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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

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TRIBUNAL FEDERAL

O PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA, com fundamento

nos arts. 102, I, a e p, 103, VI, e 129, IV, da Constituição Fede-ral de 1988, no art. 46, parágrafo único, I, da Lei Complementar 75, de 20 de maio de 1993 (Lei Orgânica do Ministério Público da União), e na Lei 9.868, de 10 de novembro de 1999, propõe

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE

com pedido de medida cautelar, contra o art. 10 da Lei

10.254/1990, do Estado de Minas Gerais, o qual permite designação para o exercício de função pública para suprir a necessidade de pes-soal sem concurso público.

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Esta petição inicial é acompanhada de cópia do ato

impug-nado, constante do procedimento administrativo

1.22.000.000689/2013-82 instaurado na Procuradoria-Geral de Jus-tiça do Estado de Minas Gerais.

I. OBJETO DA AÇÃO

É do seguinte teor o diploma impugnado nesta ação:

Art. 10 - Para suprir a comprovada necessidade de pessoal, po-derá haver designação para o exercício de função pública, nos casos de:

I- substituição, durante o impedimento do titular do cargo; II- cargo vago, e exclusivamente até o seu definitivo provi-mento, desde que não haja candidato aprovado em concurso pú-blico para a classe correspondente.

§ 1º- A designação para o exercício da função pública de que trata este artigo somente se aplica nas hipóteses de cargos de: a)- Professor, para regência de classe, Especialista em Educação e Serviçal, para exercício exclusivo em unidade estadual de ensino; b)- Serventuários e Auxiliares de Justiça, na forma do art. 7º, pa-rágrafo único, da Lei nº 9.027, de 21 de novembro de 1985, e art. 7º, § 1º, da Lei nº 9.726, de 5 de dezembro de 1988.

§ 2º- Na hipótese do inciso II, o prazo de exercício da função pública de Professor, Especialista em Educação e Serviçal não poderá exceder ao ano letivo em que se der a designação.

§ 3º- A designação para o exercício de função pública far-se-á por ato próprio, publicado no órgão oficial, que determine o seu prazo e explicite o seu motivo, sob pena de nulidade e de res-ponsabilidade do agente que lhe tenha dado causa.

§ 4º- Terá prioridade para designação de que trata o inciso I deste artigo o candidato aprovado em concurso público para o cargo, observada a ordem de classificação.

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§ 5º- A dispensa do ocupante de função pública de que trata este artigo dar-se-á automaticamente quando expirar o prazo ou ces-sar o motivo da designação, estabelecido no ato correspondente, ou, a critério da autoridade competente, por ato motivado, antes da ocorrência desses pressupostos.

§ 6º- Poderá haver também designação para o exercício de fun-ção pública de candidato em processo seletivo sujeito a período experimental ou treinamento avaliados que constituam prova do correspondente concurso público, nos termos do respectivo edi-tal, com prazo de designação não superior a 90 (noventa) dias.

Conforme se demonstrará, o dispositivo contraria os princí-pios da isonomia (art. 5º, caput, e II), da impessoalidade e da mo-ralidade administrativa (art. 37, caput), da obrigatoriedade de realização de concurso público (inciso II do art. 37) e da excep-cional contratação temporária (inciso IX do art. 37) previstos na Constituição da República.

II. FUNDAMENTAÇÃO

A Lei 10.254/1990 institui o regime jurídico dos servi-dores públicos do Estado de Minas Gerais e, em seu art. 10, prevê a hipótese de suprimento de pessoal por meio de designação em função pública sem a prévia aprovação em concurso público nos cargos de professor e serventuários ou auxiliares da justiça no caso de substituição, durante o impedimento do titular do cargo ou, ante a existência de cargo vago, até o seu provimento definitivo.

A admissão para o exercício de função pública por concurso impõe-se como regra de observância cogente, prevista na Constituição da República, tendo em vista ser meio

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democrá-tico e moralizador para a seleção daqueles mais capacitados para desempenharem as atribuições do Estado.

Em observância ao princípio da acessibilidade aos cargos públicos, o art. 37, II, da Constituição Federal, estabelece: “a in-vestidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração”.

