriosa de Deus. Portanto, não viram Deus em sua essência. É como ver nosso rosto no espelho: na

2 Wayne Grudem, Entenda a fé cristã: um guia prático e acessível com 20 questões que todo cristão precisa conhecer, São Paulo: Vida Nova, 2010, p. 29.

3 Henry Clarence Thiessen, Palestras em Teologia Sistemática (São Paulo: Editora Batista Regular, 1987), p. 75.

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verdade, estamos vendo apenas o reflexo da nossa imagem. Do mesmo modo, vários personagens bíblicos viram somente o reflexo da imagem de Deus.

Deus é vida

Dizer que Deus é Espírito implica em outra afirmação: Deus é vivo e o supremo Autor da vida (Jo 6.63: “o Espírito dá vida”). O Senhor é o Deus vivo (Js 3.10; 1Sm 17.26; Sl 84.2; Mt 16.19; 1Ts 1.9). Ele é a fonte de toda a vida – vida vegetal, animal, humana, espiritual e eterna (Jo 5.26; Sl 36.9).4 Deus tem pleno poder sobre a vida; é Ele quem dá a vida e tira a vida (1Sm 2.6).

Toda vida é originada de Deus. “...ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas” (Atos 17.25). Em Gênesis 1.1, lemos que Deus criou os céus e a terra.

Antes de existir qualquer tipo de vida, só existia Deus, e toda forma de vida foi criada por Ele (João 1.3). Portanto, todas as criaturas tem vida em Deus, e só Deus tem vida em si mesmo (Jo 5.26).

Deus é Auto Existente

Como só Deus tem vida em si mesmo, segue-se logicamente que ele não precisa de nada para existir. Se o Universo deixasse de existir, Deus continuaria sendo Deus. Ele é o único ser que é totalmente independente de tudo. Ele “não é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa” (Atos 17.25 – ênfase acrescentada).

Portanto, Deus não precisa de nós. No entanto, ele decidiu compartilhar sua vida conosco. O Senhor decidiu cumprir seus propósitos através de nós. “Ele poderia simplesmente ter sido – sem nós; ele pode, se assim preferir, atingir seus objetivos sem nós. É para o nosso benefício que ele permite que o conheçamos e sirvamos, e nós é que perdemos se rejeitarmos tal oportunidade...Ele não é afortunado por nos ter; nós é que somos os afortunados e os privilegiados.”5

Deus é eterno

Gênesis 21.33 afirma que o Senhor é o “Deus eterno”. No Salmo 90.2, lemos: “Antes que nascessem os montes, ou que tivesses formado a terra e o mundo, sim, de eternidade a eternidade tu és Deus” (NVI). Isaías diz que Deus “habita a eternidade”

(Isaías 57.15). De fato, ele é “eterno, imortal, Deus único” (1Timóteo 1.17).

A eternidade é muito difícil de ser definida. Como descrever algo infinito com nossas palavras finitas e limitadas? Mas, em linhas gerais, quando a Bíblia diz que Deus é eterno, está afirmando que ele não está limitado ao tempo. Como diz Robert D. Culver,

“Deus não tem começo nem fim, e é ele mesmo a causa das outras coisas existentes que têm duração”.6

Para Deus, não há passado, presente ou futuro. Deus não foi ou será; Deus não está sendo. Deus é. Ele está acima do tempo. Toda a sucessão de tempo está agora diante de Deus. Thiessen ilustra isso da seguinte maneira: “Pode-se ver um desfile do alto de uma torre, de onde se pode vê-lo em toda a sua extensão de uma só vez, ou pode-se vê-lo de

4 Henry Clarence Thiessen, Palestras em Teologia Sistemática, p. 75.

5 Millard J. Erickson, Teologia Sistemática, p. 263.

6 Robert D. Culver, Teologia Sistemática: bíblica e histórica (São Paulo: Shedd Publicações, 2012), p.

130.

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4 uma esquina, de onde só se pode vê-lo por partes. Deus tudo vê da primeira maneira,

apesar de estar ciente da sequência do desfile.”7

Deus é imutável

Através do profeta Malaquias, Deus afirma expressamente: “Porque eu, o Senhor, não mudo” (Malaquias 3.6). Deus é imutável. Isso significa que não há nenhuma mudança na natureza de Deus. Por exemplo, Deus não pode se tornar mais sábio, mais poderoso, mais amoroso, ou mais justo, porque ele é absolutamente perfeito.

