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MESTRADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM SÃO PAULO 2008

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

Márcia Assumpção

As representações da mulher profissional brasileira

e norte-americana construídas pela mídia impressa

MESTRADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS

DA LINGUAGEM

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC – SP

Márcia Assumpção

As representações da mulher profissional brasileira e

norte-americana construídas pela mídia impressa

MESTRADO EM LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS

DA LINGUAGEM

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, sob a orientação da Profª. Dra. Leila Barbara.

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As representações da mulher profissional brasileira e norte-americana construídas pela mídia impressa

Márcia Assumpção

Na página 99 o exemplo 155 deveria ser:

155. Do you think women are better world leaders because Assim, onde se lê exemplo 155 passa a ser exemplo 156.

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BANCA EXAMINADORA

__________________________________

__________________________________

(5)

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

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REVISTA ÉPOCA (27/03/06) - Atualmente, quem está melhor: a mulher que escolheu ficar em casa cuidando dos filhos? A que não optou pela maternidade para se dedicar somente à carreira? Ou aquela que tenta fazer os dois?

(7)

6

AGRADECIMENTOS

Esta dissertação só foi possível graças à colaboração de muitas pessoas, e a elas gostaria de agradecer:

À minha orientadora Profª. Dra. Leila Barbara por sua competência, sabedoria, paciência, dedicação e amizade.

Aos professores Doutores Orlando Vian Jr. e Heloisa Collins pela ajuda teórica, pelas sugestões sempre valiosas, pela dedicação na qualificação e pelo carinho constante.

A todos do meu grupo de orientação pelas contribuições, discussões, sugestões, aprendizagem e paciência. Ao Mauro Sobhie e a Juliana Sayão especialmente pelas discussões intermináveis sobre transitividade.

À Profª. Dra. Maria Antonieta Celani pelo seu saber iluminado.

À Profª. Dra. Maria Aparecida Caltabiano por me estimular a fazer o mestrado e me indicar o caminho certo.

Aos professores e equipe do LAEL.

Ao CNPq pela bolsa concedida.

À minha filha Anah e ao meu filho Pedro pela paciência e compreensão por minha ausência, pelo apoio e pela ajuda.

Ao Renato, minha alma gêmea, pelo apoio, sugestões, discussões, correções, revisões, participações, contribuições e compreensões... tudo sempre com muito amor, carinho e paciência.

Aos meus pais Mário e Áurea, por tudo o que me deram e aos quais sou muito grata por fazerem tudo isto ser possível...

Às mulheres da minha vida que me inspiraram e me fizeram refletir sobre o que é ser mulher:

À minha avó Ottília que foi uma grande mulher no século passado e a minha filha Anah que me faz rever o que é ser mulher no século XXI...

À Maria Helena, meu modelo de mulher...

“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.” Simone de Beauvoir, 1949

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo identificar as representações que a mídia impressa constrói sobre a mulher profissional por meio da análise de artigos sobre mulheres publicados em jornais e revistas brasileiras e norte-americanas de grande circulação.

Nas últimas décadas, a mulher tem conquistado um espaço mais atuante na sociedade e no mercado de trabalho. A forma como a mulher é representada pela mídia retrata a sociedade e atua nela ao mesmo tempo, o que afeta essas mulheres, suas identidades e seus cotidianos.

As escolhas lexicais utilizadas em um artigo não são arbitrárias e carregam a identidade dos escritores, seus valores e representações; uma análise lexical pode, portanto, identificar essas representações por revelarem essas escolhas. As representações expressas pelo discurso estão intrinsecamente ligadas à formação da identidade do indivíduo, portanto, compreender melhor esse discurso e essas representações é fundamental, pois torna possível refletir sobre o mundo em que vivemos e sobre quem somos na vida social.

Para poder identificar as representações que a mídia impressa brasileira e norte-americana constroem sobre a mulher, este estudo usa como teoria de base a Lingüística Sistêmico-Funcional (Halliday, 1994, 2004), analisando os dados em termos do Sistema de Transitividade a fim de compreender como os valores e representações são revelados por meio da linguagem.

O corpus consiste em 332 artigos de revistas e jornais brasileiros e norte-americanos de grande circulação, submetidos a um tratamento de lingüística de corpus por meio do instrumento computacional WordSmith Tools (Scott, 1996).

Os dados evidenciam que a mídia analisada tende a representar a mulher em termos de avanços e dificuldades. Os avanços são, em geral, realizados por meio de processos materiais, construindo a representação de uma mulher que atua, e as dificuldades são mais realizadas por processos relacionais, construindo a representação da mulher na ordem do ser, no caso como portadora de características negativas.

(9)

ABSTRACT

The aim of this research is to identify the representations of professional women built in articles published in Brazilian and North-American magazines and newspapers.

Women have achieved more participation in the labor market and have been more active in the society. The way in which women are represented by the media portrays the society and, at the same time, acts upon it affecting women, their identities and their daily lives.

The lexical choices used in an article are not arbitrary and carry the identity of the writers, their values and beliefs. Representations are expressed through the discourse and are intrinsically linked to identity formation; therefore, a better understanding of this discourse is fundamental to help reflect on both the world we live in and our role in society.

In order to identify the representations of professional women built by the printed media, this research uses Systemic Functional Linguistics analyzing the data in terms of the Transitivity System (Halliday, 1994, 2004) to understand how values and representations are unveiled through language.

The corpus consists of 332 Brazilian and North-American newspaper and magazine articles submitted to a corpus linguistics treatment with the use of the WordSmith tools (Scott, 1996).

Results show the media analyzed tends to represent the woman in terms of advances and difficulties. The advances are realized mainly through material processes creating the representation of a woman that does things and, the difficulties are often realized through relational processes creating the representation of the woman in terms of being, i.e., as carrier of negative characteristics.

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LISTA DE GRÁFICOS

Capítulo 3

Gráfico 1 – Porcentagem dos Processos nos Avanços e Dificuldades das Mulheres / Women... 101

Gráfico 2 – Porcentagem dos Processos nos Avanços – Artigos Brasileiros (Mulheres / Mulher)... 106

Gráfico 3 – Porcentagem dos Processos nas Dificuldades – Artigos Brasileiros (Mulheres / Mulher)... 106

Gráfico 4 – Porcentagem dos Processos nos Avanços – Artigos Norte-Americanos (Women / Woman)... 107

(11)

LISTA DE QUADROS

Capítulo 1

Quadro 1 – A relação contexto, semântico-discursiva e léxico-gramática (Eggins, 1994:79)...

