• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CCSA DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL DESSO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE UFRN CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CCSA DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL DESSO"

Copied!
66
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE – UFRN

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – CCSA

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL – DESSO

ANDREZA OLIVEIRA COSTA

CONDIÇÕES DE TRABALHO E DESAFIOS PROFISSIONAIS AO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS: UM RECORTE SOBRE A ATUAÇÃO

NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES.

NATAL/RN 2012

(2)

ANDREZA OLIVEIRA COSTA

CONDIÇÕES DE TRABALHO E DESAFIOS PROFISSIONAIS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS: UM RECORTE SOBRE A ATUAÇÃO

NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES.

NATAL/RN 2012

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN como requisito para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

(3)

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA

Costa, Andreza Oliveira.

Condições de trabalho e desafios profissionais ao exercício profissional dos assistentes sociais: um recorte sobre a atuação no Hospital Universitário Onofre Lopes/ Andreza Oliveira Costa. - Natal, RN, 2012.

66f.

Orientadora: Prof.ª Dra. Eliana Andrade da Silva.

Monografia (Graduação em Serviço social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Serviço social.

1. Serviço social - Saúde - Monografia. 2. Assistentes sociais -

Condições de trabalho - Monografia. 3. Política de saúde – Monografia. 4. Desafio profissional – Assistentes sociais - Monografia. I. Silva, Eliana Andrade da. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/BS/CCSA CDU 364-45:331

(4)

ANDREZA OLIVEIRA COSTA

CONDIÇÕES DE TRABALHO E DESAFIOS PROFISSIONAIS NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DOS ASSISTENTES SOCIAIS: UM RECORTE SOBRE A ATUAÇÃO

NO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES.

Aprovada em: ___ /____/___

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN como requisito para obtenção do título de Bacharel em Serviço Social.

Orientador (a): Prof.ª Dr.ª Eliana Andrade

BANCA EXAMINADORA

___________________________________ Prof.ª Dr.ª Eliana Andrade

(Prof.ª Orientadora – DESSO/UFRN) ____________________________________

Prof.ª Dr.ª Maria Regina de Ávila Moreira (Prof.ª Examinadora – DESSO/UFRN) _______________________________________

Assistente Social Ms.ª Suzanny Cavalcante (Assistente Social convidada – MPRN)

(5)

Dedico a minha família e a todos que contribuíram para concretização desse trabalho.

(6)

AGRADECIMENTOS

A minha orientadora Prof.ª Dr.ª Eliana Andrade pela grande contribuição a concretização desse trabalho.

A todos os professores e em especial a Prof.ª Dr.ª Maria Regina de Ávila Moreira por ter me proporcionado todo conhecimento e aprendizado necessário para minha formação acadêmica, profissional e pessoal.

Aos meus pais, Luzia e Antonio, sem o apoio, dedicação e incentivo deles jamais teria chegado até aqui.

A todas as minhas amigas que fizeram parte desse processo de formação, com quem compartilhei muitas alegrias, tristezas e inquietações.

E a todos meus amigos e amigas que mesmo não estando diretamente inseridos nesse processo sempre me passaram boas energias para perseverar.

(7)

COSTA, Andreza Oliveira. Condições de trabalho e desafios ao exercício profissional dos assistentes sociais: um recorte sobre a atuação no Hospital Universitário Onofre Lopes. Trabalho de Conclusão de Curso. Curso de Serviço Social. UFRN, 2012,64 f.

Resumo

Este trabalho tem como objetivo analisar as condições de trabalho do Assistente Social, enfatizando os rebatimentos dessas sobre o exercício profissional no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL). Para tanto, realizamos um panorama da construção da Política de Saúde no Brasil concomitante ao surgimento do Serviço Social. Apresenta-se também características de ambos na contemporaneidade elencando os acontecimentos que foram transformando tanto a perspectiva da Saúde, como a da prática dos assistentes sociais. Tendo em vista que no presente trabalho, realizamos uma análise sobre condições de trabalho, é imprescindível abordar as ações das entidades representativas do Serviço Social, em especial do conjunto CFESS/CRESS na luta por melhores condições de trabalho que se materializam nas resoluções e outras legislações profissionais. Partindo desse panorama da Saúde/Serviço Social, construímos a partir dos dados levantados por meio de entrevistas e pesquisa documental uma análise sobre os desafios profissionais das assistentes sociais no HUOL que perpassam as condições de trabalho. Apontamos, alguns elementos como a intensificação do trabalho, o déficit de recursos humanos e outros – características inerentes ao Trabalho na sociedade capitalista e intensificada com a implementação da Política Neoliberal – que criam obstáculos a atuação profissional nas suas dimensões ético-políticas, teórico-metodológica e técnico-operativa. No entanto, ao compreendermos essa conjuntura intrínseca ao processamento do trabalho do Assistente Social podemos elaborar estratégias de enfrentamento desses obstáculos, apreendendo também as limitações dos assistentes sociais como categoria, evitando um posicionamento, ora fatalista, ora messiânico.

Palavras-chaves: Política de Saúde, Condições de Trabalho, Desafios ao exercício profissional do assistente social.

(8)

COSTA, Andreza Oliveira. Working conditions and challenges to professional practice of social workers: a clipping about the performance at the Onofre Lopes University Hospital. Final paper. Social Service Course. UFRN, 2012.63 f.

Abstract

This work has the objective to conduct an analysis of the working conditions of the social worker, emphasizing the aftermaths of those on professional practice, in which the locus of research will be the Onofre Lopes University Hospital (HUOL). To this end, we conducted an overview of the construction of Health Policy in Brazil concomitant with the emergence of Social Work, also pointing characteristics of both the contemporary listing the events that were transforming both the perspective of health, such as the practice of social workers. Considering that, in the present final paper, we conducted an analysis that pervades working conditions, it is essential to approach the actions of entities representing the Social Services in Special CFESS / CRESS in the fight for better working conditions that materialize in resolutions laws and other professionals. From this overview of Health / Social Services, built from data collected through interviews and documentary research analysis on the challenges of social workers professional in HUOL that permeate working conditions, pointing out how some elements to stand in the way of a professional performance befitting elements of the Ethical-Political Project: the intensification of work, lack of human resources, among others. By understanding the intrinsic factors to the job processing the social worker can develop strategies that qualify interventions beyond the immediate evidence of a direction in social actions.

Keywords: Health Policy, Working Conditions, challenges to the exercise of the social worker professional.

(9)

Lista de quadros

Quadro 1- Serviços Ofertados... 37

Quadro 2- Projetos desenvolvidos no HUOL... 38

Quadro 3- Programas Credenciados... 39

(10)

Lista de Gráficos

Gráfico 1- Perfil entrevistadas HUOL – Sexo... 51

Gráfico 2- Perfil entrevistadas HUOL – Idade... 52

Gráfico 3- Perfil entrevistadas HUOL – Religião... 52

Gráfico 4- Perfil entrevistadas HUOL – Pertença étnico-racial... 53

Gráfico 5- Perfil entrevistadas HUOL – Atual Formação... 54

(11)

Lista de siglas

APH – Adicional por plantão adicional

CBAS - Congresso brasileiro de Assistentes Sociais CEAS - Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo CFAS - Conselho Federal de Assistentes Sociais CFESS – Conselho Federal de Serviço Social CLT - Consolidação das leis do Trabalho

CONASS – Congresso Nacional de Saúde e Serviço Social

CONNERMS - Congresso Norte-Nordeste de Residências Multiprofissionais em Saúde CONSUNI - Conselho Universitário

CRESS – Conselho Regional de Serviço Social

EBSERH - Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares

ENPESS - Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social HOSPED - Hospital de Pediatria Professor Heriberto Ferreira Bezerra HU – Hospital Universitário

HUAB - Hospital Universitário Ana Bezerra HUOL – Hospital Universitário Onofre Lopes LBA - Legião Brasileira de Assistência MEJC - Maternidade Escola Januário Cicco PL – Projeto de Lei