“Mas imutabilidade não significa imobilidade. Algumas pessoas parecem pensar que por ser imutável, Deus não pode agir. Sabemos, entretanto, que Deus é imutável e também que Ele age; por isso, as duas coisas devem ser compatíveis.”8

É preciso entender que várias passagens bíblicas afirmam que Deus muda o curso de sua ação dependendo da resposta humana à sua Palavra (Jeremias 18.8; Joel 2.13; Jonas 1.2;

3.4,10), e misteriosamente isso ocorre sem que seus planos e propósitos eternos sejam alterados (Isaías 46.10; Romanos 11.29). Para Isaltino Gomes, Deus “muda suas atitudes para com os homens (dependendo de como estes reagem aos seus apelos e advertências)...Ou seja, ele pode mudar sua maneira de agir (pois é criativo), mas sua essência e seu caráter continuam os mesmos. Ele muda em suas ações, em suas formas de se revelar, no jeito de tratar as pessoas, mas mantém a constância do seu ser e de seu caráter.”9 É nesse sentido que devem interpretadas as passagens que apresentam Deus se arrependendo de algo (Gênesis 6.6; Êxodo 32.14; 2Samuel 24.16; Jonas 3.10; 4.2). O verbo “arrepender”, nestes casos, não significa se arrepender de algum erro cometido, pois afinal, Deus “não mente nem se arrepende, porquanto não é homem, para que se arrependa” (1Samuel 15.29). Antes, o verbo “arrepender”, quando aplicado a Deus, simplesmente indica que Deus mudou sua maneira de agir, seja deixando de julgar, por causa do arrependimento humano, seja deixando de salvar, por causa da dureza do coração humano (confira Jeremias 18.1-10).

Deus está acima da criação e se se manifesta na criação

Encontramos aqui dois conceitos teológicos relacionados à pessoa de Deus: sua transcendência e sua imanência.

Quando dizemos que Deus é transcendente, estamos afirmando que ele está acima da criação. Ele está completamente fora do espaço físico. Deus está em outra esfera, completamente distinto da esfera humana. No dizer de Eclesiastes, “Deus está no céu e tu estás sobre a terra” (Eclesiastes 5.2). Por isso, Deus não pode ser confundido com a natureza. Ele é o criador da natureza, e está acima dela. Salomão disse: “Mas, de fato habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus, não te podem conter...”

(1Rs 8:27). Assim, o Senhor não habita em santuários feitos por mãos humanas, porque Ele é o Criador dos céus e da terra (Atos 17.24,25). De acordo com a Bíblia, o Criador não pode ser confundido com a criatura. Confronta-se assim o panteísmo, que afirma que “tudo é Deus e Deus é tudo”.

7 Henry Clarence Thiessen, Palestras em Teologia Sistemática, p. 77.

8 Henry Clarence Thiessen, Palestras em Teologia Sistemática, p. 81.

9 Isaltino Gomes Coelho Filho, Teologia Sistemática 1 (apostila preparada para EBD da Igreja Batista do Cambuí, Campinas, s/d, texto não publicado), p. 47.

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Por outro lado, quando afirmamos a imanência de Deus, estamos dizendo que ele se manifesta na criação. O conceito de imanência afirma que Deus está em todos os lugares.

Os conceitos de transcendência e de imanência precisam ser devidamente compreendidos. Deus não pode ser confundido com a criação (transcendência), mas, por outro lato, ele se manifesta em toda a criação (imanência). Esses dois conceitos não são contraditórios, mas complementares. O enfoque desproporcional em um dos dois pode arruinar a espiritualidade cristã. A heresia surge quando se enfatiza um aspecto da pessoa de Deus em detrimento do outro. A ênfase exagerada na transcendência expulsa Deus de nossa realidade. Por outro lado, a ênfase exagerada na imanência ignora a grandeza de Deus, igualando-o à criatura.

