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Comentários ao texto Vito Velluzzi “Interpretação sistemática - um conceito realmente útil?”

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(1)Revista de Direito Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008. Andréa de Melo Centro Universitário Ibero-Americano Brigadeiro andreamelo1@hotmail.com. COMENTÁRIOS AO TEXTO VITO VELLUZZI “INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA - UM CONCEITO REALMENTE ÚTIL?”. RESUMO O artigo aborda o texto de Vito Velluzzi acerca da interpretação sistemática e suas implicações, questionando se a modalidade sistemática de interpretação seria um conceito útil e de que como essa maneira de interpretar o direito poderia ser aplicável de forma eficiente. O autor afirma não haver muitos estudos sobre a Interpretação Sistemática, inferindo que os estudiosos do direito se ocupavam da explicitação da Teoria do Sistema Jurídico, relegando ao segundo plano as questões relativas à interpretação. Elenca o que seria o Pensamento Sistemático, considerando os aspectos axiológicos e contextuais de seu surgimento, explicitando as vantagens e desvantagens utilização da Teoria Sistemática na interpretação dos textos jurídicos. Palavras-Chave: Interpretação sistemática, teoria do sistema jurídico.. ABSTRACT The article approaches the text of Vito Velluzzi concerning the systematic interpretation and its implications, questioning if the systematic modality of interpretation would be a useful concept and what forms this way to interpret the Law could be applicable in an efficient way. The author affirms not to have many studies on the Systematic Interpretation, inferring that the scholars of the Law were busy with making explicit the Theory of the Legal System, relegating to a second level the relative questions to the interpretation. Exposes what would be the Systematic Notion, considering the inherent and contextual aspects of its sprouting, making explicit the advantages and disadvantages of the use of the Systematic Theory in the interpretation of the legal texts. Keywords: Systematic interpretation, systematic theory.. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 rc.ipade@unianhanguera.edu.br Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Resenha Recebido em: 23/11/2007 Avaliado em: 24/06/2008 Publicação: 11 de agosto de 2008 243.

(2) 244. Comentários ao texto Vito Velluzzi “Interpretação sistemática - um conceito realmente útil?”. 1.. INTRODUÇÃO No presente trabalho, pretendemos comentar o texto de Vito Velluzzi acerca da interpretação sistemática e suas implicações. O autor questiona se a modalidade sistemática de interpretação seria um conceito útil e de que forma essa maneira de interpretar o direito poderia ser aplicável de forma eficiente. Afirma ainda, logo no início de seu trabalho, não haver muitos estudos sobre a Interpretação Sistemática, inferindo que os estudiosos do direito se ocuparam, principalmente, de explicar a Teoria do Sistema Jurídico, relegando ao segundo plano as questões relativas à interpretação. Conclui que a interpretação sistemática pode ser útil, partindo-se de determinadas formas de interpretação, distinguindo a interpretação sistemática em duas subclasses: uma que denomina sentido forte e outra sentido fraco. Ao longo desse texto, pretendemos explicitar o pensamento de Velluzzi, levando o leitor a uma compreensão do que seria, em seu entendimento, a forma de se utilizar a interpretação sistemática da forma mais completa e eficiente. Por fim, faremos um breve histórico do que seria o Pensamento Sistemático para facilitar a compreensão do leitor, considerando os aspectos axiológicos e contextuais de seu surgimento.. 2.. O QUE VEM A SER SISTEMA Em seu sentido semântico, significa ordenar de forma harmônica um conjunto de normas, regras e princípios que, concatenados entre si, funcionam de forma lógica e coerente. Convém ressaltar que a base do pensamento científico assenta-se na idéia de sistema. Antônio Menezes Cordeiro lembra-nos o que disse Coin: em última análise, o sistema jurídico é a tentativa de reconduzir o conjunto da justiça, com referência a uma forma determinada de vida social, a uma soma de princípios racionais. A hipótese fundamental de toda a Ciência é a de que uma estrutura racional, acessível ao pensamento, domine o mundo material e espiritual (CANARIS, 1995, p. 14).. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 243-254.

