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Família Wings. Tradução: Criz Revisão: Mika Leitura: Lua Formatação: Aurora 07/2020

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Academic year: 2022

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Família Wings

Tradução: Criz Revisão: Mika

Leitura: Lua

Formatação: Aurora

07/2020

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AVISO

A tradução foi efetuada pelo grupo Wings Traduções (WT), de modo a proporcionar ao leitor o acesso à obra, incentivando à posterior aquisição. O objetivo do grupo é selecionar livros sem previsão de publicação no Brasil, traduzindo-os e disponibilizando-os ao leitor, sem qualquer forma de obter lucro, seja ele direto ou indireto.

Levamos como objetivo sério, o incentivo para o leitor adquirir as obras, dando a conhecer os autores que, de outro modo, não poderiam, a não ser no idioma original, impossibilitando o conhecimento de muitos autores desconhecidos no Brasil. A fim de preservar os direitos autorais e contratuais de autores e editoras, o grupo WT poderá, sem aviso prévio e quando entender necessário, suspender o acesso aos livros e retirar o link de disponibilização dos mesmos, daqueles que forem lançados por editoras brasileiras. Todo aquele que tiver acesso à presente tradução fica ciente de que o download se destina exclusivamente ao uso pessoal e privado, abstendo-se de o divulgar nas redes sociais bem como tornar público o trabalho de tradução do grupo, sem que exista uma prévia autorização expressa do mesmo.

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A Série

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Sinopse

Depois de semanas de trabalho ininterrupto, tudo o que ela queria era dormir em sua própria cama para variar.

Em vez disso, ela se viu presa no paraíso contra sua vontade, trabalhando em um emprego sem a segurança de sua equipe para apoiá-la.

Ela estava determinada a se ressentir de cada momento, mas não demorou muito para perceber que a Grécia tinha algo que ela não tinha em casa.

Um homem como Christopher Adamos na cama dela.

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6

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Miller

Maldito Bellamy.

Antes que meus olhos se abrissem, eu sabia o que tinha acontecido.

As batidas nas minhas têmporas.

A boca seca.

O giro nauseante no estômago.

Os detalhes nebulosos quando tentei juntar em que dia, semana, mês eu estava.

Sim.

O maldito Bellamy atacou novamente.

Eu não conseguia nem me lembrar de vê-lo na noite anterior, mas esse era um dos muitos efeitos colaterais adoráveis quando ele colocava algo em sua bebida para, inevitavelmente, sequestrá-lo.

Onde ele teve a ideia de que tais coisas eram aceitáveis estava além de qualquer um, mas ele sempre o atingia quando pensava que você estava trabalhando demais ou estava tenso demais.

Era o jeito dele de dizer: — Ei, amigo, você precisa de algumas bebidas e um bom fim de semana fora.

Ou melhor, era o jeito dele de agir quando você se recusava a seguir o sábio conselho dele.

Se sequer houve alguém culpado de trabalhar demais, era eu. Eu não tinha exatamente um equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Era difícil aprimorar isso, quando a natureza do seu trabalho a fazia voar em um avião em um piscar de olhos, sem saber por quanto tempo você ficaria fora, ou mesmo se conseguiria voltar.

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7 Era difícil promover relacionamentos interpessoais íntimos de qualquer tipo quando essa era a sua vida. E a ideia de ir a algum lugar exótico perdia seu apelo quando seu trabalho a arrastava para todos os cantos do mundo o tempo todo.

O que posso dizer?

Quando não estava trabalhando ativamente, simplesmente gostava de estar em casa. Casa era como umas férias para mim. Era um lugar onde eu podia me espalhar além de malas dispersas, um lugar onde as coisas realmente me pertenciam e sempre eram familiares.

O interior dos aeroportos era mais familiar do que o meu próprio quarto neste momento da minha vida.

O que provavelmente foi o que tentei contar a Bellamy, de qualquer forma que acabamos juntos na noite anterior. Desde que acabei de voltar de uma negociação particularmente cansativa em El Salvador entre uma gangue local e... e você não inventava essa coisa... o governo, sim, eu estava pronta para descansar na minha própria cama.

Estava fantasiando sobre a ideia de que talvez Finn exorcizasse seus demônios limpando minha casa novamente, sabendo que eu tinha saído por quase um mês. Quero dizer, imaginei que ele não dormisse à noite pensando na poeira acumulada nos cantos e sob as cadeiras.

Eu nunca faria menosprezaria os problemas de Finn. Mas imaginei que se ele tivesse que limpar, e ele limpava, seria bom se fosse a minha casa.

Ele lavava a roupa.

Lavar roupa.

A pior tarefa do mundo.

Pelo menos na minha opinião.

Ah, sim, tirando as minhas roupas, caindo em lençóis recém lavados que cheiravam um pouco a sabão floral e muito com alvejante, depois desmaiar? Soa como o céu.

Em vez disso, eu tinha a sensação de algodão na boca, uma dor de cabeça infernal, um estômago revirando e absolutamente nenhum desejo de forçar meus olhos a abrirem, e enfrentar o que diabos Bellamy havia planejado para mim.

Respirei fundo, lentamente, sentindo limpar algumas das teias de aranha do meu cérebro.

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8 Eu estava considerando dizer vá a merda e voltar a dormir.

Mas então o mundo inteiro meio que... oscilou.

Sim, oscilou.

Essa era a única maneira de dizer.

Balançou um pouco de um lado para o outro.

Em vez de ser reconfortante, como um bebê contido no berço, como uma anciã em uma cadeira de balanço, era completamente inquietante, fazendo o conteúdo do meu estômago vibrar assustadoramente para cima.

Então, eu tive que abrir meus olhos e ver o que diabos estava acontecendo.

Tudo era possível quando se tratava de Bellamy.

Eu poderia estar em uma maldita roda gigante por tudo o que sabia.

Esperançosamente com um porquinho.

Eu esperava o dia em que acordaria drogada com um porquinho no quarto comigo.

Isso aconteceu com outras pessoas.

Eu estava apenas esperando que isso acontecesse comigo.

Tudo seria perdoado se isso acontecesse, só estou dizendo.

Forçando minhas pálpebras a abrirem, estremeci contra a luz dolorosamente brilhante que entrava pela janela acima de onde eu estava deitada. Lutando contra as batidas em minhas têmporas, virei minha cabeça, olhando em volta.

Carvalho branco brilhante.

As longas janelas do teto.

O tecido azul piscina nos sofás e nas cadeiras.

— Fenway do caralho, — eu rosnei, lentamente me sentando.

Eu já vi o interior deste iate mais do que algumas vezes no passado.

Geralmente enquanto trabalhava. Tentando tirá-lo de qualquer escândalo internacional em que ele se envolveu naquela semana.

Não havia porco.

O porco teria feito minha raiva justa se dissipar.

Como não havia nada de um rabo de saca-rolhas e nariz beijável à vista, a raiva borbulhou forte, procurando uma saída.

Respirando fundo para acalmar meu estômago, levantei-me, meu braço balançando para fora, batendo na parede para me equilibrar enquanto tudo

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9 descontrolava. Não é o iate desta vez, sou eu. Outro adorável efeito colateral das drogas.

Eu ia matá-los quando os encontrasse.

Claramente, foi uma péssima ideia de Quin adicionar Bellamy à equipe, o que o colocou em contato próximo com Fenway. Dois dos playboys mais ricos, ridículos e despreocupados que o universo tinha para oferecer. Suas vidas estavam cheias de diversão e uma completa e absoluta falta de consequência porque eles tinham o dinheiro e influência para fazer quaisquer problemas desparecerem. Com muito pouca retaliação.

Bem, infelizmente para eles, eu não sou alguém cuja raiva pode ser comprada.

Eles estavam prestes a enfrentar um metro e sessenta e sete centímetros de consequência feminina com raiva.

O iate, porque Fenway era muito rico, e nem morto teria algo tão simples como um barco, balançou novamente, fazendo meu estômago revirar, fazendo meu aperto tênue no equilíbrio afrouxar ainda mais.

Ibuprofeno.

Eu precisava de ibuprofeno. E algumas pastilhas de gengibre. Eu os encontraria na minha bolsa se Bellamy foi inteligente o suficiente para pegá-la. Eu também poderia usar água. Mas, conhecendo Fenway, não encontrarei nenhuma água. Champanhe, vinho, licor, kombucha? Certo. Água? Não é provável.

