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Rev. Bras. Enferm. vol.44 número1

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Academic year: 2018

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MUNICIPALIZAÇÃO DA SAÚDE - OS CAMINHOS DO LABIRINTO*

INTRODUÇÃO

o objeivo deste texto é sistear lguns ele­ mentos de dicusão cerca da proosta e do proesso de MUNICIP AUZAÇÃO dos erviços de saóde. En­ qunto proposta que tem uma be coneitul, buca­ mos faer uma beve apoximção t6ica que, esen­ cilmente, ermita a compeensão do signiicdo da Municiplização por referência a ouros temos e noçes comumente usadas no discuso insitucionl em saóde, e na literatura existente como regionão, privaação, demcrazação. Enquanto pocesso políico-institucionl, isto é, que se pasa no interior das insituições que compõem o chamado "Sistema da Saúde", a parir da decisão olíica referentes a orga­ nização da gestão 1 desse sistema, buscamos carcte­ izá-lo rcuperndo basicamente seus antcedentes hist6ricos, s fomas como tem sido desenvolvido na conjuntura mis rcente, dos anos 80 para cá, e prici­ plmente, buscando ideniicar a conigurção do de­ bate e das posições atuais em tomo dele.

Essa dupla ersciva se jusiica, em primeiro lugr, ela intensa "contminação ideoI6ica", do de­ bate atul, expessa no fato de que o temo Municipa­ lizção vem sendo usado indicriminadmente por di­ veras forças olíicas e atores institucionais no cmpo de saúde, com signiicados provavelmene distintos. Dda a diversidde de interesses e projetos olíicos de curto e médio przo sustentados por estes diversos atoes, suseimos que o temo "Municipaação" tem adquirido o caráter de "plavra-ve", melhor diendo, uma "mla peta" que carega culta, como a "cixa de Pndora" múliplos senidos.

Em segundo lugr, a decodiicação idol6ica do teo "Municipção" e o maemento, inda que apoximado, das osiçes olíicas dos atores insitu­ cionis e sciis no cenário políico da Saúde hoe, é imortnte devido ao conteúdo "estratégico" que tem sido dado a ese processo elas autoridades do Gover­ no Fedel, a onto de considerá-lo como tema central da 9! Confeência Ncionl de Saúde, entendendo-o como o xo em tomo do qul devem e

.

cular os prcesos de impleentção do Sistema Unico de Saóde - SUS 2.

REVISÃO CONCElTUAL

A Municião ode ser entendida como parte do pcesso de Descenção da gestão do sistema de aóde3, e é nesa ersciva, que tratareos de difeená-la de ours pooss.

Os estudos sobe Decentção aontm a exstênca de dus veentes .pnciis na lieatura escda: ua veene nglo-ã (Inglaea e Estdos Unidos) e uma veene fna.

Na Inlaea e Esdos Unidos, e empega o

Cmen Fontes Teixeira**

temo decenção de um modo genéico. Nesse senido RONDINELU4 deine decentação como: "a trnferência de resonsablidade em matéria de plniicção, gestão e locção de rcursos desde o goveno central e suas agências a: a) as uniddes de campo destes organismos do goveno centrl; b) as unidades de níveis govenmentis subordinados; c) s autoidades regionis ou funcionis com acnce go­ gráico e d) s organizçes pivadas ou voluntáas não govenentis" (tradução nossa).

Nesa denição ecee-se que descentrzção abarca fenÔmenos como desconcentração de rcursos e aividaes, dclcgçio de resosabilidades e tefs e até pivazção or rnsferência de resonablida­ de do goveno a enidades privadas (de caráter lucra­ ivo ou ilantópico).

Na vertente frncesa, a decentzção sue a trnferência de oderes desde o nível central a uma autoidade de uma a ou de uma função esza­ da, com disinta esonlidde jurdica. Na liteatura francesa se desngue descentrção da descocen­ tração, que é o equivalente francês do que habitual­ mente se entende or decentação administativa, quer dizer, a trnsfeência de atribuiçes ou esonsa­ blidades de excução a níveis nferiores dentro do go­ veno central e de suas agências. A deconcentração pode ser geográica ou funcionl e, egundo RON­ DINELU4 tem sido a foma mais usual de organi­ zação da relação entre os níveis centris e os lcis dos países em deenvolvimento durante a década de 70.