(3) Andréa de Melo. Inicialmente a idéia de sistematização buscava organizar os vários escritos sobre o direito romano, principalmente os contidos no Digesta, que formavam um emaranhado de regras, muitas das vezes repetitivas e em outras até contraditórias. No intuito de dar sentido a esse legado normativo deixado pelos Romanos, os franceses intentaram a primeira sistematização daquelas Leis. Sofreram profunda influência do Humanismo da época e a principal metodologia utilizada baseava-se na organização dos temas de acordo com suas semelhanças exteriores, reagrupando os escritos conforme seu significado e afinidades. Essa sistemática não se mostrou funcional já que culminava por ser superficial e de difícil aplicação. A segunda sistematização ocorreu a partir da Teoria Sobre o Método de Descartes, que propunha a delimitação do objeto para, a partir daí, se estabelecer um critério único de estudo. Essa metodologia mostrou-se bastante prática para algumas ciências, mas para o direito, apresentou-se restritiva, considerando-se sua constante evolução e transformação. Antônio Menezes Cordeiro salienta que O pandactismo exprime, terminologicamente, o pensamento jurídico assente nos Digesta. O monumento de IUSTINIANUS tem comportado, contudo, ao longo da História, uma utilização diversificada. A segunda sistemática deu-lhe um particular relevo, intensificando a sua utilização no que ficaria conhecido como usus modernus pandectarum (século XVIII): o Ius Romanum relevaria na medida em que se mostrasse adaptado às necessidades da época (CANARIS, 1995, p. LXXXI).. Por fim, surgiu a terceira sistematização que, proposta por Savigny, revolucionou a concepção de organização do direito. Essa sistemática propôs a criação de princípios gerais extraídos da história e da cultura das civilizações, princípios estes em que se assentava o consenso comum e que, portanto, não tinham caráter arbitrário. Eles comporiam o centro do sistema ou sistema interno e, de forma harmônica, se relacionariam e justificariam os elementos do sistema externo, este sim, formado com base na racionalidade. Savigny enfatiza o relacionamento primário da intuição do jurídico não à regra genérica e abstrata, mas aos “institutos de direito”, que expressam ”relações vitais” típicas e concretas. Os “institutos” são visualizados como uma totalidade de natureza orgânica, um conjunto vivo de elementos em constante desenvolvimento. É a partir deles que a regra jurídica é extraída mediante um processo abstrativo e artificial, manifestando o sistema, assim explicitado, uma contingência radical e irretorquível (FERRAZ JÚNIOR, 1980, p. 28-29).. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 243-254. 245.

