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*
I
i
DO
MUSEU NACIONAL DO RIO DE JANEIRO
RECORDAÇÕES HISTÓRICAS ESCIENTIEICAS F U N D A D A S E M D O C U M E N T O S A U T H E N T I C O S
E INFORMAÇÕES VERÍDICAS
Obra erecutada por indicação e sob o patronato do Sr
.
Ministro do InteriorDR
.J . J
. SEABRAPELO
DR . J . B .
DELACERDA
DIRECTOR DO MESMO MUSEU
Acompanhada de numerosas photogravurasinseridas notexto
1
i
RIO PK JANKTRO
NACIOlSrJGLX
.
1905
555
\ .t
PROLOGO
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I
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»
<
Assim
comosuccede
com todos ospovos cultos
,as insti
¬ tuições queelles fundaram
teemtambém
osseusfastos
easua his
¬ toria. Elias nascem por uma compuls
ão do momento, de
umplano concertado pelos homens que governam , coherente com
osre
¬ cursos e as tendênciasda
épocha
;e noperpassar
dos annos e dos séculosellas se transformam,
seampliam,
semodificam ,
obedecendo
sempre
àinfluencia coercitiva
doespirito inno -
vador
,
queapparece
e domina emcada per í
odohistorico .
Existem
em vários paizes
instituições que,
para assim' dizer,
encarnam oespirito dominante
de muitas épochas , por
¬quanto ellas
resistiram às commoções sociaes epol íticas
, atra¬vessaram
incólumes
asmaisperigosas
crises davida
do Estado e, com pequenos eclipses , chegaram
aoapogeo
dobrilho, da grandeza
e danotoriedade .
No
numerodestas julgo poder incluir
oMuseu Nacional .
Elle
atravessou,
num século quasi ,
quatrophases
diversas deregimens
degoverno
noBrazil,
sem sentir osabalos das
com¬ moçõespolí
ticas,
quecoincidiram
comessas
mudanç
asde regimen
degoverno
,avanç
andosempre , com
umimpulso mode
¬rado
, atéchegar
aogr
áo dedesenvolvimento
edeprosperidade,
emque hoje
o vemos. Em 1918
deve-
secelebrar
a suafesta
secular ,
e, porque
nãosabemos
siquererá Deus
nosfazer
agra ç
a denos
conduzirsão esalvo
atél
à, vamos aproveitar
oensejo ,
que nosofferece
oprimeiro congresso scientifico
inter¬nacional,
que se reune este anno no Riode Janeiro
, para, emhonra
delle,
escrever osFastos
doMuseu
Nacional.
Para
aexecu
ção destaobra
não nosfaltou , felizmente ,
oapoio
e aanima
ção doGoverno
daRepublica . Elle compene -
v.M
.
trou
-
se doque podia valer
este tentamen comoelemento his
¬ tórico deuma das
nossasmais estimadas
instituiçõesscienti -
ficas
e prestou- lhe todo
o seuconcurso moral . N
ão mesobram
expressões de
reconhecimento para agradecer - lhe
este acto degentileza
e depatriotismo . Quero
queesse reconhecimento
se traduzapor
um modomais efficiente
csignificativo
,gravando
nofrontespicio desta obra
aeffigie
doPresidente da Republica
e doMinistro
doInterior . E
’umaobla
ção, umahomenagem
aosseus
m
éritos,que
meapraz fazer
emnome
doMuseu Nacional .
Com
ahistoria
destainstitui
ção estáentrosada
a de outra instituição mais modesta,
deinicio mais
recente e de constru-
ctura
toda
nova,
decujo
lustre e renomecompartilhou indire -
ctamente o
Museu . Queremos nos referir ao Laboratorio
dePhysiologia experimental .
Provam
osdocumentos , que ficaram archivados
emnume
¬rosas revistas nacionaes e estrangeiras , que esse laboratorio foi
o arauto que annunciou aomundo
oadvento da scienciaexpe -
rimental
noBrazil . Expender
oque eile produziu , os trabalhos que nelle foram executados
,e
ascontribui
çõesque eile
prestoua
vários ramos dassciencias biol
ógicas ,
éuma obriga
ção àqual
não
nos podemos furtar , por complemento deste livro . Esta
rememora
çãode trabalhos
, feita comespirito historico
e cri¬tico , preencher
á oultimo capitulo
destaobra .
E ’ possivel que , exercendo a critica quer dos factos quer das pessoas , tenha eu emittido ,
nestelivro, opini
ões e con
¬ceitos pouco justos . Si
assim aconteceu,n
ão meaccusa
a con¬ sciência
dehavel -
ofeito por malevol
ência
oupor espirito de parcialidade
, edisso pe ç
operd
ão.
Ardua e
espinhosa
é a missãodo historiador
; e eu não ignoroque
a justiç
a dahistoria
,participando
detodas
asim
¬perfei
ções econting
ênciashumanas ,
estábem longe
deequi
¬parar - se
àjusti ç
adivina .
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CONSELHEIEO DE
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EODBIGUES ALVES•'éJ»j
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frn | ciaw k J íaafa f öö ripcs Joints
PRESIDENTE DA REPUBLICA
Na série dos presidentesda Republica, que galgaram essa elevada po¬
sição política no Brazil,é justoque sedestaque a personalidade do Dr
.
