UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ - UFC
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA - CAEN
MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA - MPE
SEBASTIÃO REGIS DIAS XEREZ
O IMPACTO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO SOBRE AS VARIÁVEIS QUE
AFETAM NO BEM-ESTAR SOCIAL EM MUNICÍPIOS BRASILEIROS
FORTALEZA
SEBASTIÃO REGIS DIAS XEREZ
O IMPACTO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO SOBRE AS VARIÁVEIS QUE
AFETAM NO BEM-ESTAR SOCIAL EM MUNICÍPIOS BRASILEIROS
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Economia – Mestrado Profissional – da Universidade Federal do Ceará - UFC, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Economia. Área de Concentração: Economia do Setor Público.
Orientador: Prof. Dr. Frederico Augusto Gomes de Alenca
FORTALEZA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará
Biblioteca de Pós Graduação em Economia - CAEN
X6i Xerez, Sebastião Regis Dias
O impacto do orçamento participativo sobre as variáveis que afetam no bem-estar social nos municípios brasileiros / Sebastião Regis Dias Xerez. – 2015.
48p. il. color., enc. ; 30 cm.
Dissertação ( mestrado profissional ) – Programa de Pós Graduação em Economia, CAEN, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2015.
Orientador: Prof. Dr. Frederico Augusto Gomes de Alencar 1. Orçamento Participativo I. Título.
SEBASTIÃO REGIS DIAS XEREZ
O IMPACTO DO ORÇAMENTO PARTICIPATIVO SOBRE AS VARIÁVEIS QUE
AFETAM NO BEM-ESTAR SOCIAL EM MUNICÍPIOS BRASILEIROS
Dissertação submetida à Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Economia, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Economia. Área de concentração: Economia do Setor Público.
Aprovada em: 31 de março de 2015.
BANCA EXAMINADORA
__________________________________________________ Prof. Dr. Frederico Augusto Gomes de Alencar (Orientador)
Universidade Federal do Ceará – UFC
__________________________________________________ Prof. Dr. Maurício Benegas
Universidade Federal do Ceará – UFC
__________________________________________________ Dr. Marcelo Lettieri Siqueira
AGRADECIMENTOS
Agradeço de forma especial ao nosso Senhor Jesus Cristo pela oportunidade de realizar essa
pós-graduação e pela vida. Agradeço de forma saudosa aos meus pais (in memorian), que
sempre nos ensinaram que é através do estudo que se constrói uma vida digna.
À minha familia pelo estímulo desde o início.
Ao pessoal do CAEN, através dos seus funcionários que sempre me atenderam com solicitude
e atenção. Aos meus professores o meu muito obrigado de modo especial ao meu orientador
Prof. Dr. Frederico Augusto Gomes de Alencar pelo profissionalismo, conhecimento e
orientação firme que teve no decorrer deste trabalho.
Aos meus colegas de curso por tantos momentos agradáveis que compartilhamos, aos amigos
Jefferson Amaral e Weligton Gomes que contribuíram para que este trabalho se tornasse
realidade.
“A transparência gera eficácia”.
(Marcos Aurélio de Farias Mello – Ministro do
RESUMO
O presente trabalho é resultado de um estudo o qual se propõe observar atentamente a
implementação do Orçamento Participativo e seu respectivo impacto sobre o Bem-Estar
Social nos municipios que adotaram essa politíca. A metodologia empregada na avaliação dos
dados faz uso do método Diferenças em Diferenças com dados em painel. Construi-se um
banco de dados com informações fornecidas pelo FINBRA, abrangendo um período que vai
de 2003 a 2012. Para avaliar o impacto do orçamento participativo, foram utilizados dados
referentes aos gastos municipais com educação, saúde, cultura, habitação, urbanismo,
desporto, lazer e assistência social. Os resultados obtidos através da estimação do modelo para
os gastos per capitas dos municípios que implantaram o Orçamento Participativo, apontam
que houve um impacto significativo e positivo sobre o Bem-Estar Social na qualidade de vida
de seus respectivos cidadãos, incluindo no mesmo o município de Fortaleza.
Palavras-chave: Bem-Estar Social. Gastos Municipais. Orçamento Participativo. Qualidade
ABSTRACT
This work is a result of a study which aims to closely observe the implementation of the
participatory budgeting and its respective impact over the Social Welfare in the municipalities
which have adopted such policy. The approach used in the data evaluation makes use of the
method differences-in-differences (DD) with panel data. It was built up a database with
information provided by FINBRA, covering a period ranging from 2003 to 2012. To assess
the impact of the variables to the analysis of this study, we used data related to the municipal
spending on education, health, culture, housing, urbanism, sport, leisure and social assistance.
The results obtained from the estimation for the per capita expenditure model for the
municipalities which implemented the Participatory Budget, show that there was a significant
and positive impact on social welfare in the quality of life of their citizens including, in the
above mentioned model, the city of Fortaleza.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Mapa de Fortaleza... 28
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Índice de Bem-Estar Social entre os anos 1992 e 2012... 22
Gráfico 2 - IDHM – Fortaleza... 25
Gráfico 3 - Gastos com Educação por Municípios nos anos de 2003 a 2012... 32
Gráfico 4 - Gastos com Saúde por Municípios nos anos de 2003 a 2012... 33
Gráfico 5 - Gastos com Cultura por Municípios nos anos de 2003 a 2012... 33
Gráfico 6 - Gastos com Habitação por Municípios nos anos de 2003 a 2012... 34
Gráfico 7 - Gastos com Urbanismo por Municípios nos anos de 2003 a 2012... 34
Gráfico 8 - Gastos com Desporto e Lazer por Municípios nos anos de 2003 a 2012... 35
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Lista de Unidades Federativas do Brasil por IDH... 23
Quadro 2 - Síntese do Método Diferenças em Diferenças... 37
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Estatísticas Descritivas das variáveis... 31
Tabela 2 - Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Educação Per
Capita... 40
Tabela 3 - Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Saúde Per Capita... 41
Tabela 4 - Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Urbanismo Per
Capita... 41
Tabela 5 - Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Cultura Per
Capita... 41
Tabela 6 - Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Habitação Per
Capita... 42
Tabela 7 - Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Desporto e Lazer
Per Capita... 42
Tabela 8 - Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Assistência Social
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO... 12
1.1 Orçamento Participativo: um mecanismo de efetivação da cidadania... 12
1.2 Objetivos do trabalho... 13
1.2.1 Geral... 13
1.2.2 Específicos... 13
2 REVISÃO DA LITERATURA... 14
2.1 Origem... 14
2.2 Teoria Liberal... 14
2.3 Teoria Marxista... 15
2.4 Keynesianismo – Teoria Econômica consolidada no século XX... 15
2.5 O Estado de Bem-Estar Social – Welfare State... 16
2.6 O Estado do Bem-Estar Social no Brasil... 17
2.7 O Bem-Estar Social... 20
2.8 Índice de Desenvolvimento Humano - IDH... 23
2.9 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M (Fortaleza)... 24
3 ORÇAMENTO PARTICIPATIVO... 26
3.1 O surgimento do Orçamento Participativo no Brasil... 26
3.2 O surgimento do Orçamento Participativo em Porto Alegre... 27
3.3 A implantação de Orçamento Participativo em Fortaleza... 28
4 METODOLOGIA... 31
4.1 Base de dados... 31
4.2 Análise descritiva dos dados... 31
4.3 Método da Diferenças-em-Diferenças (DID)... 36
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS... 40
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 44
1 INTRODUÇÃO
1.1 Orçamento Participativo: um mecanismo de efetivação da cidadania
O presente trabalho de dissertação tenta mostrar as diversas etapas pelas quais
passaram os indivíduos em busca de uma melhor qualidade de vida, onde os cidadãos
exercem ativamente influência na tomada de decisões acerca dos gastos públicos.
Quando se tenta explicar a interpretação do Orçamento Participativo (OP), esta se
dá de forma bastante diversificada, tendo contribuição literária de inúmeros autores.
