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Património Industrial Entre a Serra e o Mar. Contributo para um Programa de Atuação Urbanística e Ambiental

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Academic year: 2023

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Aluno: César Gabriel Pinto da Silva Orientador: Rui Manuel Vieira Passos Mealha

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RESUMO

A presente dissertação é um estudo urbanístico e arquitetónico com enfoque na questão particular do "Património Industrial". O trabalho está repartido por três abordagens distintas que se inter­relacionam: uma abordagem empírica, onde são apresentados prospetivamente três casos de estudo; uma abordagem teórica onde se desenvolvem alguns conceitos instauradores; uma abordagem prática onde se experimenta o exercício de projeto. Pretende­se obter um melhor (re)conhecimento do território em questão. A investigação desenvolvida procura novas metodologias de atuação no campo urbanístico e arquitetónico. As temáticas convocadas são exploradas graficamente, permitindo assim clarificar os objectos de estudo, entre a fotografia, a cartografia, o desenho, etc.

ABSTRACT

This dissertation is an urban and architectural study focusing on the particular issue of "Industrial Patrimony". The work is divided into three distinct approaches that are interrelated: an empirical approach, where three case studies are prospectively presented; a theoretical approach where some foundational concepts are developed; a practical approach where the project exercise is experimented. The aim is to obtain a better knowledge (acknowledgment) of the territory in question.

The research developed seeks new methodologies of action in the urban and architectural fields. The themes convened are explored graphically, thus allowing to clarify the objects of study, including the photography, cartography, drawing, etc.

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PALAVRAS CHAVE

Arquitetura Urbanismo

Património Industrial Memória

Paisagem

Couto Mineiro do Lena

Complexo Industrial em Pataias

Complexo Industrial da Mina do Azeche

KEYWORDS

Architecture Urbanism

Industrial Patrimony Memory

Landscape

Lena mining railroad

Industrial Complex in Pataias

Industrial Complex of Mina do Azeche

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SUMÁRIO

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0. INTRODUÇÃO

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Projetar requer relacionar coisas diferentes entre si.

Diferentes áreas do conhecimento, diferentes escalas, diferentes épocas, etc.

“O desenho do mobiliário, por exemplo, não pode abstrair­se da concepção do espaço a que pertence, enquanto ao mesmo tempo a obtenção de uma correta relação entre escalas diversas depende também das possibilidades de uso de cada uma das partes. Existe portanto uma relação, e em conjunto uma clarificação recíprocas, definidas por dois extremos.” 1)

O corpo da dissertação consiste na elaboração de um estudo urbanístico ­ investigação e projeto ­ na região centro de Portugal, com particular atenção na questão do património industrial. Esta temática surge de pesquisas efectuadas sobre o antigo Couto Mineiro do Lena, sobre o complexo industrial de produção de cal em Pataias e sobre o complexo industrial da mina do Azeche. Nesta investigação deparei­me com informação relevante para o entendimento do território referido, e nomeadamente no que respeita aos factos e valores em presença.

0.1. Objetivo.

O objectivo deste trabalho é, através dos meios da arquitetura e do urbanismo, obter um melhor entendimento do território, valorizando o património arquitectónico industrial.

Num primeiro momento através da sua caracterização e depois através da prática de projeto. Procura­se o que estes valores realmente representam e quais as suas potencialidades. Preservar e valorizar a memória do lugar. Contextualizados os valores em causa, a sua representação nas diferentes escalas permitirá um olhar consciente de inserção num sistema mais alargado.

1) SIZA, Álvaro ­ 01 Textos. Parceria A.M. Pereira, 2019. pag. 163.

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11 0.2. Objeto.

O objeto de estudo está repartido em três elementos de valor patrimonial industrial que serão tratados como casos de estudo:

► Couto Mineiro do Lena;

► Complexo industrial em Pataias;

► Complexo industrial da Mina do Azeche.

Inseridos na temática, a sua caracterização é prospetiva e vai de encontro ao título, "Património Industrial Entre a Serra e o Mar", procurando realçar e distinguir correlações e termos de complementariedade na construção da paisagem. Existe portanto uma continuidade "Entre a Serra e o Mar", algo que está compreendido "entre", uma área. Deste modo, o objeto de estudo é também, o suporte físico e o espaço público da região em estudo.

0.3. Metodologia.

O estudo está repartido em três vertentes:

► Vertente empírica;

► Vertente teórica;

► Vertente prática;

A vertente empírica ( capítulo 1. ) é o ponto de partida, onde se faz a caracterização dos casos de estudo. A informação presente neste ponto inicial é expositiva e pretende servir como base de trabalho. Os elementos são apresentados segundo um determinado enquadramento, numa procura constante "de entender mais sobre" e "de pensar sobre"; como material de estudo. Assim,

(12)

12

este capítulo é uma caracterização prospectiva ­ resultado de um processo de investigação baseado em reconhecimentos diretos.

Para cada caso de estudo considera­se o contexto histórico, a inserção urbana ( nas escalas gráficas adequadas ), o estado actual ( descrição da visita efetuada ) e outros elementos e/ou sistemas relevantes.

A vertente teórica ( capítulo 2. ) é um suporte de fundamentos teóricos, onde os temas abordados empiricamente são dissecados com base num universo de conceitos de referência.

Esta abordagem desenvolve os diferentes temas, destacando os diferentes valores, estruturas e factores significantes segundo uma determinada óptica quase utópica. A situação de partida e as questões levantadas de forma empírica são aprofundadas neste capítulo através de uma abordagem de carácter teórico. Visitam­

se neste ponto alguns autores que já teorizaram e/ou experimentaram sobre as temáticas apresentadas anteriormente. O objectivo é interpretar e adequar o trabalho ao contexto teórico da arquitetura e do urbanismo. Este capítulo reúne assim alguns fundamentos teóricos úteis para a abordagem projetual.

A vertente prática ( capítulo 3. ) é um processo de estudo e de investigação projetual. Primeiramente é desenvolvido um esquema SWOT com o objetivo de detetar e enquadrar os principais tópicos ­ que ajudam a definir a "orientação" da estratégia.

Nessa fase inicial, pretende­se assinalar os pontos fortes, os pontos fracos, as oportunidades e as ameaças, fazendo uma análise cruzada dos mesmos. Assim, procura­se clarificar o desafio prático de projeto e, paralelamente, a estratégia adotada. Depois é desenvolvido um programa de atuação urbanística que procura responder às questões levantadas nos capítulos anteriores e que se reparte em unidades operativas estratégicas, para as quais são desenvolvidos programas preliminares de arquitectura.