29

Quadro 2 – Tipos de processos e participantes... 42

Capítulo 2

Quadro 1 – Composição do Corpus... 45

Quadro 2 – Exemplo de fragmentos de concordância com núcleo

mulheres... 52

Capítulo 3

(12)

LISTA DE TABELAS

Capítulo 2

Tabela 1 – Colocação, número de ocorrências e porcentagem de

Mulheres / Women na lista de palavras... 51

Tabela 2 – Colocação, número de ocorrências e porcentagem dos

itens Mulher / Woman na lista de palavras... 51

Tabela 3 – Número de ocorrências analisadas... 53

Tabela 4 – Expressões de liderança encontradas nos dois corpora.... 55

Capítulo 3

Tabela 1 – Ordem de freqüência, número de ocorrências e

porcentagem dos itens de pesquisa na Lista de Palavras... 56

Tabela 2 – Número de ocorrências de mulheres / mulher e women /

woman analisados... 63

Tabela 3 – Ocorrências de Processos nos avanços da Subcategoria

Empresas... 68

Tabela 4 – Ocorrências de Processos nas dificuldades da

Subcategoria Empresas... 70

Tabela 5 – Ocorrências de Processos nos avanços da Subcategoria

Academia... 72

Tabela 6 – Ocorrências de Processos nas dificuldades da

Subcategoria Academia... 75

Tabela 7 – Ocorrências de Processos nos avanços da Subcategoria

Política... 77

Tabela 8 – Ocorrências de Processos nas dificuldades da

Subcategoria Política... 78

Tabela 9 – Ocorrências de Processos nos avanços da Subcategoria

(13)

Tabela 10 – Ocorrências de Processos nas dificuldades da

Subcategoria Esportes... 79

Tabela 11 – Ocorrências de Processos nos avanços da Subcategoria

Forças Armadas... 81

Tabela 12 – Ocorrências de Processos nas dificuldades da

Subcategoria Forças Armadas... 81

Tabela 13 – Ocorrências de Processos nos avanços da Subcategoria

Assuntos Domésticos... 83

Tabela 14 – Ocorrências de Processos nas dificuldades da

Subcategoria Assuntos Domésticos... 85

Tabela 15 – Ocorrências de Processos nos avanços da Subcategoria

Finanças... 87

Tabela 16 – Ocorrências de Processos nas dificuldades da

Subcategoria Finanças... 89

Tabela 17 – Ocorrências de Processos nos avanços da Subcategoria

Estudos... 90

Tabela 18 – Ocorrências de Processos nas dificuldades da

Subcategoria Estudos... 91

Tabela 19 – Ocorrências de Processos nos avanços da Subcategoria

Vida Pessoal... 93

Tabela 20 – Ocorrências de Processos nas dificuldades da

(14)

LISTA DE ABREVIATURAS

Ma Processo Material Re Processo Relacional Me Processo Mental Ve Processo Verbal

Co Processo Comportamental Ex Processo Existencial VP Voz Passiva

Proc Processo Circ Circunstância Circust Circunstancial

Em Empresas

Aca Academia

Pol Política

Esp Esporte

Arm Forças Armadas Do Assuntos Domésticos

Fi Finanças

Es Estudos

(15)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 1

CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 8

1 Mídia e Discurso na construção da Identidade... 9

1.1 A formação de indivíduos no discurso... 12

1.2 Revistas Femininas na construção da identidade... 15

2 Representação... 16

2.1 Representações Sociais ... 18

3 Estudos Feministas... 20

4 Lingüística Sistêmico-Funcional... 25

4.1 A Metafunção Ideacional... 30

4.2 A Transitividade... 32

4.2.1 Processos Materiais... 34

4.2.2 Processos Mentais... 36

4.2.3 Processos Relacionais... 38

4.2.4 Processos Comportamentais... 39

4.2.5 Processos Verbais... 40

4.2.6 Processos Existenciais... 41

CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA DA PESQUISA... 44

1 Universo da Pesquisa... 44

1.1 Escolha dos artigos que compõem o corpus... 45

1.2 Os veículos de comunicação que originaram os artigos.... 46

2 WordSmith Tools... 50

2.1 Lista de palavras... 51

2.2 Concordanciador... 51

(16)

CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS

RESULTADOS... 56

1 O primeiro olhar aos dados e as duas categorias encontradas: Avanços e Dificuldades... 56

2 Mulher e Trabalho... 64

2.1 Empresas Privadas e Públicas... 64

2.2 Academia... 70

2.3 Política... 75

2.4 Esportes... 78

2.5 Forças Armadas... 80

3 Mulher que Trabalha... 82

3.1 Assuntos Domésticos... 82

3.2 Finanças... 85

3.3 Estudos... 89

3.4 Vida Pessoal... 91

4 Outras formas de representar Avanços e Dificuldades... 96

4.1 A Primeira Mulher a ... 96

4.2 Mulher e Liderança... 97

5 A Construção da Representação da Mulher no Discurso... 100

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 110

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 114

ANEXOS... 119

(17)

INTRODUÇÃO

A mulher está mais atuante no mercado de trabalho e na sociedade de um modo geral. O IBGE (revista Isto É de 22 de fevereiro de 2006), revelou que no Brasil, dos 53,8 milhões de mulheres entre 15 e 44 anos, 18,5 milhões (34,8%) trabalham fora e têm filhos. Ainda de acordo com o IBGE, 39% das pessoas com carteira assinada são mulheres.

O número de estudos feministas tem crescido e se consolidado no Brasil nos últimos anos trazendo uma grande contribuição teórica, com temas abrangentes e um diálogo transdisciplinar fértil.

Muito se tem escrito sobre as mulheres na mídia. Heberle (2004:85) apontou que revistas para mulheres têm sido objeto de pesquisa, tanto em estudos culturais, quanto em análise crítica do discurso. Vários desses trabalhos mostram as contradições existentes no discurso destas publicações, que ora apóiam a liberdade de atitudes progressistas de mulheres e ora sugerem punições para quem infringir normas tradicionais da sociedade. Fabrício (2004:236) concluiu que a discussão entre as diferenças homem-mulher ainda é objeto de intensa atenção e tematização na sociedade contemporânea.

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mulheres, seus cotidianos e a construção de suas identidades.

Compreender melhor esse discurso e essas representações é fundamental, uma vez que torna possível um processo de reflexão sobre o mundo em que vivemos e sobre quem somos na vida social, pois, segundo Foucault (1979, apud Moita Lopes, 2003:35), é crucial a compreensão do papel do discurso na construção de nossas identidades sociais para melhorar ou redescrever o mundo em outras bases ou para se criar melhores futuros.

Para Bakhtin (1986:148), o ser humano é um intertexto, não existe isolado; sua experiência de vida se tece, entrecruza e se interpenetra com os outros seres humanos. As palavras de um falante estão sempre e inevitavelmente atravessadas pelas palavras do outro: o discurso elaborado pelo falante se constitui também do discurso do outro que o atravessa, condicionando o discurso do eu. Em linguagem bakhtiniana (1986:148), a noção do eu nunca é individual, mas social. O mundo que se revela ao ser humano se dá pelos discursos que ele assimila, formando seu repertório de vida. Pode-se, então, dizer que o discurso publicado na imprensa e, conseqüentemente, as representações que este discurso cria sobre as mulheres, podem influenciar na construção de suas identidades e interferir em suas vidas.

Sob esta perspectiva, o propósito deste estudo é identificar as representações sobre a mulher que trabalha fora, presentes em jornais e revistas brasileiras e norte-americanas de grande circulação que compõem o corpus desta pesquisa, por meio da análise de artigos sobre mulheres, procurando compreender como o discurso pode interferir na construção de suas identidades.

(19)

indelével na construção das identidades das pessoas ao redor do mundo e agora, mais do que nunca, os lingüistas aplicados estão conscientes do papel desenvolvido pelo colonialismo na manutenção do domínio do ocidente na produção e disseminação do conhecimento” e, portanto, o discurso da mídia norte-americana em um mundo globalizado, pode influenciar tanto a mídia brasileira, como a mulher brasileira. Ainda neste sentido, Moita Lopes (2003:40) ressalta que os discursos que circulam internacionalmente em virtude do predomínio do capital norte-americano no chamado mundo globalizado, em todos os campos da vida social, isto é, do comércio até a pesquisa universitária, passando pelas redes de transmissão de notícias são, primordialmente, construídos em inglês. Esses discursos criam necessidades sem as quais não se pode mais viver, e modos de viver e de se comportar que afetam nossas identidades e práticas sociais.

