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O PROCESSO DE EXPRESSÃO DO EROTISMO DOS CORPOS NA POESIA DE CRUZ E SOUSA E LUIZ GAMA

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Academic year: 2021

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O PROCESSO DE EXPRESSÃO DO EROTISMO DOS CORPOS

NA POESIA DE CRUZ E SOUSA E LUIZ GAMA

Evyla Kataryna Ivo Araújo (UESPI) Maiele Carvalho da Silva (UESPI) Mariléa Paz Pinto dos Santos (UESPI) Msc. Joselita Izabel de Jesus (UESPI) RESUMO

O erotismo se caracteriza pela busca da continuidade, e não pelo simples fato da prática sexual. O erotismo não pode ser entendido como algo desvinculado das outras dimensões humanas. A continuidade é representada pela busca da completude no outro, pois o homem não se resigna a sua condição de ser descontínuo. O ser humano é marcado por desejos físico e psicológico de realização através do outro, mas para que tais desejos se realizem é necessário romper os mais diversos interditos que se impõem ao homem, ou seja, é necessário que o homem cometa transgressões. O presente trabalho se propõe analisar as poesias Seios, de Cruz e Sousa e Meus amores são lindos, cor da noite, de Luiz Gama, verificando na linguagem poética como ocorre o processo de erotização dos corpos. O erotismo dos corpos se vincula ao prazer carnal, à materialização, à vinculação do ser erótico com a sexualidade animal. Sendo assim, este trabalho tem por perspectiva abordagem dos elementos constitutivos transgressores presentes nas poesias dos mencionados escritores negros, tendo por base os estudos de Bataille (2013), Alberoni (1988), Paz (1994), Perkoski (1996), entre outros, os quais são basilares para o estudo do erotismo levando em consideração que este não pode ser compreendido senão em consonância com outros aspectos da vida humana.

Palavras-chave: Erotismo. Continuidade x Descontinuidade. Interdito x Transgressão. Poesia afro-brasileira.

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O erotismo tem como uma de suas bases o desejo, que por sua vez é atingido através da imaginação, ele é a busca pela completude, porque o ser humano não é naturalmente completo, sua plenitude é concretizada no outro. Tal continuidade é alcançada com a quebra das regras impostas, a transgressão dos interditos. O erotismo dos corpos trabalhado nas poesias a seguir, vincula-se ao desejo carnal, sexual, porque é importante ressaltar que o erótico não se limita ao ato sexual, ele vai muito além do sexo. Luiz Gama e Cruz e Sousa foram dois personagens importantíssimos para a história da literatura brasileira e afro-brasileira, em suas obras defenderam os negros, elevando-os e rompendo com os estereótipos comuns. A poética de ambos não visava apenas à poesia pela poesia, mas a mesma como influenciadora para a mudança de uma realidade desigual.

Este trabalho tem como perspectiva analisar as poesias Seios, de Cruz e Sousa e Meus amores são lindos, cor da noite, de Luiz Gama, enfocando na exaltação dos corpos e na relação da linguagem poética com os elementos da natureza, correlacionados aos desejos carnais, à materialização, à vinculação do ser erótico com a sexualidade animal. Abordagem dos elementos constitutivos transgressores presentes nas poesias de ambos os escritores negros, tendo por base os estudos de Bataille (1987), Alberoni (1988), Paz (1994), Perkoski (1996), entre outros, os quais são pilares para os estudos da poesia erótica e do erotismo em si.

A poesia e o erotismo têm uma relação, apresentam pontos comuns, ambas transfiguram algo, a primeira faz isto com a linguagem, enquanto o outro faz com o sexo. A poesia não utiliza a linguagem para seu fim comunicativo, assim como, o erotismo não utiliza o sexo para seu fim reprodutivo. Os sentidos estão intrínsecos nos dois temas, por isso, não seria incomum a união destes. Segundo Paz (1994, p. 11),

[...] Aquilo que nos mostra o poema não vemos com nossos olhos da matéria, e sim do espírito. [...] Os sentidos, sem perder seus poderes, convertem-se em servidores da imaginação e nos fazem ouvir o inaudito e ver o imperceptível. Não é isso afinal, o que acontece no sonho e no encontro erótico?