PNF - Política Nacional de Fiscalização PT – Partido dos Trabalhadores

RN – Rio Grande do Norte SUS – Sistema Único de Saúde

UFAL - Universidade Federal de Alagoas

(12)

SUMÁRIO

1 Introdução... 13

2 Serviço Social: condições de trabalho e desafios ao exercício profissional na Saúde... 16

2.1 Serviço Social e Saúde: Inserção e exercício profissional... 17

2.2 Política de Saúde Contemporânea: desafios ao exercício profissional do Assistente Social.... 26

2.3 Serviço Social: condições de trabalho e desafios ao exercício profissional... 29

2.3.1 Serviço Social: Condição de trabalhador Assalariado e agenda Política do Conjunto CFESS/CRESS na luta por condições de trabalho... 29

3 Uma análise das condições de trabalho e desafios profissionais na Saúde: um recorte da atuação no Hospital Universitário Onofre Lopes... 35

3.1 Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL): um dos espaços sócio-ocupacionais de inserção dos assistentes sociais... 35

3.2 Divisão de Serviço Social: uma análise sobre as condições de trabalho e desafios profissionas... 40 3.3 Perfil profissional das assistentes sociais entrevistadas no HUOL... 51

3.3.1 Perfil HUOL: exercício profissional... 43

4 Conclusão... 55

Referências... 59

Apêndice... 64

(13)

1 INTRODUÇÃO

Historicamente a área da Saúde tem sido uma das áreas de maior inserção de assistentes sociais. Este fato suscita inúmeras reflexões acerca das modalidades de intervenção, das práticas e das condições de realização do exercício profissional. Diante dessa realidade o que se pretende nesse trabalho é analisar as condições de trabalho do assistente social no âmbito da Saúde, a partir da inserção dos profissionais no Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL).

Após a observação das dificuldades impostas ao exercício profissional no HUOL a partir da construção do cenário institucional na Disciplina Seminário de Estágio I- que permitiu visualizar em que contexto essas dificuldades apresentam-se - é que emergiu a inquietação para realizar a pesquisa sobre as condições de trabalho do assistente social e os rebatimentos dessas sobre o exercício profissional, a fim de contribuir tanto para instituição, como também para os usuários e profissionais, na perspectiva de melhoria da qualidade dos serviços.

Para realização dessa análise partiremos de uma breve contextualização da construção da Política de Saúde concomitante a emergência do Serviço Social no Brasil, a fim de traçar um panorama de como a área da Saúde, gradativamente, tornou-se a de maior inserção de assistentes sociais. Em seguida, apresentamos um esboço sobre a atuação do assistente social na área da Saúde a partir da efetivação do Sistema Único de Saúde. Nesse tópico apresentamos de forma sucinta como o processo de renovação do Serviço Social brasileiro foi retardado no âmbito da prática profissional, mas também como as novas perspectivas da profissão tinham uma íntima sintonia com os princípios e diretrizes da Reforma Sanitária e como pouco a pouco a defesa desses princípios tornaram-se integrantes da efetivação das ações profissionais na área, tendo em vista que ao defende-los, defendemos também os princípios contidos no Projeto Ético-Político Profissional. Porém, a defesa de princípios que não coadunam com a hegemonia vigente, entrelaça para os assistentes sociais constantes desafios, dos quais pretendemos abordar aqueles ligados as condições e relações de trabalho.

Ainda apresentamos estratégias de resistência e enfrentamento efetivadas pelo Conjunto CFESS/CRESS diante das investidas neoliberais na defesa dos princípios e diretrizes do Projeto Ético-político Profissional. Nesse, enfatizaremos as ações que dizem respeito a defesa de melhores relações e condições de trabalho, já que essas entidades possuem um leque de bandeiras de lutas.

(14)

Após traçar um esboço dos serviços, programas e projetos desenvolvidos no Hospital e apresentar sua estrutura física e organizacional, realizamos uma reflexão acerca dos desafios profissionais postos aos assistentes sociais no âmbito do exercício profissional a partir da análise das condições de trabalho dos mesmos na contemporaneidade.

Para a elaboração dos elementos apresentados, utilizamos a pesquisa documental, os dados levantados no cenário institucional construído no período de estágio não obrigatório na Instituição e a realização de entrevistas com quatro assistentes sociais que atuam no HUOL, mais especificamente na Divisão de Serviço Social.

Os pressupostos que embasaram a elaboração dos capítulos já descritos foram: o trabalho cooperado, desafios profissionais e condições de trabalho. O primeiro remete a compreensão de que todo trabalho inscrito na divisão sócio-técnica do trabalho tem um significado, por tanto atendem aos interesses da produção de forma direta ou indireta, pois como afirma Netto (1996) a premissa para que uma profissão exista não está relacionada a si, mas as necessidades da sociedade. Dessa maneira, todos os trabalhadores que contribuem direta ou indiretamente para produção compõe o trabalho coletivo que funciona como uma engrenagem, apesar de nos ditames da sociedade capitalista algumas profissões possuírem “status social” mais valorizado do que outras. Ao compreender essa dinâmica passamos a entender algumas relações sociais que perpassam as condições de trabalho, entre elas, por exemplo: a hegemonia médica na área da Saúde.

O segundo são os desafios profissionais que se apresentam aos assistentes sociais nos diversos espaços sócio-ocupacionais e que na dimensão singular se apresentam sob diversas formas, mas na dimensão universal são explicados por determinantes conjunturais em comum. O que unifica esses desafios, independente do que os determina, é a defesa dos princípios do Projeto Ético-Político Profissional, implicando na garantia da qualidade dos serviços ofertados aos usuários.

O terceiro, são as condições de trabalho que com a implementação da Política Neoliberal no Brasil foram ainda mais precarizadas e fragilizadas. Ora, sendo os assistentes sociais trabalhadores assalariados, esse processo incide diretamente no seu exercício profissional.

As análises estruturadas a partir desses pressupostos nos permitiram concluir que na contemporaneidade, as transformações que ocorreram no mundo do trabalho a partir da década de 1990 no Brasil são agudizadas na atual conjuntura, com um forte apelo a privatização dos serviços públicos, do qual os Hospitais Universitários são a “bola da vez”. Dentro desse contexto a intensificação do trabalho via aumento das demandas a serem

(15)

atendidas e aumento da jornada de trabalho, a necessidade da polivalência profissional, o déficit de recursos materiais e humanos perpassam o exercício profissional do assistente social, provocando um desgaste físico e mental que pode levar ao imobilismo. Sendo obstáculos a efetivação de uma intervenção qualificada que abranja além da dimensão técno-operativa, as dimensões ético-política e teórico-metodológica.

Todavia na contramão desse panorama apresentam-se algumas estratégias de resistência e enfrentamento, que têm como pressuposto para emergir, justamente a compreensão dos alicerces da conjuntura atual, na qual caracterizamos no parágrafo anterior. Essas estratégias de acordo com a pesquisa realizada para elaboração do presente trabalho -estão no campo político, na efetivação das lutas sociais. Nesse sentido, as entidades representativas do Serviço Social em especial do conjunto CFESS/CRESS exercem um importante papel realizando campanhas, fomentando e liderando atos públicos como o que culminou na aprovação do Projeto de Lei que estabeleceu a carga horária de trinta horas semanais para os assistentes sociais, sem perda salarial. Contudo a organização política não tem apenas como campo restrito os atos públicos, todos os assistentes sociais podem também no cotidiano profissional imprimir estratégias políticas não apenas na conquista de melhores condições de trabalho, mesmo que essas não tenham retorno imediato.

Nesse contexto, a discussão sobre as condições de trabalho do assistente social é um tema que vem ascendendo na profissão e que tem extrema importância, pois quanto mais nos aprofundarmos no entendimento delas mais compreenderemos as relações sociais que a embasam, entenderemos os limites da atuação profissional e assim poderemos traçar estratégias de luta, que são uma constante nas profissões que almejam um projeto societário diferente do Projeto Societário burguês.