Este estudo está inserido na área da Lingüística Aplicada (LA), uma vez que procura analisar o que a mídia escreve sobre a mulher por meio do estudo da linguagem, compreendendo a linguagem não como um conjunto de regras, mas como discurso (Kumaravadivelu, 2006:140). Não se trata de descrever a linguagem, mas sim, conforme Rojo (2006:258), “de enfocar problemas concretos” ou de “compreender e descrever as novas formas de comunicação e os novos discursos e gêneros emergentes em contextos virtuais, mas fazê-lo para refletir sobre as novas possibilidades de melhoria da qualidade de vida das pessoas.” É um estudo em LA pois, de acordo definições mais recentes, “procura estabelecer a relevância de estudos teóricos da linguagem para problemas cotidianos nos quais a linguagem está implícita” (Kumaravadivelu, 2006:136), ou seja, “procura relacionar a linguagem com a vida” (Kumaravadivelu, 2006:137).

(20)

Esta pesquisa está em conformidade com as definições de Rojo (2006:257) sobre LA, pois seu objeto de estudo é um problema social, uma vez que o modo como a mulher é representada pela mídia impressa influencia na construção de sua identidade e no seu desenvolvimento como sujeito e cidadã. Ao mapear as representações que o discurso da mídia analisada neste estudo constrói sobre a mulher, esta pesquisa pretende colaborar para a solução de problemas contextualizados e socialmente relevantes ligados ao uso da linguagem; procura contribuir para a compreensão do sujeito social no mundo contemporâneo, por ser esta uma das formas de conhecer a vida social, o que está em conformidade com os pressupostos da LA.

É, ainda, importante a compreensão das representações construídas pela mídia impressa sobre a mulher para poder colaborar na educação de adolescentes, em especial do sexo feminino, na tentativa de desconstruir as representações tradicionais da mulher identificada com a esfera privada da maternidade e do casamento, e abrir a possibilidade de reflexão e reconstrução de uma identidade feminina que possibilite o desenvolvimento pleno de suas capacidades.A adolescente, ao entrar em contato com artigos da mídia, tem a construção de sua identidade influenciada pela visão ideológica que estes artigos carregam e se constitui como sujeito dentro desta perspectiva, ou seja, uma perspectiva que perpetua o preconceito entre os papéis de homem e de mulher, que reitera um papel tradicional para as mulheres e que banaliza o machismo. O presente trabalho pretende contribuir para uma reflexão a fim de tentar encontrar alternativas de escolhas de possibilidades diferentes ou mudanças de posições políticas tradicionais. Neste sentido, está de acordo com a Lingüística Aplicada Crítica defendida por Pennycook (2006:68), na qual a LA não é algo que tem a ver com o mapeamento de uma política fixa sobre um corpo de conhecimento estático, mas está relacionada com a criação de algo novo: imaginar e trazer à tona novas formas de politização.

Este estudo acredita que é pela linguagem que o indivíduo revela seus valores e suas representações, transformando-as em ações. Segundo Bakhtin (1986:36), a palavra é um fenômeno ideológico por excelência: é precisamente na palavra que se revelam as formas ideológicas da comunicação: as palavras são povoadas pelas intenções do autor.

(21)

presente na mídia analisada neste estudo, esta pesquisa usa a Lingüística Sistêmico-Funcional (doravante LSF) como um instrumento de análise.O léxico utilizado em um artigo que é publicado na mídia impressa não é escolhido arbitrariamente e carrega a identidade dos escritores que, ao escolherem um elemento e não outro, estão deixando marcada a sua visão de mundo. Conforme Halliday (1994), ao selecionar um item dentro de uma série de opções possíveis no sistema lingüístico, estamos desprezando outros itens que também poderiam ter sido selecionados; portanto, tanto uma análise lexical como uma análise da organização do texto pode revelar traços da identidade do autor, na medida em que deixa transparecer essas escolhas. E mais, os indivíduos se moldam em suas práticas discursivas e é a partir da análise dos mecanismos encontrados para representar a realidade, para nomear ações, a si mesmos e a outros indivíduos que é possível mapear a rede de representações que constitui suas identidades e as representações de suas identidades. Concluindo, pela análise dos artigos sobre mulheres que constitui o corpus deste estudo, pode-se mapear a rede de representações criadas e, assim, refletir sobre como são construídos o conceito de mulher e a identidade feminina.

Minha motivação para uma pesquisa sobre mulheres se originou, primeiramente, da comparação dentro do âmbito familiar entre quatro gerações de mulheres – minhas avós, minha mãe, eu e minha filha adolescente – que têm vivido seus papéis femininos com maior ou menor conformismo, acarretando, de uma geração para outra, uma série de transformações e conquistas. Em segundo lugar, do trabalho que desenvolvi como psicóloga junto a mulheres, mais especificamente mães, no sentido de compreender suas expectativas em relação ao papel materno e tentar colaborar no desenvolvimento de uma melhor relação com seus filhos.

A motivação para este trabalho partiu também da crença de que a participação da mulher na sociedade e no mercado de trabalho tem se intensificado nos últimos anos, o que é importante para a sociedade e para a própria mulher. Este fato acirra a curiosidade em pesquisar como vem acontecendo esta participação.

(22)

impressa, pretende-se responder às seguintes perguntas de pesquisa:

• Como a mídia impressa brasileira e a norte-americana analisadas neste estudo constroem a representação da mulher em seu discurso?

• Que ações são atribuídas às mulheres e que circunstâncias são construídas para essas ações?

• Quais são as diferenças e semelhanças entre as representações criadas sobre a mulher brasileira e norte-americana de acordo com a mídia analisada neste estudo?

• A partir de uma análise das representações, qual o tipo de identidade que essas representações ajudam a construir?

Uma vez que este estudo focaliza o uso da linguagem para representar a mulher que trabalha, ele faz parte do Projeto Direct – Em Direção à Linguagem do Trabalho – que investiga o uso da linguagem no trabalho, pois é por meio da linguagem que se dão as práticas sociais e discursivas. Foi implantado em 1989, sob a coordenação da professora Dra. Leila Barbara, e investiga questões sobre compreensão e produção de textos em português, inglês e espanhol nas áreas dos negócios e da tecnologia.

Para responder às perguntas de pesquisa e cumprir os objetivos propostos, esta pesquisa está estruturada da seguinte forma:

(23)

parte é apresentada a teoria lingüística que possibilita identificar as representações que a mídia analisada neste estudo cria sobre a mulher, que é a Lingüística Sistêmico-Funcional (Halliday e seguidores) aprofundando, principalmente, a metafunção ideacional e o sistema de transitividade.

No capítulo 2 é descrita a abordagem metodológica utilizada neste estudo, ou seja, o universo da pesquisa, o instrumento computacional usado para a organização e análise do corpus e os passos da análise.

No capítulo 3 é apresentada a análise dos dados e a discussão dos resultados. Este capítulo está dividido em cinco partes. Na primeira parte são mostradas as duas grandes categorias encontradas a partir do primeiro olhar sobre os dados. Na segunda parte são analisadas as subcategorias referentes ao trabalho da mulher. Na terceira parte são descritas as subcategorias referentes à vida da mulher que trabalha. Na quarta parte são apontadas outras formas de se representar os avanços e as dificuldades da mulher. Finalmente, na quinta parte é discutido como se dá a construção da representação da mulher no discurso analisado nesta pesquisa.