— Só sei que é melhor estarmos perto de algum tipo de porto, para que eu possa descer e ir para casa, — eu resmunguei alto o suficiente para que eles me ouvissem se estivessem a um ou dois quartos de distância.

O espaço em que acordei estava no convés principal. Por trás, você podia encontrar o espaço para refeições e cozinha, seguida pela sala de jogos. Debaixo da escada e escondido atrás de uma porta ao lado, era onde você encontrava o capitão do barco.

O convés inferior era onde os quartos de hóspedes e funcionários podiam ser encontrados.

Se eu conhecia Bellamy e Fenway, eles estariam no convés superior. Sob o sol escaldante. O que faria minha cabeça latejar ainda mais.

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10 Dito isto, um bom e sólido soco na cara dos dois idiotas faria maravilhas para aliviar a dor.

Fazendo um progresso lento e doloroso pelo chão, parei em um armário ao lado das escadas, abrindo a porta e olhando para o espelho preso.

Não era bonito.

Meus olhos estavam inchados, minha maquiagem velha manchada, meu cabelo mole e ficando oleoso. Havia círculos sob meus olhos porque eu estava atrasada para um sono de beleza, caramba.

Só mais algumas horas.

— Se eu finalmente voltar a Navesink Bank e receber uma ligação de Quin sobre outro emprego antes que eu possa relaxar em casa, vocês vão sofrer, — eu murmurei, fechando e trancando o armário, caminhando em direção às escadas.

O sol que vinha de cima parecia desnecessariamente brilhante e alegre, fazendo um contraste estridente com o humor sombrio e irritado em que me encontrava.

Eu tinha uma pizza de cogumelos e cebola no meu freezer que chamava meu nome desde antes do meu último trabalho. Isso, combinado com uma boa bebida e alguns pijamas confortáveis na frente da minha TV, parecia a felicidade.

Enquanto isso, eu estava no maldito paraíso, contra a minha vontade.

Nuvens fofas se espalharam pelo céu.

Água azul brilhante.

Ilhas desertas distantes.

Parecia-me vagamente familiar, mas as batidas nas minhas têmporas tornavam impossível o foco, arrastar a memória para o primeiro plano da minha mente.

— Você poderia ser mais brilhante? — eu resmunguei ao sol enquanto respirava fundo, inundando meus sentidos com o aroma nítido e inconfundível de água salgada e fresca.

Havia uma leve brisa provocando através do espaço aberto, flertando com as pontas dos meus cabelos, fazendo-os dançar ao redor do meu rosto enquanto eu olhava para a banheira de hidromassagem coberta à minha frente.

Virando, subi o bombordo do iate, indo em direção à área de estar que eu sabia que encontraria na proa.

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11 Era onde achava que encontraria Bellamy ou Fenway, ou ambos, a menos que eles ainda estivessem lá embaixo nos dormitórios.

Mas, visto que eles não haviam sido drogados, e parecia pelo menos tarde da manhã, imaginei que era mais provável que eles estivessem acordados e esperando por mim.

Eles desejariam ter chamado um helicóptero para buscá-los, ou saltado do iate e arriscado com os tubarões quando eu tivesse terminado com eles.

Uma coisa era ter um, ou ambos, me arrastando por aí quando não estava trabalhando tão duro como ultimamente. Mas roubar minha pequena chance para ter tempo em minha própria casa?

Isso era imperdoável.

Inferno, eu poderia jogar os dois ao mar.

Eu certamente me sentia irritada o suficiente para fazê-lo.

E aqueles dois idiotas mereciam.

Seria um serviço cívico, realmente.

Havia muitas mulheres que pagariam um bom dinheiro para me ver derrubá- los alguns degraus. Inferno, provavelmente havia um clube inteiro dedicado a isso.

Mulheres Desprezadas pelos Mega Milionários Playboys Anônimas.

Elas provavelmente distribuiriam lenços e antidepressivos nas reuniões, enquanto alguém subia ao pódio para um discurso épico sobre suas experiências sendo levadas para jantar, fodidas e prontamente descartadas.

Eles eram homens charmosos, vou admitir isso sobre eles. Ambos estupidamente bonitos também. E ricos. Riqueza era um fator importante para muitas pessoas.

Mesmo com tudo isso a favor deles, eu nunca tive nem um indício de atração. Veja que eles eram bad boys malandros. Eles gostavam de se divertir e explorar o mundo. Eles eram leves e divertidos a maior parte do tempo.

Eu?

Eu tinha uma queda por sombrio e pensativo. E talvez um pouco perigoso.

Certo, tudo bem.

Mais que um pouco.

Eu estava tentando desistir dos caras maus desde a adolescência. O que posso dizer? Eles eram um hábito difícil de largar. Não era como se eles tivessem

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12 feito um arranjo para isso ou algo assim. Eu estava sozinha com nada além de minha força de vontade. E como alguém que poderia, e frequentemente comeria, uma dúzia de rosquinha sozinha, digamos que autocontrole não era um dos meus pontos fortes.

— Pare de balançar. — Eu não tinha certeza se estava falando com meu próprio estômago, o barco, o oceano ou uma combinação deles, mas meu tom estava ficando cada vez mais agudo quando cheguei à proa da embarcação, respirando fundo com a visão de uma figura masculina solitária descansando na área de estar em forma de U, feita de sofás brancos imaculados. Eles eram o tipo de branco que era sempre total: meticulosamente limpo, apesar das intermináveis festas frequentemente realizadas lá e do derramamento e... espirros... de bebidas.

Uma parte de mim queria vingativamente borrar meu batom por todo o tecido perfeito. Mas, na verdade, isso seria apenas uma punição para os empregados, não Fenway ou Bellamy, dois homens que provavelmente nem sabiam como era um frasco de limpador de tecidos.

— Eu sugiro correr, — eu falei à figura solitária no sofá. — Estou me sentindo homicida, — acrescentei prestativamente, aproximando-me.

Eu culpo o sol nos meus olhos.

E as batidas na minha cabeça.

Embora, vamos admitir, na minha profissão, não havia desculpa para sair do jogo. Nem mesmo quando você estava drogada e tonta. Nem mesmo se você pensasse que estava entre amigos.

Era assim que você se matava.

Eu tinha um histórico bastante notável de permanecer viva até agora, dado as confusões em que estive, cercada por homens com mais ego e temperamento do que cérebros.

No entanto, eu não vi.

Até que estivesse bem em cima desse.

Não era Fenway.

Ou Bellamy.

Oh, infernos não.

Este homem? Ninguém jamais o confundiria por ser leve e playboy.

Não.

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13 Ele era todo sombrio e intenso e, bem, viril.

Eu não vou mentir: meu corpo? Sim. Fazia o que sempre fazia quando era confrontado com um homem que exalava confiança, cuja aura tremeluzia com perigo, cujo olhar parecia deslizar através de mim e examinar as peças.

Ele respondeu.

Fortemente.

Também não doía que esse homem em particular parecesse pertencer a anúncios de perfume ou algo assim.

Se eu tivesse que escolher uma idade, eu o colocaria nos seus trinta e poucos anos, com cabelos castanhos escuros, olhos castanhos pretenciosos a condizer, emoldurados por cílios pretos grossos e ofuscados por uma sobrancelha severa. Ele tinha uma testa e mandíbula fortes, coberta por uma barba curta, nariz reto e pele bronzeada maravilhosamente dourada.

E esse homem?

Ele tinha o tipo de traje para o qual foi feito. Muito parecido com o azul escuro que cobria seu corpo forte de um metro e noventa.

Os dois primeiros botões de sua camisa branca estavam abertos. Eu conhecia homens o suficiente para chamar isso de movimento de poder. Porque apenas um homem que estava seguro em sua posição na vida se atrevia a violar as regras de usar terno.

Ele era magnífico.

Mas ele estava aqui.

Um lugar que ele não deveria estar.

Comigo.

Que definitivamente havia sido drogada.

Eu vi Bellamy na noite anterior?

Este iate ainda era do Fenway? Homens ricos negociavam navios marítimos caros da maneira que alguns podem se livrar da moda da temporada passada rapidamente.

No entanto, apesar de ser uma situação possivelmente muito perigosa, eu estava tentando freneticamente descobrir se tinha uma arma comigo ou, em vez disso, o que estava por perto que poderia ser usado como arma?

Não.

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14 Não, eu não estava.

O que eu estava pensando, então, você pode estar se perguntando.