Fran¬cisco de Paula Rodrigues Alves, em cujas mãosestão no actual momento, as redeas do governo da nação
.
Seus merecimentoscomocidadãoecomopolitico apraz
-
nos reconhecer e proclamar, sem o menor vislumbre de lisonja.
Elle tem mostrado, por actos bem intencionados, que quer ver a felicidade dasuapatria conquistada pelo concurso gera! de todos os bons cidadãos; e que um governo estimado é aquellequeobedece ás normas imprescriptiveis da justiça,da lei e da moral publica.
Seu espirito moderado e complacente, seus modos simplices, ainteireza de seu caracter, superior ás baixas intrigas da política de campanario; seu animo propensoafortalecer ajustiça e os direitosdos seus concidadãos, que o elegeram para occupar aquelle alto cargo politico,cercam
-
no do respeitoe da consideração de todo o paiz
.
Desse sentimento geral, quantoaos méritose ás qualidades, queornam a pessoa do actual Presidente da Republica, compartilhao Museu Nacional do Rio de Janeiro
.
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S y
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*
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DB. J. J. SEAEBA
MINISTROt»AJUSTIÇA B NEOOCIOS DO INTERIOR
-
| r
.$ . $
.Ita & ra
\
MINISTRO DA JUSTIÇ A E DO INTERIOR
Comquanto no actual regimen de governo no Brazil osministroses¬
tejam cerceados na liberdade de governar sob asua inteira eexclusivares
-
ponsabilidade, ainda assimalguns teemhavido, cujaacção epeso no governo se tem feito sentir por deliberaçõespróprias, defeliz exitonaadministração publica
.
Oactual Ministro da Justiça e do Interior está nesse caso
.
Perspicuoe prompto no conceber alguma cousautilpara fazer,não menosprompto é em realisal-
a.
Sua administração tem sido,até aqui,assaz fecunda e continuará a sel-
o, assim o esperamos, no proseguimento do seu governo.
Elle procura-
conheceras necessidades das diversas instituições sujeitas á sua jurisdicção governamental pelos proprios olhos; e quando as julga urgentes e attendi-
veis
,
delibera sem hesitações nem delongas.
Não são pequenos os benefícios que das suas elevadas qualidades de administrador temrecebido o Museu Nacional doRiodeJaneiro
.
Queremosque fiquem bem patentes as nossas demonstrações de reconhecimento ao r activo e laborioso ministro, que tem sabido honrar o cargo, ao qual foi
| elevado pelos seus merecimentos epelaconfiança do supremomagistrado da Republica
.
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Sii DE. J
.
B. DE LACEEDAACTUAL DIRECTOR DOMUSEU NACIONAL
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L
.
Ift . J . I it iltttil
ACTUAL DIRECTOR DO MUSEU NACIONAL
Nomeado por decreto de 7 de janeiro de 1895
.
Foi nomeado Sub-
Di¬rector da secção de zoologia do mesmo Museu por decreto de9 de feve¬ reiro de 1876
.
Nascido na cidade de Campos(Província do Rio de Janeiro) em 12 de
julho de 1846
.
Doutorem medicina, membro de varias associações scien-
tificas nacionaes e estrangeiras
.
Vice-
Presidente honorário do CongressoMedico Pan
-
Americano de Washington, 1893, Presidente honorário do( Congresso Medico Latino
-
Americano de Buenos Aires, 1904.
Director do4 Laboratorio de Biologia
.
Auctor desta obra e denumerosaspublicações scien-
tificas
.
»
FASTOS
MUSEU NACIONAL DO RIO DE JANEIRO
DATA DA FUNDAÇÃO — 1818
SUMMARIO
—
Checada de D.
João VI e dasua Côrte ao Brazil. O Ministro Thomaz Antoniode Villanova Portugal. O caracterdo Rei e o seu pendor e estima pelasartes. Franquia dos portosdoBrazil ás naçõesestrangeiras. Benoftcios e melhoramentos que devo ao Rei a cidadedo Rio de Janeiro. Decreto da fundação do Mnseu Real.
Primeiros funccionarios nomeados para os cargos do Museu. Donativos do rei e dos particulares.Em meio das violentas com moções polí ticas e das guerras san¬ grentas que abalaram toda
a
Europa , no começodo séculopassado, as hostes aguerridas do generalJunot invadiram a peninsulaibérica, obedecendo ás ordens de Napoleão
, que pretendia assenhorear-
se daIlespanha e de Portugal, para completar o seu vasto plano de con¬
quistas, e, ao mesmo tempo, para castigar as hesitaçõese dubiedades do governo lusitano em annuir
ao
bloqueio continental.
O temor dessa invasão no território portuguez inquietou sobre¬ modoo soberano de Portugal D
.
João VI, o qual tomousubitamente a resolução de emigrar para o Brazil, levando comsigo a gente da sua real Côrte e muitos objectos de valor e de arte, que podiam cahir nas mãos dos invasores.
Em 7 de março de 1808 desembarcou no Rio de Janeiro o Rei
e
a
sua comitiva.
Nessa épocha a capital do Brazil era uma cidade pequena, atra
-
zada,
sem
nenhum conforto nem civilisação, como a mór partedas eolonias portuguezas de ultramar.
