Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física
P
ARQUES ESPORTIVOS COMO ESPAÇO E LUGAR DE IN
(
EX
)
CLUSÃO
DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA E VISUAL
Brasília - DF
2014
Autor: Junior Vagner Pereira da Silva
JUNIORVAGNERPEREIRADASILVA
PARQUES ESPORTIVOS COMO ESPAÇO E LUGAR DE IN(EX)CLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA E VISUAL
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Educação Física.
Orientadora: Profa Dra Tânia Mara Vieira Sampaio.
Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB
S586p Silva, Junior Vagner Pereira da.
Parques esportivos como espaço e lugar de in(ex)clusão de pessoas com deficiência física e visual. / Junior Vagner Pereira da Silva – 2014.
285 f.; il : 30 cm
Tese (doutorado) – Universidade Católica de Brasília, 2014. Orientação: Profa. Dra. Tânia Mara Vieira Sampaio
1. Direitos humanos. 2. Políticas públicas. 3. Deficientes – Orientação e mobilidade. 4. Lazer. I. Sampaio, Tânia Mara Vieira, orient. II. Título.
Tese de autoria de Junior Vagner Pereira da Silva, intitulada “PARQUES
ESPORTIVOS COMO ESPAÇO E LUGAR DE IN(EX)CLUSÃO DE PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA FÍSICA E VISUAL”, apresentada como requisito parcial para obtenção do
título de Doutor em Educação Física da Universidade Católica de Brasília, em 2014,
defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada.
________________________________________________ Profa Dra Tânia Mara Vieira Sampaio
Orientadora
Educação Física/Pós-graduação Stricto Sensu/UCB
________________________________________________ Prof. Dr. Elvio Marcos Boato
Educação Física/Curso de Educação Física/UCB
________________________________________________ Profa Dra Gislane Ferreira de Melo
Educação Física/ Pós-graduação Stricto Sensu/UCB
________________________________________________ Prof. Dr. Hélder Ferreira Isayama
Educação Física/Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Estudos do lazer/UFMG
________________________________________________ Prof. Dr. José Francisco Chicon
Educação Física/Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação Física/UFES
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
Aqui se encerra mais uma etapa importante da minha vida e outra se inicia. Talvez
mais dura, mais longa, mais desafiadora. Contudo, por trás da etapa que se encerra, da
conquista que se festeja e sonho que se realiza, há uma história, história esta que contou com a
participação pessoal e profissional de muitas pessoas, cada qual dando a sua colaboração.
Pessoas estas que gostaria de externar meus agradecimentos pelas valiosas e importantes
contribuições, apoios, oportunidades, amizades e ensinamentos legados neste processo.
Seguramente quando se arrisca a citar nomes, se corre o risco de ser traído pela memória, mas
por outro, quando não se arrisca, corre-se o risco de deixar no anonimato pessoas que foram
essenciais. Opto por correr o risco...
Aos familiares
Adjetivos, sinônimos, gestos, dentre outras formas de expressão, não dão conta de
expressar meu amor, carinho e respeito à vocês que acompanham, viveram e lutaram
juntamente comigo neste processo. À minha mãe (Maria), ao meu pai (Manoel), as minhas
irmãs (Elizabete e Eliana), aos meus sobrinhos (Haune, João Paulo, João Vitor e Bárbara), ao
meu cunhado Pereirinha e madrinha Paulina, meu muito obrigado pelo amparo, pelos braços
abertos com os quais sempre estão prontos a me receber.
Aos mestres com carinho
Trinta e seis anos se completam em 25 de março, destes, em 21 tive o privilégio de
contar com grandes professores, mestres que registro aqui meus agradecimentos pelo
importante papel que exerceram neste processo de formação. Aos professore(a)s mestres
Mauro, João Emídio e Graci Marlene (Faculdades Integradas de Fátima do Sul),
professore(a)s doutore(a)s Ademir De Marco, Nelson Carvalho Marcellino, Rute Estanislava
Tolocka e Wagner Wey Moreira (Universidade Metodista de Piracicaba), Claudio Cordova,
Daniel Boullosa, Luís Otavio Teles Assumpção e Tânia Mara Vieira Sampaio (Universidade
Católica de Brasília) meu muito obrigado pela abdicação de vossos tempo e pelos
Aqueles que abriram as portas das oportunidades
À Profa Norma Ribas, primeira coordenadora enquanto docente no Ensino Superior, na Universidade Católica Dom Bosco em Campo Grande, Mato Grosso do Sul e, profissional
que oportunizou minha inserção como professor no Ensino Superior. Acreditar e investir em
alguém de tão longe, só poderia vir de uma pessoa nobre, como tu. Esta oportunidade mudou
a minha vida. Jamais deixarei de ser grato pela oportunidade que me deste.
Aos coordenadores da Universidade do Estado do Pantanal UNIDERP, Profa Vera Lícia Baruki pela compreensão, oportunidade e sabedoria de sempre. Aos Profos Carlos
Alexandre Habitante e Paulo Ricardo Martins, seguradores de grandes rojões. Certamente as
oportunidades dadas foram essenciais ao crescimento e a busca de voos mais longos.
À Profa Joslei de Souza Viana pela receptividade, cuidados e encaminhamentos dados
à minha chegada em Ilhéus na Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. À vocês, meu
respeito e gratidão.
À UESC e aos colegas do Colegiado de Educação Física
Certamente parte deste trabalho estaria incompleta se não me fosse oportunizado o
afastamento das atribuições profissionais concedido pela Universidade Estadual de Santa
Cruz e o suporte dado pelos colegas do Colegiado de Educação Física. Muito obrigado.
Aos amigos
É verdade que na vida existem muitas pessoas que dificultam, mas tive o privilégio de
encontrar muitos que facilitaram. E a esses gostaria de deixar registrado o meu muito
obrigado, carinho, respeito e admiração.
Em Campo Grande a vida teria sido muito mais difícil sem a parceria e amizade de
Angela Gil Lins, Beth Martins Nunez, Isadora Dias, Isabela Dias, Jôsi Greffe, Joslei de Souza
Viana, Jussara Nascimento, Luiz Henrique Araújo Silva, Maurícea de Souza, Mirian Lange
Noal, Paulo Ricardo Martins Nunez, Vágno de Souza Dias e Quézia Tosta.
Em Brasília, o que seria sem a companhia das figuras ilustres da república Jambalaia,
meus irmãos de afeto Mestre Lucas, Genildo (filhinho) e Luiz Lira (corpinho) e dos
camaradas que fraternalmente constituíram o grupo Man - Ricardo Kiu Asano, João
Bartolomeu, Marcelo de Sales Magalhães, Rafael Olher, Rafael Sotero e Lilian. Saudades dos
Danielle Garcia, por sua constante gentileza e disponibilidade em ajudar e fazer o bem, sem
olhar a quem. À Gislane Melo, minha querida amiga, obrigado pela amizade, carinho e
cuidado de sempre. Você é uma joia rara. Um beijo no coração.
Em Ilhéus, alguns e algumas naturais da terrinha... Outros e outras vindos de
diferentes regiões do país... Imagine, muitas diferenças. Mas algo em comum. Gente de
coração grande!!! Longe de casa, foram minha família por opção. Meu muito obrigado pela
acolhida e amizade Alex Tahara, Dácio Maurinho, Iramar Mota Silveira, João Almeida, Joslei
de Souza Viana, Luiz Henrique da Silva, Rose Melo, Sayonara Marcelino, Wasghiton
cabeção, Roseanne Montargil, Tiago Nicola Lavoura. Diante de tanto aconchego, de tanto
carinho, acolhimento, em tom de despedida, de um até logo, à vocês dedico uma poesia que
criei em vossas homenagem.