(16)

2 SERVIÇO SOCIAL: CONDIÇÕES DE TRABALHO E DESAFIOS AO

EXERCÍCIO PROFISSIONAL NA SAÚDE

As transformações societárias que se gestaram mundialmente a partir da crise do capital na década de 1970 representaram modificações intensas na sociedade, principalmente no que se refere ao mundo do trabalho e aos direitos sociais. Como resposta a crise, foram implementadas medidas que: intensificaram a exploração do trabalho, desregulamentaram direitos conquistados principalmente no âmbito do trabalho, atribuíram em sua maioria ao terceiro setor a responsabilidade pelas Políticas Sociais, houve um intenso aumento do desemprego entre outros. Elementos conjunturais que se fortaleceram no Brasil na década de 1990 e flexionam as relações sociais na sociabilidade capitalista na atualidade.

Dentro desse contexto o que se percebeu foi um processo de agudização da Questão Social, matéria sobre a qual atua o Serviço Social demandando dos profissionais novas competências para intervir no enfrentamento das emergentes roupagens que ela assume. Ainda não obstante além de exigir novas competências profissionais, as modificações no mundo do trabalho, no que diz respeito, a desregulamentação e flexibilização dos vínculos empregatícios afetaram diretamente o Trabalho do assistente social que está submerso a frágeis condições e relações de trabalho.

Partindo dessas circunstâncias o presente capítulo pretende realizar no primeiro momento uma análise do surgimento do Serviço Social brasileiro concomitante as protoformas das Políticas de Saúde no Brasil a fim de traçar um panorama das transformações sociais que ocorreram desde a década de 1930 e viabilizaram a constituição do Serviço Social Contemporâneo e da Política de Saúde na atualidade. Essa análise se faz importante para apreendermos como a área da Saúde se constituiu como um mercado de trabalho de maior inserção de assistentes sociais e as relações sociais que perpassam as condições e relações de trabalho que constitui o exercício profissional na área atualmente.

O tema, “Condições de Trabalho” vem ganhando amplitude nos debates levantados pelas entidades representativas do Serviço Social, pois, compreende-las inseridas no conjunto das relações sociais que alicerçam a sociabilidade capitalista permite a elaboração de estratégias políticas e institucionais que possibilitem a defesa dos princípios do Projeto ético-Político no cotidiano profissional. Também levantaremos nos tópicos dois e três elementos para compreensão do objeto do presente trabalho, abordando respectivamente aspectos que caracterizam os processos de trabalho na Saúde e posteriormente a agenda política das entidades representativas do Serviço Social sobre o tema.

(17)

2.1 Serviço Social e Saúde: Inserção e exercício profissional.

Para compreendermos como a área da Saúde se consolidou como espaço sócio-ocupacional de atuação dos assistentes sociais, realizamos nesse tópico um resgate da constituição do Serviço Social (a partir da década de 1930) concomitante ao desenvolvimento das Políticas de Saúde no Brasil. Contexto que tem um importante papel na compreensão da atual conjuntura, na qual está inserido o assistente social nos processos de trabalho na saúde, contribuindo para um aprofundamento da análise das condições de trabalho e dos desafios profissionais, objeto de estudo desse trabalho.

A década de 1930 foi marcada no contexto brasileiro por uma Revolução que culminou na ascensão de Getúlio Vargas ao poder. Essa representou o ápice de ruptura com o modelo de desenvolvimento capitalista centralizado na agro-exportação. Voltando-o para atividades internas, ou seja, investimentos no processo de Industrialização/Urbanização do país.

Isso não significa que o Brasil, não possuísse em meados da década de 1920 um expressivo campo urbano-industrial, no qual tinha em sua constituição um contingente de operários que viviam em condições precárias e insalubres, tanto no ambiente em que residiam quanto no local de trabalho. Situação que foi agravada a partir da década de 1930 com o desenvolvimento industrial e o consequente aumento da população urbana, composta por operários e desempregados.

Esse operariado, além de homens, era composto por mulheres e crianças, sendo estes últimos mão-de-obra mais barata. Os salários pagos a esses trabalhadores eram tão baixos, que não garantiam a eles e as suas famílias nem o mínimo necessário a sua sobrevivência. Devido a esse fato, como também a ausência de legislação, muitas crianças ingressavam no trabalho nas fábricas.

Diante da exploração e da pauperização, o operariado começa a se organizar na luta por melhores condições de trabalho e de vida. Em determinado momento esta organização é visualizada como uma ameaça aos valores da sociedade burguesa, “a moral, a religião e a ordem pública”. Até então, a defensiva burguesa a esse movimento de luta era a repressão policial. Porém a hegemonia da mesma não poderia ser garantida apenas pela coerção, necessitando desenvolver mecanismos de integração e controle (IAMAMOTO, CARVALHO, 2008).

(18)

Como estratégia de integração e controle da Questão Social1, o Estado, o empresariado e a Igreja Católica implantam o Serviço Social Brasileiro. Este tinha como objetivo perpetuar e consolidar os aspectos econômicos, políticos e ideológicos, que viabilizavam a acumulação capitalista, o controle dos trabalhadores e a legitimação do modelo social vigente (BISNETO, 2011). Ou seja, o Serviço Social passou a atuar como um instrumento da classe burguesa, a fim de restaurar o consenso e reestabelecer o clima de ordem social. Para tanto, os agentes sociais passaram a mediatizar as relações entre o Estado e a classe trabalhadora por meio de ações que atendessem as necessidades mais imediatas do trabalhador e da sua família. O que segundo Martinelle; (2006) produzirá “[...] um efeito social muito importante, reduzindo as manifestações aparentes dos problemas e fortalecendo a ilusão de que o Estado nutria um paternal interesse pelo cidadão” (p.126).

Em 1932 a Igreja Católica juntamente com a burguesia nascente criou o Centro de Estudos e Ação Social de São Paulo (CEAS), tendo como função qualificar os agentes para prática social. Foi nesse centro que ocorreu o primeiro curso Intensivo de Formação Social para moças ministrado pela assistente social belga Adele de Loneux. É possível perceber que até meados da década de 1930 o Serviço Social brasileiro foi influenciado pelo direcionamento do Serviço Social Franco-belga. De acordo com Vasconcelos (2010) esse direcionamento tinha forte influência do Movimento de Higiene Mental2 que se consolidou na França e na Bélgica na década de 1920 concomitante a constituição do Serviço Social nesses países. De acordo com as proposições de Morel (1857) - autor Francês que constituiu as bases teóricas do Movimento de Higiene Mental -“[...] o alienista deixa de ser o agente e operador exclusivo, podendo aconselhar e instruir todos aqueles que possam ter uma ação junto as massas...” (VASCONCELOS, 2010, p.131 apud “Morel,1857, apud Castel, 1978:262-3”) Sendo viabilizado a partir desse pressuposto a atuação dos agentes sociais na realidade objeto do Movimento Higienista3. As perspectivas moralistas e de ordenamento social que

1

““Questão Social” apreendida enquanto o conjunto das expressões das desigualdades da Sociedade capitalista que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais social, enquanto a apropriação de seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade.” (IAMAMOTO,2009b)

2

Movimento que teve suas origens teóricas formuladas na França no século XIX, mas que obteve terreno fértil para o seu desenvolvimento nos Estados Unidos a partir do século XX, tendo como premissa em linhas gerais: “[...] até aquele momento, a sociedade tinha instaurado uma “profilaxia defensiva”, isolando e tratando os indivíduos perigosos em espaços fechados. Agora ela deve realizar a profilaxia preservadora tentando modificar as condições intelectuais, físicas e morais daqueles que, por razões diversas, foram separados dos outros homens. A profilaxia visa então “combater as causas das doenças e prevenir seus efeitos”. [...] O que se busca é uma “moralização das massas”, dessas classes declinantes que mal entreveem o movimento ascendente das classes superiores e que não podem atingi-lo se forem abandonadas as suas próprias forças. (VASCONCELOS, 2010, p. 131 apud “Morel, 1957, apud Castel, 1978: 262-3”).

