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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e

Semiótica

Alexandre Machado Frigeri

YouTube

: estrutura e ciberaudiência

Um novo paradigma televisivo

Doutorado em Comunicação e Semiótica

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ALEXANDRE MACHADO FRIGERI

YouTube

: estrutura e ciberaudiência

Um novo paradigma televisivo

Doutorado em Comunicação e Semiótica

Tese apresentada à Banca Examinadora em atendimento à exigência parcial para a obtenção do título de Doutor em Comunicação e Semiótica pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PEPGCOS/PUC-SP).

Área de Concentração: Signo e significação nas mídias.

Linha de Pesquisa: Cultura e ambientes midiáticos.

Orientação: Prof. Dr. Eugênio Trivinho

São Paulo

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DEDICATÓRIA

A meus mestres, em todas as

etapas de minha vida, incansáveis e

pacientes difusores do conhecimento,

(5)

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais (meu pai

In

memorian

) pelo incentivo ao desenvolvimento

acadêmico.

Agradeço a confiança do Grupo

IBOPE/Netratings pelo fornecimento de informações

restritas para esta Tese, em especial pela atenção

do Sr. José Calazans.

Agradeço à paciência e compreensão de

minha família, durante a elaboração deste Trabalho.

Agradeço à presteza de todo o corpo de

professores da PUC, em especial às professoras

Dra. Ana Cláudia Mei Alves de Oliveira e Dra.

Lucrécia D’Alléssio Ferrara. Agradeço aos meus

colegas que incentivaram a continuidade desta

jornada, com destaque a Elton Rivas, que não

deixou que eu perdesse o prazo de inscrição para

ingressar no doutorado.

Agradeço à CAPES/CNPQ pela bolsa

parcial concedida.

(6)

Banca Examinadora:

________________________________________

________________________________________

________________________________________

________________________________________

(7)

RESUMO /DA TESE

O presente estudo é uma análise do site provedor de vídeos sob demanda

YouTube como influente meio de comunicação no contexto dos denominados new media, agregando tecnologias que se destacam pelo volume acessado,

transmissão multidirecional e número de usuários. As características dos new media se alteram em relação às estruturas dos media. Há maior interatividade de

usuários, capacidade de produção e transformação, inserção e incorporação de novas informações. Também há flexibilidade de horário e acesso a conteúdos não disponibilizados nos media tradicionais. Diferente dos meios de massa, pouco

interativos e unidirecionais, é instituído por um paradigma construído por multiusuários, sem controle (direcionador) do conteúdo veiculado, com a possibilidade de reconfiguração de informações. Nesta lógica, o YouTube é

considerado um emergente e destacado fenômeno de comunicação.Apresenta um novo “ver TV”. Buscamos compreender as formas interacionais destes usuários do YouTubee os impactos causados no processo sociocomunicacional

integral. Nossa análise inclui avaliação de pesquisas estatísticas (quantitativas) e avaliação de pesquisa descritivo-qualitativa. As questões básicas, problemas de pesquisa respondidos neste trabalho, incluem a forma de percepção pelos usuários, o processo de representação simbólica que o próprio YouTube assume

e os hábitos dos usuários para acessar e validar informações. Os ciberespectadores utilizam este novo meio como fonte de questões culturais, profissionais, técnicas, científicas, religiosas e outras.Caracteriza um uso mais amplo nas diversas faixas etárias, que altera o conceito inicial de o YouTube ser

voltado à diversão dos jovens (sem excluir esta possibilidade). As consequentes formas receptivas diferem do meio televisivo tradicional.Esta distinção mediativa entre TV e YouTubesugere um novo paradigma. Dentro da lógica dos novos

meios, foram utilizados conceitos da cibercultura, dos estudos culturais, da semiótica e da comunicação. Foram analisados:o contraste dos termosmedia

versus new media, identidade e a configuração de um meio de relações na

cibercultura, o processo de semiose dos sentidos e percepçõese por fim os resultadosoriginais e pertinentes da pesquisa descritivo-qualitativa. Destacamos ser a pesquisa exclusiva para esta Tese, em parceria com o grupo IBOPE/Netratings.

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THESIS ABSTRACT

This study involved an analysis of the YouTubevideo on demand provider as an

influential means of communication within the context of the so-called New Media,

which use technologies that stand out for their high-volume access, multidirectional broadcasting and number of users. The new media differ from

traditional media structures in that they enable more interactivity among users,

greater production and transformation capability, and the insertion and embedment of new information. They also offer time schedule flexibility and access to contents not available through traditional media. Unlike the traditional mass media, which are unidirectional and less interactive, the new media are based on a multiuser constructed paradigm, and their content is not controlled (guided), thus enabling the reconfiguration of information. Within this logic,

YouTube is considered an emergent and important communication phenomenon,

a new communication paradigm characterized by a new way of “watching TV.” Our quest is to understand the ways in which YouTube users interact and the impact of YouTube on the overall process of social communication. Our analysis includes an

evaluation of statistical researches (quantitative) and of descriptive qualitative research. The basic issues or research problems answered in this work include users’ perceptions of YouTube, the process of symbolic representation that YouTube itself assumes, and users’ practices in accessing and validating

information. Cyber spectators use this new medium as a source of information about cultural, professional, technological, scientific, religious and other subjects. This medium is characterized by its more widespread use among different age groups, thus modifying the initial notion that YouTubeis destined for the

amusement of young people (although this possibility is not excluded). The way in which new media content is received differs from that of traditional TV, suggesting the creation of a new paradigm. This study addresses concepts of cyberculture, cultural studies, semiotics and communication based on the logic of the new media. An analysis is made of the contrast between the terms media and new media, the identitary issue, the configuration of a medium for relationships in

cyberculture, and the process of semiotics of the senses and perceptions, as well as the original and pertinent findings of this descriptive qualitative research, part of which is unique and the result of a partnership with the IBOPE/NetRatings Group.

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ÍNDICE TEMÁTICO DA TESE

INTRODUÇÃO ... 10

1. DEFININDO O YOUTUBE... 22

1.1. Exemplos de sucessos no YouTube ...26

1.2. YouTube e a mutabilidade: uma aventura, um abalo à segurança... 48

1.3. O YouTube como new media...51

1.4. Osmetamedia ...54

1.5. A força do novo ... 58

2. SOCIEDADE, IDENTIDADE E CIBERCULTURA ... 63

2.1. Novas identidades, novos hábitos ... 67

2.2. Conceitos definidores do YouTube ... 70

2.3. Consumo, produção, transmissão e as leis da cibercultura ... 73

3. O YOUTUBE E OS SENTIDOS ... 78

3.1. O termo YouTube: você no poder ... 81

3.2. Figuratividade: a percepção do YouTube ... 87

3.3. A evolução da percepção ...89

3.4. Semiose da página do YouTube ... 93

3.5. Interssemiose: multijanelas e sentidos ...99

4. A PESQUISA YOUTUBE ... 107

4.1. A metodologia da pesquisa Ibope/Netratings ... 110

4.1.1. Resumo geral dapesquisa ...111

4.1.2. E quem são os usuários YouTube?... 113

4.1.3. Dados gerais de utilização da Internet no Brasil e no mundo ... 114

4.1.4. Dados específicos doYouTube ... 124

4.2. Pesquisa descrititivo-quantitativa ... 133

4.2.1. Dados demográficos ... 134

4.2.2. O YouTube ... 140

4.2.3. Conceituação do YouTube ... 146

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...158

6. BIBLIOGRAFIA GERAL ... 163

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Resultado de uma ideia experimental, os então estudantes Chad Hurlley e Steve Chen criaram um canal para divulgação de vídeos feitos no ambiente acadêmico da Universidade de Illinois. Unindo-se a Jawed Karim, então colegas de trabalho em um site de comércio eletrônico denominado PayPal, lançaram em

junho de 2005 o YouTube, uma mistura de “empresa de fundo de garagem” com

financiamento de um grupo de investimentos (Sequoya Capital Investment). O

vídeo número um mostra Jawed em um zoológico, na tarde do dia 23 de junho de 2005,tecendo comentários sobre os elefantes, uma simples aparição de dezoito segundos. Menos de seis meses depois, ao final de 2005, outraapresentação mostra as instalações da empresa já com um suporte financeiro dos investidores. O vídeo apresenta as estações de trabalho (os computadores), um amontoado de fios e telefones ainda por organizar.Finaliza com um tímido Steve Chen comentando sobre a nova empresa, agradecendo aos acionistase abrindo um champanhe com seus colegas de trabalho. O terceiro vídeo, de outubro de 2006 (dezesseis meses após a aparição inicial), mostra Steve Chen com um enorme sorriso junto a Chad Hurley informando que o YouTube foi comprado pela

empresa Google, por US$ 1,65 bilhões.