Se meu cabelo estava tão bagunçado quanto eu pensava, se minhas roupas eram lisonjeiras o suficiente, se minha ressaca estava me deixando mais feia?

Porque, você sabe, essas eram coisas importantes para se perguntar quando eu poderia estar em uma situação de vida ou morte.

— Eu não sinto muita vontade de correr, kopelia mou, — ele me disse, sua voz um arrepio sobre a pele subitamente muito quente.

Eu conhecia esse sotaque.

E eu conhecia esse termo.

Kopelia mou.

Minha menina.

Grego.

Ele era grego.

De repente, as imagens voltaram à tona. A água bonita. A casas cavernas brancas. Os detalhes em azul.

Santorini.

Estávamos na costa de Santorini.

Quão fortes foram as drogas que me foram dadas se chegássemos de Nova Jersey à Grécia sem que eu acordasse?

Seguindo esse pensamento levemente movido pelo pânico, e todas as possíveis ramificações de estar fora de si... havia outra realização.

Ele estava me deixando saber que não estava intimidado. Ele queria que eu soubesse que ele era assustador.

Ele não ia fugir de mim.

Nem mesmo com a ameaça de assassinato.

Caras como este eram complicados.

Alguns deles respondiam bem quando você avançava e ficava cara a cara com eles. Eles respeitavam sua coragem. E se você tivesse o respeito de homens como ele, você estaria muito mais segura do que estaria se ele pensasse que você estava abaixo dele.

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15 Por outro lado, e especialmente nos países que ainda tinham papéis masculinos e femininos muito tradicionais, você tinha melhores chances de sobrevivência se fosse suave, doce e não ameaçadora.

Eu precisava ser as duas coisas para muitos homens diferentes na minha linha de trabalho. E eu desempenhava um papel muito bom.

Inferno, às vezes eu tinha dificuldade em descobrir onde o eu verdadeiro e a fachada começamos se estivesse trabalhando por tempo suficiente.

Este era um assunto complicado.

Sendo grego, ele provavelmente gostava de suave e bonita. Mulheres bonitas em vestidos de verão andando pelas praias.

Mas como um homem no poder que claramente queria algo de mim, uma frente forte também pode ser muito eficaz.

— Bem, tudo bem, — disse, movendo-me em direção à área de estar, tomando uma posição o mais longe possível dele, sem parecer que estava com medo dele. — Porque estou muito cansada e desidratada para persegui-lo de qualquer maneira, — eu disse a ele, decidindo estudá-lo antes de escolher qualquer traço de personalidade em particular para incorporar.

Seu braço ergueu-se no ar, estalando o dedo, chamando a atenção da tripulante, jovem, bonita, vivaz, como todos os homens pareciam ter em seus iates.

Eu odiava estalos.

Como alguém que fez numa pequena mesa de espera, onde aprendi rapidamente que as pessoas podiam ser idiotas completas, senti meu lábio se curvar imediatamente quando alguém tinha a audácia de estalar para a equipe de serviço.

— A senhora gostaria de beber algo, — ele disse à mulher que se aproximou dele, mas ficou calada, aguardando instruções.

Os dois olhares vieram para mim.

— Qualquer coisa que não seja alcoólica. Em uma garrafa selada, — acrescentei explicitamente.

Para isso, os lábios do homem se curvaram. Não num sorriso. Um sorrisinho arrogante, se era alguma coisa.

— Você acha que te drogaria? — ele perguntou, erguendo a sobrancelha preguiçosamente.

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16

— Acho que acordei em um iate na costa de Santorini com uma boca de algodão, uma marreta no meu cérebro e nenhuma lembrança de como cheguei aqui. Fui drogada. E você está aqui. Que outras conclusões devo tirar?

Tudo bem, tão suave e doce parecia fora da minha capacidade com a quão desconcertada estava me sentindo. Se isso fosse devido ao fato de as drogas ainda estarem saindo do meu organismo, ou esse homem à minha frente que era uma incógnita.

— Deixe-me esclarecer. Eu nunca precisei drogar uma mulher para conseguir o que precisasse dela, — ele me disse, dobrando-se para frente, apoiando os braços nas coxas, sem interromper o contato visual.

Precisar.

Não querer.

Precisar.

Era uma distinção pequena, mas profunda.

— Obrigada, — eu disse à mulher que voltou com uma garrafa de suco de laranja. Eu torci a tampa, tomei um pequeno gole em vez do longo gole que realmente queria. — E o que você precisa de mim? — eu perguntei.

— Miller! Sua criatura arrebatadora! — a voz de Fenway chamou atrás de mim, toda alegre e fácil.

O que, como você pode imaginar, me fez ranger os dentes quando ele se moveu ao meu lado, sentando, passando um braço em volta dos meus ombros, dando a todo o meu corpo um empurrão brincalhão que só conseguiu fazer meu estômago revirar, me fazendo feliz por não ter dado goladas no suco de laranja afinal.

— Fenway, — eu rosnei, atirando punhais em seu rosto estupidamente bonito. Seu sorriso não vacilou nem um pouco.

— Você sempre dormiu até tarde, mas eu finalmente fui para o convés inferior para tirar uma soneca, você estava dormindo por tanto tempo.

— Puxa, talvez isso tenha algo a ver com as drogas no meu organismo.

Fenway, como era a natureza de Fenway, ignorou completamente isso. Como regra geral, ele evitava qualquer coisa pesada ou séria. Seria quase fácil de aceitá- lo ao pé da letra se você pensasse que era tudo o que havia, se ele apenas fosse um

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17 garoto rico que se tornou um adulto mais rico, que tinha uma cabeça cheia de penas e um fígado cheio de gim de primeira qualidade.

Mas Fenway era inteligente. Quase assustadoramente inteligente às vezes. E muito mais perspicaz do que ele jamais deixaria transparecer. Provavelmente por medo de que, se você soubesse que ele tinha outras faces, esperaria algo diferente de diversão dele.

— Vejo que você está compartilhando seu charme abundante com meu bom amigo aqui, — ele seguiu, dando ao homem um sorriso que não foi devolvido.

Eu não tinha certeza de que esse homem sabia sorrir. Certamente, ficaria fora de lugar em seu rosto severo.

— Ainda não estamos familiarizados, — informou o belo estranho a Fenway, com tom aguçado.

— Bem, assim não dá. Esta é minha boa amiga Miller. — Todo mundo era

"bom amigo" de Fenway. — Ela tem outro nome, mas se recusa a contar para mim.

Então temos que chamá-la de Miller.

Eu nunca dei a ninguém meu primeiro nome. Eu tinha certeza de que meus colegas de trabalho sabiam, mas nenhum deles se atreveu a me chamar na minha cara.

Digamos apenas que existem alguns nomes que não soavam fodas. E meu trabalho tendia a exigir intensidade. Então mantive isso simples. Somente sobrenome.

— Você não terminou, Fenway, — lembrei-o quando ele se calou.

— Certo. Achei que você já deveria estar familiarizada com meu amigo aqui,

— disse Fenway, parecendo surpreso que eu claramente não estava. — Este é Christopher, — ele me disse. — Christopher Adamos.

Christopher Adamos?

Este era Christopher Adamos?

Eu não o conhecia de vista.

Mas eu com certeza o conhecia pela reputação.

Merda.

Isso não seria bom.

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18

2

Miller

— Então você já ouviu falar de mim, — concluiu Christopher, fazendo-me perceber que esse era um dos momentos muito raros da vida em que minha cara de poker falhou comigo.

Deus, eu só precisava de um café. E dois ibuprofenos. Minhas memórias das últimas 24 horas.

Então eu ficaria lúcida.

O último tipo de pessoa com quem você queria estar indisposta por perto era um homem como Christopher Adamos.

— Faz parte do meu trabalho conhecer praticamente todos os principais protagonistas do mundo criminoso, Sr. Adamos.

— Eu sou um homem de negócios.

— Empresários não lidam com chantagem.

— Claramente, — ele disse, seus lábios fazendo aquele sorriso que não era um sorriso novamente, — você não esteve com muitos empresários. Não há um nobre a ser encontrado.

— Eles também não fazem fortuna com o colapso das economias.

— Claro que sim, — ele corrigiu. — Por que outra razão seus empresários ficam mais ricos durante suas recessões?

Droga, ele estava certo.

E eu simplesmente não estava no lugar certo para discutir sobre moral. Não que sequer quisesse ter essa discussão. Eu não era essa pessoa julgadora pé no saco que todos odiavam estar por perto. Fiz muitas coisas duvidosas na minha vida. Eu era amiga daqueles que tinham feito muito pior. Passei meu tempo com alguns dos piores homens e mulheres que o mundo tinha a oferecer.