É

imortnte enfatizar que, a difeença entre a descentação e desconcentrção não é uma questão de grau. Não existe uma continuidade entre a descon­ centração ou mera decentrização administrativa e a descenzação rel de dcises olíicas. Nesse en­ tido, BOISIER 5 assinala que a descentrlização im­ pica no estabelcimento de 6rgãos com ersonalida­ des jurídicas, patimÔnio e foms de funcionento própias. Em toca, os 6rgãos desconcentados oe­ ram com a ersonidde jurídica que coresonde ao resectivo 6rgão centrl.

Revisando o enfque proosto no rcene texto poduzido ela OPS, do qul piciaram CAPOTE, R, VILACA MENDES e PAGANNI, J.M.C., cuja redação esteve a cargo do gruo cordenado or OS­ ZLAK, O· apce: "considermos que a decentra­ lizção efeiva dos cursos de aóde ime o deslo­ cmento do luxo de oder políico, adstaivo e tcnol6gico, desde ces unidades cenis e níveis peiféicos, inteediios e locis. A descentção é ssim um instrumento de restruturação do poder, apoxmndo os poblemas a insituções de nível in­ teediáio e lcal e transfeindo-lhes a capcidade

• Nos elos a pr do Seio obe municipalização, orado pela auoa e ela pofeoa Ligia M. Vieira a Sil­ va, o ndclo e ds os Servis de Sadde, DMP. FAMEB. UFBA, Salvaor-BA. maio de 1991

Ese studo subsidiou s oicis de rabalo a Cso de Seviço a ABEn -Nacioal s Esados •• Pofsoa adjuna DP. FAMEB. UFBA.

(2)

pra tomar dcisões, dado que não há dscentrção

efeiva sem capacidade nomativa a cda nível. Se de­

ve difeenciar então a delegação de oderes para dci­

dir sobre os fms e/ou os meios que sue o prcesso

de descenção e o que consitui uma mera trns­

feência de atibuição em o coresondente oder de­

cis6rio (trdução nossa).

Além disso, e chma a atenção ao fato que, inda

que se ossa considerar a centção e a descentra­

lização como modelos polares, "praicaente nenhum

sistema el e ajusa a essas carctersicas extrems,

senão que, em sua mioria, apeentam traços de um e

ouro modelos". P:ce ter mais senido, ortnto,

considerar que existe um contnuo que vi da centri­

zação à descentrlização, é que qulquer sistema exis­

tente exie nolmente uma combinação de sectos

centrlizados e descentrlizados, eja na ixação de

pofics ou na gestão das instituições e pogramas.

Postos esses elementos de referên�ia, odemos

retomar o estudo da MUNICIPALIZAÇAO, conside­

rndo a ossibilidde do termo trzer embuido os

múliplos signiicados revisados acima. Dí enmos

que é necessário que se ideniique, ntes de mais na­

da, qul é o eferencial que orienta a poposta de

MUNICIPALIZAÇÃO, ou melhor, qual a conceção

de decentrzção que está "or trás" da proposta de

municipzação, no discurso de váios atores em cena.

Pelo exosto, ica claro que é pciso situar-se

em um detemindo ponto, para então poder-e des­

inguir a visão dos demis atoes. Entendendo que

a

MUDcipazação é parte de um pocesso de descen­

tralização olfica, técnica e administraiva do sistema

de aúde, que supõe uma eestruturção do oder no

conínuo cenção-descentrzação, parce-nos

que o norte a orientar o desenvolvimento do pocesso

é exaente a dicussão em tono da coniguração

deejda do Sistema de Saúde, enfn, a imagem7 ou

"Situ8ção Obeivo!" que se tenha do futuro a ser

alcançdo.

