www.jped.com.br
ARTIGO
ORIGINAL
Neonatal
screening:
9%
of
children
with
filter
paper
thyroid-stimulating
hormone
levels
between
5
and
10
IU/mL
have
congenital
hypothyroidism
夽
Flávia
C.
Christensen-Adad
∗,
Carolina
T.
Mendes-dos-Santos,
Maura
M.F.
Goto,
Letícia
E.
Sewaybricker,
Lília
F.R.
D’Souza-Li,
Gil
Guerra-Junior,
André
M.
Morcillo
e
Sofia
Helena
V.
Lemos-Marini
UniversidadeEstadualdeCampinas(Unicamp),FaculdadedeCiênciasMédicas,DepartamentodePediatria,Campinas,SP,Brasil
Recebidoem10deoutubrode2016;aceitoem10dejaneirode2017
KEYWORDS Congenital hypothyroidism; Neonatalscreening; Infant;
Newborn; Thyroiddiseases
Abstract
Objectives: Todeterminetheprevalenceofcongenitalhypothyroidisminchildrenwithfilter paperTSHlevels(f-TSH)between5and10UI/mLintheneonatalscreening.
Methods: Thiswasaretrospectivestudyincludingchildrenscreenedfrom2003to2010,with f-TSHbetween5and10IU/mL,whowerefollowed-upduringthefirsttwoyearsoflifewhen therewasnoserumTSHnormalization.Thediagnosisofcongenitalhypothyroidismwasdefined asserumTSH≥10IU/mLandstartoflevothyroxinetreatmentupto2yearsofage.
Results: Ofthe380,741livebirths,3,713(1.04%)hadf-TSHbetween5and10IU/mLand,of these,339(9.13%)hadcongenitalhypothyroidism.Ofthese,76.11%ofthecaseswerediagnosed inthefirstthreemonthsoflifeand7.96%between1and2yearsofage.
Conclusion: Thestudyshowedthat9.13%ofthechildrenwithf-TSHbetween5and10IU/mL developedhypothyroidismandthatinapproximatelyone-quarterofthem,thediagnosiswas confirmedonlyafterthethirdmonthoflife.Basedonthesefindings,theauthorssuggestthe useofa5IU/mLcutoffforf-TSHandlong-termfollow-upofinfantswhoseserumTSHhasnot normalizedtoruleoutcongenitalhypothyroidism.
©2017SociedadeBrasileiradePediatria.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Thisisanopen accessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/
4.0/).
DOIserefereaoartigo:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2017.05.003
夽 Comocitaresteartigo:Christensen-AdadFC,Mendes-dos-SantosCT,GotoMM,SewaybrickerLE,D’Souza-LiLF,Guerra-JuniorG,etal. Neonatalscreening:9%ofchildrenwithfilterpaperthyroid-stimulatinghormonelevelsbetween5and10IU/mLhavecongenital
hypothy-roidism.JPediatr(RioJ).2017;93:649---54. ∗Autorparacorrespondência.
E-mail:flachristensen@hotmail.com(F.C.Christensen-Adad).
PALAVRAS-CHAVE Hipotireoidismo congênito; Triagemneonatal; Lactente;
Recém-nascido; Doenc¸asdaglândula tireoide
Triagemneonatal:9%dascrianc¸ascomTSHempapelfiltroentre5e10UI/mLtêm
hipotireoidismocongênito
Resumo
Objetivos: Determinar aprevalênciadehipotireoidismocongênitoemcrianc¸ascomTSHem papelfiltro(TSH-f)entre5e10UI/mLnatriagemneonatal.
Métodos: Estudoretrospectivoqueincluiucrianc¸astriadasde2003a2010,comTSH-fentre5 e10UI/mL,acompanhadasnosdoisprimeirosanosdevidaquandonãohouvenormalizac¸ão doTSHsérico.OdiagnósticodehipotireoidismocongênitofoidefinidocomoTSHséricoigual ousuperiora10UI/mLeiníciodetratamentocomlevotiroxinaatéosdoisanos.
