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Márcio André Lopes Cavalcante

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Academic year: 2021

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Márcio André Lopes Cavalcante

Julgados não comentados por terem menor relevância para concursos públicos ou por terem sido decididos com base em peculiaridades do caso concreto: REsp 1.391.198-RS; REsp 1.174.811-SP; REsp 1.442.343-RS; AgRg no REsp 1.439.516-PR; REsp 1.172.929-RS; REsp 1.179.342-GO; Leia-os ao final deste Informativo.

ÍNDICE

DIREITO ADMINISTRATIVO FGTS

Responsabilidade pelos extratos das contas vinculadas

DIREITO CIVIL

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

(I)Legitimidade da pessoa jurídica para recorrer contra a decisão que determina a desconsideração.

Fixação individualizada dos danos morais por morte de parente.

RESPONSABILIDADE CIVIL

Fixação individualizada dos danos morais por morte de parente.

Termo inicial da prescrição nas ações de indenização do seguro DPVAT.

ALIMENTOS

Possibilidade de adjudicação dos direitos hereditários do alimentante para pagamento de pensão alimentícia.

Direito do Consumidor

RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO

Dano moral decorrente de carro 0km que apresentou inúmeros problemas.

Veículo importado que não poderia ser abastecido com combustível nacional.

Direito Ambiental

RESPONSABILIDADE POR DANO AMBIENTAL

Responsabilidade por dano ambiental é objetiva, sob a modalidade do risco integral.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL PROCESSO ELETRÔNICO

Ilegalidade da Resolução do Tribunal que imponha à parte o dever de digitalização do processo.

EXECUÇÃO

Bens do devedor solidário não podem responder pela execução se ele não constou no título executivo.

EXECUÇÃO FISCAL

Reunião de execuções fiscais propostas contra o mesmo devedor.

Remessa necessária no caso de entença que julga procedente exceção de pré-executividade.

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Direito Penal

ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI 10.826/2003)

Porte ou posse de arma de fogo quebrada.

LEI MARIA DA PENHA (LEI 11.340/2006)

Descumprimento de medida protetiva de urgência não configura crime de desobediência

Direito Processual Penal AÇÃO PENAL PRIVADA

Queixa-crime.

PRISÃO PREVENTIVA

Prisão domiciliar do CPP

Direito Penal e Processual Penal Militar COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR

Crime de desacato contra militar da Marinha do Brasil em atividade de patrulhamento naval

Direito Previdenciário TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO

Vínculos concomitantes e aproveitamento das contribuições em regimes diversos.

Direito Internacional

DIVÓRCIO REALIZADO NO BRASIL E BENS SITUADOS NO ESTRANGEIRO

Ação de divórcio de pessoas domiciliadas no Brasil e bens situados no estrangeiro

DIREITO ADMINISTRATIVO

FGTS

Responsabilidade pelos extratos das contas vinculadas

Súmula 514-STJ: A CEF é responsável pelo fornecimento dos extratos das contas individualizadas vinculadas ao FGTS dos trabalhadores participantes do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, inclusive para fins de exibição em juízo, independentemente do período em discussão.

STJ. 1ª Seção. Aprovada em 14/08/2014.

FGTS

FGTS é a sigla para Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.

O FGTS foi criado pela Lei n.º 5.107/66 com o objetivo de proteger o trabalhador demitido sem justa causa.

Atualmente, o FGTS é regido pela Lei n.º 8.036/90.

Em que consiste o FGTS?

O FGTS nada mais é do que uma conta bancária, aberta em nome do trabalhador e vinculada a ele no momento em que celebra seu primeiro contrato de trabalho.

Nessa conta bancária o empregador deposita, todos os meses, o valor equivalente a 8% do salário pago ao

empregado, acrescido de atualização monetária e juros.

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Assim, vai sendo formado um fundo de reserva financeira para o trabalhador, ou seja, uma espécie de

“poupança” que é utilizada pelo obreiro quando fica desempregado sem justa causa ou quando precisa para alguma finalidade relevante assim considerada pela lei.

Se o empregado for demitido sem justa, o empregador é obrigado a depositar, na conta vinculada do trabalhador no FGTS, uma indenização compensatória de 40% do montante de todos os depósitos realizados na conta vinculada durante a vigência do contrato de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos dos respectivos juros (art. 18, § 1º da Lei n.º 8.036/90).