Explico melhor: em pimeiro lugar, lczr os

elementos de eferência serve para diferenciar a visão

dos atoes. Assim, se pra n6s, or exemplo, Munici­

pção é parte de um processo de descentralizção

polfica, técnica e administrativa do sistema de aúde,

que no limite, invere a relação nível central (federl) e

nível locl (municipal), no que diz respeito a fomu­

lação e implementção de olfics, organização e

gestão dos prcessos de trabalho e manejo de rcursos

(financeiros, humnos, iscis, materiais), isto implica

em uma restruturação mpla, tanto das estruturas e

práicas de cada nível de goveno do sistema de saúde

(federl, esdul e municipl) qunto ds reles

(polftics e administraivs, mediads ela recionali­

dde técnica)".

Ora, nessa perseciva, a municiplizção não se

confunde, em pmeiro lugar, com a deconcentrço

(do qul o exemplo hist6ico não conhecido em nossa

relidade form s poostas de eionlizção de re­

cusos nos nos

70),

nem tampouco com a delegação

de resonsabilidades e atribuiçes (da qul o exemplo

mis conhcido form os convênios AIS e SUDS nos

anos

80),

nem com a privatizção (desde que se rata

de uma restruturção de poder no mbito do sistema

AIS - As Ineradas de Saide

SUDS - Sisma Unio e Dcenraliado de Saide

de goveno, do estado, do aparato govenmental pú­

blico embora, como veremos adiante, osa vir a favo­

recê-la, nem tmouco com a democraação (que

implica em mpicação da paricipação de atores so­

ciis nteriomente excluído, do pocesso decs6rio,

quer por não contar com mecanismo de paricipção

indireta quer or ter obstruído possívei cnais de par­

icipção direta

10.

Municiplização nessa perspeciva é apens um

pcesso de eestruturação intena ao aparelho do es­

tado em saúde, que supõe a transfeência de poder

(cedid/conquistada) dos níveis centris de goveno

aos níveis periféricos. Não é, entetanto, 'como qual­

quer pocesso socil e olfico, neutro.

A restuturação do aparato de estdo em gerl e

em saúde em pricular, obedce a pr6pria dinmica

ds forçs em confronto e o signiicado hist6rico con­

creto que venha a apresentar depende da correlção

desss foçs em cada momento. Dí, a necessidade de

suerar a evisão conceitul e prtir para a análise

hist6rica do prcesso poftico em saúde, para idenii­

car o lugar ocupado pela municipalização no jogo atul

ds forçs sociais peentes no proceso.

CONTEXTUALlZAÇÁO

A proposta da municiplizção de saúde foi aven­

tada no Bsil, já nos anos

60,

no contexto da dis­

cussão em tono das chmads "Refoms de base",

sendo inclusive objeto de debate na

3�

Conferência

Ncional de Saúde de

1963".

Com a implantação do regme autoriário, o pro­

cesso que se fortaleceu cminhou em dreção fontl­

mente oposta, de centrzação poftica e concentrção

de cursos no mbito do goveno federal, como já

ando por vários autoes. Isto favoreceu no cmpo

de saúde, a toda uma olfica de pivatização do siste­

ma, através da tnsfeência de recursos públicos ge­

ridos ela Pevidência Socil (INPS, depois INAM­

PS), ao etor privado e pela atuação de 6rgãos de nível

central encregados do "apoio ao desenvolvmento

scil" como o FASI2•

Em meados dos anos

70,

no contexto da "aertu­

ra social" inicada no goveno Geisel, o Ministéio da

Saúde desencadei a implantação dos chamados Pro­

grmas de Exensão de Cobertura (PECs), dos quais o

PIASS, para a região Nordeste, implicou em decon­

centração de recursos (fsicos, ela consrução de os­

tos e centros de saúde, humanos pela capcitação de

pessol principlmente de nível auxiliar e materiais,

equipentos básicos da chmada "medicina smplii­

cada" trzendo embuidos s poposas de regioni­

zação e hiearquização dos serviços de saúde pública

vinculads às Scretaris Estaduis de Saúde

1 ••

Já nos anos

80,

no contexto da eclosão da cie

previdenciária (fmancera e olfica institucional), o

Ministério de Previdência foi o deencadedor ds re­

fomas prciis através de estatégias como as AIS,

posteriomente o SUDS, que implicarm em dele­

gação de responabilidades, através de convênios com

govenos estaduais e temos de desão dos municípios

ao(s) SUDS(s). Palelmente, cescia o chmdo

"Movimento Snitário", que desde

1978179

já havia

FAS - Fundo de Apoio ao Deenvolmento Scial PIASS - Poma de Ineriorço ds Ações de Saide e

Sanmno

(3)

colocado a dicussão da Saóde como parte da conquis­ ta da demcrcia e poosto a criação do Sistema óni­ co de Saóde.