Navarro denominou o Orçamento Participativo de uma concepção afirmativa de
democracia e caracterizou-o como uma prática que permite “...os grupos sociais
marginalizados adquirem as mesmas capacidades e direitos que aqueles localizados no topo
[da estrutura social] ...” (NAVARRO, 1998).
Já Santos (1998) denominou o Orçamento Participativo como um mecanismo de
gestão conjunta dos recursos públicos por meios de decisões compartilhadas sobre a
distribuição dos recursos monetários.
Em todos os casos, os autores conectam os seguintes elementos: um aumento da
participação popular na decisão sobre a distribuição dos recursos monetários e como também
um aumento do acesso a recursos públicos e direitos.
Neste caso, a referida dissertação vai analisar a trajetória do orçamento
participativo, suas normas e leis adotadas e vivenciadas no decorrer dos tempos, as quais
objetivam minimizar as carências e necessidades da sociedade, em busca sempre do
Bem-Estar Social. Daí a necessidade de investigar o papel das relações entre Poder Público e
sociedade civil, identificando os obstáculos que estejam dificultando essa sintonia para que as
políticas adotadas sejam eficientes.
Pretende-se, também, identificar as possibilidades de melhorias na efetivação de
políticas públicas mediante a participação na elaboração da proposta orçamentária dos
municípios que adotaram essa política.
Neste sentido, a população passaria a ser corresponsável pela elaboração e
execução da lei orçamentária anual – LOA, bem como, pela a destinação das políticas
públicas.
Neste contexto, cabe reforçar a justificativa deste trabalho de reconhecer que o
Orçamento Participativo é um dispositivo que permite a inclusão social e a cidadania,
Focalizamos nosso trabalho na análise dos impactos do Orçamento Participativo
sobre as variáveis que compõem o Bem-Estar Social, quais sejam, saúde, educação, cultura,
desporto e lazer, urbanismo, habitação e assistência social. Assim, busca-se respostas para a
pergunta: houve realmente impacto sobre o Bem-Estar Social?
1.2 Objetivos do trabalho
1.2.1 Geral
Neste contexto o objetivo primordial deste trabalho é de demonstrar qual o
impacto que o Orçamento Participativo causa sobre as variáveis que afetam o Bem-Estar
Social em município brasileiros.
1.2.2 Específicos
Identificar a aplicação do Orçamento Participativo na cidade de Fortaleza;
Pesquisar as variáveis que indicam o Bem-Estar Social;
Avaliar o impacto do O.P. sobre o Bem-Estar Social.
Para alcançar os objetivos propostos utilizou-se como recurso metodológico a
construção de um banco de dados fornecido pelo FINBRA, abrangendo um período de 2003 a
2012, referentes aos gastos com educação, saúde, cultura, habitação, urbanismo, desporto e
lazer e assistência social, bem como fez uso da metodologia das diferenças em diferenças para
avaliar o impacto da implantação desta política nos municípios.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Origem
A análise dos direitos à qualidade de vida e à liberdade de ir e vir, bem como da
proteção destes pelo Estado, demanda o estudo do retrospecto histórico de tais direitos, o qual
remota ao século XVII e segue até os dias atuais. Duas correntes merecem destaque no
decorrer da história: a Teoria Liberal e a Teoria Marxista. Além destas existem as teorias que
são tradicionais na economia, como, por exemplo, o Keynesianismo cuja teoria econômica foi
consolidada no século XX.
2.2 Teoria Liberal
Com o objetivo de derrubar o poder absoluto das monarquias na Europa baseado
no direito divino, surge por volta do séculos XVII e XVIII, a Teoria Liberal, baseada no
jusnaturalismo, corrente filosófica fundamentada na existência do direito natural.
De acordo com Santiago (2014) merecem destaques dois movimentos que
provocaram a derrocada do absolutismo como forma de governo; a Revolução Gloriosa,
ocorrida na Inglaterra entre os anos de 1688 à 1689, e a Revolução Francesa, iniciada em
1789, com a queda da Bastilha, e finda com a ascensão de Napoleão ao poder. Após essas
duas revoluções burguesas, dá-se inicio a uma nova realidade, na qual a organização social
passa a ser baseada em um conjunto de ideias oriundas da ordem capitalista, da propriedade e
da liberdade.
O autor, também destaca que, um dos mais conhecidos entusiastas da doutrina
liberal foi Adam Smith, que enaltecia as liberdades individuais, mas não desqualificava o
Estado como representante do bem comum.
O papel do liberalismo era limitar a esfera de atuação do Estado, pregando que
este somente deveria intervir para garantir a proteção dos indivíduos e da propriedade privada,
bem como cumprir os contratos. A teoria liberalista argumenta que a economia deve se
regular por conta própria.
O liberalismo clássico, prevaleceu nas ações governamentais dos países mais
desenvolvidos durante todo século XIX, estendendo-se até o início do século XX. Era a
doutrina preferida dos grandes economistas.
O modelo fez sucesso e sustentou o desenvolvimento do capitalismo no mundo. Sua aplicação trouxe progresso até que encontrou seu limite, em certo ponto, justamente pela superprodução, a qual resultou a uma imensa crise em 1929, com a quebra da bolsa de New York. A crise se espalhou pelos países capitalistas, que buscavam uma forma de superá-la.
2.3 Teoria Marxista
Por volta do século XIX, surge a Teoria Marxista, defendida por Karl Heinch
Marx, em oposição a teoria liberal, a qual defendia a ampla participação do Estado na
regulamentação da economia.
Segundo Marx o Estado não é o ideal de moral ou de razão, mas uma força
externa da sociedade que se opõe acima dela não para conciliar interesse, mas para garantir a
dominação de uma classe por outra e a manutenção da propriedade. Segundo Martins (2014) a
influência das ideias de Marx atingiram todo mundo, culminando com a vitória dos
bolcheviques, na Rússia, em 1917.
Após a Segunda Guerra Mundial, o marxismo teve um crescimento considerável,
principalmente em países do terceiro mundo, onde se constituiu como ponto de referência
para os movimentos de libertação nacional.
2.4 Keynesianismo – Teoria Econômica consolidada no século XX
No inicio da década de 1930, em meio ao período de depressão, o economista
inglês John Maynard Keynes propôs uma nova organização política/econômica. Este
economista defende o Estado como agente indispensável na economia, deixando de lado as
ideias do livre mercado, para argumentar que a economia não é autoregulada e que o Estado
possui o dever de conceder benefícios sociais para que a população tenha um padrão de vida
melhor. As ideias de Keynes não foram em defesa da estatização econômica, mas, sim, da
participação do Estado em segmentos que não podem ser atendidos pela iniciativa privada
(GASPARETO JUNIOR, 2014).
O autor também discute que com o término da Segunda Grande Guerra o
Keynesianismo passou a substituir o liberalismo uma vez que vários países, especialmente os
europeus, os quais se encontravam abalados economicamente, adotaram esse tipo de
organização política e econômica que se tornou conhecida como Welfare State ( Estado de
2.5 O Estado de Bem-Estar Social – Welfare State
O termo Welfare State, ou Estado do Bem-Estar Social, surgiu pela primeira vez
na Inglaterra na de década de 40, em plena Segunda Guerra Mundial.
Para Esping Andersen1 (1990), o marco inicial do Welfare State se dar a partir de 1945, como resultado da grande ruptura no desenho das políticas sociais no ocidente
ocasionada pela Grande Guerra, e a sua origem esta relacionado com o chamado Plano
Beveridge, relatório este amplamente discutido desde 1942 e implantado efetivamente em
1946. Este documento teve repercussão em vários países, os quais passaram a organizar uma
política de segurança social e estava baseado em três princípios:
1. Criar uma política de apoio às famílias;
2. Oferecer uma política de saúde integrada, que tinha como base a criação do
Sistema Nacional de Saúde em 1946;
3. Manter a economia em estado de pleno emprego.
Em resumo, pode-se afirmar que o Estado de Bem-Estar Social pode ser definido
como uma organização ou um sistema político que vê o Estado como protetor e defensor
social e também organizador da economia, ou seja, o poder do Estado é usado
deliberativamente com objetivos de alterar as direções para os quais a sociedade é levada
pelas forças de mercado.
