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XVI Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação (XVI ENANCIB) ISSN 2177-3688

GT 10 - Informação e Memória Comunicação oral

EM MEMÓRIA DA INFORMAÇÃO EM PERNAMBUCO

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IN MEMORY OF INFORMATION IN PERNAMBUCO

Gilda Maria Whitaker Verri, UFPE gmverri@yahoo.com.br

Resumo: Estudo sobre a circulação de informações oriundas da Metrópole portuguesa, para Pernambuco, no final do século XVIII. Nesta comunicação, pretende-se ampliar o campo teórico e as práticas da Ciência da Informação, construindo uma abordagem histórica e epistemológica, com objetivo de identificar quais, como e onde informações científicas circularam em Pernambuco, no século XVIII, com autorização da Real Mesa Censória, composta pela Coroa e pela Igreja. A interdisciplinaridade da Ciência da Informação com a contribuição da História social permite analisar a circulação de informações, no quadro histórico do livro e da memória. As práticas da política colonialista, em uma sociedade oral, impõem medidas de controle ao conteúdo do livro, então, para indivíduos e professores, que buscam a difusão e a circulação da informação, ficam demarcados os limites estreitos da leitura e do conhecimento. A proposta é explicativa, dando sentido e função à dinâmica da Ciência da Informação na sociedade.

Palavras-chave: Informação científica. Informação e História social. Informação no século XVIII.

Abstract: Study on the circulation of information from the Portuguese metropolis, to Pernambuco, in the late eighteenth century. In this paper, we intend to expand the theoretical and practical field of Information Science, building a historical and epistemological approach, in order to identify what, how and where scientific information circulated in Pernambuco, in the eighteenth century, with permission of the Real Mesa Censória composed by the Crown and the Church. Interdisciplinarity of Information Science with Social History contribution allows you to analyze the flow of information in the historical context of the book and memory. The practices of colonialist policy, in an oral society, impose control measures to the book's content, then, for individuals and teachers that seek the dissemination and circulation of information, it is marked

Keywords: Scientific Information. Information and social history. Information in the eighteenth century.

1 INTRODUÇÃO

1 O conteúdo textual deste artigo, os nomes e e-mails foram extraídos dos metadados informados e são de total

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Em destaque, neste trabalho2, a circulação e a propagação de informações impressas, oriundas da Metrópole portuguesa, para a Capitania de Pernambuco, no final do século XVIII. Entender e avaliar, em uma sociedade eminentemente oral, o modo de controle, de transmissão e circulação de informações culturais e científicas, no quadro histórico do livro e da memória, na esfera da política colonial, constitui o objeto deste estudo. Daí decorre o objetivo maior: identificar quais, como e onde informações científicas circularam com autorização da Mesa dos Censores Régios, criada pela Lei de 5 de abril de 1768, composta pela Coroa e pela Igreja, posteriormente chamada Real Mesa Censória. Por isso, é pressuposto que se as práticas da política colonialista impuseram medidas de cerceamento ao conteúdo do livro, então, para indivíduos e professores, que tiveram a cargo a busca, a difusão e a circulação da informação cultural e científica, ficaram demarcados os limites estreitos da leitura voltada para o avanço do conhecimento.

As notações bibliográficas feitas em petições à Real Mesa Censória, solicitando envios de livros para Pernambuco estão preservadas na Torre do Tombo, em Lisboa, o que tornou possível identificar autores e assuntos (VERRI, 2006) remetidos a Pernambuco. Documentos do Projeto Resgate Barão do Rio Branco associam-se à possibilidade de verificar e analisar o sentido dos termos, das ideias e das ordens régias em circulação à época. O aparato das leis aplicadas às circunstâncias locais, os dados sobre os acontecimentos ocorridos, os rumos educacionais instituídos pela Coroa portuguesa em funcionamento na Colônia completam o quadro por onde circularam novos temas. O panorama sobre a condição cultural da população indica os aspectos sociais definidos pelas medidas políticas instauradas.

Neste sentido, como a “sociedade da informação necessita de uma ciência que estude as propriedades da informação e os processos de sua construção, de sua comunicação e do seu uso” (LE COADIC, 2004), a aplicação dos conhecimentos empíricos e dispositivos da Ciência da Informação, herdados da Biblioteconomia e da Documentação permite delimitar, designar e identificar as obras em circulação. Portanto, continua o autor, os princípios relativos à Ciência da Informação adquirem significado a partir da leitura, do estudo e da difusão dos resultados, vez que são atividades sociais determinadas pelas condições históricas e políticas.