Nesses seis anos de existência do YouTube não cessaram motivos para

os criadores comemorarem. Regra geral, podemos crer que todos que têm contato com a internet já passaram pelo YouTube, em escala mundial. Os

números não param de apontar para uma massiva dominância desse portal,no segmento de sites provedores de vídeo online. Por esse destaque e importância,

transformou-se em um meio de comunicação, dentro da lógica das “novas mídias”.

No início, o destaquedo YouTubefoi predominantemente

tecnológico.Conseguiu o que outros buscavam: eliminar barreiras técnicas para possibilitar o compartilhamento de vídeos pela Internet, de maneira ágil, simples e prática. Finalmente, ao alcance de todos, usuários tiveram a possibilidade de postar vídeos através de upload ao sitee imediatamente partilhá-los com colegase

(13)

conhecimento técnico, com utilização de uma banda de tráfego de dados não muito larga. Outros elementos técnicos ajudaram na composição do novo produto: não havia limites de upload de vídeos por usuário; este possuía várias opções de

conexão com outros usuários, formando comunidades. Gerava endereços, URLs em códigos HTML, que permitiam facilmente inserir links em outros locais da

Internet. Os fatores limitantes eram, à época do lançamento, a reduzida definição e o limite de dois minutos por vídeo. Esses elementos não se constituírampor si só inovadores; foram assimilados de outros sites. O diferencial foi reuni-los em um

só lugar e oferecer ao público tudo gratuitamente, sem controles e restrições que afugentassem os usuários.

Os resultados foram impressionantes. Houve rápida assimilação tecnológica por parte dos usuários da Internet e o YouTube passou a ser um

fenômeno social. Nascia uma nova forma de ver e ser visto pelo mundo, uma nova maneira de (re)contar histórias, uma explosão da narrativa visual dentro de um cibermundo ausente ainda de imagens em movimento. Um novo ver TV- isto no final do “distante” ano de 2005.

A jornalista Liz Gannes, entrevistando Jawed Karim (que deixou o

YouTube para terminar os estudos), destaca que o YouTube não nasceu com o

formato atual1. Passou por ideias esdrúxulas, como incentivar mulheres bonitas a postarem vídeos (cem dólares por mais de dez vídeos), para se destacarem dos outros concorrentes. O que realmente marcou o diferencial foi a oferta de facilidades tecnológicas, que permitiram a interconexão entre usuários, no formato de comunidade, a facilidade de upload e downloaddos streaming videos, a

geração de links de endereço dos videos e a possibilidade de visualização

(embed) em outros sites, o que propiciou a disseminação em e-mails, blogs

(então novidade da Internet) e sites de relacionamento.

Este formato chamou a atenção das revistas especializadas e, ao mesmo tempo em que criticavam o acúmulo de gadgets (geração de links, comunidades,

ligação com outros vídeos, upload facilitado), chamavam a atenção para o futuro,

o que o YouTube poderia vir a ser.

1 How YouTube took off. Disponível em: <HTTP://gigaom.com/2006/10/26/jawed-karimhow-YouTube

(14)

Os números não deixam de apontar para um crescimento, no mínimo, impressionante. De forma consistente, a contagem de visitas e acessos aumentou até se tornar, em janeiro de 2008, o endereço mais procurado na Internet, e dominantemente o mais acessado para streaming de vídeo (segundo medições

da ComScore Video Metrix). Dos cento e trinta e nove milhões de visitantes

americanos para vídeos online, mais de oitentamilhões se dirigiram ao YouTube,

com média de 109 minutos por visita, ou seja, uma hora e 40 minutos diante desses vídeos, longe da TV. Em um ano, o YouTubeultrapassaria a marca dos

cem milhões de acessos americanos em apenas um mês e, até hoje, se mantém de forma robusta entre os “campeões de audiência” da Internet.

Figura 1-Gráficos apontam estabilidade de acessos do YouTube.

Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico2

2

(15)

Figura 2- A “divisão do bolo” no mercado americano de streaming de vídeo. No Brasil o fato é mais marcante, como veremos adiante.

Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico.3

Figura 3- mesmo após a entrada do Twitter no cenário da internet, o YouTube

continua em destaque, como mostra o gráfico acima, até janeiro de2011. É importante frisar que tanto Twitter quanto Facebook têm usos diferenciados no universo das mídias sociais eremetem-se ao YouTube quando o assunto é

ver vídeos.

(16)

Fonte:Informação em meio eletrônico4

Mundialmente, de acordo com o site especialista em tecnologia TechCrunch, os acessos batem a casa dos 1,2 bilhões ao dia, perfazendo, em

média, um acesso ao YouTube por usuário de computador com acesso à Internet

no globo. A estimativa mundial mensal está na casa dos 80 bilhões de acessos (abril de 2010).5

Os grandes sucessos mundiais que chamaram a atenção para o

YouTubeforam gravações de programas televisivos, com apelo ao público jovem

e adolescente, destacadamente os programas humorísticos apresentando quadros de sátira da sociedade. Chamou a atenção pelo número de acessos, pela flexibilidade de horário para assistir a um programa televisivo e pela maneira como as emissoras de televisão, em especial as americanas, furiosamente atacaram o YouTube, com uma enxurrada de processos para a retirada desses

vídeos do ar, com base em uma lei de direitos autorais – a do Milênio Digital, esboçada principalmente para enquadrar o referido site. Ficou claro que o YouTube foi muito mais além do que um simples avanço tecnológico.Houve até

quem vislumbrasse uma saída libertadora em relação ao controle estabelecido pela mídia.De novidade “interneteira”, passou a brilhantismo tecnológico, para fenômeno social, até ser coroado como “grande veículo de mídia” ou, ainda, grande inimigo destes.

A presente Tese busca conhecer de forma aprofundada o YouTube, sua

configuração, relacionamentos de seus usuários com reflexos na sociedade e a caracterização do provedor como um meio de comunicação dessas multidões, uma nova forma de “ver TV”.

Dentro do que consideramos uma revolução midiática,destacamos inicialmente alguns dados estatísticos que indicam a razão do YouTube ser tema

de discussões inflamadas e, não raramente, recheada de superlativos. Seguimos com a proposta teórico-metodológica que dá suporte a este trabalho.

4Disponível em:<http://www.statcounter.com>. Acesso em 22 abr. 2010.

5Informação disponível em: <http://techcrunch.com/2009/06/09/YouTube-video-streams-top-1-billionday/>.

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Estamos assistindo a uma nova forma de ver TV. Os números de acesso e popularidade são citados como estratosféricos. Milhões de vídeos sãovisualizados por dia. Dispomos de uma TV personalizada, sem programação definida, acessível a qualquer hora. Em junho de 2009, o site foi visto por nada menos que 19,53% dos usuários de Internet no mundo todo.Um fenômeno mundial. E por ser novo, suscita diferentes formas de utilização deste novo formato: como ferramenta didática para salas de aula, com redução de custos de equipamento, capacidade de assistir a uma entrevista que passou na TV há vários dias, a possibilidade de se tornar um grande arquivo mundial audiovisual, entre outras.

O público está se diversificando. De acordo com as pesquisas apresentadas nesta Tese, o grupo de brasileiros que mais assiste aos vídeos está na faixa etária entre 21 e 34 anos, 34,6%; a faixa que mais cresceu está entre 25 e 34 anos, distante da ideia original de apenas jovens adolescentes assistirem aos vídeos do YouTube. Pessoas com mais de 65 anos de idade apresentam na

mesma pesquisa um crescimento de visualização do

YouTube,atingindoaporcentagemde quase 38%.