Eu não tinha motivos para julgar Christopher Adamos, apesar de alguns dos rumores que ouvi sobre sua crueldade.

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19 Eu estava apenas de mau humor.

E vestindo calças quando não queria estar.

— Alguém está interessado em parar para pegar alguns frappés? — Fenway perguntou, completamente alheio ao ar carregado entre os outros presentes. Ou, mais provavelmente do que não, apenas ignorando.

— Eu quero ir para casa, Fenway.

— Você só está com dor de cabeça, — ele me ignorou, enfiando a mão no bolso, jogando um frasco de comprimidos para mim.

— Não quero Percocet, Fenway. Quero que você ligue para um helicóptero, leve-me ao aeroporto mais próximo e para casa.

— Receio que não posso fazer isso, linda.

Para o registro, ele não estava arrependido nem um pouco.

— Do que você está falando? Este é o seu iate. Você pode fazer o que quiser.

— Você acha que sim, não é? — Ele perguntou, encolhendo os ombros enquanto mandava uma piscadela para uma das garotas da equipe enquanto ela deixava quatro copos do que parecia uísque na mesa à nossa frente. — Mas eu não estou no comando aqui agora. Somente forneci o barquinho.

Seu barquinho custava a minha casa cerca de trinta vezes.

Não havia nada pequeno sobre ele.

Meu olhar foi para os copos novamente quando Christopher se inclinou para frente, envolvendo a mão gigante em torno de um.

Quatro

Quatro copos.

— Diga a Bellamy para subir aqui agora, — eu exigi.

— Bem, quando você pede tão educadamente, — a voz suave de Bellamy soou do meu lado, passando por mim para sentar-se na nossa frente.

Mesmo em um iate na costa da Grécia, ele estava em um terno cinza impecável com vincos nítidos da prensagem ainda visível.

Ele se inclinou para frente, derramando o conteúdo de um dos copos no que estava à sua frente, segurando o vazio. — A senhora prefere tequila, — ele explicou à garota que se apressou em pegá-la. Ele pegou o copo cheio, tomando um gole, recostando-se. Tão casual quanto poderia estar.

— Não quero beber, Bellamy. Quero ir para casa.

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20

— Viu como meus colegas de trabalho são ingratos? — ele perguntou, se dirigindo a Christopher. — Eu os levo em meu jato particular, trago-os a bordo do iate do meu amigo. Trago-os para a Grécia. E rejeitam minha hospitalidade.

— Você deixou de lado a questão de me drogar e me arrastar contra a minha vontade, — lembrei a ele.

— Pequenos detalhes, — ele disse dando de ombros. Mas quando ele levantou o copo para tomar outro gole, havia um sorriso diabólico nos lábios.

— Eu nem tirei um mini porco do acordo, — murmurei para mim mesma, recostando-me, cruzando os braços sobre o peito, parecendo muito com uma criança petulante. E não me importando.

— Você quer um leitão? — Fenway perguntou, considerando. — Encherei sua casa com eles quando voltarmos aos Estados Unidos.

Veja, o problema era que Fenway faria exatamente isso. Porque ele tratava dos grandes gestos sem parar para considerar as repercussões dessas ações.

— Fenway, ouça, — eu disse, erguendo a palma da mão para ele. — É muito importante que você não encha a minha casa com porcos, ok? Eu nunca consigo estar lá. Não tenho tempo para animais de estimação.

— Ouvi dizer que eles podem ser treinados para usar uma caixa de areia como um gato, — pensou Bellamy.

— Oh, meu Deus, não estamos tendo essa discussão como se tivéssemos um encontro social perfeitamente normal.

— Estamos, no entanto, — insistiu Fenway.

Quando minha tequila chegou, eu a peguei, colocando-a entre as pernas enquanto seguia em frente e abria a garrafa que Fenway havia me dado. Se eu quisesse dar conta dessa situação, precisava parar as batidas nas têmporas. A tequila? Bem, isso foi apenas porque eu não tinha certeza de que seria possível lidar com esses dois ao mesmo tempo sem ela.

— Eles são Percocet, — Fenway insistiu quando peguei uma pílula, segurando-a, apertando os olhos para as marcas.

— Certo, porque vocês dois se mostraram muito confiáveis, — eu respondi, decidindo que era o verdadeiro negócio, tomando, engolindo-a com um longo gole de tequila que queimava da maneira certa.

— Então... frappé? — Fenway pressionou.

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21

— Sim. Porque eu tenho planos de descer de um barco em um país estrangeiro com drogados, sequestradores e o maior criminoso da Grécia.

— Parece uma noite de terça-feira normal para você, querida, — disse Bellamy, dando de ombros.

— Exceto que é para trabalho. Isso não é trabalho. E como não é trabalho, eu quero estar em casa. Na minha cama. Na minha casa muito limpa.

— Finn esteve trabalhando, querida, — Bellamy me disse, arruinando algumas das minhas esperanças. — Cristo, não pareça tão desconsolada. Vou contratar alguém para limpar sua casa enquanto estivermos fora.

— Não será o mesmo.

— Não, — ele concordou, assentindo, provavelmente tendo acordado com aquele cheiro pesado de químico quando Finn não conseguia dormir e vinha sem ser convidado, sabendo que literalmente cada centímetro quadrado de sua casa havia sido lavado. — Não seria. Mas é melhor que nada.

— Nada está bem. Vendo que estarei em casa amanhã de manhã.

— Bem... — Fenway disse, parecendo sombrio.

— Não, Fenway. Não há 'bem...' sobre isso. Me mande para casa. Na verdade, por que diabos eu estou falando com vocês? Vou pedir ao Quin para lidar com isso,

— declarei, decisão tomada, me levantei.

— Bem... — Fenway disse novamente.

— Bem, o que, Fenway? — eu assobiei.

— Bem, você poderia ligar para Quin. Se você tivesse seu telefone celular.

— Onde está o meu celular, Bellamy? — eu exigi, sentindo meu queixo enrijecer.

— Eu acredito que você acidentalmente deixou em Nova Jersey.

— Eu não deixei nada em lugar nenhum. Desde que eu não tive parte em vir aqui.

— E ainda assim... aqui está você. E aí está. Meio mundo de distância.

Eu sabia que não devia discutir com Bellamy. Sua teimosia combinava com a minha.

Virando, olhei para Fenway. — Me dê seu telefone, Fenway.

— Eu não posso fazer isso.

— Você quer que eu te obrigue?

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22

— Você é muito sexy quando está irritada, — ele retrucou, balançando as sobrancelhas.

— Telefone. — Ele recusou, sem coragem de desafiar o que era claramente o grande plano de Bellamy. Meu olhar foi para alguém que eu intrinsecamente sabia que sempre seria capaz de desafiar alguém. — Posso usar seu telefone, Sr.

Adamos? — eu perguntei, deixando um pouco de mel escorregar na minha voz, a capacidade de fazê-lo enquanto estava irritada foi graças a anos de aprimoramento da habilidade de obter o resultado que eu desejava.

— Você estaria disposta a manchar suas mãos não poluídas com meu telefone de senhor do crime chantagista?

— Miller sente-se, — convidou Bellamy. — Vamos explicar por que estamos todos aqui.

— Além de você ser um psicopata? — eu perguntei, sentando, precisando de respostas se não conseguiria ligar para Quin.

— Sim, amor, além disso, — ele concordou, me enviando um sorriso.

— Então, por que estou aqui? — eu perguntei.

— Negócios, — Bellamy me disse.

— Se isso fosse um assunto oficial, Quin teria me enviado para cá, — rebati.

— Sim, bem, Quin não seria fã desse trabalho em particular.

— E ainda... — eu incitei.

— Christopher é um velho amigo meu.

— Metade do mundo é um velho amigo seu.

— Isso não pode estar certo, — ele meditou. — Tem que ser pelo menos dois terços. Eu sou um cara simpático.

— Isso é discutível. Mas, Bells, trabalho para Quin. Não faço contratos particulares. Por várias razões. Não menos importante é que Quin me fornece segurança ao lidar com personagens obscuros, — eu disse, deixando meu olhar deslizar em direção a Christopher.

— Estamos bem aqui, boneca, — Bellamy me assegurou.