Entende-se, que a circulação e a propagação de informações impressas estão condicionadas à uma visão de mundo de uma determinada comunidade, estabelecida pelas relações e disposições sociopolíticas. Para estudos nesta área, o caráter interdisciplinar da

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Ciência da Informação requer preceitos metodológicos de outras disciplinas, neste caso, a colaboração da História Social.

O significado e o valor dos livros são ampliados quando entendidos como fontes de informação registrada, ou como suportes documentais para registros sobre algo, coerente, útil ao passado, ao presente, ao futuro, destinado à pesquisa e ao testemunho. Em qualquer época, além de mercadorias, os livros são considerados fonte e extensão da memória. Ou, como diz Le Goff (1997, p. 102): “O documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, é um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham o poder”. De modo interdisciplinar, esta investigação busca as bases epistemológicas gerais (RICOEUR, 1997, 198), isto é, identifica os livros que estiveram em um lugar determinado aos quais poderão ser feitas perguntas, de modo a obter respostas ou informações que identifiquem a natureza, a gênese, os valores, as práticas dos conhecimentos científicos que circularam em Pernambuco, no período.

Neste caso, a identificação do repertório bibliográfico portador de informações de cunho científico é “essencial para reconstituir como uma comunidade dá forma e sentido às suas experiências mais fundamentais a partir da decifração dos textos múltiplos que ela recebe, produz e dos quais se apropria”, diz McKENZIE (1986, p. 247). A localização de informações que foram preservadas em espaços distintos, ou espaços da memória, como bibliotecas, arquivos e museus, levou à consulta, ao uso e à análise de outros documentos de época, que permitem validar ou não, autores, fatos e personagens, de modo a que a pesquisa seja explicativa. – Por razões metodológicas, a função-autor das obras não será posta em questão. Os dados históricos ou as informações que respondem a esta proposição têm, no âmbito da memória escrita, os significados que propiciam a capacidade individual e ou coletiva de perceber e interpretar a ação das forças que transformam a dinâmica social e dão significado à Ciência da Informação.

2 INFORMAÇÃO E MEMÓRIA

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recuperação e a socialização de dados ou informações provenientes de experiências individuais ou coletivas, que se estabelecem em relações sociais e históricas.

Em suportes diversificados, a fixação da linguagem, em épocas e segundo tradições culturais diferentes, está carregada de informações que a memória amplamente divulgada possibilita articular, “definir escolhas, instituir e difundir significados e valores” de dados históricos. Por isso, “só é possível falar da memória [e de informação] quando se leva em conta que ela[s] também tem uma história” de múltiplas origens, que “se instituem, funcionam e produzem efeitos”. (MENEZES, 2007, p. 16). Os registros ou vestígios, como lembra Ricoeur (1997), contribuem para a preservação da memória social, demonstram a dinâmica e os efeitos provocados pelas condições econômicas, históricas, sociais, políticas, favoráveis ou adversas, que instituem os saberes estruturadores preservados, apagados, ou compartilhados por uma comunidade ou pela sociedade como um todo.

As informações registradas, conforme as linguagens, em sistemas simbólicos próprios, tendo como suporte os objetos livros, criam, exprimem, fixam, comprovam, preservam ou apagam termos ou temas específicos, escritos ou pensados por indivíduos ou grupos sociais distintos, em tempos e contextos socioeconômicos e culturais diferenciados. O uso e o significado de palavras carregam a história e a geografia do passado. Informação e memória, termos fundantes da Ciência da Informação, têm nos registros em circulação no século XVIII acepções aproximadas, seja no Vocabulario portuguez e latino, aulico, anatomico,

architectonico, bellico [...] do padre Jesuíta Rafael Bluteau (1712-1728), ou no Dictionaire

universel, primeira edição em 1690, de Antoine Furetière, Abade de Chalivoy.

Informação, de origem latina, é um termo considerado filosófico pelos lexicógrafos e quer dizer, para Bluteau: a introdução, ou a união da forma com a matéria. Quando verbo, é usado por Cícero: Unius verbi imagina totius sententia fit informatio: Quer dizer, que huma

só palavra nos faz entender o sentido de huma sentença inteira. [...]. Unir-se a forma com a

matéria. [...]. (BLUTEAU, 1712-1728, p. 129).