Os espectadores mais maduros não são apenas a maioria dos visitantes do YouTube, mas também indicam ser os de melhores condições financeiras. Os

dados da pesquisa apontam uma concentração entre 10 e 20 salários mínimos para os usuários do YouTube (os detalhes estão no quarto capítulo).

Visamos aqui conhecer mais a fundo este público, analisar as relações, as práticas do olhar, a visão de mundo decorrente do fenômeno YouTube:

tendências da vida social, construção de um novo tecido relacional, posicionamentos frente a um formato com toques ainda anárquicos e a construção de um imaginário e formas identitárias deste grupo de usuários dachamada “comunidade” virtual.

(18)

formatos, e se tornam necessários, frente ao impacto planetário nos domínios da sociedade e da cultura.

As diversas práticas modificam o panorama comunicacional e social contemporâneo. Esta relação entre a tecnologia da informática e cultura nos traz constantes descobertas. A evolução da técnicaultrapassou os limites do setor industrial e se fundiu com as áreas de editoração, televisão, cinema, lazer, nos induzindo ao ambiente multimidiático. Novas formas de mensagens interativas aparecem, criando novas interações sensório-motoras (sendo o videogame um destaque). São instrumentos de simulação, com poder de alterar nossas sensações de espaço-tempo. Assim estes novos formatos emergentes da cibercultura possuem a capacidade de alterar nossa percepção de realidade, a nossa visão da contemporaneidade.

No primeiro capítulo apresentamos algumas definições do YouTube,

possibilidades de utilização e impacto sobre a sociedade. Elencamos vídeos postados no site brasileiro como uma forma inicial de ambientação dos materiais

mais recorrentes. Seguimos com uma análise sobre o seuimpacto, abalando o

status quo mediático,alterando estruturas temporais da sociedade, e quebrando

com a linearidade dos outros meios audiovisuais.

Avançamos, destacando os contrastes entre a chamada mídia tradicional e os new media.A mídia tradicional é um produto do pensamento produzido no

domínio do sistema dominante. As análises da mídia tradicional foram influenciadas pela estrutura industrial e modelos de negócio. O sistema de meios de comunicação de massa pode ser definido como seguidor de um modelo industrial de produção e distribuição: a lógica de oferecer poucos itens, conforme a viabilidade para o maior número de consumidores possível. A estrutura de negócios que se impõe e o domínio da mídia tradicional sobre a população, embora não sejam idênticos, são similares entre si.

Dificilmente este é o caso dos new media, pois pouco é compartilhado. A

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mídia tradicional se sente incapaz de descrever (em termos de seu ambiente) os novos padrões e a evolução da comunicação mediada. Incrementos em inovações tomam o lugar onde há demanda para aumento do desempenho, e nesta situação, produtos e serviços, incluindo aí os formatos midiáticos, tendem a se tornar obsoletos, descontinuados, inutilizados.

Esta alteração é proposta após o processo criativo, mas é referendada pela sociedade, que efetivamente absorve e incorpora as novidades na atualidade. O sujeito é, ao mesmo tempo, um observador da realidade (um observador parcial, na medida em que incorpora elementos de sua subjetividade na observação), e alguém que está nela, mais ainda alguém que influencia ativamente nela, modificando-a constantemente. Uma estética digital trata dos mundos artificiais nos quais podemos participar e observar ao mesmo tempo. Com essa dupla atuação, através de um universo simulado, podemos explorar as propriedades de nosso mundo. Uma nova tecnologia que, ao contrário de todas as outras conhecidas, não só muda algo no mundo, mas o próprio mundo se revela como uma possibilidade cognitiva. Com as ações e interações, alterações, críticas e remodelagens possíveis neste discurso interativo dinâmico de multidãopodemos alterar nossa visão de mundo. Esta visão de mundo diferenciada cria novas formas de identidade, rompendo com as formas tradicionais, assunto tratado no segundo capítulo: as relações identitárias, novos hábitos advindos dessas relações, e as implicações tecnológicas para que este novo ambiente possa existir.

Na verdade, não existem identidades fixas, congeladas e imutáveis nas atuais sociedades. Para Stuart Hall (2001), as identidades se constroem dentro do discurso, que são produzidos em certo momento histórico. Por isso, é preciso compreender essas formações e práticas discursivas específicas, como atualmente se configura o YouTube. A identidade fixa se torna uma fantasia.

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com diversas dessas possibilidades, mesmo sendo por um breve período de tempo.

A estruturação do YouTube possibilita essas novas configurações e

podem ser consideradas um grande avanço frente às mídias tradicionais, que são mais estanques e direcionais. Se um formato na TV pode ser gravado, ele é literalmente reproduzido. Na experiência de postagem de vídeos, há a possibilidade, além da reprodução, da reconfiguração das informações, do horário, e da forma a ser visualizada. Existe a possibilidade, por iniciativa dos usuários, de reconfigurações como legendagem (para vídeos antes ininteligíveis em outras línguas que não a original), inserção de textos criticando a narrativa inicial, alteração da voz, trilha, inserção de animações, e até a completa “desmontagem” do original, produzindo um vídeo completamente diferente. Essa liberdade, assumida de forma coletiva, foge das lógicas da produção de conteúdo da mídia estruturada.

Esta nova forma de produção de conteúdo, que contrasta com os media tradicionais, Giselle Beilguelman (2005) analisa como sendo uma cultura cíbrida, na qual as redes incorporam e reciclam as mídias tradicionais, apontando novas formas de significar, ver e memorizar. Essas operações criam outra constelação epistemológica e outro universo interpretacional, que corresponde às transformações que se processam hoje nas formas de produção e transmissão de informações – textos, sons e imagens. Esta noção de cultura cíbrida é interessante porque não exclui, como não seria possível, o sistema vigente na mídia tradicional. É desvendado outro ambiente integrador, e novas formas de relacionamento com a informação são percebidas. Há um modelo tradicional, já estruturado, mas este modelo cíbrido está criando novas configurações, e por isso transforma-se em um terreno a ser desbravado, com oportunidades ainda não completamente estruturadas.

Uma das propostas de verificação dessas novas configurações pode ser visualizada num tripé de “leis” (podem aqui ser entendidos como princípios comuns) que sugerem requisitos mínimos para inserir um meio na cibercultura, presente na obraAs Três Leis da Cibercultura, de André Lemos (2005). Sobre o

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suscita uma alteração social nas sensações de espaço e tempo. A primeiraproposta é a liberação do local de emissão,apontando para a possibilidade de expressões consideradas reprimidas pelos tradicionais meios de comunicação de massa. Asegunda premissa é o princípio da conexão generalizada, onde tudo se conecta, se comunica, e está na rede, facilitando a circulação de informações e a utilização por todos os interessados. A terceira “lei” é criada pela consequência da produção livre e da circulação destas produções: a reconfiguração cultural. O formato audiovisual do YouTube não eliminaas

transmissões televisivas, mas tem impacto social nas instituições e nas práticas comunicacionais.

O terceiro capítulo efetua uma análise dos sentidos que a página do

YouTube provoca. Analisamos a “gramática narrativa subsistente”, a natureza das

estruturas utilizadas para construirestes modelos narrativos, os quaisdemonstram ser úteis, no caso de uma análise do YouTube, que envolve elementos gráficos,

textuais, visuais, sonoros, fílmicos e computacionais.