O poder do Estado é aplicado basicamente em três sentidos:
1. Assegurar as famílias a uma renda mínima;
2. Diminuir a insegurança dos cidadãos e das famílias ao fornecer meios para que
estes estejam protegidos nas situações de contingência (velhice, doenças,
desemprego entre outros);
3. Garantir que todos os indivíduos tenham o direito de receber o melhor padrão
de atendimento considerando-se o alvo dos serviços sociais disponíveis
(BRIGGS, 2009).
O responsável pela implantação e subsistência desse modelo foi o economista e
sociólogo sueco Karl Gunnar Myrdal, o qual destaca a importância que tem a democratização
do processo político e eleitoral no sentido de ampliar a intervenção estatal na economia.
Segundo afirma Hammoud (2008):
1
Apesar de ter-se espalhado em toda a Europa, principalmente nos países da Escandinávia, como a Suécia, Finlândia, Noruega e Dinamarca e sem se falar aqui na América como é o caso do Canadá. Mas foi na Suécia que o Estado de Bem-Estar Social se apresentou com mais intensidade, visto que, antes da Segunda Guerra Mundial o país já se encontrava em avançado estado de desenvolvimento social, tal desenvolvimento veio sempre acompanhado de uma distribuição igualitária de renda.
Esses países apresentavam as menores taxas de homicídios, com as melhores
colocações no IDH, com menores desigualdades, ou seja, com os melhores índice de
Bem-Estar.
O Estado de Bem-Estar Social é composto também pelo direito universal ao
emprego, pela harmonia entre capital e trabalho, pela valorização da concorrência e da
regulação da atividade empresarial e pela justa distribuição de renda e riqueza.
Diversos fatores conjunturais teriam o levado a uma crise profunda, como a crise
do petróleo de 1973 e 1979, que ocasionou a desaceleração das economias europeias, como
também a formação da Comunidade dos Estados Europeus e de blocos econômicos regionais,
tudo isso levou ao enfraquecimento das políticas sociais.
Segundo Calyton e Pontusson (1998 apud LAVINAS; COPO, 2009) o aumento
do desemprego não pôde ser acompanhado pela proteção de Estado. Os serviços públicos
perderam qualidade e abrangência e os salários dos funcionários públicos se deterioraram. A
proteção, antes universalista, passou cada vez mais a ter caráter de seguro social (só recebia
quem contribuía).
De acordo com Hammoud (2008), estudando o caso sueco, apesar de todas essas
crises que também atingiram a Suécia, como por exemplo o aumento do desemprego e a
redução das taxas de crescimento não foram capazes de abalar as bases do Bem-Estar Social,
o mesmo continua sendo o principal país representante do Welfare State.
2.6 O Estado do Bem-Estar Social no Brasil
Medeiros (2001) afirma que o Welfare State surgiu no Brasil na década de 1930
com a finalidade de ajustar as características peculiares à organização dos trabalhadores
assalariados urbanos da sociedade. Deste modo, as políticas sociais executadas pelo Brasil na
época foram direcionadas unicamente para estes trabalhadores.
A evolução histórica do Estado de Bem-Estar Social no Brasil está distribuída
1 – De 1930 a 1943
Este período foi marcado pela introdução de instituições legais voltadas para as
áreas da saúde, educação, trabalho e previdência. Foi nesta época que foram criados os
primeiros Institutos de Aposentadorias e Pensões, os quais unificados deram origem ao
Instituto Nacional de Previdência Social – INPS (1966).
Com a decretação do Estado Novo (1937), todas as políticas sociais foram
centralizadas no Governo Federal, o qual limitou a capacidade de organização dos
trabalhadores.
Para Costa (2005) um dos principais marcos do Estado de Bem-Estar Social
brasileiro neste período, no que tange ao emprego e às relações de trabalho foi a criação do
salário mínimo em 1940.
Já no ano de 1943, através da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), houve o
agrupamento de todas as leis relacionadas ao trabalho, que foram criadas anteriormente,
numa única legislação, que era inexistente até então no Brasil.
2 – De 1943 a 1964
Desta vez sob o amparo de um regime democrático, ocorreram novas
regulamentações nas políticas sociais de educação, saúde e habitação, esta com menos
intensidade.
Segundo Barcelos (1983) destaca as principais preocupações do Estado Brasileiro
no período, em diversos âmbitos:
Em relação à Previdência Social, os problemas da unificação administrativa, da universalização e da uniformização de benefícios e serviços constituíram-se na tônica do período; na área da saúde, estiveram em evidência as questões ligadas ao combate de doenças em massa e à ampliação da assistência médica; no setor trabalho, as lutas sindicais e a política salarial mobilizaram as atenções dos poderes públicos; no que diz respeito à educação, foram a democratização do ensino e a qualificação profissional os aspectos que assumiram maior relevância; finalmente a constatação da existência de um expressivo déficit habitacional fez com que a habitação passasse a ser encarada também como uma questão social. (BARCELLOS, 1983 apud MEDEIROS, 2001, p. 13).
É neste período que se dá a criação da Lei de Diretrizes de Bases (1961), que
trazia aspectos democratizantes em relação à educação, resultado dos embates pela expansão
3 – De 1964 a 1981
A partir de 1964, com a volta do sistema autoritário, houve a consolidação
institucional e uma reformulação conservadora das políticas sociais no Brasil (WINCKLER;
NETO, 1992).
A forte repressão social característica do regime provocou a dissolução dos
sistemas de organização dos trabalhadores urbanos.
Com o novo regime vigente na época, o processo social era visto como uma
consequência do crescimento econômico, visto que, a concentração de renda era característica
principal do modelo de desenvolvimento vivenciado.
Uma série de medidas de caráter universalista os quais foram implantados a partir
de 1970, a unificação do IAPAS com INPS, como também a instituição do FUNRURAL.
Vale a pena ressaltar a criação do Ministério de Previdência Social e Assistência
Social, como também a criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviços (FGTS) em
1964, o qual funcionava como um seguro desemprego.
Com todas essas medidas o Estado de Bem-Estar Social brasileiro não perdeu sua
natureza seletiva, pois determinados grupos tinham acesso aos serviços sociais.
Segundo Medeiros (2001), o regime militar representou um retrocesso para os
movimentos organizados dos trabalhadores, muito embora tenha havido no período uma
consolidação e uma remodelagem das estruturas institucionais das políticas sociais no país.
4 – De 1981 a 1985
Esse período foi marcado pela retração ou a paralisação da expansão do Walfare
State brasileiro, ocasionado pelas medidas adotadas pelo governo federal de ajuste austero
para corrigir os problemas do balanço de pagamento reduzindo os gastos governamentais
voltados às políticas sociais.
5 – De 1985 a 1988
Época marcada com o fim da Ditadura Militar e da redemocratização do país.
Segundo Medeiros(2001), foram poucas as inovações de impacto no segmento de programas
sociais. As medidas sociais adotada na época eram somente emergenciais.
Duas medidas adotada merecem destaque: uma a criação do salário desemprego e
6 – 1988
Com a nova Carta Magna houve um avanço significativo no campo social, na
medida que se ampliou e uniformizou os direitos sociais, além de expandir o acesso as
políticas públicas para a maior parte da população.
A CF de 1988, marcou um rompimento com o padrão até então corporativista do
Estado do Bem-Estar Social brasileiro, pois:
Por intermédio da garantia dos direitos civis, sociais e políticos, a Constituição de 1988 buscaria construir uma sociedade livre, justa e solidária; erradicar a pobreza e a marginalização; reduzir as desigualdades sociais e regionais; e promover o bem de todos sem preconceitos ou quaisquer formas de discriminação. Para tanto a nova Carta Magna combinaria as garantias de direitos com a ampliação do acesso da população a bens e serviços públicos. (IPEA, 2008, p. 28).
Para Medeiros (2001), os anos de 1990 são alvo de controvérsia quanto aos
resultados dos programas sociais e quanto à mudança de modelo do Bem-Estar Social
brasileiro. Apesar da descentralização do âmbito federal de alguns setores sociais serem
considerada positiva, muitas vezes são avaliados sem haja feito um levantamento da sua
capacidade administrativa financeira dos Estados e Municípios para a prestação desses
serviços.