O trabalhador que possui conta do FGTS vinculada a seu nome é chamado de trabalhador participante do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço.

O trabalhador poderá levantar (“sacar”) o valor depositado em sua conta do FGTS?

SIM, mas somente em algumas situações previstas na Lei. O art. 20 da Lei n.º 8.036/90 prevê as hipóteses em que o trabalhador poderá movimentar a sua conta vinculada no FGTS. São exemplos:

 Se o trabalhador for despedido sem justa causa;

 Se se aposentar;

 Se ele (ou algum dependente) for acometido de neoplasia maligna (câncer), HIV ou outra doença grave;

 Se houver necessidade pessoal, cuja urgência e gravidade decorra de desastre natural.

Qual é o papel da Caixa Econômica Federal no FGTS?

A Caixa Econômica Federal exerce o papel de agente operador do FGTS (art. 4º da Lei nº 8.036/90).

Dentre outras funções, cabe a CEF:

 centralizar os recursos do FGTS;

 manter e controlar as contas vinculadas

 emitir extratos individuais correspondentes às contas vinculadas (art. 7º, I).

A CEF exerce a função de agente operador desde o início do FGTS, ou seja, desde que o Fundo foi criado em 1966?

NÃO. A CEF assumiu esse papel com a edição da Lei n. 8.036/90, que substituiu a Lei n. 5.107/66.

O art. 7º da Lei nº 8.036/90 estabeleceu o seguinte:

Art. 12. No prazo de um ano, a contar da promulgação desta lei, a Caixa Econômica Federal assumirá o controle de todas as contas vinculadas, nos termos do item I do art. 7º, passando os demais estabelecimentos bancários, findo esse prazo, à condição de agentes recebedores e pagadores do FGTS, mediante recebimento de tarifa, a ser fixada pelo Conselho Curador.

Desse modo, a CEF somente passou a centralizar os recursos do FGTS, controlar as contas vinculadas e emitir extratos dessas contas a partir de maio de 1991. Antes, o controle das contas do FGTS era pulverizado em diversas instituições financeiras. Assim, existiam contas de FGTS em diversos bancos, sendo cada um deles responsável por isso.

No momento em que ocorreu a centralização das contas do FGTS na CEF, os bancos depositários tiveram que emitir um extrato das contas vinculadas que estavam sob sua responsabilidade. Esses extratos foram fornecidos à CEF. Essa obrigação foi prevista no art. 24 do Decreto n.  99.684/90, que regulamentou a Lei do FGTS:

Art. 24. Por ocasião da centralização na CEF, caberá ao banco depositário emitir o último extrato das contas vinculadas sob sua responsabilidade, que deverá conter, inclusive, o registro dos valores transferidos e a discriminação dos depósitos efetuados na vigência do último contrato de trabalho.

De quem é a competência para julgar as ações envolvendo FGTS?

Depende:

 Se a ação for proposta pelo trabalhador contra o empregador envolvendo descumprimento na

aplicação da Lei n.  8.036/90, a competência será da Justiça do Trabalho;

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 É da competência da Justiça Estadual autorizar o levantamento dos valores relativos ao PIS/PASEP e FGTS, em decorrência do falecimento do titular da conta (Súmula 161-STJ);

 Se a ação for proposta pelo trabalhador contra a CEF em sua atuação como agente operadora dos recursos do FGTS, a competência será da Justiça Federal considerando que a CEF é uma empresa pública federal (art. 109, I, da CF/88).

Súmula 82-STJ: Compete à Justiça Federal, excluídas as reclamações trabalhistas, processar e julgar os feitos relativos à movimentação do FGTS.

Algumas vezes o trabalhador precisa dos extratos analíticos de sua conta de FGTS para pleitear algum direito relacionado com o FGTS. A CEF tem o dever de fornecer esses extratos?

SIM. A CEF, por ser a agente operadora do FGTS, é responsável pelo fornecimento dos extratos das contas individualizadas vinculadas ao FGTS dos trabalhadores participantes do Fundo.

Se o trabalhador quiser extratos referentes a períodos anteriores a maio de 1991, a responsabilidade continua sendo da CEF?