3 Para um aprofundamento sobre a influência do Movimento de Higiene Mental sobre as protoformas do Serviço Social consultar: Serviço Social e Saúde Mental, VASCONCELOS, 2010.

(19)

perpassavam o Movimento de Higiene Mental condiziam com o direcionamento do Serviço Social brasileiro católico.

E apesar da constituição do Serviço Social brasileiro ter forte influência do Movimento de Higiene Mental (VASCONCELOS, 2010) como já mencionado, a área da Saúde não foi a que mais concentrou assistentes sociais na década de 19304. Logo, nesse período a assistência médica era restrita a concepção de que Saúde era sinônimo de ausência relativa de doença, o que segundo Iamamoto e Carvalho era “[...] uma forma de eludir as condições gerais de vida e de trabalho da população – compondo um projeto de medicalização das sequelas da exploração[...]”.

Já na década de 1940 o Brasil foi marcado por uma série de mudanças no campo econômico, político e social. Havendo em 1945 uma expansão do Serviço Social no país. (BRAVO, MATOS, 2009b) Processo relacionado ao aprofundamento do capitalismo no Brasil, que levaram o Estado a intensificar a exploração do trabalho por meio da contenção dos salários, o bloqueio das reinvidicações dos sindicatos (medida que já estava em prática desde o Estado Novo em 1937), e estratégias para burlar as legislações sociais que garantiam direitos trabalhistas.

Na contramão dessas medidas que contribuíram para o aumento da impopularidade do governo, agravado pelo ingresso do Brasil na Segunda Guerra Mundial há um gradativo investimento nas políticas assistencialistas que foram materializadas na criação de instituições como a Legião Brasileira de Assistência (LBA) entre outras5. Vale salientar que esse investimento foi intensificado com o fim da Segunda Guerra Mundial influenciado pelo processo que ocorria internacionalmente de recrudescimento das políticas assistencialistas. Esses investimentos se concretizam como estratégia de “[...] de articulação de um novo modelo de dominação política.” (IAMAMOTO, CARVALHO, 2008, p.248) visto a impopularidade do Estado Novo.

A aproximação dos Estados Unidos com o Brasil rendeu ao Serviço Social uma aproximação com a atuação dos assistentes sociais norte-americanos6, no qual predominava o

4

A área de atuação dos agentes sociais nesse período concentrava-se na filantropia, já que o Estado nesse período tinha como estratégias de controle, a repressão e a tortura, como também na contra mão uma política de massa que se revertia na constituição de direitos trabalhistas. Situação que foi modificada a partir da década de 1940, com a institucionalização da profissão, processo que ocorreu devido uma série de acontecimentos que gestaram a conjuntura do pós-guerra.

5

Para um aprofundamento consultar: IAMAMOTO, CARVALHO (2008). 6

O marco para mudança de influência do Serviço Social brasileiro do direcionamento franco-belga para o norte americano foi a realização do Congresso Interamericano de Serviço Social que ocorreu no ano de 1941 em Atlantic City. Ainda segundo Bravo e Matos (2009b): foram criados outros mecanismos de interação, como o oferecimento de bolsas e a criação de entidades organizativas. (p.198)

(20)

Serviço Social de caso ou clínico que de acordo com Mourão tinha forte influência da higiene mental, da psicanálise e da psicologização. Ainda de acordo com esse autor a mudança de predominância do Serviço Social franco-belga para o norte americano apenas alterou a roupagem das ações, sem modificação de objetivos. A influência norte-americana apenas instrumentalizou o Serviço Social brasileiro para a realização do ajustamento do indivíduo.

Além das condições gerais já mencionadas que possibilitou a expansão do Serviço Social no país, há também uma ampliação da inserção do Serviço Social no campo da Saúde que tem como determinantes: o “novo” conceito de Saúde, elaborado em 1948 que considera os aspectos biopsicossociais, viabilizando a organização de equipes multidisciplinares, nas quais os assistentes sociais estavam inseridos. Também a precarização dos Serviços de Saúde oferecidos aos trabalhadores, que nesse período eram financiados com porcentagem paga pelas empresas e dos descontos nos salários dos trabalhadores7.

Os Serviços de Saúde não conseguiam atender a demanda de trabalhadores e o Serviço Social passou a mediatizar a relação entre acesso/demanda reprimida, sendo a porta de entrada dos hospitais. Neste período, algumas das ações realizadas pelos profissionais eram: abordagens em oficinas terapêutico-expressiva, prática de mediação entre “porta de saída e entrada” das enfermarias, encaminhamentos, plantões entre outros. O que percebe-se é uma ênfase numa prática que focaliza o indivíduo remetendo a um Serviço Social clínico, com forte influência norte-americana.

Logo, a insuficiência das respostas profissionais embasadas nas teorias importadas (Europa e Estados Unidos) para realidade brasileira e a crise do capital8 em meados da década de 1960, impulsionaram inquietações em vários profissionais. Este movimento ascende no Serviço Social um processo de reavaliação dos campos teórico, metodológico e operacional da profissão, constituindo o que os autores chamam de Movimento de Reconceituação9.

De acordo com Netto (2009b), há três diretrizes que marcam o Movimento de Reconceituação no Brasil. A “perspectiva modernizadora” que tinha como base dinamizar e

7

Lei Eloy Chaves garantia aos trabalhadores ferroviários, mediante o desconto mensal de 1% da renda bruta das empresas e 3% dos salários dos trabalhadores, o direito de aposentadoria por tempo de serviço ou por invalidez, o tratamento médico e os medicamentos, o auxílio para o funeral e o direito de pensão aos herdeiros do segurado falecido. Vargas adotou parcialmente o modelo da Lei. Organizaram-se as caixas de aposentadoria e pensões e os Institutos previdenciários. A assistência médica passou a ser garantida via financiamento por essas instituições.(FILHO, 2002)

9 “Constituinte do processo internacional de crítica ao tradicionalismo profissional, a Reconceituação, está intimamente vinculada ao circuito sócio-político latino-americano da década de 1960 – em nosso subcontinente, como observou um dos seus protagonistas, “a ruptura com o Serviço Social Tradicional se inscreve na dinâmica de rompimento das amarras imperialistas, de luta pela libertação nacional e de transformações da estrutura capitalista excludente, concentradora e exploradora.” (NETTO, 2005, p.7 apud Faleiros, 1987: 51)

(21)

integrar as técnicas profissionais, ao processo de desenvolvimento sem qualquer questionamento a ordem sócio-política vigente. Ou seja, retomou as concepções “tradicionais” e as conduziu a uma adequação ao cenário sócio-político. A “Reatualização do conservadorismo”, formada por um conjunto de profissionais que não desejavam mudanças radicais e tinham como perspectiva a reatualização dos métodos tradicionais, no atendimento das novas demandas da sociedade. Contrapunham-se a tradição positivista e a influência crítico-dialética marxista. Estavam intimamente vinculados a um ponto de vista do pensamento católico, reinvidicando uma expressão fenomenológica. A “Intenção de Ruptura” tem um caráter inovador que se vincula a uma tendência crítica em relação a ordem sócio-política vigente e ao Serviço Social tradicional entre outros aspectos. Embasada na teoria marxista e apesar de alguns equívocos que serão mencionados adiante, ela contribuiu para a nova roupagem que assumiu a profissão nas últimas décadas. O que pode ser constatado no Novo Código de Ética, nas novas diretrizes curriculares e na lei de regulamentação do exercício profissional de 1993, inscritos na dinâmica do projeto ético-político.

Embora a Intenção de Ruptura tenha embasado a constituição da identidade contemporânea do Serviço Social, esse processo, apenas se consolidou com a crise da ditadura militar entre o final da década de 1970 e início de 1980. Durante o período da Ditadura Militar no Brasil após o golpe de 1964, o espaço para o desenvolvimento dessa perspectiva ficou restrito, principalmente no âmbito da prática profissional. Diante dessa conjuntura, as outras perspectivas obtiveram predominância no âmbito da prática profissional, inclusive na Saúde.