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13 Os desenhos, nomeadamente as secções, são um instrumento de investigação e de interpretação do território e permitem um entendimento do território a várias escalas. 2) Permitem ler, interpretar e projetar relações bidimensionais e tridimensionais entre os fatos urbanos e territoriais em presença.

"O desenho é uma ferramenta ativa de pesquisa na compreensão e construção de territórios contemporâneos: é produtor de conhecimento" 3)

2) O estudo aborda as secções como ferramenta metodológica. Os cortes ( a várias escalas ) são instrumentos de atuação. Note­se "A Secção do Vale"

no livro Cidades em Evolução de Patrick Geddes.

3) VIGANÒ, Paola ­ Territorialism. s/ editora, Cambridge, 2014. p. 11. Tradução: César Silva.

Disponível em: https://issuu.com/gsdharvard/docs/

territorialism Acedido em 07/2022.

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(15)

1. PATRIMÓNIO

INDUSTRIAL

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16 Mapa 1 ­ O mapa destaca a área geográfica aproximada de enfoque.

(17)

17 Neste capítulo são apresentados os três casos de estudo de valor patrimonial. Cada um segue a seguinte estrutura:

► Breve apresentação;

► Contextualização histórica;

► Inserção urbana ( gráficamente );

► Nota empírica acerca do estado atual ( visita efetuada );

► Nota empírica acerca da paisagem;

► Linha cronológica ( gráficamente ).

Os casos de estudo remontam ao início da atividade indústrial na região, que atualmente tem uma forte presença nesse setor. A sua apresentação é prospetiva e pretende servir como base de estudo. É uma abordagem empírica.

O Mapa 1 e o Mapa 2 pretendem localizar geográficamente a área aproximada onde se enquadram os três casos de estudo ­

"Entre a Serra e o Mar".

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18

Pataias

Batalha

Porto de Mós

São Martinho do Porto Nazaré

Serras de Aire e Candeeiros Marinha Grande Leiria

Mapa 2 ­ Mapa base. O mapa é uma vista aérea da área aproximada de enfoque, onde se pretende enquadrar acerca da situação geográfica.

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20

Mapa 3 ­ O mapa destaca o percurso do Couto Mineiro do Lena, onde se pretende enquadrar acerca da situação geográfica.

Martingança

Batalha

Porto de Mós

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21 1.1. Couto Mineiro do Lena.

O Couto Mineiro do Lena foi uma ligação ferroviária entre a Linha do Oeste e as minas de carvão da Batalha e de Porto de Mós. O ramal conectou as minas de carvão com a linha de ferro nacional e portanto com o país. Desempenhou um papel de desenvolvimento económico e social na região entre as duas grandes guerras.

Contextualização histórica.

A exploração mineira na Batalha teve início em 1855, quando Jorge Croft registou a descoberta de minas de carvão e ferro.

"Porém, durante muitos anos a sua exploração não teve grande expressão, tendo as minas transitado várias vezes de proprietário e outras tantas sido abandonada. A produção só ganhou algum alento durante a I Guerra Mundial, quando a falta de carvão estrangeiro, fez aumentar a procura de carvões nacionais." 4)

Em 1917, o governo concedeu uma autorização especial à recém formada Vasco Bramão e Comp.ª para a construção de uma linha de ferro de bitola de 1 metro entre as minas da Batalha e a Martingança ( Linha do Oeste ), ramal esse que foi construido com o nome "Martingança Minas".

"Pelos finais de 1922 constitui­se a Sociedade Mineira do Lena (SML), que vai adquirir as concessões até então atribuídas a V.

Bramão e a outros proprietários." 5)

4) BRANDÃO, José Manuel ­ "Caminho de Ferro Mineiro do Lena : desígnio de progresso industrial e social"

In: Património geológico, arqueológico e mineiro em regiões cársicas : actas do Simpósio Ibero­

Americano, Batalha, 29 de Junho a 1 de Julho de 2007. eds. editores José M. Brandão, Carlos Calado, Fernando Sá Couto. SEDPGYM, 2008, p. 194. Disponível em: http://hdl.handle.net/10400.9/847 Acedido em 07/2022.

5) Ibidem, p. 194.

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22

Mapa 4 ­ Percurso do Couto Mineiro do Lena e possível ligação ao Entroncamento. O mapa destaca a cheio o percurso do Couto Mineiro do Lena e a tracejado o percurso até ao entroncamento que nunca foi construido.

Martingança

Entroncamento

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23 Em 1923, Manuel V. Ribeiro ( da Vasco Bramão e Comp.ª ), ainda proprietário da linha de ferro "Martingança Minas", suspendeu a circulação dos comboios e preparava­se para retirar a linha de ferro, recusando negociar com a SML. Isto fez suspender a exploração das minas e afetou tanto as indústrias mineiras, como as indústrias que dependiam daquele carvão. Deste modo, a SML solicitou a ação do estado.

"A linha passa então para a posse do Estado, que em Junho desse ano [ 1923 ] a entrega para exploração à SML" 6)

Assim, em Junho de 1923, o ramal recomeçou a funcionar, tendo a bitola sido alterada para 0,60 metros, com o intuito de levar os vagões à boca da mina.

"Todavia, este troço de caminho de ferro não satisfazia inteiramente as necessidades de escoamento do carvão, na medida em que o trajecto das minas de Porto de Mós até à Batalha, continuava a ter de se fazer em camiões e veículos de tracção animal; [...] " 7)

Em 1926, a firma The Match and Tobacco Timber Supply Company ( Match ) adquiriu à SML o caminho de ferro e em 1927 o governo autoriza a Match a explorar o transporte de mercadorias e passageiros, num serviço combinado com a Comboios de Portugal ( CP ). A bitola foi novamente convertida para 1 metro e o troço entre a Batalha e Porto de Mós foi inaugurando em 1930. O ramal ficou com o nome de Caminho de Ferro Mineiro do Lena ( CFML ).

Almejava­se o desenvolvimento da linha até ao entroncamento, unindo a linha do oeste com a linha do norte ( Mapa 4 ). Essa ligação nunca chegou a acontecer.

6) Ibidem, p. 195.

7) Ibidem, p. 195.

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Mapa 5 ­ Percurso do Couto Mineiro do Lena e planta topológica. O mapa destaca o percurso do Couto Mineiro do Lena, onde se pretende enquadrar acerca da situação topológica. Note­se a diferença de cotas na serra e a forma como esta é vencida.