De acordo com Draibe (1993), o que vem correndo no Brasil mas também no
resto do mundo é uma municipalização do Welfare State. Deste modo, não existe uma
indicação clara, portanto, de que as mudanças na estrutura institucional das políticas sociais
brasileiras ocorridas ao longo da década de 1990 estejam representando uma ruptura de
tendência na trajetória do Welfare State brasileiro na direção de um modelo mais
distributivo. (MEDEIROS,2001, p.20).
As Instituições do Estado de Bem-Estar Social Brasileiro:
Previdência Social;
Saúde Pública;
Sistema Educacional; e
Políticas Habitacionais.
2.7 O Bem-Estar Social
Entende-se por Bem-Estar Social o conjunto de fatores de que a pessoa precisa
acesso à educação e saúde, tempo para desporto e lazer entre outros, os quais levam a pessoa
desfrutar de uma vida tranquila e num estado de satisfação.
Segundo Albuquerque (1993), o Bem-Estar Social mede a quantidade de bens e
serviços consumidos pelas pessoas e engloba diversos aspectos:
1. Aspecto Físico: Saúde, estão incluídos nesta modalidade o acesso a condições
mínimas de higiene para prevenção da saúde, como também o ingresso para
seu tratamento adequado. Esse bloco se caracteriza principalmente pelos os
indicadores: mortalidade infantil, expectativa de vida e percentual da
população com banheiro em casa.
2. Aspectos Sociais: Educação, neste aspecto foram utilizados três indicadores, o
primeiro mede anos de escolaridade médio da população; o segundo analisa a
percentagem de analfabetos na população e o terceiro verifica o numero de
concludentes do ensino superior.
3. Aspectos Econômicos: Renda, o emprego é fundamental para o bem-estar, não
apenas pela renda auferida, mas pela segurança o qual representa.
O Estado deve tratar de promover o Bem-Estar Social entre todos os seus
cidadãos. Para esse efeito, são necessárias medidas e políticas que corrijam as injustiças
próprias do mercado capitalista. A distribuição do rendimento e o desenvolvimento de
serviços sociais livres e gratuitos para todas as pessoas são condições necessárias para
alcançar o Bem-Estar Social.
No mundo contemporâneo , existem grandes diferenças nas economias capitalistas
em termos de acumulação de capital, produtividade, tecnologia, renda per capita e bem-estar
entre outros. Essas desigualdades se tornam mais evidentes quando comparamos com
economias emergentes, como é o caso da economia brasileira.
O Brasil desponta como um dos países com maior desigualdade social, econômica
e regional. Essas desigualdades revelam-se por inúmeros fatores, como: renda, escolaridade,
saúde, transporte, etc.
Economistas e políticos concordam que reduzir essas desigualdades é um dos
principais se não o primordial meio para elevar o bem-estar da sociedade (MAGALHÃES;
MIRANDA, 2005).
O Brasil precisa acelerar a retomada do crescimento econômico com distribuição
de renda, gerando empregos necessários principalmente para juventude. Precisa investir mais
educação, de modo a criar premissas para o desenvolvimento sustentável e melhores
oportunidades e condições de vida para população.
A análise histórica mostra que os maiores saltos anuais do Bem-Estar brasileiro
foram verificados entre l994 e 1996, período marcado pelo fim da hiperinflação, que produziu
não apenas uma reversão repentina da piora de bem-estar que vinha se observando no Brasil.
A parti de 1994 esse índice foi impulsionado rapidamente para cima. Esse crescimento
pronunciado, no entanto, foi seguido por avanços mais moderados.
De acordo com Megale et al. (2013):
A partir de 2003, o bem-estar passou a avançar de forma consistente. No entanto, de 2008 em diante, a desaceleração observada nas condições econômicas se reflete no índice agregado. Entre 2003 e 2007, o crescimento anual médio do indicador foi de 0,136, enquanto, entre 2008 e 2011, o avanço anual médio foi de 0,0569. (Índice Itaú bem-estar social).
Para 2012, com os dados disponíveis, foi calculado um valor para o índice que,
embora seja superior ao de 2011, apresenta crescimento de 0,018, bastante inferior ao do ano
anterior. O gráfico 1 apresenta o Índice de Bem-Estar Social calculado pelo Banco Itaú:
Gráfico 1 – Índice de Bem-Estar Social entre os anos 1992 e 2012
Fonte: Itaú
De forma geral o Índice de Bem-Estar Social mostra que houve um avanço
importante da qualidade de vida nos últimos 20 anos no Brasil, mas os resultados de 2011 e
2.8 Índice de Desenvolvimento Humano - IDH
O conceito de Desenvolvimento Humano parte do pressuposto de que para aferir o
avanço de uma população não se deve considerar apenas a dimensão econômica, mas também
outras características: sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade de vida
humana.
O IDH é um indicador que traduz a qualidade de vida de uma população, sendo
considerado uma medida fiel de bem-estar.
O índice se baseia no calculo dos indicadores:
1. Acesso ao conhecimento (EDUCAÇÃO);
2. Padrão de vida (RENDA);
3. Anos de vida (LONGIVIDADE).
Para se medir o IDH no Brasil, se faz necessário um trabalho conjunto, ou seja,
uma parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o
Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (IPEA) e a Fundação João Pinheiro localizado
no Estado de Minas Gerais, tendo como base os Censos Demográficos do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE).
O Ceará foi o estado brasileiro que apresentou maior crescimento no Índice de
Desenvolvimento Humano entre os anos de 1991 e 2000, passando de 0,405 para 0,541, com
isso passou da 20ª posição do ranking nacional, em 1991, para 16ª posição em 2000, sendo o
estado brasileiro que mais conquistou posições no período (www.atlasbrasil.org.br/3013)
Já o IDH de 2010 foi de 0,682, e o estado ocupa o 17ª posição entre as 27
unidades federativas brasileiras, conforme quadro 01 a seguir.
Quadro 1 – Lista de Unidades Federativas do Brasil por IDH
Posição Unidades Federativas IDH 2010
1 Distrito Federal 0,824
2 São Paulo 0,783
3 Santa Catarina 0,774
4 Rio de Janeiro 0,761
5 Paraná 0,749
6 Rio Grande do Sul 0,746
7 Espírito Santo 0,740
8 Goiás 0,735
9 Minas Gerais 0,731
10 Mato Grosso do Sul 0,729
11 Mato Grosso 0,725
Conclusão Quadro 1 – Lista de Unidades Federativas do Brasil por IDH
Posição Unidades Federativas IDH 2010
12 Amapá 0,708
13 Roraima 0,707
14 Tocantins 0,699
15 Rondônia 0,690
16 Rio Grande do Norte 0,684
17 Ceará 0,682
Fonte: PNUD.IPEA e FJL/2013
2.9 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M (Fortaleza)
Para aferir níveis de desenvolvimento nos municípios ou em núcleos sociais
menores, os indicadores levados em conta são o do Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal IDH-M, apesar de medir os mesmos fenômenos do IDH.
Fortaleza, capital do Estado de Ceará, apresenta-se como a quinta maior cidade
do país em termos de população (estimada em 2014 em 2.571.185 habitantes – IBGE), que
cresce em ritmo acelerado e o crescimento populacional se entrelaçam à ascensão econômica.
Vale a pena ressaltar que no período de 2000 a 2010, no requisito de educação,
longevidade e renda, Fortaleza apresenta uma significativa melhora no nível de
desenvolvimento humano, onde passou de médio (0,652) para alto (0,754) – IPLANCE.
É visível o crescimento econômico de Fortaleza, contudo também se faz ver o
déficit alarmante nos serviços de saúde e saneamento básico, além de uma péssima estrutura
de distribuição de renda.
Essa disparidade alarmante se faz presente quando se avalia por exemplo, o
IDHM do bairro aldeota que é muito alto (0,945), enquanto o do Conjunto Palmeiras é baixo
(0,567) (Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas Brasileiras, 2014).