A Constituição contempla apenas duas exceções à regra de acessibilidade dos cargos públicos por concurso público: o pro-vimento de cargo em comissão e a contratação destinada a atender necessidade temporária e excepcional.

Os detentores de cargos em comissão são de livre no-meação e exoneração, tem vínculo transitório com o Poder Pú-blico e apenas são providos para o desempenho de atribuições de direção, chefia e assessoramento. Sua finalidade é a de prestar au-xílio e assistência a agentes públicos mais graduados, cujas atribui-ções são afetas à condução de atividades com capacidade decisória, devendo ficar demonstrado, para que se comprove sua necessida-de, que, sem as referidas funções de confiança, a autoridade supe-rior não teria condição de atuar com a eficiência desejada.1

Observa-se que somente o conjunto de atribuições a se-rem desempenhadas pelo ocupante do cargo é que irá comprovar

1 CAMMAROSANO, Márcio. Cargos em comissão: breves considerações quanto aos

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se esse é mesmo de provimento em comissão. Márcio Cammaro-sano, ao tratar do tema, entende que:

Também ofende a ordem jurídica em vigor criar cargos em comissão que não consubstanciem competências de direção,

chefia e assessoramento ainda que a denominação que se lhes

atribua seja própria de cargos daquelas espécies, pois o que importa não é o rótulo, mas a substância de cada qual. Em outras palavras; denominar cargos públicos como sendo de diretor, chefe, ou assessor não lhes atribui, por si só, a

natu-reza que os permita ser de provimento em comissão.2

De fato, não é o caso do ato normativo ora em análise, porquanto refere-se a funções pedagógicas e burocráticas ineren-tes aos professores e serventuários da justiça, respectivamente.

Por outro lado, para a contratação temporária, o art. 37, IX, da Carta Política, prevê dois requisitos inafastáveis a auto-rizá-la: a temporariedade, ou seja, somente se justifica se a necessi-dade da Administração for transitória; e a excepcionalinecessi-dade do in-teresse público, a evidenciar circunstâncias incomuns.

Sobre o tema, oportuno transcrever o escólio do Pro-fessor Celso Antônio Bandeira de Mello3 sobre as peculiaridades

do contrato temporário:

A Constituição prevê que a lei (entende-se: federal, estadual, distrital ou municipal, conforme o caso) estabelecerá os casos de contratação para o atendimento de necessidade temporá-ria de excepcional interesse público (art. 37, XI). Trata-se, aí, de ensejar suprimento de pessoa perante contingências que desgarrem da normalidade das situações e presumam ad-missões apenas provisórias, demandadas em circunstâncias incomuns, cujo atendimento reclama satisfação imediata e

2 CAMMAROSANO, Márcio. Cargos em comissão: breves considerações quanto aos

li-mites à sua criação. Revista interesse público, Porto Alegre, n. 38, jul./ago. 2006, p. 25-31.

3 MELLO, Celso Antônio Bandeira de, Curso de Direito Administrativo, 13ª edição,

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temporária (incompatível, portanto, com o regime normal de concursos). A razão do dispositivo constitucional em apreço, obviamente, é contemplar situações nas quais a pró-pria atividade a ser desempenhada, requerida por razões muitíssimo importantes, é temporária, eventual (não se justi-ficando a criação de cargo ou emprego, pelo quê não have-ria cogitar do concurso público), ou a atividade não é tem-porária, mas o excepcional interesse público demanda que se faça imediato suprimento temporário de uma necessidade (neste sentido, 'necessidade temporária'), por não haver tem-po hábil para realizar concurso, sem que suas delongas dei-xem insuprido o interesse incomum que se tem de acober-tar.

A Ministra Cármen Lúcia, no voto-condutor na ADI 3.386/DF4, asseverou que o STF, na definição do alcance da

ex-pressão constitucional “necessidade temporária de excepcional in-teresse público”, tem buscado uma interpretação “caso a caso”. Destacou, porém: “O que deve ser temporária é a necessidade e não a atividade”. Quanto à excepcionalidade, entende estar tal ex-pressão relacionada a circunstâncias imprevisíveis, que fogem do ordinário.