Resultados: Dos380.741nascidosvivostriados,3.713(1,04%)apresentaram TSH-fentre5e 10UI/mLe,desses,339(9,13%)tinhamhipotireoidismocongênito.Desses,76,11%doscasos foramdiagnosticadosnosprimeirostrêsmesesdevidae7,96%entreumedoisanos.
Conclusão: Oestudomostraque9,13%dascrianc¸ascomTSH-fentre5e10UI/mL desenvol-veramhipotireoidismoequeemcercadeumquartodelasodiagnósticosóseconfirmouapós oterceiromêsdevida.Combasenessesachados,sugere-se,paradescartarohipotireoidismo congênito,ousodopontodecortedeTSH-fde5UI/mLeoacompanhamentoemlongoprazo doslactentescujoTSHsériconãotenhasenormalizado.
©2017SociedadeBrasileiradePediatria.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Este ´eumartigo OpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.
0/).
Introduc
¸ão
Ohipotireoidismocongênito(HC),porserodistúrbio endó-crinocongênitomaisfrequenteeumadasprincipaiscausas dedeficiênciaintelectualevitávelcomdiagnósticoprecoce etratamentoadequado,foiumadasprimeirasdoenc¸as ras-treadasnosprogramasdetriagemneonatal(TNN).1---4
A incidência do HC, antes da criac¸ão dos programas deTNN, eraestimada em 1:6.500,5 mas,logo após o iní-ciodatriagem,aumentou para1:3.000 a1:4.000nascidos vivos(NV).6Nosúltimosanos,relata-seumanovaelevac¸ão daincidência do HC em diversas partes do mundo, varia de1:1.030a1:2.679 NV.7---10 Esse fatoprovavelmenteestá associadoaoaumentodasobrevidaderecém-nascidos(RN) prematuros,4,7afatoresambientais11eétnicos7e,também, àreduc¸ãodosvaloresdecortedohormôniotireoestimulante (TSH)nopapelfiltro(TSH-f)nosprogramasdeTNN.4,12
Inicialmente, se adotavam valores de corte de TSH-f maisaltos paraevitar reconvocac¸ões e custos excessivos, com a justificativa de que as formas leves de HC não teriamconsequênciasparaodesenvolvimentoneurológico.4 Entretanto,algunsautoressugeremquenãoháestudos sufi-cientesquecomprovemessahipótese4eoConsensoEuropeu deHipotireoidismoCongênitode2014destaca,como obje-tivoprimordialdaTNN,adetecc¸ãodetodososcasosdeHC primário.1
Nosúltimosanos,váriosservic¸osdetriagemoptarampor baixarovalordecortedoTSH-fcomointuitodereduziro númerodecasosdehipotireoidismonãodiagnosticado.4,13---17 Comessareduc¸ão,váriosprogramasrelataramaumento do número de crianc¸as com HC diagnosticadas pela TNN4,13---17emboratenhahavidotambémelevac¸ãodonúmero decrianc¸ascomsuspeitadeHCe,portanto,maiortaxade reconvocac¸ão.4,15,16,18
A TriagemNeonatal da UniversidadeEstadual de Cam-pinas (Unicamp) usa, desde 2001, o ponto de corte de
5UI/mLparaoTSH-fefazacompanhamentoclínicoe labo-ratorialdurantepelomenososprimeirosdoisanosdevida detodasascrianc¸ascujoTSHsériconãosenormaliza.
Diantedessecontexto,oobjetivodopresenteestudofoi determinaraprevalênciadeHCemcrianc¸ascomTSH-fentre 5e10UI/mLnaTNN.
