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Sumário. Texto Integral. Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 03P239

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Supremo Tribunal de Justiça Processo nº 03P239

Relator: PEREIRA MADEIRA Sessão: 06 Fevereiro 2003 Número: SJ200302060002395

Votação: MAIORIA COM 1 VOT VENC Meio Processual: REC FIXAÇÃO JURIS.

Sumário

I - A decisão proferida contra jurisprudência fixada não pode ser objecto de recurso extraordinário enquanto não estiver esgotada a via ordinária de recursos.

II - Com efeito, a abertura da via extraordinária, como recurso de excepção, só pode ser aberta enquanto a questão não puder ser solucionada pela via

comum.

III - Aliás, não há lugar a decisão final definitiva, pressuposto da abertura da via extraordinária, enquanto houver possibilidade de recurso ordinário.

IV - Interposto recurso extraordinário, sem esgotamento daquela outra via, a situação configura um erro na espécie de recurso, a impor, por isso, a remessa do recurso interposto para o tribunal competente, nomeadamente se o

requerimento de interposição, não obstante, obedecer aos requisitos de interposição do recurso ordinário.

Texto Integral

Acordam no Supremo Tribunal de Justiça

1. Em 25/6/93, o MP deduziu acusação contra ZMCGA, devidamente

identificada, imputando-lhe a prática de um crime de emissão de cheque sem provisão por factos ocorridos em 24 de Março de 1990.

A arguida nunca foi localizada, tendo acabado por ser declarada contumaz, por despacho de 18/12/98.

Em 8/10/2002, o juiz do processo proferiu o seguinte despacho:

"Os factos são de 21.1.1994.

A arguida foi declarada contumaz a 18.12.1998 (fls. 99).

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A arguida está acusada da prática de um crime de emissão de cheque sem provisão p. e p. pelos artigos 23-º e 24.º, n.º 2, a), do Decreto-Lei n.º 13004, de 12.1.1927, e, posteriormente, pelo artigo 11.º, n.º 1, a), do DL 454/91, de

28.12.

O prazo de prescrição do procedimento criminal é de dez anos e não se verificaram quaisquer factos que interrompessem ou suspendessem a prescrição, nos termos dos artigos 119.º e 120.º, do CP/1982.

Com efeito, atenta a data dos factos, são aplicáveis os artigos 119 e 120 do Código Penal/1982. As causas de interrupção e de suspensão da prescrição do procedimento criminal previstas naqueles artigos reportavam-se ao Código de Processo Penal/1929 e não podem ser aplicadas analogicamente ao Código de Processo Penal/1987, como tem decidido o Tribunal Constitucional (vd.

Acórdãos do Tribunal Constitucional, n. 205/99, de 7.4.99 e n. 122/00, de 23.2.00, in respectivamente DR, II Série, de 5.11.1999 e de 6.6.2000).

Decorre, pois, desta jurisprudência constitucional a manifesta

inconstitucionalidade, por violação do artigo 29, n. 1 e 3 da Constituição, do acórdão do Pleno das secções criminais do STJ, n. 5/2001, de 1.3.2001 (in DR, I Série, de 15.3.2001), que consubstancia uma aplicação analógica a processos instaurados já nos termos do Código de Processo Penal/1987 de uma causa de suspensão e de interrupção prevista no Código Penal/1982 para processos instaurados nos termos do Código de Processo Penal/1929 (notificação do despacho de recebimento da acusação proferido em processo correccional). A equiparação do despacho que receba a acusação e designa dia para

julgamento previsto hoje no artigo 311.º do CPP ao despacho "equivalente ao de pronúncia" mencionado no artigo 119.º, n.º 1, al. a), e 120.º, n.º 1, c), do CPP/1982 redunda, pois, em uma adaptação a posteriori do regime das causas de suspensão e interrupção da prescrição do procedimento criminal do

CP/1982 vigente à data dos factos em manifesto prejuízo do arguido e, por isso, consubstancia uma violação clara da proibição constitucional de

aplicação analógica e retroactiva da lei criminal em sentido desfavorável ao arguido.

De igual modo, a declaração de contumácia de 18.12.1998 não teve e não poderia ter eficácia suspensiva, nem interruptiva do prazo de prescrição do procedimento criminal.