A informação através da Internet segue fisicamente uma estrutura denominada arquitetura da informação, que é o planejamento estrutural do mapa de conteúdo, a definição de seus itens de conteúdo e das relações que operam entre eles, e a organização de fundo que estrutura o sistema. Estabelece as bases, os espaços internos e o aspecto visual num cibermeio. Esta arquitetura visa um sistema de orientação para buscar, conseguir e recuperar informações através de narrativas multimidiáticas. A arquitetura da informação do YouTube é

estruturada para ser apreendida pelo usuário de forma fácil e rápida. O acesso a ele pode ser feito de diversas maneiras, links e configurações. Este conceito de

usabilidade atrai o usuário pela prestatividade, sem inserção carregada de espaços publicitários. Cria-se também um elo de confiança com ousuário, pois este percebe uma relação (visual e de comandos) sem “truques” ou “pegadinhas” comerciais, comuns em outros sites, que inicialmente se apresentam disponíveis e em um ou dois cliques só permitem a continuidade da busca de informações através de pagamento, cessão de dados e outros.

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determinada pelos criadores do site, mas que pretendem dar “liberdade” aos usuários a assistir os vídeos, uma forma jamais vista anteriormente numa estrutura de televisão convencional, por mais que os formatos se apresentassem como interativos. É um processo que em comparação com a televisão e seus canais, se mostra mais livre, mas não por isso deixa de ter suas característicasestruturais. Se, na televisão, o fluxo contínuo de informações não poderia ser interrompido, revisto ou reposicionado (a não ser pelo interesse da reapresentação, do replay), o YouTubeapresenta ótima flexibilização temporal,

podendo ser revisto imediatamente ao bel prazer do espectador, assim como ser enviado a amigos, guardado, ranqueado. Mas existem outras estruturas normativas: os vídeos são classificados por palavras-chave, conhecidos como

tags.Elessão monitorados, ou seja, há censura, e possuem limitação de tempo e

qualidade visual.

O slogan e a marca que aparecem na tela: YouTube, broadcast yourselfoferecemuma possibilidade das intenções e contradições existentes. YouTube cria a força de uma ação individualizada e individualista, que pode

romper barreiras, bloqueios e indiferenças dos meios de comunicação “tradicionais” e impulsionar à ação, à participação dinâmica e imediata.

Seguimos, no quarto capítulo, apresentando as pesquisas elaboradas para esta Tese. A primeira destaca dados do Instituto IBOPE/Netratings, que efetuou parceria exclusiva para esta Tese. Dados apontam uma ampla utilizaçãodo YouTube no Brasil, com avanço da média de idade para cima,

ampliando o uso pelo público feminino e o destaque maior se apresenta no tempo dedicado à visualização de vídeos através do YouTube: os internautas brasileiros

já ficam mais de uma hora diária em média conectados ao site. Dando sequência,

apresentamos pesquisas onde são colocadas opiniões dos internautas brasileiros, sendo que ambas reforçam conceitos que destacam o YouTube como um novo

(23)

1.

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Antes de apresentar este formato conhecido, podemos dizer que o grande trunfo do YouTube foi a definição do que não ser: Não tentou ser um site de

vídeos para tecnófilos iniciados, não buscouconvencer ninguém de que era importante, nem pretendeuser uma TV (nos moldes da TV aberta) na Internet. Falar do que não foi ou não é o YouTube é muito mais fácil do que definir o vasto

campo referente aoque ele é ou ainda pode vir a ser.

A dúvida do “vir a ser”veio com seus criadores, que visualizaram potenciais de uso e, por dúvida ou estratégia, deixaram o laissez faire aos

usuários, sem muitas restrições quanto ao uso. A falta de definição foi tão grande que no início da empresa, o slogan mudou constantemente e, até para explicar

para que o YouTubeservia (sim, no início foi necessário dar dicas dos possíveis

usos do YouTube), as ideias eram vagas. Destacavam a possibilidade de exibição

direta da câmera para a Internet, do filme de seus bichos de estimação e de publicar nos blogs a “produção” caseira. O slogan ressaltava o lado técnico: Your digital vídeo repository, como se fosse uma biblioteca das produções pessoais. O

que caracterizou a mudança para a explosão da expressão pessoal – broadcast yourself, foi a forma como os usuários se apropriaram do YouTube, mais

especificamente, as diversas formas.

Como um espelho da época cibercultural, o referido siterefletiu costumes até então sem espaço para fluir nos meios tradicionais: o pessoal, de uma forma global. A popularidade de alguns vídeos feitos por usuários “comuns”, a flexibilidade de assistir quando e onde quiser e a possibilidade, mesmo que flertando com a ilegalidade, de reexibição de programas midiáticos, a qualquer momento, agradou ao público.

No bojo das utilizações, aparece como compartilhador de vídeos pessoais entre as redes existentes. Essa utilização é a maior, mais fracionada e nada desprezível porçãodo YouTube, com vídeos com menos de 50 acessos e uma

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Outro uso é a postagem de comentários e temas também em redes sociais, mas com uma participação mais coletiva, uma abrangência maior queo âmbito amigável e familiar. Uma “causa” une usuários, o tema dos vídeos, e isso torna a rede social mais ampla.

Outra parcela busca efetuar uma crítica do que foi cimentado na mídia tradicional, ou busca desenvolver assuntos com uma roupagem jornalística do que é preterido pelos grandes meios. Temos então uma outra “imprensa”, crítica, informal, marginal, periférica, alternativa. Esta rede se une a temas e muito facilmente tem ramificações em volta do mundo.

A força dessa expressão em redes sociais ficou patente noinício de 2011 com os fatos políticos ocorridosem países ditatoriais do Oriente Médio.A preocupação em cortar o acesso aos sites de redes sociais era açãoprioritária por parte dos governos controladores, e sua manutenção pelos resistentes insurgentes.

Ainda numa forma de participação ativa de produção dos próprios vídeos, entram os tutoriais e todas as formas de explicações visuais: como fazer um exercício físico, uma operação cerebral, trocar uma bateria de lanterna, como fazer um reator nuclear doméstico ou abrir o seu netbook para um reparo interno.

Nada mais fácil e revolucionário que acompanhar uma receita em forma visual, dando mais vida, do que uma explanação textual sequenciada em etapas. Ainda em termos de produção, temos as composições artísticas, formas poético-visuais que buscam se expressar junto a esta nova oportunidade.

Mudando um pouco o modelo de atuação, existem as repostagens (reenvios) de programas televisivosipsis literis ou com acréscimos de produção

pessoal: a inserção de legendas feitas de forma colaborativa ou inserções de textos e falas alterando o conteúdo original. Esta parcela, de repostagem de produtos da mídia tradicional – séries televisivas, programas humorísticos, clipes de artistas, é responsável pelos grandes hits de acesso do YouTube.

O clipe lançado ao final de 2010 daspopstarsLady Gaga e Beyoncéfoi um

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famosos por interpretações hilárias, uma vez que cantam e dançam clipes em versõespersonalizadas e aparecem os novos comediantes.Essa talvez sejaa categoria mais original de toda nova expressão proporcionada pelo YouTube.

Da geração de comediantes atuais, a stand-up comedy brasileira surgiu

quase que exclusivamente pelo YouTube, depois absorvida pela televisão aberta.

Nomes como Danilo Gentili, “Os Barbichas”, “Terça Insana”, são reflexo do sucesso (originalmente de palco, mas potencializado pelo YouTube) obtido

através de milhares de visualizações.

Portanto, não há apenasum “negócio” no YouTube, mas vários. Não é

uma plataforma de produção de conteúdo, porém um agregador de conteúdo, liberando a criatividade do polo emissor6. No livro Everything is Miscelaneous:

The Power ofthe New Digital Disorder, David Weinberger(2007) define este novo

posicionamento de mercado como um “metanegócio”, que agarrauma informação, com certo valor, desenvolvida em um local, e apotencializa,criando novos valores e beneficiando tanto os criadores originais quanto este novo negócio. O YouTube

não detém nenhuma produtora, nem se arrisca em produção de conteúdo que pode dar certo ou errado.Obtém seus lucros com a disponibilização, tornando os conteúdos fáceis de serem localizados, assim comooseuuso.

Seguindo esta lógica, o YouTube não faz parte do negócio de vídeo, mas

de uma plataforma de acesso bem inteligente, que compartilha vídeos de forma ágil e descomplicada eesta facilidade atrai pessoas. Muitas delasatraem empresas interessadas em disseminar conteúdos, que atraem novas audiências. É o mercado da informação. O valor está na forma de acesso e uso compartilhado das buscas. Não é a produção de novos conteúdos, mas de uma compilação e exibição de conteúdos preexistentes de forma dinâmica, uma das características dos new media, como veremos mais adiante. Não foi à toa que a empresa

Google, maior sucesso deste exemplo, se interessou e comprou o YouTube: são

do mesmo ramo.