De acordo com a reportagem de Lima (2014) o professor José Borzacchielho da
Silva2 afirma que a forte concentração dos melhores índices no bairro Aldeota indica a segregação e a desigualdade, características de nossa estrutura social.
Com relação a última pesquisa (2000 a 2010) dos indicadores de Fortaleza, Lima
(2014) aponta o que mais contribuiu para aumentar o seu IDHM, foi a longevidade, que saltou
de 0,743 (alto) para 0,814 (muito alto), seguido pela renda, passando de 0,663 (médio) para
2
0,716 (alto) e, por último a educação que era de 0,488 (muito baixo) para 0,672 (médio),
conforme gráfico 2 a seguir:
Gráfico 2 – IDHM – Fortaleza
Fonte: Diário do Nordeste (2014)
Dos três indicadores, a educação foi que apresentou maior crescimento no período
(37%), seguido pela longevidade (9,5%) e renda (7,9%).
O índice educação é o mais baixo se comparado com longevidade e renda.
Entretanto, é o fator que mais tem crescido ao longo dos anos.
Segundo Daniel Lavor3 , também em Lima (2014), “para alcançar esse resultado, merece destaque o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic), política de governo
voltada para a educação municipal. Em contrapartida o fator renda é que tem estagnado o
IDHM de maneira incisiva”.
3
3 ORÇAMENTO PARTICIPATIVO
Orçamento Participativo (OP) é um mecanismo governamental de democracia
participativa que permite aos cidadãos influenciar sobre os orçamentos públicos, geralmente o
orçamento de investimento de prefeituras municipais, através de processos de participação da
comunidade.
A interpretação do O.P. é bastante diversificada, tendo contribuição literária de
inúmeros autores. Conforme Navaro (1997), orçamento participativo é conceituado como um
processo de gestão fiscal.
Percebe-se a partir da citação acima que o Orçamento Participativo é o meio pelo
qual se realiza o gerenciamento de fiscalização dos gastos públicos através da sociedade.
Como destaca Santos (1998), o Orçamento Participativo é tido como um
mecanismo de gestão conjunta dos recursos públicos por meios de decisões compartilhadas
sobre a distribuição dos recursos monetários.
A referida citação nos diz que no O.P. existe uma participação simultânea entre
sociedade e governo nas prioridades para os investimentos públicos.
Já Duchrow (2004), “o Orçamento Participativo é considerado nacionalmente e
internacionalmente como uma prática recente e bem sucedida de participação social e
fortalecimento da democracia local”, cujos resultados variam de acordo com cada município.
Desse modo a importância e a ação-resultante do O.P., como forma de
democratização das políticas públicas, fica condicionada a realidade de onde ele está sendo
aplicado, ou seja, à realidade sócio-política e cultural das mesmas.
A execução do O.P. ocorre de maneira diversa entre os municípios que adotaram
esta prática de gestão. De maneira geral, realizam-se assembleias nas sub-regiões dos
municípios, ou seja, nos bairros e distritos, para tratar de temas de interesse da comunidade.
No decorrer das discussões elege-se um delegado representante da comunidade para tratar
e/ou discutir as demandas da sociedade junto aos governantes.
3.1 O surgimento do Orçamento Participativo no Brasil
Apesar de muitos associarem o surgimento do Orçamento Participativo ao
município de Porto Alegre (RS), cujo inicio data de 1989, outras iniciativas já haviam sido
Ainda durante o regime militar registraram-se experimentos em Vila Velha (ES),
Lages (SC) e Pelotas (RS) que tiveram pouca evidência e vida curta dadas as condições
restritivas do contexto político do momento (SOUZA, 2000).
A implementação do O.P. surgiu com a redemocratização e promulgação da
Constituição Federal de 1988, quando foi estimulada a participação popular na definição de
políticas governamentais, por intermédio da criação dos Conselhos Setoriais de Políticas
Públicas como espaços de controle social, objetivando melhorar as condições necessárias para
que os indivíduos desenvolvam suas potencialidades e, desse modo, alcancem níveis
satisfatórios de bem-estar social, com melhores condições de moradia, saúde, educação, lazer,
trabalho e renda entre outros.
3.2 O surgimento do Orçamento Participativo em Porto Alegre
O que conhecemos hoje como Orçamento Participativo surgiu como uma
experiência de participação popular sobre o destino do orçamentário em Porto Alegre, entre
os anos de 1989 a 19934, como resultado de pressão de movimentos sindicais e associações de moradores de bairros em participar das decisões governamentais (GENRO, 1997).
Mais foi entre os anos de 1997 e 20005, é que o O.P. gaúcho desenvolve-se, ocasionado por uma ampla reforma tributária municipal, aliada a um aumento de repasse de
recursos do Governo Federal. É nessa época que o Orçamento Participativo de Porto Alegre
ganha notoriedade e o seu modelo é adotado por outras cidades brasileiras, como: Belo
Horizonte (MG), Recife (PE) e Guarulhos (SP) entre outras.
Em 1996 a Conferência de Istambul6, Habitat II da ONU, ou Cúpula das Cidades, reconheceu o Orçamento Participativo como "Prática Bem Sucedida de Gestão Local". O
Orçamento Participativo de Porto Alegre tornou-se uma referência para o mundo. A ONU
considera a experiência como uma das 40 melhores práticas de gestão pública urbana no
mundo. O Banco Mundial reconhece o processo de participação popular de Porto Alegre
como exemplo bem-sucedido de ação conjunta entre Governo e sociedade civil.
Representantes de prefeituras brasileiras e estrangeiras e estudiosos do mundo inteiro vêm a
Porto Alegre com o objetivo de conhecer seu OP.
4
Primeira Administração de Olívio Dutra. 5
Governo de Tarso Genro. 6
Com a vinda da Lei Complementar Nº101/2000, Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF), cujo objetivo principal é o equilíbrio das contas públicas, estimulou-se a prática do
Orçamento Participativo, encorajando a participação popular na elaboração da Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA), a qual estima as receitas
que o governo espera arrecadar durante o ano e fixa os gastos a serem realizados com tais
recursos.
3.3 A implantação de Orçamento Participativo em Fortaleza
A cidade de Fortaleza está localizada no litoral norte do Estado do Ceará,
limitando-se ao Norte e ao Leste com o Oceano Atlântico e com os municípios de Aquiraz e
Eusébio, ao Sul com os municípios de Itaitinga e Pacatuba e a Oeste com os municípios de
Maranguape e Caucaia.
A capital do Estado possui uma área de 314.930 Km², com uma população
estimada segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2.571.185
habitantes em 2014, o que resulta numa densidade demográfica de 7.786,44 habitantes por
Km² divididos em seis regionais e 117 bairros, conforme mostra a figura: Mapa da Cidade de
Fortaleza.
Figura 1 – Mapa de Fortaleza
Segundo o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE), o seu
Produto Interno Bruto (PIB) é da ordem de R$ 41.978.402 mil reais em 2011, último dado
fornecido pelo Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE).
Fortaleza caracteriza-se como uma cidade que agrega áreas extremamente
heterogêneas e segmentadas, nas quais o controle social se faz presente ao longo de sua
existência. Assim, pobreza e riqueza defrontam-se na disputa pelos espaços da cidade.
A capital cearense se reproduziu de forma desigual. A produção de seu espaço
urbano, fruto de um crescimento desordenado proveniente do afluxo de migração do campo
para a cidade, decorrente, sobretudo, das secas, evidencia as dificuldades e as condições que
permeiam a sua formação (GADELHA, 2010). Assim, pobreza e riqueza defrontam-se na
disputa pelos espaços da Cidade.
Diante da necessidade de serviços públicos capazes de suprir as carências da
sociedade, eis que chega o Orçamento Participativo como um programa que engloba ações
públicas vinculadas as necessidades da população local na tentativa de mostrar como ele pode
contribuir para a melhoria do bem-estar social de uma comunidade.
A implementação do Orçamento Participativo de Fortaleza teve início com o
Plano Plurianual Participativo (PPA) de 20057, cujo objetivo seria de que, com o O.P., governo e população unissem forças na tarefa de pensar e planejar a demanda da sociedade,
com vistas à melhoria na qualidade de vida da população e eficiência administrativa do
governo municipal (PREFEITURA MUNICIPAL DE FORTALEZA, 2005).