A modernização conservadora operada pela autocracia burguesa nas políticas sociais, rebateram na área da Saúde. Houve um grande investimento no mercado privado de Saúde, sendo regulamentado na Constituição de 1967 que a atuação governamental deve ser suplementar aos serviços privados. Dessa maneira com o surgimento da Medicina de Grupo e o precário sistema de Saúde financiado pelo Instituto Nacional da Previdência Social10, foram realizados convênios com os empresários que passaram a “tratar” da Saúde dos trabalhadores com incentivo do Governo Federal. Situação que culminou na ocorrência de várias fraudes.

De acordo com Bravo e Matos (2009b) esse processo, repercutiu na prática profissional focalizando-a na ação curativa com ênfase na assistência médico previdenciária,

10

Durante o período da Ditadura Militar foi criado o INPS (Instituto Nacional da Previdência Social) que tinha como objetivo unificar todos os órgãos previdenciários que funcionavam desde 1930. (FILHO, 2002)

(22)

embasada na burocratização das atividades, na psicologização das relações sociais e na concessão de benefícios.

As medidas tomadas pelo Regime Militar para efetivação do que eles denominavam de “Milagre Econômico”, como a diminuição do salário mínimo e das condições de trabalho foram contributivas para a agudização da Questão Social. Além do mais, essas medidas sintonizadas com a repressão política e policial, causaram o adoecimento de muitos trabalhadores que sofriam com a falta de acesso ao atendimento na Saúde.

A agudização da Questão Social e a necessidade da autocracia burguesa de manter a ordem social foram determinantes para a inserção do Serviço Social no universo acadêmico. Circunstâncias que permitiram a laicização da profissão e o desenvolvimento de cursos de pós-graduação na área, abrindo portas para a objetivação da pesquisa.

Porém, apesar das estratégias da autocracia burguesa para manter a sua hegemonia, em meados da década de 1970 o Regime Ditatorial entra em crise. Condicionada pela intensificação da Crise do Capitalismo que abalou os pilares do “Milagre Econômico”.

É nesse momento que emerge na sociedade brasileira a ação de vários Movimentos Sociais na luta por direitos, entre eles o Movimento da Reforma Psiquiátrica e o Movimento da Reforma Sanitária.

O Movimento da Reforma Sanitária apresentava propostas de mudanças radicais na estrutura de Saúde vigente. A estrutura posta era seletiva e excludente, focalizava suas ações no modelo curativo-individual ofertado pela Previdência Social.

As propostas da Reforma Sanitária contrapunham-se a esse modelo, defendendo a construção de um Sistema Unificado de Saúde. Esse sistema teria como princípios: a universalidade, ou seja, Saúde como um direito de todos e dever do Estado; Integralidade das ações, que consiste na promoção de ações que articulem Serviços Preventivos e curativos em qualquer nível de complexidade e Participação Social esta deve ser implementada permitindo a participação da população nos conselhos11.

O Movimento da Reforma Sanitária teve como marco para elaboração desses princípios e diretrizes a 8ª Conferência Nacional de Saúde. A articulação dos atores da

11 “É regulamentada na Lei 8.142/90 que dispõe sobre a participação da comunidade nos conselhos de saúde e sobre os repasses financeiros entre as instâncias governamentais para financiamento da saúde pública. Partindo do ideário da democracia participativa - reivindicada desde o fim do regime militar - é direito da população exercido através dos conselhos e conferências de saúde, elaborar, implementar e fiscalizar as políticas públicas.” (COSTA, LIRA,2011, p.9)

(23)

Reforma, no embate contra os pólos antagônicos12 resultou na consolidação das suas propostas. Os artigos 196 a 200 da Constituição Federal de 1988 e posteriormente a Lei Orgânica da Saúde ( Lei 8.080 de 1990) e a lei 8.142/1990 tratam da regulamentação dos princípios e diretrizes para efetivação do Sistema Único de Saúde.

Apesar da base fundamental entre ambos os Movimentos (Reconceituação e Reforma Sanitária) ter perspectivas influenciadas pela teoria crítico-dialético Marxista ambos não obtiveram uma ligação nesse processo. Porém, vale salientar que o processo de reconceituação do Serviço Social que teve um caráter interno – materializado nas inquietações que buscavam respostas internas a legitimação da profissão - foi influenciado pela conjuntura marcada pelas lutas sociais que se gestaram no processo de redemocratização brasileira, inclusive a travada pela Reforma Sanitária.

Na década de 1970, alguns equívocos marcaram esse processo de Reconceituação, no âmbito da ruptura com o conservadorismo do Serviço Social Tradicional. Entre eles a aproximação teórica com autores marxistas como Althusser, Maó Tsé Tung e Lênin que em contextos diversos deformam a essência Marxista, contaminando a teoria com tendências positivistas, é o que Netto (2009b) vai denominar de “Marxismo sem Marx”.

Outro equívoco, diz respeito a elaborações presentes no documento de “BH”13. Ele representou um avanço emblemático na ruptura com o conservadorismo. Estes equívocos podem ser justificados pelas condições sócio-históricas em que ocorreram, sob a repressão da Ditadura Militar como também a forte influência das áreas progressistas da Igreja Católica nas quais os assistentes sociais atuavam (Teologia da libertação, Método Paulo Freire).

Todavia, o Documento de “BH” será a base para o amadurecimento da Ruptura com o Conservadorismo no âmbito profissional, fornecendo subsídio para as discussões na década de 1980. Com a abertura política nesse período e a conjuntura arquitetada no país, de consolidação das lutas sociais e da Redemocratização gestou-se o ambiente suscetível para a superação dos equívocos cometidos, com o livre acesso as obras do Marx e dos seus

12

“[...] um formado pela Federação Brasileira de Hospitais (FBH) e pela Associação das Indústrias farmacêuticas (internacionais) que defendia a privatização dos serviços de saúde, e outro denominado de Plenária da Saúde, que defendia os ideais da Reforma Sanitária...”(BRAVO, MATOS, 2009b, p.203)

13

O Documento de “BH”, segundo Netto (2009b, p.276), é uma “alternativa global ao tradicional”, levando em consideração que além da crítica ao método, teoria e operacionalidade do Serviço Social tradicional, oferece um projeto profissional embasado no debate das ciências, do conhecimento, abrangendo os suportes acadêmicos para a formação de novos profissionais e a intervenção profissional. Sua formulação ocorreu na Escola de Serviço Social da Universidade Católica de Minas Gerais. (NETTO, 2009b, p.247)

(24)

seguidores “mais fiéis” como Gramsci e Lúkacs. Autores que trarão grandes contribuições para constituição do novo ethos profissional.

Um acontecimento emblemático que representou a hegemonia da ruptura com o tradicional no Serviço Social foi o III CBAS (Congresso brasileiro de Assistentes Sociais) ou também chamado “Congresso da Virada”. De acordo com Barroco (2010, p.168) o amadurecimento da Ruptura resultou nas seguintes conquistas:

A militância político-profissional alcança a sua maturidade, evidenciada na organização sindical nacional dos Assistentes Sociais, na articulação com as lutas gerais dos trabalhadores e na inserção junto às demais entidades representativas da profissão ; os eventos nacionais, gradativamente, revelam um contorno crítico e politizado. A produção Marxista supera os equívocos das primeiras aproximações, o ethos profissional é auto-representado pela inserção do assistente social na Divisão sócio-técnica do trabalho, como trabalhador assalariado e cidadão. A formação profissional recebe novos direcionamentos passando a contar como um currículo explicitamente orientado para uma formação crítica e comprometida com as classes subalternas. Em 1986, o Código de ética, praticamente igual desde 1948, é reelaborado, buscando-se garantir uma ética profissional objetivadora da nova moralidade profissional.