6Houve uma grande transformação no chamado “polo emissor”. De monopolista de massas passa para as

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1.1 Exemplos de sucessos no YouTube

Buscando exemplificar as categorias citadas anteriormente, analisamos algumas participações no YouTube. Destacamos, em maior parte, produções

brasileiras. A participação brasileira é destaque mundial, e,conforme mostraremos mais adiante no capítulo Pesquisa YouTube, se apresenta sempre entre os

maiores usuários de Internet e especificamente do YouTube. Podemos adiantar,

como uma das formas de classificação, que dentre os trinta e cinco vídeos mais vistos do YouTube.com.br, dezesseis são brasileiros. Vejamos o quadro abaixo,

segundo as informações do próprio YouTube, em 27 de fevereiro de 2011, às

17h.42min.:

Pos Título Usuário Acessos

2º. Pintinho Amarelinho Juptube 36.475.303

9º. Galinha Pintadinha Juptube 27.923.053

12º. A Baratinha Juptube 25.116.061

17º. Victor & Leo – Borboletá Victoreleo 22.808.533

18º. Justin Biba Programagalofrito 22.282.021

19º. As pererecas sapecas Paulozola 21.234.212

20º. Sorriso Maroto Apg83 21.166.073

22º. Relaxe Cacacheio 19.966.670

27º. D’Black sem dor Lukiinhas06 17.788.663

28º. Apariçoes em imagens Atormentador0com0br 17.600.432

29º. Sorriso Maroto Deckdisk 17.369.848

30º. Sapo não lava o pé Juptube 17.330.863

31º. Mulher melancia ensina creu Ig 17.300.494

32º. Kibe Loko Dança do Quadrado Antoniotabet 17.283.975

33º. Veja o que foi dito no JN Nadando29 17.128.929

35º. YouTube Marcolmonteiro 16.989.666

Quadro 1-Produção de vídeos mais vistos no YouTube brasileiro.

Fonte: Informação veiculada em meio eletrônico7

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São números expressivos, embora distantes das exibições globais. O vídeo mais exibido mundialmente até 04/03/2011 era o clipe de Justin Bieber, Baby ft. Ludacris, com 478.878.097 exibições.

O que se destaca na última posição do quadro acima, com mais de 16 milhões de acessos, é um exemplo do vídeo pessoal, mostrando as cenas do cotidiano doméstico. Um rapaz pede à suposta empregada da casa que fale www.youtube.com.br. O desenrolar é uma sequência de tentativas malfadadas

por parte da empregada em falar corretamente a frase solicitada, www se transforma em “blado blado blado” e Youtube em “iuutúbiu”, este último virando

um bordão dos usuários da Internet.

Figura4-Personagem conhecida como a Sônia do Iutubíu. Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico8

8Disponível em: <http://www.y

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O vídeo foi postado em 20 de abril de 2007 e atingiu a marca de 17.044.471 acessos no dia 01/03/2011. O que era inicialmente um vídeo para circular entre amigos e parentes, pelo teor cômico (neste caso sarcástico), virou sucesso nacional e também mundo afora. A página deste vídeo tem 1120 comentários de usuários. Ele contempla pelo menos 40 réplicas, ou seja, outros vídeos postados como resposta ou complemento a este, mas muitos são apenas repostagens do vídeo inicial, o que aumentaria em muito o número de acessos. A câmera é fixa e o vídeo tem 1’21”. Uma voz masculina aparentemente jovem, inicia o vídeo, pedindo: “Sônia, fala www.YouTube.com.br”.Tem início,então,as tentativas da

moça em falar corretamente como o rapaz, o que ela não consegue. A câmera continua enquadrada em Sônia, que, por vergonha, tenta sair de frente da câmera, mas o rapaz insiste para que ela continue tentando. É, ao mesmo tempo, engraçado e constrangedor. A avaliação deste vídeo aponta que 1081 pessoas gostaram do vídeo, mas 453 desaprovaram, o que confirma o constrangimento, não só da protagonista.

Em outro exemplo de vídeos caseiros, temos uma apresentação de piano, filmada pelo pai da formanda e divulgado entre amigos e parentes. É um exemplo bem particular.

O vídeo tem 3’48” de duração, apresenta câmera fixa, é filmado em alta definição e possui um insert no início da apresentação. O som é ambiente e

registra a apresentação da formanda de piano. As exibições alcançaram o número de 24, basicamente o círculo de parentes próximos e amigos da protagonista. Possui apenas dois comentários e foi postado no dia 01/12/2010. É possível notar na página do YouTube que os vídeos relacionados ao lado exibem

uma proximidade com a temática. Os mecanismos de busca, os famosos “robôs” internos do programa, tentam deixar os vídeos sugeridos o mais familiar possível. Essa estratégia faz com que os usuários, após verem o vídeo de interesse, se embrenhem pelas sugestões. Em vez de apenas uma visualização, esse número sobe para mais de cinco, como veremos na pesquisa YouTube. Os vídeos

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imagemà direita mostra uma atividade do “Colégio Notre Dame”, escola onde a protagonista estuda, um dado não revelado aqui nesta página. Pelo cruzamento de informações, por outros vídeos postados, essa sugestão tem um forte apelo pessoal.

Figura5-Vídeo de apresentação de piano. Os vídeos ao lado, à direita, também são de pouca exibição.

Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico9

A seguir, temos uma página pessoal de comentários,algorecorrente em

blogs e no YouTube: como fazer maquiagem. O público adolescente feminino

quer ver e aprender “dicas”para se automaquiar.

É possível percebermos que a própria personagem manipula a câmera. Ela inicia o vídeo com fotos prontas da maquiagem, faz um comentário introdutório e depois inicia o tutorial. Como podemos observar nafigura 06, o vídeo tem 16.087

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acessos. Todos os vídeos sugeridos (listados à direita) apresentam o mesmo tema, através da inserção de um anúncio comercial no canto superior direito, voltado ao público feminino, comoobjetos domésticos em oferta.

Figura 6-JuhJinx ensinando técnicas de maquiagem Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico10

Essa usuária possui uma página de relacionamento no YouTube, na

qualtodos os vídeos postados por ela podem ser encontrados. É uma opção de apresentação de um canal pessoal, onde todos os vídeos postados são listados, havendo umarelação de inscritos da página, que recebem mensagens em caso de atualização, apresentam dados pessoais e comentários complementares. É uma “opção Orkut”, dentro do próprio YouTube, de reunir interessados em um

tema.

10Disponível em: <http://www.

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A totalização de acessos dessa usuária chega a 132.923, de um total de 50 vídeos enviados (01/03/2011). Já pode ser considerada uma celebridade no meio. Conforme um comentário enviado por ela mesma, já divulga materiais e posta artigos em um site especializado, intituladowww.revistablush.com.br.

Figura 7- O “canal” pessoal de JuhJinx

Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico11

Fazendo análise de vídeos com crítica da mídia tradicional, temos dois exemplos interessantes. O primeiro se relaciona com as enchentes ocorridas no Rio de Janeiro no início de 2011.O fato provocou um comentário ácido de um usuário. Ele é da baixada fluminense, faz uma introdução e depois insere uma vinheta com uma música forte. Ele retorna para o comentário, na qual critica o governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e a presidente Dilma Rousseff, por não liberarem verbas para auxílio à região. Ele, então, reexibe parte de uma matéria jornalística do Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, denunciando o pouco uso e baixa liberação de verbas para prevenção de catástrofes, como

11Disponível em: <http://www.

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reforço à sua opinião. Também informa que o governo do estado aumentou o gasto com verbas de publicidade, com aprovação pela Assembleia Legislativa, como contraponto à falta de verbas assistenciais. E nosso analista continua com o tom crítico.