Serras de Aire e Candeeiros

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"Paralelamente, e logo no início dos anos trinta, a situação económica da concessionária agravou­se pois aos pesados compromissos financeiros contraídos com a banca e com a CP, somavam­se as dificuldades no ramo da exploração de madeiras e a perda da posição no negócio dos fósforos, vendida a um grupo estrangeiro." 8)

Entre 1930 e 1931, a Match é substituida pela Empreza Mineira do Lena S.A.R.L. (EML). 7)

"A perda de consumidores do carvão agravada pela perspectiva de esgotamento das minas da Bezerra e Ferrarias, de onde se extraia a melhor lignite levam, praticamente, à total paralisação da actividade do Couto Mineiro em 1935, obrigando a empresa a pedir a suspensão do serviço de transporte de passageiros, alegando que lhe era impossível a manutenção do serviço combinado com a CP que se tornara deficitário face a um movimento quase nulo. [...] Chegava assim ao fim o serviço público do CFML." 9)

Nos anos da II Guerra Mundial, o carvão nacional voltou a ser procurado e a atividade mineira no Couto Mineiro do Lena aumentou.

"Se durante a Guerra a atividade mineira se superou, nos anos seguintes o regresso dos carvões importados de melhor qualidade e, sobretudo, a generalização do uso dos combustíveis líquidos e as consequentes mudanças nos transportes rodoviários e de tração ferroviária ditaram, de forma irreversível, a perda de competitividade da EML e a sua descapitalização." 10)

6) Ibidem, p. 195.

7) Ibidem, p. 195.

8) Ibidem, p. 199.

9) Ibidem, p. 200.

10) BRANDÃO, José Manuel ­ "Caminho de Ferro Mineiro do Lena : viagem interrompida" In: Memórias do Carvão. Eds. José Manuel Brandão, Maria de Fátima Nunes. Câmaras Municipais da Batalha e de Porto de Mós, 2015, p. 130. Disponível em: http://

hdl.handle.net/10400.9/2864 Acedido em 07/2022.

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Mapa 6 ­ Percurso do Couto Mineiro do Lena e sistema urbano. O mapa destaca o percurso do Couto Mineiro do Lena, onde se pretende enquadrar acerca da situação urbana atual.

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"A autorização do Estado para a suspensão do tráfego ferroviário, desta vez definitiva, chegou em janeiro seguinte (1949), na sequência de parecer nesse sentido do Conselho Superior de Obras Públicas e Minas. Esta decisão acarretou a desclassificação da linha para serviço público e como acessório mineiro, abrindo as portas ao seu desmantelamento." 11)

Atualmente / Visita

O caminho de ferro já não existe. No entanto, ainda se podem encontrar algumas ruas que guardam essa memória com nomes relacionados ao ramal. Exemplos:

► Rua do Lena ­ Maceirinha;

► Rua da Linha ­ Batalha;

► Rua da Linha do Caminho de Ferro ­ Batalha;

► Rua do Caminho de Ferro ­ Batalha.

As terraformações que foram feitas em Porto de Mós onde o caminho subia à Serra de Aire e Candeeiros ainda existem e pode verificar­se a forma como a diferença de cotas era vencida, através de uma pendente constante, como evidencia o registo fotográfico ( Imagem 1 e Imagem 2 ).

Parte deste caminho foi aproveitado pela Câmara Municipal de Porto de Mós com uma funcionalidade ligada ao desporto e ao lazer. Foi inaugurada uma ecopista, que permite fazer ciclismo, caminhar, passear, etc 12). Esta intervenção é importante e relevante para a temática deste trabalho pela forma como se tira partido de uma terraformação histórica e se lhe dá um novo uso, acompanhando o percurso com informações acerca da história do lugar, que nos dão conta do seu valor e significado. No fundo, toda a atmosfera que envolve o lugar é autoexplicativa.

8) Ibidem, p. 199.

9) Ibidem, p. 200.

10) BRANDÃO, José Manuel ­ "Caminho de Ferro Mineiro do Lena : viagem interrompida" In: Memórias do Carvão. Eds. José Manuel Brandão, Maria de Fátima Nunes. Câmaras Municipais da Batalha e de Porto de Mós, 2015, p. 130. Disponível em: http://

hdl.handle.net/10400.9/2864 Acedido em 07/2022.

11) Ibidem, p.131.

12) Website da Câmara Municipal de Porto de Mós.

Página relativa à ecopista disponível em: https://

www.municipio­portodemos.pt/pages/1218?poi_id=203 Acedido em 07/2022.

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28 Imagem 1 ­ Ecopista em Porto de Mós. Note­se a pendente constante / suave.

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Imagem 2 ­ Ecopista em Porto de Mós. Note­se a 29

pendente constante / suave.

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30 Imagem 3 ­ Ecopista e a sua relação com a paisagem Este. Note­se o relevo mais acentuado.

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31 Paisagem.

A paisagem, particularmente na serra, oferece uma grande visibilidade do território em estudo, a Oeste ( Imagem 4 e Imagem 5 ). Da Serra pode vislumbrar­se o mar, e todo o território até lá, práticamente plano. Também é muito interessante a paisagem a este ( Imagem 3 ), onde o relevo é muito mais acentuado.

Imagem 4 ­ Ecopista e a sua relação com a paisagem Oeste. Note­se o relevo mais plano e o mar no horizonte.

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Imagem 5 ­ Ecopista e a sua relação com a paisagem Oeste. Note­se o relevo mais plano e o mar no horizonte.

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34 Esquema 1 ­ O esquema representa a linha cronológica com datas relevantes do Couto Mineiro do Lena.

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Mapa 7 ­ Inserção urbana dos núcleos de produção de cal em Pataias. O mapa destaca a inserção dos dois núcleos de produção de cal no contexto urbano atual.

A sudoeste o núcleo da Brejoeira e a nordeste o núcleo de Olhos de Água.

Pataias

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37 1.2. Complexo Industrial em Pataias.

O referido complexo industrial em Pataias foi um centro de produção de cal. A produção de cal em Pataias remonta à primeira metade do seculo XVIII. Publicado na revista Al­Madan Online, um levantamento arqueológico, identificou dois núcleos com fornos de produção artesanal de cal ( Olhos de água e Brejoeira ), que funcionaram em Pataias na segunda metade do século XIX e durante o século XX. 13) O complexo fixou­se numa zona onde a pedra era de uma excelente qualidade, bem como a existência de matéria­

prima para o cozimento da pedra ( madeira ) era abundante. O complexo é composto pelos seguintes elementos:

► Fornos de Cal.

► Telheiros ( junto a cada forno ).

► Tulhas ( armazéns com condições específicas ).

► Casa dos forneiros.

► Anexos.

Contextualização histórica.