O debate em tomo da coniguração institucional dese sistema não pssou de fomulções genéicas em temos de pincípios como unificação, decentrli­ zção e demcrazação, no que se eferia

à

gestão poHtico-admnistraiva, e aos princípios da universali­ dade, integralidade e eqüidade no que se eferia a re­ lação da oferta-demanda or serviços

à

população.

Mesmo no âmbito da Comissão Nacionl da Re­ foma Snis", criada após a 8! Conferência Na­ cional de Saóde, que amlgâmou o consenso de um amplo leque de forçs oHicas em tomo da "bandei­ ra" da Refoma Snitária Brsileira, não se avnçou muito no debate sobre a organizção e o exercício do poder oHico-insitucionl em aóde, até orque, "os ventos já não sopravam tanto" na direção da consoli­ dção das amplas mudnças popugnadas no disCurso da refoma.

Sem muita clarea estratégica e sem condições de estabelcer o consenso oHico em bses s6lidas, o moviento sanitário quase se dividiu or ocasião da fomulção e implementação do SUDS, visto que, en­ quanto uma corente o entendia como "estratégia­ ponte" para o SUS, ermiindo a acumulação de expe­ riêncis de gestão "estaduzads" e abrindo espaços

à

amplição do moviento e cumulação de

o

der, outros o entendim como "um passo atrás" que dii­ cultava a uniicação "elo lto" que vinha endo cons­ truída nos embates travados na Asembléia Nacional Consituine e 9steriomente em tomo da ei Orgâ­ nica do Sistema Unico de Saóde'8.

Divisões e conitos intenos do "moviento sa­ nitário"

à

parte, que a meu ver ultrapassm" a dis.­ cussão em tomo de estratégicas conjunturais e rele­ tem cisões mis profundas em relação aos projetos poHicos das forças que momentaneamente o consti­ tuiram, o importante é dar-se conta que, nessa conjun­ tura (86-89) não se avançou substancialmente em de­ tlhar a "Imagem Objeivo" em tomo do qul se de­ veriam fortalecer os esforços tanto no plano juídi­ co-parlamentar qunto poHico-institucionl e no pla­ no dos chmados "movimentos sociis" suostos lia­ dos da RSB*, orém com uma érie de poblemas de origem e condução não suerados neste momento.

De fato, já em 87/88, um estudo da FUN­

DAp17 aonava s possíveis "Imagens-Obeivos" dcorrentes da implementação do SUDS nos Estados, chmando a atenção de que o SUS desejado apaecia no horizonte das ltenativs com, elo menos, 3 con­ igurçes: um SUS em que o nível federal uniicado, deteria o controle sobe o processo de fomulação e implementção de oHicas: um SUS composto elos SUDS(s) estaduais, em que o oder estaria concentra do nos govenos estduis, caendo ao nível federl a coordenção e a eventul correção de desigulddes extrems nas distribuições de rcursos, e em SUS in­ terrogado em que não icava clao o esultado que se lcançaria com o avanço do pcesso de delegação de resonsabilidades aos municípios.

Se a heteogeneidade ds situes polficas, "econômics, de infrestrutura dos sistemas estaduais, de orgão dos serviços e da gestão, do pópio

* RSB - Revolção Socialisa BrSileia

12 R. Bs. Enfem., Bslia, 4"' (1 ): lO-,janJmar. 191

perIl. epldemiol6gico da população

indicavam a complexidade que resultaria na condução de um con­ junto de SUDS(s) sem que e perdesse a unidade die­ cionl ncessária ao Sistema Ncionl de Saúde, ima­ gne-se a ciação de mis de 4.00 sistemas cuja hete­ rogeneidde vai de um extremo, como o município de São Paulo, a um equeno município com uma densida­ de populacionl mnima e grnde extensão teritoil, como na região Amzônica ou Centro-Oeste.

