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Parecer. Fundada em 1940, a ABNT vem, desde então, sendo o berço da normalização no Brasil.

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Academic year: 2022

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Consulta-me a ABD – Associação Brasileira dos Designers de Interiores acerca da NBR 16280, de 2014, recentemente publicada à guisa de normatizar a gestão de reformas em edificações em todas as suas fases, em especial quanto aos seus efeitos relativamente ao exercício profissional do(a)s Designers de Interiores.

Parecer

Inicialmente, cabe esclarecer que a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) é uma associação privada, sem fins lucrativos, reconhecido como sendo de utilidade pública 1, cuja missão, segundo consta da sua “home page”, é

Prover a sociedade brasileira de conhecimento sistematizado, por meio de documentos normativos, que permita a produção, a comercialização e uso de bens e serviços de forma competitiva e sustentável nos mercados interno e externo, contribuindo para o desenvolvimento científico e tecnológico, proteção do meio ambiente e defesa do consumidor.

Fundada em 1940, a ABNT vem, desde então, sendo o berço da normalização no Brasil.

As duas primeiras das normas aprovadas pela ABNT foram a NB-1, referente a Cálculo e Execução de Obras de Concreto, e a MB-1, relativa ao Cimento Portland – Determinação da Resistência à Compressão, que, na prática, já vinham sendo considerados pelos engenheiros desde os anos 30.

Os Estatutos da ABNT 2, é bom que se diga, possibilidade a associação sem maiores exigências e as pessoas associadas, jurídicas ou físicas, têm acesso ao debate das normas e até mesmo ao “sistema de elaboração e votação das normas técnicas” (art. 4º, alínea G).

A ABNT integra o Sistema Nacional de Metrologia, encabeçado pelo CONMETRO e seus Comitês Técnicos, assim como pelo INMETRO.

~Fazem parte, ainda, os Organismos de Certificação Acreditados

1 Lei Federal 4150, de 1962

2 http://www.abnt.org.br/IMAGENS/Estatuto.pdf

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(Sistemas da Qualidade, Sistemas de Gestão Ambiental, Produtos e Pessoal), Organismos de Inspeção Acreditados, Organismos de Treinamento Acreditados, Organismo Provedor de Ensaio de Proficiência Credenciado, Laboratórios Acreditados – Calibrações e Ensaios – RBC/RBLE, Institutos Estaduais de Pesos e Medidas e as •Redes Metrológicas Estaduais.

Mas, em princípio, é de ser reiterado que a ABNT é uma entidade privada.

No desenvolvimento da sociedade brasileira, a ABNT mostrou-se muito importante na definição de normas técnicas nos mais variados setores.

Aliás, por força do inciso VIII do art. 39 do Código de Defesa do Consumidor, as normas da ABNT passaram a ter uma importância ainda maior, “ in verbis”:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:

...

VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro);

Como é raro os órgãos oficiais competentes (CONMETRO / INMETRO) expedirem normas técnicas, apesar de isto ser o correto, o CDC inovou ao obrigar os fornecedores, tanto de produtos quanto de serviços, a observarem as normas da ABNT, sob pena de ser caracterizada como pratica abusiva do fornecedor contra o consumidor a disponibilidade no mercado do produto ou serviço desconforme.:

O art. 5º da Constituição Federal, que estabelece os direitos fundamentais de todos os brasileiros (o que inclui fornecedores e consumidores), estabelece que

II. ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

Em inequívoco reforço ao princípio da estrita legalidade, o Constituinte, no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, estabeleceu:

Art. 25. Ficam revogados, a partir de cento e oitenta dias da promulgação da Constituição, sujeito este prazo a

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prorrogação por lei, todos os dispositivos legais que atribuam ou deleguem a órgão do Poder Executivo competência assinalada pela Constituição ao Congresso Nacional, especialmente no que tange a:

I. ação normativa;

É evidente que o CDC é lei posterior à Constituição Federal e por isso mesmo há de ser questionado se o seu inciso VIII do art. 39 não estaria afrontando o princípio da estrita legalidade, em especial à conta do “status”

deste princípio.

Entendo que à LEI (“stricto sensu”) cabe estabelecer os tipos, ainda que

“abertos”.

Um exemplo claro disto é encontrado na Lei Federal 9605, de 1998. Veja- se o art. 70:

Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.

O ideal seria a LEI definindo o “tipo fechado” tal como consta do Código Penal. Veja-se o seu art. 121:

Matar alguém.

É que, neste caso, o dispositivo legal especifica, com clareza, a infração.

A sua leitura deixa claro que o sujeito ativo deve ser um ser humano e que o sujeito passivo (vítima), além de ser humano, deve estar vivo no momento do homicídio. Daí se dizer, por exemplo, ser crime impossível matar um cadáver.