O último capítulo traz as considerações finais onde são apresentadas as conclusões da pesquisa, abordadas algumas limitações e possíveis contribuições.

(24)

CAPÍTULO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este capítulo apresenta a fundamentação teórica que embasa esta pesquisa e está dividido em quatro partes: 1) Mídia e Discurso na construção da Identidade; 2) Representação; 3) Estudos Feministas; 4) Lingüística Sistêmico-Funcional.

Na primeira parte serão apresentados conceitos sobre discurso (Fairclough, 1995, 2001; Kress, 1989; Moita Lopes, 2006), mídia (Fabrício, 2004; Moita Lopes, 2006), e identidade (Hall, 1992; Fabrício, 2004; Moita Lopes, 2006), pois este trabalho pretende estudar a interferência do discurso da mídia na construção da identidade.

Na segunda parte serão aprofundadas as teorias sobre representação (Halliday, 1985, 1994, 2004; Fairclough, 2001; Moscovici, 2000; Celani e Magalhães, 2002; Freire e Lessa 2003), uma vez que esta pesquisa visa estudar como as representações que a mídia constrói sobre a mulher podem interferir na construção de sua identidade.

Como este trabalho pesquisa a mulher, na terceira parte serão apresentados alguns estudos sobre mulher (Fischer, 2001; Rago, 2004; Fabrício, 2004; Saffioti, 2004; Sorj, 2004; Vieira, 2005), para constituir um cenário que permita comparar os resultados desses estudos com os dados desta pesquisa.

Finalmente, na quarta parte, será apresentada a teoria lingüística que fundamenta este trabalho que é a Sistêmico-Funcional (Halliday e seguidores), abordando, principalmente a metafunção ideacional e o sistema de transitividade.

(25)

1 Mídia e Discurso na construção da Identidade

As representações presentes na mídia colaboram na formação do conceito de mulher, o que interfere na construção das identidades na contemporaneidade, uma vez que são os discursos que nos constroem (Bakhtin, 1986:148). Portanto, compreender como a mídia representa a mulher pode ser uma forma de refletir e compreender elementos que contribuem para as mulheres construírem suas identidades. De acordo com autores como Hall (1992), Fabrício (2004) e Moita Lopes (2006), entre outros, a globalização, os meios de comunicação em geral, a Internet, a televisão, etc, nos confrontam diariamente com muitas possibilidades de estilo de vida, o que tem alterado o nosso quadro de referências e levado o indivíduo contemporâneo a se perceber como fragmentado e em crise de identidade.

Hall (1992:10), propõe três concepções de mudança da identidade, que é alterada de acordo com a forma como o sujeito é representado:

• Sujeito do Iluminismo

• Sujeito sociológico

• Sujeito pós-moderno

O sujeito do Iluminismo era o indivíduo totalmente centrado, dotado de razão, consciência e ação. Quando nascia, emergia o seu núcleo interior ou sua identidade que se desenvolvia, permanecendo essencialmente a mesma ao longo da vida. Esta era uma concepção individualista do sujeito e de sua identidade, descrito, na época, como masculino.

(26)

tempo, internalizamos os seus valores e significados, tornando-os parte de nós, alinhando nossos sentimentos subjetivos com os lugares objetivos que ocupamos na sociedade. Assim, a identidade costura o sujeito à estrutura, formando um tecido único, sem emendas.

De acordo com Hall (1992:12), este sujeito, com essa identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado, construindo várias identidades ao mesmo tempo, algumas contraditórias ou não resolvidas. O processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, está mais provisório, variável e problemático. Ele produz o sujeito pós-moderno que não tem mais uma identidade fixa, essencial ou permanente mas, sim, uma identidade móvel, formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais o indivíduo é representado nos sistemas culturais que habita. Este sujeito assume identidades diferentes em diferentes situações, identidades contraditórias que os empurram para distintas direções. Assim, à medida que os sistemas de representação cultural se multiplicam, o sujeito pós-moderno é confrontado por uma multiplicidade de identidades possíveis.

Para Moita Lopes (2003:34; 2006:136), a visão socioconstrucionista do discurso explica que as identidades sociais são construídas e reconstruídas por meio do processo discursivo entre os indivíduos, ou seja, que a identidade não é inerente à pessoa, mas se constrói na interação contínua entre as pessoas. Assim, classe social, gênero, etnia, sexualidade, etc., são construtos sociais usados para definir e explicar formas de diferenciação social na ação discursiva. Por esta razão, a identidade social deve ser compreendida como fragmentada e, portanto, complexa, contraditória e sempre em processo, construindo- se e reconstruindo- se.

(27)

“O uso dos meios de comunicação implica a criação de novas formas de ação e de interação no mundo social, novos tipos de relações sociais e novas maneiras de relacionamento do indivíduo com os outros e consigo mesmo, ficando claro o importante papel que a mídia desempenha na criação da vida contemporânea com base nos discursos que faz circular.”

Segundo Vieira (2005:209), a alteração global influencia a intimidade dos sujeitos, modificando suas vidas e o seu modo de ser. As relações sociais transformam-se em sua essência, dificultando a definição das identidades na pós-modernidade, particularmente a definição da identidade feminina. O ato discursivo para Pedro (1997:162, apud Vieira, 2005:214) é fundamental na formação dos sujeitos pois é pelo discurso, por meio das impressões que recebem dos outros e do mundo, que modelam as suas identidades, tornando-as reais. Vieira (2005:235) afirma que, na sociedade, a identidade é construída pelas práticas discursivas, cujo discurso é produto da cultura que a construiu. E conclui que a identidade feminina é produto social e reflexo do olhar do outro, mais do que da imagem que a mulher tem de si mesma.

Fairclough (1995:52), salienta que os textos midiáticos “constituem um barômetro sensível de transformação social”. “Mudanças na sociedade e cultura se manifestam com todas as tentativas, incompletudes e contradições nas práticas discursivas heterogêneas e variadas da mídia”. O autor explica, ainda, que todo texto é multifuncional (segundo as metafunções de Halliday) pois representa a realidade, constrói e revela identidades e estabelece relações entre os participantes do discurso.

De acordo com Fischer (2001:248), “a mídia é um lugar privilegiado de criação, reforço e circulação de sentidos, que operam na formação de identidades individuais e sociais, bem como na produção social de inclusões, exclusões e diferenças – temas fundamentais hoje nos mais diversos campos das ciências humanas”.

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sociodiscursivas que nos constroem.”

Em função das várias abordagens sobre esse tema, Moita Lopes (2006:138) ressalta que o discurso da mídia tem sido objeto de estudo porque nela é transparente a consciência de que seu discurso produz certos efeitos de sentido na vida social. Para ele, a mídia tem papel central na construção da vida social: é uma instituição na qual as identidades sociais são cotidianamente construídas. Tudo na contemporaneidade passa pelo discurso e, conseqüentemente, passa de alguma forma e em algum momento pela mídia (Santos, 2000 apud Moita Lopes, 2006:150). Assim, conclui o autor, ela usa um conhecimento estratégico sobre o discurso de modo a reproduzir o senso comum e visões conservadoras que representam poderes que a interessam.

