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MANDADO DE SEGURANÇA com pedido de tutela de urgência em caráter liminar

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EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

IVAN VALENTE, brasileiro, Deputado Federal pelo PSOL/SP, Líder do

Partido na Câmara dos Deputados, CPF nº 376.555.828-15, endereço eletrônico lid.psol@camara.leg.br, domiciliado em Brasília, em Praça dos Três Poderes, Palácio do Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, anexo IV, gabinete 716, CEP 70160-900, vem, por intermédio de seus advogados abaixo subscritos e firmados, devidamente constituídos, perante esse Colendo Supremo Tribunal Federal, com fundamento nos artigos 5º, LXIX e 102, I, ‘d’, ambos da Carta Magna/88, assim como na Lei nº 12.016, de 2009, interpor

MANDADO DE SEGURANÇA com pedido de tutela de urgência em caráter liminar

Contra ato coator praticado por

RODRIGO FELINTO IBARRA EPITÁCIO MAIA, brasileiro, casado, Deputado

Federal, Presidente da Câmara dos Deputados, CPF nº 005.900.487-83, com endereço em Praça dos Três Poderes, Palácio do Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, CEP 70.160-900, com base nos fatos e fundamentos expostos a seguir.

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I. DOSFATOS

No dia 16 de fevereiro de 2017, o Presidente da República, Michel Temer, publicou Decreto 9.288, de 16 de fevereiro de 2018, que "decreta intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro com o objetivo de pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública"1.

No mesmo dia, a mensagem presidencial contendo o referido decreto foi enviado à Câmara dos Deputados, onde foi numerada como MSC nº 80/2018, conforme ficha de tramitação disponível no portal desta Casa Legislativa2.

Conforme o inteiro teor da supracitada mensagem, não foi enviada à Câmara dos Deputados qualquer manifestação dos Conselhos da República e de Defesa, que, nos termos do arts. 90 e 91 da Constituição da República, devem se manifestar acerca da decretação de Intervenção Federal. Não consta também na referida mensagem Exposição de Motivos, ou qualquer manifestação afim, do Poder Executivo, para justificar e explicar a Intervenção Federal.

Conforme portal da Câmara dos Deputados, consta, Ordem do Dia da Sessão Extraordinária marcada para hoje, 19/02/2018, às 19 horas, a MSC nº 80/2018, “que submete à apreciação do Congresso Nacional o texto do decreto que "decreta intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro com o objetivo de pôr termo ao grave comprometimento da ordem pública”.

Dessa maneira, os Deputados e Deputadas Federais se veem obrigados a deliberar acerca de Decreto de Intervenção Federal, um assunto extremamente delicado, sem qualquer explicação do Poder Executivo motivando tal medida.

Está sob clara ameaça o direito líquido e certo do Autor, Deputado Federal em pleno exercício de seu mandato, ao devido processo legislativo constitucional. A autoridade coatora violou, ao incluir na pauta de sessão da Câmara dos Deputados mensagem presidencial acerca de Intervenção Federal sem qualquer motivação, explicação de motivos ou afins, nem tampouco 1 Disponível em http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=600&pagina=1&data=16/02/2018 Acessado em 19/02/2018. 2 Disponível em http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2167938 Acessado em 19/02/2018.

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manifestações dos Conselhos da República e de Defesa, disposição explícita dos artigos 90 e 91 da Constituição Federal. Como podem os membros da Câmara dos Deputados deliberarem sobre matéria constitucional tão delicada sem que tenha ocorrido a devida instrução constitucionalmente exigida?

Assim, não restou ao Autor outra opção que não se socorrer ao Poder Judiciário para ver sanada a lesão a seu direito.

II. DO DIREITO

II.1 CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS

II.1.1 DA LEGITIMIDADE ATIVA

. Conforme jurisprudência sedimentada deste Supremo Tribunal Federal, o Parlamentar no exercício do mandato possui legitimidade ativa para interpor mandado de segurança em caso de violação do devido processo legislativo constitucional. Em brilhante lição do Ministro do STF Nelson Jobim assentou que os membros do Congresso Nacional têm legitimidade ativa para impetrar tal remédio constitucional. Com esse entendimento, o Tribunal reconheceu o direito público subjetivo de deputado federal à correta observância das regras da Constituição3.

No mesmo sentido, a melhor doutrina pátria entende que os direitos ao devido processo legislativo e ao devido processo constitucional devem ser garantidos pela Jurisdição Constitucional, como garantia dos direitos fundamentais como condições jurídicas de institucionalização da democracia4.