Seu commercio fazia- se
todocoma metropole, avida de extorquir ácolonia toda a
sua
producçãoagrí¬cola
e
osescassos recursos
do seu erário.
F
.
M.
1Usando do direito de senhor, o Reiescolheu parasi os melhores domicílios, despejou
,
paraaccommodarasuagente,as habitações mais vastas edemais nobreapparencia, e tomou contados seus domín i o s l.
Os habitantes da colon ia submetteram
-
sea
esta expropriaçãoforçadasem
reluctancia nem doestos.
Com a vangloria de ter junto a si orei, a colonia não pesou despezas
nem
medio sacrifíciospara que1lie fosse dada uma hospedagem confortável,condigna desua real pessoa.
^
"fra
fileira dos fidalgos,
que o acompanharam, sobresahia como homem dasua
particular confiançae
de governo, Thomaz Antonio de Villanova Portugal.
Era este um portuguez de boa tempera, de elevadom
érito e de vistas largascomo
administrador.
Seusconselhoseram
ouvidoscom
extrema reverencia pelo Rei,
e assuas ordenações
cumpridas
sem
discrepância pelos seussubalternose servidores.
O caracter do rei era um mixto de ingenuidade quasi infantil e de paternal bondade
.
De vontadefraca, intelligencia mediocre, semtiqo para grandes emprehendimentos, docil ás suggestões dos mais habeis e intelligentes doque eile, com pequena cultura lilteraria e scientifica, D
.
João VI podiaser
consideradoum
typo de soberano bonacheirão, estimando o bem de seus vassallos, sem occupar- se
seriamente com o bem doseu paiz
.
Estas qualidades negativas
n
ão exclu íam nelleum
certo grão de lucidez e de bomsenso
, pois tinha medo de errarnas
suas reso¬luçõ
es , e
só as tomava depois de amadurecidoexame
e ponderação.
Educado entre os monges, nem por issomostrava grande fervor e sympathia pelos
conventos
: eile advogava francamente a liberdade deconsciência, não duvidando considerar absurdasasligações
intimas da religiãocom
a constituição do Estado.
Notava
- se
nellecerto pendor para as artes,principalmente paraamusica
.
Deliciava-
seem
ouvir horas inteirasasmagistraes composições de Marcos Portugal e do genial brazileiro padre José Maurício,
dois rivaesna
arte de compor musicassacras.
Comoseuestylo altiloquoecommovente
, o insigne compositor brazileiro fazia rolarem noinstru¬mento
musicoondas de harmonias celestes, queexaltavam os senti¬ mentos piedosos do Rei.
De costumes simplicesedesejos moderados,D
.
João VI careciadetodoesse apparato regio e dessas attitudes correctas, que cercam de
respeito e prestigio a pessoa das soberanos
.
‘
s
1
.
Diz Mello Moraes quefoio Condedos Arcosquem usou dosmeios coercitivos para ter onde alojar oRei e asuacomitiva.
V
i1 I
L
3
t
r
»
Fosse por gratidão á recepçãocaptivantequelhefizeram os habi¬
tantes da colonia, ou fosse,oqueparecemaisverosímil,por suggestão do seu Ministro Thomaz Antonio de Villanova Portugal
*
, certo équea vinda de D
.
João VI ao Brazil coincidiu com a execução de algumas importantes medidas administrativas, que foram de grande utilidade para a colonia.Ellefranqueouporum decreto(28 de janeirode 1808)osportosdo Brazil ás nações estrangeiras, deitando dest’arte largasensanchas ao commercio internacional,e, fomentando ao mesmotempo a expansão das forças productoras naturaes do paiz. Fundou o Museu Real, a Imprensa Regia, o Jardim Botânico, a Academia de Bellas
-
Artes, a JuntadoCommercio, a Bibliotheca Real,epromoveu outros benefícios e melhoramentos, que são ainda hoje estimados e encarecidos,após o longo decurso de um século.*T\ Para o fim que temos em vista neste trai»lho,nã
o
nosimporta^
L
agora conhecer deoutrosbeneficiassinão o da fundaçãodo Museu Real. y A primeira tentativa que se fez para fundar no Riode Janeiro um museudehistoria natural, durante ovice-reinado de D.
Luiz de Vasconcellos, foi mallograda.
As boas intenções do illustre Vice-
rei não chegaram a realizar-
se, sinão em parte, com a creação de um gabinete zoologico, que teve duração ephemera. Esse gabinete,que ficou sendo chamado a
—
Casa dos paasaros, expunha somenteuma collecção de aves estropeadas, mal preparadas e não classificadas segundo os mcthodos scientiflcos.
E’ razoavel suppor
-
se que a mesquinhezdessacollecção,em con¬ traposição com a riqueza, que se dizia possuir o Brazil nos tres reinos da natureza, houvesse mal impressionadooanimodo Ministro edoRei,equedssoos induzisseapensarnafundação deum museureal. j Certo é, que em 6 de junho de 1818 foi rubricado pelo Rei, no palacio do Rio de Janeiro, o decreto cuja integra aqui abaixo trans¬ crevemos:« Querendo propagar os conhadmentos e estudo das seiendes naturaes no Reino do Brazil, que encerra em similhares deobjectos dignos de observação e exame o quepodem serempregadosem bene¬ ficio do Commercio, da Industria e das Artes., que muito desejo
t
.