É imprescindível reconhecer os avanços obtidos no Código de Ética de 1986 - a explicitação de um compromisso ético com a classe trabalhadora entre outros - porém a ausência de uma análise ética sistematizada teve como consequência a perpetuação do Marxismo Tradicional que “... reduz a ética aos interesses de classe...”(BARROCO, 2010).

As fragilidades inerentes ao Código de 1986 são superadas no Código de Ética aprovado em 1993, fruto de vários debates e do acumulo teórico já conquistado. A conjuntura na qual a sociedade brasileira se encontrava também influenciou as discussões, já que estava em pauta a questão ética, nas lutas sociais que ocorreram nesse período.

A consolidação do Projeto Ético-Político14 do Serviço Social brasileiro se deu numa conjuntura adversa, sendo materializado no Novo Código de Ética, na Lei de Regulamentação da Profissão e nas Diretrizes curriculares. Esses três elementos, construídos coletivamente na década de 1990. A década foi marcada pelo início da implantação do Neoliberalismo no Brasil, sendo implementado como resposta a crise do capitalismo que já se apresentava desde a década de 1950. O neoliberalismo tem como pilares: a flexibilização da produção, via

14

O projeto profissional representa: “[...] a autoimagem de uma profissão, os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários dos seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições privadas e públicas (inclusive o Estado a quem cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais). (NETTO, 2009c, p.144)

(25)

revolução tecnológica; a desregulamentação das relações de trabalho e dos direitos sociais (terceirização) e a dinamização das relações sociais (efemeridade, individualismo).

Esse processo culminará no retrocesso das conquistas regulamentadas na Constituição Federal de 1988, principalmente no âmbito da Seguridade Social (Assistência Social, Previdência Social e Saúde).

Em tal contexto, a Política de Saúde em consonância com o Projeto da Reforma Sanitária sofre rebatimentos do Projeto de Saúde articulado ao Mercado. Há um processo de mercantilização dos Serviços de Saúde, que desestrutura o caráter universal de acesso a Saúde; a integralidade das ações, com ênfase na assistência médico-hospitalar em detrimento das ações de promoção e proteção da Saúde, entre outros princípios regulamentados na Constituição de 1988.

A gestão do trabalho no âmbito da Saúde Pública é modificada, seguindo os novos parâmetros implementados pelo Neoliberalismo que rebatem no setor de Serviços. Entre eles estão: a intensificação do trabalho, a exigência de um trabalhador polivalente, a terceirização dos serviços, a contratação de sujeitos em detrimento da realização de concursos, o desfinanciamento das políticas sociais, que implica no déficit de recursos humanos e materiais nas Instituições, a remuneração por produção entre outros.

Fatores que implicarão na precarização das condições de trabalho, tendo como consequência o adoecimento dos trabalhadores e a deficiência na qualidade dos serviços. Este último, vale salientar, não é causado apenas pela precarização das condições de trabalho, mas pela investida neoliberal de mínimo para o social, que remete a focalização das políticas sociais no atendimento dos mais vulneráveis provocando uma idéia de ineficiência do setor público, passando a responsabilidade para a sociedade civil via Organizações Sociais.

De acordo com Costa (2009) os assistentes sociais ocupam a 4ª Colocação entre os profissionais de formação acadêmica que atuam no âmbito da Saúde e estão nas primeiras colocações, médicos, dentistas e enfermeiros em Natal/RN. Este contexto que perpassa a sociedade brasileira, repercutirá no objeto da ação profissional que é a questão social, como também no trabalho desse profissional que sofrerá os rebatimentos da precarização das condições de trabalho, restringindo as possibilidades de resposta as demandas nas diversas instituições.

Um dos grandes desafios postos aos assistentes sociais na contemporaneidade, é justamente intervir de forma consoante com o Projeto Ético- Político do Serviço Social em meio as tensões e contradições que a condição de trabalhador assalariado o subordina aos interesses da Instituição que o emprega.

(26)

Neste sentido, no próximo item iremos discutir os aspectos que caracterizam a Política de Saúde na Contemporaneidade, a fim de traçar um panorama sobre a efetivação das legislações que constituem os pilares do Sistema Único de Saúde versus as condições de trabalho dos profissionais. A elaboração se faz necessário, pois, ao avaliar a implementação das leis podemos apreender como está ocorrendo o processamento do trabalho na área da Saúde, o que terá interferência direta nas condições e relações de trabalho que a permeiam.

2.2 Política de Saúde Contemporânea: Desafios ao exercício profissional do assistente social

No Brasil, a década de 1990, foi marcado por uma Reforma ou contra-reforma do Estado sob a orientação da Política Neoliberal15. Como carro chefe dessa reforma está a mudança no papel do Estado. Essa mudança perpassa o desfinanciamento das políticas sociais, passando a responsabilidade do bem estar social da população para a sociedade civil via refilantropização sob a égide do capital, promovendo a desconstitucionalização dos direitos sociais e a desregulamentação/flexibilização das relações de trabalho.

Esses aspectos agudizam as expressões da questão social que no contexto da Política de Saúde são objeto de intervenção do Serviço social. Como também atinge o trabalho dos profissionais, precarizando as condições de trabalho e restringindo as possibilidades de resposta as demandas nas diversas instituições.

É importante ressaltar que em países periféricos como o Brasil, o Estado de Bem-Estar Social não tinha bases sólidas, o que comprometeu as conquistas sociais regulamentadas na Constituição Federal de 1988.

A reestruturação produtiva, sob o comando da instauração da política neoliberal, de acordo com Netto (1996), provocou transformações sociais que rebateram na divisão social e técnica do trabalho, tendo conseqüências nas diversas profissões redimensionando as já existentes e criando novas. Ainda sobre esse processo Antunes (1999) afirma que o trabalho organizado foi fragmentado, o desenvolvimento tecnológico característica marcante desse processo elevou os níveis de desemprego estrutural e provocou um retrocesso da ação sindical, exigiram-se trabalhadores polivalentes (trabalhadores que realizassem diversas atividades) visando aumentar a produção sem aumentar o número de trabalhadores.

15

Elaborada como estratégia de resposta a crise do capital na década de 1970. Consultar Bravo (2009a) e Vasconcelos (2010).

(27)

Este processo rebaterá nos processos de trabalho do setor de serviços, tendo em vista que esse mercado absorverá parte dos trabalhadores16, excluídos do trabalho nas fábricas. Nessas circunstâncias o trabalho assume uma nova morfologia com caráter multifacetado e polissêmico. Constitui-se, dessa maneira a classe-que-vive-do-trabalho que tem como núcleo central os trabalhadores produtivos, ou seja, aqueles que valorizam o capital por meio da produção direta de mais-valia, mas também comporta os trabalhadores improdutivos que assim como os produtivos estão na condição de trabalhador assalariado, contudo não produzem diretamente a mais-valia, mas contribuem para que esse processo ocorra. (ANTUNES, 2005)

No âmbito das mudanças já citadas, o Projeto da Reforma Sanitária entra em disputa com o Projeto da Saúde articulado ao Mercado. Ambos com propostas antagônicas, enquanto o primeiro defende a consolidação do Sistema Único de Saúde, com a universalização, integralidade e equidade nas ações, o segundo consiste numa política de ajuste que desresponsabiliza o Estado, que deve provê serviços de saúde apenas para os que não podem ter acesso por meio do mercado. Há uma ênfase na perspectiva de Saúde/Ausência de Doença em detrimento da concepção ampliada de Saúde defendida pela Reforma Sanitária.