Decorre da jurisprudência constitucional a manifesta inconstitucionalidade, por violação do artigo 29.º, n.ºs 1 e 3, da CRP, do assento n.º 10/2000, de 19/10/2000, que consubstancia uma aplicação analógica e retroactiva a factos anteriores a 1/10/1995 de uma causa de suspensão inexistente no CP/1992 (a declaração de contumácia). O STJ operou deste modo, como se diz no voto de vencido ao assento, um "ajustamento substantivo do Código Penal de 1982,

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por interpretação "actualista" às novidades adjectivas do Código de Processo Penal de 1987", que está votado à censura constitucional em face da

jurisprudência firme e uniforme do Tribunal Constitucional a este propósito.

Igualmente censurável é a consideração da declaração de contumácia como causa de interrupção de interrupção da prescrição do procedimento criminal, equiparada à causa prevista no artigo 120.º, n.º 1, al. d), do CP/1982, como já se defendeu na jurisprudência (in CJ, 1995, volume I, p. 149).

Pelo exposto, não aplico, por o julgar inconstitucional, o artigo 311.º do CPP/1987, conjugado com os artigos 119.º, n.º 1, al. b) e 120, n.º 1, al. c), do CP/1982, na interpretação dada pelo STJ no acórdão de fixação de

jurisprudência n.º 5/2001, e os artigos 335 e 337 do CPP/1987, conjugados com o artigo 119, n.º 1, do CP/82, na interpretação dada pelo STJ no assento n.º 10/2000, e ainda o artigo 120.º, n.º 1, al. d), do CP/1982, na interpretação segundo a qual a declaração de contumácia pode ser equiparada à causa aí prevista, e, em consequência, declaro prescrito o procedimento criminal e cessada a contumácia e ordeno o oportuno arquivamento dos autos.

Notifique e, após o trânsito, dê publicidade legal (art.º 337.º, n.º 6, do CPP).

Atento o tempo decorrido, declaro os presentes autos urgentes (artigo 103.º, n.º 2, b), do CPP)."

Notificado a 10/10/02, de tal despacho, o MP interpôs, em 28/10/02, recurso para o Supremo Tribunal de Justiça, "ao abrigo do disposto nos artigos 104.º, n.º 1, 411.º, n.º 1, e 446.º do Código de Processo Penal, com referência ao artigo 145.º, n.º 5, do CPC", delimitando com este leque conclusivo o âmbito do seu inconformismo:

A. Por factos ocorridos em 24 de Março de 1990 foi à arguida imputada a prática de crime de emissão de cheque sem provisão, cujo prazo de prescrição até é actualmente de 5 anos;

B. A arguida foi pessoalmente notificada do despacho que designa dia para julgamento no dia 22 de Abril de 1994;

C. No caso em apreço houve suspensão e interrupção da prescrição do

procedimento criminal, nos termos do disposto nos arts. 119.°, n.º 1, als. a) e b) , e 120°, n.º 1, al. c) , ambos do Código Penal de 1982, por força do

preceituado pelo Assento do Supremo Tribunal de Justiça n.º 10/2000, de 19 de Outubro de 2000, e pelo Acórdão do Plenário das secções Criminais do Supremo Tribunal de Justiça n.º 5/2001, de 1 de Março de 2001, publicado no DR I-A, de 15 de Março de 2001, Assento e Acórdão estes que não estão

feridos de qualquer inconstitucionalidade;

D. Pelo que deverá ser:

- Revogado o douto despacho constante de fls. 130 a 132;

- E determinado que seja proferida decisão em conformidade com a

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jurisprudência fixada no Assento do Supremo Tribunal de Justiça n.º 10/2000, de 19 de Outubro de 2000, e no Acórdão do Pleno das Secções Criminais do Supremo Tribunal de Justiça n.º 5/2001, de 1 de Março de 2001, publicado no DR I-A, de 15 de Março de 2001.

Contudo, V.Exas. farão, como sempre, Justiça!

O Mmo. Juiz, depois de tecer algumas considerações sobre a admissibilidade do recurso, acabou por admiti-lo para o Supremo Tribunal de Justiça, tal como lhe fora requerido.

E sustentou a decisão recorrida.

Subidos os autos, manifestou-se a Exma. Procuradora-Geral Adjunta

sustentando que o conhecimento do recurso é da competência da Relação e, não, do Supremo Tribunal de Justiça.

2. Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

Independentemente de questão de fundo - para cuja defesa, ao que parece, o Mmo. Juiz não pode contar com o apoio incondicional do próprio Tribunal Constitucional, tal como se vê, nomeadamente, no acórdão daquele Tribunal, n.º 449/02, in DR II Série de 12/12/02, tirado para situação paralela (efeito interruptivo da declaração de contumácia em conformidade com a

interpretação emergente Acórdão de Fixação de Jurisprudência n.º 10/2000) tem o Supremo Tribunal de Justiça como ajustada a posição expressa pela Exma. Procuradora-Geral Adjunta acabada de condensar.

Já não é a primeira vez, aliás, que tal questão é colocada ao Supremo Tribunal de Justiça, como pode ver-se, nomeadamente, dos Acórdãos, com o mesmo relator, proferidos, respectivamente, em 6/6/02, no recurso extraordinário n.º 1774/02-5, e, em 19/12/02, no recurso extraordinário n.º 4400/02-5 (este oriundo do mesmo tribunal recorrido), cujos fundamentos não há razão para abandonar e, por isso, se vão reeditar.

Os recursos extraordinários, por definição, têm o seu campo de aplicação condicionado pela inexistência de solução, pela via dos meios comuns ou ordinários, para determinada questão de direito.

Enquanto houver possibilidade de a resolver por essa via comum ou ordinária não é legítimo lançar mão de um expediente processual concebido como remédio de excepção para situações que o normal funcionamento do sistema processual deixa passar nas suas malhas, por mais apertadas que elas se apresentem.

Em regra, não é possível nem necessário lançar mão de tal expediente

excepcional e o caso julgado que sobrevém à decisão apaga ou faz esquecer eventuais vícios de processamento ou mesmo alguns relativos ao mérito do decidido.

Pressuposto para abertura desta instância de excepção, é, assim, a

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impossibilidade definitiva de o procedimento comum dar resposta à questão em causa, por outras palavras, o trânsito em julgado ou a mera

insusceptibilidade de recurso ordinário da decisão que se pensa inquinada.

"Transitada em julgado uma decisão, atingida assim a sua imutabilidade relativa, sanaram-se - com o trânsito em julgado - os vícios processuais que porventura nela existissem. A decisão julgou mal, a decisão tinha nulidades?

Pois bem, face à ordem jurídica, dado o trânsito em julgado, tudo se passa como se os vícios não existissem; sanaram-se. Há, porém, certos casos em que o vício assume uma gravidade tal que faz com que a lei entenda que o trânsito em julgado não possa importar sanação do vício. E então a lei admite

excepcionalmente a impugnação depois do trânsito em julgado. É para esses casos excepcionais que existem os recursos extraordinários: o recurso para fixação de jurisprudência e o de revisão"(1-2).

A exigência de caso julgado ou, em certa perspectiva, o esgotamento da via ordinária de recurso, como pressuposto de qualquer recurso extraordinário logrou assento expresso e positivado na lei do processo, como se colhe, nomeadamente, do estatuído nos artigos dos artigos 437.º (fixação de

jurisprudência propriamente dito), 446.º, n.º 2 (recurso de decisão proferida contra jurisprudência fixada pelo Supremo Tribunal de Justiça, como se viu, uma modalidade do antecedente) e 449.º, n.º 1 (recurso de revisão), todos do Código de Processo Penal.

No caso, como decorre do exposto, a decisão recorrida não havia ainda sido objecto de trânsito em julgado, e era, aliás, ainda passível de recurso ordinário para a Relação, nos termos gerais - art.ºs 399.º, 427.º, 432.º e 434.º, do

Código de Processo Penal.

Portanto, a via de impugnação que se impunha era, não a do recurso extraordinário, e sim a do recurso ordinário - art.ºs citados - incorrendo o recorrente em erro na espécie do recurso a resolver nos termos específicos previstos nas disposições conjugadas nos artigos 414.º, n.º 3, 417.º, n.ºs 3 a), e 4 a) (3), do Código de Processo Penal.

Neste sentido não será de inteiro cabimento argumentar com o

precedentemente decidido em outros arestos deste Supremo Tribunal, nomeadamente no Acórdão de 26/9/96 (4), e também com a doutrina a

propósito do Prof. Germano Marques da Silva (5), mas cujo sentido decisório, não obstante, é aqui retomado, uma vez que, ressalvado sempre o devido respeito, as considerações ali tecidas o são ainda no pressuposto de se tratar de tramitação de um recurso extraordinário, quando o certo é que, como se viu, enquanto a decisão do juiz de primeira instância for passível de recurso ordinário, está fora de alcance o expediente excepcional de que o recorrente pretendeu lançar mão.