Assim, por serem os impetrantes Deputados Federais em pleno exercício de seus mandatos, comprova-se a legitimidade ativa da demanda.

II.1.2 DA TEMPESTIVIDADE

Nos termos do art. 23 da Lei nº 12.016/2009, que disciplina o mandado de segurança individual e coletivo, o direito de requerer mandado de

3 MS 24.041-DF, rel. Min. Nelson Jobim, 29.8.2001.(MS-24041)

4 OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni de. Devido Processo Legislativo: uma justificação democrática do controle

jurisdicional de constitucionalidade das leis e do processo legislativo. 3. ed. rev. ampl. e atual. Belo Horizonte:

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segurança é extinto após decorridos cento e vinte dias a partir da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Conforme aduzido alhures, tomou-se conhecimento do ato a ser combatido em 16/02/2018. Comprovada, portanto, a tempestividade da demanda.

II.1.3 DA LEGITIMIDADE PASSIVA

Nos termos do art. 1º da já mencionada Lei nº 12.016/2009, será concedido mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça.

O ato impugnado é de autoria do Presidente da Câmara dos Deputados, autoridade para os fins determinados pelo supracitado dispositivo legal.

De acordo com o art. 17, I, ‘t’ do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, é competência do Presidente da Câmara dos Deputados incluir matérias na Ordem do Dia da Câmara dos Deputados.

Demonstrada, portando, a legitimidade passiva da autoridade coatora.

II.1.3 DA COMPETÊNCIA

Consoante art. 102, I, “d” da Constituição da República, compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar originariamente o mandado de segurança contra atos do Presidente da Câmara dos Deputados.

Por conseguinte, demonstrada está a competência do foro elegido para propositura da presente ação.

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II.2 DA ILEGALIDADE DO ATO IMPUGNADO

A mensagem presidencial MSC nº 80/2018, cujo ato de inclusão em Ordem do Dia de Sessão da Câmara dos Deputados ora de impugna, não traz qualquer exposição de motivos, ou afins, em seu bojo. Dessa maneira, não há como os parlamentares exercerem por completo seu direito / dever de exercer o controle político da faculdade do Presidente da República de decretar Intervenção Federal.

Apesar de o Decreto não mencionar, é de se supor que o fundamento constitucional do decreto de intervenção federal é o inciso III do art. 34 da Constituição da República, que assim está disposto:

“Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:

[...]

III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;”

A ausência de qualquer explicação acerca dos motivos, da amplitude, dos objetivos, enfim, das características básicas acerca do Decreto de Intervenção, inviabiliza o efetivo controle político assegurado constitucionalmente ao Poder Legislativo sobre o cumprimento dos requisitos constitucionalmente exigidos ao decreto de Intervenção Federal.

A referida explicação faltante poderia vir em qualquer forma; todavia, o mínimo que se exige é que o decreto seja instruído conforme constitucionalmente exigido para que o Poder Legislativo possa exercer seu controle político. Dessa forma, em atenção ao Princípio da motivação, que norteia toda a Administração Pública, é imprescindível que acompanhe a mensagem presidencial enviada ao Congresso Nacional as manifestações prévias dos Conselhos da República e de Defesa, assim como a manifestação da Presidência da República com a exposição dos motivos (ou afim).

Conforme Walter Claudius Rothenburg, o Congresso Nacional, ao cumprir o disposto no art. 49, IV da Constituição da República, deve examinar os pressupostos materiais – as causas – das medidas de crise, bem como

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seus pressupostos formais – procedimentos a serem adotados5. A ausência de qualquer motivação do Poder Executivo, bem como a ausência de manifestação dos Conselhos da República e de Defesa Nacional inviabilizam o direito dos parlamentares de exerceram controle político do ato de exceção.

Ora, se o objetivo da intervenção federal é “pôr termo a grave

comprometimento da ordem pública”, como pode o Poder Legislativo,

garantidor da ordem constitucional sobre situações de crise, exercer seu dever se sequer o “comprometimento da ordem pública” foi caracterizado pelo Poder Executivo?

A autoridade coatora não poderia disponibilizar tal matéria para votação sem que ela esteja devidamente instruída, conforme mandamento constitucional.

Conforme Celso Antônio Bandeira de Melo, “o Princípio da

Motivação impõe a administração Pública o dever de expor as razões de

direito e de fato pelas quais tomou a providência adotada”6.