Métodos
Estratégiadetriagemneonatalpara
hipotireoidismocongênito
OServic¸odeReferênciaemTriagemNeonatal(SRTN)da Uni-campatualmenteéresponsávelpelatriagemneonatal,pelo diagnósticoecuidadointegraldascrianc¸asdos Departamen-tos Regionais deSaúdeVII (Campinas)e XIV (São Joãoda BoaVista),regiõescomaproximadamente5.000 nascimen-tospormês.
Desdesuacriac¸ão, oSRTN daUnicamp contacomuma mesma equipe no atendimento e acompanhamento dos casos, as investigac¸ões laboratoriais e de imagem sem-pre são feitas em servic¸os do complexo hospitalar da Unicamp.
O SRTN da Unicamp usa o valor de corte de TSH-f de 5UI/mLemamostradesanguetotalsecoempapelfiltro, equivalentea 11UI/mL em soro,e asanálises sãofeitas por fluorimetriaportemporesolvido (AutoDELFIA-Perkin ElmerLifeSciences,MA,EUA).
clínica e laboratorialmente no SRTN da Unicamp nos primeiros dois anos de vida ou até a normalizac¸ão do exame.
Aquelas que apresentam TSH sérico maior ou igual a 10UI/mL são encaminhadas para acompanhamento no AmbulatóriodeTriagemNeonataldeHipotireoidismo Congê-nitodoHospitaldeClínicasdaUnicamp,ondesãoavaliadas individualmente, e aquelas que mantêm TSH acima de 10UI/mLouapresentamT4Linferiora0,9ng/dLrecebem odiagnósticodeHCeiniciamtratamentocomlevotiroxina sódica(L-T4).
As coletasde TSH e T4L em soro sãofeitas de acordo comasnormastécnicasdoLaboratóriodePatologiaClínica da Unicamp, as análises são feitas por eletroquimiolumi-nescência, com valores de referência de TSH e T4L de, respectivamente,0,41a4,5UI/mLe0,9a1,8ng/dL.
Desenhodoestudo
Fez-se umestudoretrospectivo comavaliac¸ãodabase de dados doSRTN-Unicamp paraobtenc¸ão do númerode NV triadosdeabrilde2003asetembrode2009.Foram selecio-nadasascrianc¸ascomTSH-fentre5e10UI/mLemamostra coletadanoprimeiromêsdevida.
Considerou-se HC primário quando, em qualquer momento nos primeiros dois anos de vida, a crianc¸a apresentouTSHséricomaiorouiguala10UI/mL, indepen-dentementedaconcentrac¸ãodeT4L,erecebeutratamento comL-T4.
Obtiveram-sedosprontuáriosdascrianc¸ascomHCe TSH--fentre5e 10UI/mL asseguintes informac¸ões:valor de TSH-f;idadenacoletadaTNN;sexo;TSHeT4Linicial, con-firmatório e de iníciode tratamento e idade noinício do tratamento.
Paraoestudo,foramconsideradasasseguintesdefinic¸ões de valoresde TSH e deT4L séricos: exameinicial(o pri-meiroexamecoletadoapósoTSH-f);exameconfirmatório (o primeiroexame cujoTSH séricofoiigual ousuperior a 10UI/mLquecadacrianc¸aapresentou)eexamedeinício detratamento(oúltimoexamecoletadoantesdaintroduc¸ão damedicac¸ão).
Análiseestatística
OsdadosforamprocessadoscomoprogramaSPSS(SPSSInc., versão16.0,Chicago,IL,EUA).Osresultadosdasvariáveis qualitativassãoapresentadoscomofrequênciasabsolutae relativa.
Para as dosagens de TSH e T4L determinaram-se os valores da mediana, mínimo, máximo, range (amplitude total) e amplitude interquartil (AIQ). Na avaliac¸ão das concentrac¸õesdeTSHoptou-sepelousodasmedianaspara evitar os problemas do limite superior (>100UI/mL) de algunsresultados.
Os resultadosdas variáveis quantitativassão expressos comomédia±desvio-padrãooumediana(amplitude inter-quartil).