O referido Plano Plurianual Participativo (PPA)8 realizou-se em dois ciclos – O Preparatório e o Deliberativo – por meios de Assembleias Públicas Territoriais (APT)9 em todas as Secretarias Regionais e com sete segmentos sociais: crianças e adolescentes; idosos;
LGBT’s; mulheres; pessoas com deficiência e população negra. Assim, o processo do PPA
participativo reuniu cerca de 1.753 pessoas no ciclo preparatório e contou com a participação
de mais de 5.000 pessoas. Foram apresentadas mais de 650 propostas de programas e ações
sobre praticamente todas as áreas de investimento do governo municipal (P.M.F., 2005).
7
Primeira Administração de Luizianne Lins. 8
O Plano Plurianual Participativo (PPA) é um instrumento de planejamento que define diretrizes, objetivos, metas e programas a serem implantados no quatriênio (Fortaleza 2005).
9
Concluído o processo do PPA, iniciou-se, ainda em 2005, a elaboração do O.P. o
qual priorizou o debate em torno das especialidades dos segmentos sociais, grupos
considerados historicamente excluídos dos espaços de participação e de decisões das políticas
públicas. Outra inovação no Orçamento Participativo de Fortaleza diz respeito às discussões e
deliberações dos serviços públicos, além de listar as prioridades de obras da Prefeitura.
A população também pode solicitar a melhoria da qualidade e do atendimento dos
serviços, como também a revitalização dos equipamentos públicos.
O Orçamento Participativo funciona como um ciclo anual. Ao final do processo
de debates e deliberações, envolvendo tanto a população participante como técnicos e
representantes da prefeitura, as propostas são colocadas para aprovação da Câmara Municipal.
O montante aprovado é inserido na Lei Orçamentária Anual (L.O.A). Por fim, a prefeitura
elabora o Plano de Obras e Serviços (P.O.S.), um documento contendo todas as demandas
aprovadas e que deverão ser executada nos próximos anos. Assim, ao final, cabe a um grupo
de pessoas eleitas entre os participantes do O.P. a fiscalização da execução das demandas.
Vale a pena ressaltar para conhecimento que a Lei Orgânica do Município (Criada
pela Assembleia Municipal Constituinte de 1990) contém:
Titulo I
Dos princípios fundamentais
Art. 5. A inciativa popular de Lei, o plebiscito, o referendo, o orçamento
participativo e o veto popular são formas de assegurar a efetiva participação do povo nas definições das questões fundamentais de interesse coletivo.
Seção II Dos orçamentos
Art. 173 – Inciso 9 – §12
O poder executivo instituirá o Orçamento participativo como força de viabilizar a participação popular na elaboração, definição e acompanhamento do Plano Plurianual (PPA), da Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA). (CMF, 1990).
Dessa maneira, a participação popular se concretizou nas tomadas deliberativas de
gestão pública, possibilitando, assim, a coletividade a participar diretamente nas decisões a
respeito dos objetivos dos investimentos públicos, como também intervindo na confecção da
4 METODOLOGIA
Esta seção apresentará a base de dados utilizada no estudo, bem como o método
econométrico necessário para a obtenção dos resultados.
4.1 Base de dados
Construiu-se neste trabalho um Banco de Dados fornecido pelo FINBRA, que é o
relatório das Finanças do Brasil divulgado pela Secretaria do Tesouro Nacional – STN,
abrangendo um período que vai de 2003 a 2012. Para avaliar o impacto das variáveis
fundamentais à análise deste trabalho utilizou-se dados referentes aos gastos com educação,
saúde, cultura, habitação, urbanismo, desporto e lazer, e assistência social. Estas são
fundamentais para a construção do indicador de Bem Estar Social dos municípios.
A variável Orçamento Participativo é uma dummy que assume o valor 1 se
município implantou a lei e 0 caso contrário.
Os dados para a população estimada foram extraídas do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) para os anos compreendidos entre 2003 e 2012.
A variável de tempo é uma dummy que assume o valor 1 após o período de
implantação do OP e 0 para o período anterior.
A variável Tratamento (dB) é uma variável binária que identifica se o município
pertence ao grupo de tratamento (com Orçamento Participativo), ou seja, igual a 1, ou ao
grupo de controle (sem Orçamento Participativo), assumindo valor igual a 0.
As variáveis referentes aos gastos municipais, nas suas respectivas modalidades,
fora extraídas do FINBRA. Estas, também, foram atualizadas para os preços do ano base de
2012.
4.2 Análise descritiva dos dados
O sumário das variáveis do banco de dados estão apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 – Estatísticas Descritivas das variáveis
Variável Obs. Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
OP 160 .375 .4856429 0 1
POPULAÇÃO 160 727560.6 650984.5 19388 2505552
Conclusão Tabela 1 – Estatísticas Descritivas das variáveis
Variável Obs. Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
GASTOS C/ SAÚDE (GSAU) 160 2.91e+08 2.91e+08 5126257 1.40e+09 GASTOS C/ CULTURA (GCULT) 157 7895143 1.11e+07 1712.77 5.02e+07 GASTOS C/ HABITAÇÃO (GHAB) 144 1.23e+07 1.97e+07 4415.17 8.73e+07 GASTOS C/ URBANISMO (GURB) 159 1.88e+08 3.17e+08 44688.94 1.49e+09 GASTOS C/ DESP. E LAZER (GDL) 155 7407603 9043834 25219.76 5.36e+07 GASTOS C/ ASS. SOCIAL (GASS) 159 3.30e+07 4.23e+07 42197.2 1.84e+08 GASTOS C/ EDUC. PC (GEDUCPC) 160 373.082 1.575.781 6.127.695 1.023.907 GASTOS C/ SAÚDE PC (GSAUPC) 160 4.549.228 786.584 244.514 10129.59 GASTOS C/ CULTURA PC (GCULTPC) 157 1.463.067 2.992.068 .0878389 2.592.118 GASTOS C/ HAB. PC (GHABPC) 144 1.569.679 1.998.862 .0052381 1.214.589 GASTOS C/ URB. PC (GURBPC) 159 1.951.126 1.610.642 .1354609 8.316.627 GASTOS C/ DESP. E LAZER PC (GDLPC) 155 1.444.771 1.919.305 .0719514 9.183.185 GASTOS C/ ASS. SOCIAL PC (GASSPC) 159 6.342.296 1.094.912 2.119.813 5.545.731
Fonte: Elaborado pelo autor
A seguir os gráficos de 1 a 7 apresentam a evolução dos gastos municipais para os
anos de 2003 a 2012 para as cidades pertencentes ao grupo de controle e tratamento.
As cidades do Grupo de Tratamento são: Caaporão, Canoas, Cariacica,
Congonhas, Fortaleza, João Pessoa, Osasco e São Leopoldo e as do Grupo de Controle são:
Anápolis, Contagem, Cuiabá, Curitiba, Duque de Caxias, Feira de Santana, Joinville e
Manaus.