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Isto é, no caso e noutros semelhantes, a possibilidade legal de abertura da instância excepcional do recurso extraordinário está dependente do que a Relação, ainda em via ordinária, vier a decidir com trânsito em julgado, ou, pelo menos(6), sem possibilidade de recurso ordinário.

O que é intuitivo.

Com efeito, se não é um dado adquirido que a decisão recorrida se transforme em definitiva na hipótese de ser revogada pela Relação, não faria qualquer sentido pretender-se - e muito menos decidir-se - que foi proferida contra

"jurisprudência fixada".

Se o tiver sido, a alegada "violação jurisprudencial" não terá passado de uma decisão intercalar efémera que a decisão definitiva, ainda em recurso

ordinário, substituindo-se-lhe, fará desaparecer... ou não... E só neste último caso fará sentido a abertura da falada via de excepção.

O mesmo é dizer que a "violação jurisprudencial" relevante como pressuposto do recurso extraordinário de que nos ocupamos pressupõe a intangibilidade do decidido, pela via comum, o que não é o caso.

Sendo assim, e porque o requerimento de interposição obedece grosso modo aos requisitos formais de interposição de recurso ordinário, é pela via

ordinária que deverá seguir.

3. Termos em que, pelo exposto, sendo caso de recurso ordinário cujo conhecimento é de competência da Relação de Lisboa, deliberam não

conhecer do presente recurso e ordenam a remessa dos autos àquele tribunal superior para os devidos efeitos.

Sem tributação.

Supremo Tribunal de Justiça, 6 de Fevereiro de 2003 Pereira Madeira

Simas Santos

Abranches Martins (Vencido, pois sempre tenho entendido que o recurso de decisão contra jurisprudência fixada pelo STJ, é um recurso extraordinário.

Logo, como é traço comum dos recursos desta natureza, tal recurso só pode ser interposto de decisão transitada em julgado, sendo o respectivo prazo de 30 dias, a contar do trânsito em julgado da decisão recorrida, nos termos do artigo 438º, n.º 1 do CPP, aplicável, com as devidas adaptações, "ex vi" do artigo 446º, n.º 2 do mesmo Código, que é a 1.ª norma subsidiária a

considerar nesta matéria (a 2.ª será o artigo 48º). E, tratando-se de um recurso extraordinário, a competência para o seu conhecimento cabe

exclusivamente ao STJ, por força dos termos claros do n.º 3 do artigo 446º do CPP, não podendo tal recurso passar a ser considerado como recurso ordinário só pelo facto de ter sido interposto no prazo desse recurso. Assim, como, "in

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casu", o recurso foi interposto no prazo do recurso ordinário, há que concluir que o foi antes do tempo legalmente estabelecido, pelo que rejeitá-lo-ia, por ser intempestivo e, portanto, inadmissível - artigo 441º, n.º 1 e 446º, n.º 2 do CPP).

______________________

(1) Cf. Germano Marques da Silva, Curso de Processo Penal III, 2.ª edição Verbo, 2000, págs. 373

(2) De notar que o recurso de decisões contra jurisprudência fixada constitui uma modalidade de recurso para fixação de jurisprudência. (Neste sentido, cf.

o autor citado, ibidem, págs. 380).

(3) Não havendo pois que observar a disciplina do Código de Processo Civil prevista para situação paralela, nomeadamente, o disposto no artigo 702.º do respectivo Código, não só por inexistência no Código de Processo Penal de qualquer lacuna de regulamentação, como por razões específicas de

celeridade se sobreporem aqui à disciplina mais minuciosa e temporalmente mais arrastada prevista na lei adjectiva civil.

(4) Publicado na Colectânea de Jurisprudência - Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça - IV, T3, págs. 146

(5) Ob. cit., págs. 380, nota 3

(6) Nesta limitação se inclui a possibilidade de acolhimento da tese segundo a qual a interposição do específico recurso extraordinário de que nos ocupamos - "recurso extraordinário contra jurisprudência fixada" - não depende do

trânsito em julgado. (Neste entendimento, por exemplo, Simas Santos e Leal- Henriques, Código de Processo Penal Anotado, II volume, 2.ª edição, págs.

1037).

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