1.1 A formação de indivíduos no discurso

Kress (1989:33) afirma que o discurso é arquitetado para transmitir um sistema de valores, seja da sociedade ou da instituição, e construído de forma a forçar o leitor a tornar-se o que ele chama de leitor ideal, ou seja, aquele que se identifica com a crítica do texto. O leitor pode aceitá-lo, compactuar com ele e incorporá-lo, ou não.

Fairclough (2001:202) aponta que a mídia tende a oferecer versões da verdade, às vezes opostas, fazendo crer que os eventos podem ser representados transparente e categoricamente. Ressalta, ainda, que isto sustenta o trabalho ideológico da mídia, que oferece imagens e categorias para a realidade, posicionando e moldando os indivíduos e contribuindo para o controle e a reprodução social.

O engajamento entre leitor e escritor na prática discursiva é que leva à construção de significados, de acordo com Moita Lopes (2006:140).

Conforme Kress (1989:36) é na constante releitura dos textos construídos na escola, no trabalho, na vida social em geral que a tendência de assimilação do discurso funciona. Isto por causa das pressões exercidas no leitor em direção ao conformismo.

(29)

discurso têm efeitos a curto e a longo prazo. A curto prazo, uma posição de leitor é construída por um discurso que providencia instruções sobre como ler o texto, no sentido de agir de certos modos, de tomar posições, ou de se adaptar:

“In the short term a reading position is constructed by a discourse, which provide instructions about how to read a text or a set of texts. That instruction is always an instruction to act in certain ways, to take stances, to conform or adapt.”

A longo prazo, a constante demanda constrói certas posições de sujeito, ou seja, afirmações que descrevem uma série de ações, modos de pensar e ser, para um indivíduo, compatível com as demandas do discurso:

“In the longer term these constantly reiterated demands construct certain’ subject positions’, that is, set of statements which describe a range of actions, modes of thinking and being, for an individual, compatible with the demands of the discourse. In that way, we learn how to be men or women, husbands or wives, sons or daughters, mothers or fathers, secretaries or bosses, teachers or policemen, lovers or casual friends.”

Para o autor (1989:37), posições de sujeito e posições de leitor estão, assim, intimamente inter-relacionadas e estabelecidas por meio da operação dos discursos nos textos. Características sintáticas, retóricas e lexicais posicionam o leitor, ao mesmo tempo em que o constroem como um certo tipo de leitor. A construção da posição de leitor tem, pelo menos, dois efeitos:

• Posiciona os leitores no texto, instruindo-os a qual papel assumir, que posições tomar. A construção do leitor no gênero é uma instrução ao leitor sobre quem, o que e como ser em uma dada situação, ocasião, interação social. Dentro da instituição, há diferentes tipos de situações sociais: entrevistas, relatórios, briefings, palestras, avaliações, discussões, etc.

(30)

sociais em mais alta escala, como em uma profissão, por exemplo, e não em situações especificas dentro da instituição. Na profissão há discursos característicos, valores, significados, práticas.

Portanto, segundo Kress (1989:40), esse processo ensina o leitor sobre o sistema de valores, normas e modos de comportamento e que tipo de ser social é preciso ser para pertencer a determinada comunidade. O gênero carrega e apresenta uma série de possibilidades de ser um certo tipo de agente social. O texto apresenta, simultaneamente, os recursos de linguagem necessários para ser tal agente e um conjunto de valores e modos de ação e comportamento apropriados para ser um agente social competente, em uma dada ocasião social. O leitor tem uma gama de opções, desde não ser leitor, até manter distância crítica, a partir da qual ele se nega a aceitar a posição de leitor construída no texto e, portanto, reconstrói o texto de forma significantemente diferente. O melhor leitor será crítico, distanciado e resistente, aquele que percebe a construção do texto e a posição de leitor e que, ao mesmo tempo, reconstrói o texto de forma que lhe seja útil.

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ideológica (Kress, 1989:44).

1.2 Revistas Femininas na construção da identidade

Apesar deste trabalho não analisar revistas femininas, os estudos citados nesta sessão têm relação com esta pesquisa, na medida em que também estão preocupados com a construção da identidade da mulher pela mídia e por usarem a Lingüística Sistêmico-Funcional em suas análises.

Vários pesquisadores brasileiros na área da Lingüística Aplicada têm estudado o papel da imprensa na construção de identidades sociais de gênero e sexualidade. Dentre eles, Heberle (1999 e 2004) investigou revistas femininas e mostra que elas incorporam visões contraditórias quanto à representação da feminilidade uma vez que ora apóiam a liberdade e a transgressão de atitudes progressistas de mulheres, e ora restringem ou sugerem punições para quem infringe normas tradicionais da sociedade ocidental. Os focos dos seus textos são as oposições masculino-feminino, público-privado, sexualidade-feminismo e produção-consumo. Em Heberle (1999) são estudadas as escolhas do sistema de transitividade e seu caráter ideológico: através da análise de transitividade explora os elementos léxico-gramaticais que codificam as experiências representadas em editoriais de revistas para mulheres; o estudo dos processos relacionais, mostra que homens e mulheres aparecem representados como categorias homogêneas e uniformes, descritos ou caracterizados em relação um ao outro. Ainda no que se refere aos processos relacionais, conclui que:

(32)

estabelecer classificações. O que é dito é expresso como uma ‘lei imutável’.” (Heberle, 1999:79)

A autora conclui, também, que essas revistas representam a mulher como dona de casa, que cuida dos filhos e ocupa seu tempo com futilidades; conclui, ainda, que suas reportagens privilegiam a beleza, a juventude, a aparência corporal, a moda, a sexualidade e a saúde, temas apresentados de formas contraditórias.

Fabrício (2005:244) reforça esses conceitos ao citar que as revistas femininas funcionam como manuais de comportamento, fornecendo modelos para a identificação e a ocupação de determinadas posições de sujeito que auxiliam na construção de identidades de gênero. A autora explica que a imprensa usa estratégias para selecionar o público alvo, criar envolvimento com ele e conferir credibilidade às informações veiculadas. Estratégias como a inclusão de testemunhos, narrativas, histórias de vida, relatos de dramas, técnicas de conversação e fotos funcionam como argumentação e persuasão para estabelecer um diálogo com o leitor. Em seu conjunto, contribuem para a formação do ponto de vista do leitor, pois oferecem possibilidades de identificação que podem ser geradas pela interação leitor-texto. Além de serem estratégias de revistas femininas, têm figurado também em jornais e revistas de primeira linha, como os que fazem parte do corpus deste estudo. A autora conclui (2005:257) que a mídia, como tecnologia de poder, contribui para o processo de construção de significados sobre o comportamento feminino, sancionando crenças vigentes sobre a mulher.

2 Representação

Uma vez que esta pesquisa estuda as representações da mulher construídas pela mídia impressa, se faz importante aprofundar alguns conceitos sobre representação.

(33)

sustentação. As autoras definem representações como uma cadeia de significações construída nas constantes negociações entre os participantes da interação e as significações, as expectativas, as intenções, os valores e as crenças referentes a:

• teorias do mundo físico;

• normas, valores e símbolos do mundo social

• expectativas do agente sobre si mesmo como ator em um contexto particular.