A iterativa jurisprudência do STF é no sentido de que a legi-timidade da contratação temporária está condicionada ao atendi-mento dos seguintes requisitos: previsão em lei, tempo determinado e necessidade temporária e/ou excepcional interesse público (ADI 890, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ 06-02-2004; ADI 1500, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 16-08-2002; ADI 2229, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 25-06-2004; ADI 1219 MC, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 31-03-1995; ADI 2380 MC, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 24-05-2002; ADI 2987, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 02-04-2004).

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Cumpre ao legislador, em atenção aos princípios da razoabi-lidade e da proporcionarazoabi-lidade, especificar a excepcionarazoabi-lidade da situação de interesse público e a indispensabilidade para cada hipó-tese de contratação temporária. De acordo com Helly Lopes Mei-relles5, não é admissível a previsão de cláusulas abrangentes e

genéricas:

Além dos servidores públicos concursados ou nomeados em comissão, a Constituição Federal permite que a União, os Estados, e os Municípios editem leis que estabeleçam 'os ca-sos de contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público' (CF, art. 37, IX). Obviamente, essas leis deverão atender aos princípios da razoabilidade e da moralidade. Não podem

prever hipóteses abrangentes e genéricas, nem deixar sem definição, ou em aberto, os casos de contratação.

Dessa forma, só podem prever casos que efetivamente justi-fiquem a contratação. Esta, à evidência, somente poderá ser feita sem processo seletivo quando o interesse público assim o permitir. (grifou-se)

No mesmo sentido, a jurisprudência do STF veda a contrata-ção temporária mediante cláusulas legais genéricas e abrangentes:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PEDIDO CAUTELAR. REGULAMENTAÇÃO DE DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL PELA MEDIDA PROVISÓRIA Nº 2.014-4/00. CARGOS TÍPICOS DE CARREIRA. INCONSTITUCIOALIDADE. PREEN-CHIMENTO MEDIANTE CONCURSO PÚBLICO. 1. As modificações introduzidas no artigo 37 da CF pela EC nº 19/98 mantiveram inalteradas a redação do inc. IX, que cuida de contratação de pessoal por tempo determinado na Administração Pública. Inconstitucionalidade formal inexis-tente.

1.2 Ato legislativo consubstanciado em medida provisória pode, em princípio, regulamentá-lo, desde que não tenha

5 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo brasileiro. 33 ed. São Paulo:

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sofrido essa disposição nenhuma alteração por emenda cons-titucional a partir de 1995 (CF, art. 246).

2. A regulamentação, contudo, não pode autorizar contrata-ção por tempo determinado, de forma genérica e

abran-gente, de servidores sem o devido concurso público (CF,

art. 37, II), para cargos típicos de carreira, tais como aqueles relativos à área jurídica.” (ADI 2.215, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ de 29.9.2000 – grifou-se).

CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. SERVI-DOR PÚBLICO. CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA. C.F., ART. 37, IX. Lei 9.918/90 E Lei 10.827/94, do Es-tado do Paraná.

I. - A regra é a admissão de servidor público mediante con-curso público: CF, art. 37, IX. Lei 9.198/90 e Lei 10.827/94, do Estado do Paraná.

I – A regra é a admissão de servidor público mediante con-curso público: CF, art. 37, II. As duas exceções à regra são para os cargos em comissão referidos no inciso II do art. 37 e a contratação por tempo determinado para atender a ne-cessidade temporária de excepcional interesse público: CF, art. 37, IX. Nesse hipótese, deverão ser atendidas as seguin-tes condições: a) previsão em lei dos casos; b) tempo deter-minado; c) necessidade temporária de interesse público excepcional.

II. - Precedentes do Supremo Tribunal Federal: ADI 1.500/ES, 2.229/ES e 1.219/PB, Ministro Carlos Velloso; ADI 2.215-MC/DF e 890/DF, Ministro Maurício Corrêa; ADI 2.380-MC/DF, Ministro Moreira Alves; ADI 2.987/SC, Ministro Sepúlveda Pertence.