SIM. Mesmo tendo assumido o papel de agente operador do FGTS apenas em maio de 1991, a CEF é responsável por fornecer os extratos do FGTS de todo e qualquer período de existência do Fundo, ainda que anteriores a essa data. Isso porque no momento em que ocorreu a centralização, os bancos depositários tiveram que fornecer à CEF o extrato das contas vinculadas que estavam sob sua responsabilidade. Logo, deveria a CEF ter armazenado todos esses dados.

Além disso, caso a CEF não tenha esses extratos, ela poderá, na qualidade de gestora do Fundo, por força de lei, requisitá-los dos bancos que administravam essas contas.

Confira novamente o teor da súmula para ver se agora ela ficou mais clara:

A CEF é responsável pelo fornecimento dos extratos das contas individualizadas vinculadas ao FGTS dos trabalhadores participantes do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, inclusive para fins de exibição em juízo, independentemente do período em discussão.

É comum o trabalhador precisar dos extratos de sua conta de FGTS para ações judiciais?

SIM. É relativamente comum (ou pelo menos já foi mais frequente). Isso porque foram propostas milhares de ações na Justiça Federal nas quais os trabalhadores que tinham contas vinculadas de FGTS pediam que fossem revistos os índices de correção monetárias que foram aplicados nos valores depositados.

Exemplo: há alguns anos foi identificado que, no período de janeiro de 1989 e abril de 1990, os valores depositados nas contas vinculadas de FGTS foram corrigidos com base em índices percentuais inferiores àqueles que seriam devidos. Logo, as pessoas ingressam em juízo contra a CEF pedindo a revisão dessa correção (são as chamadas ações de expurgos Inflacionários do FGTS - Plano Collor e Plano Verão). Ocorre que os autores não têm os extratos de suas contas do FGTS. Por isso, pedem que a CEF apresente em juízo esses documentos para que fique provado o erro na correção monetária. Algumas vezes a CEF alegava que não tinha responsabilidade pela apresentação desses extratos. A jurisprudência rechaçava esse argumento e, agora, com a Súmula 514 do STJ, essa obrigação fica ainda mais clara e consolidada.

Súmula 249-STJ: A Caixa Econômica Federal tem legitimidade passiva para integrar processo em que se discute correção monetária do FGTS.

Súmula 210-STJ: A ação de cobrança das contribuições para o FGTS prescreve em trinta (30) anos.

Em quais concursos essa nova súmula é mais provável de ser cobrada?

Concursos federais (Juiz Federal, DPU, AGU e Procuradoria Federal).

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DIREITO CIVIL

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

(I)Legitimidade da pessoa jurídica para recorrer contra a decisão que determina a deconsideração

Tema polêmico!

Em uma execução proposta pelo credor contra a empresa devedora, se o juiz determinar a desconsideração da personalidade jurídica e a penhora dos bens dos sócios, a pessoa jurídica tem legitimidade para recorrer contra essa decisão, desde que o recurso seja interposto com o objetivo de defender a sua autonomia patrimonial, isto é, a proteção da sua personalidade. No recurso, a pessoa jurídica não pode se imiscuir indevidamente na esfera de direitos dos sócios ou administradores incluídos no polo passivo por força da desconsideração.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.421.464-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/4/2014 (Info 544).

Obs: vale ressaltar que existem inúmeros precedentes do STJ em sentido contrário, ou seja, defendendo a ilegitimidade da pessoa jurídica nesse caso.

Princípio da autonomia patrimonial

As pessoas jurídicas são sujeitos de direitos. Isso significa que possuem personalidade jurídica distinta de seus instituidores. Assim, por exemplo, não é porque o sócio morreu que, obrigatoriamente, a pessoa jurídica será extinta.

De igual modo, o patrimônio da pessoa jurídica é diferente do patrimônio de seus sócios. Ex1: se uma sociedade empresária possui um veículo, esse automóvel não pertence aos sócios, mas sim à própria pessoa jurídica.

Ex2: se uma sociedade empresária possui uma dívida, este débito deverá ser pago com os bens da própria sociedade, não podendo para isso, em regra, ser utilizado o patrimônio pessoal dos sócios.

Vigora, portanto, o princípio da autonomia patrimonial entre os bens do sócio e da pessoa jurídica.

