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SOBRE A FILOSOFIA DA HISTÓRIA EM WALTER BENJAMIN: UMA REFLEXÃO SOBRE O CONCEITO DE HISTÓRIA E A CRÍTICA AO HISTORICISMO ALEMÃO

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I

SOBRE A FILOSOFIA DA HISTÓRIA EM WALTER BENJAMIN: UMA REFLEXÃO SOBRE O CONCEITO DE HISTÓRIA E A CRÍTICA AO

HISTORICISMO ALEMÃO

ALINE LUDMILA DE JESUS1

PEDRO SPINOLA PEREIRA CALDAS 2

RESUMO

Nessa pesquisa pretendemos refletir sobre os significados do conhecimento histórico dentro da Teoria da História, buscamos por meio desse trabalho analisar a filosofia da história presente nas teses Sobre o conceito de história de Walter Benjamin. Esse autor propõe nessas teses um conceito de história que estabelece uma relação entre a teologia e o materialismo histórico, relação essa que visa promover uma abertura da história. Abertura porque além de romper com continuidade temporal, tem como objetivo promover uma interrupção, ou seja, a revolução. Benjamin nessas teses coloca a necessidade de se olhar para o passado em prol de uma luta no presente. É partindo dessas reflexões, que Benjamin exerce críticas ao historicismo alemão, mostrando um conceito de história que seja oposto dessa corrente historiográfica.

PALAVRAS CHAVE: Teoria da História; Tempo Histórico; Teologia e Materialismo

Histórico.

ABSTRACT

In this research we have intend to reflect about the meanings of historic knowledge insides of the Theory of History, we search with this work analyze the philosophy of history present in Sobre o conceito de história of Walter Benjamin. This actor proposes in these theses a history’s concept that institutes a relation between theology and the historical materialism, relation this that aims to promote an opening’s history. Opening because yonder break with a

1

Discente 5° período – Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Rua: Tomazinho de Rezende, 987. Bairro Daniel Fonseca – Uberlândia MG. Cep 38400326. E-mail: alineludmila@yahoo.com.br.

2

Professor Adjunto – Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Rua Armando Lombardi, 205/303. Bairro Santa Maria – Uberlândia/MG CEP 38408-046 e-mail: pedro.caldas@gmail.com

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II continuum temporal, has the objective of promote an interruption, in other words, the revolution. Benjamin in these theses disposes the necessity of look to the past in favour of a present’s fight. In this way, Benjamin judges the german historicism, showing a history’s concept that is the opposite of the historiography.

KEYWORDS

(3)

III

I. INTRODUÇÃO

Walter Benjamin, autor tão estudado e também tão criticado, tem sua notável singularidade, já que suas obras abarcam diversas temáticas. Muitos autores tendem a dividir suas obras em fases, fazendo com que toda a riqueza de sua obra seja prejudicada, dado um exercício de fragmentação.

Nosso objetivo aqui é analisar a obra Sobre o conceito de história de Benjamin para apreender o conceito de história proposto por esse autor e sua respectiva crítica ao historicismo alemão. Todavia, não consideramos a obra enquanto a parte das demais, mas sim enquanto uma continuidade de seu pensamento.

Buscamos, por meio dessa análise, caminhar nos encalços da historicidade do conhecimento histórico, para compreendermos a contribuição da filosofia da história em Walter Benjamin para a Teoria da História. Embora a crítica ao historicismo alemão seja realizada por diversos autores, a crítica de Benjamin nos chamou a atenção, tendo em vista que ele não expõe somente as críticas, mas ele formula um conceito de história que se distancie da chamada história oficial. A noção de tempo histórico em Walter Benjamin também se torna um

tema rico para os estudos históricos, visto que ele postula um tempo que articula aspectos messiânicos com termos marxistas. Isso torna sua análise singular e merece destaque nos estudos historiográficos.

Além disso, consideramos importante essa análise pelo fato da filosofia da história em Benjamin ser fruto de uma conjuntura social específica da Alemanha, que o faz refletir sobre a necessidade da história naquele momento. É importante também pensarmos que Benjamin estava imerso na Escola de Frankfurt, cujos maiores intérpretes estavam assombrados por um pessimismo em relação às novas lideranças políticas. Nesse aspecto, seu pensamento se torna único dentre os teóricos frankfurtianos, pois ainda visualiza a esperança de um outro tempo. São esses os caminhos que iremos trilhar ao longo do texto.

(4)

IV

II. MATERIAIS E MÉTODO

Realizamos no desenvolvimento da pesquisa uma

leitura sistemática acerca da fonte primária Sobre o conceito de História de Walter Benjamin, tal como realizamos leituras sobre uma literatura secundária sobre as teses que serão citadas no decorrer do texto aqui apresentado. Ademais, realizamos leituras complementares sobre alguns temas que percorrem as teses, tal como o historicismo, social-democracia, melancolia, judaísmo, e claro, realizamos leituras sobre o legado da Escola de Frankfurt. Em termos metodológicos nos situamos na fecundidade da Teoria da história para, assim, pensarmos na crítica exercida por Benjamin ao historicismo alemão. Também utilizamos da história social atrelada com a história dos conceitos, visto que tivemos a pretensão de analisar os principais conceitos presentes na obra, tal como refletir sobre a conjuntura história sobre a qual Benjamin estava imerso.

III. RESULTADOS E DISCUSSÕES

III. I. O conceito de história proposto por Walter Benjamin.

Walter Benedix Schönflies Benjamin nasceu no ano de 1892 em Berlim. Filho de judeus abastados, Benjamin despertou desde muito cedo um interesse por diversos estudos, portanto, desde esse momento já se pode perceber o ecletismo que passou a permear todo o legado desse filósofo. Leandro Konder ao traçar elementos que conjugam o pensamento do autor com sua vida, nos faz pensar como os diversos contatos de Benjamin – destacam-se não somente as amizades, mas também os seus relacionamentos amorosos – exerceram repercussão no pensamento benjaminiano. 3

Benjamin foi amigo de Gerschom Gerhard Scholem, que despertou em Benjamin um interesse pela cultura religiosa judaica. Benjamin também foi amigo de Theodor Wiesengrud Adorno que o atraía para um estudo do “pensamento crítico”, como também foi amigo de Brecht, que o influenciava para o comunismo. Os autores aqui citados divergiam entre si,

3

Não iremos nos deter nos detalhes sobre a vida de Benjamin nesse texto. Sobre uma análise mais ampla ver: KONDER, Leandro. Walter Benjamin: O marxismo da melancolia. Rio de Janeiro: Campus, 1988.