Para os assistentes sociais a implementação de ambos os projetos vem requisitando demandas diferenciadas. Enquanto o projeto privatista exige que o profissional realize: seleção socioeconômica dos usuários, atuação psicossocial por meio de aconselhamento, ação fiscalizatória aos usuários dos planos de Saúde, assistencialismo por meio da ideologia do favor e predomínio de práticas individuais. Já o da Reforma Sanitária demanda dos assistentes sócias uma postura condizente com a defesa dos seus princípios, tendo em vista: a democratização do acesso as unidades e aos serviços de saúde; estratégias de aproximação das unidades de saúde com a realidade; trabalho interdisciplinar; ênfase nas abordagens grupais; acesso democrático as informações e estímulo a participação popular. (CFESS, 2010)

Nos últimos anos com a emergência do Partido dos Trabalhadores (PT) a Presidência do Brasil - tendo como representante o Lula - muitas eram as expectativas de que as estratégias de fortalecimento do Sistema Único de Saúde fossem retomadas, contudo o que se presenciou foi o acirramento da disputa entre o Projeto da Reforma Sanitária e o vinculado aos interesses do Mercado. De acordo com Bravo (2009a) ora o governo implementava

16 Absorveu parte dos trabalhadores, tendo em vista que o desemprego estrutural é inerente ao Sistema Capitalista e de acordo com vários autores (Antunes,2005;Iamamoto,2010) foi intensificado com a flexibilização/desregulamentação das relações de trabalho.

(28)

medidas que fortaleciam as propostas da Reforma Sanitária, ora intensificava ações que valorizavam as estratégias do Projeto voltado para o Mercado.

Todavia o que se percebe atualmente com a continuação do governo do PT é um precário e frágil Sistema Público de Saúde que cotidianamente é criticado pelos meios de comunicação, a fim de conformar a ideologia de que o público não tem efetividade e fortalecer os planos privados de Saúde. Conjuntura que gradativamente torna decadente a concepção ampliada de Saúde.

Ao enfatizar um modelo que tenha como base o dual Saúde/Ausência de Doença defendido pelo projeto de mercado, há a perpetuação de um modelo que hegemoniza a atuação dos médicos, em detrimento do significado da ação dos outros profissionais que atuam no âmbito da Saúde.

Também, a lógica do modelo de Saúde-fábrica (compartimentalizado) influenciado pelo modelo fordista de produção que perdurou até meados da década de 1980, continuou, todavia recebeu uma nova roupagem. Esse modelo foi inflexionado pelas alterações da flexibilização, a produção passou a ser por demanda e não em série. (SODRÉ, 2010, p.463)

Diante desse elementos, os processos de trabalho que se materializam no âmbito da saúde provocam a emergência de desafios profissionais aos assistentes sociais que circundam a tensão entre o atendimento das necessidades sociais dos usuários e a condição de trabalhador assalariado. Sendo alguns desses desafios:

 A intensificação do trabalho do assistente social, que por vezes impede a efetivação da dimensão investigativa do profissional interferindo na qualidade dos serviços;

 A garantia de recursos materiais e humanos que proporcionem aos usuários um atendimento qualificado, diante da conjuntura;

 Como atuar diante da precarização das condições de trabalho numa perspectiva consoante com o projeto ético-político;

 A defesa dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde entre outros. Esses desafios não podem ser obstáculos para uma atuação que contemple as dimensões ético-política, teórico-metodológica e técnico-operativa da ação profissional. Contudo para não recair sobre uma postura messiânica ou fatalista da profissão é necessário compreender a conjuntura social e institucional em que se insere o trabalho do assistente social, refletir sobre o trabalho concreto e especialmente o Trabalho abstrato explicitados no tópico a seguir, que perpassa a sua condição de trabalhador assalariado.

(29)

É a partir da perspectiva apontada no parágrafo anterior que analisaremos no próximo tópico, os debates no interior da categoria sobre as condições de trabalho do assistente social e os desafios profissionais, abordando alguns elementos que instrumentalizam os profissionais político e legalmente no enfretamento das precárias condições em que algumas instituições submetem o trabalho profissional.

2.3 Serviço Social: condições de trabalho e desafios ao exercício profissional na Saúde

A discussão sobre as condições de trabalho do assistente social perpassa um conjunto de determinantes, entre eles a construção, constituição e desafios a efetivação da Política de Saúde na contemporaneidade, cujo conteúdo, foi alvo das elaborações do tópico anterior. Dentro desse contexto também se faz necessário realizar uma análise sobre o processo interno de debates no Serviço Social sobre a condição de trabalhador assalariado.

2.3.1 Serviço Social : Condição de Trabalhador Assalariado e Agenda Política do Conjunto CFESS/CRESS na luta por condições de trabalho.

A década de 1980 foi marcada pelos novos rumos que a profissão tomou, com o processo de renovação e de ruptura com o conservadorismo. Representado pelos avanços já apontados na construção de um Projeto Ético-Político pautado num Projeto Societário voltado para emancipação humana, que condiz com as lutas travadas pela classe trabalhadora. Esse contexto levou os profissionais a refletirem sobre uma questão: “O que é o Serviço Social?” Trabalho ou práxis. Esse questionamento também foi impulsionado pela intensificação da dimensão investigativa por meio das pesquisas na área.

Autores significativos nesse debate são o Sérgio Lessa e a Marilda Iamamoto, ambos apresentam posicionamentos divergentes embasados na mesma perspectiva teórica (crítico-dialética). Para Lessa (2007) o Serviço Social não é trabalho, pois ele não tem um produto concreto. Partindo de uma concepção ortodoxa da categoria trabalho, o autor afirma que trabalho é somente aquela atividade que exerce um intercâmbio orgânico com a natureza. Para ele considerar a profissão como trabalho, significa coisificar as relações sociais (“objeto da práxis do assistente social”), como também gerar uma identificação errônea entre a classe operária e a pequena burguesia, esta última a qual, segundo ele pertence o assistente social.

Já para Iamamoto (2010), discutir a Profissão é diferente de analisar o exercício profissional. Analisar o exercício profissional demanda uma série de mediações para que possamos compreender as tensões que permeiam a intenção que o assistente social deseja

(30)

imprimir ao implementar uma ação (condizentes com os elementos éticos e políticos da profissão) e os “[...] constrangimentos inerentes ao trabalho alienado que se repõem na forma assalariada do exercício profissional.”(IAMAMOTO, 2010,p.214)

Outro elemento trazido pela autora é que ao apreender a prática como trabalho, afirmamos que o Serviço Social tem processos de trabalho (processos, pois o processo de trabalho do assistente social não será único/rígido, mas flexionado pelas necessidades da Instituição na qual irá atuar). Esse processo irá mediatizar a relação entre o exercício profissional e a prática da sociedade, permitirá ao assistente social apreender a dinâmica das relações sociais e elaborar estratégias concretas que fortaleçam os elementos contidos no Projeto Ético-Político.

Sendo assim, é importante ressaltar que o Serviço Social é um trabalho especializado, pois:

[...] interfere na reprodução material da força de trabalho e no processo de reprodução sociopolítica ou ídeo-política dos indivíduos sociais. O assistente social é nesse sentido, um intelectual que contribui, junto com inúmeros outros protagonistas, na criação de consensos na sociedade. Falar em consenso diz respeito não apenas a adesão ao instituído: é consenso em torno de interesses de classes fundamentais, sejam dominantes ou subalternas, contribuindo no reforço da hegemonia vigente ou criação de uma contra-hegemonia no cenário da vida social. (IAMAMOTO, 2009a,p.69)

O assistente social, dessa forma é parte integrante do trabalho cooperado, tendo seu papel na divisão sócio-técnica do trabalho. Essa característica implica que ele assim como os outros, inclusos no mercado de trabalho na condição de trabalhador assalariado tem um valor de uso (trabalho concreto) e um valor de troca (trabalho abstrato). O primeiro faz mensão a utilidade social do trabalho profissional, ou seja, o atendimento das necessidades sociais. Já o segundo, o valor de troca (trabalho abstrato) corresponde às condições de trabalhador assalariado (tipo de vínculo empregatício, remuneração salarial, jornada de trabalho e etc.) na qual o sujeito realiza as suas atribuições e competências.