"[ ... ] na primeira metade do século XVIII existiam pelo menos dois fornos de cal em Pataias. [ ... ] Apenas voltamos a encontrar referências a fornos em Pataias já em pleno século XIX. [ ... ] Numa carta do Regedor de Pataias ao Administrador do Concelho de Alcobaça, informa dos industriais de cal existentes em Pataias «José Cupertino Ribeiro, José Coutinho, Florêncio José Ribeiro, António José Ribeiro, Joaquim Sebastião, António de Sousa Luz, Vicente Ralo Moço e Joaquim Marujo» [ ... ] existiam, em 1856, oito industriais de cal que exploravam cerca de uma dúzia de fornos." 14)

13) SILVA, Fernando Ricardo (2019) – “Os Fornos de Cal Artesanais de Pataias (Alcobaça): resultados de um levantamento arqueológico”. Al Madan Online.

Almada: Centro de Arqueologia de Almada. 22 (4): 14 ­ 35. Em linha. Disponível em https://issuu.com/

almadan/docs/al­madanonline22_4 Acedido em 07/2022.

14) INÁCIO, Tiago ­ "Os fornos de cal de Pataias"

In: Anais Leirienses Estudos & Documentos Congresso de História e Património da Alta Estremadura e Terras de Sicó (21 e 22 set. 2019). Vol. 7 (dez.

2020), p.314.

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38

Esquema 2 ­ O esquema representa aproximadamente o número de fornos ativos em Pataias ao longo dos anos. Desde a existência do 1º forno em 1721, até ao auge de 41 fornos em 1944 e finalmente até ao encerramento do último forno em 1995.

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39 Em 1862 existiam 10 industriais que exploravam cerca de 16 fornos, sendo que 4 se encontravam inativos. Em 1881 existiam 15 industriais que exploravam cerca de 20 fornos.

"Seguramente que a inauguração da linha ferroviária do Oeste, em 1888 [ ... ], foi um importante marco para o desenvolvimento da indústria de cal em Pataias, permitindo escoar a produção para todo o País e o aumento considerável do número de fornos em laboração."15)

A inauguração da Linha de Ferro do Oeste teve assim um forte impacto no desenvolvimento da produção de cal em Pataias.

Em 1909, Manuel Serrano de Figueiredo construiu uma linha decauville ( linha de ferro de bitola estreita ) entre a Linha do Oeste e os seus fornos de cal.

"[ ... ] Manuel Serrano foi um visionário industrial sem precedentes e o mais importante industrial na freguesia no início do século XX, fazendo chegar a cal de Pataias a todo o País" 16)

Nas décadas seguintes o número de fornos foi sendo cada vez maior. Em 1944, antes da instalação da fábrica de cimentos da Cibra, existiam cerca de 41 fornos ativos. A partir deste ano o número de fornos ativos foi diminuindo. Em 1958 existiam cerca de 46 fornos, dos quais 38 ativos. Em 1965 havia cerca de 31 fornos ativos, tendo a produção de cal atingino o seu auge neste ano. Em 1981 existiam cerca de 10 fornos ativos, em 1990 apenas 3 e em 1995 encerrou o último forno.

15) Ibidém, p. 315.

16) Ibidém, p. 316.

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Esquisso 1 ­ Em cima à esquerda: Entrada genérica de um forno de cal.

Esquisso 2 ­ Em cima à direita: Planta genérica de um forno de Cal.

Esquisso 3 ­ Em baixo: Corte genérico de um forno de Cal e respetivo telheiro.

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17) Disponível em: https://ufpm.pt/turismo­e­lazer/

percursos­pedestres/504/pr6­acb­rota­dos­fornos­de­

cal­de­pataias Acedido em 07/2022.

Esquisso 4 ­ Em cima: Vista aérea genérica de um forno de cal.

Esquisso 5 ­ Em baixo: Dois Fornos de Cal.

Atualmente / Visita

Atualmente existe um percurso que percorre os dois nucleos.

No website da União de freguesias de Pataias e Martingança está assinalado um percurso que percorre as áreas dos dois núcleos de fornos. 17) É possível visitar os fornos, uns mais em ruinas do que outros. A situação atual não é a melhor, na medida em que a degradação é cada vez maior. Já não existe parte do património.

Na visita ao local foi percetível que algum do património já se perdeu ou está em ruinas.

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42

Imagens 6, 7 e 8.

Algumas entradas dos fornos de cal. Referir o manifesto estado de degradação destas estruturas.

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44 Imagem 9 ­ Telheiro em frente de um forno de cal.

( para resguardo do combustível ).

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Imagem 10 ­ Tulha ( armazém de cal ).

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46 Imagem 11 ­ Forno de cal e respetivo telheiro.

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48 Mapa 8 ­ Inserção urbana da Mina do Azeche. O mapa destaca a inserção da mina no contexto urbano atual.

Praia de Paredes da Vitória

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49 1.3. Complexo Industrial da Mina do Azeche.

O Complexo Industrial da Mina do Azeche foi um centro de extração de hidrocarbonetos localizado na atual praia da Mina em Pataias, conforme se pode verificar no website mindat.org ( https://www.mindat.org/loc­241261.html ). A mina foi descoberta por volta de 1843 e está localizada num contexto geológico específico, que contém uma matéria­prima caracterizada pela sua cor escura. O complexo é composto por:

► Mina.

► Posto da alfândega.

► Fábrica.

► Fábrica de produtos químicos.

► Armazéns.

► Casas de trabalhadores.

Contextualização histórica.

"Todos os documentos que remetem para o início da exploração, referem a descoberta em 1843 de uma Mina de Asfalto pelo Engenheiro Pedro José Pezerat, a meio do penedio da encosta na Praia do Canto do Azeche [...]" 18)

Como o asfalto era embarcado no porto da Nazaré, os custos do transporte terrestre até lá eram grandes, pelo que em 1846 é feito um pedido ao diretor da alfândega de Lisboa, para que o asfalto pudesse ser embarcado diretamente na praia da mina. Essa autorização foi concedida, tendo sido construido um posto da alfandega. 19)

18) INÁCIO, Tiago ­ Mina do Azeche ­ Património à beira­mar Esquecido. s/ editora, s/ local, s/ data.

p. 18.

19) Ibidém, p. 21.

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50 Imagem 12 ­ Entrada da mina. A entrada está parcialmente enterrada.

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51

"A primeira referência que existe à fabrica da mina, é de meados de Janeiro de 1857 [ ... ]" 20) p. 43

A fábrica foi construida à boca da mina. Deste modo, o mineral extraído era transportado por uma curta distância até lá, onde se faziam refinações, entre outras transformações. O produto final era então embarcado na Alfândega da Mina.