Podemos observar nos versos do poema Seios, de Cruz e Sousa toda essa forma metafórica que remete a elementos da natureza, que aguça os nossos sentidos na busca

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da transgressão. O desejo do proibido, a tentação envolvendo os frutos, o corpo descrito por recursos naturais, tudo envolta à quebra dos interditos:

“Magnólias tropicais, frutos cheirosos

Das árvores do Mal fascinadoras,

Das negras mancenilhas tentadoras,

Dos vagos narcotismos venenosos” (Sousa, [190?]apud Moraes, 2015).

“O erotismo é, de forma geral, infração à regra dos interditos: é uma atividade humana. Mas ainda que ele comece onde termina o animal, a animalidade não deixa de ser o seu fundamento” (Bataille, 1987, p. 15).

“Oásis brancos e miraculosos Das frementes volúpias pecadoras Nas paragens fatais, aterradoras Do Tédio, nos desertos tenebrosos” (Sousa, [190?]apud Moraes, 2015).

Temos no verso acima uma alusão sobre liquidez e agitação, buscar o “Oásis” que se faz fértil em pleno deserto (descontinuidade, isolamento), caracteriza-se neste sair de si para completar-se no outro (continuidade) embebido de um grande prazer.

“Antes de tudo, o erotismo é exclusivamente humano: é sexualidade socializada e transfigurada pela imaginação e vontade dos homens [...]. Em todo encontro erótico há um personagem invisível e sempre ativo: a imaginação, o desejo” (PAZ, 1994, p. 16)

“Quando a brisa veloz, por entre anáguas Espaneja as cambraias escondidas, Deixando ver aos olhos cobiçosos As lisas pernas de ébano luzidas “ (Gama, [186? ] apud Moraes, 2015).

A imaginação é elemento fundamental do erotismo, através dela o desejo vai sendo estimulado, do mesmo modo, as sensações. No verso, por entre as roupas impostas pela sociedade, o corpo feminino faz alusão ao ato de desejar, é o desejo de conhecer o proibido. Há imaginação do que acontece quando as saias são balançadas pelo vento, revelando o que é cobiçado, as belas pernas negras da mulher. De modo que os corpos são atraídos pelo mistério, como em “Meus amores são lindos, cor da noite” e envolvidos pelo estopim amoroso “Em rubentes granadas embutidas”.

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Ambos, com frequência, imaginam o outro como na realidade ele não é, e esperam dele coisas que ele não pode dar. O erotismo se apresenta, então, sob o signo do equívoco e da contradição. Apesar disso os encontros acontecem, existe a atração recíproca, existe o enamoramento (Alberoni, 1988, p. 12 apud Jesus, 2007, p. 9).

“Meus amores são lindos, cor da noite Recamada de estrelas rutilantes; Tão formosa creoula, ou Tétis negra

Tem por olhos dois astros cintilantes” (Gama, [186?] apud Moraes, 2015).

Na estrofe, há a idealização de mulher, utilizando a metáfora “Tétis negra”, comparando-a com uma deusa para relacionar ao desejo que desperta nele. A exaltação também acontece quando o eu-lírico faz associações com elementos da natureza que causam admiração, da mesma forma, ela é cultuada, igualmente ocorre no verso “Dar culto à beleza, amor aos peitos”.

Assim se pode analisar o erotismo dos corpos através das poesias da literatura afro-brasileira, sendo perceptivelmente a linguagem poética das mesmas analisadas, vinculadas a voluptuosidade dos corpos. A mulher selvagemente declamada, do paraíso ao mitológico, o rompimento do interdito, a interligação do erotismo com a sexualidade, sendo o primeiro uma transgressão. Os escritores transbordaram em versos naturalmente animalizados, através de uma imaginação puramente erótica os desejos que rondam os corpos, ou melhor, como a poesia de Luiz Gama mesmo trata, incendeia: “Tu feita em fogareiro, eu feito em brasa”.

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5 REFERÊNCIAS

BATAILLE, Georges. O erotismo. Porto Alegre: L&PM, 1987.

GAMA, Luiz. Meus amores são lindos, cor da noite. In: MORAES, Eliane Robert (Org.). Antologia da poesia erótica brasileira. São Paulo: Ateliê, 2015.

JESUS, Joselita I. As veredas do erótico. In: O erotismo na poesia de Florbela Espanca: o processo de expressão do desejo feminino em Charneca em flor. Dissertação. Mestrado em Letras. Porto Alegre: PUCRS, 2001.

PAZ, Octavio. A dupla chama. São Paulo: Siliciano, 1994.

SOUSA, Cruz e. Seios. In: MORAES, Eliane Robert (Org.). Antologia da poesia erótica brasileira. São Paulo: Ateliê, 2015.

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