Figura8-SirLucio1 critica governos com relação às enchentes Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico12

Foram 87 visualizações.Pela fala exibida é o início de uma série de críticas. As sugestõese vídeos relacionados que estão listados à direita do vídeo principal apresentam outras notícias e críticas ligadas à temática. O primeiro sugerido traz o curioso título “João Revolta – Gostoso é morrer soterrado!”, sendo um convite à clicagem e continuidade em assistir os vídeos do YouTube. O vídeo no canto

inferior direito da figura 8 também chama a atenção e a curiosidade: “Tornado em Nova Iguaçu”.

Outro exemplo envolve relacionamento com telejornalismo, telerreportagem online, comentários ao vídeo, réplicas e tréplicas.No dia 29/04/2010, a Folha Online13, empresa do Grupo Folha,postou uma reportagem sobre o cancelamento de uma aparição da Banda Restart na Livraria Fnac da Avenida Paulista, em São

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Paulo, devido ao tumulto gerado pelo grande número de fãs. O cancelamento criou um clima de revolta entre os fãs, tanto os que tinham permissão para entrar quanto os que queriam entrar a qualquer custo. Na reportagem, as sonoras dos fãs (os depoimentos) mostraram algumas expressões que “pegaram” na Internet. Uma fã desabafou: “Acho uma puta falta de sacanagem com o pessoal aqui que tá passando mal” (sic), e outro fã, por nervosismo, adverte, ao final da reportagem: “...vou xingar no Twitter hoje, muito”. A videorreportagem é bem montada, traz um estilo “câmera realidade”, não apresentando locução em off,

deixandoos fatos desenrolarem por si.

Figura 9-Amatéria do cancelamento da banda Restart Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico14

Essa matéria gerou 41.131 visitas, mas não foi o fato jornalístico que chamou a atenção, mas o estilo dos entrevistados, já que existe um preconceito adolescente com os fãs do grupo musical Restart, e isso virou motivo de chacota na internet. Vários vídeos criticaram o rapaz que aparece na figura 9, da menina que disse da “falta de sacanagem” e da ameaçado último entrevistado de realizar

14Disponível em: <http://www.y

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uma crítica feroz no Twitter. Nas sugestões listadas à direita, na figura 9, aparecem alguns vídeos criados a partir dessa reportagem, incluindo “remix musicais”,reedições e montagens focando os erros das falas dos entrevistados.

Figura 10-Vídeo reeditado criticando a fala dos entrevistados Fonte: Informação veiculada em meio eletrônico15

15Disponível em: <http://www.

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Figura 11-Omesmo vídeo, criticando outro entrevistado, que ameaça criticar o descaso da banda Restart pelo Twitter. O número de exibições é de quase 1,65 milhão.

Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico16

Figura 12-Música lançada a partir da declaração dos entrevistados, um remix em estilo funk. Quase 200 mil visualizações.

Fonte: Informação veiculada em meio eletrônico17

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Figura 13- Vídeo apresentando a página do Orkut da entrevistada, com o link direto para acesso. Sem privacidade, para os 40.681 que acessaram.

Fonte: Informação veiculada em meio eletrônico18

No total,foram mais de 30 vídeos relacionados, muitos ultrapassando a marca do vídeo inicial, como o caso do fã que ficou ‘nervosíssimo’ com os comentários contra a banda.

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Figura 14-Fã muito nervoso contra críticas feitas à banda Restart. As sugestões de vídeos à direita indicam que o vídeo inicial foi um grande sucesso, pois são “sequências” do primeiro. São três sugestões de outros vídeos do mesmo usuário, agora já alinhado à “celebridade”.

Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico19

O fã identificado como Patrickribeiro17 fica muito alterado, gagueja nos comentários, fala algumas coisas sem sentido e cai no gosto dos internautas, não pela crítica, mas pela apresentação considerada hilária: 147.685 acessos.Oprotagonista continua a produzir vídeos no mesmo tom, aproveitando o sucesso.Só esse primeiro vídeo gerou na página do YouTube 1606 comentários,

muitos deles homofóbicos, apresentandoxingamentos pela forma comoele articula o texto, pela preferência pela banda, por ser “emo”.

A exposição desse assunto extrapolou para outros sites e blogs de redes sociais. Foi comentado em grande volume no Twitter (sendo considerado um dos assuntos mais comentados à época, com a marcação #putafaltadesacanagem), chegando ao maior comentário mundial, no dia 04/05/2010. Notamos a velocidade que o assunto se espalha. A matéria que originou todo esse imbróglio interneteiro

19Disponível em: <http://www.

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foi postada no dia 29/04/2010, e cinco dias depoisfoi considerada o Top Trending Topics, ou seja, assunto mais comentado/citado do dia. Gerou páginas no Orkut e

no Facebook, com apresentação de notas de apoio e ódioao Restart, página

sobre a “falta de sacanagem”, “vou xingar no Twitter”, entre outras.

Na categoria tutorial, os mais variados exemplos podem ser citados, inclusive o das dicas de maquiagem, destacados nos vlogs pessoais de amplo

alcance. Escolhemos aqui uma apresentação mais científica e que interessa auma faixa etária mais avançada, envolvendoa construção de painéis fotovoltaicos para instalação em casa. O vídeo foi postado por um acadêmico americano, emostra o passo a passo para montar o painel, fazer as conexões, instalação e medição do equipamento. Este material é altamente detalhado, totalizando dezoito partes, com duração de mais de três horas de instruções no total.

Figura 15-Vídeo explicativo de como construir painéis solares fotovoltaicos, dividido em dezoito partes.

Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico20

20Disponível em: <http://www.

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O acadêmico deixa claro no início do primeiro vídeo apresentará todas as etapas, ilustradamente, para que os usuários/espectadores consigam fazer seus próprios painéis solares. O vídeo possui trilha sonora, boa edição e inclusão de

inserts, como demonstrado na figura 15. Robert Smith, o empreendedor deste

vídeo, tem uma visualização de 151.694 exibições na primeira parte; na décima oitava parte, o número de exibições cai para pouco mais de 17,5 mil.

Figura 16-Tutorial em sua décima oitava parte. Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico21

Na página da última parte do tutorial podemos notar o anúnciocomercial,em destaque no canto superior direito. Ele é bem específico, voltado ao assunto em pauta. Assim como a primeira sugestão, logo abaixo do anúncio, em um fundo cinza, elese destaca dos demais que se seguem. É um vídeo emrealce,ou

seja,possui uma exibição considerável – 210.304 exibições -sendo considerado um “puxador de visualizações” pelo YouTube e, consequentemente, possibilita

21Disponível em: http://www.

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mais visualizações de anúncios em suas páginas, caso o espectador/usuário clique nessa sugestão em posição de destaque.

Ainda na categoria tutorial, temos a apresentação de como fazer um bolo de cenoura, que, segundo os comentários da página, está testado e aprovado pelas usuárias.

Figura 17- Tutorial para se fazer um bolo de cenoura Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico22

O vídeo de ndfernanda tem 7’10”, com uma vinheta de abertura, de aproximadamente 01 minuto, na qual ela divulga seu blog. A imagem é de qualidade baixa, gravado em uma extensão de arquivo (.wmv) pouco recomendável para o YouTube, pois é “pesada para baixar” no computador.O

áudio é deficiente, nãoapresentando noções de enquadramento, pois percebemos que a câmera é posicionada no canto da pia para mostrar o processo, sem se preocupar com tomadas mostrando o rosto da cozinheira.

22Disponível em:<http://www.

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Isso tudo nosrevelaque a usuária não possui técnicas de filmagem, apenas se preocupa em mostrar as etapas para se fazer um bolo de cenoura, cujoobjetivo é cumprido. Possui 559 exibições, com alto número de vídeos postados pela usuária: 150.