III. - A lei referida no inciso IX do art. 37, CF, deverá esta-belecer os casos de contratação temporária. No caso, as leis

impugnadas instituem hipóteses abrangentes e genéricas de contratação temporária, não especificando a contin-gência fática que evidenciaria a situação emergencial,

atribuindo ao Chefe do Poder interessado na contratação es-tabelecer os casos de contratação: inconstitucionalidade.” (ADI 3.210, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 03.12.2004 – grifou-se).

Deve-se ter em mente que não é qualquer necessidade tem-porária que justifica a arregimentação sem a observância dos

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parâ-metros do concurso público. Acerca da contratação temporária de excepcional interesse público, afirma Celso Antônio Bandeira de Mello:

“(...)desde logo, não se coadunaria com sua índole, contra-tar pessoal senão para evicontra-tar o declínio do serviço ou para restaurar-lhe o padrão indispensável mínimo seriamente de-teriorado pela falta de servidores. (...) Em segundo lugar, cumpre que tal contratação seja indispensável; vale dizer, in-duvidosamente não haja meios de supri-la com remaneja-mento de pessoal ou redobrado esforço dos servidores já existentes. Em terceiro lugar, sempre na mesma linha de ra-ciocínio, não pode ser efetuada para a instalação ou realiza-ção de serviços novos, salvo é óbvio, quando a irruprealiza-ção de situações emergentes os exigiria e já agora por motivos inde-clináveis, como os de evitar a periclitação da ordem, segu-rança ou saúde. Em quarto lugar, descaberia contratar por esta via para cargo, função ou emprego de confiança, que

isto seria a porta aberta para desmandos de toda espécie”.6

Na espécie, não se trata, propriamente, de contratação tem-porária, mas de espécie ainda mais gravosa, intitulada designação, em que o prestador de serviço temporário será vinculado ao Po-der Público, sob caráter transitório e excepcional, por ato próprio, publicado no órgão oficial, conforme o § 3º do dispositivo em exame.

Ao contrário dessa previsão anômala, cabe destacar que de acordo com a Lei 8.745/93, que regulamenta a contratação tem-porária no âmbito Federal, o recrutamento de pessoal será forma-lizado por intermédio de processo simplificado, harmonizando-se assim ao regime moralizador, impessoal e democrático consagrado na Constituição. O que pretendeu o legislador estadual foi insti-6 “Regime Constitucional dos Servidores da Administração Direta e Indireta”. RT, 2.ed.,

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tuir contratação temporária sem atendimento aos seus pressupos-tos.

A despeito disso, vê-se que no caso do inciso I do art. 10 da Lei 10.254/1990, o impedimento do servidor titular do cargo não poderia sequer ser remediado pela utilização excepcionalíssima da contratação temporária em detrimento do concurso público, quanto menos a simples designação para o exercício de função pública. A Administração Pública possui diversos meios de rema-nejamento de força de trabalho dispostos, inclusive, na Lei 8.112/90, como, por exemplo, os institutos da substituição, da re-moção, da redistribuição, requisição ou cessão.

Além disso, é de caráter genérico a expressão “durante o im-pedimento do titular do cargo”, haja vista que de um ínfimo perí-odo de afastamento do servidor titular, sem a demonstração de prejuízo real à continuidade da prestação do serviço público, pos-sibilitaria desarrazoadamente a designação para o exercício de fun-ção pública sem a prévia realizafun-ção de concurso público.

Ora, as eventuais ausências temporárias de servidores do qua-dro de pessoal devem ser previstas no planejamento geral de cada ente político ou órgão administrativo, de modo que a demanda seja suprida por servidores concursados, por ser a forma que a Constituição determina, com irradiante natureza isonômica, desde a época do Diploma Imperial de 1824, quando em seu art. 179, inciso XIV aduzia que:

Todo o cidadão pode ser admittido aos Cargos Publicos Ci-vis, Politicos, ou Militares, sem outra differença, que não seja dos seus talentos, e virtudes.

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De forma ainda mais gravosa, o II do art. 10 da Lei 10.254/1990 admite a designação para a função quando houver cargo vago até seu provimento definitivo.