"Nessa altura [ 1858 ] existe referência que a mina já continha cerca de trezentos metros de galerias." 21)

No mesmo ano, iniciou­se também a construção da fábrica de produtos químicos, com o intuito de produzir sabão, entre outros produtos.

"A circundar a fábrica, existiam casas para os trabalhadores, e armazéns assim como um grande muro a circundar toda a propriedade."22)

Durante o final do século XIX e o início do século XX, a mina foi transitando várias vezes de proprietário, tendo inclusivamente estado parada algumas vezes.

"[ ... ] a Mina do Azeche conhece novo início de exploração, ainda na decada de 30 [ século XX ]. Além do asfalto, foi também extraído enxofre. Laborou irregularmente até ao início dos anos 50 [ ... ]"23)

20) Ibidém, p. 43.

21) Ibidém, p. 31.

22) Ibidém, p. 47.

23) Ibidém, p. 42.

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52 Imagem 13 ­ Ruinas do Posto da Alfândega. Note­se o manifesto estado de degradação.

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53 Nos anos 50 a exploração da mina foi abandonada.

"O grande estado de abandono a que o complexo foi votado após o fim da exploração, fez com que, durante os anos 70, abatessem diversas galerias [ ... ]. Já em meados dos anos 80 a entrada era completamente impossível." 24)

Atualmente / Visita.

Atualmente existe um percurso que permite visitar a entrada da mina. No website da União de freguesias de Pataias e Martingança está assinalado esse percurso. 25) É possível visitar a entrada da mina, e algumas ruínas do posto da alfandega e da fábrica. A visita ao local foi percetivel que algum do património já se perdeu ou está em ruinas; a fabrica de produtos químicos já não existe.

24) Ibidém, p. 42.

25) Disponível em: https://ufpm.pt/turismo­e­lazer/

percursos­pedestres/525/pr16­acb­percurso­da­mina­

do­azeche Acedido em 07/2022.

Esquisso 6 ­ Entrada da mina.

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54 Imagem 14 ­ Praia da Mina. Note­se a paisagem, onde se destaca a vista para o mar ( Oeste ).

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55 Paisagem.

No que respeita a paisagem, pode ver­se a praia e o mar ( imagem 14 ). A norte fica a praia das Paredes ( imagem 15 ).

Imagem 15 ­ A norte da praia da Mina, localiza­se a praia das Paredes da Vitória.

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Esquema 3 ­ O esquema representa a linha cronológica com as datas relevantes e, aproximadamente, o tempo de exploração da Mina do Azeche.

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58 Mapa 9 ­ O mapa destaca a localização dos três casos de estudo.

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59 1.4. Desafios Entre a Serra e o Mar.

Empíricamente, surgiram algumas questões após a exposição dos casos de estudo:

► Poderá a temática "Património Industrial" ser um fio condutor e unificador de uma parte do território?

► Como preservar a memória, qual o seu valor, significado e relevância no contexto atual?

► Como abordar uma estratégia de futuro socialmente, económicamente e ambientalmente sustentável?

► Poderá esta aproximação aos casos de estudo conformar uma possível metodologia de atuação?

Esquisso 7 ­ Corte territorial "Entre a Serra e o Mar".

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Esquema 4 ­ O esquema representa a linha cronológica e o tempo de atividade dos três casos de estudo.

Note­se que há uma altura onde os três se encontram ativos.

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2. FUNDAMENTOS

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65 Este capítulo desenvolve uma base de fundamentos teóricos úteis para a compreensão do trabalho e para a componente prática. Nesta fase abordam­se as temáticas que surgiram no capítulo anterior segundo uma perspectiva quase utópica.

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Imagem 16 ­ Em cima: Teatro Thália, exterior. Note­

se como o edifício é "encapsulado".

Imagem 17 ­ Em cima: Teatro Thália, interior.

Imagem 18 ­ Em baixo: Moinho de Papel, exterior.

Imagem 19 ­ Em baixo: Moinho de Papel, interior.

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67 2.1. Tempo, Memória e Valor Patrimonial.

Este é o tema teórico principal / chave do trabalho. Os casos de estudo apresentados são mais do que memórias, pois estão materializados. A memória ainda está presente.

“A noção de permanência é fundamental quando se valoriza a importância da história para a forma urbana. No que permanece se revela a presença do passado, o que quer dizer que não se trata só do passado, mas da presença real desses feitos urbanos, nos quais se cristaliza o conteúdo do que é transmitido.” 26)

O valor patrimonial está presente no território, por um lado fisicamente e por outro, pela memória. Mas é a descrita noção de permanência que se destaca, pois a presença do passado pode ser muito comunicativa. Veja­se por exemplo o Teatro Thalia em Lisboa,dos arquitetos Gonçalo Byrne, Patrícia Barbas e Diogo Seixas Lopes 27). Trata­se de um edifício do século XIX, que foi restaurado. Neste exemplo, o património é "encapsulado", sendo protegido e preservado, fortalecendo a noção permanência. Outro exemplo é a reabilitação do Moinho do Papel em Leiria, levada a cabo por uma equipa multidisciplinar ( desde o reconhecido Arquitecto Álvaro Siza Vieira aos técnicos do Município ) 28), edifício antigo dedicado à indústria do papel que foi restaurado, salientando a noção de permanência e o seu valor patrimonial.

O tempo é assim um elemento chave; é com o passar deste que um qualquer espaço / objeto pode ganhar significado e passar a lugar.

26) RIVAS SANZ, Juan Luis de las ­ El espacio como lugar : sobre la naturaleza de la forma urbana.

Valladolid : Secretariado de Publicaciones, Valladolid, 1992. p. 107. Tradução: César Silva.

27) Disponível em: https://commons.wikimedia.org/

wiki/Category:Teatro_Thalia Acedido em 07/2022.

28) Disponível em: https://www.cm­leiria.pt/areas­

de­atividade/cultura/patrimonio­e­museus/museus/

moinho­do­papel Acedido em 07/2022.

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68 Imagem 20 ­ Autor: Paul Klee ­ Space of the Houses.

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69 2.2 Conceito de Lugar.

"A ideia de lugar destaca o caráter que este alcançou na sua configuração e compreensão pelo homem ao longo do tempo." 29)

Como foi referido, o passar do tempo é relevante para entender o que significa o conceito de lugar. No contexto deste trabalho, os casos de estudo apresentados possuem um valor patrimonial reconhecido, alcançado com o passar do tempo. Os casos de estudo, de certa forma, caracterizam e explicam os lugares onde se inserem e esse valor que lhes é atribuído contribui para a caracterização dos lugares. Esta visão torna possível um olhar mais consciente de valorização do património.