Figura 18-Omundo de Fernanda: maquiagem, culinária e artes domésticas. Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico23

A página pessoal de Fernanda mostra vídeos sobre maquiagem, culinária e desenvolvimento de pequenas atividades artísticas em casa. Para compensar a falta de visualização do rosto da protagonista, no vídeo-receita de bolo de cenoura, a imagem de fundo do canal é uma foto enorme dela, totalmente produzida. Segundo informações postadas, ela é uma empresáriaresidente em Marília, interior de São Paulo, e gosta de culinária e maquiagem. Com esseapproach, tem em seu “canal” 23.303 exibições.Os vídeos postados por ela

chegam a 86.220 visualizações (uma média de 574,8 exibições por vídeo postado),eos comentários chegam a 1014. Destacamos um dos comentários de Fernanda na página do canal: “Amoooo todas e todos que me assistem!!” (sic).

23Disponível em: <http://www.

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Éuma celebridade para os 882 inscritos e os 1107 amigos cadastrados no canal pessoal do YouTube.

Na categoria de produções culturais e composições artísticas, nosso exemplo é uma produção brasileira que venceu um concurso internacional. A partir de uma fotografia de pássaros nos fios dos postes de iluminação pública, publicada no jornal “Estado”, o músico e publicitário Jarbas Agnelli compôs uma música.

Figura 19-Vídeo musicalizando pássaros nos fios elétricos. Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico24

Jarbas Agnelli explica que os pássaros empilhados viraram acordes e os solitários, notas no teclado. Ele estava desenvolvendo a partitura dos pássaros quando resolveu entrar em contato com Paulo, que enviou a foto integral. Somente após o contato é que a composição foi totalmente concluída. O repórter fotográfico é Paulo Pinto, 49 anos, do jornal “Estado”. O compositor é Jarbas Agnelli, 46 anos,um premiado publicitário que já trabalhou na W/Brasil e hoje é proprietário da AD Studio.

24Disponível em: <http://www.

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Como publicitário, Agnelli domina as técnicas de produção televisual e fez uma espécie de making off, inserindo notas musicais sobre os pássaros

empoleirados nos fios. É de excelente qualidade final, tanto visual quanto musical. Esse esmero foi reconhecido mundialmente. Foi selecionado para o Top 25 videos YouTube Play Guggenheim 2010.

Figura 20-Apresentaçãodo vídeono Guggenheim Top 25. Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico25

Na cerimônia de anúncio, em 21/10/2010, dos vencedores da primeira edição do “YouTube Play – Uma Bienal de Vídeo Criativo”, na primeira bienal de

vídeos online organizada pelo Museu Guggenheim de Nova Iorque, o filme Birds on the Wires saiu-se vencedor, com direito a apresentação ao vivo junto com a

NONAMÉ Ensemble da Julliard School.Foram mais de 23 mil vídeos de 91 países submetidos ao concurso. O júri selecionou os 25 finalistas. Birds on the Wires foi

o único vídeo brasileiro selecionado.

25Disponível em: <http://www.

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Somente após a premiação é que houve interesse da imprensa dos canais de TV abertos e jornais pelo assunto.

No caminho inverso, uma produção televisivo-cinematográfica virou sucesso na rede,sendouma das primeiras “explosões de acesso” do YouTube no

Brasil.Chamou a atenção dos diretores da empresa para o potencial de crescimento do segmento no Brasil. O vídeo em questão é denominado “Tapa na pantera”. Postado em 01/08/2006 pelo usuário rafacine, possui quase 4,5 milhões de acessos26. Não chega a ser hoje um enorme fenômeno de visualizações, mas foi um estrondoso sucesso quando lançado.

Figura 21- Maria Alice Vergueiro atuando: o sucesso não foi aproveitado por ela, que afirmou não usar computador.

Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico27

26Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=6rMloiFmSbw>. Acesso em 04 mar. 2011. 27 Disponível em: <http://www.

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No vídeo, a atriz Maria Alice Vergueiro está em uma poltrona, numa ambientação de uma sala, discorrendo sobre as virtudes e problemas em fumar maconha. A personagem se apresenta alterada e as tiradas construídas no desenvolvimento do texto são hilárias. Uma excelente interpretação, construção textual e técnica televisual.

Tapa na Pantera é um filme de curta-metragem brasileiro de ficção, produzidono início de 2006 e dirigido por Esmir Filho, Mariana Bastos e Rafael Gomes.A produção do filme é da Substância Filmes/Ioiô Filmes, a edição de Rafael Gomes e a fotografia de Esmir Filho e Mariana Bastos.

O mencionado filme significoupara muitos brasileiros o primeiro contato com o YouTube, à época com menos de um ano. Possui uma edição rápida, com

cortes muito bem ajustados ao timming da interpretação da atriz. É o tipo de

edição que “segue” o ator, de forma dinâmica e inteligente. Em um só cenário, com praticamente um enquadramento, apresenta um movimento e não cansa quem assiste.

Muitos concluíram que se tratava de um depoimento real; acharam que não era interpretação. Discussões do que “pode e não pode” no YouTube começaram

a surgir na época. O próprio vídeo foi postado sem autorização dos produtores, que ameaçaram processar os responsáveis, mas com a enorme visualização do filme, os produtores decidiram não entrar em questões jurídicas e aproveitaram o momento produzindo outras peças com a atriz.

Na sequência produzida, a atriz convidava as pessoas a irem a seu Orkut, sem, entretanto, dar o endereço, outra tirada irônica. Mais tarde ela afirmou que não tinha computador em casa, e não sabia “mexer com isso”. Foi uma pá de cal na promissora carreira via internet. Tapa na Pantera ganhou um verbete no Wikipédia, e justifica-se por serum fato histórico brasileiro.

Como destaque dos stand-up comedies, apresentamos aqui umtrechodo

Programa do Jô, da Rede Globo de Televisão, em que o grupo teatral “Os Melhores do Mundo”foi entrevistado. Elesfizeram uma interpretação deuma parte do show elaborado na época, cujoquadro era denominado “um sketch

motivacional”: “Este é Joseph Klimber”. É também um dos vídeos pioneiros no

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stand-upbrasileiros na Internet. Como podemos perceber, o início dessa trajetória aqui

citada foi na TV aberta, juntamente com as apresentações teatrais, centradas quase que exclusivamente na cidade de São Paulo. Esse tema, humor/comédia inclusive, é um dos destaques apresentados no capítulo da pesquisa.

O sketch foi visto, reeditado, repostado e comentado em grande escala. Foi

um dos eventos que chamou à época a atenção da direção da Rede Globo de Televisão para a postagem de vídeos na Internet de forma estruturada.

Figura 22- A troupe Os melhores do Mundo interpretando o sketch Este é Joseph

Klimber, em setembro de 2006. Sucesso imediato. Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico28

Representando os clipes, temos o “campeão de audiência” Luan Santana. O cantor divulga através do usuário luansantanaoficial o lançamento da música “Você não sabe o que é amor”, considerada um hit no segmento sertanejo

universitário, que é sucesso entre adolescentes e jovens.

28Disponível em: <http://www.

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Figura 23- Luan Santana e seu estilo sertanejo universitário. Explorando as novas tecnologias e sucesso de exibições.

Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico29

A impressionante marca de quase 17 milhões de acessos mostra a força do cantor e do estilo musical genuinamente brasileiro. Não há na realidade um clipe, apenas uma imagem estática durante os quase quatro minutos da música. As pessoas apenas “ouvem” o clipe. Para uma produção com tanto acesso acrescido do sucesso da carreira do cantor, poderia haver mais investimento nas produções dos clipes. O que se percebe, é uma completa exploração do potencial do meio, sem nenhuma preocupação com o desenvolvimento artístico-cultural, nem da sociedade, tampouco do cantor.

Esses exemplos servem de base para os comentários mais teóricos que se seguem, a respeito da estrutura e conteúdo do YouTube.

29Disponível em: <http://www.

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1.2YouTube e a mutabilidade: uma aventura, um abalo à segurança

Em A Televisão levada a sério, Arlindo Machado se debruça sobre os

mais frequentesgêneros televisivos: as formas fundadas no diálogo, as narrativas seriadas, o telejornal, as transmissões ao vivo, a poesia televisual, o videoclipe e outras formas de expressões musicais. A ideia, segundo ele, é demonstrara variabilidade da televisão.Oferece amplo leque de possibilidades aos realizadores e demanda diferentes modalidades de recepção, com distintos graus de participação, credibilidade, legibilidade e suspensão de descrença.