O § 2º estabelece que, no caso de contratação de professor, o prazo contratual não poderá exceder ao ano letivo, entretanto não prevê prazo mínimo para realizar o concurso público, deixando consequentemente a possibilidade de renovar o contrato precário sob ampla discricionariedade do administrador público.

Ademais, questiona-se: a Administração Pública vislumbrará necessidade em prover efetivamente o cargo público, uma vez que possui um prestador de serviço a título precário e ilegal exer-cendo a atividade pública?

Trata-se, na verdade, de promíscua forma de contratação temporária abrangente e genérica, ensejando a frustração da regra constitucional que obriga a realização de concurso público. Não há na lei excepcionalidade capaz de justificar referidas contrata-ções. Inconstitucionais, portanto.

As situações apresentadas pelo legislador estadual como ne-cessidades temporárias são, na realidade, afastamentos comuns e previsíveis na Administração Pública, que podem ser supridos por meio de remanejamento ou reestruturação de pessoal.

A contratação temporária prevista no art. 37, IX, da CF não pode abranger admissão de servidores para funções permanentes, em face da imposição constitucional de concurso público. Só deve ser realizada em face de circunstâncias incomuns, cujo atendi-mento reclama satisfação imediata e temporária, incompatível com

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o regime normal de concurso. Não é o que se evidencia dos dis-positivos em questão.

O § 1º do art. 10, ao definir como hipótese de contratação temporária “professor, para regência de classe, especialista em edu-cação e serviçal” e “serventuários e auxiliares de justiça”, abstém-se de especificar as hipóteabstém-ses em que o excepcional interesabstém-se pú-blico reclama tal contratação e não demonstra a real necessidade temporária das funções a serem exercidas, em flagrante desconfor-midade com o parâmetro constitucional.

O regime especial de contratação temporária deve atender a três pressupostos constitucionais inafastáveis: a determinabilidade temporal da contratação, a temporariedade da função e, por fim, a previsão legal dos casos de excepcionalidade do interesse público que ensejam a contratação de novos servidores temporários, tal como o fez a Lei Federal 8.745/937.

O inciso IX do art. 37 da CF submete à lei federal, estadual e municipal a tarefa de elencar as hipóteses, em abstrato, de ex-cepcional contratação temporária, conforme a competência fede-rativa. Contudo, não há na lei impugnada a especificação dos serviços de natureza técnica e científica e as hipóteses de contrata-ção temporária, mas tão somente autorizacontrata-ção para a arregimenta-ção de pessoal por simples ato de designaarregimenta-ção, em ofensa ao preceito contido no art. 37, IX, CF/88, e ao princípio constituci-onal da legalidade administrativa.

7 Não obstante a autonomia administrativa dos entes federados, José Afonso da Silva

defen-de que a indicação defen-de casos defen-de necessidadefen-de temporária contida no art. 2º da Lei 8.745/93 é diretiva a ser seguida pelas leis estaduais e municipais. In: Comentário contextual à

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Esse Supremo Tribunal Federal já se manifestou em diversas oportunidades sobre a matéria8, como na ADI 3.430:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. LEI ESTADUAL CA-PIXABA QUE DISCIPLINOU A CONTRATAÇÃO TEMPORÁRIA DE SERVIDORES PÚBLICOS DA ÁREA DE SAÚDE. POSSÍVEL EXCEÇÃO PREVISTA NO INCISO IX DO ART. 37 DA LEI MAIOR. IN-CONSTITUCIONALIDADE. ADI JULGADA PROCE-DENTE. I - A contratação temporária de servidores sem concurso público é exceção, e não regra na Administração Pública, e há de ser regulamentada por lei do ente federativo que assim disponha. II - Para que se efetue a contratação temporária, é necessário que não apenas seja estipulado o prazo de contratação em lei, mas, principalmente, que o ser-viço a ser prestado revista-se do caráter da temporariedade. III - O serviço público de saúde é essencial, jamais pode-se caracterizar como temporário, razão pela qual não assiste ra-zão à Administração estadual capixaba ao contratar tempora-riamente servidores para exercer tais funções. IV - Prazo de contratação prorrogado por nova lei complementar: incons-titucionalidade. V - É pacífica a jurisprudência desta Corte no sentido de não permitir contratação temporária de servi-dores para a execução de serviços meramente burocráticos. Ausência de relevância e interesse social nesses casos. VI -Ação que se julga procedente.