Os casos de estudo caracterizam e explicam os lugares onde existem e contribuem, como fonte de significado(s). O conceito de lugar é importante porque remete para o encontro entre os objetos ao longo do tempo.

"Mas onde a ideia de lugar assume um relevo singular é na concepção do «genius loci», que corresponde ao que o lugar é ou «quer ser». O mundo dos objetos reunidos por um lugar constituirá o seu Genius, e esse encontro é realizado pela linguagem da arquitetura." 30)

29) RIVAS SANZ, Juan Luis de las ­ El espacio como lugar : sobre la naturaleza de la forma urbana.

Valladolid : Secretariado de Publicaciones, Valladolid, 1992. p. 38. Tradução: César Silva.

30) Ibidém, p. 30.

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70 Imagem 21 ­ Edifício Polifuncional em Roma. Note­se a reflexão das antigas muralhas aurelianas.

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71 2.3. Linguagem em Arquitetura.

Linguagem em arquitetura, como em muitas outras áreas disciplinares, encerra entendimentos subjetivos, na medida em que não existe um padrão universal... Porém, é possível retirar algumas interpretações do seguinte exemplo ­ Edifício Polifuncional na Via Campania em Roma, da autoria do gabinete Passarelli ( Imagem 21 ). Este edifício é muito elucidativo quanto à comunicação da arquitetura entre si, mais concretamente com o que se passa do outro lado da rua. No livro "A Linguagem Moderna da Arquitetura", Bruno Zevi refere acerca do Edifício Polifuncional:

"Nos sextos vítreos espelham­se as construções dos lados opostos das ruas, e em particular as antigas muralhas aurelianas, nas diversas gradações do seu castanho­avermelhado." 31)

Este exemplo permite fazer uma reflexão acerca do tema linguagem em arquitetura e como se pode comunicar, particularmente na presença de elementos de valor histórico e patrimonial.

31) ZEVI, Bruno ­ A Linguagem Moderna da Arquitectura: Guia ao código anticlássico. EDIÇÕES 70, Lisboa, 1997. p. 156.

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72 Imagem 22 ­ Le Modulor de Le Corbusier. A escala humana.

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73 2.4. Elemento Natural.

“À escala do homem, e com todas as limitações que uma classificação sempre implica, é possível, talvez, distinguir fundamentalmente os casos­tipo de formas naturais ­ isto é, aquelas em cuja definição ou criação o homem não participa ­ e formas artificiais ou aquelas em cuja existência o homem toma parte activa. Casos­limite, sem dúvida, pois que o próprio homem, enquanto forma, isto é na sua realidade física, é um misto de obra da natureza e de obra de si próprio, sendo difícil distinguir o que a uma e a outro cabem, mesmo examinando o fenómeno a uma escala humana, como já foi referido, pois que de outro modo haverá que considerar o homem, na sua forma, como obra total da natureza, premissa esta a pôr de parte visto que fundamentalmente nos propomos a estudar fenómenos da organização do espaço tendo por agente o próprio homem.” 32)

Primeiramente pode retirar­se desta afirmação que o homem é sim parte da biodiversidade da natureza, mas fica claro que age sobre ela, ou seja, ganha uma autonomia que a permite modificar.

Deste ponto de vista fica clara a posição do homem na natureza, como dominador, agente. Ora, como se tem vindo a descobrir ao longo dos anos, o equilíbrio da natureza encontra­se mais e mais ameaçado, sendo enorme a urgência de abordar este tema.

"Neste ponto, cabe esclarecer dois conceitos de referência: ecologia e sustentabilidade, que correspondem a momentos históricos distintos e a diferentes concepções.

A ecologia, surgida em meados do século XIX com as teorias da evolução de Charles Darwin, e definida por Ernst Haeckel, é a ciência que trata dos ecossistemas, os quais incluem a biocenose ­ ou seres vivos ­ e os biótipos ­ ou sistemas em equilíbrio. O

32) TÁVORA, Fernando ­ Da Organização Do Espaço.

FAUP publicações, Porto, 2006. p. 13.

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conhecimento de que dispomos pode ser aplicado na distribuição dos recursos naturais de modo a beneficiar todas a sociedades humanas, respeitando­se o equilíbrio. A base da ecologia é a consciência holística de que, na natureza, tudo está inter­relacionado.

Sustentabilidade é um conceito recente, que foi necessário criar para que se enfrentassem os graves problemas de escassez de recursos e de contaminação do planeta, além da mudança climática. Nesse sentido, a proposta de um desenvolvimento sustentável baseia­se em critérios mensuráveis como a “pegada ecológica”, estabelecida pelos cientistas canadenses Mathis Wackernagel e William Rees, em 1995, ou os indicadores de sustentabilidade que, seguindo as Agendas locais propostas a partir do encontro no Rio de Janeiro em 1992, vêm sendo revisados e aplicados." 33)

De facto, com a industrialização e com a explosão das cidades deu­se uma ocupação massiva da natureza, criou­se um desequilíbrio, proporcionado por um crescimento exponêncial da forma como utilizamos os recursos ao nosso dispor. A sustentabilidade é um dos pontos chave para a relação homem­

natureza; relação sem a qual não podemos existir.

“Eu sou pessimista em relação ao ser humano porque ele é demasiado inteligente para o seu próprio bem. A nossa abordagem à natureza é domina­la. Teríamos mais chances de sobrevivência se aceitássemos este planeta e se o víssemos apreciativamente ao invés de ceticamente e ditatorialmente.” 34)

33) MONTANER, Josep Maria ­ A Modernidade Superada.

Ensaios sobre arquitetura contemporânea. Editora G Gili, SL, Barcelona, 2013. p. 158.

34) RAPOPORT, Amos ­ house form and culture. Philip L. Wagner, Editor, s/ local, s/ data. p. 83.

Tradução: César Silva.

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“É preciso almejar uma arquitetura que construa sem destruir, que ative o existente, que recicle o construído, que restitua as coberturas vegetais ao território urbanizado, que entenda os recursos como patrimônio e que interprete o meio existente como um complexo sistema de relações entre os seres humanos e o entorno construído.” 35)

Bernardo Secchi, tal como diversos outros autores, aborda as questões ambientais e de acessibilidade como materiais de projeto. Utiliza termos como permeabilidade, porosidade, perculação, isotropia... Estes são conceitos distintos, mas associados. Pode­se verificar o desenho do chão objetivado no sentido da conformação de sistemas, e correspondentes significados socio­culturais. Este estudo também pretende dar essa relevância ao elemento natural, numa procura de harmonia entre o humano a natureza.