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V mas foram fundamentais para

desenvolver potencialidades teóricas em Benjamin. Nessa perspectiva, o ecletismo presente no pensamento desse filósofo deve-se não somente ao seu interesse por diversas leituras, mas também pelos contatos que teve durante sua vida.

A importância de Benjamin também reside no fato de que ele foi um dos autores da Escola de Frankfurt, embora tenha tido sua peculiaridade frente a essa escola. Tal Escola propunha-se a pensar nos temas que permeavam a noção de dominação moderna, como a razão controladora, tal como refletiam sobre o domínio dessa sobre a natureza.

Além disso, Walter Benjamin presenciou momentos históricos intensos na Europa. Nasceu no período do Império Guilhermino, presenciou a primeira guerra e o surgimento e queda da República de Weimar. Foi neste contexto turbulento que ele despertou seu interesse pelo legado de Marx, uma vez que estava diante de um marxismo que se institucionalizava e que buscava preservar um determinado Estado. Ademais, na Rússia um Estado criado revolucionariamente por Lênin se tornava um Estado totalitário consolidado por Stálin.

Contudo, foi com a ascensão do fascismo que as idéias de Benjamin começaram a fervilhar, e, quando havia pensado que a União Soviética era a esperança para esse momento histórico, em 1939, Stálin fez um pacto de não-agressão com Hitler. Foi nesse contexto que o autor escreveu vinte teses sobre filosofia da história, qual seja, Sobre o conceito de História, teses essas que Konder considera enquanto um presságio ao Trabalho das Passagens. Todavia, nessas teses Benjamin não nos oferece uma filosofia da história sistematizada, mas antes nos dá alguns rastros – justamente pelo seu exercício filosófico fragmentário - para compreendermos tal filosofia. As teses foram publicadas em 1940 e como percebe Jeanne Marie Gagnebin: “(....)as teses (...)não são apenas uma especulação sobre o devir histórico ‘enquanto tal’, mas uma reflexão crítica sobre nosso discurso a respeito da história (das histórias), discurso esse inseparável de uma certa prática.” 4

A importância das teses para os estudos históricos é que Benjamin propõe um novo conceito de história fruto de uma abertura da história: Abertura porque abre a possibilidade de

4

GAGNEBIN, Jeanne. Prefácio. In: Magia e

técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense,

(6)

VI romper com a opressão histórica, ao

passo que permite a instauração de algo novo. Dessa forma, o autor conjuga a teologia com o materialismo histórico, pois na sua concepção esse precisa da primeira para enfrentar desafios. Na primeira tese desse filósofo, o mesmo coloca que um anão corcunda, mestre de xadrez – a teologia-, escondia-se em uma mesa a fim de auxiliar um fantoche – materialismo histórico – em uma partida de xadrez. A teologia é, para o autor, “pequena e feia” e, por conseguinte, se oculta. O filósofo francês Michael Löwy capta que a teologia é considerada feia, haja vista que está imersa em uma era racionalista e incrédula. 5 Além disso, Löwy considera que o boneco da tese chamado de materialismo histórico não é o “verdadeiro” materialismo histórico, mas é aquele que assim costuma ser chamado pelos ideólogos da II e III internacional.

O materialismo histórico, nessa concepção, não é capaz de vencer sozinho. Ele necessita da teologia, uma vez que precisa interpretar a história de forma que escape de uma visão linear e de uma concepção da história sob o

5

LOWY, MICHAEL. Uma leitura das teses “Sobre o conceito de História” de Walter Benjamin. In: Walter Benjamin: aviso de

incêndio. São Paulo: Boitempo Editorial, 2005.

prisma dos vencedores. Ademais, essa junção é necessária para vencer o fascismo. Assim, se teologia é o espírito necessário para a luta, o materialismo histórico é o corpo.

É importante ressaltarmos que a teologia presente no pensamento benjaminiano é oriunda de uma tradição judaica messiânica. Entretanto, não nos atemos aqui em aprofundar sobre o tema do judaísmo, já que isso será investigado na segunda parte da pesquisa. Mas o que é de fundamental importância pensar é que existem dois conceitos fundamentais dessa tradição para entendermos as teses: rememoração e redenção. A primeira propõe um olhar para o passado, já a segunda significa emancipar-se no presente. Percebemos, portanto, que o conceito de história formulado por Benjamin articula dois tempos históricos em confluência.

Enquanto o presente é o momento de luta, o futuro se converte em um tempo desconhecido, embora aloque a esperança; isso porque na tradição judaica não é permitido investigar o futuro, pois é nesse tempo que reside a possibilidade da vinda de um Messias. Löwy registra que aquele que espera o futuro se torna passivo, visto que está sempre à espera de algo. Dessa forma, o Messias ao qual

(7)

VII Benjamin refere na última tese deve ser

entendido não como algo a ser esperado, mas antes como algo cujo retorno inesperado deve ser provocado.

Löwy ainda escreve que cada geração – seja ela do passado ou do presente – pode ser o Messias porque de acordo com a tradição judaica: “Deus está ausente, e a tarefa messiânica é inteiramente atribuída às gerações humanas.”6 Benjamin concebe o Messias apenas na esfera do coletivo, além disso, Löwy escreve que: “Não se trata de esperar o Messias, ou de calcular o dia de sua chegada (...) mas de agir coletivamente”. 7 Tendo em vista que Benjamin articula o materialismo histórico e a teologia, a noção de Messias nesse autor se torna nebulosa, tendo em vista que pode significar tanto uma possibilidade mística, como também pode ser as gerações revolucionárias como pensa Löwy.