Gráfico 3 – Gastos com Educação por Municípios nos anos de 2003 a 2012
Fonte: Elaborado pelo autor
000 100 200 300 400 500 600 700 800 900
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Mi lh õ e s Anapolis Caaporão Canoas Cariacica Congonhas Contagem Cuiabá Curitiba
Duque de Caxias
Feira de Santana
Fortaleza
João Pessoa
Joinville
Manaus
Osasco
Gráfico 4 – Gastos com Saúde por Municípios nos anos de 2003 a 2012
Fonte: Elaborado pelo autor
Gráfico 5 – Gastos com Cultura por Municípios nos anos de 2003 a 2012
Fonte: Elaborado pelo autor
000 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.600
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Mi lh õ e s Anapolis Caaporão Canoas Cariacica Congonhas Contagem Cuiabá Curitiba
Duque de Caxias
Feira de Santana
Fortaleza
João Pessoa
Joinville
Manaus
Osasco
São Leopoldo
000 010 020 030 040 050 060
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Mi lh õ e s Anapolis Caaporão Canoas Cariacica Congonhas Contagem Cuiabá Curitiba
Duque de Caxias
Feira de Santana
Fortaleza
João Pessoa
Joinville
Manaus
Osasco
Gráfico 6 – Gastos com Habitação por Municípios nos anos de 2003 a 2012
Fonte: Elaborado pelo autor
Gráfico 7 – Gastos com Urbanismo por Municípios nos anos de 2003 a 2012
Fonte: Elaborado pelo autor
000 010 020 030 040 050 060 070 080 090 100
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Mi lh õ e s Anapolis Caaporão Canoas Cariacica Congonhas Contagem Cuiabá Curitiba
Duque de Caxias
Feira de Santana
Fortaleza
João Pessoa
Joinville
Manaus
Osasco
São Leopoldo
000 200 400 600 800 1.000 1.200 1.400 1.600
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Mi lh õ e s Anapolis Caaporão Canoas Cariacica Congonhas Contagem Cuiabá Curitiba
Duque de Caxias
Feira de Santana
Fortaleza
João Pessoa
Joinville
Manaus
Osasco
Gráfico 8 – Gastos com Desporto e Lazer por Municípios nos anos de 2003 a 2012
Fonte: Elaborado pelo autor
Gráfico 9 – Gastos com Assistência Social por Municípios nos anos de 2003 a 2012
Fonte: Elaborado pelo autor
000 010 020 030 040 050 060
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Mi lh õ e s Anapolis Caaporão Canoas Cariacica Congonhas Contagem Cuiabá Curitiba
Duque de Caxias
Feira de Santana
Fortaleza
João Pessoa
Joinville
Manaus
Osasco
São Leopoldo
000 020 040 060 080 100 120 140 160 180 200
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Mi lh õ e s Anapolis Caaporão Canoas Cariacica Congonhas Contagem Cuiabá Curitiba
Duque de Caxias
Feira de Santana
Fortaleza
João Pessoa
Joinville
Manaus
Osasco
Como se observa nos gráficos acima, as cidades de Canoas, Curitiba, Duque de
Caxias, Fortaleza e Manaus são as que possuem maior nível de gastos na maioria das áreas no
período considerado. Destaca-se o fato de das cidades de Canoas e Fortaleza pertencerem ao
grupo de tratamento, ou seja, cidades que adotaram o Orçamento Participativo, e as cidades de
Curitiba e Manaus pertencentes ao grupo de controle, aquelas que não optaram por instituir o
OP.
4.3 Método da Diferenças-em-Diferenças (DID)
A metodologia empregada na avaliação dos dados faz uso do método Diferenças
em Diferenças.
Este método do que foi utilizado por Card e Krueger (1994), os quais realizaram
uma série de pesquisas empíricas, cujos resultados desafiaram a visão convencional de que o
aumento do salário mínimo provoca queda de emprego entre trabalhadores não qualificados.
Tradicionalmente, a literatura americana sobre o assunto previa que, para cada
10% de aumento atribuído ao salário mínimo, o nível de emprego cairia cerca de 1%.
Card e Krueger tomaram, então, como experimento o impacto de aumento do
salário mínimo em New Jersey, o corrido em Abril de 1992, sobre empregos em restaurantes
de fast-food da cidade.
Para este estudo eles consideraram como Grupo de Controle os restaurantes de
fast-food do estado da Pensylvania, o qual possuía as mesmas características.
Os novos resultados surpreenderam a academia americana ao desmentir a ideia de
que aumentos de preço do fator trabalho produzem quedas nas quantidades demandadas.
Da mesma forma, Conley e Tarber (2009) justificam que na metodologia
Diferenças em Diferenças, a identificação dos parâmetros de Tratamento surge quando um
grupo realiza alguma mudança de política particular.
Já Wooldridge (2003) afirma que os experimentos naturais acontecem quando
algum evento exógeno, neste caso uma mudança de política de governo, muda o ambiente no
qual indivíduos, famílias, firmas ou cidades atuam.
Quando analisamos experimentos naturais devemos sempre levar em consideração
o Grupo de Controle, isto é, um grupo que não foi afetado pela mudança, e um grupo que
denominamos de Tratamento, que é aquele que foi afetado pela mudança de política. Ambos
para que possa ser feita uma comparação entre os resultados da mudança de política aplicada
sobre a variável que se quer investigar.
Para estudarmos as diferenças entre os dois grupos, precisamos de dados
referentes ao período antes e depois da ocorrência do evento.
Assim, nossa amostra é dividida em quatro grupos. O Grupo de Tratamento antes
e depois da mudança e o Grupo de Controle antes e depois da mudança. Segue esquema
abaixo:
Quadro 2 – Síntese do Método Diferenças em Diferenças
Antes Depois Diferenças
Controle A B A - B
Tratamento C D C - D
Diferenças A - C B - D (A – B) – (C – D)
Fonte: Elaborado pelo autor
O quadro acima nos mostra a disposição dos Grupos de Controle e Tratamento
antes e depois de uma determinada mudança de política. Onde, A – B e C- D representa em
que medida o Grupo de Controle e o Grupo de Tratamento se alteraram, respectivamente,
entre o período anterior e posterior ao evento que esta sendo analisado.
Já A – C e B – D representam as diferenças entre os Grupos de Controle e
Tratamento antes e depois do evento, respectivamente.
Subtraindo A – B de C – D ou A – C de B – D, que é exatamente a mesma coisa,
encontraremos a diferença da diferença entre os grupos nestes dois períodos, que é o resultado
da análise que mostra a efetiva mudança de comportamento da variável de Tratamento após a
mudança da política.
Matematicamente, podemos representar o método de Diferenças em Diferenças
com a seguinte equação:
, , , ,
onde:
– representa a média da variável estudada para cada ano e grupo, o número subscrito
representando o período da amostra ( 1, antes da mudança e 2 depois da mudança).
- para o Grupo de Controle;
- para o Grupo de Tratamento;
Representando o método através de uma regressão e criando as variáveis dummies
temos:
1 – para as cidades do Grupo de Tratamento; e
– para as cidades do Grupo de Controle;
– quando os dados se referem ao período pós-mudança da política; e
– quando os dados se referem ao período pré-mudança da política. Neste caso temos a seguinte equação:
∗ ∗ ∗ ∗
onde:
– representa a variável dependente;
– o impacto sobre o tempo (pós ou pré-mudança de política);
– o impacto de pertencer ao Grupo de Tratamento.
– o impacto pós-mudança do Grupo de Tratamento em relação à variável do tempo (pós
ou pré-mudança de política), que é justamente o que se quer descobrir, ou seja, é o que nos
dará o impacto da política exógena.
Os Modelos Lineares a serem estimados são dados da seguinte maneira:
∗ ∗ ∗ (1)
∗ ∗ ∗ (2)
∗ ∗ ∗ (3)
∗ ∗ ∗ (4)
∗ ∗ ∗ (5)
∗ ∗ ∗ (6)
∗ ∗ ∗ (7)
onde:
– Representa a variável de gastos com Educação Per Capita do Município no
– Representa a variável de gastos com Saúde Per Capita do Município no
período .
– Representa a variável de gastos com Cultura Per Capita do Município no
período .
– Representa a variável de gastos com Habitação Per Capita do Município no
período .
– Representa a variável de gastos com Urbanismo Per Capita do Município no
período .
– Representa a variável de gastos com Desporto e Lazer Per Capita do Município
no período .
– Representa a variável de gastos com Assistência Social Per Capita do Município
no período .
– representa o tempo pré ou pós mudança de política (é uma variável dummy que
assume valor 0 antes da política e 1 depois da política) para Município no período .
– É uma variável dummy que assume valor 1 se pertencer ao Grupo de Tratamento e 0
caso contrário para Município no período .
– É uma variável binária resultante da interação entre as variáveis de tempo e
Tratamento para Município no período .
O quadro 3 apresenta a relação das cidades que compõem os grupos de controle e
de tratamento que foram utilizadas neste estudo, destacando o ano em que o orçamento
participativo foi implantado nas respectivas cidades.