Para Furetière, a “informação é o ato pelo qual um Juiz redige por escrito os depoimentos de testemunhas, que são assinadas diante dele para certificar a verdade de quaisquer fatos. Uma informação de vida ou de costumes. [...]. As informações são provas só depois de recolhidas e confrontadas.” Quando verbo significa:

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esclarecer. Usado entre militares, na justiça e na área criminal. (FURETIERE, 1827, t. 2, tradução nossa)

De igual modo, a memória é registrada em léxicos como, resumidamente, se constata em Bluteau: Faculdade d’alma, na qual se conservão as espécies das cousas passadas, & por

meyo da qual nos lembramos do que vimos, & ouvimos. [...]. Uma das cinco partes de

Rhetorica [...]. Instrucções manuscritas [...]. Alguns Authores modernos chamam os livros,

em que dão conta das negociações próprias, ou alheyas, das quaes forão testemunhas

devista. [...]. (BLUTEAU, 1712-1728, v.5, p. 417-18).

Em edição da mesma época, Antoine Furetière, no Dictionaire universel expõe:

Memória. Poder da alma que conserva a lembrança das coisas que se viu ou entendeu. A parte do cérebro onde se crê que reside a memória. Um grande espetáculo imprime sua imagem na memória. [...]. Este homem tem uma memória artificial. É dito também de um monumento [...] de túmulos de honra, de epitáfios, de versos, de elogios feitos em memória de pessoas ilustres. [...] Memória no plural, se diz dos livros de historiadores, escritos por aqueles que [...] foram testemunhas oculares,ou que contam vidas. (FURETIERE, 1727, t. 2, tradução e grifo nosso).

Estes dois termos, usados em diversas áreas do conhecimento, tais como na Ciência da Informação, na Psicologia, na Comunicação, ou na História, vão tomando acepções condizentes com as práticas e as funções às quais estão ligados. À historiadora documentalista Sylvie Fayet-Scribe (1997) sintetiza o significado dos termos para os dias atuais:

Informação é um termo polissêmico que, do ponto de vista histórico, é globalmente ligado a um lugar do saber, ao conhecimento em diferentes formas: teológica, mítica, filosófica, técnica e científica, sendo apropriadas por indivíduos não dispondo de status profissional na sociedade, mas exercendo funções em lugares privilegiados do saber e do conhecimento, isto é, em bibliotecas, mosteiros, corporações, universidades, laboratórios, editoras, academias, empresas. A informação também pode ser entendida do ponto de vista do documento, ou seja, sua forma se dará pela escrita, registrada no documento. (FAYET-SCRIBE, 1997, tradução nossa).

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significado à informação ou aos dados históricos que exprimem e refletem a capacidade individual e ou coletiva de perceber, interpretar, avivar ou esquecer a ação das forças que transformam a dinâmica social.

3 A CIRCULAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM PERNAMBUCO

Expulsos os Jesuítas do Reino e das Capitanias, pelo então Conde de Oeiras, futuro Marquês de Pombal, pelo Alvará Régio de 28 de junho de 1759, coube aos Franciscanos, seguidos dos padres da Congregação do Oratório de São Felipe Neri, o ensino das letras e das ciências aos jovens de Olinda e do Recife. Sem imprensa, sob a vigilância da Meza de

Censores Regios constituída por membros do clero e outros indicados pela Coroa, em 5 de

abril de 1768,que atuavam na Metrópole, a remessa de livros para a Colônia, destinada a uma sociedade oral, em formação intelectual, era de pequenas proporções e descontínua. Entre os assuntos liberados, a forte incidência estava na área da Teologia, particularmente a litúrgica, conforme indicava o Alvará de 10 de julho de 1769:

Mando, que todos os livreiros, Impressores, Mercadores de Livros,

Universidades, Religiões, Comunidades, Corporações e pessoas

particulares, assim desta Corte, como de todos òs Meus Reinos e Domínios, sejam obrigadas a formarem um Catálogo fiel de todos os Livros impressos ou manuscritos, scientificos e literários, que tiverem nas suas Casas, Logeas, Officinas, e Livrarias, o qual será reduzido a sete classes, a saber: Theologia, Jurisprudência, Filosofia, Mathemática, Medicina, História e Bellas Letras.