35) MONTANER, Josep Maria ­ A Modernidade Superada.

Ensaios sobre arquitetura contemporânea. Editora G Gili, SL, Barcelona, 2013. p. 159.

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Fernando Pessoa

Paisagens, quero­as comigo.

Paisagens, quero­as comigo.

Paisagens, quadros que são...

Ondular louro do trigo, Faróis de sóis que sigo, Céu mau, juncos, solidão...

Umas pela mão de Deus, Outras pelas mãos das fadas, Outras por acasos meus,

Outras por lembranças dadas...

Paisagens... Recordações, Porque até o que se vê Com primeiras impressões Algures foi o que é, No ciclo das sensações.

Paisagens... Enfim, o teor Da que está aqui é a rua Onde ao sol bom do torpor Que na alma se me insinua Não vejo nada melhor.

Poema 1 ­ PESSOA, Fernando ­ Paisagens, quero­as comigo.

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77 2.5. Paisagem.

O conceito de paisagem teve concepções diferentes ao longo do tempo no mundo ocidental. A evolução do sentido da palavra paisagem tem início no século XV:

"Nesta altura, a 'paisagem' nasceu como uma representação e perceção estética e personalisada de uma parte da terra e da natureza, e foi um manifesto da 'grande divisão' que foi fundada pela razão moderna entre o humano e o mundo, objeto e sujeito, natureza e cultura." 36)

O conceito de paisagem nasceu como algo que se contrapunha ao Homem. No século século XVIII, o Romantismo propôs uma nova concepção do sentido da palavra paisagem:

"Nesta altura, a 'paisagem' representa a perceção do sujeito baseada no seu sentido do mundo inteiro, e é o contexto de uma experiência sensual. A paisagem propõe um novo tipo de relação entre o humano e o mundo, que já não é simbólica ou dedutiva mas estética e sensual."37)

Deste modo, a paisagem foi de certa forma romantizada, na medida em que a relação entre o Homem e o mundo se torna em algo estético e sensual. Na primeira metade do seculo XX o conceito volta­se a transformar:

36) ALEHASHEMI, A., MANSOURI, S. "Landscape; a Shifting Concept; The Evolution of the Concept of Landscape from Renaissance". The Monthly Scientific Journal of Bagh­e Nazar, 2018. p. 36. Tradução:

César Silva. Disponível em: https://

www.researchgate.net/publication/

323345346_Landscape_a_Shifting_Concept_The_Evolution _of_the_Concept_of_Landscape_in_the_West_from_Renais sance Acedido em 07/2022

37) Ibidém, p. 37.

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"Nesta altura, considerando as conquistas da fenomenologia em negar o dualismo entre sujeito e objeto, a 'paisagem' já não é o resultado da análise lógica e inteletual dos seus componentes, mas sim um reconhecimento sintético das relações que os unificam. De acordo com o experimento sensato que foi estabelecido pela fenomenologia, a paisagem transforma­se no conceito totalmente subjetivo baseado em como a nossa interpretação se forma através do contexto cultural, religioso e histórico." 38)

Assim, a paisagem perde o sentido lógico e passa a ser algo subjetivo que depende da interpretação e do contexto. Na segunda metade do século XX há uma nova alteração:

"Nesta altura, a 'paisagem' emergiu como um símbolo da nova realidade que não é nem totalmente objetivo nem totalmente subjetivo, mas sim um novo tipo que é resultado da interação entre objetividade e subjetividade. Esta relação de trajetória cuja definição é impossível exceto pela linguagem da arte passa pelo mundo da fenomenologia e encontra o seu caminho para o intermédio entre humano, sociedade, história e ecúmeno." 39)

O conceito chegou a um intermédio entre objetividade e subjetividade. No século XXI há um novo sentido:

"Nesta altura, a 'paisagem', como mediadora que torna o conceito de ecúmeno é uma das principais chaves que desenvolve as soluções globais para a monodimensionalidade no campo do planeamento ambiental. Em primeiro lugar deve superar as abordagens positivistas que regem a arquitetura paisagística e suas disciplinas cognatas e os quadros científicos da disciplina devem ser definidos." 40)

38) Ibidém, p. 39.

39) Ibidém, p. 40.

40) Ibidém, p. 41.

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36) ALEHASHEMI, A., MANSOURI, S. "Landscape; a Shifting Concept; The Evolution of the Concept of Landscape from Renaissance". The Monthly Scientific Journal of Bagh­e Nazar, 2018. p. 36. Tradução:

César Silva. Disponível em: https://

www.researchgate.net/publication/

323345346_Landscape_a_Shifting_Concept_The_Evolution _of_the_Concept_of_Landscape_in_the_West_from_Renais sance Acedido em 07/2022

37) Ibidém, p. 37.

Dada a complexidade do conceito, a paisagem pode ser encarada como uma disciplina própria:

"A revisão histórica sobre a evolução do conceito de 'paisagem' ao longo de cinco séculos, revela que o século XXI trará a nova estrutura para a paisagem como disciplina científica." 41)

O conceito de paisagem foi inventado e é dinâmico. Também pode ser interpretado como base para um entendimento operativo do território:

"A Paisagem assume­se como uma construção cultural que faz a mediação entre o lugar e o sujeito (individual ou colectivo) mas também entre o lugar e o Projecto (proposta), para o qual é meio e instrumento." 42)

A paisagem é um substrato conceptual de todo o território em estudo. É multidisciplinar, envolve e cruza aspetos como a geologia, o recobrimento vegetal, o suporte físico, a morfologia, entre outros. No âmbito deste estudo, a paisagem é fundamental porque é o suporte das atividades praticadas ­ é o que as modela e é também ela modelada.

41) Ibidém, p. 43.

42) LABASTIDA, Marta – El Paisaje Próximo.

Fragmentos do Vale do Ave, 2013. p. 53 Tradução:

César Silva. Disponível em: https://hdl.handle.net/

1822/27185 Acedido em 07/2022

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Imagem 23 ­ Quinta da Malagueira em Évora da autoria de Álvaro Siza Vieira. Note­se as condutas elevadas.

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81 2.6 Infraestrutura.

A infraestrutura é relevante para este trabalho porque é o suporte da urbanização. Atua como meio de fixação no território e como fator de desenvolvimento socio­económico. Um exemplo é o projeto da Quinta da Malagueira onde a infraestrutura ganha relevância:

"O abastecimento de água, energia, telefones e televisão é feito a partir de condutas elevadas, as quais constituem cobertura de protecção das principais vias de peões." 43)

A infraestrutura ganha forma num elemento arquitetónico que unifica o projeto ( Imagem 23 ).