De fato, Deus não é apenas o Deus de perto, mas é também o Deus de longe (Jeremias 23.23). Através do profeta Isaías, o Senhor mesmo declara: “Pois assim diz o Alto e Sublime, que vive para sempre, e cujo nome é santo: ‘Habito num lugar alto e santo, mas habito também com o contrito e humilde de espírito, para dar novo ânimo ao espírito do humilde e novo alento ao coração do contrito’” (Isaías 57.15).

A glória de Deus se manifesta nos céus (Salmo 19.1-6). Mas a glória de Deus também se manifesta em nós e através de nós. Deus se revela através dos céus. É fantástico saber que Deus não reserva sua glória somente aos céus. Pois ele compartilha sua glória conosco! Deus é grande, mas se revela entre os pequenos. O Senhor é magnífico em toda a terra (Salmo 8.1), mas é a partir dos louvores dos pequenos e fracos que ele destrói os poderes do inimigo (Salmo 8.2; cf. Mateus 21.16).

É interessante notar que, no Antigo Testamento, a palavra hebraica kabod, “glória”, também apresenta o sentido de “peso”. Brennan Manning lembra-nos que muitos

“salmos referem-se a kabod como um força invencível e uma realidade esmagadora, mas também falam de abrigo e proteção para os que confiam em Javé (Sl 11, 16, 36).”

Então, o nosso Deus é grande, se distancia de nós, mas simultaneamente ele se faz presente entre nós.

Deus é Todo Poderoso

Deus é o “único Soberano” (1Tm 6.15). Ele é onipotente (Gn 17.1; 18.14; Jr 32.14; Mc 10.27). “Pois nada é impossível para Deus” (Lucas 1.37 – NVI). Jó reconheceu: “Sei que podes fazer todas as coisas; nenhum dos teus planos pode ser frustrado.” (Jó 42.2 – NVI). Até os demônios creem em Deus e tremem (Tiago 2.19), porque eles sabem que estão debaixo do poder de Deus (Mateus 8.29).

Deus é soberano sobre a natureza: Salmo 147.8,16-18; Jeremias 10.13; Amós 4.7.

Deus é soberano sobre os reinos humanos: Daniel 4.35; João 19.10,11.

Deus é soberano sobre os planos e o destino das pessoas: Provérbios 16.9; Atos 18.21;

Tiago 4.15.

Deus é soberano até mesmo sobre os detalhes da vida: Mateus 10.29.

Deus é soberano sobre as enfermidades: João 9.3; 2Co 12.1-9.

Deus é soberano sobre a vida e sobre a morte: 1Samuel 2.6.

Deus tem poder para fazer tudo o que quiser, desde que sua ação não contradiga sua natureza. Ele não pode fazer nada que transgrida seu caráter eterno, justo e perfeito.

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6 Deus não pode negar-se a si mesmo (2Timoteo 2.13); não pode mentir (Hebreus 6.18);

não pode cometer pecado (Tiago 1.13). Ele não pode deixar de existir.

A doutrina da onipotência de Deus traz grande conforto ao cristão. Pois todos os poderes humanos, inclusive os corruptos e os violentos, estão debaixo do controle absoluto do Deus Poderoso. Isso nos dá certeza de que todo mal será vencido pelo poder de Deus (Apocalipse 11.15).

Reconhecer a onipotência de Deus é reconhecer que ele nunca pode ser frustrado em seus planos. Seu poder é tal que tudo terminará como ele deseja que termine. Para a Igreja este atributo de Deus é outra garantia extraordinária, soando-nos como uma promessa de vida e também como uma garantia de que nosso ministério, como igreja do Senhor, pode ser um ministério triunfante se permitirmos que ele aja em nossa vida. Ele faz a história caminhar para o ponto que ele deseja.10

Humanamente falando, é muito difícil explicar a relação entre o mal (isso incluí as catástrofes naturais, enfermidades, injustiças, etc.) e a soberania de Deus. Muitos teólogos atuais afirmam que se Deus é totalmente soberano ele não ama, e se ele ama, não é totalmente soberano. O Rabino Harold Kushner, comentando sobre o autor do livro de Jó, afirma que, “forçado a escolher entre um Deus bom que não é de todo onipotente ou um Deus poderoso que não é totalmente bom, o autor do livro de Jó opta por acreditar na bondade de Deus”11.