“As representações do agente sobre o seu saber, seu saber fazer e seu poder para agir são construídas dentro de contextos sócio-históricos e culturais e relacionadas a questões políticas, ideológicas e teóricas e, portanto, a valores e verdades que determinam quem detém o poder de falar em nome de quem, quais são os discursos valorizados e a quem servem.” (Celani e Magalhães, 2002:321)

As representações, para Freire e Lessa (2003:169), podem ser entendidas como opiniões e idéias pessoais, originadas nas nossas experiências, a respeito de algo ou alguém. Podem ser, inclusive, internamente inconsistentes e contraditórias. Tal enfoque permite considerar que as representações podem influenciar comportamentos individuais e a maneira como as ações são definidas e realizadas.

De acordo com Fairclough (2001:49), as representações são expressas pelo discurso e estão intrinsecamente ligadas à formação de opinião e de identidade do indivíduo. Ainda segundo Fairclough (1995:52; 2001:48), a representação corresponde à função ideacional de Halliday, sendo “a transitividade, o aspecto da gramática da oração relacionado ao seu significado ideacional, isto é, o modo como representa a realidade.”

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da realidade. A metafunção ideacional relaciona-se ao uso da linguagem para organizar, compreender e expressar percepções do mundo externo e interno, ou seja, é a metafunção que fornece os recursos para interpretar e representar a realidade.

2.1 Representações Sociais

Moscovici (2000:8), afirma que todas as interações humanas são psicologicamente representadas em cada um dos participantes. Para ele, as representações sociais se tornam senso comum. Elas fazem parte do nosso cotidiano, circulam na mídia e são, portanto, sustentadas pelas influências sociais da comunicação, constituindo a nossa realidade e o principal meio para nos associarmos uns aos outros.

“As representações sociais são entidades quase tangíveis. Elas circulam, se entrecruzam e se cristalizam continuamente, através duma palavra, dum gesto, ou duma reunião, em nosso mundo cotidiano. Elas impregnam a maioria de nossas relações estabelecidas, os objetos que nós produzimos ou consumimos e as comunicações que estabelecemos.” (Moscovici, 2000:10).

Ainda de acordo com o autor (2000:33), as representações são os nossos sistemas perceptivos para interpretar a realidade. Ou seja, nós nunca conseguimos qualquer informação que não tenha sido distorcida por representações impostas aos objetos e às pessoas.

“Quando contemplamos os indivíduos e objetos, nossa predisposição genética herdada, as imagens e hábitos que nós já aprendemos, as suas recordações que nós preservamos e nossas categorias culturais, tudo isso se junta para fazê-las tais como as vemos. Assim, elas são apenas um elemento de uma cadeia de reação de percepções, opiniões, noções e mesmo vidas, organizadas em uma determinada seqüência.” (Moscovici, 2000:33).

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autonomia, quanto de condicionamento, as representações possuem duas funções:

• Elas convencionalizam os objetos, pessoas ou acontecimentos – lhes dão uma forma, uma categoria e um modelo de determinado tipo, distinto e partilhado por um grupo de pessoas. São convenções que nos possibilitam conhecer o que representa o quê: uma mudança de direção ou de cor indica movimento ou temperatura. São um sistema de valores, idéias e práticas. Elas nos ajudam a saber como interpretar uma mensagem.

• Elas são prescritivas - impõem-se sobre nós com uma força que combina uma estrutura que está presente antes mesmo de começarmos a pensar e uma tradição que decreta o quê devemos pensar. Assim, a representação que possuímos de algo não está relacionada à nossa maneira de pensar mas, ao contrário, o que pensamos depende de tais representações, ou seja, no fato de que temos, ou não, dada representação. Elas são estratificadas pela memória coletiva e reproduzidas na linguagem.

Nossas experiências e idéias passadas continuam ativas, interferindo em nossas experiências e idéias presentes.

Para Moscovici (2000:16), as representações emergem a partir de pontos de conflito dentro das estruturas representacionais de cada cultura. Por esta razão, o fenômeno das representações está ligado aos processos sociais implicados com diferenças na sociedade; por exemplo, na tensão entre o reconhecimento dos direitos do homem e sua negação a grupos específicos na sociedade. As lutas que tais fatos acarretaram forma também lutas para novas formas de representação.

(36)

imagem. Portanto, as representações sociais são então uma rede de idéias, metáforas e imagens interligadas livremente. E possuem um aspecto impessoal, pois pertencem a todos e, ao mesmo tempo, são uma representação pessoal percebida afetivamente como pertencente ao indivíduo.

Assim, concluindo, ao fornecerem um código para nomear e classificar, ao serem prescritivas através da tradição e da memória, as representações terminam por se constituir em um ambiente real e concreto. Por meio de sua autonomia e da pressão que exercem, mesmo sendo apenas idéias, elas são uma realidade inquestionável que temos que enfrentar (Moscovici, 2000:21).

1.3 Estudos Feministas

Muito se tem pesquisado sobre as mudanças culturais em relação à mulher e seus novos papéis na sociedade. Se as palavras dizem muito sobre as mudanças sociais e culturais de uma época, a expressão “mulher pública”, segundo Rago (2004; 31), revela uma longa história de exclusões e humilhações para a mulher pois, apenas 30 anos atrás, este termo se referia a “mulheres da vida”. Ainda de acordo com Rago (2004; 31), ser mulher até os anos 60 significava identificar-se com a esfera privada da maternidade, do lar e do casamento indissolúvel. A mulher que saísse destas regras pagava o alto preço da condenação moral. A medicina do século XIX pregava que o útero fazia com que as mulheres desejassem ser mães e que este órgão era responsável por todos os maus e bons funcionamentos fisiológicos, emocionais e psíquicos da mulher: Rago (2004; 32)

“... as mudanças culturais e mentais em relação à mulher foram acontecendo à medida que a acelerada modernização socioeconômica, desde a década de 1970, no Brasil, levou milhares de mulheres ao mercado de trabalho e que o feminismo emergente passou a pressionar incisivamente por uma redefinição de seu lugar na sociedade. A mudança foi tão radical que, hoje, dificilmente, alguém ousaria afirmar que a mulher não tem capacidade mental, ou condições físicas para ser uma boa governante, dirigente política, empresária, engenheira, juíza, médica, delegada ou esportista, para ater-me às profissões tidas como tipicamente masculinas.” Rago (2004; 32)

(37)

explicações anátomo-fisiológicas para condutas sociais de mulheres. São discursos cientificistas explicativos sobre o comportamento humano, construídos como verdades objetivas sobre as identidades sociais de gênero. As mulheres, nestes discursos, são caracterizadas como possuindo traços de histeria emocional em razão de sua alta sensibilidade. São artigos informativos na mídia escrita de diversos países, revestidos de valor científico que respaldam esta conceitualização. Isto, segundo a autora (2004:238), “contradiz a noção de que a identidade é um processo social intersubjetivo e relacional, que pressupõe o outro, o que esvazia a idéia de que a subjetividade humana possa ser definida por fatores biológicos internos.”

Rago (2004: 34) lembra que, até recentemente, as mulheres não tinham vida pública, ou seja, não tinham acesso aos negócios, a cargos políticos ou de direção, à cultura, educação ou à possibilidade de freqüentarem bares, restaurantes, cafés ou certos lugares públicos. Tinham que se submeter à autoridade masculina, em casa ou fora dela:

“...aprendemos a ler a divisão das esferas da vida social e sexual através das lentes masculinas, elitistas e brancas do século XIX, que definiu o espaço privado como o lugar das mulheres, enquanto que o público caberia aos homens ...” (Rago 2004, 34)

(38)

feminino com a natureza, a emoção e a irracionalidade ou, ao contrário, o feminino associado com a sexualidade incontrolável (femme fatale).