“Ilhéus” (Por Junior Silva)
Aqui esta legal, afinal é litoral. Aqui apesar de lento, tem seu acalento, se aprecia o por do sol,
o nascer da lua e o sabor do vento. Aqui, quem diria, encontrei paz, felicidade, alegria e harmonia. Aqui, não me desencantei, pelo contrário, até me casei. Aqui, a família não me acompanhou, mas uma outra, de grandes irmãos, irmãs, amigos e amigas, se formou. Aqui, com o aproximar da despedida, a mente esta a pensar, o coração a palpitar, com dúvidas e ansiedade sobre como será. Mas lá, a de ser bacana, porquê se estará mais próximo da minha mama. Aqui, não mais morarei, mas à todo(a)s que me acolheram, grato pela amizade sempre serei.
Aos membros da banca avaliadora
À Profa Dra Tânia Mara Vieira Sampaio pelo convívio e ensinamentos deixados nestes quatro anos de doutorado. Aos membros integrantes da banca de qualificação e de defesa,
professores Dr. Elvio Marcos Boato, Dr. Alfredo Feres Neto, Dr. José Francisco Chicon,
Hélder Ferreira Isayama e professora Dra Gislane Ferreira de Melo, meus agradecimentos pela anuência em compartilhar vossos conhecimentos e por proferirem críticas essenciais a
adequação do trabalho.
À Profa Dra Tânia Mara Vieira Sampaio
Obrigado pelo carinho, carisma e ensinamentos neste processo de doutoramento. Um
Aos órgãos de fomento
Meus agradecimentos aos brasileiros, contribuintes de impostos, impostos estes que
permitiram a mim usufruir de bolsas fomentadas pela CAPES nos anos de 2010-2011 e
UESC entre julho de 2013 a fevereiro de 2014. Espero ter respeitado e feito jus ao dinheiro
investido nestes períodos.
Ao meu amor, Luiza Lana, minha esposa
Estava decidido a ficar só por quatro anos, minha cabeça já tinha dona e uma missão,
desenvolver uma tese. Mas inocente eu, me esqueci que na vida se manda pouco e que o
coração é terra que a razão não habita. De repente, num momento de lazer, uma distração,
veio você e... Pannn!!! Como boa mineira, me fisgou pela conversa mansa, pelo gingado dos
dois para lá e dois para cá do forró. Ocupou meu coração. Lá se foram dois anos, alguns
meses e dias. Muitos desafios, mudanças, abdicações, aprendizagens e sobretudo conquistas.
Nosso amor, nossa casa, meu doutorado e por fim, nossa aprovação no concurso público para
docente na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, seu mestrado. Obrigado por tudo...
Pela paciência... Pelo silêncio... Pelo cuidado... Pelas conversas... Amo você... Agora sim...
RESUMO
SILVA, Junior Vagner Pereira da. Parques esportivos como espaço e lugar de in(ex)clusão de pessoas com deficiência física e visual. 285f. Tese (Doutorado em Educação Física) – Universidade Católica de Brasília, Taguatinga-DF, 2014.
Nas últimas décadas temos acompanhado um novo paradigma no que concerne a inserção das pessoas com deficiência na sociedade, o da inclusão. Pautado não mais na defesa da adequação do sujeito à sociedade, mas sim da sociedade às condições das pessoas com deficiência, entende-se que todas e quaisquer tipos de barreiras necessitam ser eliminadas a fim de promover a inclusão desta população nas diversas atividades cotidianas. Considerando que o lazer se constitui uma importante atividade da vida humana, o presente estudo teve por objetivo analisar a in(ex)clusão de pessoas com deficiência física e visual nas políticas de lazer dos parques esportivos de Campo Grande/MS. Especificamente, buscamos avaliar o nível de acessibilidade arquitetônica, programática e metodológica. O estudo se caracterizou como descritivo/exploratório e foi desenvolvido em seis parques esportivos em Campo Grande/MS. Ainda, integraram o estudo os coordenadores dos projetos desenvolvidos nos parques. A acessibilidade arquitetônica foi avaliada através da análise morfológica dos espaços físicos, utilizando como técnica a observação direta das dependências dos parques esportivos (passeio público, acesso, circulação horizontal, circulação vertical, portas, sanitários, estacionamento, espaços esportivos, mobiliários, dentre outros). Por sua vez, a acessibilidade metodológica e programática foram analisadas por intermédio da avaliação dos programas desenvolvidos e população atendida, adotando como técnica de pesquisa a entrevista estruturada. Os resultados indicam que, com exceção de dois estacionamentos (Nações Indígenas), uma das vias de circulação horizontal interna (Jaques da Luz, Airton Senna, Ecológico do Sóter e Tarsila do Amaral) e complexos poliesportivos (Jaques da Luz, Airton Senna e Tarsila do Amaral), todos os demais elementos analisados se encontram inacessíveis às pessoas com deficiência física e visual. Conclui-se que todos os parques analisados, devido a inacessibilidade arquitetônica e inexpressível fomento a acessibilidade programática e metodológica, se constituem palco de exclusão das pessoas com deficiência física e visual.
ABSTRACT
SILVA, Junior Vagner Pereira da. Sports parks as space and place inclusion/exclusion of people with physical and visual disabilities. 285f. Tese (Doutorado em Educação Física) – Universidade Católica de Brasília, Taguatinga-DF, 2014.
In recent decades we have witnessed a new paradigm concerning the insertion of disabled people in society, the inclusion. Guided by no more defending the adequacy of the individual to society, but society conditions of people with disabilities, we understand that any and all types of barriers need to be eliminated in order to promote the inclusion of this population in various everyday activities. Considering that it is an important leisure activity of human life, the present study aimed to analyze in the inclusion/exclusion of people with physical and visual disabilities in policies of leisure sports parks Campo Grande / MS.Specifically, we sought to evaluate the level of accessibility architectural, programmatic and methodological. The study was characterized as a descriptive / exploratory study had six sports parks in Campo Grande / MS. Still, this study integrated the coordinators of the projects development in the parks. The architectural accessibility was assessed by morphological analysis of physical spaces using technique as the direct observation of the dependencies of the sports parks (public footpath, access, horizontal movement, vertical movement, doors, toilets, parking, sports spaces, securities, among others). In turn, the methodological and programmatic accessibility were analyzed through the evaluation of developed programs and population served by adopting as a research technique structured interview. The results indicate that, with the exception of two parking lots (Nações Indígenas), route of internal horizontal movement (Jaques da Luz, Airton Senna, the Ecológico do Sóter and Tarsila do Amaral) and poliesportivos complex (Jaques da Luz, Airton Senna and Tarsila Amaral), all other elements analyzed are inaccessible to people with physical and visual disabilities. It is concluded that all parks analyzed due to architectural inaccessibility and inexpressible fostering programmatic and methodological accessibility, constitute stage of exclusion of people with physical and visual disabilities.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1. Esportes adaptados das Paralimpíadas de verão... 103
Quadro 2. Esportes adaptados das Paralimpíadas de inverno... 107
Quadro 3. Parques esportivos de Campo Grande/MS... 120
Figura 1. Mapa do limite territorial de Campo Grande/MS... 54
Figura 2. Mapa do limite urbano de Campo Grande/MS por região e bairros... 58
Figura 3. Símbolo internacional de acesso... 91
Figura 4. Símbolo internacional de surdez... 91
Figura 5. Passeio público da rua Barreiras – Parque Jaques da Luz... 122
Figura 6. Passeio público da rua Copaiba – Parque Jaques da Luz... 123
Figura 7. Acesso principal ao Parque Jaques da Luz pela rua Barreiras... 124
Figura 8. Acesso secundário ao Parque Jaques da Luz pela rua Barreiras... 124
Figura 9. Acesso secundário ao Parque Jaques da Luz pela rua Copaiba... 125
Figura 10. Vias de circulação horizontal do Parque Jaques da Luz... 126
Figura 11. Rampa de acesso ao palco de apresentações do Parque Jaques da Luz... 127
Figura 12. Escada de acesso ao palco de apresentações do Parque Jaques da Luz... 128
Figura 14. Vestiário de uso comum do Parque Jaques da Luz... 130
Figura 15. Telefone público do Parque Jaques da Luz... 130