A proposta de Reforma do Ensino, em 1759, instituída ao mesmo tempo que a criação da Mesa dos Censores Régios, não fez multiplicar o envio para a Colônia do número de títulos e exemplares, embora as recomendações de leitura fizessem parte das Instruções para os

Professores de Gramática Latina, como demonstra Banha de Andrade (1978, p. 167). Sem

exemplares e títulos suficientes, os textos básicos eram copiados à mão, servindo de apoio às aulas, que deveriam seguir as recomendações do Diretor Geral dos Estudos do Reino e seus Domínios, a quem cabia destacar um representante dentro da jurisdição administrativa da Capitania, para supervisionar o ensino e indicar professores para manter os cursos. De Lisboa, o Diretor Geral avisava que “seria suspenso do exercício do Magistério, quem não estivesse em condições, “porque mal pode ensinar pelos novos methodos quem não tiver os livros que

lhe são necessários para se encher das doutrinas e luzes que lhe são precisas” (ANDRADE,

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Os primeiros objetivos e fins do ensino eram claros e deveriam estar baseados na

Breve intrucçam para ensignar a Doutrina Christã, ler e escrever aos Meninos e ao mesmo

tempo os princípios da língua Portuguesa e sua orthographia (1759-1760). O documento,

mandado redigir por Luís Diogo Lobo da Silva, sendo governador de Pernambuco, seguia a tradição para os estudos menores, de ensinar a ler, tendo o catecismo como cartilha. A religião, posta como esteio da ordem civil entre a Coroa e a Igreja, ou como anota Banha de Andrade, alertando que o “princípio” da ciência residia no temor de Deus:

Trata-se [o Breve] de normas metodológicas para os Professores, que sublinhavam com bastante realce a missão de Mestre [...] . Os Mestres destas Escolas eram considerados detentores da ‘ocupação mais nobre e mais útil ao Estado e à Igreja’ por infundirem ‘no espírito, as primeyras imagens e os primeyros pensamentos que devemos ter no santo temor de Deos, da obediência ao Rey e aos seus Ministros respectivos, do amor e respeyto aos nossos mayores, do afeto necessário à Patria e aos interesses da Monarchia. (ANDRADE, 19978, p. 13).

Em Pernambuco, todavia, foram fortes e graves as reações contrárias às mudanças do ensino Jesuítico. A chegada de dois professores régios encarregados de ministrar o novo

método, com aulas de latim, grego e retórica, provocou novas e violentas reações que, aqui,

não cabe demonstrar. Contudo, o objetivo era adotar o Novo Método de Gramática Latina. As reações, os ânimos e as desavenças se agravaram e os professores régios não puderam manter-se no local. O Conde de Oeiras, insatisfeito com a situação, alertou: “O Magistério, por conter utilidade pública, devia prevalecer ao interesse particular da queixosa, salvo o seu direito” (ANDRADE, 1798.p. 87).

O conhecimento do latim, das regras gramaticais, permitia a entrada à Universidade de Coimbra. A adoção do Novo Método baseava-se nas gramáticas de Antonio Felix Mendes e do Padre Antonio Pereira Figueiredo. O aprofundamento da língua exigia leitura de autores e textos para formação de jovens: Rhetorica, Aristoteles (1674); Dionizio Halicarnas (Paris, 1547); Hermogenes (1614); Longino, Tratado do Sublime; Cicero (toda a obra, 1692) Quintiliano; Vosio, Rhetoricas; Granada, Rhetorica (1733); Demostenes; Tito Livio; Salustio; Cornelio Nepos; Tito Livio, Heinecio. Os títulos do Rolin: O methodo de estudar as belas

Letras e Histórias Antiga e Romana; Orações Seletas, de Cícero. Dicionários de latim e de

grego, bem como os textos de Lógica crítica, de Verney e de Genovesi; História da Igreja, Bíblias e sermões, incluindo os de Santo Agostinho e do Padre Vieira.

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Sarmento, Manuel do Cenáculo Villas Boas, que fomentavam e divulgavam preceitos filosóficos e científicos baseados em John Locke, Isaac Newton, David Hume, Roberto Boyle. Para eles, telescópios, balanças, barômetros, termômetros, lanternas, bombas e outros instrumentos eram os aparatos técnico-filosóficos para os fundamentos e experiências dos filósofos modernos, chamados “ilustres naturalistas do século”. (CARVALHO, 1978, p. 50).

Para atender aos reclamos dos novos conhecimentos, a reforma pombalina tomada por traços de ideias avançadas, torna-se visível em 1772, com o “Compêndio histórico do estudo

da Universidade de Coimbra”, direcionando “uma política, doutrinariamente justificada, que

foi amadurecendo, gradualmente, por força dos fatos e das condições ideológicas do iluminismo europeu” (CARVALHO, 1978, p. 54). Assim, para o ingresso aos cursos naquela Universidade, a condição era ter o domínio da Gramática, Lógica, Retórica, Ética, Física experimental, Metafísica, Pneumatologia, Teologia natural e outras disciplinas, dependendo da especialidade para a qual o candidato se propunha seguir.