Partindo dessas considerações, Löwy presume que a

redenção implica numa rememoração das vítimas do passado que converge numa reparação, já que a rememoração do sofrimento permite uma possível

6

LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de

incêndio: uma leitura das teses “Sobre o

conceito de história”. São Paulo: Boitempo, 2005. p.52Ibidem. p.52.

7

Ibidem p. 52

reparação das injustiças passadas. Esse autor argumenta que Benjamin primeiro introduz a redenção na esfera do indivíduo e, posteriormente, passa para a reparação coletiva no campo da história. Löwy escreve que “a redenção do passado é simplesmente essa realização e essa reparação, de acordo com a imagem de felicidade de cada indivíduo e de cada geração”. 8Isso porque Benjamin escreve que a felicidade está presente nos ares do passado, sendo que essa imagem de felicidade está intimamente conectada com à da salvação.

Benjamin visualiza a necessidade de libertar tanto os oprimidos do presente, quanto os do passado, e vem daí a pertinência de uma rememoração orientada para o passado e uma redenção orientada para o presente. O autor coloca que a rememoração é integral, porquanto não faz a distinção entre os grandes e pequenos acontecimentos, e somente a humanidade redimida pode apropriar-se do passado em sua totalidade. Sobre isso Benjamin escreve na tese III que: “O cronista que narra os acontecimentos, sem distinguir entre os

8

LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de

incêndio: uma leitura das teses “Sobre o

conceito de história”. São Paulo: Boitempo, 2005. p.48.

(8)

VIII grandes e os pequenos, leva em conta a

verdade de que nada do que um dia aconteceu pode ser considerado perdido para a história.”9 Para Löwy, o filósofo alemão utiliza-se do cronista alegoricamente para ilustrar a idéia da tese, uma vez que esse escreve a história sob o prisma dos vencedores. Todavia,

“(...) escolheu o cronista porque ele representa essa história ‘integral’ que ele afirma ser seu desejo: uma história que não exclui detalhe algum, acontecimento algum, mesmo que seja insignificante, e para a qual nada está ‘perdido’. O escritor russo Lesskov, Franz Kafka e Anna Segher são, a seus olhos, figuras modernas do

cronista assim compreendido.” 10

Enquanto Löwy vê o cronista como uma figura alegórica no pensamento benjaminiano, a filósofa Olgária Matos observa que há a distinção entre o historiador e o cronista, haja vista que o primeiro traz à baila o passado em sua singularidade,

9

BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito de história. In: Magia, técnica, Arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. – (Obras escolhidas; v. 1)

10

LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de

incêndio: uma leitura das teses “Sobre o

conceito de história”. São Paulo: Boitempo, 2005. p.54.

desvelando os significados daquilo que é único e irrepetível. Em contrapartida, a autora coloca que o cronista transcreve o passado tal como ele de fato ocorreu, fomentando, assim, a experiência da repetição.

A rememoração, portanto, cumpre a função de tentar impedir que o passado se repita, adquirindo, assim, cores pinceladas pela dialética, pois “a especificidade da experiência dialética consiste em dissipar a aparência do sempre-igual – e mesmo da repetição – na história. A experiência política autêntica está absolutamente livre desta aparência”. 11

Nessa concepção, é somente no dia do juízo final que o passado é citado em sua totalidade. Löwy vislumbra uma duplicidade nesse dia: ele pode ser o dia em que os oprimidos serão salvos do esquecimento e serão constantemente rememorados ou pode significar a volta de todas as coisas ao estado original. Isso porque o autor visualiza que Benjamin quer “enriquecer a cultura revolucionária com todos os aspectos do passado portadores da esperança utópica. O marxismo não tem sentido se não for

11

BENJAMIN, Walter. Teoria do conhecimento, Teoria do progresso. In:

Passagens. Belo Horizonte: Editora: UFMG,

São Paulo: Imprensa oficial do estado de São Paulo. P 515.

(9)

IX também o herdeiro e o executante

testamentário de vários séculos de lutas e de sonhos de emancipação.” 12 O juízo final, então, é o momento no qual explode a continuidade temporal e ocorre a libertação.

Porém, ao mesmo tempo em que Benjamin escreve sobre a necessidade de olhar para o passado em sua totalidade, ele postula que não podemos captar o passado tal como ele de fato foi, mas antes por reminiscências que relampejam em um momento de perigo.

O momento de perigo é quando surge uma imagem autêntica do passado, momento esse caracterizado pela dissolução da visão da história como progresso. É quando aparece essa imagem que apraz ao materialista histórico captar. Entretanto, Löwy percebe que há uma duplicidade nesse momento de perigo, porque pode significar tanto na transformação da história, quanto as classes oprimidas em instrumento das classes dominantes. Sobre isso temos na escrita do autor:

“(...) em um momento de perigo supremo apresenta-se uma constelação salvadora que liga o presente ao passado. Um passado em

12

LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de

incêndio: uma leitura das teses “Sobre o

conceito de história”. São Paulo: Boitempo, 2005. p.57.

que brilha, apesar de tudo, na sombra da noite do fascismo triunfante, a estrela da esperança, a estrela messiânica da redenção (...) a centelha da sublevação revolucionária.” 13

Cabe, dessa forma, ao historiador materialista ater a centelha de esperança em um passado marcado por um acúmulo de derrotas e não somente de vitórias, com isso esses materialistas terão a oportunidade de lutar contra o fascismo.

È a partir dessas reflexões que percebemos a existência de uma melancolia presente no pensamento de Benjamin, no sentido de olhar para o passado de forma nostálgica, imaginando um passado que poderia ser diferente. Olgária Matos vê o melancólico enquanto aquele que se prende ao passado, buscando conservar uma memória que preserve as esperanças irrealizadas desse tempo, logo não vê o passado como algo natural e necessário. A autora observa que subjaz em Benjamin uma melancolia de esquerda que se orienta para a intervenção. Há para essa autora uma junção de duas tradições na expressão “melancolia de esquerda”. Se por esquerda entende-se algo relacionado à progressão, melancolia remete ao tédio romântico e à nostalgia

13

(10)

X aristocrática. Contudo, a melancolia de

esquerda tem o papel de intervenção buscando, assim, uma mediação que busque abarcar os interesses de toda a humanidade.