(ADI 3430, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Dje 23-10-2009)

Sobreleva anotar que, assim como no citado julgado conclui-se pela natureza esconclui-sencial do conclui-serviço público à saúde, no mesmo patamar insere-se o serviço público à educação, de modo que uti-lizar o precário instituto da designação para recrutar professores sob o pálio da necessidade temporária é contradizer seu caráter es-sencial de índole permanente.

8 Ver: ADI 3.210. Ministro Relator Carlos Velloso, DJ 3/12/2004; ADIs 1.500, 2.229 e

1.219, Ministro Carlos Velloso, DJ de 16/8/2002, DJ de 25/6/2004, e DJ 31/3/1995 (respectivamente); ADI 2.125-MC e 890, Ministro Maurício Corrêa, DJ de 29/9/2000 e

DJ de 6/2/2004 (respectivamente); ADI 2.380-MC, Ministro Moreira Alves, DJ de

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No que se refere à designação de serventuários e auxiliares da justiça, essa Corte Suprema tem pronunciamento no sentido do descabimento da contratação temporária de servidores para o exercício de funções burocráticas, conforme decidido na ADI 2.987/SC, assim ementada:

EMENTA: Servidor público: contratação temporária excep-cional (CF, art. 37, IX): inconstituexcep-cionalidade de sua aplica-ção para a admissão de servidores para funções burocráticas ordinárias e permanentes.

(ADI 2987, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 02-04-2004)

Como se verifica, a designação de serventuários ou auxiliares de justiça, seja por substituição (inciso I), seja por vacância (inciso II), é manifestamente contrária aos ditames constitucionais, tanto pela imprescindibilidade dos serviços de natureza permanente da atividade prestada, quanto pela inequívoca utilização de via oblí-qua a ser preenchida por meio do democrático concurso público.

Por essas razões, resulta imperioso a essa Corte Suprema de-clarar a inconstitucionalidade da Lei 10.254/1990 do Estado de Minas Gerais, por incorrer em ofensa ao princípio da isonomia (art. 5º, caput, e II da CF) da impessoalidade e da moralidade ad-ministrativa (art. 37, caput, da CF), da obrigatoriedade de realiza-ção de concurso público (inciso II do art. 37) e da excepcional contratação temporária (inciso IX do art. 37) previstos na Cons-tituição da República.

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III. PEDIDOS

III.1. PEDIDO CAUTELAR

Os pressupostos (fumus boni juris e periculum in mora) para sus-pensão cautelar da eficácia da leis questionadas estão presentes – caso de aplicação do art. 10 da Lei 9.868/1999.

O sinal do bom direito está suficientemente caracterizado pe-los argumentos deduzidos nesta petição inicial.

O perigo na demora decorre dos prejuízos crescentes ao erá-rio advindos do pagamento de dispêndios inconstitucionais para remunerar particulares que vêm prestando serviços ao Poder Pú-blico, sem a obediência aos ditames da moralidade e do acesso de-mocrático aos cargos e funções públicas.

Por essas razões, requer-se a concessão de medida cautelar, para que seja suspensa a vigência do art. 10 da Lei 10.254/1990 do Estado de Minas Gerais.

III.2. PEDIDOS FINAIS

Em face do exposto, requer:

a) audiência das autoridades das quais emanado o ato normativo questionado;

b) intimação para manifestação do Advogado-Geral da União (CR, art. 103, § 3º);

c) abertura de prazo para manifestação da Procuradoria-Geral da República, após superadas as fases anteriores;

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d) procedência do pedido, para ser definitivamente declarada a inconstitucionalidade do art. 10 da Lei 10.254 do Estado do Rio de Janeiro.

Brasília (DF), 27 de fevereiro de 2015.

Rodrigo Janot Monteiro de Barros

Procurador-Geral da República

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