Já Diogenes Gasparine ensina que,

“a motivação é necessária para todo e qualquer ato administrativo, pois a falta de motivação ou indicação de motivos falsos ou incoerentes torna o ato nulo devido a Lei n.º 9.784/99, em seu art. 50, prevê a necessidade de motivação dos atos administrativos sem fazer distinção entre atos vinculados e os discricionários, embora mencione nos vários incisos desse dispositivo quando a

motivação é exigida7”.

O próprio Poder Judiciário tem se posicionado conforme esse entendimento, da imprescindibilidade do atendimento ao princípio da motivação administrativa:

5 ROTHENBURG, Walter C. Comentário ao inciso IV do artigo 49. In: CANOTILHO, J. J. Gomes; MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (coords.). Comentários à Constituição do Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. p. 1025.

6 Mello, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo – 15. ed. – São Paulo: Malheiros, 2002. p. 70

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EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE SEGURANÇA. APREENSÃO DE VEÍCULO ESTACIONADO EM LOCAL PROIBIDO. TERMO DE APREENSÃO SEM DISPOSITIVOS LEGAIS. VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA MOTIVAÇÃO QUE REGE TODOS OS ATOS ADMINISTRATIVOS E DO DIREITO DA AMPLA DEFESA.NULIDADE DE ATO. REEXAME NÃO PROVIDO.DECISÃO UNÂNIME. 1-Termo de Apreensão sem constar os dispositivos que demonstram a infração cometida. Exigência necessária em virtude do direito que se tem em saber a motivação que gerou a imposição da penalidade. 2-Violação flagrante do princípio da motivação que rege todos os atos administrativos. 3-Reexame Necessário não provido. 4-Decisão Unânime8.

A ilustre Ministra Carmem Lúcia também já teve oportunidade de se manifestar acerca desse assunto, ao proferir seu voto na condição de relatora do RE 7493999:

4. O Desembargador Relator do caso no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios afirmou:

“De início, não é ocioso repetir que desatende ao princípio da motivação dos atos administrativos (Artigo 2º da Lei n. 9.784/99, nos termos da Lei n. 2.834/2001) não apenas a falta de motivação como também a própria fundamentação inadequada, hipótese em que se inserem os fundamentos da decisão administrativa ‘sub examen’. Em outras palavras, a fundamentação administrativa, no presente caso, é absolutamente inadequada.”

Assim, conforme entendimento doutrinário e jurisprudencial, a inobservância do princípio da motivação administrativa é algo grave, que merece a devida reprimenda do Poder Judiciário e, especialmente no

8 TJPE – REEX 379915220068170001 PE 0037991-52.2006.8.17.0001; Relator(a): José Ivo de Paula Guimarães; Julgamento: 12/04/2012; Órgão Julgador: 8ª Câmara Cível; Publicação: 76.”(grifo nosso) 9 RE 749399. Relatora: Ministra Carmem Lúcia. DJe-168 divulg 27/08/2013 public 28/08/2013

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caso em tela, inviabiliza o direito ao devido processo legislativo constitucional do Autor.

Ainda que, conforme a imprensa, os Conselhos da República e de Defesa Nacional tenham sido convocados às pressas na manhã de hoje10, tais conselhos não contam, em sua composição, com os membros da sociedade civil, o que retira por completo sua legitimidade. Outrossim, o lógico seria que a manifestação de tais conselhos de desse antes da decisão do Presidente da República de tomar a medida de exceção.

Conforme o inciso VII do art. 89 da Constituição da República, fazem parte da composição do Conselho da República “seis

cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução.”

As quatro vagas do referido Conselho de representantes da sociedade civil que deveriam ser indicados pelo Poder Legislativo estão vagas. Ora, como pode o Povo ficar afastado de decisão tão cara à democracia, em total desrespeito à intenção do Constituinte, que expressamente previu a presença de representantes do Povo nesse Conselho?

Assim, conforme demonstrado, eventual manifestação do Conselho hoje, em momento posterior à edição do decreto de Intervenção Federal, sem a participação dos representantes da sociedade civil indicados pelo Congresso Nacional, é claramente ilegítima, mero simulacro para que se finja que os ditames constitucionais estão sendo cumpridos.