Sobre a idéia de melancolia presente nas teses, temos o anjo da história de Benjamin o qual esse autor se baseou no quadro de Paul Klee chamado Angelus Novus. O olhar do anjo da história se dirige para o passado, onde o mesmo vê uma cadeia de escombros – ele visualiza a catástrofe. O anjo quer juntar esses fragmentos, não obstante uma tempestade chamada progresso o lance para o futuro. Susana Kampff Lages demonstra que há uma fixidez física da face do anjo que pode corresponder a uma paralisação psíquica do historiador, que pode ser identificada enquanto melancolia.14 Essa fixidez do olhar pode ser interpretado segundo a autora, como uma expressão da visão da “verdadeira imagem do passado”, momento esse que ocorre no instante benjaminiano. Portanto, ao mesmo tempo em que o anjo representa a paralisia oriunda de uma melancolia, ele também representa a potencialidade de outro tempo.

14

LAGES, Susana Kampff. Walter Benjamin: tradução e melancolia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007

Olgária Matos,visualiza que a experiência do alegorista da cidade e do inadaptado se aproxima do olhar do Anjo melancólico da história. Para a autora há nesse anjo a construção de relações entre o “humano e inumano, o efêmero e o eterno, a história e o messianismo.” O Anjo representa o transcendental, ele interpreta no homem e na história aquilo que existe de inumano. Para a autora, segundo a razão barroca, o Anjo de Benjamin é também o de Baudelaire, Klee e Rilke; e todos esses “anjos” são responsáveis, por meio de não-senso, de transcender aquilo que é dotado de sentido.

Sobre essas considerações temos nas palavras da autora: “O Anjo, tal como o poeta, é a alegoria da temporalidade, do precário e do fugidio, vivido nas multidões abstratas e quantitativas da metrópole”. 15O Anjo de Agesilaus Santander caminha para o futuro de onde surgiu, esse futuro é aquele da concepção messiânica, “em que o futuro redime o presente pela

15

MATOS, Olgária C. F. Uma história barroca. In: Os arcanos do inteiramente outro: A escola

de Frankfurt, a melancolia e a revolução. São

(11)

XI restauração da justiça originária,

passada e futura.” 16

O anjo almeja a felicidade que se refere “ao conflito no qual repousa o êxtase do único”, o único tem o sentido de algo novo, isto é, aquilo que ainda não foi vivido, e não o retorno do sempre igual. O Anjo é melancólico, porque se encontra em um estado de estranhamento, ele está diante de um passado decadente, carregado de destroços.

Contudo, a autora percebe que estão presente nas teses duas interpretações sobre o Anjo da história: uma messiânica (cujo significado é “a origem é o fim”) e outra melancólica (o futuro é progresso de barbárie). Essas duas interpretações são reunidas nessa tese, pois o anjo observa os destroços do passado, mas está impedido de agir e é impulsionado pela tempestade do progresso. 17

O melancólico, então, também é um sonhador. Nas palavras de Leandro Konder: “O melancólico se abstrai das demandas do dia a dia para

16

MATOS, Olgária C. F. Uma história barroca. In: Os arcanos do inteiramente outro: A escola

de Frankfurt, a melancolia e a revolução. São

Paulo: Brasiliense, 1989. p.70.

17

Sobre isso, ver nota de rodapé 127. MATOS, Olgária C. F. Uma história barroca. In: Os

arcanos do inteiramente outro: A escola de Frankfurt, a melancolia e a revolução. São

Paulo: Brasiliense, 1989. p.113.

sonhar, se entrega aos pesadelos, mas também aos sonhos proféticos”. 18A melancolia de Benjamin é criadora de alegorias eivadas de múltiplos sentidos que se juntam para salientar a beleza que há naquilo que esvai a partir do momento no qual a memória resgata o tempo do esquecimento atroz.

Se a memória se destaca pela redenção, é somente por meio da recordação que se pode desviar do caminho da repetição. Benjamin sublinha que ao historiador materialista apraz captar momentos do curso da história, pois ele os traz para o presente de forma que se tornem próprios devido ao índice de “história anterior”, donde, portanto, retiram a suposta aparência da repetição. 19

No pensamento benjaminiano são as classes

revolucionárias os sujeitos históricos responsáveis pelo rompimento desse tempo linear e pela instauração de um tempo messiânico. Entretanto, como percebe Matos, não há em Benjamin uma noção de uma classe revolucionária

18 KONDER, Leandro. Introdução. In: Walter Benjamin: o marxismo da melancolia. Rio de Janeiro: Campus,

1988.p 11. 19

BENJAMIN, Walter. Teoria do conhecimento, Teoria do progresso. In:

Passagens. Belo Horizonte: Editora: UFMG,

São Paulo: Imprensa oficial do estado de São Paulo. P 515.

(12)

XII em-si, mas antes uma classe que só se

torna revolucionária quando provoca a interrupção histórica. Essa interrupção ocorre no momento de “agora”, momento esse que corresponde a uma cristalização de um momento crítico do passado e o configura enquanto mônada. O agora, nessa perspectiva, é momento do salto dialético da revolução, que visa explodir a continuidade da história, e não o seu embelezamento. Benjamin, desta forma, visualiza a revolução como interrupção, contrapondo-se a uma noção progressista da revolução, tal como também se contrapõe à noção de Marx de que a revolução é a locomotiva da história.