— Sim, agora. Mas o que acontece quando uma das modelos da Victoria's Secret dá uma festa em casa?

— Claramente, elas prevalecem, — ele me disse, os lábios tremendo.

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— Você não gostaria que perdêssemos essa diversão, gostaria? — Fenway perguntou, colocando a mão sobre o coração.

— Acho que você se divertiu mais que o suficiente para durar cinco vidas, Fenway. De qualquer forma, a resposta é não. Não estou fazendo contrato de trabalho para você ou seu amigo, Bells. Sr. Adamos, desculpe se Bellamy fez promessas a você sem primeiro me consultar. Foi um erro de julgamento da parte dele. Se você quiser, conheço vários outros muito bons negociadores com os quais posso colocá-lo em contato.

— Muito bons, — ele disse, prendendo-me com aquele olhar penetrante. — Não quero muito bom. Quero a melhor. Meus colegas senhores do crime me informam que você é a melhor.

Isso foi piada, certo?

Certamente parecia, mesmo que ele o proferisse sem um pingo de diversão.

— Ele está certo, você sabe, — Fenway falou. — Você é a melhor.

— Nossa, obrigada pelo voto de confiança, Fenway. Mas eu não estou fazendo isso.

— Você nem sabe qual é o trabalho, — disse-me Bellamy.

— Ou quanto vale, — acrescentou Fenway.

Como regra geral, Fenway não costumava falar sobre dinheiro. Eu acho que porque ele tinha mais do que Deus, ele nunca sentiu que era algo que valesse a pena falar. Portanto, o fato de ele estar, pensei, significava que o pagamento por esse trabalho em potencial seria significativamente mais do que o meu salário habitual. E eu fazia muito dinheiro trabalhando para Quin. Compensação de risco, se você quiser. Desde que eu geralmente lidava com as cabeças quentes, tentando fazer com que todos chegassem a um acordo com o qual nenhuma das partes ficava completamente feliz.

— Não se trata de dinheiro, — insisti. E eu fui incrivelmente sortuda e agradecida por estar em um ponto da minha vida em que eu poderia dizer isso e dizer a verdade. Eu estava confortável Graças à Quin, alguns investimentos cuidadosos e um monte de poupança, desde que eu nunca estava em um lugar o tempo suficiente para realmente gastar muito o dinheiro, eu sabia que, se Quin decidisse que não precisava de mim amanhã, poderia viver confortavelmente,

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24 embora de maneira alguma seria exuberante, a vida sem outros meios de renda se decidir não trabalhar novamente.

— Dois, — disse Christopher, sem pestanejar.

Duzentos mil era um pouco mais do que fazia em meu trabalho normal.

Tentador se talvez tivessem me contatado do jeito certo. Mas esse era o princípio da coisa.

— Milhões, — acrescentou Christopher quando percebeu que eu claramente o entendi mal.

Isso era, bem, isso era mais do que um pouco tentador, não vou mentir.

Esse tipo de dinheiro? Isso me deixaria mais do que confortável pelo resto da minha vida.

Mas se eu deixasse isso passar, mesmo que dessa vez por uma quantia gigantesca, Bellamy e Fenway pensariam que eles poderiam fazer uma porcaria assim e se safar, que o dinheiro poderia resolver questões até de moralidade.

— Por esse tipo de dinheiro, você poderia ter todos os meus concorrentes de uma só vez. O que, combinados, daria a você o melhor.

— Você não vai torcer o nariz para dois milhões de dólares, vai? — Bellamy perguntou, franzindo as sobrancelhas.

Embora Fenway pudesse estar meio por fora de coisas como dinheiro, Bellamy estava um pouco mais por dentro com quanto dinheiro poderia impactar a vida das pessoas.

— Eu estou.

— Por que razão? — Chris perguntou.

— É o princípio da coisa.

— Três.

— Sr. Adamos, — eu disse, embora minha barriga estivesse começando a tremer com a ideia de recusar dinheiro assim: — Não estou tentando te fazer aumentar. Não vou aceitar esse trabalho.

Para isso, ele lentamente se inclinou para frente novamente, olhos sem piscar, tom mortalmente sério. — Quatro.

Jesus.

Eu poderia realmente recusar esse tipo de dinheiro? Só porque Bellamy e Fenway tinham estragado as apresentações?

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— Temos sua atenção agora, — disse Bellamy, seu sorriso do tipo vitorioso.

Como se ele soubesse que a decisão tinha sido quase tomada.

— Bom. Podemos comprar alguns frappés agora, então, — disse Fenway, sorrindo grande, acenando para um dos membros da tripulação.

Não mais do que um momento depois, o iate começou a se mover, nos levando para mais perto da costa.

— Você aceita o trabalho, — disse Christopher. Não perguntou. Disse.

Porque era realmente insondável que dinheiro assim pudesse ser recusado.

— Ainda nem discutimos o trabalho, — eu disse, movendo-me para sentar- me, apenas para ser puxado de volta por Fenway quando ele se levantou.

— Haverá tempo para isso. Em um pequeno café onde me apaixonei pela mais intoxicante das criaturas.

— Somente por hoje, — acrescentei.

— Naturalmente, — ele concordou, ignorando o meu revirar de olhos.

— Tudo bem. Podemos conversar sobre frappés, — eu concordei, decidindo que a cafeína era muito necessária para equilibrar as drogas, a tequila e agora o Percocet. Se eu ia aceitar esse trabalho, queria ter certeza de que estava bem comigo enquanto tomava a decisão.

— Você quer invadir o armário de reposição no andar de baixo para colocar algo que não a deixará suada e infeliz em cinco minutos quando estivermos em terra? — perguntou Fenway.

Sim, Fenway era o tipo de homem que mantinha as roupas em um armário para as mulheres, caso precisassem trocar de roupa. Eu nunca entendi muito a prática até esse momento.

— Sim, eu vou fazer isso, — eu concordei. — Com licença, — eu disse, virando-me e indo para o convés.

Eu estava de pé no meu sutiã e calcinha, pegando o vestido azul escuro que por acaso era do meu tamanho, e não tão longo que estaria tropeçando nele enquanto caminhamos, quando uma voz soou atrás de mim.

— Vou dobrar se for o que for preciso, — a voz suave de Christopher soou. Mesmo quando meu corpo sacudiu com a invasão, meus nervos zumbiram em resposta à maneira como seu corpo fez um calafrio se mover sobre minha pele, agora nua, de alguma forma me aquecendo e esfriando de uma só vez. Arrepios

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26 brotaram quando minha barriga nadou com algo que eu só poderia descrever como interesse.

— Eu não estou vestida, Sr. Adamos, — eu o informei, virando-me para encará-lo.

Seu olhar estava na minha bunda, apenas meio escondida pela calcinha de renda rosa atrevida, e estava lentamente voltando para o meu rosto.

— Eu vejo isso.

Ignorando a antecipação em minha barriga, forcei meu queixo a levantar, tirando todo o desejo da minha voz.

— Então você também pode ver que eu nem sonharia em trabalhar para alguém que não respeita meu direito à privacidade. Não importa a quantia que eles estão me oferecendo.

— Todas as suas partes delicadas estão cobertas, — ele disse, olhando para o meu peito, onde o sutiã mal estava fazendo seu trabalho. — Bem, basicamente.

— Engraçado, — eu disse, embora não houvesse nada engraçado naquele momento, — isso não parece um pedido de desculpas para mim.

— Você descobrirá que muitas vezes não peço desculpas.

— Estou chocada, — declarei. — O que poderia valer oito milhões de dólares, Sr. Adamos? — eu perguntei, decidindo que o único movimento seria recusar-me a me cobrir ou exigir que ele fosse embora novamente.

— Meu irmão.

— Seu irmão, — eu repeti, sentindo minhas sobrancelhas franzirem. — E o que tem seu irmão?

— Parece que fiz muitos inimigos em minha linha de trabalho específica.

— Eu imagino que sim.

— E nem todos os homens têm códigos de honra, — acrescentou, protegendo- se de uma verdade desconfortável.

— Alguém levou seu irmão, — concluí.

— Sim.

— E estou assumindo que não é apenas dinheiro que eles querem em troca dele?

— Se fosse dinheiro, eles já teriam, — ele retrucou, frustração mal contida.

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— Sr. Adamos, quantos anos tem seu irmão? — eu perguntei, sentindo algo, algum pânico subjacente que um homem como ele tão raramente possuía.

— Ele tem quinze anos.