II.2.1 DA AUSÊNCIA DA OITIVA DA COMISSÃO DE

CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA

Por último, mas não menos importante, ressalta-se que, nos termos do art. 32, inciso IV, alínea ‘j’ do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, compete à Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania dessa Casa Legislativa manifestar-se acerca de Intervenção Federal. Tal manifestação poderia, em tese, amenizar o vício até aqui aduzido acerca da falta de informações para subsidiar os parlamentares no exercício do controle político do

10 http://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,temer-convoca-reuniao-com-conselhos-da-republica-e-da-defesa-nacional,70002194365

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ato de exceção. Todavia, em flagrante desrespeito à norma regimental, a autoridade coatora exarou, em 16/02/2018 o seguinte despacho11:

À Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (Mérito e Art. 54, RICD).Tendo em vista a não instalação das Comissões Permanentes nesta Sessão Legislativa até a presente data, determino o encaminhamento da proposição ao Plenário. Proposição Sujeita à Apreciação do Plenário.. Regime de Tramitação: Urgência (Art. 151, I, “h” do RICD). (original sem grifos)

Como se vê, norma regimental expressa foi frontalmente violada pela autoridade coatora. A votação de matéria tão cara ao regime democrático sem que o colegiado especializado dessa Casa Legislativa, a sua Comissão de Constituição de Justiça e de Cidadania, se manifeste, é mais uma grave afronta aos fundamentos institucionais de nossa democracia.

Não se pode olvidar que cabe ao Poder Judiciário examinar a conformidade do processo legislativo com os ditames constitucionais, como aquele violado neste caso. Obviamente, o Poder Legislativo tem competência de decidir sobre os seus procedimentos; mas não em clara afronta aos princípios constitucionais do contraditório e do pluralismo político, como bem observado pelo eminente Ministro Luiz Fux no MS 34530:

“Em um Estado Democrático de Direito, como o é a

República Federativa do Brasil (CF, art. 1 º, caput), é paradoxal conceber a existência de campos que estejam blindados contra a revisão jurisdicional, adstritos tão somente à alçada exclusiva do respectivo Poder. Insulamento de tal monta é capaz de comprometer a própria higidez do processo legislativo e, no limite, o adequado funcionamento das instituições democráticas.

(...)

[H]á um argumento de cidadania para admitir a sindicabilidade judicial nas hipóteses de estrito descumprimento das disposições regimentais. Trata-se de zelar pelo cumprimento das regras do jogo democrático, de modo a assegurar o pluralismo

11 Disponível em

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necessário e exigido constitucionalmente no processo de elaboração das leis. Por oportuno, vale transcrever a percuciente análise do professor da Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais Marcelo Andrade Cattoni de Oliveira, em sua tese de doutoramento intitulada Devido Processo Legislativo, quando afirma que ‘(...) esses requisitos formais são, de uma perspectiva normativa, condições processuais que devem garantir um

processo legislativo democrático, ou seja, a

institucionalização jurídica de formas discursivas e negociais que, sob condições de complexidade da sociedade atual, devem garantir o exercício da autonomia jurídica - pública e privada – dos cidadãos. O que está em questão é a própria cidadania em geral e não o direito de minorias parlamentares ou as devidas condições para a atividade legislativa de um parlamentar "X" ou "Y". Não se deve, inclusive, tratar o exercício de um mandato representativo como questão privada, ainda que sob o rótulo de 'direito público subjetivo' do parlamentar individualmente considerado, já que os parlamentares, na verdade, exercem função pública e representação política; e é precisamente o exercício necessariamente público, no mínimo coletivo ou partidário, dessa função que se encontra em risco. Trata-se da defesa da garantia do pluralismo no processo de produção legislativa, na defesa da própria democracia enquanto respeito às regras do jogo ( ... )". (OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni de.

Devido Processo Legislativo. Belo Horizonte:

Mandamentos, 2001, p. 25-26).” (original sem grifos)

O caso em apreço ganha especial relevo quanto à necessidade de atendimento ao princípio da motivação a partir do momento em que respeitados juristas e especialistas em segurança pública têm se manifestado acerca de irregularidades no decreto de intervenção federal12. Tal fato torna

12 Decreto de intervenção federal no Rio de Janeiro é inconstitucional, por Eloísa Machado

de Almeida, Professora Doutora de Direito Constitucional na FGV Direito SP. Disponível em

http://justificando.cartacapital.com.br/2018/02/16/decreto-de-intervencao-federal-no-rio-de-janeiro-e-inconstitucional/

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ainda mais relevante o constitucionalmente determinado controle político do decreto pelo Congresso Nacional. Controle esse que é completamente inviabilizado caso a mensagem presidencial não esteja devidamente instruída.

Em suma, o direito líquido e certo do Autor à observância do devido processo legislativo exige que seja submetida ao Plenário o exame do Decreto Presidencial de Intervenção Federal devidamente instruído, conforme ditames constitucionais e regimentais, especialmente em acordo com o princípio constitucional da motivação dos atos administrativos.

III. DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, é patente a violação do direito líquido e certo à observância do devido processo legislativo constitucional. Assim, requer-se desde já seja concedida ordem para reconhecer a ilegalidade do ato impugnado – a inclusão da MSC nº 80/2018 na Ordem do Dia da Sessão Extraordinária do dia 19/02/2018 – e evitar que se concretize a iminente lesão a direito líquido e certo do autor ao devido processo legislativo.

III.1 DA TUTELA DE URGÊNCIA EM CARÁTER LIMINAR Presentes estão os requisitos para a concessão da medida liminar, nos termos do art. 7º, III da Lei nº 12.016/2009, assim como do art. 300 do Código de Processo Civil.

Disponível em http://justificando.cartacapital.com.br/2018/02/16/entenda-varias-criticas-e-inconstitucionalidades-ao-decreto-de-intervencao-federal/

Populismo na Segurança Pública, por Conectas Direitos Humanos. Disponível em

http://www.conectas.org/noticias/populismo-na-seguranca-publica

Para especialistas, intervenção federal no RJ é inconstitucional e não dá resultados.

Disponível em https://www.conjur.com.br/2018-fev-16/intervencao-federal-rio-inconstitucional-nao-dara-resultados

Intervenção federal no Rio: as justificativas e as contestações. Disponível em

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2018/02/16/Interven%C3%A7%C3%A3o-federal-no-Rio-as-justificativas-e-as-contesta%C3%A7%C3%B5es

A intervenção é grosseiramente inconstitucional, por Rafael Valim, doutor e mestre em Direito Administrativo. Disponível em

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A evidência da probabilidade do direito está suficientemente caracterizada pelos argumentos deduzidos até aqui.

O perigo de dano resta evidente do fato de que a votação da MSC nº 80/2018, que trata da intervenção federal no estado do Rio de Janeiro, que, conforme demonstrado, não está devidamente instruído, encontra-se pautado na Ordem do Dia da Sessão Extraordinária convocada para hoje, 19/02/2018, às 19h13.

A deliberação da MSC nº 80/2018 pelo Plenário da Câmara dos Deputados sem que os parlamentares sejam providos das devidas informações acerca de situação tão grave ao Estado Democrático de Direito, como uma Intervenção Federal, gerará consequências de difícil reversibilidade caso este mandamus seja posteriormente deferido, com grave ameaça à segurança jurídica.

É urgente tutelar o interesse defendido.

Por tais razões, requer-se, a concessão de medida liminar,

inaudita altera pars, para que se determine ao Presidente da Câmara dos

Deputados que se abstenha de incluir em Ordem do Dia qualquer mensagem presidencial referente a Intervenção Federal que não esteja devidamente instruída, especialmente no que tange ao princípio da motivação.

III.2 PEDIDOS FINAIS

Tendo em vista os fundamentos fáticos e jurídicos expostos, requer o Autor:

a) A concessão de medida liminar, inaudita altera pars, para que se determine ao Presidente da Câmara dos Deputados que se que se abstenha de incluir em Ordem do Dia da Câmara dos Deputados qualquer mensagem presidencial referente a Intervenção Federal que não esteja devidamente instruída, especialmente no que tange ao princípio da motivação.

b) No mérito, seja concedida a ordem para reconhecer a violação do direito do Autor ao Devido Processo Legislativo Constitucional caso a MSC nº 80/2018 seja votada sem que seja atendido o princípio da motivação, especificamente no que tange à exposição de motivos (ou similar) da

13 http://www.camara.leg.br/internet/plenario/ordemdodia/OD190218%20-%20EXTRA%2019H.PDF

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Presidência da República, e à manifestação prévia dos Conselhos da República e de Defesa Nacional e da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados;

c) Seja notificada a autoridade coatora para prestar informações no prazo legal, nos termos do art. 7º, I da Lei nº 12.016/2009;

d) Seja dada ciência do feito à Advocacia Geral da União, nos termos do art. 7º, II da Lei nº 12.016/2009;

e) Seja notificado o ilustre representante do Ministério Público, para, nos termos do artigo 12 da Lei nº 12.016/2009, opinar acerca da presente demanda. Termos em que pede deferimento Brasília, 19 de fevereiro de 2018. ANDRÉ MAIMONI OAB/DF nº 29.498 ALBERTO MAIMONI OAB/DF 21.144 ALVARO MAIMONI OAB/DF 18.391

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