Matos esclarece essa proposição por meio de considerações de Paulo Eduardo Arantes: “O agora opera como negatividade tanto com relação ao passado, quanto com relação ao futuro. O sentido positivo do agora, se definido em sua imediatez, é o permanecer ao nível da afirmação do senso-comum segundo o qual “só o presente é, o passado não é mais e o futuro não é ainda.”20 O “agora”, cunhado pela autora como vazio, pertence ao “léxico da certeza sensível”,

20

MATOS, Olgária C. F. Uma história barroca. In: Os arcanos do inteiramente outro: A escola

de Frankfurt, a melancolia e a revolução. São

Paulo: Brasiliense, 1989.

porém, basta uma experiência para abalar essa certeza da consciência sensível.

Tendo em vista que a interrupção ocorre no “tempo de agora”, é importante ressaltar que esse faz referência ao tempo messiânico, visto que se trata de um tempo descontínuo que provoca a interrupção, ele é oposto do tempo linear. Nesse sentido, a redenção cumpre romper com uma ordem e restaurar a justiça. Matos, ao tecer interpretações sobre As grandes correntes da mística judaica, de Gesrhom Scholem, considera o tempo messiânico como um tempo pleno, pois este vem depois da conflagração universal responsável pela destruição da injustiça da ordem presente, sendo que um dos emissários do Messias é a comunidade dos justos. No vocabulário benjaminiano: a comunidade oprimida que combate.

Além dessas considerações, é importante também pensarmos que o tempo histórico em Walter Benjamin aloca a tradição. Esse filósofo na tese XV estabelece a dicotomia entre o tempo dos calendários e o tempo dos relógios, pois os primeiros são carregados de feriados que são dias de reminiscência e, portanto, alojam a tradição, haja vista que trazem dias do passado para a atualidade. Já os relógios

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XIII são responsáveis pela marcação de um

tempo linear que faz referência a um tempo que deve passar de forma contínua.

Olgária Matos observa que a tradição para Benjamin “aloja a aura do tempo”, já que busca a consolidação de uma experiência coletiva, tradição essa “que pulsa em cada instante do agora”. O lembrar configura-se, segundo a autora, como substância da tradição, visto que garante a “recordação coletiva”.

Sob esse prisma, a memória é de fundamental importância, pois, além de conservar esperanças, ela se desvia do caminho da repetição. Se a memória se realça pela redenção, somente por meio da recordação se pode desviar do caminho da repetição. Ao rememorar Benjamin escreve que há um momento de pausa que traz consigo um elemento vital – a mônada. Olgária Matos vislumbra que essa “capta os fragmentos que flutuam na ‘correnteza do tempo vazio’ e os envolve com o próprio tempo” 21 A mônada histórica cristaliza um momento do passado que ainda existe. A análise da autora é

21

MATOS, Olgária C. F. Uma história barroca. In: Os arcanos do inteiramente outro: A escola

de Frankfurt, a melancolia e a revolução. São

Paulo: Brasiliense, 1989. . p.32.

exemplar nesse sentido, pois capta em Benjamin a dimensão de uma história barroca caracterizada pelo efêmero, pelo acaso. Contrária à tragédia, a história barroca aborda a história como cenário.

Jeanne Marie Gagnebin reflete que Benjamin não escapa , quiçá, a um tom nostálgico, tom comum, aliás, à maioria dos teóricos do “desencantamento do mundo”, quando evoca as comunidades de outrora nas quais memória, palavras e práticas sociais eram compartilhadas por todos. Todavia, Gagnebin evita ver em Benjamin tão-somente o autor que anunciou, de certa maneira, a impossibilidade da experiência coletiva na nossa modernidade. A acuidade da autora leva em consideração, pois, que a filosofia da história e a filosofia da linguagem em Benjamin estão ligadas numa reflexão sobre a modernidade, centrada no co-pertecimento do eterno e do efêmero.

Portanto, o declínio do narrado está associado à possível emergência de uma doença da tradição – Benjamin faz uma sofisticada análise de Kafka – na qual se narra a própria dificuldade de se intercambiar experiências. Desta maneira, uma vez imbuídos das considerações da autora, estivemos atentos à sutileza do pensar benjaminiano, sutileza na qual alguns

(14)

XIV processos históricos mesmo que

evoquem o declínio de certas tendências, acaba, também, por abrir as portas para outros fenômenos sociais.

Há também uma noção de pessimismo em Benjamin, pois tanto Olgária Matos quanto Löwy percebem em Benjamin uma idéia de pessimismo que não converge em resignação, mas trata-se de um pessimismo “ativo”, organizado, para, assim, prevenir o pior. Para Löwy, Benjamin toma essa noção de pessimismo emprestado da obra “La révolution et les intellectuels” (1926) do comunista dissidente Pierre Naville.

Após refletirmos sobre o tempo histórico em Benjamin, percebe-se que a importância que ele dá ao passado tendo em vista uma luta no presente acaba por romper com o tempo linear e progressista, tempo esse que o filósofo considera que é presente no historicismo alemão – que iremos analisar no próximo item -, na social-democracia e no chamado marxismo vulgar.

Benjamin aponta, na Social-democracia, essa partilha de um tempo progressista, no sentido de acreditar que o desenvolvimento técnico conduz a sociedade à libertação, tratando-se, portanto, de uma concepção teleológica da história. Olgária Matos percebe que tal noção de progresso nos remete para

a noção de repetição, porque o progresso traz o retorno daquilo que é igual. Benjamin escreve que a noção de progresso perde relevância quando ele passou a permear todos os domínios da atividade humana. Sobre isso temos nas palavras de Benjamin:

“A teoria e, mais ainda, a prática da

social-democracia foram determinadas por um conceito

dogmático de progresso sem qualquer vínculo com a realidade. Segundo os social-democratas, o progresso era, em primeiro lugar, um progresso da humanidade em si, e não das suas capacidades e conhecimentos. Em segundo lugar, era um processo sem limites, idéia correspondente à da perfectibilidade infinita do gênero humano. Em terceiro lugar, era um processo

essencialmente automático, percorrendo, irresistível, uma trajetória em flecha ou em espiral.”