Essas orientações para o ensino repercutem entre os Congregados de São Felipe Neri, aqui chamados por Congregação da Madre de Deus, por lembrar igreja e convento no centro do Recife, como menciona o professor José Antônio Gonçalves de Mello (1984). Desde meados do século XVII, dois Oratorianos, chegados inicialmente a Olinda, atuaram em missões junto às aldeias indígenas pelo interior. A formação e a presença do corpo de missionários, quase sempre vindos de Portugal, destacava-se pela atuação no plano da assistência espiritual, econômica, e na vida política na Capitania. Vindos alojar-se no Recife, outros se juntaram ao sacerdócio, quando

Foram os mentores dos Mascates na luta contra a aristocracia de Olinda [...]. Foram educadores notáveis, tendo ministrado tanto o ensino secundário como o superior e, como promotores de cultura, 11podiam se gloriar de possuir a melhor biblioteca de Pernambuco colonial (LIMA, 1980, p. 1).

Em Lisboa, protegida por D. João V, a Congregação contava com apoio da Coroa e do Conde de Oeiras. Entre os Congregados destacava-se o autor do recomendado Novo methodo

da grammatica latina, dividido em duas partes dos Mestres das Escolas da Congregação do

Oratório, o Padre António Pereira de Figueiredo, tradutor da Bíblia sagrada, segundo a

vulgata latina, também autor do Compendio das epocas e successos mais illustres da Historia

geral e presidente da Mesa de Censores Régios.

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ordem em Pernambuco. O capítulo IX do Appendiz aos Estatutos da Congregação do

Oratório de N. Senhora da Assumpção, erigida Canonicamente ad instar da de S. Philippe

Neri, dedicado a: “Dos Estudos das Letras”, para que os “nossos aprendão Philosophia, e

Theologia especulativa e moral” fez parte das práticas daqueles que, no Recife, precisaram

aprender e desenvolver conhecimentos nessas áreas, como confirma a Notícia que dão os

Padres da Congregação de Pernambuco acerca da sua Congregação desde a sua ereção.

(MELLO, 1984, 58, 91).

Os Oratorianos tinham pregações de hora e meia, por isso a necessidade de preparação, ou seja, leitura e reflexão de forma disciplinada. Para orientar as leituras virtuosas, a Congregação de Lisboa recomendava a lista: “Alguns lugares de vários livros,

onde se podem achar prontamente outras Meditaçoens commuas das três vias; e liçoens

espirituais eficazes para diversos intentos, conforme necessitar o Exercitante”. – Esta

compilação bibliográfica comentada e anotada serve de guia para identificar e compatibilizar, em um segundo momento, os títulos das obras enviadas para Pernambuco.

Os estudos contrários à escolástica trouxeram avanços para o ensino da Gramática, Filosofia, Ciências naturais, Matemática, Geometria, Física experimental, Química, Medicina. Dois livros muito requisitados para estudo fizeram parte das prateleiras dos estudiosos: A

Instrução sobre a Lógica, ou Diálogo sobre a Filosofia Racional, do padre Manuel Álvares,

[publicada no Porto, na Oficina de Francisco Mendes Lima, 1760]. Mais: a Recreação

Filosófica, ou Dialogo sobre a Filosofia Natural, para instrução de pessoas curiosas que não

frequentárão as aulas, escrita em 10 volumes, pelo Oratoriano Teodoro de Almeida. A obra,

recebida desde a primeira petição que se tem preservada, traz assuntos variados, quase uma enciclopédia, de fácil leitura e entretenimento. As bases filosóficas baseadas nas ideias e práticas cotidianas eram levadas às ciências e, nisto, os volumes da Recreação se baseavam.

Em 1769, autores como, Thomas. Charmes Theologia Universa ad usum sacrae

Theologiae Candidatorum, passam a comparecer nas listas de remessas, cumprindo a função

de alargar o conhecimento na área. A produção e divulgação dos trabalhos do Oratoriano António Pereira de Figueiredo, Colleção das palavras familiares, latina e portuguesa, bem como os Elementos de invençam e locuçam retorica, ou principios da eloquência passam a constar das listas preparadas para os cursos ministrados pelos Oratorianos.