Figura 16. Bebedouro do Parque Jaques da Luz... 131
Figura 17. Bancos do Parque Jaques da Luz... 132
Figura 18. Espaços esportivos que não exigem acessibilidade arquitetônica... 133
Figura 19. Espaços esportivos que exigem acessibilidade arquitetônica... 133
Figura 20. Piscinas do Parque Jaques da Luz... 134
Figura 21. Passeio público do Parque Airton Senna com presença de barreiras físicas na rua Arapoti... 136
Figura 22. Acesso principal ao Parque Airton Senna pela rua Arapoti... 137
Figura 23. Acesso secundário ao Parque Airton Senna pela rua Arapoti... 137
Figura 24. Acesso secundário ao Parque Airton Senna pela rua Arq. Vilanova Artigas... 138
Figura 25. Acesso secundário ao Parque Airton Senna pela Av. Ernesto Geisel... 138
Figura 26. Circulação horizontal principal (pista de caminhada) do Parque Airton Senna que dá acesso a via secundário... 139
Figura 27. Circulação horizontal secundária do Parque Airton Senna – complexo poliesportivo... 140
Figura 29. Circulação horizontal secundária do Parque Airton Senna – acesso do
complexo poliesportivo as quadras de areia... 141
Figura 30. Rampa de acesso ao palco de apresentações do Parque Airton Senna... 142
Figura 31. Escada de acesso ao palco de apresentações do Parque Airton Senna... 142
Figura 32. Banheiro feminino adaptado do Parque Airton Senna... 144
Figura 33. Banheiro masculino adaptado do Parque Airton Senna... 144
Figura 34. Bebedouro do Parque Airton Senna... 145
Figura 35. Bancos distribuídos pelo Parque Airton Senna... 146
Figura 36. Acesso ao complexo poliesportivo do Parque Airton Senna – via frontal... 147
Figura 37. Acesso aos módulos esportivos do campo de futebol e voleibol de areia do Parque Airton Senna... 148
Figura 38. Acesso aos módulos esportivos dos campos de futebol em gramado e quadras de voleibol do Parque Airton Senna... 149
Figura 39. Acesso aos módulos das quadras poliesportiva e quadras de futsal do Parque Airton Senna... 150
Figura 40. Acesso as piscinas do Parque Airton Senna... 151
Figura 41. Playground do Parque Airton Senna... 152
Figura 42. Estacionamento externo do Parque Ecológico do Sóter... 153
Figura 44. Acesso principal ao Parque Ecológico do Sóter pela rua Salsa Parrilha... 155
Figura 45. Circulação horizontal principal do Parque Ecológico do Sóter – acesso aos espaços esportivos... 156
Figura 46. Circulação horizontal secundária do Parque Ecológico do Sóter – acesso aos espaços esportivos... 157
Figura 47. Circulação horizontal secundária do Parque Ecológico do Sóter – acesso ao playground... 157
Figura 48. Escada e rampa de acesso a guarita de informações e aos banheiros do Parque Sóter... 158
Figura 49. Sanitário adaptado do Parque Ecológico do Sóter... 159
Figura 50. Conjuntos de mesas do Parque Ecológico Sóter... 160
Figura 51. Assentos fixos em concreto do Parque Ecológico Sóter... 160
Figura 52. Assentos fixos em madeira do Parque Ecológico Sóter... 161
Figura 53. Campo de futebol do Parque Ecológico Sóter... 162
Figura 54. Quadra de voleibol de areia do Parque Ecológico Sóter... 162
Figura 55. Quadras poliesportivas do Parque Sóter... 163
Figura 56. Pista de skate do Parque Ecológico Sóter... 164
Figura 57. Playground do Parque Ecológico Sóter... 164
Figura 59. Passeio público do Parque Tarsila do Amaral... 166
Figura 60. Portão de acesso ao Parque Tarsila do Amaral... 167
Figura 61. Circulação horizontal principal do Parque Tarsila do Amaral... 167
Figura 62. Circulação horizontal secundária do Parque Tarsila do Amaral... 168
Figura 63. Circulação horizontal secundária do Parque Tarsila do Amaral... 168
Figura 64. Circulação vertical do Parque Tarsila do Amaral... 169
Figura 65. Complexo poliesportivo do Parque Tarsila do Amaral... 170
Figura 66. Complexo aquático do Parque Tarsila do Amaral... 171
Figura 67. Campos de futebol do Parque Tarsila do Amaral... 171
Figura 68. Estacionamento externo reservado às pessoas com deficiência e idosos da Av. Afonso Penna – Parque Nações Indígenas... 173
Figura 69. Estacionamento externo reservado às pessoas com deficiência e mobilidade reduzida da rua Ivan Fernandes Pereira – Parque Nações Indígenas... 173
Figura 70. Passeio público da av. Afonso Penna – Parque Nações Indígenas... 174
Figura 71. Passeio público da rua Ivan Fernandes Pereira – Parque Nações Indígenas.... 175
Figura 72. Portões de acesso ao Parque Nações Indígenas pela av. Afonso Penna... 176
Figura 74. Portão de acesso ao Parque Nações Indígenas pela rua Antônio Maria
Coelho... 177
Figura 75. Portão de acesso ao Parque Nações Indígenas pela rua Antônio Maria Coelho... 177
Figura 76. Circulação horizontal principal do Parque Nações Indígenas... 178
Figura 77. Circulação horizontal secundária do Parque Nações Indígenas... 179
Figura 78. Circulação vertical do Parque Nações Indígenas... 179
Figura 79. Telefone público do Parque Nações Indígenas... 181
Figura 80. Assentos fixos em madeira do Parque Nações Indígenas... 181
Figura 81. Assentos fixos em tijolos do Parque Nações Indígenas... 182
Figura 82. Campo de futebol de areia do Parque Nações Indígenas... 182
Figura 83. Acesso da pista de caminhada as quadras poliesportivas do Parque Nações Indígenas... 183
Figura 84. Quadra poliesportiva do Parque Nações Indígenas... 184
Figura 85. Quadra poliesportiva do Parque Nações Indígenas... 184
Figura 86. Quadra poliesportiva do Parque Nações Indígenas... 184
Figura 87. Pista de skate do Parque Nações Indígenas... 185
Figura 89. População atendida nos programas de animação sociocultural nos Parques
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Itens ausentes e inadequados nos estacionamentos dos parques de Campo Grande/MS... 187
Tabela 2. Itens ausentes e inadequados nos passeios públicos dos parques de Campo Grande/MS... 188
Tabela 3. Itens ausentes e inadequados nos portões de acesso dos parques de Campo Grande/MS... 190
Tabela 4. Itens ausentes e inadequados nas vias de circulação dos parques de Campo Grande/MS... 191
Tabela 5. Itens ausentes e inadequados nos elementos de circulação vertical dos parques de Campo Grande/MS... 191
Tabela 6. Itens ausentes e inadequados nos banheiros adaptados dos parques esportivos de Campo Grande/MS... 193
Tabela 7. Itens ausentes e inadequados nos mobiliários dos parques de Campo Grande/MS... 194
Tabela 8. Itens ausentes e inadequados nas quadras desportivas dos parques esportivos de Campo Grande/MS... 195
Tabela 9. Itens ausentes e inadequados nas piscinas dos parques esportivos de Campo Grande/MS... 196
Tabela 10.Itens ausentes e inadequados nas pistas de skate dos parques esportivos de
Campo Grande/MS... 196
Tabela 11. Dias e horário de expedientes dos parques esportivos de Campo Grande/MS... 205
SUMÁRIO
Lista de ilustrações... 10
Lista de tabelas... 17
1. INTRODUÇÃO... 20
2. REVISÃO DE LITERATURA... 31
2.1 PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, ERA DOS DIREITOS1 E POLÍTICAS PÚBLICAS... 31 2.1.1 Pessoas com deficiência e a inclusão... 34
2.1.2 Direito à cidade... 44
2.1.2.1 Caracterização de Campo Grande/MS e a normatização urbana... 54
2.1.3 Direito ao lazer... 61
2.1.4 Políticas públicas... 71
2.1.5 Políticas públicas, direitos sociais, hierarquização de prioridades e eficácia jurídica das normas constitucionais... 76
2.2 DIMENSÕES DA ACESSIBILIDADE E INCLUSÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NOS ESPORTES... 81 2.2.1 Acessibilidade arquitetônica e espaços esportivos... 83
2.2.2 Acessibilidade metodológica/instrumental/programática e os esportes adaptados... 93 2.2.2.1 Aspectos históricos da acessibilidade metodológica, instrumental e programática... 96 2.2.2.2 Esportes adaptados paralímpicos de verão... 103
2.2.2.3 Esportes adaptados paralímpicos de inverno... 105
2.2.2.4 Esportes adaptados não-paralímpicos... 107
2.2.2.5Esportes de aventura adaptados... 110
3. MATERIAL E MÉTODOS... 116
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO...... 121
4.1 ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA... 121
1
4.2 ACESSIBILIDADE PROGRAMÁTICA E METODOLÓGICA... 205
4.3 POLÍTICAS PÚBLICAS E EFETIVIDADE DOS DIREITOS
CONSTITUCIONAIS A ACESSIBILIDADE ARQUITETÔNICA E AO ESPORTE DE LAZER... 213
5. CONCLUSÃO... 221
6. REFERÊNCIAS... 228
Apêndice A – Súmula das leis que regulamentam direitos gerais e específicos às pessoas com deficiência...