(BENJAMIN, 1940, p. 229)

O que Benjamin critica na socialdemocracia é o seu imobilismo, uma vez que espera “ a chegada inevitável da ‘situação revolucionária’.” 22

Löwy enfoca que Benjamin tem uma concepção aberta da história como práxis humana que se opõe a uma visão teleológica da história. O filósofo alemão presume que o progresso defendido pela social-democracia era um progresso técnico e não das

22

LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de

incêndio: uma leitura das teses “Sobre o

conceito de história”. São Paulo: Boitempo, 2005. p.54.

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XV capacidades de conhecimento da

humanidade. O tempo presente na social-democracia é o tempo que deve ser e, portanto, se contradiz ao tempo fruto de um devir histórico. Nesse sentido, Olgária Matos percebe duas dimensões na crítica de Benjamin ao progresso: de um lado a crítica às leis puras da história, de outro, a ética da pura intenção.

A crítica de Benjamin à social-democracia se amplia para uma crítica ao chamado marxismo vulgar, uma vez que este marxismo se tornou a arma teórica da social-democracia na época da Segunda Internacional. Franco Andreucci23 observa que os social-democratas indicavam ao proletariado a meta – o socialismo – a ser alcançada, tendo como base uma necessidade conduzida por leis de desenvolvimento. Benjamin presume que a preocupação da social-democracia com o progresso, acabou por beneficiar o fascismo, nas suas palavras, “(...) o fascismo. Este se beneficia da circunstância de que seus adversários o enfrentam em nome do progresso, considerado como uma norma histórica”. 24

23 ANDREUCCI, Franco. A difusão e a

vulgarização do marxismo. In: História do

marxismo II: o marxismo na época da

segunda internacional/ Eric Hobsbawn. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.

Olgária Matos reflete que a crítica exercida por Benjamin a social-democracia “é a recordação (ainda não desesperançada) da verdade e da realidade da revolução como realização histórica”25A autora percebe que Benjamin volta-se contra os tabus progressistas da modernidade industrial. O autor considera que na modernização das condições de existência, a compulsão à repetição que caracteriza o mito norteia um “ciclo perpétuo do idêntico na novidade”. Nessa concepção não há progresso na história, haja vista o progresso se funde sempre no seu eterno retorno. Todavia, cabe à classe revolucionária, segundo Benjamin, romper com esse ciclo.

IIII.I. A crítica de Walter Benjamin ao historicismo alemão.

Benjamin propõe um novo conceito de história, que busca se opor ao conceito de história do século XIX identificado no historicismo. Todavia, a crítica de Benjamin não explicita sobre

24

BENJAMIN, Walter. Teses sobre o conceito de história. In: Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994. p 226.

25

MATOS, Olgária C. F. Uma história barroca. In: Os arcanos do inteiramente outro: A escola

de Frankfurt, a melancolia e a revolução. São

(16)

XVI qual historicismo ele fala, o que acaba

por homogeneizar tal conceito.

Estevão de Martins Rezende, ao analisar o conceito de historicismo, mostra que esse pode ser compreendido como “a época do desenvolvimento da ciência histórica, na qual esta se constituiu como ciência humana compreensiva, sob a forma de uma especialidade acadêmica.”26 Nessa perspectiva, a pesquisa histórica passou a ser institucionalizada, de forma que o ofício do historiador se tornou uma profissão, ademais, o conhecimento histórico produzido pela ciência história se tornou o norteador para a práxis social de seu tempo.

É partir disso que o autor divide a evolução do pensamento teórico do historicismo em três fases. A primeira fase é marcada pela preparação caracterizada pela herança da tradição enciclopedista do iluminismo. A segunda fase, a saber, a fase de integração é marcada pela inserção da disciplina de ciência histórica como disciplina acadêmica, fase essa que é marcada por um aperfeiçoamento nos métodos de pesquisa histórica. A terceira fase é a de fundamentação filosófica, em que há a utilização da

26

MARTINS, Estevão de Rezende Martins.

Historicismo: Tese, legado, fragilidade. História Revista, v.7, Goiás, 2002. p.2

filosofia para compreender os princípios do conhecimento científico essenciais para o estabelecimento da história enquanto ciência humana.

Já José Carlos Reis27 nos mostra a dificuldade de caracterizar o conceito de historicismo, uma vez que esse é marcado pela heterogeneidade, o que implica na existência de diversas vertentes do chamado historicismo, dentre elas destaca-se o historicismo filosófico, o historicismo epistemológico e o historicismo romântico.

Se esses dois autores nos mostram as diferentes formas de historicismo, Francisco Falcon já reflete sobre a própria natureza do historicismo, mostrando o quanto são as críticas realizadas a essa corrente historiográfica, fazendo com que muitos dos autores cunhados como historicistas sejam relegados ao esquecimento. Para Falcon há a existência de um historicismo de viés naturalista, o historicismo marxista ou dialético e o historicismo culturalista. Todavia, o que para esse autor norteia o historicismo é a noção de a história existe como realidade imanente.

27

REIS, José Carlos. História e teoria:

historicismo, modernidade, temporalidade e verdade. Rio de Janeiro: FGV, 2003.

(17)

XVII Com esse breve

levantamento de considerações acerca do historicismo já somos guiados a pensar que há uma dubiedade nas teses de Benjamin, no sentido de não nos fornecer uma concepção sistematizada sobre as diferentes formas de historicismo. Porém, talvez isso não fosse o interesse do autor, já que a sua principal preocupação é mostrar um conceito de história diferente da história da até então realizada. Dessa forma, nos detemos aqui a analisar as críticas de Walter Benjamin ao historicismo alemão.

Se para Benjamin o passado se dá de forma fugaz e momentânea como um relampejo, ele escreve que o passado para os historicistas se configura como uma imagem de uma verdade imutável. O autor presume que não há como olhar o passado de forma “pura”, já que a “’pureza’ do olhar não só é difícil, mas também impossível de ser alcançada”.

Para o filósofo cabe ao materialismo histórico desvelar uma constelação crítica do passado que se relaciona com um momento do presente. Olgária Matos escreve que há uma repetição que não se trata colocar o passado no presente, isto é, o eterno retorno do passado, mas sim a possibilidade de dar saltos em direção a

um outro tempo, tendo em foco uma luta que ocorre no instante.