Enfim, a meu ver, inda não se conseguiu psar ds generzações, quer sobre processo de decentra­ lzação da gestão, quer, até uma lcuna mais grave, sobre processos de reorganização de erviços que con­ templem esta heterogeneidade de situações em erder a unidade da condução da olftica de saóde a nível na­ cionlu.

Nese sentido, como é que se está colocando atulmente a poosta e o pocesso de municipli­ zção? Sem pretender esgotar a discusão, interessa­ me aens maear lguns elementos do contexto e al­ gumas tendêncis possíveis que podem auxiliar a supe­ ração do debate ideol6gico e pemitir tomada de o­ sição mais coneqüente.

Em primero lugar, o enfentaento no plano ge­ ral, ente um projeto neo-liberal que defende a e­ dução do pael do Estado no direcionamento do po­ cesso de repodução sócio-econÔmica, e um projeto "refomador", construído enosmente ao longo dos anos de luta contra o regme autoitário, vem se incli­ nando decididmente para a direita ou seja, para a rearticulação das forças polficas conservadors, que usm a bandeira do neo-liberalismo, da conceção de "Estado Mnimo" de privatizção ds estatis, de e­ dução dos gstos públicos, etc, etc, para garantir a so­ brevivência e até uma sonhada rcueação do "de­ senvolvmento econÔmico" em bses enovads do ponto de vista da estrutura de propriedade e da re­ lação entre o capital-trabalhou.

No cmpo da saóde, a vit6ia da ideologia neo-li­ berl tem duas implicações correlats: a desresonsa­ biliação progressiva do Estado sobre s olficas so­ ciis e da saúde em paricular, contrariando-se na prá­ tica, o disposto na Constituições Federl, e a reprivati­ zção radical do sistema de saóde; pelos menos de uma parcela dos rcursos de alta tcnologia, e setores s

"rentáveis" da assistência mbulatoril e hospitlar. O projeto de decentrizção, através da munici­ pzção da saóde poosta elo goveno federal, ao tempo em que obedce a esses determnanes de or­ dem econÔmica-fmnceira e olftica, tem um outro componente de natuea conjuntural, isto é, a ossibi­ idade de trnsferência de cursos ao municípios er­ vir de alavnca ou ajudar a consoidar uma estratégia polftica de apopiação e esvzimento do dicurso descendor "municipalisa" de um deteinado setor da oosição, o que está chandu rcentemente de fente "ani-quercista". Isto é, ode ser um pouso d'água o moinho das estatégias da "frente anti­ uersta", ajudando a coptação de numeross foçs polfics, picipamente nos municípios do inteior do pís, mpiando as baes de sustentação da coligação pidáia que e encontra no goveno.

(4)

agrurs da rcessão conômica e, pragmnicmente, se mobam ela obtenção dos 'recusos innceios acendos pelo goveno federl. Nesse contexto, os govenadoes de estdos e seus sceios de sa6de apesenam tendências diversas, de cordo com o ma­ pa olíico estadul, lguns, como o da Bahia, endo momentanente contrários à municipalização, a es­ pera das mudanças no quadro olíico a parir das próxims eleições municipis.

Enfn, entre o pragmaiso econômico-fmncei­ ros e o clientelismo olíico-paridáio, deenvolveu­ se a mior parte dos movimentos no seio dos 6rgãos dirigentes e buocacia do Estado no plno fedel, es­ tadul e municipal.