— Oh, — meu fôlego saiu de mim, finalmente entendendo por que ele pagaria alguma coisa, por que estava disposto a se esforçar para fazer parte de um sequestro, para conseguir o que precisava.

Encontrar alguém que pudesse recuperar o irmão por ele.

E, reconhecidamente, eu era sua melhor chance de um resultado positivo.

Certa vez, negociei por três semanas com um terrorista fanático que queria incendiar uma cidade inteira.

Se havia alguém neste mundo que poderia recuperar seu irmão, era eu.

Também entendi outra coisa, algo que fez o desejo desaparecer, substituído por uma resignação fria.

Bellamy provavelmente não poderia ter conhecido.

Fenway definitivamente não teria.

Mas eu sim.

Não importava se eu recusasse o dinheiro.

Não haveria recuo nesse arranjo.

Homens desesperados, mesmo honoráveis, faziam coisas desesperadas quando os entes queridos estavam em jogo.

Quando apenas uma pessoa estava entre eles e o que eles queriam, faziam qualquer coisa que fosse necessária para obter os resultados desejados.

Bellamy tecnicamente me sequestrou.

Mas a partir do momento em que fui colocada neste iate com esse homem, não havia como eu me afastar.

Christopher Adamos, o maior líder do crime organizado da Grécia, acabara de se tornar meu sequestrador.

E a única maneira de ele me libertar novamente era se eu trouxesse seu irmão de volta.

Vivo.

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3

Christopher

Eu não sabia o que esperar.

Fenway havia recomendado Bellamy, que havia recomendado Miller.

Ele disse que poderia ignorar as formalidades de ter que lidar com o chefe dela primeiro. Eu não tinha ideia de que ele pretendia fazer isso drogando a mulher e sequestrando-a.

Não que ter esse conhecimento teria mudado alguma coisa, é claro.

Isso não tinha nada a ver com meus sentimentos habituais, meu enraizado embora incomum código moral.

Isso tinha a ver com salvar meu irmãozinho antes que algo terrível acontecesse com ele.

Eu nunca seria capaz de viver comigo mesmo se isso acontecesse.

Então, eu estava disposto a fazer o que fosse necessário, pagar qualquer quantia, fazer o possível para trazer meu irmão para casa em segurança.

O que significava que, mesmo que ela recusasse o dinheiro, eu teria ido em frente e teria feito o sequestro eu mesmo.

Eu não vi a mulher quando entrei no iate. Ela estava dormindo no andar de baixo.

O tempo sozinho, após Fenway e Bellamy terem recuado para seus quartos, eu me permiti imaginar que tipo de mulher entrava em negociação como uma profissão.

Minha mente piscou de um lado para o outro entre uma mulher mais velha, de aparência de advogada, de terno com cabelo loiro ousado e um rosto contraído para uma mulher que parecia ter pulado do cenário de um mundo pós- apocalíptico, onde cada momento era vida ou morte, de cabelos curtos, rosto magro, braços robustos, roupas utilitárias e masculinas.

Eu não tinha imaginado nada próximo da realidade.

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29 Advogada severa ou princesa guerreira distópica, ela não era.

Linda foi a primeira palavra que veio à mente. Seguido por jovem. Ou, pelo menos, mais jovem do que eu imaginava. Com a reputação que ela tinha quando perguntei sobre ela, parecia improvável que ela tivesse menos de quarenta anos.

Mas, na realidade, acho que ela talvez não estivesse na casa dos trinta.

Ela tinha uma estrutura curta e compacta, com curvas suaves, mas generosas, cabelos castanhos escuros e brilhantes, olhos castanhos amendoados e um rosto delicado.

Ela parecia um pouco áspera, com dor nos olhos, maquiagem borrada, passos um pouco rígidos e incertos.

Os efeitos das drogas ainda afetam seu organismo.

Mas ainda... linda.

Sua voz, mesmo quando me ameaçava com homicídio, era suave e reconfortante, e imaginei que isso era algo que funcionava a seu favor em uma negociação, sendo capaz de acalmar ambas as partes, acalmar nervos desgastados e sentimentos feridos.

E ela muito, muito claramente, não queria estar lá. Contra a vontade dela. De frente para mim.

E isso foi justo o suficiente. Eu tinha uma reputação que me precedia às vezes. Se ela soubesse alguma coisa sobre crime na Grécia, saberia que eu geralmente tinha minha mão nisso. E uma reputação de ser rápido e cruel quando alguém me desafiava.

Por outro lado, me disseram sobre alguns dos acordos que ela havia negociado, e os homens eram a sujeira da Terra.

Mas talvez porque ela o fez a título oficial com ajuda.

Ou talvez ela estivesse chateada por não ter sido solicitada diretamente.

Ambos faziam sentido.

Nenhum importava para mim.

Ela ia fazer este trabalho.

— Ela ficará de bom humor assim que tomar um café, — disse Fenway quando ela desceu do convés para trocar de roupa. — Eu avisei que ela poderia ser um pouco mal-humorada.

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— Um gatinho fica mal-humorado, — corrigiu Bellamy. — Miller pode ser mais como uma pantera ou um leão da montanha.

Imaginei que uma mulher que trabalhava em sua profissão, cercada por homens em seu escritório, tinha que ser dura para sobreviver.

Dura era bom.

Dura era o que eu precisaria que ela fosse.

Por que o homem que tinha meu irmão? Ele era alguém que poderia me dar pesadelos.

— Com licença, — eu disse, movendo-me para ficar de pé, decidindo que queria tentar de novo. Para genuinamente interessá-la. Se bastasse dinheiro, tudo bem. Eu tinha mais do que suficiente. Sempre poderia fazer mais.

Mas, ao colocá-la de bom grado, motivada por algo que ela realmente queria, ela trabalharia melhor.

Mesmo sabendo que ela era linda, não me preparou para o soco do desejo quando abri a porta do quarto e a encontrei parada apenas com um sutiã e calcinha que deixou metade de sua bunda redonda aparecendo.

Foi imediato, avassalador, fazendo visões de agarrá-la e rolar na cama com ela piscar na frente dos meus olhos. Essa seria uma boa maneira de acabar com um pouco do estresse que me sufocava nos últimos cinco dias.

Cinco dias.

Não tinha ideia do que ele estava passando, o que estava sendo feito com ele.

Por cinco malditos dias.

— Há quanto tempo ele é refém? — Miller perguntou, erguendo o queixo, recusando-se a cobrir. O que eu respeitava, mas estava achando quase impossível de me concentrar.

— Cinco dias hoje.

— E quem o tem?

— Atanas Chernev.

A maneira como seus lábios se abriram com o nome e a cabeça caiu um pouco, me disse que ela sabia exatamente com quem eu estava lidando. E quão ruim isso era.

— O traficante de heroína da Bulgária, Atanas Chernev? — ela perguntou para esclarecer.

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— Sim.

— Você tem certeza que ele tem seu irmão?

— Eu tenho um vídeo. Sim, tenho certeza.

— Como ele conseguiu seu irmão?

— Ele estuda em Atenas. Ele deveria estar seguro lá. Eu tinha homens lá.

Ninguém deveria ter conseguido pegá-lo. Mas ele conseguiu.

— O que ele quer de você? — ela perguntou, olhar direto.

— Ele quer poder operar no meu país.

— Seu país.

— Sim, meu. Ninguém opera na Grécia sem que eu saiba. Dos traficantes até os agiotas do bairro. Tenho a palavra final sobre quem trabalha, e quem não trabalha, no meu país.

— Por que você não quer que ele opere na Grécia?

— Porque ele não pode ser confiável. Porque não posso confiar nele. Porque essa merda já está causando danos suficiente, não preciso de alguém cruel como ele empurrando mais disso, arruinando vidas, famílias.

— Agora, para recuperar seu irmão, você está disposto a desistir um pouco dessa questão?

— Não tanto quanto ele quer que eu faça.

— Essa é a parte em que devo lhe dizer que a coisa mais inteligente a fazer é deixar meu chefe e sua equipe entrar. Sou apenas parte do pacote de acordo que você pode conseguir com Quin. As negociações são importantes. Mas não acho que preciso lhe dizer que, se não derem certo, você precisará de um plano de apoio.

Você precisa extrair seu irmão com segurança.

— Se chegar a isso, vou lidar com isso. Não preciso da sua equipe para isso.

Preciso que você tenha certeza de que não chegue a isso.

— Não entro com garantias, Sr. Adamos, — ela me disse, balançando a cabeça um pouco.