Benjamin acusa os historicistas de estabelecerem um nexo causal entre os momentos históricos, mostrando que nenhum fato por ser causa se torna um fato histórico. Na concepção desse autor somente o índice de historicidade pode transformar um fato em histórico. É sob essa dinâmica, que o filósofo defende que o historiador materialista deve captar um momento de sua própria época que entrou em contato com uma época anterior.

Benjamin afirma que o historicismo está imbuído dos pressupostos de uma história universal, cujo método consiste em adicionar fatos históricos preenchidos com um tempo linear. Em contrapartida, o autor escreve que os historiadores materialistas trazem a tona um momento saturado de tensões.

“O historicista apresenta a imagem “eterna” do passado, o materialista histórico faz desse passado uma experiência única. Ele deixa a outros a tarefa de se esgotar no bordel do historicismo, com a meretriz ‘era uma vez’. Ele fica senhor das suas forças, suficientemente viril para fazer saltar pelos ares o continnum da história” (BENJAMIN, 1940, p .230,231)

Comentando o trecho acima, Löwy escreve que Benjamin pretende indicar, por meio de uma alegoria, que a

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XVIII prostituta “era uma vez” instalada no

bordel “historicismo” recebia os vencedores um em seguida de outro, alimentando, assim, o contínuo da história. Em contrapartida, o materialismo histórico, com a imagem do passado, tem uma experiência única, isto é, é aquele acende as faíscas no momento preciso da história para, dessa forma, fazer explodir a continuidade histórica. O materialista histórico deve se atentar a um conceito de presente que pára e imobiliza, pois é nesse tempo “saturado de tensões” que o materialista histórico escreve a história. O autor percebe que o historicismo apresenta a “imagem eterna do passado”.

O oposto da história antilinear é o tempo de um presente entendido como passagem. Olgária Matos percebe em Benjamin a importância da idéia de que o adepto do materialismo histórico não tem como renunciar à concepção de presente que não é transição, mas tempo que se fixa.

Benjamin acusa os historicistas de se identificarem com os vencedores, para ele os dominadores de hoje são herdeiros dos vencedores de outrora. Mas Löwy reflete que o sentido de “vencedor” não é aquele referente às batalhas, mas à “guerra das classes”, uma vez que a classe dominante sempre vencia os oprimidos. E aqui Löwy

apreende um conceito fundamental que Benjamin expõe - a empatia. Segundo esse autor, na concepção benjaminiana a origem da empatia está na acedia. Sobre a acedia temos nas palavras de Löwy:

“ a acedia é o sentimento melancólico da todo-poderosa fatalidade, que priva as atividades humanas de qualquer valor. Conseqüentemente, ela leva a uma submissão total à ordem das coisas que existem. Enquanto meditação profunda e melancólica, ela se sente atraída pela majestade solene do cortejo dos poderosos”28

O pensamento benjaminiano concebe a apologia como um véu que encobre os momentos revolucionários da história; ela almeja a continuidade da história por meio da exaltação daquilo sobre o qual têm influência, como corolário, as minúcias salutares da história são relegadas. Walter Benjamin defende a o engajamento do adepto do materialismo histórico em contraposição à apatia do historiador tradicional, que nas palavras do autor pode ser considerada enquanto uma “atitude contemplativa”. Cabe, portanto, ao materialista histórico “escovar a história a contrapelo”. Para Löwy, o sentido dessa frase de Benjamin possui

28

LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de

incêndio: uma leitura das teses “Sobre o

conceito de história”. São Paulo: Boitempo, 2005. p.71

(19)

XIX duas dimensões: um sentido histórico,

qual seja, romper com a corrente da versão oficial da história a qual concebe a continuidade história e opor-lhe a tradição dos oprimidos. Em segundo lugar possui um sentido político (atual), no sentido de que a redenção não ocorre graças ao progresso, mas sim na luta contra a corrente.

Esse autor coloca que os vencedores carregam os despojos dos oprimidos no cortejo; despojos esses que Benjamin visualiza também como sendo bens culturais; é por esse motivo que ele afirma que todo documento de cultura é também um documento de barbárie. O autor apresenta cultura e barbárie dialeticamente como uma unidade contraditória. Na concepção benjaminiana a alta cultura não existe sem os trabalhos anônimos dos produtores diretos. Contudo, Löwy observa que Benjamin não é partidário de rejeitar as obras da “alta cultura”, pelo contrário, em muitas obras esse autor capta um potencial revolucionário. Nas palavras de Löwy: “Trata-se, então, de redescobrir os momentos utópicos ou subversivos escondidos na ‘herança’ cultural(...)”29

29

LÖWY, Michael. Walter Benjamin: aviso de

incêndio: uma leitura das teses “Sobre o

conceito de história”. São Paulo: Boitempo, 2005. p.79.

Susana Lages observa que a crítica de Benjamin ao historicismo alemão também tem uma dimensão melancólica, no sentido de que a apatia causa resignação e paralisação do agir. O anjo da história de Walter Benjamin vislumbra esses destroços que Benjamin cunha como bens culturais de forma melancólica. Para elucidar isso temos na escrita de Lages:

“O horror que infunde a visão dos produtos da história oficial é equivalente à terrível visão do anjo do quadro de Klee, segundo a descrição de Benjamin na nona tese: os despojos dos vencidos correspondem às ruínas e aos mortos que se acumulam diante do olhar aterrorizado do anjo da história. A morte é o fio condutor de todo a história construída a partir do triunfo dos poderosos”. 30

Se Benjamin visualiza nos historicistas uma apatia e uma suposta busca por neutralidade. Pedro Caldas, ao interpretar um autor identificado como historicista – Droysen -, mostra que esse autor exerce críticas a parcialidade, já que esse historiador mostra a objetividade como sendo eunuca.31 Portanto, pudemos apreender

30

LAGES, Susana Kampff. Walter Benjamin: tradução e melancolia. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2007.