256
Apêndice B – Formulário utilizado na entrevista com os coordenadores dos projetos desenvolvidos nos parques esportivos em Campo Grande/MS... 276
Anexo A – Checklist de vistoria da acessibilidade... 278
Anexo B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE... 280
1. INTRODUÇÃO
Quando do processo de formação em Licenciatura Plena em Educação Física no
período de 1996-1999, dentre as diferentes disciplinas que compunham a matriz curricular,
uma em especial me fazia os olhos brilharem, que pautada na animação sociocultural buscava
subsidiar a formação profissional para atuação em diversos contextos – escolas, hotéis,
acampamentos, acantonamentos, colônia de férias, dentre outros –, a disciplina Recreação.
Desde então nascia um sonho, lecionar no Ensino Superior a disciplina Recreação.
Todavia, era apenas um sonho, um sonho sonhado acordado, mas visto como impossível de
ser concretizado, seja pelas condições geográficas na qual residia, pela dificuldade financeira
em continuar os estudos, pela falta de oportunidades, dentre outras.
Com a conclusão do curso em 1999 e aprovação em concurso público municipal,
frente as longas 40 horas/aulas semanais de regência no Ensino Fundamental, o sonho foi aos
poucos adormecendo e tal propósito deixou, por um tempo, de existir.
Passei então a me ater a atuação com a Educação Física na Educação Básica, buscando
com frequência a formação continuada por intermédio de congressos e cursos promovidos no
âmbito do Estado, sobretudo os anualmente realizados pela Universidade Católica Dom
Bosco em Campo Grande, eventos estes que com o passar dos anos passei a frequentar não
mais apenas como espectador, mas também como expositor de pequenas experiências
desenvolvidas no “chão da escola”. Dentre estes eventos, um em especial, o “Lazer na Cidade”, que realizado em 2003, contou com a participação de diversos estudiosos do lazer no
cenário nacional e aguçou meu interesse não mais somente às questões relacionadas a
recreação em diversos contextos (como vivenciado na Faculdade), mas também às teorias que
fundamentam e discutem o lazer, sobretudo as políticas públicas.
Eis então que aquele sonho adormecido em 2000, em 2004, por intermédio do convite
da então coordenadora do Curso de Educação Física da Universidade Católica Dom Bosco,
Profa Norma Ribas, se tornou realidade. Atuei nesta instituição como professor substituto por
um ano nas disciplinas Recreação e Lazer, Lúdico e Educação.
Neste mesmo ano ingressei também no Programa de Mestrado em Educação Física da
Universidade Metodista de Piracicaba, quando tive a oportunidade de cursar as disciplinas
Dro Nelson Carvalho Marcellino, aprofundando os conhecimentos sobre o assunto, assim como ganhando gosto pelos estudos relacionados à área.
Em 2005 ingressei na Universidade para o Desenvolvimento do Estado do Pantanal e
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, atuando na primeira por seis anos e na segunda
como substituto por dois anos, ministrando em ambas a disciplina “Lazer e Recreação”. A
partir de então, meu interesse pelos estudos relacionados ao tema e, especificamente a respeito
das políticas públicas foi se tornando mais consistentes e incorporados na vida acadêmica por
meio de estudos, alguns deles resultando em publicações em periódicos.
Neste caminho percorrido, evidenciamos os diferentes fatores apontados pela literatura
como barreiras à efetivação das experiências de lazer, sobretudo, aqueles relacionados aos
equipamentos, decorrentes do processo de urbanização e proliferação dos veículos
automotores nos grandes centros e ausência de investimento do Poder Público no setor. Em
paralelo, observamos também a inexpressível atenção dada pelo meio científico ao lazer das
pessoas com deficiência, seja porque esta população dificilmente se constitui em objeto das
investigações desenvolvidas por estudiosos do lazer ou porque a temática lazer pouco é
explorada pelos estudiosos vinculados ao esporte adaptado (que frequentemente priorizam o
esporte de rendimento).
Diante do interesse pessoal e acadêmico pelos estudos do lazer, da lacuna percebida no
meio científico e da importância do desenvolvimento de estudos que discutam as políticas
públicas de lazer voltadas às pessoas com deficiência, no final de 2009 tivemos a satisfação
de ter um projeto de pesquisa aprovado em nível nacional por meio da REDE CEDES -
“Equipamentos públicos específicos de lazer: distribuição geográfica, interesses culturais, acessibilidade e animação sociocultural em Campo Grande/MS” –, que ao discutir a cidade
como principal equipamento de lazer e os fatores que dificultam e interferem em sua
efetivação, trouxe entre seus objetivos a análise e discussão da relação entre cidade, lazer,
pessoas com deficiência e barreiras.
Apresentada nossa trajetória acadêmica e as aproximações com o tema que ao longo
deste percurso foram sendo delineados, se faz necessário, a partir desta introdução adentramos
ao âmbito da construção objetiva que nos leva ao desenvolvimento da tese ora proposta.
Na atualidade se observa uma crescente busca por oportunidades de lazer na natureza,
por vezes motivada pela evasão da vida urbana e do estresse cotidiano, figurando como
naturalista, de apreciação e contemplação da natureza. Soma-se a estes os que veem na
natureza uma possibilidade para se aventurarem, correrem riscos, se colocarem em perigo em
busca do êxtase e adrenalina.
Entretanto, a cidade ainda se constitui no espaço mais apropriado e utilizado para
experiências de lazer (MARCELLINO; BARBOSA; MARIANO, 2006), fazendo com que se
a vida é a arte do encontro, a cidade é o cenário (LERNER, 2013), sobretudo quando se
verifica que 85% da população brasileira reside na zona urbana (INSTITUTO BRASILEIRO
DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2010).
Em que pese a cidade figurar como principal cenário do lazer na sociedade
contemporânea, tal conceito necessita ser trabalhado de forma mais aprofundada, pois a
cidade é composta por diferentes elementos (configuração territorial, paisagem, espaço, lugar,
dentre outros) e cada qual é dotado de conceito operacional próprio, trazendo informações e
significados diferentes.