— Eu não preciso de garantias. Preciso que você faça seu trabalho.

— Eu me sentiria mais confortável se você trouxesse, pelo menos, Smith da minha equipe.

Smith, eu conhecia das histórias de Fenway e Bellamy. Ele era o General da equipe. Ele lidava com coisas como extrações.

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— Eu tenho meus próprios homens.

— Não tão bons quanto os homens de Quin.

— Talvez não sejam tão experientes, mas com muito menos moral, — eu disse a ela, vendo como a compreensão cruzou seu rosto.

Eu queimaria toda a porra da Bulgária se isso significasse recuperar meu irmão. Eu não dava a mínima para o que isso dizia sobre mim como homem.

— Quanto tempo você tem antes que uma ação seja esperada de você?

— Chernev espera receber notícias minhas amanhã à noite.

— Não há muito tempo para me preparar.

— Mas isto pode ser feito. — Não foi uma pergunta. Mas ela respondeu mesmo assim.

— Isso pode ser feito, — ela concordou. — Fenway está certo. Vou precisar desse café.

— Estaremos ancorados em menos de cinco minutos, — eu disse a ela, movendo-me em direção à porta.

— Sr. Adamos, — ela chamou, me fazendo voltar.

— Sim?

— Oito, — ela me lembrou.

— Eu sou um homem de palavra, Miller. Você me devolve meu irmão, receberá seu dinheiro.

— Receio que não seja assim, Sr. Adamos. Se sou ou não bem-sucedida, sou paga. Ninguém trabalha de graça.

Isso era justo o suficiente.

— Se você não obtiver sucesso, receberá a taxa que seu empregador lhe paga.

Nem um centavo a mais.

Ela não gostou disso, a julgar pela tensão na mandíbula, pela maneira como seus olhos ficaram pequenos. Mas ela também não se opôs.

— Sr. Adamos, — ela chamou novamente quando eu acabei de chegar ao corredor.

— Sim?

— Seu irmão...

— O que tem ele?

— Qual o nome dele?

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— Alexander, — eu disse a ela, sentindo a dor atravessar meu estômago.

— Farei tudo o que puder para proteger Alexander, — ela me disse quando fechei a porta.

Eu não a conhecia o suficiente para dizer com certeza, mas tinha a sensação de que era mais do que dinheiro. Talvez porque Alexander fosse tão jovem, porque as crianças nunca deveriam se envolver em guerras entre homens adultos.

Um coração terno era ruim para os negócios.

Mas, neste caso, funcionaria a meu favor.

— Ela lhe disse explicitamente para não lhe dar um porco, — Bellamy estava dizendo a Fenway quando eu voltei para o convés, vendo Fenway percorrendo algo em seu telefone.

— Mas ela não quis dizer isso, — Fenway insistiu.

— Ela não pode ter um porco agora, — eu disse, ajudando Bellamy, e provavelmente Miller. — Ela ficará na Grécia por um tempo, — acrescentei.

— Certo. Bem, anotando para o aniversário dela então, — disse Fenway, guardando o telefone.

Eu duvidava que ele soubesse o aniversário dela, muito menos se lembraria. Isso não era algo que você poderia esperar de Fenway, o tipo de homem cuja vida era cheia de mulheres e festas, evitando qualquer coisa séria, nunca fazendo conexões profundas.

Era assim que ele era.

A única coisa que o fez chegar a uma parada foi quando algum grande, ou pequeno, homem estava ameaçando sua vida porque Fenway envolveu-se com sua esposa, irmã, filha, ou mãe. Todas as anteriores. E ele só parava então porque a equipe em que Miller e Bellamy trabalhavam o forçava.

Na verdade, eu conheci Fenway quando um dos meus homens o salvou de uma surra no beco escuro por causa de uma mulher que ele paquerou na frente de seu homem.

Ele provou ser um amigo distante, mas divertido, alguém fácil de levar, alguém que sempre organizava uma grande festa nas raras ocasiões em que eu estava com disposição para uma.

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34 Cinco minutos depois de desembarcarmos, ele fugiria, perseguindo uma bela mulher com uma saia esvoaçante. Eu provavelmente não o veria novamente por meses. Ou anos.

Bellamy, imaginei que ficaria o suficiente para garantir que Miller estivesse confortavelmente no trabalho. Então ele iria para sabe-se lá onde.

Imaginei que Miller também tivesse descoberto isso, o que provavelmente explicaria muito de sua hesitação inicial.

— Você contou a ela sobre o garoto, — disse Bellamy, empurrando o queixo atrás de mim.

Eu me virei para ver todo o quase um metro e setenta de Miller caminhando em nossa direção, sua marcha rápida e determinada. — Tudo bem. Vamos fazer isso.

Dez minutos depois, Fenway supostamente saiu para perguntar sobre um pouco de vinho que ele queria estocar no seu iate.

Estávamos na frente da cafeteria quando o telefone de Bellamy tocou.

Ele o alcançou, erguendo uma sobrancelha, algo que imediatamente fez Miller investir nele. — É Quin, não é? — ela perguntou enquanto ele dançava um passo para trás. — Me dê isso. Bells! — ela gritou quando ele se afastou ainda mais. — Bellamy, — ela rosnou quando ele subiu as escadas.

Ela tentou ir atrás dele, fazendo meu braço disparar, dedos enrolando em torno de seu braço, puxando-a para trás.

— Solte-me, — ela exigiu, a ordem saindo entredentes. Desafiadora, mesmo sabendo que não tinha chance.

— Nós concordamos que este trabalho não envolvia seu chefe, — lembrei-a enquanto ela tentava se afastar, virando o pescoço, provavelmente tentando descobrir se havia alguém por perto que a salvaria se ela gritasse.

Normalmente, sim, eles iriam.

Mas não quando a pessoa da qual ela precisava ser salva era eu.

Ninguém faria um movimento contra mim. Havia algo na maneira como seus ombros caíam que dizia que ela estava começando a entender isso, a ver meu alcance.

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— Por aqui, — eu disse a ela, aliviando meu aperto, mas mantendo a mão nela, levando-a através de uma porta azul brilhante e entrando em uma pequena cafeteria.

— Preciso da varanda limpa, — disse ao proprietário que imediatamente saiu de trás do balcão, para fazer isso acontecer. — E dois frappés, — acrescentei, à esposa do homem, que rapidamente recolheu o café instantâneo e o leite.

— Você pode me soltar, — disse Miller, a voz áspera, mesmo quando ela me lançou um sorriso falso. Se não soubesse que ela estava chateada, teria acreditado.

— Então você pode correr atrás de Bellamy para falar com seu chefe? Não.

— Eu pensei que tínhamos um acordo de negócios.

— Nós temos, — eu concordei, acenando com a cabeça para o proprietário enquanto levava Miller para a varanda, sentando-a perto do parapeito enquanto eu pegava o lugar perto da porta. Sem saída.

— Então por que você está me tratando como uma prisioneira?

A esposa do proprietário saiu na varanda, colocou as bebidas junto com um menu e depois desapareceu em silêncio novamente, fechando a porta enquanto passava.

— Frappé, comida... sim, você está sendo terrivelmente maltratada.

— Eu só queria que minha equipe soubesse onde estou. Isso é tudo. E sei que Bellamy mentirá para eles. Você tem entes queridos, Sr. Adamos. Você sabe como é se preocupar quando um deles desaparece repentinamente.

— Tenho certeza que Bellamy lhes forneceu uma história que lhe dará tempo suficiente para salvar Alexander.

Para isso, ela soltou um longo suspiro, pegando um frappé, recostando-se na cadeira.

— Tudo bem. Vou precisar de mais detalhes.

— Sobre o que exatamente?

— Seu irmão. Atanas. A hierarquia do crime em seu país. O tipo de aliados que Atanas tem. E você. O que você está, e não está, disposto a negociar. Tudo.

Ela ficou em silêncio então, tomando um gole tímido de seu frappé, soltando um gemido que eu podia sentir no meu pau, porra, depois tomando um gole mais longo.

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— Essa é uma longa história, — eu disse a ela, deslizando o dedo pelo suor do meu copo.

— Eu estou por sua conta agora, — ela disse com um encolher de ombros casual.

— Meu pai começou o negócio da família. Ele subiu na hierarquia de empréstimos para, como você diz, senhor do crime. Ele morreu cinco anos depois que Alexander nasceu. Sua mãe foi morar com outro homem rico, deixando-me para criar Alexander. O que eu fiz. No ano passado, ele insistiu em ir à escola em Atenas. Ele se sentia sufocado aqui, eu acho.