O “tipo aberto” permite interpretações e, por isso, normalmente, deve ser interpretado à luz de um ato regulamentar (Decreto, por exemplo), que não é lei – mas tem autorização constitucional para exercer este atributo.

O fato é que a ABNT, sendo uma entidade privada, não tem competência para legislar, nem no sentido estrito (LEI), nem no sentido mais amplo, o da simples norma regulamentar.

Qual é a natureza jurídica, portanto, de uma norma editada pela ABNT?

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Segundo o engenheiro Eugenio Guilherme Tolstoy De Simone, diretor técnico da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), as normas editadas pela ABNT seriam “de observância obrigatória, pois isso se encaixa no ordenamento jurídico brasileiro”.

Com a devida vênia, discordo, dada a clareza do inciso II do art. 5º da Carta Magna. E é de se dizer que o princípio da legalidade, por ser “direito fundamental”, não comporta interpretações amplas.

Ainda que se argumente com o art. 39, inciso VIII, do CDC, não há como se afastar o princípio da estrita legalidade. Admitir-se o contrário exigiria concluir-se que a inércia do Estado em normatizar possibilita o desrespeito a um princípio constitucional com “status” de direito fundamental.

Desta forma, entendo que as normas técnicas aprovadas pela ABNT não têm, “de per si”, força de obrigar as pessoas, quaisquer que sejam.

No caso em pauta, parece-me que a própria ABNT busco estabelecer um sistema modelo de gerenciamento de reformas de edificações, tal como já existia quanto a manutenções (NBR 5674, de 2012). Nada mais do que isso.

Teoricamente, os Municípios, que têm o dever geral de polícia nas obras de construção civil, até podem incorporar tais NBRs no seu corpo legislativo, como anexos, por exemplo, aos seus Códigos de Obras.

Mas, afora isso, elas servem apenas e tão somente como um parâmetro técnico.

Por isso mesmo não há quem fiscalize o cumprimento e não há previsão de pena pelo descumprimento.

Vale lembrar, a este passo, o princípio de que o princípio da estrita legalidade tanto se impõe na fixação do “tipo” quanto na definição da

“pena” a que o descumpridor do tipo infracional está sujeito.

A leitura da NBR em pauta deixa claro que em nenhum momento ela considera infração a sua inobservância e nem prevê pena. E nem poderia ser diferente, vez que, sendo uma entidade privada, ela só pode obrigar aos seus próprios membros.

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A NBR, na verdade, é um mero dicionário e roteiro de ações que, em tese, tornariam mais seguras as obras de reforma em edificações.

Contudo, se o objetivo é garantir segurança nas reformas em edificações, parece-me ser elementar que a premissa técnica é a observância do projeto estrutural, principalmente dos cálculos que o instruem.

O objetivo do projeto estrutural é permitir que a estrutura atenda à sua função primária sem entrar em colapso e sem deformar ou vibrar excessivamente. Dentro destes limites, os quais são precisamente definidos pelas normas técnicas, o engenheiro estrutural almeja o melhor uso dos materiais disponíveis e o menor custo possível de construção e manutenção da estrutura.

Neste projeto, cuida-se dos elementos estruturais (barra, veia de transmissão e viga, combinados entre si), cargas e esforços, dimensionando-os e detalhando-os.

Sem este documento original, todo o sistema proposto pela ABNT fica prejudicado na sua essência, pois as tais empresas especializadas não terão em mãos a base para o seu trabalho.

A realidade brasileira indica que, variando de Município a Município, a grande maioria das edificações não têm o projeto estrutural depositado na Administração Municipal e nem mesmo no próprio gestor da edificação. E nem se pense em buscar junto à construtoras e incorporadoras: ou elas não existem mais ou os arquivos são totalmente desarrumados.

Isto não é uma regra absoluta, pois há exceções.

Mas, lamentavelmente, é um quadro sombrio que se vê por aí.

Algumas Administrações Municipais, atentas a este “drama”, incentivaram a regularização documental das edificações e este pode vir a ser um bom caminho.

Além disso, ainda há a questão da qualidade dos projetos estruturais, dos parâmetros ali considerados. E, depois, ainda há que se considerar a qualidade dos materiais usados nas construções.

Ou seja, a NBR 16280, de 2014, só faz sentido numa realidade em que os projetos estruturais originais estão disponíveis para consulta, estes tenham

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sido elaborados com qualidade e exista um registro confiável dos materiais usados, em especial nos elementos estruturais.

Ocorre que isto se mostra surreal em demasia ante a realidade brasileira.

Pelo exposto, sou da opinião de que a NBR 16280, de 2014, não tem força para gerar obrigações a quem quer que seja.

Vitória (ES), 27 de março de 2014.

Jonatan Schmidt

ADVOGADO – OAB/ES 330-B

Referências

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