Na sua Historia do Hra/.il J.M.
dc Macedodiz quea realização destes melhora¬ mentosfoi suggerida peloConde de Linhares,fallecidoem25 de janeirode1812.
Oespaço deseis aunosque se interpor, entre o fallecimentodo Conde deLinharesea data da fundaçãodoMuseu érazão para nãoacceitar-
sea opinião do Macedo.
favorecer, como grandes mananciaes deriq
-
ueza : Hei por bem quenesta Côrte se estabeleça
um
Museu Real para onde passem,
quantoantes,
os
instrumentos, machinas e gabinetes que já existem dis¬persos por outros logares
,
ficando tudo a cargo das i>essoa.s que Eu t para o futuro nomear.
E sendo-
Me presente que a moradadecasas
Ique no Campo de S
.
Anna occupa oseu proprietário João RodriguesPereira de Almeida, reune as proporções e commodos convenientes
ao dito estabelecimento, e que o mencionado proprietário volunta
-
triamente se presta a vendel
-
a pela quantia de trinta e dous contos por Me lazer serviço: Sou servido acceitar a referida offerta e que,
procedendo
-
se á competente escriptura de compra para ser depois enviada ao Conselhode Fazendae
incorporada a mesma casa aos pró¬prias da Corô
a
, se entregue pelo Real Erário, com toda a brevidade aosobredito João Rodrigues, a mencionada importância de trinta e dous contas de réis.
Thomaz Antonio de Villanova Portugal, do meu Conselho
,
Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Reino, encarregado da presidência do meu Real Erário, o tenha assim entendido efaça
executai’ com os despachos necessários
,
sem embargo de quáesquerleis ou ordens
em
contrario.
tPalacio do Rio de Janeiro
,
fi de junho de 1818.
»Para a instaIlação do Museu Real no prédio sito no Campo de SantAnna foi aproveitada umaimportantecollecçãomineralógica,
com
¬prada a Werner, notável mineralogistaallemão,equeestavaservindo para os estudos practicos dos alumnos da Academia Militar
.
Esta collecçãoestava toda ella coordenada e rotulada 1.
Algunsobjectos dearte em madeira, em mármore
,
em prata, em fmarfim
,
em coral,oumacollecçãode quadros a oleoforám asdadivas feitasporD. JoãoVIa
<•
Museu que eileacabava de fundai- . , ^
Os artefactos indígenase productosnaturaes queandavam disper¬
sospor outras estabelecimentos da cidade, foram recolhidosao Museu, conjunctamenle com váriosobjectos doados pelos particulares
.
Em maio de 1819 foi fixada a dotação annual de 2
:
880$ para a verba material do Museu.
O pessoal ficou assim constituído: Director, porteiro, um aju¬ dante daspreparações zoologicas
,
um escripturario e um escrivão da1. Para o averbamento dos factos e datas, consignados neste trabalho, nos foi de grandeproveitoo livro de l
.
adisl úo Netto, publicado em1870,sobo titulo—
Itivestii/afõeshistóricasc scienlificas sobreo Museu Imperial c Nacional
.
5
receita e despeza, não percebendo este ultimo nenhuma espeeie de subvenção
.
Para
exercer
as funcções de Director Toi nomeado Fr.
José da* CostaAzevedo, que já exercia ocargo de Directordo Gabinete Minera¬ lógicoda Academia Militar
.
Para o cargo de Porteiro foinomeadoJoãodeDooseMattos,empre¬ gado antigodo Gabinete Mineralógico,dirigido por Fr
.
José da Costa» Azevedo
.
Paraauxiliar nostrabalhastaxidermicas foi nomeadooPreparador SantosFreire
.
Em todos os actos officiaes
o
Director do Museu communicava- so
com o Ministrodo Reino por intermédio do Inspector Geraldos estabe¬ lecimentos litterarios, cargo nessa data exercido por Jasé da Silva Lisboa,depoisVisconde deCayrú
.
Averba destinada ao pagamento do pessoal,inclusiveo Director,
não excediade3:800$ annualmente
.
Tal foi aprimitivaorgauisaçãodo Museu, modesta, humilde em verdade, nascida da generosidadeeda previdência de um Rei, grato ao bom acolhimento que tevedos
seus
súbditos no Brazil, e das largas* vistasadministrativasdeumMinistro, que, por esta e outrasmedidas de progresso
,
grangeoua benevoiencia, a sympathiae as louvores das seusgovernados.
c
*
,
&
m
sags
-
FR
.
JOSÉ D A COSTA AZEVEDOJ
PER Í ODO HISTORICO DE 1813 - 1323
t
Direotor
—
FR.
JOSé DA COSTA AZEVEDOSUMMARIO
—
O primeiro Director do Museu. Difllculdades que eile oncontiou parafazer progrediresteestabelecimento.Nasuafundação oMuseu Real ora antes um'pequenoMuseu colonial. Circumstanciascapazesde favoreceremo desenvolvimentorápidodosmuseus. Influenciaque teve odecreto,que fran-
queoti os portos doBrazil aosestrangeiros, sobreocrescimento das collecçõcs doMuseu. Vida austeraerecolhida de Fr. Joséda Costa Azevedo.Seu passa¬
mento coincidindo com as festas celebradas em honra da independencia do Brazil.