Determinou-seaprevalênciadeHCapartirdosdadosdo grupodeestudocomorespectivointervalodeconfianc¸a(IC) de95%.Paracomparac¸ãoemrelac¸ãoaosexousou-seoteste
Triados (n = 380.741)
Triagem Positiva TSH em papel filtro > 5 µUI/mL
(n = 3.961)
TSH em papel filtro > 5 e < 10 µUI/mL (n = 3.713)
Hipotireoidismo Congênito (n = 339) Triagem após 30 dias
(n = 5)
TSH em papel filtro≥10 µUI/mL (n = 248)
Figura1 Fluxogramadatriagemparahipotireoidismo congê-nitodeabrilde2003asetembrode2009.
deMann-Whitney.Emtodasasanálisesconsiderou-secomo significativoquandop<0,05.
Aspectoséticos
EsteprojetofoiaprovadopeloComitêdeÉticaemPesquisa daFaculdadedeCiênciasMédicasdaUnicamp.
Resultados
Deabrilde2003asetembrode2009,380.741NVforam tria-dosparaHCpeloSRTNdaUnicamp.Foramdetectados3.961 neonatos convocados para complementar a investigac¸ão, resultouumafrequênciadereconvocac¸ãode1,04%[IC95%: 1,01-1,07]. Desses, 248 (6,26%) apresentaram TSH-f igual ou superior a 10UI/mL e 3.713 (93,74%) apresentaram TSH-fentre 5 e 10UI/mL (fig. 1).Com o valor decorte de10UI/mL,ataxadereconvocac¸ãoteriasidode0,07% [IC95%:0,06-0,08].
Após acompanhamento clínico e laboratorial das 3.713 crianc¸as com TSH-f entre 5 e 10UI/mL, 339 [206 dosexo masculino, 133 do feminino] tiveram diagnóstico deHCe iniciaram a reposic¸ão hormonalcom L-T4,o que correspondeaumaprevalênciadeHCnessegrupode9,13% [IC95%8,2-10,1](fig.1).
AmédiaeamedianadeidadenacoletadoTSH-fforam, respectivamente,5 ±4 diasdevidae3(4) diasdevidae dacoletadoexameséricoinicialforam,respectivamente, 24±14dve20(13)dv.Oexameconfirmatóriofoicoletado comidademédiade77±121dvemedianade28(48)dv.
Tabela1 TSHanatriagemneonatalenosexamesinicial, confirmatórioedeiníciodotratamento
n Mediana AIQ Mínimo Máximo
Triagem 339 6,37 1,78 5,01 9,90
Inicial 339 11,50 7,23 3,02 >100,00 Confirmatório 339 12,89 5,06 10,00 >100,00 Tratamento 339 13,12 5,30 8,06 >100,00
n,númerodecasos;AIQ,amplitudeinterquartil. a
UI/mL.
forammantidossem medicac¸ão nesse primeiro momento, comintroduc¸ãoposterior da reposic¸ão hormonaldevidoà persistênciadaelevac¸ãodoTSH.
OsvaloresdeTSHséricoconfirmatórioedeiníciode tra-tamentotambémapresentaramvariac¸ãoimportante(tabela 1),63(18,58%)crianc¸asapresentaramTSHdeiníciode tra-tamentosuperiora20UI/mL.
Nãoforamobservadasdiferenc¸asemrelac¸ãoaosexonos valoresdeTSH-f(p=0,073),inicial(p=0,777), confirmató-rio(p=0,376)edeiníciodotratamento(p=0,843).