(4) 246. Comentários ao texto Vito Velluzzi “Interpretação sistemática - um conceito realmente útil?”. Nesse momento, convém salientar que o direito era tido como relação jurídica que envolvia três categorias: sujeito, res e causae. Todos os estudos científicos baseavam-se nesse tripé, com o que se pretendia explicar, basicamente, direitos contrapostos em relação a um bem ou obrigação. Tércio Sampaio Ferraz Júnior lembra que Os movimentos de secularização do Direito Natural, próprios do jusnaturalismo dos séculos XVII e XVIII, criaram um âmbito de conhecimento racional que permitiu a construção, já no século XIX, de um “saber científico” do fenômeno jurídico. Nesta época, apreciamos o empenho dos teóricos em entender o direito como um produto tipicamente humano e social. O homem é percebido como um ser ambíguo, ao mesmo tempo um ser que, pela sua ação, cria, modifica e transforma as estruturas do mundo, e delas faz parte como simples elemento de estrutura planificada. O homem á autor e ator, sujeito e objeto da ação (FERRAZ JÚNIOR, 1980, p. 40).. O Direito Francês, por exemplo, privilegiava a figura da pessoa na relação jurídica. Posteriormente, no direito alemão, o enfoque voltou-se à causae, que organizava o pensamento em torno de uma confluência temática que justificava uma especificação, ou seja, que partia do mundo fenomênico para explicar e qualificar aquela ocorrência. O que se não questionou, foi a necessidade de dar ao direito um caráter científico e, para tanto, a necessidade de formulação de uma proposta de organização do pensamento jurídico através da busca de uma sistematização que desse sentido e unidade a todo um complexo normativo. Com efeito, Tércio Sampaio Ferraz Júnior cita-nos Kant, a razão humana é, por sua natureza, arquitetônica, isto é, ela considera todos os conhecimentos como pertencentes a um sistema possível. Se atentarmos aos nossos conhecimentos do entendimento”, continua ele, “na sua extensão total, veremos que aquilo sobre o que a razão dispõe de modo absolutamente peculiar e que ela procura realizar é a unidade do sistema. Esta exigência da razão de uma unidade sistemática significa, em primeiro lugar e num sentido negativo, que os nossos conhecimentos não devem representar um mero agregado, sem unidade e sem sentido, fundado simplesmente, por exemplo, na semelhança dos diversos neste caso teríamos apenas uma unidade técnica e não arquitetônica. Em segundo lugar e num sentido positivo, significa ela que todos os conhecimentos devem constituir uma totalidade comum, articulada nos seus elementos. Esta articulação deve proceder da afinidade e da conexão íntima dos próprios fatores, devendo igualmente determinar “a priori a extensão da diversidade, bem como o lugar das partes entre si”, de tal modo que não possa ocorrer nem a retirada nem o acréscimo de membros, sem a destruição da unidade orgânica (FERRAZ JÚNIOR, 1976, p. 61-62).. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 243-254.

(5) Andréa de Melo. A partir de então, não se concebe o pensamento jurídico dissociado de uma metodologia que pretende formular mecanismos que assegurem a inserção dos aspectos culturais, históricos e axiológicos e que permite a garantia, simultaneamente, da segurança jurídica e do estudo científico. “A teoria evolutiva dos sistemas põe em relevo o pensamento sistemático como factor necessário em qualquer pensamento jurídico. No fundo, ele dá corpo aos elementos culturais e históricos que se inserem, constituintes, no tecido jurídico, condicionando, para além disso, todas as operações de realização do Direito e da sua justificação.” (CANARIS, 1995, p. C).. 3.. SISTEMA INTERNO Conforme afirmamos, o sistema interno é formado a partir de Princípios Gerais advindos da cultura e história das sociedades. Essa afirmação baseia-se em que determinadas ordens normativas de caráter geral exprimem características sociais particulares de determinadas civilizações, considerando-se seus valores, momento histórico e cultura. A ocorrência freqüente de determinados fatos, por sua unidade, pode se organizar num sistema. Conforme Antônio Menezes Cordeiro, impõe-se, desde logo, uma primeira idéia de sistema: o Direito assenta em relações estáveis, firmadas entre fenômenos que se repetem, seja qual for a consciência que, disso, haja. O autor completa sua idéia na citação de Kant: sistema é a unidade, sob uma idéia, de conhecimentos diversos ou, se quiser, a ordenação de várias realidades em função de pontos de vista unitários (CANARIS, 1995, p. LXIV).. Essa mutabilidade é essencial para o desenvolvimento do sistema jurídico, já que a história das sociedades está em constante transformação. Tomemos como exemplo os direitos fundamentais. Em primeiro plano, nos chamados direitos de primeira geração, buscou-se a não-intervenção do Estado nas relações entre particulares, privilegiando-se as liberdades públicas. Nesse período o Estado não assegura o mínimo de sobrevivência ao cidadão, que trabalha em excesso e de forma insalubre. Num segundo momento, com o desenvolvimento da economia e o crescimento das cidades, surgiu a necessidade de proteção de certos direitos dos cidadãos, culminando nos direitos de segunda geração, em que há uma efetiva atuação do estado em se conferir direitos e fazê-los aplicar. São os chamados direitos sociais, voltados principalmente aos trabalhadores, tais como saúde do trabalhador, tempo de serviço, trabalho digno, auxílio em casos de doença, etc.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 243-254. 247.