O que se culta nesse pocesso? As implicações subsnivas das oções e dos mcnismos de trns­ ferência de rcursos que estão endo elabordos, di­ vulgdos e colocdos em práica:

a) a 16gica da "pivaização" do aparato de po­ dução de erviços, nto ela mpliação do mercado, a parir da desresponsablização do Estado (goveno fe­ deral), quanto pela provável oção ela compra de serviços do setor pivado, oções que muits pefeitu­ rs podem fazer, devido aos vlculos enre o oder políico locl e a cororação médica, e inda a pópia "privaização" da podução de serviços no mbito das insituições públicas, gerada pela subordinação real dos pocesos de trablho à 16gica da poduividade induzida pelos mecanismos de repsses de rcursos (UCA *, AH** pública);

b) o forlecimento decorrente de um modelo de orgção da podução de serviços que se afasa ca­ da vez mis ds necessidades de sa6de e ds ncessi­ ddes de seviços de aúde da opulação, em função do seu padrão epidemiol6gico e sniio, efoçan­ do-se as demandas por erviços de consumo indivi­ dul, basedo no paradigma clínico' o , sabidente insuiciente e ineicaz para dar conta dos complexos poblems de saúde da opulação, em tempo de c61era, dengue, mláia, tuerculose, mas tmbém violência, "stress", doenças cárdio-vsculares e outras crôni­

cs-degeneraivs" .

c) a "(des)poliização" da sa6de, arduamente con­ quisda nos nos de ccimento do movimento sa­ nitáio, em que se tentou politizar s condições de vida e tablho como condicionantes e deeminantes das condições de sa6de, agora remeida a contablidde de serviços e à ideologia neo-liberal do consumismo, sob o lea de 'ácabr com s ms", enqunto e fz visa grossa a deterioração da qualidade de vida, à miséa urbana e rurl, ao acéscimo das desigualdades e da njusiça cil.

TENDÊNCIAS POSSíVEIS

Pelo exposto, enende-e que descenação e por consegunte a municipizção como ua ds for­ ms possíveis dquela, é um prcesso políico cujo cone1do, lcnce e implicções, deende do jogo oí­ ico ente as forçs oíics-insitucionais e sciis mis mpls que o promovem, impleenm, obstcu­ lim ou reforçm. Essa dinmica oíica, é movida pelas exctaiva de gnhos e/oI erds, medatos e iedatos que s foçs tenhm no pcesso. Não é pornto suiciente colcar-se conra ou a favor da

* UCA - Uidade de oea Ambulaorial **

AIH - Auoo

a Ineção Hospiar

municipção, ou até mesmo contra ou a favor de asctos paciis do pocesso de municiação.

É

necesio, ao nosso ver, rcolcar algumas quest�s que têm sido osts de lado ela ênfse de­ mocráica em tomo dos mcanismos de epase de re­ cursos, citéios a distribuição dos mesmos etc.

É

ncesuio "eolitizar" o debate obre Municipli­ zção, denuncindo os pro6sitos subjcenes e ideni­ icndo as implicações possíveis das opções que vem sendo adotads.

Nese enido, é peciso erguntar, qul é o Sis­ tema Único de Sa6de que se petende mpleentar através da Municipação? Aquele cujas linhas geris encontrm-e no texto consitucionl ou o que se de­ senha na Lei Orgânica? Ou o que esá endo construí­ do na práica dos atores que se movimenm nessa conjuntura (as autoridades olíics a nível fedel, es­ tadul, municipal, as organizaçes epresenaivs ds Secres Municipais e Estaduis de Sa6de, os buro­ catas que elaborm os instrumentos de implemen­ tação do prcesso, ou os orgnismos que agluinm profSsionis e tcnicos da saúde ou inda os repesen­ tantes do esvido "movimento sniio")?

Enfn, sem petender fechr o debate, elo con­ trário buscando reabri-lo oerando um deslocmento do cmpo técnico-astrativo pra o olíico, é m­ portante ressltar que, s pincipis tendêncis que se insinuam no momento, pcem er a de uma munici­ plização restrita, com trnsfeência de rcuros i­ nnceios aos municípios, com ossibilidades de forta­ leciento do modelo ssistencilista, nclusive com re­ pivaação adical em municípios que comortem in­ vesimentos por parte da iniciaiva pivada, que venha a e bneiciar de convênios e contratos com as pre­ feiturs.