De início é necessário especificar que a configuração territorial consiste em um
conjunto de formas naturais e artificiais, localizadas num determinado limite territorial. É o
conjunto total, integral, de todas as coisas sobre um determinado território (SANTOS, 2012),
que com o processo de industrialização e urbanização cada vez mais foram sendo
artificializadas, ou seja, manipuladas por meio da técnica a fim de alcançar objetivos
específicos.
Seja qual for o país e o estágio do seu desenvolvimento, há sempre nele uma configuração territorial formada pela constelação de recursos naturais, lagos, rios, planícies, montanhas e florestas e também recursos criados: estradas de ferro e de rodagem, condutos de toda ordem, barragens, açudes, cidades, o que for. É esse conjunto de todas as coisas, arranjadas em sistema, que forma a configuração territorial cuja realidade e extensão se confundem com o próprio território de um país. Tipos de floresta, de solo, de clima, de escoamento são interdependentes, como também o são as coisas que o homem superpõe à natureza. Aliás, a interdependência se complica e completa-se justamente porque ele se dá entre as coisas que chamamos de naturais e as que chamamos de artificiais (SANTOS, 2012, p. 84).
Sua constituição é dinâmica, não linear, haja vista que àquela configuração territorial
que por muito tempo se pautou em complexos herdados da natureza, ao ritmo do caminhar
histórico em suas diferentes configurações societárias foram sendo manipuladas pela ação do
homem, condição intensificada a partir do aperfeiçoamento dos meios de produção e
transformação da matéria prima, o que corroborou com uma progressiva substituição dos
Já a paisagem, elemento integrante da configuração territorial, consiste em tudo aquilo
que nós conseguimos alcançar por meio da visão. É apenas uma parte, um fragmento deste
todo que se materializa na distribuição de formas-objetos naturais e artificiais, sendo os
primeiros aqueles que ainda não sofreram a interferência do ser humano e os segundos
aqueles transformados por este (SANTOS, 2012).
Fonte de constituição histórica, sua composição ocorre por acréscimos, inscritos uns
sobre os outros, a fim de que exigências de diferentes momentos sejam atendidas, conforme
expõe Santos (2009a, p. 104)
A paisagem existe através de suas formas, criadas em momentos históricos diferentes, porém coexistindo no momento atual. No espaço, as formas de que se compõe a paisagem preenchem, no momento atual, uma função atual, como reposta às necessidades atuais da sociedade. Tais formas nasceram sob diferentes necessidades, emanaram de sociedades sucessivas, mas só as formas mais recentes correspondem a determinações da sociedade atual.
Vista como um elemento material, um objeto, um fixo, a paisagem consiste em uma
estrutura física, como um rio, uma casa, um parque, uma praça, um campo de futebol, algo
que, se não habitada, movimentada, absorvida e usada pelo ser humano em seu dia-a-dia, se
faz obra morta. Embora sua característica possa persistir ao longo da história, o mesmo não
ocorre com sua significação, visto que a função dada a uma paisagem ao longo da história é
obra da ação humana.
É da necessidade de uma ação sobre as estruturas físicas, da sua utilização pelo ser
humano, que uma parceria dialética irá nascer, transformando o que é paisagem em espaço.
Assim, o espaço consiste no movimento sobre a paisagem, trata-se de trabalho vivo (o
contexto social) sobre um conjunto de trabalho morto (formas geográficas). É a sociedade
encaixada na paisagem, é o resultado do encontro entre configuração territorial, paisagem e
sociedade. É a soma das formas/objetos a vida que a anima (SANTOS, 2012).
O espaço é formado por um conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá [...]. Sistemas de objetos e sistemas de ações interagem. De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra a sua dinâmica e se transforma (SANTOS, 2009a, p. 63).
Se constitui assim em um conjunto indissociável de sistemas de objetos (fixos) e de
a superfície da terra, sejam eles fruto da herança natural – floresta, lago, montanha – ou
resultado da ação humana – cidade, barragem, estradas de rodagem, porto. Por sua vez, o
sistema de ações/fluxos se constitui elemento inerente ao homem, o movimento, a ação sobre
a paisagem, ou seja, o espaço é a animação dada pelo homem às formas é o conteúdo, o
valor, a função atribuída à paisagem, apenas ele tem objetivo e se pauta em necessidades
naturais ou criadas – materiais, imateriais, econômicas, sociais, culturais, morais e afetivas
(SANTOS, 2009b).
Assumindo os elementos paisagem e espaço a partir da realidade social, pautada na
intervenção histórica do ser humano sobre o meio, um rio sem movimento não passa de uma
paisagem, uma foto, mas a ação do homem sobre ele o faz um espaço, ora um espaço de
trabalho, em que se busca extrair dele peixes e minérios, ora um espaço de lazer. É nesta
mesma acepção que um terreno baldio transita de paisagem a espaço quando do seu uso para
o jogo, quando transformado em matéria codificada em campo de futebol de várzea, espaço
de vida e de movimento. Quando a ação humana passa a existir sobre ela, torna-se espaço.
Logo, diferentes paisagens quando utilizadas pela sociedade vão se constituir em
espaços, mesmo que seu uso não seja aquele com o qual originalmente a paisagem foi
concebida, haja vista que isto dependerá do momento histórico e de como a sociedade absorve
sua função e a transforma em espaço.
Seguindo esta interpretação vamos encontrar diferentes paisagens que serão
transformadas em espaços de lazer, dentre elas, aquelas de ordem natural, como rios, praias,
montanhas, florestas, que na atualidade, cada vez mais tem recebido significação e função de
promotores do lazer, fazendo com que aquilo que por muito tempo foi utilizado para
subsistência, ocupe função diferente, a de fomentar desejos humanos específicos.
Condição não diferente ocorre com as paisagens artificiais, que embora criadas pelo
Ser humano com fins próprios, em cada momento histórico são usadas para coisas diversas,
como ocorrido com a casa, local de trabalho, comércio e descanso na sociedade medieval,
transformada na sociedade contemporânea em espaço de descanso, mas que devido aos
fatores que limitam as possibilidades de lazer no meio urbano, tem sido utilizada para este fim
também.
Além de proporcionar novas funções e significação às paisagens históricas
anteriormente existentes, cada tipo de sociedade e período histórico cria objetos artificiais
paisagens artificiais que são criadas especificamente para que as pessoas as animem e as
movimentem com atividades de lazer, dentre elas, os campos de futebol, as quadras
poliesportivas, os ginásios, as praças esportivas, os parques esportivos, os teatros, as casas de
shows, os museus, dentre outros.
Nota-se assim, que o espaço se encontra demarcado pelo movimento, ele está sempre
aberto, sugere futuro e nos convida a ação, nos aventurar sobre o desconhecido, a
experimentar o incerto (TUAN, 1983).
Por sua vez, o lugar consiste em pausa, segurança, é aquilo que inicialmente começou
como espaço indiferenciado e na medida em que foi sendo melhor conhecido e apropriado
passou a ser dotado de sentimentos, valores e significados para os que dele usufruem (TUAN,
1983), definindo-se tanto por sua existência corpórea, quanto por sua existência relacional
(SANTOS, 1997).
A respeito da dialética existente entre espaço e lugar, Tschoke, Tardivo e Rechia
(2011, p. 3) expõem que
[...], o espaço se torna o local da ação humana, onde coexistem as relações entre o ambiente e os sujeitos que nele habitam. Entretanto, assim que o espaço se torna apropriado e dotado de significados para quem o usufrui, ele acaba despertando uma noção de pertencimento transformando-se em lugar para os cidadãos.
A transformação de um espaço em lugar está relacionada à sua atratividade, a
identificação e sentimento de pertencimento que ele provoca nas pessoas, o fazendo lugar de
permanência e convívio social (JACOBS, 2000).