De acordo com Saffioti (2004:52), o inimigo das mulheres é a ordem patriarcal de gênero, implantada por nossos ancestrais e que se constitui em um esquema de relações que atribui privilégios aos homens. Conforme a autora, todos os membros da sociedade têm três identidades sociais: a de gênero, a étno-racial e a de classe. Na ordem social, em primeiro lugar sempre se situa o macho branco e rico e a última posição sempre é ocupada pela mulher negra e pobre. Para a autora (2004:53), a primeira e a última posição nunca sofreram alterações; a segunda e a terceira sofreram trocas: a segunda já foi ocupada pelo homem negro e hoje é ocupada pela mulher branca. A autora argumenta que esta inversão entre a segunda e terceira posições se deve, provavelmente, aos movimentos feministas e que esta é a primeira vez no capitalismo que os homens estão perdendo seu lugar na estrutura ocupacional, passando à categoria dos desempregados mais rápido do que as mulheres.

(39)

mencionados por 18% das entrevistadas. A autora concluiu também que centenas de mulheres podem até obter independência econômica e social, mas é mais raro obter independência emocional.

Beauvoir (1949), em uma época em que a palavra feminismo ainda nem era usada, escreveu em seu livro que foi um dos primeiros que iniciou o debate sobre a mulher:

“O ponto de partida dessa reflexão apaixonante é a constatação de que a mulher é escrava de sua própria situação: ela não tem passado, não tem história, não tem religião própria. Ou seja, a mulher não produziu, pelo menos como protagonista, nenhuma civilização. Seu papel sempre foi caudatário da palavra do homem. E, pior, o mito do ‘eterno feminino’ nada mais é do que as algemas em que a mulher é mantida em sua alienação.”

Apesar desse texto ter sido escrito em 1949, não parece descrever a situação da mulher daquela época de forma muito diferente da mulher que Saffioti analisa 55 anos depois, se entendermos que “as algemas em que a mulher é mantida em sua alienação” (Beauvoir, 1949) parece ter uma similaridade com “as mulheres são portadoras de uma consciência dominada e isto acontece pela ordem patriarcal de gênero” (Saffioti, 2004:51).

Vieira (2005:222) aponta para o fato de que a sociedade constrói uma identidade sexual em qualquer domínio. No profissional, por exemplo, ser professora de crianças é uma tarefa essencialmente feminina. Os afazeres do lar, também, sempre foram aceitos como uma ocupação tipicamente da mulher. Segundo a autora, as mudanças sociais referentes à identidade das mulheres são difíceis e lentas pois cada alteração deve desconstruir processos históricos e culturais de séculos de preconceitos e crenças estratificados no seio da sociedade.

(40)

profissional, acabem por priorizar investimentos pessoais na esfera privada. Muitos autores, de acordo com Sorj (2004:108), concordam que a participação dos homens nas tarefas domésticas vem aumentando, porém de forma muito lenta; esta é a esfera mais resistente à igualdade de gênero, pois, mais do que as outras, vincula culturalmente o compromisso da mulher com a família e os homens não têm nenhum interesse em alterar este quadro. No Brasil, segundo a autora, importantes mudanças culturais e estruturais estão acontecendo. Isso faz com que o modelo em que o homem é o provedor e a mulher a responsável pela esfera privada esteja bastante alterado:

“Além da vontade das mulheres de conquistarem novos espaços de autonomia e desenvolvimento pessoal e da emergência de um novo senso de justiça que valoriza a igualdade de gênero, transformações de caráter estrutural perturbam a tradicional divisão sexual do trabalho na família. O acelerado processo de urbanização, o aumento da participação feminina no mercado de trabalho, o rápido avanço da escolaridade feminina são alguns dos fatores responsáveis por mudanças nas representações e práticas familiares.” (Sorj, 2004:109)

A pesquisa da Fundação Perseu Abramo mencionada anteriormente (Sorj, 2004:110), revelou ainda que 55% das mulheres entrevistadas optariam por trabalhar fora e dedicar-se menos às tarefas domésticas, e à família, enquanto 38% prefeririam dedicar-se mais à família e as tarefas domésticas deixando o trabalho em segundo plano. Isto mostra que um número expressivo de mulheres deseja ter uma atividade profissional e reorganizar a divisão das tarefas domésticas. Comparando os resultados da pesquisa, temos que 55% de mulheres gostariam de trabalhar fora e apenas 41% efetivamente trabalham, ou seja, segundo a autora o mercado de trabalho brasileiro não atende as expectativas da mulher brasileira.

(41)

“ajuda”, deixando as mulheres como as responsáveis pela gestão doméstica. Conclui-se, portanto, que, existem fortes desigualdades entre homens e mulheres, tanto no mercado de trabalho, quanto na esfera privada.

1.4 Lingüística Sistêmico-Funcional – LSF

Para poder identificar as representações que a mídia impressa brasileira e a americana fazem sobre a mulher, este estudo se fundamenta na LSF (Halliday,1985, 1994, 2004), que procura mostrar como os falantes usam a linguagem para construir a realidade dentro de seus contextos sociais; parte da premissa de que as escolhas lingüísticas não são aleatórias, são escolhas feitas dentre muitas opções disponíveis na língua e carregam as crenças e valores dos falantes/escritores, no caso as crenças e valores dos autores dos artigos dos jornais e revistas analisados.

Para Halliday:

“Every text – that is, everything that is said or written – unfolds in some context of use; furthermore, it is the uses of language that, over tens of thousands of generations, have shaped the system. Language has evolved to satisfy human needs; and the way it is organized is functional with respect to those needs – it is not arbitrary. A functional grammar is essentially a ‘natural’ grammar, in the sense that everything in it can be explained, ultimately, by reference to how language is used”. (1994: xiii)

A LSF é uma teoria da linguagem e um método de análise de textos em seus contextos e procura explicar como a linguagem é usada e estruturada em seus diferentes usos. É pela linguagem que o indivíduo revela seus valores e suas representações na vida social. Para esta teoria, o uso da linguagem é

funcional e sua função é construir significados (semântico), que esses significados sofrem influencia do contexto cultural e social (contextual) e que, portanto, é semiótico, ou seja, um processo de construir significados por escolhas. Portanto, é uma teoria sócio-semiótica semântico-funcional da linguagem.

(42)

relacionada sistemicamente com a estrutura da língua.

A LSF argumenta que a linguagem se desenvolveu com o propósito fundamental de tornar o homem apto a construir e trocar significados: falantes não interagem para trocar sons, palavras ou sentenças entre si. Assim, o objetivo fundamental da linguagem é semântico e cada texto está repleto de significados, significados esses que foram construídos em um contexto específico.

A abordagem sistêmico-funcional acredita que a habilidade para deduzir o contexto a partir do texto e a habilidade para predizer a linguagem a partir do contexto são evidências que mostram a relação da linguagem com os contextos social e cultural. Por isso, o uso da linguagem também é influenciado pelas posições ideológicas, preconceitos e valores conscientes ou inconscientes que o falante/escritor carrega: nenhum texto é livre de contexto ou de ideologia. Para esta abordagem, a linguagem não está apenas representando, mas ativamente construindo nossa visão de mundo. Portanto, no caso dos dados deste estudo, é importante reconhecer que o léxico utilizado em um artigo que é publicado na mídia, não é escolhido arbitrariamente e carrega a identidade dos falantes/escritores que, ao escolherem um elemento e não outro, estão deixando marcada a sua visão de mundo e, como acrescenta Thompson (1996:8), estas escolhas podem não estar em um nível consciente.