(6) 248. Comentários ao texto Vito Velluzzi “Interpretação sistemática - um conceito realmente útil?”. Após a segunda guerra mundial e com os efeitos por ela trazidos, passou-se a ter uma consciência humanista, prestigiando-se o gênero humano e não apenas determinada categoria. São os chamados direitos de terceira geração, em que se buscou a proteção da espécie humana como um todo e a atuação do Estado se fez em determinados momentos, outros não. Esses direitos estão relacionados à paz e ao patrimônio mundial, ao desenvolvimento humano e aos direitos metaindividuais, entre outros. É também nesse momento histórico que se verifica a necessidade efetiva de se proteger determinados direitos e garantias que fogem à regra geral das relações jurídicas formadas pela tríade: personae, res, causae. Como dito anteriormente, o estudo do direito baseou-se durante muito tempo na proteção da propriedade e nas relações advindas dessa proteção. Em outro momento, passou-se a analisar todas as situações ocorridas no mundo fenomênico a partir das implicações trazidas aos sujeitos da relação. Tem-se então, o enfoque deslocado aos sujeitos da relação. Tércio Sampaio aponta para duas possibilidades: [...] a de normas preestabelecidas que visarão solucionar casos futuros e a de normas que serviriam de “diretrizes gerais”, ou seja, proposições que configurem a idéia do “direito justo” e que propiciem certa “abertura” ao sistema jurídico. Poderíamos entender que essas diretrizes gerais configuram os chamados “princípios gerais” do sistema interno e que funcionariam como, nas palavras do autor, “indicações orientadoras”. Por exemplo, os princípios diretivos da “função social do contrato e da propriedade”, “da dignidade da pessoa humana”, “da boa fé”,“da solidariedade”, entre outros (FERRAZ JÚNIOR, 1980, p. 45).. Na atualidade, aqueles sistemas não explicitam de forma abrangente a problemática das questões jurídicas em constante evolução. Como veremos mais adiante, a Teoria da Sistematização do Direito, proposta por Savigny, trouxe uma nova visão ao estudo do direito. Do exposto acima, depreendemos que determinado princípio ou proposição poderá variar de significado de acordo com o momento histórico e o caráter axiológico e cultural da época. Nesse sentido, e tentando adequar as novas situações jurídicas à realidade atual, vimos surgir determinados princípios que pretendem dar significado e organização aos direitos de terceira geração: princípios que transcendem a compreensão de direitos aos quais se pode apropriar e em que os sujeitos são indeterminados ou indetermináveis, ou em que o objeto não pode ser quantificado ou mensurado. Trata-se de princípios que compreendem o coletivo, o todo: Princípio da Solidariedade, da Boa Fé,. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 243-254.

(7) Andréa de Melo. da Função Social da Propriedade, da Função Social do Contrato e da Dignidade da Pessoa Humana, sendo que esse último encerra todos os direitos sociais do ser humano. São esses os principais vetores diretivos que poderiam ser os formadores de Sistema Interno abrangente e completo.. 4.. SISTEMA EXTERNO A ciência jurídica busca demonstrar uma visão concatenada e harmônica entre as normas e regulações e seus princípios diretivos. Nesse particular, devemos ter em mente que aos princípios do sistema interno não podemos dissociar seu caráter axiológico e, portanto, devemos intentar uma releitura do sistema externo a partir de valores trazidos pelo sistema interno. Assim, a funcionalização dos institutos legais, estará condicionada à sua interpretação conforme sua função social e o interesse coletivo. Partindo desse pressuposto, temos como sistema externo a exteriorização dos ditames normativos, através de conceitos abstratos. Segundo metodologia proposta por Karl Larenz, esses conceitos compõem a base do sistema externo e são abstratos justamente por seu grau de abrangência, ou seja, quanto maior a abstração, maior será o número de possibilidades por ele alcançadas. No pensamento de Menezes Cordeiro, devemos intentar a criação de estruturas abrangentes e genéricas que alcancem o maior número possível de situações que tenham entre si, alto grau de regularidade ou que se destaquem pelas suas particulares diferenças. O autor sintetiza o sistema externo como a expressão de “grandes categorias de casos, através da pesquisa e da ordenação do que, neles, haja de regular, de comum ou de diferente, em função da diferença. Por oposição ao interno, este sistema de comunicação e de aprendizagem recebe o nome de sistema externo.” (CANARIS, 1995, p. LXV). Assim a formação de conceitos abstratos que apresentem um conteúdo diminuto, poderá dar conta da enormidade de situações fenomênicas que se nos apresente, tendo em vista que a função da Lei é regular a maior quantidade possível de situações e fatos da vida sob uma mesma ordem normativa. Para isso, necessário se faz evidenciar determinados traços particulares e mais freqüentes de certas situações para, posteriormente, pretender-se uma classificação conforme a semelhança entre estes. Esse autor, em virtude da enormidade de possibilidades de interpretação, também nos apresenta várias possibilidades de aplicação dos princípios gerais do sis-. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 243-254. 249.