O primeiro Director do Museu
,
Fr.
José da Costa Azevedo, eraumreligioso de costumes austeros, que gozava de boa reputação
como
sapiente
.
Elle sentiao desejode levar adiante a utilcreaçãode D. João VI
,
e não poupava esforçosnem
trabalho para melhorar,cada vez mais,
o estabelecimentoconfiado ásua guardaedirecção.
A sua vontadeestacava, porém, diante de óbicesmaterlaes
,
prin¬ cipalmente dacarência derecursos
pecuniários.
Acreditava em mila¬ gres Fr.
José, masnãoos
sabia fazer.
O que haviam posto sob a suaguarda bem longeestavade merecer o titulo de Museu Heal; quando muitopodia
-
se veralli oembryão de ummuseu
colonial,cujodesen¬volvimento iria se dando, pelo
curso
dosannos
adiante, si lhe não faltassem a benevolencia dosparticularesea protecção dos governos.
E porqueesta era a perspectiveque diantedosolhos tinha entãoo directordoMuseu, julgou eile quenãohavia outracousamelhora lazer do queresignar
-
se com essa situação, que eile de boamente acceitara para serviraoRei e ao Ministro.
Seria
erroou
illusão pensarqueinstituiçõesda ordem dosmuseus,
cujoprogresso está na
raz
ão directa do augmento das collecções e do valor estimativo delias, podemchegar ao apogeu com poucas annos de existência.
São organisações estas que teem desenvolvimento lento egradual
,
com períodos alternados de estagnação e de impulsão, depen¬dentes decircumstanciasvariadas,oecurrentesem certas phases histó¬
ricas da vidanacional
.
E’ sabido que as conquistas de Napoleãoenriqueceram os museus daFrança eempobreceramos museusdaItaliaedaAllemanha
.
A cam¬panha do Egypto encheu asgalerias do Louvre
com
as riquezas,
até entãoignoradas,da alta civilisaçãodas Pharaos.
Os museusde arte e dehistoria natural dos americanos do norte enriqueceram-
se á custadasfortunas de alguns archi
-
millionarios.
A conquista eo dinheiroforam
os
doismais poderosos factoresdoprogressorápido quetiveram algunsmuseusdomundo
.
*Nãoadmira
,
portanto, que o Museu HealdoRio de Janeiro,aoqual faltaramessesdois poderosos agentes de impulsão, permanecesse por um longo periodo de tempo em estadode lethargia e de estagnação.
Na data em quesefundouesse museu, oBrazilera um paiz
novo,
quasi desconhecido; eas riquezasnaturaesdoseusolo,assim comoas
qualidadese os costumesdospovos ind ígenas,quenelle habitavam ,não tinhamcomeçadoaserexploradaseestudadas
.
O decreto de D.
JoãoVI,porém,franqueando osportosdoBrazilásnaçõesestrangeiras, attrahiu para aqui grandenumero denaturalistas viajantes, vindos de todos aspaizes de além
-
mar.
Acolheita dcproduclos naturaes,
realisadapor essesnaturalistasviajantes,concorreu
muito paraoprogressodo Museu,em épochas posteriores d independonciado Brazil
.
fEsquivo ás frivolidadesdo mundo,recolheu
-
se Fr.
José da CostaAzevedo áquellas silenciosas salas do museu, quasi vasias, onde só vinham inquietar a placidez do seu viver monásticoas tristes recor¬
dações do claustro
.
Pouco tempo durou, porém, esse voluntário recolhimento; pois que delle veio tiral-
o aquella lei implacável damorte, a que estão sujeitas todasascreaturas humanas
.
Foiescutando ainda os echosdas jubilosas festas nacionaes,ceie
-
*bradas em honra da emancipação do Brazil, que finou
-
so em 7 denovembrode1822 oprimeiro Director doMuseu . Comosi fô
ra
umcon¬fortoda derradeira hora
,
antesde evolar-
se aocéoo
seu espiritocultoepatriótico, acariciaram
-
lhe osouvidosna solidão
do leito de morte,os.
accordasdohymnopopular,quecantava a patria livre
.
Grata impressão para os últimos momentos de quem, desdelongosannos
, dedicdra ápatria e á religião as seus aíTectos e os seus melhores serviços. Aopassamento do illustre franciscano succedeu um periodo de interinidadenadirecção do Museu,quesó findouem 27deoutubro de 1823
com
a nomeação effectivadoDr.
JoãodaSilveira Caldeira.
A ge¬rência interina foi exercida, durante quasi umanno,por Joãode Deus e Mattos
,
preparador doMuseu.
9
Foi estefunccionarioque, porobedecer ás ordensemanadas dogo¬
verno
, em nomedoImperadorD.
PedroI,
seencarregou decolleccionaruma
certa quantidade depapos de tucano paraadorno domanto im¬ perial.
A grandeinsigniada Magestade quedevia cobriros
hombros do Imperador, nos dias solemnes e festivos, denunciava bemaos que lhe conheciam a origem,
otrabalhopacientee a dedicaçãodesinteres¬sada ao servi
ço
imperial doobscuro colleccionador doMuseuReal.
jjm
;
m R &
>*
DE
.