Éinteressantenotarque15das339crianc¸astinhamT4L abaixodosvaloresdereferêncianaprimeiraavaliac¸ão,14 apresentavamvaloresdeTSHsuperioresa15UI/mLe ape-nas uma, com valor de TSH de 6,06UI/mL na primeira coleta,evoluiucom elevac¸ãode TSHacimade10UI/mL nascoletassubsequentes.Quantoàúltimaavaliac¸ão labo-ratorialfeitaantesdoiníciodaterapia,17das339tinhamo T4LabaixodovalordereferênciaenquantooTSHvarioude 10UI/mLasuperiora100UI/mL,13dessesvaloreseram superioresa20UI/mL(tabela2).
Nãoforamobservadasdiferenc¸asemrelac¸ãoaosexonos valoresdeT4Linicial(p=0,318),confirmatório(p=0,706) edeiníciodotratamento(p=0,542).
Odiagnósticofoiconfirmadoentre2e695dv,commédia de94±143dvemedianade32(68),76,11%dascrianc¸ascom HCtiveramseudiagnósticoconfirmadoantesdostrêsmeses de idade. Entretanto, 23,89% dos casos que futuramente receberiamo diagnóstico de HCapresentavam valoresde TSHacimadolimite superior danormalidade,porém sem indicac¸ãodetratamento,epermaneceramemseguimento comcoletasperiódicasdeTSHeT4L,foramdefinidoscomo hipotireoidianosentretrêse24mesesdeidade.Entreessas crianc¸ascom HC, 7,96%tiveramo diagnóstico confirmado entreumedoisanosdeidade(tabela3).
Tabela2 T4Lanosexamesinicial,confirmatórioedeinício dotratamento
n Mediana AIQ Mínimo Máximo
Inicial 338 1,36 0,34 0,21 2,39
Confirmatório 338 1,30 0,35 0,12 2,35 Tratamento 338 1,30 0,34 0,12 2,12
AIQ,amplitudeinterquartil;n,númerodecasos. ang/dL.
Discussão
Trata-sede umestudocom casuísticaexpressiva, a partir daexperiênciadeumservic¸o,entrepoucosnoBrasil,14,19,20 queusaumvalordecortedeTSH-finferioraodamaioria dosprogramasdeTNN.
OusodemenorvalordecortedoTSH-fnaamostra ana-lisada resultouem umaumento de14,8 vezesdataxa de reconvocac¸ão, que seria 0,07% com o ponto de corte de 10UI/mLefoi1,04%comovalorde5UI/mL.OutroSRTN do Brasil apresentou taxa de reconvocac¸ão semelhante, 1,08%,adotou-seovalordecortede4,5UI/mL,14enquanto Korada etal.,13 comvalordecortede 6
UI/L,relataram taxa dereconvocac¸ão de0,23%. Essesdadossugeremnão haverrelac¸ãodiretaentreosvaloresdecorteusadosnaTNN paraHCeastaxasdereconvocac¸ão,assimcomoconcluiu Loeber21atravésdaanálisedaTNNde37paísesdaEuropa em2004.
Ousodepontosdecortemaisbaixos,comconsequente aumentodonúmerodecrianc¸as reconvocadas,levaa cus-tos mais elevados com a TNN, além de gerar ansiedade parapaiseparentesdecrianc¸assadias.18Duranteoperíodo deestudo,crianc¸as comTSH-fentre5e10UI/mLforam submetidasaaomenosumacoletadesanguevenosopara avaliac¸ãodafunc¸ãotireoidianae, apósseguimento,cerca de90%delasforamdefinidascomocasosfalsospositivos.
Entretanto,naavaliac¸ãodessesseisanosdeTNNcomo valordecortedeTSH-fde5UI/mL,foramdiagnosticadas 339crianc¸ascomHCquenãoseriamdetectadascomoponto decortede10UI/mL.