(8) 250. Comentários ao texto Vito Velluzzi “Interpretação sistemática - um conceito realmente útil?”. tema interno e dos conceitos gerais abstratos. Ele nos explica que um conceito poderá ter mais de um significado, de acordo com sua função. Por exemplo, o princípio da boa fé, enquanto princípio geral, não tem caráter de norma e portanto, sua aplicação estará condicionada à sua concretização. Esse mesmo princípio, enquanto Cláusula Geral, poderá ser explicado de acordo com a vontade do intérprete. Por fim, enquanto Conceito Geral Indeterminado, poderá ser aplicado conforme o arbítrio do julgador. Isso nos mostra que, conforme sua função, um mesmo conceito poderá ter mais de uma classificação. Nesse sentido também o pensamento de Velluzzi, que propõe uma classificação a partir da argumentação utilizada pelo intérprete. A partir do tipo de argumento utilizado se alcançará uma interpretação dita “forte” ou “fraca”. O que devemos ressaltar é que o sistema externo deverá estar em perfeita harmonia com os Princípios Gerais que compõem o Sistema Interno.. 5.. INTERPRETAÇÃO SISTEMÁTICA SEGUNDO VITO VELLUZZI Pretende o autor construir a idéia de interpretação sistemática a partir de sua distinção em relação a outras técnicas interpretativas. Para tanto, utilizou-se de textos normativos e não de métodos de criação de normas. Considerou em seu trabalho, critérios subjetivos de interpretação - referentes à pessoa do intérprete: juiz, advogado, doutrinador, etc. - e critérios objetivos - leis, contratos, constituições, etc. Por objeto, tomou disposições normativas gerais e abstratas. Conceituou interpretação jurídica como a atribuição de um significado a um texto jurídico normativo e esta atribuição baseia-se em argumentos interpretativos particulares, afirmando não haver consenso quanto à natureza de tais argumentos. A partir dessa inferência, podemos concluir que o autor parte da interpretação a partir do sistema exterior da lei, considerando sua localização dentro de um conjunto de disposições normativas. Nesse sentido, nos ensina Canaris que: [...] enquanto a interpretação a partir do sistema externo apenas traduz, em certa medida, o prolongamento da interpretação gramatical, a argumentação baseada no sistema interno, exprime o prolongamento da interpretação teleológica ou, melhor, apenas um grau mais elevado dentro desta, - um grau no qual se progrida da “ratio legis” à “ratio iuris”, e tal como a interpretação teleológica em geral, a argumentação a partir do sistema interno da lei coloca-se, com isso, no mais alto nível entre os meios da interpretação (CANARIS, 1995, p. 159).. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 243-254.