[...]. A maioria identifica-se com um lugar da cidade porque o utiliza e passa a conhece-lo quase intimamente. Nós nos movimentamos por ele com os pés e acabamos dependendo dele. O único motivo para as pessoas fazerem isso é se sentirem atraídas por particularidades das redondezas que se mostram úteis, interessantes e convenientes (JACOBS, 2000, p. 141).
Espaço e lugar, embora diferentes, são ideias que não podem viver uma sem a outra
(TUAN, 1983), sendo necessário que estratégias sejam criadas a fim de que a cidade
contemporânea, diferentemente da moderna, seja projetada de forma que proporcione tanto o
deslocamento de pessoas pela cidade quanto a permanência em lugares de transferência, de
encontro e de lazer (GEHL, 2013).
psicanalista, ou, mesmo, do arquiteto ou do filósofo), criador da solidariedade e da interdependência obrigatória geradas pelas situações cara a cara [...] (SANTOS, 1997, p. 37, grifo do autor).
É com o intuito de melhor compreender esta relação dialética existente entre
paisagem-espaço e espaço-lugar, os efeitos de mudanças históricas, como a industrialização e
a urbanização sobre eles e, as implicações destas mudanças sobre à apropriação que a
sociedade tem feito dos variados tipos de espaços enquanto lugar de experiências cotidianas,
como as de lazer, que estudos vêm sendo desenvolvidos nas últimas décadas.
No que tange aos resultados, eles têm sido pouco animadores, principalmente nas
cidades de grande porte e capitais, haja vista que problemas relacionados aos espaços
públicos, decorrentes do desenvolvimento arquitetônico sem planejamento e do grande
deslocamento da população rural em direção aos grandes centros têm sido observado,
destacando dentre eles a predominância de instalação de espaços de lazer nos centros das
cidades (MELO; PERES, 2004; OLIVEIRA et al., 2004; LIMA, 2006; DIAS et al., 2008;
DIAS, 2011), a falta de conservação (BRAMANTE, 1992; SILVA; SILVA; AMORIM,
2012), a ausência de segurança (SILVA; SILVA; AMORIM, 2012), a ausência de animação
sociocultural (BRAMANTE, 1992), dentre outros.
Isto tem contribuído para que cada vez mais a cidade venha perdendo sua função de
espaço e lugar de encontros, de relação comunitária e de convívio social, resultando em
significativos prejuízos à sociedade, haja vista que contribuiu para que a rua – local que por
muito tempo foi palco de jogos e de atividades recreativas de adultos e crianças (ARIÈS,
1981) e de ponto de encontro para o bate papo e local privilegiado para ocorrência do lúdico –
fosse transformada em trajeto, local específico para o tráfego de veículos automotores
(MAGNANI, 1984), o mesmo ocorrendo com as praças, locais que hoje figuram como
espaços de acesso e de passagem (MARCELLINO, 2003).
No caso das pessoas com deficiência, população que representa 24% dos brasileiros, o
que equivale a 45,6 milhões de pessoas (IBGE, 2010), a impossibilidade de vivenciarem a
cidade enquanto espaço e lugar de lazer pode ser ainda maior, visto que além de submetidas
aos fatores que limitam as oportunidades de lazer de toda a sociedade, devido às barreiras
arquitetônicas – ausência de pisos adequados, degraus, rampas, dimensão de portas, ausência
de corrimão, banheiros e transporte urbano – , elas têm suas chances diminuídas ainda mais
(HAZARD, 2001), porque muitas vezes essas exigências são ignoradas, conforme observado
2007; MEDOLA et al., 2011; SILVA et al., 2013), fazendo com que sejam excluídas de
experiências de lazer e do convívio social.
Ainda, em razão de preconceitos e dos padrões estabelecidos pela sociedade, pessoas
com deficiência física, intelectual, visual, auditiva ou múltipla, acabam sendo excluídas de
quaisquer programações sociais, sendo praticamente inexistente uma opção de lazer em
sociedade para eles, podendo resultar em desastrosas consequências, haja vista que,
possivelmente, não terão a possibilidade de escolher seus amigos, brincadeiras, passatempos
e, por falta de oportunidades e orientação, não poderão, ou nem saberão, escolher seu lazer
(BLASCOVI-ASSIS, 2003).
Logo, para que elas possam se movimentar, agir e se deslocar sobre o espaço com
autonomia, segurança e conforto se faz necessário a remoção de barreiras arquitetônicas e
para que possam vivenciar estes espaços enquanto lugar, neles permanecendo por se
identificarem e se sentirem pertencentes à eles, necessitam que suas condições físicas,
sensoriais, cognitivas e comportamental sejam respeitadas, que programações direcionadas à
elas juntamente com as pessoas sem deficiências sejam oferecidas, que metodologias e
instrumentos sejam adequados às suas condições, para que assim sejam inclusas e passem a
usufruir da cidade tanto como espaço quanto lugar.
Como defendem Duarte e Cohen (2010, p. 84), “[....] a experiência urbana envolve
também uma dimensão intersensorial na busca de orientação e informação no espaço, através
da qual o ambiente se relaciona com o corpo, contribuindo para sua locomoção, sua ação e
sua exploração perceptual”.
Desta forma, promover a acessibilidade em suas diferentes dimensões, não a
restringindo a eliminação de barreiras físicas, se faz essencial, sobretudo quando se deseja
incluir as pessoas com deficiência aos diferentes espaços da cidade, dentre eles, os de lazer.
Entretanto, pouco se conhece sobre a realidade empírica desta questão, pois embora
sejam encontrados estudos relacionados a acessibilidade em espaços de lazer, eles têm se
limitado a análise da acessibilidade arquitetônica (BURJATO, 2004; BÁCIL;
WALTZLAWICK, 2007; RIBEIRO et al., 2007; ARAÚJO; CÂNDIDO; LEITE, 2009;
MELO et al., 2010; CASSAPIAN, 2011; MEDOLA et al., 2011; SILVA et al., 2013).
É com o propósito de melhor compreender esta questão que se encontra estruturada
esta tese. Neste desafio, dois eixos serão norteadores de nossas inquietações. O primeiro
lazer, especificamente os relacionados ao interesse físico-esportivo, quais sejam os parques
esportivos. O segundo se trata da inserção das pessoas com deficiência em programas de
animação sociocultural relacionados às atividades físicas/esportivas por intermédio de
esportes que foram adaptados e inseridos nas políticas públicas de lazer fomentadas em
parques esportivos (acessibilidade programática).
Por conseguinte, estes eixos desencadeiam o seguinte problema. Qual o cenário,
valores difundidos e implicações das políticas de lazer desenvolvidas em Campo Grande/MS
para a cidadania e como se apresentam as contradições na política municipal, primordialmente
em relação à implementação de políticas voltadas ao lazer de pessoas com deficiência,
especificamente no que tange a acessibilidade arquitetônica e programática?
Entendendo que todo problema de pesquisa se encontra articulado a questões
norteadoras/pressupostos2 e que estas figuram como caminho e baliza para confronto da teoria (visto que podem ser retirados de um sistema de teoria e de resultados de estudos anteriores)
com a realidade empírica (TRIVIÑOS, 1987; MINAYO, 2004), compõem este estudo, as
seguintes questões norteadoras/pressupostos:
As políticas sociais, dentre elas, a de lazer, embora tenham sido influenciadas pela
constituição histórica dos direitos sociais, como tem se dado sua efetivação no Poder Público
Municipal e Estadual em Parques esportivos em Campo Grande/MS? Existe acessibilidade
arquitetônica às pessoas com deficiência física ou visual nos parques esportivos? Quais são os
programas de exercício físico e esporte implementados nestes equipamentos (acessibilidade
programática)? Em quais deles ocorrem a inserção das pessoas com deficiência física ou
visual (acessibilidade programática)? Se há inserção das pessoas com deficiência física ou
visual em algum programa, como tem ocorrido e qual paradigma tem a norteado?