CALDEIRA4
PER
ÍODO HISTORICO DE 1823 - 1827
Director
—
DR.
JOãODASILVEIRACALDEIRASDMMARIO
—
O Brazilelevado a Império.
Traços docaracterdeD.PedroI.
Pre¬dicados moraes e intellectuaes doDr. Caldeira, segundo Director do Museu. Auxílios que prestouaoMuseu JoséBonifácio de Andrada e Silva. Donativos quefizeram váriosnaturalistasestrangeiros áscollecçõesdo Museu. Fundação de umlaboratoriophysico
-
chimico. Projectoda fundação de umaSociedadeauxiliadora da industria nacional.O Imperador Pedro I manda arrematar em liasta publicaumaimportantecollecção deantiguidades egypciaseoffe
-
^
reco-a ao Museu.
Permutas com os paizes estrangeiros. Projectode Caldeira paradividir em secçõesoserviçodo Museueinaugurar cursos públicos nesse estabelecimento. RetiradadeCaldeira. Seusuicidio.Quandose iniciou
este
periodo acabavao
Brazil depassar poruma
transformação política radical.
Não era maisuma
colonia nemum
reino,
mas um
império.
Cingia o diadema imperialo
principe, a
quem ,em plenaconfiança,
entregou D.
JoãoVI,
ao voltarparaLisboa, o
governo do Brazil.
D.
Pedro rompeuos
laços de obediência queo
prendiam a seupai
,
eacquiescendoaos
desejos dos Brazileiros, fez-
sóaeclamar Imperador do Brazil (7 de setembro de 1822)
.
Pelocaracterepelas qualidades pessoaes,eile diflerenç
ava -
semuito* do seu progenitor
: era
uma natureza irrequieta, agitada por paixões ardentes, queobedeciaaosimpulsosdassuas
paixões,mas
nãose curvava
aosdictames da
sua
consciência,
nemaos conselhos dasseusamigos.
Sua vontade imperiosanãosupportavacon trastes
.
Nasceraparaomando< absoluto
.
Não lhe mentia o tara das seus avoengos,mas as
circum-
stancias deum momento historico fizeramdelleo chefedeum grande império americano, regido pelo systema de governo constitucional representativo
.
Essa disparidade entreas
tendências innatas do seu caracter eas normas
do systema degoverno adoptado no Brazil, não podia deixar de provocar graves collisões políticas e de perturbar a marcha doseu governo.
A vontade irreductiveldoimperador, queera asua
arma dilecla, embotou-
se muitas vezesnas
arestas deuma
opposição tenaz, quenãocedia a ameaças
,
eque tinha porúnicasarmas
12
irJW ~
o prestigio do caracter e a força da intelligencia
.
D.
Pedro I não tinha, á maneirade seu pae, grande pendor para as artes,
nemrecebera
uma
educação litteraria e scientifica esmerada.
Estas considerações veem de molde para mostrar porque, neste *
segundo período historico
,
o .Museu não progrediu tanto quanto se deviaesperar.
As luctas dos partidos,
as discussões calorosas na im¬ prensaenatribuna, a repressão de levantes nas províncias, asintri¬gaspalacianas, e as condições pouco lisonjeiras doerário publico não * deram tempo para secuidardos interesses do Museu,assim
como
deoutrasinstituiçõesrecentemente creadas
.
O Dr
.
Caldeira, que foi o.
successor do iIlustre franciscano, eragraduado pela universidade de Edimburgo, e reputado um habil chi
-
mico
.
A sua larga fronte elevada e o conjuncto dosoutros
traçosphysionomicos feriam logo a vista, fazendo julgal
-
o um homemintelligente e circumspecto
.
Certo facto desastroso dasuavida,oqualmaisadiante havemos decommentar,levaria, entretanto, a presumir
‘
qualquer tendencia occulta doseu espirito para as cruezas da melan¬ colia ou para
os
desvarios de uma psychose.
Foi durante a sua gerencia que o Museu começou a ser um
estaltelecimento consultivo
.
Por esse tempo, os negocios do império >eram dirigidos por Jose Bonifacio de Andrada e Silva, a figura mais culminante do ministério
.
Homem de larga esphera mental,
de caracter firme e ardor patriótico,
ochamado patriarchs da indepen¬dência, com ser politico militante, não tinha deixado deser também homem de sciencia
.
Era discípulo da escola de Freiberg; os
conheci¬ mentosde mineralogia lhe eram familiares,ede objectos pertencentesa essa divisão das sciencias naturaes possuia eile uma rica collecção
,
« quefoi mais tarde incorporada ao Museu.
Neste periodo, aproveitando a franquia dos portos do Brazilaos estrangeiras
,
que D.
João VI decretara, vários naturalistas europeus,
attrahidos pela fama, que tinham as producções naturaes do novo
império,
se
foram chegando aquieinternando-
se nas vastas regiõesdesconhecidas do Brazil
.
OMinistro do Império dirigio a esses exploradores
um
appelkç
pedindo
-
lhes auxiliassem com dadivas o Museu, que delias muito carecia jara fazer avultar as suascollecções.