Kushner defende que a “natureza é moralmente cega, sem valores. Ela vai em frente, seguindo suas próprias leis, pouco se importando com quem ou com quê encontra no seu caminho”12. Mas, de acordo com a Bíblia, nosso destino não está nas mãos de forças impessoais, mas nas mãos do Deus Soberano. Nossas vidas não estão debaixo da natureza “moralmente cega”, mas nas mãos do Deus que criou a natureza, o Deus que é perfeitamente bom.

Deus está no controle de tudo, inclusive das enfermidades. Se Deus não exerce soberano controle sobre as doenças e dor, se elas acontecem por acaso, “obviamente então não há qualquer fundamento para se confiar em Deus. Porém, se Deus é soberano nessa área, então podemos confiar nEle sem compreender todas as questões teológicas envolvidas no problema da dor”13.

Outro ponto difícil de ser compreendido é a relação entre a soberania de Deus e o livre arbítrio humano. Na verdade, lemos nas Escrituras que Deus usa a desobediência do homem para concretizar seus planos, sem ferir a liberdade humana e sem deixar de ser soberano (Atos 4.27,28; Apocalipse 17.17). A Bíblia “constantemente descreve o homem fazendo escolhas reais por sua própria vontade”14. Por exemplo, lemos em 1Reis 12 que Roboão tomou uma decisão: não atendeu ao conselho dos sábios anciãos, mas ouviu o conselho dos jovens. Por isso, seu reino foi dividido. Mas sua atitude havia sido planejada por Deus: “E o rei não ouviu o povo, pois esta mudança nos acontecimentos vinha da parte do Senhor, para que se cumprisse a palavra que o Senhor havia falado a Jeroboão, filho de Nebate, por meio do silonita Aías.” (1Rs 12.15 – NVI, ênfase acrescentada).

10 Isaltino Gomes Coelho Filho, Teologia Sistemática 1, p. 42.

11 Harold S. Kushner, citado por Jerry Bridges, Confiando em Deus mesmo quando a vida nos golpeia, São Paulo, NUTRA Publicações, 2013, p. 27.

12 Harold S. Kushner, citado por Jerry Bridges, Confiando em Deus mesmo quando a vida nos golpeia, p.

55.

13 Jerry Bridges, Confiando em Deus mesmo quando a vida nos golpeia, p. 121.

14 Jerry Bridges, Confiando em Deus mesmo quando a vida nos golpeia, p. 81.

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A passagem de Atos 4.27,28 afirma tanto a ação humana como a ação divina: “De fato, Herodes e Pôncio Pilatos reuniram-se com os gentios e com os povos de Israel nesta cidade, para conspirar contra o teu santo servo Jesus, a quem ungiste. Fizeram o que o teu poder e a tua vontade haviam decidido de antemão que acontecesse.” Sobre esse texto, Bridges comenta: “Obviamente, Herodes, Pilatos e os líderes judeus fizeram exatamente o que desejavam fazer, entretanto, eles agiram exatamente como Deus havia planejado.”15

Portanto, Deus faz com que seus eternos propósitos se cumpram, e faz isso sem anular o livre arbítrio humano.

Deus está em todos os lugares

Deus é onipresente. Davi reconheceu que não há lugar onde Deus não possa estar (Salmo 139.7-12). De fato, ninguém pode se esconder de Deus (Jeremias 23.24). A onipresença de Deus significa que sua presença não está limitada pelo espaço físico. O teólogo alemão Wolfhard Pannenberg definiu assim a onipresença de Deus: “No ponto em que a eternidade de Deus representa que todas as coisas são sempre presentes para ele, a ênfase em sua onipresença consiste em que ele está presente para todas as coisas em seus respectivos locais de existência. A presença de Deus enche os céus e a terra (Jr 23.24).”16

A rigor, Deus não está em todos os lugares. Deus não está na lata de lixo; ele não está dentro da garrafa de um refrigerante; ele não está dentro do forno de um fogão.17 Na verdade, Deus está onde sua presença se faz necessária. E ele pode manifestar Sua presença, simultânea e ilimitadamente em tantos lugares em que Sua presença se faz necessária. Deus manifesta sua presença tanto para abençoar e conceder plenitude de alegria (Salmo 16.11), como para punir e exercer juízo (Amós 9.1-4).