— Guardas armados impedindo-o de ser criança? — ela perguntou.

— Algo assim, sim. Ele deveria estar seguro. Ninguém me desafia aqui.

— Qual é exatamente o seu negócio, Sr. Adamos?

— Acredito que eles chamariam isso de “crime organizado” nos Estados Unidos.

— Esse é um termo abrangente.

— O meu é um negócio abrangente.

— Então, você, o que, aceita uma porcentagem de todas as transações ilegais? Em troca de proteção?

— Na maior parte sim.

— Quem lida com heroína no seu país?

— Ninguém daqui. Ele entra furtivamente. Tantos barcos, tantos rostos, é impossível acompanhar.

— Então você não tolera nenhum comércio de drogas?

— Eu disse que não tenho mão na heroína. Existem outras drogas, drogas menos destrutivas e aquelas que permito. Essas têm traficantes com quem tenho acordos.

— Portanto, seria seguro presumir que Atanas Chernev provavelmente tenha esgueirado pessoas. Ele está encontrando um mercado para isso. Está ganancioso.

Ele quer que você o deixe monopolizar esse mercado.

— Sim.

— Ele estava pensando em lhe dar uma porcentagem?

— Originalmente, sim. Trinta por cento. Como é padrão.

— Há quanto tempo foi isso?

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— Seis meses. Oito, possivelmente.

— Ele estava com raiva?

— Chernev não mostra tanta fraqueza. Ele me disse que entendeu minha hesitação. Não tive notícias dele novamente. Imaginei que ele havia se mudado para a Turquia ou a Romênia. Até a Itália. Não tinha motivos para suspeitar que ele era uma ameaça.

— Exceto que todo mundo é uma ameaça quando quer algo de você que não está recebendo.

— Isso é verdade, — eu concordei.

— Ok. Bem, como é Alexander?

— Muito parecido comigo nessa idade. Exceto talvez mais esperto. Mais astuto até.

— Portanto, alguém que provavelmente não se encolhe e implora para ser libertado, — ela adivinhou.

— Não consigo imaginá-lo fazendo uma dessas coisas.

— Ele é imprudente? Ele fará alguma coisa para estragar as negociações?

— Tudo é possível. Acho que, se ele sabe que você está envolvida, ele será esperto, tentar deixar as coisas acontecerem.

— Exigirei provas de vida. Ele saberá que estou envolvida. Você e Alexander têm algum tipo de código?

— Código? — eu perguntei, sobrancelhas franzidas.

— Sim, código. Para uma situação como essa. Minha equipe e eu todos temos frases de efeito, pequenos dizeres que, quando ditos em situações de alta pressão, como sequestros ou reféns, podemos usar para comunicar detalhes da situação.

— Infelizmente, eu nunca tinha pensado nisso antes.

— Quando ele chegar em casa, isso é algo que você desejará implementar.

Mesmo se você planeja aumentar a segurança. Essa é a natureza dos seus negócios. Ela vem com alguns riscos e a preparação para eles é importante. Agora, quanto você está disposto a dar a ele? Porque, Sr. Adamos, você terá que dar algo a ele.

— Atenas, Mykonos e Lindos.

— Você desistiria de Atenas com seu irmão estudando lá?

— Meu irmão aprenderá a suportar a educação em casa no futuro.

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— Provavelmente inteligente. E esse é um bom começo. Mas você sabe que ele vai querer Santorini. É um dos maiores pontos turísticos.

— Ele não pode ter Santorini.

— Por que você mora aqui? Por que isso fará você parecer fraco para todos que respondem a você?

— Sim. Você quer ver o caos, deixe que os funcionários pensem que o chefe os deixará fazer o que quiserem. Meu irmão não terá chance. Nem eu. Alguma ordem deve ser mantida. Ele não pode ter Santorini.

— Tudo bem, — ela disse, exalando com força. — Vou ver o que posso fazer.

Há mais alguma coisa que preciso saber?

— Chernev não vai esquecer seu rosto, — eu a avisei. — E ele é um inferno de um inimigo.

Para isso, um sorriso lento e arrogante puxou seus lábios. — Você não ouviu, Sr. Adamos? Fiz aliados poderosos em todo o mundo. Jantei na Páscoa com homens que fariam Atanas Chernev mijar nas calças. Ele põe uma marca na minha cabeça, ele coloca uma na sua própria.

— Isso é uma ameaça, Miller? — eu perguntei, sentindo meus lábios tremerem levemente.

— É uma informação importante a ter.

Ela esticou o braço sobre a mesa, pegando meu frappé que eu não havia tocado, tomando um longo gole.

Meu telefone tocou no meu bolso.

Cheguei a ele, encontrando uma mensagem.

— O quê? — ela perguntou, lendo minha reação.

— Bellamy. Ele diz que tem um trabalho. E me comprou uma semana com seu chefe.

— Ele me deixou aqui.

Não foi uma pergunta.

Eu respondi de qualquer maneira.

— Somos apenas você e eu.

Era para ser uma ameaça.

Parecia muito uma promessa.

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Miller

Acho que não poderia ter esperado uma boa cama e café da manhã. Ou mesmo ir mais longe na costa e ficar em um hotel.

Não.

Eu provavelmente deveria ter previsto ser agarrada pelo braço novamente e subir as escadas sem fim de Santorini, sentindo minhas coxas queimarem sem piedade, enquanto Christopher parecia nem notar a tensão em seus músculos.

— Ok, chega, — eu resmunguei, puxando meu braço bruscamente, surpreendendo Christopher o suficiente para me libertar.

Eu malhava.

De má vontade.

Não tanto quanto alguns dos meus companheiros de equipe.

Mas eu conseguia.

Fiz uma promessa aos meus pobres e doloridos pulmões para fazer mais quando voltasse para casa.

Porque eu estava suada e meio dobrada para a frente, com as mãos nos joelhos, tentando respirar um pouco.

— Não me dê esse olhar, — eu exigi.

— Você nem pode me ver para saber que olhar posso ou não estar lhe dando.

— Eu posso sentir, — eu insisti.

— Você vai se acostumar com as escadas, — ele me assegurou, uma sugestão do que parecia suspeitosamente humor em sua voz.

— Eu entendo os burros agora, — eu disse, tendo zombado deles apenas vinte minutos antes.

Realmente, eu só precisava de um minuto. Eu ainda estava desidratada e não tinha dormido o suficiente. Eu não estava na minha melhor forma.

(40)

40 Mas ou Christopher duvidou de minhas habilidades para me recuperar, ou ele simplesmente ficou impaciente.

Porque a próxima coisa que eu soube, um braço estava sob meus joelhos, outro nas minhas costas, e eu fui levantada e puxada para o peito de Christopher.

— Coloque-me no chão, — exigi, mas não tinha muita certeza de quanta convicção havia em minha voz.

Agora, se era por exaustão ou se era surpreendentemente agradável estar nos braços de um homem forte e lindo era uma incógnita.

Mas, é claro, eu ia garantir a mim que era o primeiro.

— Você não vai conseguir outro conjunto. E ainda temos mais cinco.

— Você mora no topo da colina, não é?

— Sim.

— Claro que mora, — eu murmurei, tentando não ficar muito hipnotizada estudando sua mandíbula. Podia cortar vidro, de tão marcada.

— Tem vantagens táticas.

— Como seus inimigos morrendo de ataques cardíacos tentando alcançar você.

— Existe isso, — ele concordou, os lábios tremendo. — E eu e meus homens podemos ver tudo acontecendo abaixo de nós. Ninguém pode esgueirar-se. É o lugar mais seguro da ilha.

Se eu fosse refém, pelo menos sabia que estaria a salvo de ameaças externas.

E, convenhamos, os homens que fariam mal a você geralmente não a carregariam por vários lances de escada.

Eu tinha valor.

Só deixaria de ter se não pudesse salvar seu irmão.

E, bem, mesmo sendo meio refém, eu queria ajudar. Era uma coisa que me irritava quando homens como Chernev envolviam crianças inocentes em suas insignificantes guerras de tráficos. O dinheiro era um benefício adicional.

Alexander Adamos era a prioridade.

Mesmo sabendo que, no entanto, estava muito ciente da maneira como seus braços me embalavam, dos músculos duros de seu peito e da maneira como ele me carregava como se não fosse esforço sequer.

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