EangsdorfT, Natterer,
von Sellow não tardaram em acudirao justoreclamo do ministro, que os havia recommendado e protegidonas suas
longas excursões pelointerior
do paiz.
0 primeiro destesnaturalistas levou a
sua
liberalidade ao ponto de offerecerasuapropria collecção de mammiferos e aves da Europaao Museu do Rio de Janeiro
.
Natterer subvencionado, durante algum tempo, pelo governo brazileiro
,
atjui deixou algumas valiosascolleeções zoologicas,
emais valiosas ainda foram as que eile levoucornsigo para formar a secção brazileira do Museu de Vienna d’Austria.
Seilowtrouxe
-
nosalgumasossadas fosseis das suas excursõesnas
margens do Uruguay
.
Por esse tempo, no andar de baixo do Museu foi instailado, de accordocom as solicitaçõesdeCaldeira
,
um laboratorio para asestudos physicos e chimicos,
provido de todososarranjasnecessários a inves¬tigações daquelle genero
.
Foi utilisando-
se desses recursos practicos,
que o Director do Museu poude alli realisarestudos sobre umcombus¬ tível mineral esobre o pau brazil
.
Consultado sobre o projecto da ereação da Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional
,
eile desenvolveu um longo arrazoado para provar a conveniência dessa ereação ,
e formulou as bases dos seus estatutos, que enviouao governo.
O exemplodefazer donativos ao Museu tinha pegado e ia produ¬
zindomagníficos resultados
.
Do Serro, em Minas,
chegaram-
lhe bellosespecimens de diamantes e amastras de bismutho
.
Pérolas achadas em umalagôa de Goyaz vieram também, por intermédio do Ministro do Império, engrossar as colleeções
jã existentes.
O Imperador mandou arrematarem hasta publica cincomúmiase outros objectas ethnogrnphicos do Egypto
,
e de tudo isto fez dadiva ao Museu.
Esta valiosissima collecção
de antiguidadesegypcias desti-
nava
-
se ã Republica Argentina e tinha sido encommendada pelo governo de D.
Emmanuel Rosas.
Chegaram ellas alli, porém, quando já tinha sido anniquilado o
poder do tyranno; e o governo que lhe succedeu nãoquiz sustentar as compromissos do seu antecessor
.
Por virtude destacircumstancia
,
o italianoFiengo,
que vinha rea¬lisar a encommenda, trouxe para o Rio de Janeiroacollecção e fel
-
avender em hasta publica
.
lista collecção,que esta actualmenle exposta
nas
salasHumboldt e Champollion, tem um valor inapreciável,
e seriaassaz
difficil,
nos tempos dehoje,conseguiroutra egual.
Com excepçãode uma, póde-
seattestar, sem receio de errar, que estas múmias são authenticas
.
Todas ellas
est
ão encerradas emsarcophagosdesycomoro.
Admirável é oestado deconserva
ção delias; em algumasas faixas envolventes, as cores vivas,eo
douradodasmascarasn
ãosoffreram sinão pequena alteração no decurso de 3.000 annos.
Emtornodos sarcophagospela face exterior, está escripta umalonga historia em caractereshierogly-
phicos
,
quenãofoi possívelatéhojedecifrar.
Pequenosidolos de esmalte azul,anaphoras, canopos, stellas, cipjos cobertos de hieroglyphosem baixo relevo,cabeças,m
ãos
epéshumanos,
animaes mumificados, etc.
, formam o conjuncto dessa importante collecção egypcia.
Váriosobjectosethnographicos,oriundos do Pará edasilhasdoPaci
-
ficochegaram também, nessaépocha, para adornaras salasdo Museu
.
Foram iniciadas
as
permutascomospaizes estrangeiros.
Opríncipe real da Dinamarca recebeu comodadiva dePedro I váriosproductosdo Brazilparasua
collecçãominerologica,e oMuseu deBerlim umagrande collecção, que chegou para encher 17 caixões .
Do Pará vieram para aqui varias collecções remettidas pelo presidente daquella província.
Caldeira, cuja administração foi prospera, pensou em subdivir por
sec
ções o serviço
do Museu e fundar cursos publicas.
Ogoverno, porém, precisava aproveitar as suas luzes e o seu tino administra¬tivocomo Provedor da Casa da Moeda
.
Quasi ao findar o anuo de 1827,eile despediu
-
se doMuseu, comasegurança na consciência de haver cumprido bem o seu dever
.
Estava
-
lhe reservado,porém
, umhorrívelazardurantea gerenciadoseu novocargo
:
eilepoztermoá vida suicidando-
se. Certa dòsede acido prussico não lhe tendo produzido o efi'eito desejado,eilen
ãohesitou: tomoude uma navalha eeomellaacertou nopescoçoumgolpe mortal.
Até hoje ignora
- se
que motivos compelliram espirito tão lúcido e ponderadoa practicar esseactode vesania.
Talvez desgostos Íntimos domésticos, horas de profunda melancholia, ou, o que parece mais provável, uma dessascrises subitaneas da mania persecutória podesscm explicar esse facto lamentável.
E’ verdade que
numerosos
exemplos teem mostrado que uma incessante applicaçãoaoestudo, vae ás vezes até precipitarnosescuros
abysmos da loucuracerebros bem illuminados,poré
m
mal equilibrados.