No contexto deste estudo e da relação com o caminho de ferro em meio urbano destaca­se o seguinte exemplo:

"A necessária funcionalidade aliada à procura do sucesso comercial do caminho de ferro, em Inglaterra, fizeram com que a construção do edifício de embarque para passageiros se tivesse convertido num dos programas arquitetónicos mais estimulantes para os arquitetos da época. O edifício da estação ferroviária passou a ser encarado como equipamento fundamental dentro da organização urbana e a sua fachada principal constituía, à partida, uma passagem para o mundo da velocidade e do progresso. Em sentido inverso, na chegada do comboio a estação era vista como a própria fachada principal da cidade, a primeira grande porta panorâmica sobre o coração da urbe." 44)

O edifício de embarque de passageiros assumiu assim uma grande relevância ­ ganhou um significado. Não só como infra­

estrutura, mas como edifício no meio urbano e como local de entrada e saída.

43) SIZA, Álvaro. 01 Textos. Parceria A.M. Pereira;

2019. p. 82.

44) ALVES, Rui Manuel Vaz ­ Arquitetura, cidade e caminho de ferro : as transformações urbanas planeadas sob a influência do caminho de ferro.

Coimbra : [s.n.], 2015, p. 31 Tese de doutoramento.

Disponível em: http://hdl.handle.net/10316/29052 Acedido em 07/2022.

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3. LABORATÓRIO DE

EXPERIMENTAÇÃO

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85 Este capítulo consiste na elaboração do exercício prático de projeto urbano e de arquitetura. Deste modo, é um laboratório de experimentação onde se procura uma estratégia de atuação. A estratégia dá lugar a um programa de atuação, que se reparte em unidades operativas ( UO's ). Este capítulo procura responder às questões e desafios levantadas empíricamente, fundamentando­se no suporte teórico desenvolvido. Deste modo, o capítulo procura dar continuidade à busca de novas metodologias de atuação, através da experimentação. A estrutura do capítulo é a seguinte:

► Estratégia;

► Programa de Atuação;

► Unidades Operativas.

Assim pretende­se encontrar respostas às questões e aos desafios, num meio prático de experimentação.

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3.1. Estratégia.

A estratégia de projeto é ­ como se evidenciou nos capítulos anteriores ­ uma aproximação aos casos de estudo. Esta ideia engloba os casos de estudo escolhidos prospetivamente

"Entre a Serra e o Mar". A estratégia procura compor um programa de atuação urbano útil para a comunidade, ao serviço do município e das pessoas, enquadrando e caracterizando os casos de estudo ­ tornando possível valorizar o património industrial e reativar a memória dos lugares.

"O projeto estratégico está na tentativa de ir além dos objetos projetados. A escala do projeto não está na dimensão da obra, mas nas relações que ela é capaz de romper. A escala, vamos repetir, é uma medida relativa, uma proporção entre as transformações que propomos para sua incidência na estrutura urbana geral, na compreensão mental de todo o espaço construído." 45)

Assim pretende­se produzir efeitos no território a várias escalas através de atuações urbanas, abordando a temática

"Património Industrial" como motivo de projeto e salientando a necessidade de encontrar uma proposta socialmente, económicamente e ambientalmente sustentável.

O Esquema 5 é uma análise SWOT onde se aponta os principais pontos estratégicos. Esta permite fazer uma análise cruzada ( Esquema 6 ).

45) SOLÀ­MORALES, Manuel de ­ De cosas urbanas.

Editorial Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2008. p. 76.

Tradução: César Silva.

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87 Pontos fortes

► Património arquitetónico e industrial construido.

► Memória física presente no espaço urbano.

► Lugares significantes.

► Boas acessibilidades viárias.

Pontos fracos

► Abandono e degradação de património arquitetónico.

► Abandono e degradação de edificado.

► Assimetrias no acesso e uso de novas tecnologias.

► Pouca atratividade.

► Dependência do automóvel privado.

► Pouca utilização de meios de deslocação menos poluentes, tais como o comboio, o autocarro, a bicicleta, ou a deslocação pedonal.

Oportunidades

► Sustentabilidade social, economica e ambiental.

► Melhor entendimento do território através da sua herança cultural e patrimonial.

► Turismo.

► Aumentar a atratividade e o conforto urbano.

Ameaças

► Desaparecimento de património construido / esquecimento.

► O uso dos solos, a poluição e delapidação de bacias hidrográficas.

► Alterações Climáticas

Esquema 5 ­ Análise SWOT.

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Pontos fortes x Oportunidades = estratégia ofensiva / desenvolvimento das vantagens competitivas do projeto.

► Consolidar o património arquitetónico e industrial construído, com a sustentabilidade ambiental, social e económica.

► Implementar uma política de turismo, que permita preservar a memória física / presente no espaço urbano.

► Definir claramente como lugares significantes, melhorando o entendimento do território através da sua herança cultural e patrimonial.

► Incentivar o aumento da atratividade e do conforto urbano, mantendo as boas acessibilidades viárias.

Pontos fortes x Ameaças = estratégia de confronto para modificação do ambiente a favor do projeto.

► Valorizar o património arquitetónico e industrial construído, evitando o desaparecimento e consequente esquecimento desse património.

► Optimizar os recursos disponíveis entre a serra e o mar, mantendo o foco no valor da memória física / presente no espaço urbano.

► Fomentar o uso de políticas ambientais adequadas à proteção dos solos, da poluição e da delapidação de bacias hidrográficas, mantendo com boas acessibilidades viárias este lugar significante.

Esquema 6 ­ Análise cruzada do esquema SWOT.

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89 Pontos fracos x Oportunidades = estratégia de reforço para poder aproveitar melhor as oportunidades.

► Incentivar um melhor entendimento do território através da sua herança cultural e patrimonial, evitando o abandono e degradação do património arquitetónico e a degradação do edificado.

► Reforçar a sustentabilidade ambiental, social e económica, evitando a dependência do automóvel privado optando por meios de deslocação menos poluentes.

► Investir no turismo aumentando a atratividade e o conforto urbano, incrementado e incentivando o uso de novas tecnologias nas assimetrias entre o passado, o presente e o fututro.

Pontos fracos x Ameaças = estratégia defensiva com possíveis modificações profundas para proteger o projeto.

► Garantir um sólido investimento na atratividade, para evitar o desaparecimento de património construído / esquecimento.

► Potenciar a a utilização de meios de deslocação menos poluentes, racionalizando o uso dos solos, diminuindo a poluição e delapidação de bacias hidrográficas.

► Reforçar o uso de novas tecnologias, atendendo à forma como as alterações climáticas vão influenciar o projeto.

Referências

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