(9) Andréa de Melo. Mesmo não tendo realizado a distinção entre sistema interno-externo de forma explícita, Velluzzi considera em sua análise, as técnicas e argumentos de interpretação normativos, não adentrando o mérito daquela divisão abstrata, comumente utilizada quando se fala em interpretação sistemática. O autor entende que a caracterização da interpretação sistemática se fará a partir das técnicas e métodos de argumentação empregados. Assim, propõe seu estudo considerando várias espécies de argumentação, detalhando-as de forma a qualificar se sua utilização culminará numa interpretação em sentido forte ou fraco, do ponto de vista sistemático. Faz essa delimitação ou corte, pois entende que por trás de cada técnica interpretativa há uma noção particular de sistema. Ao intentar um estudo partindo da análise de técnicas de argumentação, pretende Velluzzi “[...] avaliar em qual delas a noção de sistema desempenha papel relevante para os fins interpretativos e em quais, pelo contrário, a referência ao sistema desempenha um papel secundário, em alguns casos quase depreciável, não essencial e subordinado ao desempenhado por outros argumentos interpretativos.” O autor cita Savigny e a importância da idéia de sistema introduzida pela escola histórica. Lembra que o contexto atual difere em muito do período em que surgiu aquele pensamento, defendido como um todo unitário e coerente. Diferentemente, acredita que na atualidade há necessidade de decompor as relações jurídicas para melhor compreendê-las e comunicá-las. Para o autor, assumir que o ordenamento jurídico é sistemático, significa aceitar que se trata de algo ordenado, completo e coerente. Isso induz a distorções de interpretação, já que em verdade, os sistemas jurídicos se apresentam como um conjunto de dispositivos, de textos normativos, sendo as normas o produto, o resultado da interpretação. Ora, se as normas são o resultado, não se pode pensar, conforme defende Velluzzi, que se trata de algo completo e coerente, já que a interpretação pressupõe que os aspectos axiológicos, culturais, históricos do intérprete estarão presentes. Disso inferimos que, no processo de interpretação, escolher-se-á uma entre várias possibilidades possíveis, ocasionado mais de uma atribuição de significado a um mesmo ditame normativo. Esses argumentos reforçam a ambigüidade possível no processo de interpretação sistemática, o que explica a opção do autor em utilizar os argumentos de interpretação sistemática no presente estudo.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 243-254. 251.

(10) 252. Comentários ao texto Vito Velluzzi “Interpretação sistemática - um conceito realmente útil?”. Em seguida, faz o autor uma seleção dos tipos de argumentação que acredita serem primordiais para se compreender a distinção entre interpretação sistemática em sentido forte ou fraco. a). Argumento das sedes material ou topográfico: esse argumento é considerado de sentido fraco, já que considera a disposição em que determinado texto normativo está inserido. Afirma que se trata de argumento de natureza textual e não propriamente sistemático, pois a referência topográfica não recorre ao sistema jurídico e sim ao sistema da lei ou ao sistema no qual se situa a disposição. Em suma, o que se preza nesse tipo de argumento é a situação da disposição do texto normativo.. b). Argumento da firmeza terminológica: significa que a um mesmo termo deve atribuir-se o mesmo significado. Dentro de uma construção normativa, a significação deve ser a mesma em todos os momentos, considerado determinado âmbito disciplinar. Ou, como melhor define o autor Sustentar que um termo deva ser entendido do mesmo modo em qualquer texto normativo em que se repita, independentemente do setor disciplinar em que se situe a disposição normativa em que este se encontre. Portanto, considera Velluzzi também esse, um tipo fraco de argumentação sistemática, já que não se privilegia a coerência, mas sim a razoabilidade lingüística.. c). Argumento da inconstância terminológica: ao contrário do anterior, esse tipo de argumento deve primar por interpretações distintas de um mesmo termo, conforme a conveniência e em sintonia com os objetivos, com as razões relativas ao setor disciplinar a que pertence a disposição normativa. Isso significa atribuir diferentes significados a um mesmo termo normativo, de maneira a garantir o interesse protegido. O autor considera também esse, um argumento em sentido fraco, posto que se trata de interpretação subjetiva ou objetiva.. d). Argumento da disposição combinada: essa argumentação seria de difícil entendimento, mesmo na opinião ao autor. Com efeito, seu entendimento se dá quando referido a outras disposições expressas ou implícitas, quer dizer, seria o mesmo que afirmar “que o argumento é o que é em relação aos outros significados”. Nas palavras do autor, esse tipo de argumentação carece de uma autonomia conceitual particular e, portanto, também deve ser considerado interpretação sistemática no sentido fraco.. Argumento da coerência, da interpretação adaptativa e das construções dogmáticas: para Velluzzi, estas são técnicas de interpretação sistemática em sentido forte, sendo que primam pela coesão e precaução das contradições normativas. Melhor entendido, esse tipo de interpretação pode valer-se de todo o sistema para construção do argumento. Conforme nos ensina o autor “apelando para a coerência se descarta toda possível atribuição de significado a uma disposição que determine uma divergência, um. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 243-254.