OutrosprogramasdeTNNtambémdetectaramcasos adi-cionais de HC com a reduc¸ão do valor de corte, como observadonoestudodeBaroneetal.14emque63%dos475 casos deHC encontradosapresentavam TSH-f entre4,5e 9,5UI/LenodeKoradaetal.13queconfirmaramdoiscasos deHCdentre as67 crianc¸asatermo comTSH-fentre6e 10UI/L. UmdosSRTNdoEstadodeSãoPaulo,que redu-ziuo valordecortedeTSH-f entre2005e 2008,também detectouseiscasosdeHCentreas1.181crianc¸ascomTSH-f inicialentre5e10UI/mL.20Recentemente,Jonesetal.17 observaram, entreos 304 casosde HC diagnosticados, 26 crianc¸ascomTSH-fentre8e10UI/LnaTNN.
Dessaforma,nesteestudo,assimcomoemoutros4,13---17 demonstrou-sequecrianc¸ascomHCpodemnãoser detecta-dascomospontosdecortemaisaltosusadoshabitualmente, essescasosadicionaisjustificam,emnossaopiniãoenade outrosautores,areduc¸ãonovalordecortedeTSH-f.4,13
A análise da func¸ão tireoidiana desse grupo mostrou que foramdetectadascrianc¸as com TSH séricosuperior a 20UI/mL, ouT4Labaixodovalordereferência,situac¸ão emqueotratamentoimediatoépreconizado.1
Tabela3 Func¸ãotireoidianasegundoafaixadeidadenodiagnóstico
Idadenodiagnósticoa Casos TNNb Inicialb Tratamentob
n % %Cum TSH-fc TSHc T4Ld TSHc T4Ld
0-1 168 49,56 49,56 6,40 14,30 1,40 14,30 1,36
1-2 58 17,11 66,67 6,18 11,40 1,30 12,80 1,26
2-3 32 9,44 76,11 6,75 9,20 1,35 11,75 1,22
3-4 8 2,36 78,47 6,56 7,94 1,21 11,66 1,37
4-5 10 2,95 81,42 6,27 8,21 1,39 12,03 1,17
5-6 10 2,95 84,37 5,85 6,77 1,36 11,32 1,21
6-12 26 7,67 92,04 6,50 6,71 1,36 11,45 1,26
12-24 27 7,96 100,00 6,30 6,53 1,41 12,50 1,24
n,númerodecasos;TNN,triagemneonatal;%Cum,frequênciarelativaacumulada. a Meses.
b Valoresapresentadoscomomediana. c
UI/mL. d ng/dL.
75.24 Portanto, muitos defendem a tese de que, atéque haja evidência de que não há risco de deficiência inte-lectual sem o uso de L-T4, o tratamento desses casos é preferível.4,25
Embora amaiorparte dogrupotenha recebidoo diag-nósticodeHCeiniciadootratamentoprecocemente,muitas crianc¸asquepermaneceramemseguimentoemdecorrência danãonormalizac¸ãodosvaloresdeTSHsemostraram hipo-tireoidianas posteriormente,entretrês mesese dois anos deidade.
Um fator possivelmente envolvido na confirmac¸ão tar-diadoHCéaamamentac¸ão,umavezqueoleitematerno podeserumafonteexógenadeT4,algumasvezesaté mas-carasinaisclínicosdeHC.26,27Existeachancedeque,dada a habitual recomendac¸ão do aleitamento materno exclu-sivoatéosextomês,algumascrianc¸ascomHClevepossam terapresentadoelevac¸ãomaispronunciadadoTSHapóso desmameoureduc¸ãodoaleitamentomaterno.Outra pos-sibilidadeé seremdecorrentes dedefeitosdesínteseque frequentementedemoramalgumtempoparaqueo hipoti-reoidismosedefina,comojárelatado.28
Os resultados deste estudo mostram que o uso do valor de corte de TSH-f de 5UI/mL na TNN permite a detecc¸ãodecasosadicionaisdeHCemuitasdessascrianc¸as somente tiveram o diagnóstico confirmado mais tardia-mente. Considerando-se que, entre os diversos países e, atémesmodentrodeummesmopaís,nãoháuniformidade nos critérios diagnósticos e de seguimento, mais estudos são necessários para fornecer evidências para definic¸ão de um valor de corte ideal para o TSH-f e para esta-belecimento de protocolos de diagnóstico e tratamento maisespecíficos.1,4,29 Baseadosnos achados deste estudo, sugerimosousodovalordecortede5UI/mLeo acompa-nhamentoemlongoprazodessascrianc¸ascomoobjetivode detectartodososcasosdeHC.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Agradecimentos
Aospacientesesuasfamíliasquefizerampartedoestudo. AosfuncionáriosdoAmbulatóriodePediatriadoHospitalde ClínicasdaUnicampedoServic¸odeReferênciaemTriagem NeonataldaUnicamp,emespecialàbiólogaCarmenSílvia Gabetta,responsável técnicadolaboratóriodoServic¸ode ReferênciaemTriagemNeonataldaUnicamp.