A TV se apresenta, apesar de todo conhecimento gerado sobre este meio, como um objeto instável, em um fluxo constante. O YouTube, como objeto de

estudo recém-nascido, também traz esta característica ainda de forma mais contundente como “caldeirão” instável, marcado por mudanças constantes em seu formato e apresentação, como também em seu conteúdo. Estima-se hoje um arquivo de 100 bilhões de vídeos. O caminho é distinto do televisivoe as dificuldades de análise aumentam.

O YouTube é potencializador das ideias e produções que disseminam e

mantêm a indústria cultural, tornando-se forte meio de influência, ao mesmo tempo em que é disseminador de produções individuais.Apresenta ao mesmo tempo dois fluxos em direções opostas. Populariza produtos da mídia comercial, que em muito ameaçam os meios tradicionais por seu poder de convencimento e adesão à marca; e concomitantementepermite o surgimento decríticas e paródias ao sistema, possibilitando o surgimento de novas forças ideológicas.

Um ensaio de Vattimo(1992) chama a atenção não tanto para a noção de diferençaexistenteentre TV e YouTube apenas, mas para a ideia de mundo, mais

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Essas visões de mundo e subjetividades fazem parte de nossa sociedade atual. E para Vattimo essas vivências atuais são mediadas, geradas a partir dos meios de comunicação. A modernidade acaba quando já não é possível falar da história como qualquer coisa de unitário, pois a história como curso unitário, como escreveu Benjamin(1992), não passade uma representação do passado (construída pelas classes dominantes). Na sociedade contemporânea, a perda do sentido da história como realização da civilização deixa lugar a uma sociedade mais transparente, mas ao mesmo tempo mais caótica e confusa.

Neste caso, Vattimo vê uma possibilidade de emancipação. Claro que a tomada de palavra das minorias, das culturas e subculturas na Internet e destacadamente no YouTube não correspondeu a uma verdadeira emancipação

política. O poder econômico ainda está centralizado, mas as exigências do mercado já pressionam em direção ao alargamento da oferta de informação. Se antes uma realidade racionalmente ordenada poderia ser entendida, segundo Nietzsche (1992), como um mito para dar-nos segurança, agora, para Vattimo (1992, p. 15), a ideia de liberdadebaseia-se em conceitos como “[...]a oscilação, a pluralidade, a “erosão do princípio de realidade.’” Não é, por exemplo, o fim da TV como conhecemos e do poder irradiado por ela, mas o surgimento de outras forças concorrendo com ela. E, talvez, posteriormente subjugando-a.

Há ênfase às diferenças.O esmaecimento de uma racionalidade central gera desorientação e oreforço de “dialetos” localizados, como podemos evidenciá-losno YouTube, através de malhas e conexões sociais. O sentido emancipador da

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Isto tudo é só uma possibilidade filosófica entre o poder excessivo, a massificação dos media e a nossa própria confusão perante este novo cenário.

Mas, como Vattimo(1992, p. 20)escreve, é “[...]uma oportunidade para uma nova maneira de sermos (talvez finalmente) humanos.” O que originalmente se apresenta como insegurança pode ser uma âncora.

O YouTube contribui para esta “desorientação”, pois altera o equilíbrio no

núcleo de nossa sociedade, o controle mediático. Como escreve Vattimo, o advento dos media provocauma mobilidade e superficialidade da experiência que deixa o lugar a uma noção “débil” de realidade, no sentido de uma realidade que perde a sua força de constrangimento, em prol da ambiguidade e pluralidade, e o autor torce por uma nova liberdade.

Essa torcida pela liberdade é compartilhada, a princípio, com o pensamento de Pierre Lévy (1999). Quanto mais pessoas tiverem acesso à Internet e consequentemente ao ciberespaço, mais se desenvolverão novas formas de "sociabilidade", maior será o grau de apropriação das informações por diferentes atores, que poderão modificá-las segundo seus próprios valores (culturais, estéticos), difundindo-as por sua vez de uma nova maneira. Por isso, para Lévy, o fato de o ciberespaço mundializar o consumo (de produtos e de informação), elenão é sinônimo de dominação.

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1.3.O YouTube como new media

Discutem-se muito as possibilidades de comunicaçãodas novas configurações mediáticas. Há, com certeza, uma descentralização nunca vista antes nos meios considerados tradicionais. Nesta capacidade de múltiplos desdobramentos, alguns novos meios se destacam, aproveitando as formas comunicacionais proporcionadas no ambiente cibercultural. Se antes havia a denominação de media, temos agora os new media, onde atualmente o YouTube

desponta como destaque mediático mundial. Alguns estudiosos consideram dois campos distintos, mas verificaremos que não há como dissociar o estudo dos new media e os estudos da cibercultura.

Há uma forte interdependência, e podemos dizer que o foco analisado (o objeto em si) pode diferir, mas tanto os estudos dos new media quanto análises

ciberculturais se imbricam para definir estes novos meios. As possibilidades de participação – resposta, comentário, reedição, novas mensagens – são mais numerosas, ao mesmo tempo em que há a inserção de novos mecanismos de controle – tags, direcionadores, ambientes predefinidos. Por esta importância de

uma nova configuração mediática, devemos analisar estes conceitos de media

tradicional e new media, como contribuição para futuros estudos.

No conceito inicial de cibercultura, a tecnologia da informação foi tida como uma “nova esperança”, um “novo futuro”, e daí discursos e narrativas decorrentes dessa tecnologia. Análises apontam para uma tipologia dos conceitos existentes e, pelos pontos de vista abordados nos estudos, podemos dizer que asnoções de cibercultura se apresentam ligadas a: forma utópica, segundo Andy Hawke Pierre Lévy; conceitos de informação – sociedade da informação Morse, Manovich; conceitos antropológicos – práticas culturais (Escobar, Hakken) e epistemológicos – reflexão dos new media (Manovich novamente, Lister).

A cibercultura, como um projeto utópico, é o conceito mais antigo e o mais limitado. Refere-se à subcultura hacker e aos primeiros usuários em rede, na

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de distribuição e novas formas de conhecimento emergem e, mais do que transformar as maneiras de manipulação da informação, modificam a sociedade. O conceito de cibercultura já avança para além do conceito dos new media: “uma

série de técnicas (material e intelectual), hábitos, atitudes, formas de pensar e valores que se desenvolvem mutuamente com o ciberespaço (LÉVY, 1999), trazendo uma nova forma de universalidade, sem totalidade.O referido autorvisualiza o futuro ligando ao então estágio tecnológico digital. Uma visão de futuro para analisar o reflexo do presente. O que chama a atenção da produção de Lévy à época é que ele detecta as mudanças sociais e culturais propiciadas pelas novas tecnologias em curso. Esta análise faz oseu texto se destacar como representativo.

A cibercultura como interface da sociedade de informação faz correspondência com o pensamento de Lévy, no que tange a um fenômeno emergente, mas se apresenta menos utópica, menos ‘marginal’, e se depara com análises das estruturas e dos interesses capitalistas. Ao mesmo tempo, questiona os modelos de distribuição e centralização de informação, visualizando na tecnologia digital novas aberturas em relação a este modelo. O uso cultural da tecnologia e da informação digital gera uma interface entre cultura e tecnologia. Morse (1998)define aí o termo ciberculturae enfatiza o papel das visualidades da televisão e da sociedade pós-TV. Uma visão mais abrangente que a de Manovich, que explora o processo da informação mediada por computador, criando uma metamídia.

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Figura 2- A “divisão do bolo” no mercado americano de streaming de vídeo. No  Brasil o fato é mais marcante, como veremos adiante
Figura 9-Amatéria do cancelamento da banda Restart  Fonte:Informação veiculada em meio eletrônico 14
Figura 10-Vídeo reeditado criticando a fala dos entrevistados  Fonte: Informação veiculada em meio eletrônico 15
Figura 12-Música lançada a partir da declaração dos entrevistados, um remix em  estilo funk
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Referências

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