(11) Andréa de Melo. conflito com o conteúdo de qualquer outra disposição já interpretada”. Nesse caso, não é necessário considerar-se a hierarquia normativa. Já na interpretação adaptativa, a obediência hierárquica normativa e axiológica deve ser considerada, já que para realizar o processo de interpretação, esse dois aspectos devem ser observados, ou seja, deve ocorrer a “adequação de significado de uma disposição ao significado (já estabelecido) de outras disposições de classe superior ...ou quando se adequa o significado da disposição normativa a um princípio geral do direito, estabelecido com antecedência.” Por fim, defende o autor que as construções dogmáticas constituem interpretação mais que sistemática, posto que o intérprete constrói um sistema de relações normativas compatível com a construção dogmática utilizada, ou melhor, a interpretação de um conceito geral pode tornar coerente as disposições objeto da interpretação.. 6.. CONCLUSÃO Para Vito Velluzzi, é condição sine qua non para a compreensão de interpretação sistemática, sua divisão em duas subclasses: interpretação em sentido forte e em sentido fraco. Ao primeiro caso, atribuímos a finalidade de se buscar a coerência normativa, não apenas no sentido de mitigar as contradições, mas também de intentar a coesão entre os diferentes institutos normativos. É a busca pela coerência do sistema, prevenindo as antinomias, os conflitos normativos, preferindo-se determinado significado a outro, privilegiando-se a existência das normas de forma harmônica e coesa. Na segunda categoria, incluem-se os argumentos que primam pelos critérios de significação textuais ou teleológicos, ou seja, considera-se o contexto em que determinado termo está inserido ou o âmbito disciplinar a que pertence. Pessoalmente, entendo que se trata de sugestão de metodologia de análise sistemática que pode ser prática no contexto apresentado, mas que se mostra insuficiente dentro do universo normativo que vivenciamos. Contudo, qualquer intenção no sentido de oferecer novas propostas de métodos de estudo e apreensão do direito, só tende a enriquecer e alargar nosso conhecimento.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 243-254. 253.

(12) 254. Comentários ao texto Vito Velluzzi “Interpretação sistemática - um conceito realmente útil?”. REFERÊNCIAS CANARIS, Claus-Wilhelm. Introdução e tradução de A. Menezes Cordeiro. In: Pensamento Sistemático e Conceito de Sistema na Ciência do Direito. Revista de Direito do Consumidor, abr./jun. 1995. CORDEIRO, Antônio Menezes. In: Teoria Geral do Direito Civil. v. 1, 4. ed. Lisboa: associação Acadêmica da Faculdade de Direito de Lisboa, 1994. FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. A Ciência do Direito. 2. ed. Ed. Atlas. 1980. ______. Conceito de Sistema no Direito. Ed. Revista dos Tribunais. São Paulo. 1976. VELLUZZI, Vito. “Interpretación Sistemática” Un Concepto Realmente Útil? Consideraciones acerca del sistema jurídico como factor de interpretación. Revista Doxa 21-I. 1998.. Revista de Direito • Vol. XI, Nº. 13, Ano 2008 • p. 243-254.

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