Referências
1.Léger J, Olivieri A, Donaldson M, Torresani T, Krude H, vanVlietG,etal.EuropeanSocietyforPaediatricEndocrinology consensus guidelines on screening, diagnosis, and manage-mentofcongenitalhypothyroidism. JClinEndocrinol Metab. 2014;99:363---84.
2.RoseSR,BrownRS,FoleyT,KaplowitzPB,KayeCI,Sundararajan S,etal.Updateofnewbornscreeningandtherapyforcongenital hypothyroidism.Pediatrics.2006;117:2290---303.
3.MacielLM,KimuraET,NogueiraCR,MazetoGM,MagalhãesPK, NascimentoML,etal.Congenitalhypothyroidism: recommen-dationsoftheThyroidDepartmentoftheBrazilianSocietyof Endocrinologyand Metabolism. Arq BrasEndocrinol Metabol. 2013;57:184---92.
4.Corbetta C, Weber G, Cortinovis F, Calebiro D, Passoni A, Vigone MC, et al. A 7-year experience withlow blood TSH cutoff levels for neonatal screening reveals an unsuspected frequencyofcongenitalhypothyroidism(CH).ClinEndocrinol (Oxf).2009;71:739---45.
5.Grosse SD, Van Vliet G. Prevention of intellectual disability throughscreeningforcongenitalhypothyroidism:howmuchand atwhatlevel?ArchDisChild.2011;96:374---9.
6.FisherDA,DussaultJH,FoleyTP,KleinAH,LaFranchiS, Lar-senPR,etal.Screeningforcongenitalhypothyroidism:results of screening one million North American infants. J Pediatr. 1979;94:700---5.
7.OlivieriA,FazziniC,MeddaE.Multiplefactorsinfluencingthe incidenceofcongenitalhypothyroidismdetectedbyneonatal screening.HormResPaediatr.2015;83:86---93.
9.Mitchell ML, Hsu HW, Sahai I, Group MPEW. The increased incidence of congenital hypothyroidism: fact or fancy? Clin Endocrinol(Oxf).2011;75:806---10.
10.BotlerJ,Camacho LA, CruzMM. Phenylketonuria,congenital hypothyroidismandhaemoglobinopathies:publichealthissues foraBraziliannewbornscreeningprogram.CadSaudePublica. 2012;28:1623---31.
11.MeddaE,OlivieriA,StaziMA,GrandolfoME,FazziniC,Baserga M,etal.Riskfactorsforcongenitalhypothyroidism:resultsof apopulationcase-controlstudy(1997---2003).EurJEndocrinol. 2005;153:765---73.
12.FordG,LaFranchiSH.Screeningforcongenitalhypothyroidism: aworldwideviewofstrategies.BestPractResClinEndocrinol Metab.2014;28:175---87.
13.KoradaSM,PearceM,WardPlattMP,AvisE,TurnerS,WastellH, etal.Difficultiesinselectinganappropriateneonatalthyroid stimulatinghormone(TSH)screeningthreshold.ArchDisChild. 2010;95:169---73.