Quadro 3 – Cidades do grupo de Tratamento e de Controle CIDADES DO GRUPO DE TRATAMENTO E
ANO DE IMPLANTAÇÃO DO OP.
CIDADES DO GUPO DE CONTROLE
Caaporão (Pb) - 2005 Anápolis (Go)
Canoas (R.S.) - 2008 Contagem (M.G.)
Cariacica (E.S.) - 2006 Cuiabá (MT)
Congonhas (M.G.) - 2005 Curitiba (Pa)
Fortaleza (Ce) - 2005 Duque de Caxias (R.J.)
João Pessoa (Pb) - 2005 Feira de Santana (Ba)
Osasco (S.P.) - 2005 Joinville (S.C)
São Leopoldo (R.S.) - 2005 Manaus (Am)
5 ANÁLISE DOS RESULTADOS
A estimação dos coeficientes deu-se por meio do método de dados em painel com
efeitos aleatórios, considerando um nível de significância de 5%.
Em termos gerais, podemos observar que as estimações apresentaram coeficientes
de diferenças em diferenças estatisticamente significativos, com exceção dos modelos onde
foram utilizados os gastos com saúde e com urbanismo. Destaca-se, também, o efeito positivo
destes em todos os casos.
Já em termos específicos, em relação à educação, conforme Tabela 2, observa-se
no período analisado, um impacto positivo da implantação do Orçamento Participativo,
aumentando, em termos per capita, os gastos em R$71,07. Este fato é de fundamental
importância uma vez que com mais educação os indivíduos têm possibilidade de obterem
melhores colocações no mercado de trabalho, e por consequência, melhores salários. Embora
parte dos recursos aplicados na educação sejam provenientes do governo federal, existem
determinados programas de cunho estadual e municipal que estimulam a melhoria das
condições educacionais com vista ao desenvolvimento do ensino básico principalmente.
Outro fator preponderante, com relação à variável educação é o fato desta ter
apresentado o maior aumento relativo em relação aos demais gastos, mostrando, assim uma
maior preocupação e o comprometimento dos gastos com o desenvolvimento humano,
conforme a Tabela 2 a seguir:
Tabela 2 – Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Educação Per Capita Gastos Educação
Per Capita Coeficiente
Desvio
Padrão z P>z
[95% Intervalo de Confiança]
tempo2 119,7093 18,7493 6,38 0,0000 82,9613 156,4572
tratamento 55,7227 57,3965 0,97 0,3320 -56,7723 168,2178
dind 71,0717 26,5791 2,67 0,0070 18,9777 123,1657
_cons 278,7986 41,4117 6,73 0,0000 197,6331 359,9640
Fonte: Elaborado pelo autor
As tabelas 3 e 4, correspondentes ao modelo com variável dependente sendo os
gastos com Saúde e Urbanismo apresentaram coeficientes de diferenças em diferenças
insignificantes, ou seja, não se rejeitou a hipótese dos coeficientes estimados ser diferentes de
zero (p>0,05). Isso quer dizer que: a priori nada podemos concluir sobre os impactos do
Orçamento Participativo e seus efeitos nos gastos com saúde e urbanismo. Vale a pena
Governo Federal e não de uma decisão local, justificando assim, a não significância dos
parâmetros correspondentes.
Tabela 3 – Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Saúde Per Capita Gastos Habitação
Per Capita Coeficiente
Desvio
Padrão z P>z
[95% Intervalo de Confiança]
tempo2 167,6346 173,4256 0,97 0,334 -172,2732 507,5425
tratamento -8,37807 173,4256 -0,05 0,961 -348,2859 331,5298
dind 247,3091 245,2608 1,01 0,313 -233,3932 728,0113
_cons 313,4672 122,6304 2,56 0,011 73,11608 553,8184
Fonte: Elaborado pelo autor
Tabela 4 – Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Urbanismo Per Capita Gastos Assistência
Social Per Capita Coeficiente
Desvio
Padrão z P>z
[95% Intervalo de Confiança]
tempo2 63,9435 14,6208 4,3700 0,0000 35,2874 92,5996
tratamento -111,5435 69,1714 -1,6100 0,1070 -247,1170 24,0300
dind 15,8910 20,8302 0,7600 0,4460 -24,9355 56,7174
_cons 219,8373 50,1068 4,3900 0,0000 121,6299 318,0448
Fonte: Elaborado pelo autor
Em relação às demais variáveis de gastos observa-se um impacto positivo e de
menor magnitude, quando comparado com o impacto do coeficiente no modelo utilizando
gastos com educação, dado ao fato que estes são oriundos de verbas exclusivamente
municipais e, portanto, de decisões conjuntas da sociedade e do governo para seus respectivos
fins. Como se pode observar os coeficientes foram estatisticamente significantes a 5%,
mostrando que estes são estatisticamente diferentes de zero.
Tabela 5 – Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Cultura Per Capita Gastos Habitação
Per Capita Coeficiente
Desvio
Padrão z P>z
[95% Intervalo de Confiança]
tempo2 3,0394 4,6233 0,6600 0,5110 -6,0221 12,1010
tratamento 0,2980 11,3459 0,0300 0,9790 -21,9395 22,5356
dind 16,0232 6,6274 2,4200 0,0160 3,0338 29,0126
_cons 8,4677 8,1318 1,0400 0,2980 -7,4704 24,4057
Fonte: Elaborado pelo autor
Observa-se, Tabela 6, por exemplo, que o Orçamento Participativo trouxe um
aumento de R$14,70, aproximadamente, em termos per capita, nos gastos com habitação nos
Tabela 6 – Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Habitação Per Capita Gastos Habitação
Per Capita Coeficiente
Desvio
Padrão z P>z
[95% Intervalo de Confiança]
tempo2 6,8851 3,6081 1,9100 0,0560 -0,1867 13,9569
tratamento -2,5296 6,6111 -0,3800 0,7020 -15,4872 10,4280
dind 14,6865 5,0601 2,9000 0,0040 4,7688 24,6041
_cons 9,1300 4,7798 1,9100 0,0560 -0,2383 18,4983
Fonte: Elaborado pelo autor
Dentre as escolhas realizadas pela sociedade também se faz presente os gastos
com atividades relacionadas ao desporto e lazer, de acordo com a Tabela 7, tais como:
construções de centros culturais/esportivos voltados para juventude, parques ecológicos
direcionados ao divertimento e entretenimento, não deixando de mencionar as edificações de
praças e locais apropriados para prática de esporte radicais. Todas estas atividades refletem o
aumento da demanda por maior bem-estar social. Em termos per capita observou-se um
aumento de R$11,17 no período.
Tabela 7 – Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Desporto e Lazer Per
Capita
Gastos Assistência
Social Per Capita Coeficiente
Desvio
Padrão z P>z
[95% Intervalo de Confiança]
tempo2 2,987651 2,744538 1,09 0,276 -2,39155 8,366847
tratamento 3,309843 7,755746 0,43 0,67 -11,8911 18,51083
dind 11,17722 3,889612 2,87 0,004 3,553717 18,80071
_cons 9,039469 5,589362 1,62 0,106 -1,91548 19,99442
Fonte: Elaborado pelo autor
Ressalta-se, também, o direcionamento para escolhas de políticas voltadas para
assistência social, segundo a Tabela 8, com aumento per capita de R$37,80 no periodo. Essas
políticas resumem-se em programas voltados aos centros de acolhimentos aos dependentes
químicos e como também apoio a entidades sócioassistenciais de proteção social básica e
especial. Vale a pena ressaltar aos programas desenvolvidos de serviços especializado para
pessoas em situações de rua e, promoção de atividades para erradicação do trabalho, não
deixando de citar os programas voltados ao desenvolvimento do serviço de proteção e
atendimento integral a família, entre outros.
Tabela 8 – Resultado da Estimação do Modelo para os gastos com Assistência Social Per
Capita
Gastos Assistência
Social Per Capita Coeficiente
Desvio
Padrão z P>z
[95% Intervalo de Confiança]
tempo2 5,3722 6,0714 0,8800 0,3760 -6,5275 17,2719