Por outo lado, em lguns estados, ode-se nte­ ver como tendência a manuenção da situção atul, na medida do bloqueio através de medidas potelat6as adotads elos govenos esduis.

E, fmlmente, em alguns municípios geridos por forçs olíics cs "progessistas" há a ossibli­ dde de bucr-e apofundar a municião dos serviços, que ode r a dotr, em lguns csos, a poposta de implantação dos Distritos Snitáios, en­ tendidos com espços de transfoção ds práicas de sa6de'3. A matiz abixo enta sisematizar esss tendências, considerando a rticulação ossível de dois pcessos não necesente interligados: a descen­ trção da gestão através da trnsferência do on­ role sobre os cursos, inclusive curos de poder (olíico, técnico e adsraivo, ou eja, capacidade de dcião sobe s olíics de sa6de a nível locl, a foma de sua implementção e os rcursos pra oera­ cioná-la), e, or outo lado, a eorganização dos serviços como prte dessas políicas a nível lcal ou não.

(5)

í

MA TRIZ DE TENDaNCIAS PRO

V

Á

VEIS DA MUNICIPALIZAÇÃO

Com Transfer�ncia de Contole

Sem Traosfer�ncia de Controle

REORGANIZAÇÃO

Com eorgnização DISTRIT ALIZAÇÃO Impossível

Sem reorgnização INAMPIZAÇÃO Manutenção da situação atual

E videntemente esa matriz é um esforço de siste­ matizção nda preminr. entendemos que cda oção dests (a, b e d) comportam "vntes" de acordo com a conceção e práica pevalente a nível do aparato insitucionl de Saúde em cda município e da própria situação de partida, onde se inere o pro­ cesso de Muncipação.

Um ponto críico, por exemplo, é e o controle gerencil emance estrito ao setor público ou se abarcará, em deteninados municípios, o controle so­ bre o setor privado contratado ou credenciado, questão que s6 se coloca, evidentemente, em municí­ pios de médio e grnde orte em que exista essa fona de relacionmento púbico-privado para a produção compr/venda de serviço de saúde.

Do mesmo modo, a Distritalização comporta elo menos dus variantes: uma que vem sendo chamada de "concepção topográica-burocrática", e outra que ei­ tende o Distrito Sanitário como espaço de pocessos sociais de transfonação de práticas de saúde".

O detalhmento dessa variante, entetnto, extra­ pola os limites desse trablho e exige um companha­ mento mis rigooso das experiêncis em pocesso e os rumos que virão a tomar com o deenvolvimento da Municipalzação, principalmente a partir dos debates que se travrão na 9! Conferência Nacional de Saúde.

NOTAS EXP L I CATI VAS

1 Sobre o conceio de GES TÃO e m saide ver OMS , Processo de Gestion para el Desarolo Nacoal e l� Salud. Série S P T 2.00 n� 5, Genebra, 198 1 . Uma evião inees­ sane ds conceções conemorânes sobe gesão, en­ conra-se em MO TA, P .R. A Cêo e a Ate de Ser Di­ igente, Record, Rio de Janeiro, 199 1 , 256 p.

Uma pequena conribuição ssoal foi enada com ex­ to "A Quesão Gerencial como Compromeimento Es­ ratégico da Implanação do SUDS" apeenado no Seminário "Novas Concepções em Adminisção e Desafios do SUS: em buca de esratégia paa o desen­ volvimento gerencial". ENSPIFICRUZ, 1 5 - 1 9 de outubo , 1990. Rio de Janeio.

2 Ver poposa preliminar do Semiio da 9! CNS , em dis­ cussão no Conelho Nacional de Saide e as enreviss concedidas elo Ministério a Saide e revists e joais.

3 Há vários texos obre o tema na literatura especialiada. Re­ comendmos especialmente o cente dcumeno OPS/OMS , Descenraição de Seos de Saud. Te­

a El Estado y os Seros de Salud. Serie Derollo de Seicio de Salud, n� 17, B S Aies 1 5 de junho de 1987.