Desta forma, a presente tese tem por objetivo analisar a in(ex)clusão de pessoas com
deficiência física e visual nas políticas de lazer dos parques esportivos de Campo Grande/MS.
Especificamente, com foco na in(ex)clusão de pessoas com deficiência física e visual no lazer
de interesse físico-esportivo, pretende-se investigar o nível de acessibilidade arquitetônica; os
programas de exercício físico e esportes implantados e a população atendida (acessibilidade
programática).
2
Isso posto, buscando coerência no pensamento, apresentamos a seguir os princípios
teóricos que nortearam nossa pesquisa; as categorias de análises e os pares teóricos que
recorremos em seu desenvolvimento.
Quanto à área de sustentação teórica, cabe informar que a mesma permeou o campo
das Ciências Sociais, com abordagem qualitativa e de enfoque crítico-participativo, ou seja,
partilhamos do entendimento da necessidade de conhecer a realidade para transformá-la
(MINAYO, 2004).
Ao adotar as Ciências Sociais e a abordagem qualitativa enquanto marcos
epistemológicos norteadores, reconhecemos a localização histórica em que o objeto de
investigação se situa, logo, elaborado, transformado e reconstruído ao longo dos tempos.
Desta forma, fruto da sociedade, o conhecimento carrega consigo as marcas do passado e
busca sua superação pela sua projeção no futuro. Nas palavras de Demo (2011), busca a
realidade, sempre do novo, num constante devir, descobrindo e renovando.
[...]. Vivem o presente marcado pelo passado e projetado para o futuro, num embate constante entre o que está dado e o que está sendo construído. Portanto, a provisoriedade, o dinamismo e a especificidade são características fundamentais de qualquer questão social (MINAYO, 1994, p. 13).
Além de provisório, seu alcance é de caráter aproximado, conforme nos ensina
Minayo (1994, p. 13),
[...], o labor científico caminha sempre em duas direções: numa elabora suas teorias, seus métodos, seus princípios e estabelece seus resultados; outra, inventa, ratifica seu caminho, abandona certas vias e encaminha-se para certas direções privilegiadas. E ao fazer tal percurso, os investigadores aceitam os critérios da historicidade, da colaboração e, sobretudo, imbuem-se da humildade de quem sabe que qualquer conhecimento é aproximado, é construído.
Compactua-se que o conhecimento é uma construção que se dá a partir da apreensão,
crítica e dúvida em relação ao que já foi produzido a respeito de um determinado tema, isto
porque o conhecimento se dá tão somente por aproximação, haja vista que a interpretação que
fazemos sobre os fatos sempre é mais imperfeita do que de fato eles são (inatingibilidade do
objeto), a escolha de um tema não se dá de forma espontânea, mas sim carrega consigo as
marcas, a inserção do pesquisador no real, logo o olhar lançado ao objeto de pesquisa está
condicionado historicamente pela posição social e correntes filosóficas que orientam o
pesquisador (MINAYO, 2004).
as políticas públicas, a acessibilidade e os esportes adaptados. Para tanto, atendendo as
exigências normativas da Universidade Católica de Brasília para tese de doutorado, modelo
IRMRDC, organizamos o trabalho em cinco partes – introdução, revisão de literatura,
material e métodos, resultados e discussão e conclusão.
Em relação à revisão de literatura, ela se encontra subdividida em duas partes. A
primeira, intitulada de “Pessoas com deficiência, Era dos direitos e políticas públicas” busca
contemplar quatro categorias de análises – paradigma da inclusão, direito à cidade, direito ao
lazer e as políticas públicas. Além de documentos promulgados por organizações
internacionais, documentos nacionais e leis, adotamos como referencial teórico David
Rodriguez, Lucídio Bianchetti, Maria Aranha, Sadão Omote e Silvia Amaral (paradigma da
inclusão), Eric Hobsbawm, Jan Gehl, Henri Lefebvre e Milton Santos (direito à cidade), Jofre
Dumazedier, Nelson Carvalho Marcellino, Norberto Bobbio e Victor Melo (direito ao lazer) e
Celina Souza, Enrique Saraiva, Francisco Heidemann, Marta Rodrigues, Norberto Bobbio e
Telma Menicucci (políticas públicas).
Na segunda parte da revisão de literatura “A cidade como espaço de lazer e a inclusão
de pessoas com deficiência por meio da acessibilidade” elaborada a fim de contemplar as
categorias de análise acessibilidade e esportes adaptados, adotamos como referencial teórico
Romeu Sassaki, Silvia Cambiaghi e Sheila Ornstein (acessibilidade arquitetônica,
programática e metodológica) e Eliane Mauerberg-deCastro, Joseph Winnick e Paulo Araújo
2.
REVISÃO DE LITERATURA
2.1 PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, ERA DOS DIREITOS3 E POLÍTICAS PÚBLICAS
Entendido como um processo histórico concebido a partir de circunstâncias advindas
de lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, os direitos humanos, sistema
normativo que tem força de obrigatoriedade maior em relação a outros sistemas, como os
morais, caracterizado por um lento e gradual processo de conquista de direitos (naturais
universais, positivos particulares e positivos universais) e materializados a partir de
formulações teóricas e sua aplicação não mais limitada a um país, mas sim ao cidadão do
mundo, teve seu ponto de partida na Declaração dos Direitos do Homem e Cidadão em 1789
(BOBBIO, 1992).
Contudo, é apenas em 1948, por intermédio da Declaração Universal dos Direitos
Humanos aprovada em Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU), que pela
primeira vez um sistema de princípios fundamentais da conduta humana é aceito através de
seus representantes, o Governo, como algo a ser aplicado à população mundial, criando assim
um sistema de valores universais, dotando de direitos não apenas os cidadãos de um Estado
específico, mas os cidadãos do mundo, originando-se assim o princípio da universalização
(BOBBIO, 1992).
É a partir da universalização que um novo processo buscando garantir os direitos
humanos irá surgir, o princípio da multiplicação, composto pela ampliação (ampliação dos
bens considerados como de direito – dos direitos de liberdade se ampliou aos direitos políticos
e sociais); extensão (extensão da titularidade de direitos até então atribuídos apenas ao
indivíduo em seu caráter singular – a pessoa –, à humanidade em conjunto – família, minorias
sociais, étnicas e religiosas, entre outros); e especificação (transição da concepção do homem
genérico ao homem específico, possuidor de características próprias, logo não permitindo
tratamento igualitário – sexo, idade, condições físicas) (BOBBIO, 1992).
Quanto ao princípio da ampliação sua ocorrência ao longo dos últimos séculos pode
ser observada nos diferentes direitos que foram gradativamente sendo conquistados pelo Ser
Humano, podendo, segundo Marshall (1967), serem analisados em conformidade com sua
ordem de conquista – direitos civis, Século XVII (direitos necessários à liberdade individual –
liberdade de ir e vir, liberdade de imprensa, pensamento e fé, o direito à propriedade e de
concluir contratos válidos e o direito à justiça), direitos políticos, Século XIX (direito de
participar no exercício do poder político, como um membro de um organismo investido da
autoridade política ou como eleitor dos membros de tal organismo) e direitos sociais, Século
XX (direito a um mínimo de bem estar econômico e segurança ao direito de participar, por
completo, na herança social).
Tal percepção é compartilhada por Bobbio (1992) que expõe que, produto da
civilização humana e historicamente construído, logo transformado e ampliado ao longo dos
tempos mediante lutas e reivindicações humanas pela sua emancipação, os direitos humanos,
através do processo de ampliação, pode ser dividido em três fases – direitos civis, políticos e
sociais. O primeiro é constituído pela limitação do poder do Estado sobre o indivíduo e
criação de liberdade do indivíduo e grupos particulares diante ao Estado; o segundo pela
autonomia e maior participação da comunidade no poder político; o terceiro pelo surgimento
de novos valores e da necessidade e exigência de novos cuidados.