A doutrina da onipresença de Deus traz grande consolo ao coração do crente. Porque Deus é o Deus presente. Ele esteve com José, quando este permaneceu mais de dois anos preso (Gn 39; 40). Ele manifestou sua presença para os amigos de Daniel, quando eles foram lançados na fornalha ardente (Daniel 3), e também manifestou seu cuidado quando Daniel foi lançado na cova dos leões (Daniel 6). Ele manifesta sua presença mesmo no vale sombrio da morte (Salmo 23.4). “De acordo com o salmo 107, Deus está presente para ajudar quer se esteja perdido num deserto (v.4-9), quer se esteja na prisão (v.10-16), quer se esteja doente e acamado (v.17-22), quer se esteja em uma tempestade em alto mar (v.24-30).”18 Nosso Deus é o Deus presente!

Deus sabe todas as coisas

Deus é onisciente. O seu conhecimento é ilimitado (Salmo 147.5). Ele “conhece todas as coisas” (1João 3.20). Não existe nada de encoberto para Deus (Hebreus 4.13). Deus conhece a Si mesmo plenamente (1Coríntios 2.10,11); ele conhece plenamente todas as atividades e os pensamentos humanos (Salmo 139.1-6); ele conhece os mínimos detalhes da experiência humana (Mateus 10.30); ele conhece todas as necessidades humanas (Mateus 6.8). Deus conhece plenamente não somente todos os eventos do

15 Jerry Bridges, Confiando em Deus mesmo quando a vida nos golpeia, p. 94.

16 Wolfhard Pannenberg, citado por Robert D. Culver, Teologia Sistemática, p. 133.

17 Isaltino Gomes Coelho Filho, Teologia Sistemática 1, p. 36.

18 Robert D. Culver, Teologia Sistemática, p. 134.

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8 passado, do presente e do futuro, mas também conhece aqueles que poderiam ocorrer.

Como diz o salmista: “Tal conhecimento é maravilhoso demais e está além do meu alcance, é tão elevado que não o posso atingir.” (Salmo 139.6 – NVI).

“Todo o presente, todo o passado e todo o futuro estão diante dele. O que Deus sabe, não o soube em tempo algum, visto que para ele não existe tempo; não há passado nem futuro - tudo lhe é presente.”19

Lições para a vida

Seguem três aplicações para nossas vidas, considerando o que estudamos:

Deus é um Ser pessoal, e, portanto, precisamos nos relacionar pessoalmente com ele.

Muitas pessoas não enxergam Deus como um Ser relacionável, mas como uma “força”

ou “energia” para o qual você pede alguma coisa boa, sem manter nenhum tipo de relacionamento pessoal com essa “força”. No entanto, como assevera Erickson,

“Deus não é um escritório ou um departamento, uma máquina ou um computador que automaticamente supre as necessidades das pessoas. Ele é um Pai compreensível, amável e bom. Podemos nos aproximar dele. Podemos falar com ele, e ele, por sua vez, também fala conosco. Deus não apenas recebe e aceita o que ofertamos. Ele é um ser vivo, que interage. Não é simplesmente aquele sobre quem nós ouvimos, é também o ser pessoal com quem nos encontramos e a quem conhecemos.”20

Três perguntas, para sua reflexão pessoal: Você conhece pessoalmente a Deus? Como está o seu relacionamento com Deus? Você se relaciona com Deus por aquilo que ele é ou por aquilo que ele pode dar?

Deus é grande e poderoso, e, portanto, precisamos confiar nele.

É muito bom sabermos que podemos confiar no Deus que é Soberano sobre todo o Universo. Quando passamos por tenebrosas tempestades, podemos descansar debaixo da mão poderosa do Senhor que controla os ventos e forças da natureza. Todas as situações das nossas vidas, até aquelas mais difíceis, estão debaixo da soberania do nosso Pai celestial.

Deus é infinito, e, portanto, precisamos reconhecer nossa incapacidade para compreendê-lo plenamente, e, ao mesmo tempo, precisamos desejar que Ele seja eternamente glorificado.

“Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Pois, quem jamais conheceu a mente do Senhor? ou quem se fez seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele, e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém.” (Rm 11.33-36)

19 Langston, p. 52.

20 Millard J. Erickson, Teologia Sistemática (São Paulo: Vida Nova, 2015), p. 262.

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