31

Sobre isso ver: CALDAS, Pedro. A

Atualidade de Johann Gustav Droysen: Uma pequena história de seu esquecimento e de

(20)

XX que as críticas direcionadas ao chamado

historicismo podem não corresponder a todos os autores cunhados como historicistas.

Quando Benjamin propõe “escovar a história a contrapelo”, Löwy capta aproximações desse autor com a critica de Nietzsche ao historicismo alemão em Segunda consideração intempestiva: da utilidade e desvantagem da história para a vida. Nietzsche demonstra nessa obra todo o seu desprezo pelos historiadores que concebiam a história factual e a apatia em relação ao poder. Tal como Benjamin, Nietzsche exerce críticas a linearidade que considera presente no chamado historicismo, esse filósofo considera que o tempo linear acaba por atribuir aos eventos uma lógica racional, porquanto os historiadores que transformam os eventos e fatos em ídolos agem como “advogados do diabo”. 32Ademais, a linearidade acaba por se desencadear uma noção de moralidade histórica, já que as épocas históricas são aglomeradas em uma única época, além disso, o passado se torna isolado e repetitivo.

suas interpretações. In: Lócus. v.12, p.95-111,

2006.

32

NIETZSCHE, Friedrich. Segunda

Consideração Intempestiva: da utilidade e

desvantagem da história para a vida. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003

As críticas de Benjamin ao historicismo alemão podem ser facilmente aceitas se levarmos em consideração o historicismo enquanto um conceito universal, passível de uma única interpretação. Além disso, tanto Benjamin, como muitos de seus intérpretes acabam colocando a noção de linearidade como algo similar –senão igual- a noção de positivismo. Nessa concepção, o positivismo enquanto imbuído de um tempo carregado de leis históricas acaba por ser confundido com o historicismo.

É nesse aspecto que recorremos a esse trabalho a teoria da história, para não apenas analisarmos as teses de Walter Benjamin e sua respectiva contribuição para os estudos históricos com um novo conceito de história, mas também para captarmos a existência de possíveis limitações no que tange a sua crítica ao historicismo.

IV. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A necessidade de uma história

engajada.

As críticas de Walter Benjamin presentes nas teses são decorrentes do próprio momento histórico que vivenciou, momento esse que em seu vocabulário pode ser

(21)

XXI denominado como período de

catástrofe. Nesse sentido, há em Benjamin uma atitude de radicalismo político e não de resignação, como na maioria dos teóricos da Escola de Frankfurt sua atitude adquire cores acinzentadas a partir do tema da dominação moderna. Olgária Matos faz dela a expressão de Benjamin, vislumbrando a Teoria Crítica como melancólica – adotando para tanto uma melancolia de esquerda que busca se ater ao passado em prol de esperanças irrealizadas.

Entretanto, se a maioria dos teóricos de Frankfurt são pessimistas em relação a um sonho revolucionário, Benjamin embora sob tons melancólicos ainda visualiza a possibilidade de realização desse sonho. Isso leva Olgária Matos a refletir que, não obstante, Benjamin esteja imerso entre os teóricos do “desencantamento do mundo” em relação ao tema da dominação moderna, ele também propõe o (re)encantamento.

Tal (re)encantamento se dá pela abertura da história, já que Benjamin apresenta nas teses a necessidade de escrever a história a contrapelo, isto é, sob o prisma dos vencidos. Como percebe Matos, Benjamin vê a necessidade de trazer à tona fragmentos de um passado

oprimido, e não fatos fortuitos. O salto dialético da revolução pode conduzir a saídas de sentidos contrapostos, conforme advenha “arena onde manda a classe dominante” (identificação) ou “sob o céu livre da história”. É por uma lucidez impressionante que a filósofa brasileira capta em Walter Benjamin – tanto como noutros autores da Escola de Frankfurt – a busca por uma história em aberto, “apontando os sinais e não inventando provas”, trazendo à tona a história naquilo que ela pode ser “inteiramente outro” e não a reiteração do existente.

O agora benjaminiano resulta na conjunção do presente, futuro e do passado. “O agora é salto e choque, cuja determinação não se encontra nas ‘leis da história’ mas é dada pelos ‘construtores’ da história, os heróis em sentido benjaminiano.” 33Essa construção deve ocorrer pelos oprimidos para, assim, desembocar na Revolução, pois se a construção for realizada pelos dominantes, temos a repetição, isto é, o retorno do sempre igual.

O conceito de história em Benjamin visa, portanto, a necessidade de uma história engajada não somente

33

MATOS, Olgária C. F. Uma história barroca. In: Os arcanos do inteiramente outro: A escola

de Frankfurt, a melancolia e a revolução. São

(22)

XXII com o seu próprio tempo, mas com o

tempo de outrora. Novamente lembramos que Benjamin estava imbuído da leitura de Nietzsche para quem a história é necessária para servir a vida e a ação.

Sobre a necessidade da simbiose da teologia com o materialismo histórico para uma história engajada, pudemos captar que Benjamin não fala do sobrepujamento da teologia sobre o materialismo histórico, de forma que a primeira rege a história. Pelo contrário, Benjamin articula sobre a necessidade de a teologia auxiliar o materialismo histórico, porque só assim há a possibilidade da redenção se superar o massacre na história.

A conjugação dessas duas formas de pensar acabou ocasionando a crítica de diversos autores a Benjamin, tanto porque ele escapa daquela visão dogmática do materialismo histórico, para qual qualquer orientação teológica tem uma dimensão abstrata, já que não cai na orientação do plano estritamente material; como também críticas a um tempo histórico que se contrapõe ao tempo elaborado pelo marxismo.

Mesmo diante dessas críticas, buscamos por meio desse trabalho visualizar esse aspecto em Benjamin como algo que o torna singular e, portanto, um importante

autor para ser cada vez mais estudado. Estudos que nos conduzam não somente a analisar suas obras, mas olhá-las também com um olhar crítico, embora sua escrita nos seduza ao ponto de quase ficarmos cegos com suas idéias.

(23)

XXIII

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Referências

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