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Assim, logo se entende a remessa do Novo atlas para uso da mocidade portuguesa, ou

principios claros, para se aprender facilmente, e em muito pouco tempo a geografia. Ainda,

de José António da Silva Rego, Geografia moderna precedida de hum pequeno tratado da

esfera, e globo terrestre, e do Padre António Vieira, História do futuro. Não se poderia

esquecer a obra do autor italiano, Oratoriano, de grande repercussão em todos os cursos de Filosofia, Antonio Genuensis, ou Genovesi, Elementorum artis logicocriticae libri V, quibus

praeter quamplurima selectiora et clariora additamenta...

Estes exemplos ilustram a formação da biblioteca dos religiosos encarregados de ministrar cursos internos, ou seja, para preparação de seu próprio corpo religioso, onde muitos se dedicavam à física e à matemática, além dos trabalhos missionários. Vale lembrar que, em 1795, a Instrucção de principiantes, e novo methodo de se aprenderem as primeiras letras

para o uso das escolas da Congregação do Oratorio, seria a cartilha para o primeiro grau. A

Matemática estava presente em autor e título, de M. Bezout, Elementos de analisi

mathematica; e de João António Garrido, Taboada curiosa, novamente reformada, e

augmentada, em que se trata de todas as regras geraes e especies de conta, que também

levava aos estudos da geografia física e náutica. Incluídos, com José António da Silva Rego,

Geografia moderna precedida de hum pequeno tratado da esfera, e globo terrestre... A

divulgação reiterada na fé, firmava-se com a obra Francisco Vilela, Horas portuguesas do

officio da Virgem Maria Nossa Senhora.

Esta pequena amostra dos livros e assuntos em circulação na Capitania, após a criação da Mesa Censória, pode ser complementada com o envio de outras referências destinadas à formação da biblioteca do Seminário de Olinda, organizado e implantado pelo Bispo D. José Joaquim da Cunha de Azeredo Coutinho. O capacitado corpo de professores, além dos conhecimentos teológicos, filosóficos e científicos se propunha a compreender o movimento sociopolítico que caracterizava a face colonialista da Coroa Portuguesa. Lá estavam alguns dos revolucionários de l817 também especialistas em Botânica, Física e Matemática. A partir de 1800, as petições indicam autores e títulos necessários e contingentes: como o Dicionário

da língua portuguesa, da Academia das Ciências de Lisboa; Joseph de Acosta, Historia

natural y moral de las Indias; de Francisco Henrique Ahlers, Instrucção sobre os corpos

celestes; de Noel Alexandre, Theologia dogmático; e do Oratoriano Teodoro de Almeida, O

feliz independente do mundo e da fortuna ou arte de viver contente, outro sucesso de público.

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Universidade de Coimbra, dicionários e textos de história de Portugal. Além do requisitado:

Aventuras de Telemaco, de Fenelon, texto que grande aceitação entre os leitores brasileiros.

Verney, Luís António, De orthographia latina. Sobre as ciências receberam: o Dictionnaire

raisonné de physique de J. Brisson. Elémens d'Histoire Naturelle et de Chimie, de Fourcroy;

Tratado da Conservaçam da Saude dos Povos... Carolus Linnaeus, Systema vegetabilium. E

de Eduardus Job., Institutiones philosophiae praticae, sive principia ethicae universalis; Millot, Historia universal... e outros mais.

Destes textos talvez pela própria condição física do papel impresso ou do manuseio dos livros, não restaram muitas comprovações. Tanto que, depois de extintas as Ordens religiosas, em 1831, as coleções estavam com exemplares pouco manuseáveis. Vendidas ou anexadas por pessoas várias, apenas partes dos acervos foram para as bibliotecas institucionais. É o caso da valiosa biblioteca dos Oratorianos que foi levada para o Rio de Janeiro e depois comprada para servir de lastro bibliográfico para os Cursos de Direito, depois Faculdade de Direito da Universidade do Recife que, na década de 1970, passa a introduzir o novo nome: Federal de Pernambuco.

4 CONCLUSÃO

A identificação de autores e assuntos permite constatar quais, como e onde as informações circularam entre grupos da sociedade instituída. Mais do que uma mercadoria, um objeto de troca, os livros detêm signos e valores de uso e de representação, registrando saberes constituídos, fundamentando a memória coletiva, mesmo que o espaço cultural por ele ocupado seja restrito no tempo e lugar. A materialidade dá a esse objeto uma dimensão histórica da memória, fonte de conhecimento de um tempo, de pesquisa e de circulação de informação ou de dados históricos, o que dá significado à Ciência da Informação.

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