(43)

contribuir para influenciar na construção da identidade dos leitores; desta forma, ao se investigar as escolhas léxico-gramaticais dos textos, pode-se compreender melhor o discurso e suas relações com as diversas práticas sociais. Essa investigação pode ser feita a partir da comparação entre as escolhas lingüísticas atualizadas - o que se diz - e as escolhas lingüísticas potenciais - o que poderia ter sido dito. Esta abordagem da linguagem como um sistema semiótico dá mais poder à interpretação do comportamento lingüístico como escolha, pois enfatiza o processo de significar (making meaning) e não a forma. A noção de escolha da abordagem semântico-funcional é usada neste estudo para fundamentar o pressuposto de que os autores dos artigos sobre mulheres, que constituem corpus desta pesquisa, não fizeram escolhas aleatórias, mas sim escolhas específicas dentro de um leque de possibilidades disponível na língua para comunicar suas idéias.

Interpretar a linguagem como um sistema para construir significado em um contexto, através de escolhas, nos dá um modo de analisar as escolhas que os falantes/escritores fazem não apenas como opções lingüísticas, mas também como sociais e isto leva, inevitavelmente, a exposição do implícito.

A LSF interpreta a língua não como um conjunto de estruturas, mas como uma rede de sistemas ou conjuntos inter-relacionados de opções para construir significados e, por esta razão, nos parece a mais adequada para realizar esta investigação sobre as representações da mulher na mídia impressa, pois privilegia em sua abordagem fatores de funcionamento dos diversos aspectos da prática discursiva e da linguagem em uso, trazendo ferramentas poderosas para que a análise possa descer às escolhas léxico-gramaticais feitas por interlocutores em situações reais de interação.

“Grammar goes beyond formal rules of correctness. It is a means of representing patterns of experience (…). It enables human beings to build a mental picture of reality, to make sense of their experience of what goes on around them and inside them.” (Halliday, 1985: 101).

(44)

A unidade de análise da LSF será o texto e suas condições de produção, o contexto em que é produzido, os participantes desse contexto, bem como a maneira como os participantes organizam o texto para a comunicação. Halliday enfatiza que uma descrição gramatical é essencial para a análise do texto:

“It is sometimes assumed that (discourse analysis or ‘text linguistics’) can be carried out on without grammar – or even that it is somehow an alternative to grammar. But this is an illusion. A discourse analysis that is not based on grammar is not an analysis at all, but simply a running commentary on a text.” (Halliday, 1985: xvii).

A abordagem sistêmico-funcional acredita que não se pode tirar o texto de seu contexto. A análise das interações lingüísticas leva ao reconhecimento da importância do contexto de cultura e do contexto de situação para compreender um texto. O conceito de Gênero é usado para descrever o impacto do contexto de cultura na linguagem através do uso de estruturas esquemáticas institucionalizadas pela cultura como meios para atingir objetivos específicos. A teoria de Registro descreve o impacto do contexto imediato de situação de um evento lingüístico no modo como a linguagem é usada. No Registro há três variáveis e cada uma corresponde a uma metafunção: Campo

(Field) está relacionado com conteúdo ou tópico do texto (metafunção ideacional); Relações (Tenor) diz respeito aos papéis sociais que estão se desenrolando no texto (metafunção interpessoal); Modo (Mode) está vinculado à função que a língua desempenha no texto, como ela está organizada e em que tipo de canal de comunicação (metafunção textual).

Malinowski (Eggins, 1994:50) constatou em seus estudos sobre os habitantes das Ilhas Trobriand que a linguagem só se torna inteligível dentro de seu contexto de situação, ou seja, o sentido de uma palavra é dependente do contexto, e observou, ainda, que a linguagem é funcional, pois é usada para se alcançar objetivos concretos.

(45)

discursivo-semântico, léxico-gramatical e grafo-fonológico – a linguagem é representada como a realização de ambos: registro e gênero. Ele ressalta, ainda, que campo, modo e relações são as três variáveis situacionais fundamentais pois a linguagem é estruturada para fazer estes três tipos de significado e que estas variáveis têm uma relação predizível e sistemática com padrões léxico-gramaticais.

Segundo a LSF, o nível (extrato) mais alto da linguagem é o discursivo-semântico, ou seja, o que contém o significado, e sua unidade é o texto. Todo texto é a realização de três tipos de significados: experiencial, interpessoal e textual. O Campo se associa aos significados experienciais, as Relações se associam aos significados interpessoais e o Modo se associa aos significados textuais. Para identificar os sentidos experiencial, interpessoal e textual precisamos dos padrões léxico-gramaticais do texto. Assim, os significados experienciais são realizados através da transitividade, que são os processos (verbos que nos dizem o tipo de ação), participantes (substantivos que nos dizem quem está envolvido na ação) e circunstâncias (advérbios que nos dizem onde, quando, como e porque a ação aconteceu). Os significados interpessoais são expressos através dos padrões de modo (afirmativo, interrogativo e imperativo), modalidade (modalização ou modulação) e atitude

(expressões de atitude positiva ou negativa). Finalmente, os significados textuais são expressos pela estrutura temática do texto. A descrição dos padrões gramaticais de Transitividade, Modo e Tema nos permite compreender os tipos de sentidos sendo construídos em um texto, ou seja, como a semântica é realizada no texto e como a semântica é a realização da dimensão contextual na qual o texto foi produzido. O esquema da relação entre os níveis contextual, semântico-discursivo e léxico-gramatical pode ser visto mais detalhadamente no Quadro 1:

Ideologia Gênero

Registro campo relações modo

Semântico-discursiva

relações lexicais estrutura conversacional

referência, conjunção

Metafunção ideacional interpessoal textual

Léxico-gramática transitividade modo tema

(46)

Qualquer item selecionado tem pelo menos uma função na construção do significado, servindo tanto para nomear algum objeto ou ação, quanto para garantir a interação entre os participantes ou mesmo para estruturar a mensagem de forma a torná-la compreensível. De acordo com a abordagem sistêmico-funcional, cada oração expressa três tipos de significado que Halliday organiza em três grandes metafunções:

• metafunção ideacional: trata da transitividade, da representação lingüística da realidade;

• metafunção interpessoal: diz respeito à interação entre os participantes;

• metafunção textual: se refere à organização e à mensagem interna do texto.

Apesar das três metafunções operarem simultaneamente, esta pesquisa pretende se focalizar na metafunção ideacional pois, para compreender como a mídia impressa representa a mulher, é importante que se busque nas escolhas lingüísticas dos autores dos artigos como a realidade está sendo representada.

4.1 A Metafunção Ideacional

Nesta seção será tratada a metafunção ideacional, pois é nela que se encontram os subsídios teóricos para explicar como os autores usam a linguagem para construir representações. A linguagem é usada para falar sobre o mundo e é através desta metafunção, que se relaciona à variável de campo do discurso, que é focado o conteúdo das mensagens. A metafunção ideacional explica como a linguagem é usada para representar significados sobre o mundo, o modo como a realidade é representada em relação às coisas, às pessoas e os lugares, enfim, sentimentos e valores.

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