14.BaroneB,LopesCL,TyszlerLS,doAmaralVB,ZarurRH,Paiva VN,etal.EvaluationofTSHcutoffvalueinblood-spotsamples inneonatalscreeningforthediagnosisofcongenital hypothy-roidismintheProgramaPrimeirosPassos---IEDE/RJ.ArqBras EndocrinolMetabol.2013;57:57---61.
15.MengreliC,Kanaka-GantenbeinC,GirginoudisP,MagiakouMA, Christakopoulou I, Giannoulia-Karantana A, et al. Screening for congenital hypothyroidism: the significance of threshold limit in false-negative results. J Clin Endocrinol Metab. 2010;95:4283---90.
16.Chiesa A, Prieto L, Mendez V, Papendieck P, Calcagno MEL, Gru˜neiro-PapendieckL.Prevalenceandetiologyofcongenital hypothyroidismdetectedthroughanargentineneonatal scree-ningprogram(1997---2010).HormResPaediatr.2013;80:185---92. 17.JonesJH,SmithS,DorrianC,MasonA,ShaikhMG.Permanent congenitalhypothyroidismwithbloodspotthyroidstimulating hormone<10mU/L.ArchDisChild.2016.
18.KrudeH, BlankensteinO.Treatingpatientsnotnumbers:the benefitandburdenofloweringTSHnewbornscreeningcut-offs. ArchDisChild.2011;96:121---2.
19.RamalhoAR,RamalhoRJ,OliveiraCR,SantosEG,OliveiraMC, Aguiar-OliveiraMH.Neonatalscreeningprogramforcongenital hypothyroidisminnortheast ofBrazil:criteria,diagnosisand results.ArqBrasEndocrinolMetabol.2008;52:617---27. 20.MacielLM.Diagnóstico:novosvaloresdecorte?Avaliac¸ãocrítica
dos resultados. In: Neto-Medeiros G, editor. Hipotireoidismo congênitonoBrasilenaAméricadoSul:estadoatuale perspec-tivasfuturas.SãoPaulo:ConectfarmaPublicac¸õesCientíficas; 2012.p.67---71.
21.LoeberJG.NeonatalscreeninginEurope;thesituationin2004. JInheritMetabDis.2007;30:430---8.
22.FreireC,RamosR,AmayaE,FernándezMF,Santiago-Fernández P,Lopez-EspinosaMJ,etal.NewbornTSHconcentrationandits associationwithcognitivedevelopmentinhealthyboys.EurJ Endocrinol.2010;163:901---9.
23.LaFranchi SH. Newborn screening strategies for conge-nital hypothyroidism: an update. J Inherit Metab Dis. 2010;33:S225---33.
24.LainSJ,BentleyJP,WileyV,RobertsCL,JackM,WilckenB,etal. Association between borderline neonatal thyroid-stimulating hormone concentrations and educational and developmental outcomes:apopulation-basedrecord-linkagestudy.Lancet Dia-betesEndocrinol.2016;4:756---65.
25.LaFranchiSH. Increasingincidence of congenital hypothyroi-dism:someanswers,morequestions.JClinEndocrinolMetab. 2011;96:2395---7.
26.SackJ,FruchtH,AmadoO,BrishM,LunenfeldB.Breastmilk thyroxineandnotcow’smilkmaymitigateanddelaytheclinical pictureofneonatalhypothyroidism.ActaPaediatrScandSuppl. 1979;277:54---6.
27.BodeHH,VanjonackWJ,CrawfordJD.Mitigationofcretinism bybreast-feeding.Pediatrics.1978;62:13---6.
28.deZegherF,Vanderschueren-LodeweyckxM,HeinrichsC,Van VlietG,MalvauxP.Thyroiddyshormonogenesis:severe hypothy-roidism after normal neonatal thyroid stimulating hormone screening.ActaPaediatr.1992;81:274---6.