Neste cenário de direitos, nota-se ações tanto de órgãos internacionais quanto
nacionais, visando reafirmá-los através de tratados, leis e decretos.
No que tange aos órgãos internacionais ganha destaque a Organização das Nações
Unidas, que após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), através de convenções realizadas
junto aos representantes dos países a ela vinculados, passa a elaborar documentos de direitos
fundamentados no princípio da universalização. Ainda, se aliam à ela, organizações
internacionais regionais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA).
Dentre os documentos de abrangência internacional formulados e aprovados em suas
convenções podem ser citados a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948), o Pacto internacional dos direitos
econômicos, sociais e culturais (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1966), a
Declaração sobre o direito ao desenvolvimento (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS,
1986), a Carta para o Terceiro Milênio (REHABILITATION INTERNATIONAL, 1999), a
Carta da Terra Internacional (COMISSÃO CARTA DA TERRA, 2000), e, em nível de
continente, a Carta da Organização dos Estados Americanos (ORGANIZAÇÃO DOS
ESTADOS AMERICANOS, 1948a), a Declaração Americana dos Direitos e deveres do
homem (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 1948b), a Carta Democrática
adicional à Convenção Americana sobre direitos humanos em matéria de direitos econômicos,
sociais e culturais – protocolo de San Salvador (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS
AMERICANOS, 1998).
No que tange ao sufrágio universal dos direitos, a Declaração Universal dos Direitos
Humanos reconhece que todos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, devendo
portanto, sem qualquer distinção, dispor da igual proteção (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS, 1948), ou seja,
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1948, p. 1).
Esta mesma organização, por intermédio da Declaração sobre o direito ao
desenvolvimento (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1986, p. 4), expõe que
O direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável, em virtude do qual toda pessoa e todos os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, a ele contribuir e dele desfrutar, no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais possam ser plenamente realizados.
A Carta da Terra Internacional nos lembra que mediante a diversidade de culturas que
habitam o mundo, pertencemos a uma mesma raça, devendo todos se juntarem a fim da
promoção de uma nova sociedade, uma sociedade sustentável, de justiça social, onde
tenhamos compromisso e responsabilidade uns para com os outros, fundamentando-se no
respeito à natureza, aos direitos humanos universais, entre outros. Este documento, em seu
artigo 3º, item “a”, reza ainda que a sociedade deve “assegurar que as comunidades em todos
os níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e proporcionem a cada
um a oportunidade de realizar seu pleno potencial” (COMISSÃO CARTA DA TERRA, 2000,
p. 2).
Diante dos diferentes direitos concedidos ao ser humano pelos princípios da
universalização e ampliação, iremos nos ater nesta primeira parte da revisão de literatura aos
direitos que se encontram relacionados à população (pessoas com deficiência) e categorias de
análise (inclusão, direito à cidade e direito ao lazer) foco desta tese. Ainda, considerando que
a concessão de direitos pressupõe a sua efetivação, sendo as políticas públicas o principal
2.1.1 Pessoas com deficiência e a inclusão
A construção e o comportamento social a respeito da diversidade humana, sob a égide
de valores sociais, morais e éticos condicionados pela filosofia, religião, economia e política
de uma determinada época, tem feito com que pessoas que apresentam características
diferentes daquelas tidas hegemonicamente como “padrão” sejam segmentadas em grupos de
iguais, estabelecendo um jogo de poder antagônico – rico x pobre, homem x mulher,
heterossexual x homossexual, adulto x criança, adulto x idoso, nativo x imigrante, religioso x
ateu, dentre outras –, sendo estas posições frequentemente permeadas por juízos de valor que
segregam os segundos em detrimento dos primeiros, tem se acompanhado na história da
humanidade avanços e retrocessos.
Esta também nos parece ser a interpretação de Omote (2004, p. 289) quando disserta a
respeito das formas com que a sociedade tem lidado com a diferença. Para o autor,
[...] as mais variadas diferenças receberam os mais variados tratamentos no decorrer dos milênios. Condições que eram alvos de profunda abominação, podendo até levar o seu portador a formas extremas de exclusão ou eliminação, podem, em outros tempos, tornar-se alvos de afeição e simpatia. Outras condições podem ser repudiadas em algumas comunidades e aceitas em outras, na mesma época, recebendo interpretações e eventualmente designações diferentes.
Isso, conforme assinala Tomasini (1998), ocorre em função do estabelecimento de
padrões sociais simétricos entre o que o indivíduo é e o que se espera dele em cada formação
social4, sendo este o parâmetro de aceitação ou exclusão daqueles que não se enquadram no padrão social estabelecido como adequado em uma determinada época.
Elias (1994, p. 7) também partilha desta percepção quando expõe que “[...] o repertório completo de padrões sociais de auto-regulação [sic] que o indivíduo tem que
desenvolver dentro de si, ao crescer e se transformar num indivíduo único, é específico de
cada geração e, por conseguinte, num sentido mais amplo, específico de cada sociedade”.
Diante disto, não muito diferente do pobre, da mulher, do homossexual, da criança, do
idoso, do imigrante, dentre vários outros que são colocados à margem da sociedade, tem sido
a história e o enfrentamento das pessoas com deficiência, terminologia usada neste estudo em
alusão àquelas pessoas que em decorrência de fatores biológicos ou ambientais se encontram
em condição de desvantagem (motora, física, intelectual, social ou afetivo), sobretudo pela
4
inadequação do contexto social, cultural e físico, às suas características.
As formas de impedimento à participação e o convívio social desta população ao
longo da história têm sido as mais diversas, indo de uma perspectiva pautada no ataque, com a
destruição do “inimigo” via sacrifício; uma perspectiva pautada na rejeição, com o abandono
(desinvestimento de amor, dedicação ou tempo) a uma perspectiva pautada na negação por
pensamentos, palavras e atos – atenuação (tratamento pelo abrandamento das consequências
da deficiência), compensação (contrapõe a condição de deficiência com uma qualidade da
pessoa) e simulação (considera a deficiência, mas a trata como se não existisse) (AMARAL,
1994).
Bianchetti (2005) assevera que comportamentos como estes são observados desde as
Sociedades Primitivas que, dado as condições e características da época, em que a
sobrevivência ocorria com base nos recursos naturais – caça, pesca e abrigo em cavernas –, a
luta pela própria sobrevivência fazia com que as pessoas com deficiência fossem relegadas à
própria sorte, o que se constituía uma forma de seleção natural.
Um pouco adiante, nas sociedades providas pelo trabalho escravo, como a Grega, em
que aos nobres se atribuía a dádiva do cultivo da mente e aos considerados inferiores o
trabalho escravo, às pessoas com deficiência nem mesmo a função tida como menos digna era
concedida.
Interpretada a partir do misticismo, em que se acreditava que a deficiência tinha como
causa castigos não explicados, o destino dado à esta população na Grécia fora sobretudo a
eliminação, haja vista que enquanto em Esparta cultuavam o corpo perfeito (fortes, robustos e
vigorosos) para a defesa da Pátria, sendo aqueles que apresentassem algum tipo de deficiência
eliminados com a eugenização na fonte (ao nascer), em Atenas, esta população não
encontrava espaço nem mesmo entre os escravos, visto que eram julgados desmerecedores do
direito a vida (BIANCHETTI, 2005; GAIO, 2006).
Comportamentos diferentes parecem ter sido os ocorridos neste mesmo período em
Roma, porém, não menos drásticos, visto que crianças com deficiência tanto eram
abandonadas quanto foco de explorações, como também expostas a tarefas humilhantes, como
o divertimento do povo romano em feiras e circos (ARANHA, 2001; GAIO, 2006).
Com o Cristianismo, um novo comportamento começa a ser delineado, visto que todos
passam a ser considerados como filhos de Deus, possuidores de alma e portanto merecedores