Partindo das categorias anteriores (trabalho concreto e trabalho abstrato), para a análise do trabalho do assistente social compreendemos que a “qualidade” das respostas as demandas17 profissionais não dependem apenas do profissional, mas de um conjunto de determinantes que interferem no processamento do trabalho e que estão intrínsecos aos dilemas da alienação e de determinações sociais que afetam a coletividade. Entre esses determinantes estão as condições e relações de trabalho, na qual esse profissional está

17

Partindo da concepção de demanda traçada por Motta e Amaral (2000): Demanda “...são requisições técnico-operativas que, através do mercado de trabalho, incorporam as exigências dos sujeitos demandantes.”(p.25) Para aprofundamento consultar: A reestruturação do Capital, fragmentação do Trabalho e Serviço Social. (MOTTA, AMARAL, 2000).

(31)

submetido na atual conjuntura de precarização dos vínculos empregatícios, desfinanciamento das políticas sociais entre outros.

Podemos citar como exemplo dessa realidade os dados apontados por Raichelis (2010): apesar das vagas para assistente social no âmbito da assistência social apresentarem aumento, devido principalmente, a implantação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) – os tipos de contratação consiste em sua maioria em cargos comissionados, celetista e outros.

O Serviço Social é reconhecido como uma profissão liberal, todavia necessita de um empregador para que possa desenvolver sua capacidade laborativa. Sendo a condição de trabalhador assalariado inerente ao exercício profissional, é o empregador que fornecerá as condições de trabalho (recursos materiais e humanos, remuneração salarial) para realização da ação profissional. Nessas circunstâncias os elementos normativos e jurídicos do Projeto Ético-Político Profissional (Código de Ética, Lei de Regulamentação da profissão - 8.662/1993 e nas diretrizes curriculares) exercem um importante papel na defesa de melhores condições de trabalho.

Nesse sentido as entidades representativas do Serviço Social exercem papel significativo na defesa das condições de trabalho dos trabalhadores, em especial do assistente social. Ao afirmar a “defesa das condições de trabalho dos trabalhadores” significa que os manifestos e lutas lideradas pelas mesmas não são coorporativas, por entender que as conquistas alcançadas fortalecem estrategicamente a defesa de um Projeto Societário alicerçado na emancipação humana.

O conjunto CFESS/CRESS em poder das suas atribuições legais regulamentadas na Lei 8.662/1993, tem promovido ações enfáticas que garantam a objetivação do que está inscrito no Código de Ética e na Lei já citada. Ações que são materializadas na elaboração de resoluções, nas cartas-manifestos, nas campanhas, na Política Nacional de Fiscalização, no incentivo a pesquisas sobre esse tema e na elaboração de documentos que contém elementos importantes para orientar o exercício profissional como os Parâmetros para atuação do Assistente Social na Saúde, na Assistência Social e na Educação.

No que se refere às resoluções, é relevante abordar a Resolução Nª 493/2006, cujo conteúdo dispõe sobre as condições éticas e técnicas do exercício profissional do assistente social. Nos artigos de 1ª a 5ª são estabelecidos parâmetros minuciosos sobre como devem estar organizados os recursos materiais (infraestrutura) para atendimento do usuário, como também os materiais técnicos produzidos. Outras resoluções ainda tratam sobre condições de trabalho, entre elas: a Resolução Nª 493/2006 (dispõe sobre o sigilo profissional), Resolução

(32)

Nª 533/2008(regulamenta a supervisão direta no Serviço Social), Resolução Nª 383/1999 (caracteriza o assistente social como profissional da Saúde) e a Resolução Nª 512/2007 (trata da reformulação das normas gerais para fiscalização do Exercício Profissional e atualiza a Política Nacional de Fiscalização).

As campanhas de acordo com Santos (2010a, p.707):

[...] possibilitaram abordagens que superaram visões pós-modernas, economicistas e a afirmação de que classe, em sua densidade histórica, é constituída de indivíduos que vivenciam determinadas condições objetivas, caracterizadas pelo não acesso à riqueza socialmente produzida... A classe é vida real que entra em movimento coletivo, que forja na luta a formação da consciência de classe e possibilidades de construção de um projeto coletivo emancipatório.

Já no que diz respeito à Política Nacional de Fiscalização (PNF), ela apresenta dimensões consoantes ao novo caráter assumido pelos Conselhos Federal e Regional de Serviço Social (CFESS/CRESS) a partir das conquistas 18 da “Intenção de ruptura” sobre a categoria. Até meados da década de 1970 o CFAS19 (Conselho Federal de Assistentes Sociais) tinha como função controlar em nome do Estado o exercício profissional com medidas de cunho, apenas burocrático e disciplinador. Com o processo de renovação e construção do Projeto Ético-Político liderado pelas entidades representativas em especial pelo CFESS/CRESS - estes em sintonia com a conjuntura20- superaram o caráter disciplinador e corporativista que tinham predominância.

Dessa maneira, as modificações que ocorriam no bojo do Serviço Social, sobre o Código de Ética, a Lei de Regulamentação e as diretrizes curriculares na década de 1990 influenciaram a nova perspectiva de fiscalização do exercício profissional, que se consolidou por meio da Política Nacional de Fiscalização elaborada em 1999 e atualizada em 2007 por meio da resolução do CFESS n ª 512/200721, tendo como base as seguintes dimensões:

I – Dimensão afirmativa de princípios e compromissos conquistados – expressa a concretização de estratégias para o fortalecimento do projeto Ético-Político profissional e da organização política da categoria em defesa dos direitos , das políticas públicas e da democracia e , consequentemente, a luta por condições condignas e qualidade dos Serviços profissionais prestados;

II – Dimensão Político-pedagógica – compreende a adoção de procedimentos técnico-políticos de orientação e politização dos assistentes sociais, usuários,

18

Apesar da hegemonia do Projeto Ético-Político pautado na Justiça Social, na emancipação humana, não há uma homogeneização dos profissionais a essa perspectiva.

19

O CFAS (Conselho Federal de Assistentes Sociais) passou a ser denominado de CFESS (Conselho Federal de Serviço Social) com a aprovação da Lei de Regulamentação de 1993.

20

Conjuntura já explicitada no tópico 1.0 do presente capítulo.

21 Esta versará sobre algumas reformulações sobre a Política Nacional de Fiscalização, fruto dos debates que ocorreram no interior da categoria a fim de aprimorar as conquistas já elencadas e de consolidar caminhos para avanços. Neste sentido a resolução n.512/2007 menciona as competências da Comissão de Orientação e Fiscalização e estabelece que os relatórios das visitas de fiscalização devem ser discutidos e avaliados com o objetivo de que a partir deles sejam levantadas informações importantes que se tornem agenda de debate e demandas no âmbito da Cofi e das outras comissões que compõem o conjunto CFESS/CRESS.

Referências

Documentos relacionados

Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Doutor pelo Programa de Pós-graduação em Direito da PUC-Rio.. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo

•   O  material  a  seguir  consiste  de  adaptações  e  extensões  dos  originais  gentilmente  cedidos  pelo 

A solução, inicialmente vermelha tornou-se gradativamente marrom, e o sólido marrom escuro obtido foi filtrado, lavado várias vezes com etanol, éter etílico anidro e

A placa EXPRECIUM-II possui duas entradas de linhas telefônicas, uma entrada para uma bateria externa de 12 Volt DC e uma saída paralela para uma impressora escrava da placa, para

RESUMO: Este artigo retrata a trajetória do desenvolvimento da estrutura arquivística da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desde a sua primeira unidade de refe-

Sobre esse ponto, o sociólogo e professor do IFRN, Alyson Freire (2014) posicionou-se a respeito na revista (online) Carta Potiguar, em que expôs:.. A atitude do Midway é mais um

De acordo com os dados obtidos neste experimento, sugere-se que, para ovelhas da raça Santa Inês, criadas nas condições do presente experimento, o melhor intervalo de tempo para

Após analisar a documentação da empresa que pleiteia o leasing como arrendatária, considera-se a proposta de leasing e aprovação para geração de contrato (impresso para ser