E assimcomoafortetensãodoentendimento,muitotem|xjprolongada
,
póde offenderaintegridadedosensohumano,assimtambémacontinua obsessãodasidéasnegras pódecompelliraosuicídio
.
A explicaçãoracional do infeliz destino de Caldeira deveestar adstrictaauma dessascousas .
PER Í ODO HISTORICO DE 1828 - 1847
Director
—
FREICUSTODIO ALVES SERRAO1»
SUMMA RIO
. —
Grandesqualidades de Fr. Custodio, como sciontistae como admi¬ nistrador . Seu plano de reforma do Museu. DifUculdades creadas pelo governo. Favores feitos pelo Museu a outras instituições. Empenhodo director em fundar uma bibliotheca, e indifferençado Ministroás suassoli¬ citações. Fr. Custodio desgostoso pede uma licença o retira-se para o Maranhã o.
Regressando dois annos e meio depois, consegue do Ministro o decreto de reforma do Museu. Regulamento do 3 de fevoreirode 1842. Funccionarios nomeados. Tabella de voncimentosannuao3. Donativos feitos , áscollecçõesdo Museu. Accusações noSenado contra a administraçãodo Musou. O Director rebate essas accusações. O Senado vota uma reducção considerávelna verba orçamentaria do Museu. Fundos desgostosdo Director levaram-no asolicitar a sua exoneração daquelle o de outros cargos que exercia no Museu. Apreciações e commentarios a esses factos.
e Quando começ
ou
este longo período o impulso do Museu estava dado.
Elle tinha sahido das trevas para a luz, seu nome estava inscripto na lista universal,
em que figuravam instituições conge-
neres
.
com séde em varias partes do mundo, eile era repetido pelos viajantese naturalistas que exploraramo nosso
território e começava a ser acariciado pelos altos poderes do Estado.
Fr
.
Custodio,
nomeado Director por decreto de 2G de janeiro de 1828,
exercia as funeções de Lente Cathedratico de physica e chimica da Escola Militar.
Era homem de alto merecimento e de apreciáveis qualidades.
Elle tinha a força das suas convicções e uma energia extraordinária de caracter, para traçar planas de administração e saber executal- os .
Não tergiversava diante dos ministros e costu¬ mava fallar-
lhescom o
desembaraço e a franqueza de quem sabedizer o que pensa e o que quer
.
Seu plano era fazer do Museu um estabelecimento scientifico
,
que doutrinasse, e, ao mesmo tempo, fornecesse elementos de tra
-
1, Não houve esforçoque nãoempregasseparaalcançarumretratodeFr AlvesSerrão
.
Impossí vel foiachal
-
o.
Seuretrahimentoesua austeridade foram talvez os culpadosdesta lacuna tão lamentável.
balho para os estudos technicos
.
A concepção desse plano não podia deixar de agradar aos espíritos progressistas.
Era alli,
nos seusgabinetes, quedeviamserensinadasassciencias physicas e naturaes
.
O governo, porém
,
ou porque não quizesse privar dessas altribuições outras escholas,
ou porque a completa execução desse plano devesse importar em grande augmento de despezas,
que o erário publiconão comportava, não se conformoucom
os desejos do Directordo Museu.
Quiz Fr
.
Custodio admittircomo
empregado auxiliar do Museu um artista pintor, encarregado de fixartna
telaou
no papel as cores vivas das aves,
insectos, etc. ,
que, ao contacto da humidade e do ar, no nosso clima, desbotam e apagam-
se no fim de poucotempo
.
O governo achou que podia ser protelada essa providencia, e desatlendeu ao pedido do Director do Museu.
Entretanto eram frequentes as solicitaçõ
es
que ao Museu faziam a Escola Central, a Faculdade de Medicina, a Sociedade Auxiliadora da Industria Nacional, para fornecer collecções,instrumentos è appa-
relhos que lhes faltavam, ou para alargar, no proprio edifício do Museu , o espaço que lhe tinha sido anteriormente concedido
.
Por compensação a estas reiteradas negativas, que começavam a desgostar os que estavam á frente da administração do Museu, resolveu o governo contractor o italiano Zani e
um
ajudante prepa¬rador para explorarem o valle do Amazonas em proveito das col¬ lecçõesdo Museu
.
Essa commissão exploradora, que durou algunsmezes
,
accumulou muitas productos zoologicos, que foram incorpo¬rados ás collecções daquelle estabelecimento
.
Insistia o respeitável carmelita para que se iniciasse a formação de uma bibliotheca do Museu,ajudandoessa pretençã
o
com dizerese argumentos que não podiam deixar de calar no espirito dos ministras
.
Nenhuma providencia, porém, parecia querer
- se
tomar em favordessa idéa, que se impunha
como
uma necessidade indeclinável a qualquer espirito medianamente culto.
Estas luctas e estas resistências invencíveis acabaram acabru¬ nhando Fr. Custodio
,
que, cheio de maguas e desillusões,
tomouo
partido de afastar
-
se por algum tempo do Museu.
Hmlins de outubrode 1835 eile embarcou com licença do governo para o Maranhão
,
sua terra natal, deixando ficai1 João de Deus na direeção do Museu
.
Quando dois annos e meio depois voltou a assumir