1 4 R. Bras. Enfem., Basiia, 4 ( 1): 10-5,jnJmr. 1 99 1

4 RONDNELLI, D . et alie, Aprial OPS/OMS. Descentraia­ con de Seo de Saud, op. cit p. 12 e seguines.

5 BOISIER, S. apud OPS/OMS, op. cito pago 1 3.

6 OPS/OMS , op. ver escialmente iem III e IV.

7 CPPS , Fouon dePo1ics de Saud, Ver OPS CENDES, Venezuela, 1975.

8 MATUS, C. Po1ca, Paicacon y Gobeo Ver OPS , Wa­ shington, 1988.

9 Sobe a quesão a esrutura de poder en Saide ver TES TA, M. "Esructua de oder em el ctor salud" UCV, 1979 (mimeo), em que o auor distingue o poder olfi-, co (capacidade de mobiliar vonades), do oder io (manejo de infomações, conhecimeno e tecnologia) e oder adminisaivo (manejo de curos no enido mais adicional: recusos ísicos, inaneios, huanos e maeriais).

10 Exise vsa lieaa obre o prceso histórico de den­ volvimeno s olfics de aide no Basil. Ver espe­ cialmene OLIVEIA, J. do A & TEIXEIRA, S.M.F. (In) Pevidência no Bsil, Voes, Peooles, 1985, 360 p. e PAIM, J.S. Saide, Cise e Refoma. Salvador, UFBA, 1986, 254 p. Uma elexão cítia ene, so­ bre novos coneios ou estudos nese cmo, enconra­ se em POSSAS, C. Esado, Movmenos Sociais e Re­ foms na América Latina: uma elexão obe a crie conemorânea, rabalho apreendo ao I Congso Laino-Americno de Medicina Scial e 11 Taller, Ca­ acs, Vnezuela, 16-23 maço de 199 1 .

1 1 Ver LUZ, M . T . Insituiçes Médicas no Brasil, Graal, Ba­ sil, R.J. 1977.

12 Ver BRAGA, J.C. & GOES DE PAULA S. Saide e Pre­ vidência: estudo de olfica Cial HUCI TEC, São Pau-10, 1978.

13 ROSAS, EJ. A tesão de cobeura os serços e sade

Dss. Mesado, ENSP, FICRUZ, 1979.

14 Sobe s AIS e o S OS há vários aigos, publicados em re­ viss omo a Saide em Debae. Sobre o movimento aniio spcialmente ver ESCOREL, S. Revravola na Saide, Diss. de Mesado ENSPIFIOCRUZ, 1987.

15 Ver spcialmente CNRS, Dc. 111, Rio de Janeiro, 1987.

16 C/olêmica expresa nos tigos de PAIM, J.S. E FLEUR Y,

S .M. publicados na evisa Saide em Debae em 1986.

(6)

1 8 Em que peem os sforços feitos �r al�ns gupos �m tor­ no do chmado "odelo ssSnCl no SUS , on­ fome dcumentos siucions como o de SILVEI­ RA, r .R. et alli. Dsito Saiáo.conibu,ão para n

novo ipo de atedento dos seços e ade, INAM­ PS, Rio de Janeiro, 1 987 ou MS. SESUS. Modelos As­ sienciais no SUS, Bsiia, O.F. 1 990.

1 9 Ver, or exemplo, o exo de NGUEIRA, M.A. e LA­ HUER r A, M. "O goveo Coor, o Est

.e

.

. do-craca no Brasl', apenado no SemIio Novs Conceçes em Administração e daios do SUS "ENSPIFICRUJFUNOAP/SP. Rio de Jneio, 15-19 de outubro de. 1 990.

20 Ver exos de PAIM, J.S. Páics de Sa1de e Disrios Sa­ niios (mimo) 1 990.

21 A complexidade do peril ou padrão epidemiol6gico da noa opulção é discuida em POSSAS, C. Epide­ miologia e Scieade: heterogeniade utl e a1de no Brsil, Hucic, São Paulo, 1 989.

22 MENDES, E. V. O Conceso do Dscurso e o Dsseso a Prdca Socl: nots obe a municipalição da a1de

o Bsil. So Paulo, maio de 1991, mimo.

Referências

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