Desconsideração da personalidade jurídica

O ordenamento jurídico prevê algumas situações em que essa autonomia patrimonial pode ser afastada.

Tais hipóteses são chamadas de “desconsideração da personalidade jurídica” (disregard of legal entity ou teoria do superamento da personalidade jurídica).

Quando se aplica a desconsideração da personalidade jurídica, os bens particulares dos administradores ou sócios são utilizados para pagar dívidas da pessoa jurídica.

Por que foi idealizada essa teoria da desconsideração da personalidade jurídica?

A autonomia patrimonial das pessoas jurídicas sempre foi um instrumento muito importante para o desenvolvimento da economia e da atividade empresarial. Isso porque serviu para estimular os indivíduos a praticarem atividades econômicas, uma vez que, constituindo pessoas jurídicas, as pessoas físicas sabiam que apenas o patrimônio da sociedade empresária responderia pelas dívidas em caso de insucesso. Com isso, as pessoas físicas ficavam mais seguras, já que, mesmo que o empreendimento não prosperasse, elas não perderiam também o seu patrimônio pessoal não investido na sociedade.

Ocorre que alguns indivíduos começaram a abusar da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, utilizando-a como um meio de praticar fraudes. A pessoa jurídica, após adquirir diversas dívidas, transferia todo lucro e patrimônio para o nome dos sócios e, com isso, não tinha como pagar os compromissos assumidos, não sobrando bens da sociedade que pudessem ser executados pelos credores.

Percebendo esse abuso, a jurisprudência passou a permitir a desconsideração da personalidade jurídica

nessas hipóteses. Posteriormente, foram editadas leis prevendo expressamente a possibilidade da

desconsideração.

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Histórico da desconsideração da personalidade jurídica no Brasil

 CC-1916: não previa a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica.

 Na década de 60, Rubens Requião foi um dos primeiros doutrinadores brasileiros a defender a aplicação da teoria no Brasil, mesmo sem previsão legal.

 CDC em 1990: primeira lei a prever a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica no Brasil (art. 28).

 Lei n. 8.884/94 (antiga Lei Antitruste): previu a desconsideração.

 Lei n. 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais): também disciplinou a desconsideração.

 Código Civil de 2002: trouxe previsão expressa no art. 50.

Desconsideração da personalidade jurídica no CC-2002

A desconsideração da personalidade jurídica, no âmbito das relações civis gerais, está disciplinada no art.

50 do CC:

Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.

Desse modo, na desconsideração da personalidade jurídica, o juiz, mediante requerimento, autoriza que os bens particulares dos administradores ou sócios sejam utilizados para pagar as dívidas da pessoa jurídica, mitigando, assim, a autonomia patrimonial.

Momento da desconsideração

Segundo a jurisprudência do STJ, a desconsideração da personalidade jurídica, uma vez respeitado o devido processo legal, não precisa ser requerida mediante ação autônoma.

Assim, o juiz pode determinar, de forma incidental, nos autos da execução singular ou coletiva, a desconsideração da personalidade jurídica.

Caso o magistrado determine a desconsideração da personalidade jurídica de forma incidental, por meio de decisão interlocutória, o recurso cabível será o agravo de instrumento.

Feitas as devidas considerações, imagine a seguinte situação:

A empresa “X” foi condenada a pagar 100 mil reais a João.

Foi iniciado o cumprimento de sentença e tentou-se, sem sucesso, a penhora de bens da pessoa jurídica para pagar a dívida.

Diante das tentativas frustradas de penhora, João requereu a desconsideração da personalidade jurídica da pessoa jurídica para alcançar o patrimônio de seus sócios⁄administradores.

O juiz deferiu o pedido e determinou, em consequência, a inclusão dos sócios no polo passivo do cumprimento de sentença e a penhora on line de dinheiro depositado nas contas bancárias das pessoas físicas.

Contra essa decisão, a pessoa jurídica (empresa “X”) interpôs agravo de instrumento. Os sócios atingidos não recorreram.

O Tribunal de Justiça não conheceu do recurso alegando que a decisão judicial que determinou a desconsideração atinge o patrimônio dos sócios (e não da pessoa jurídica). Logo, não haveria interesse processual da empresa de recorrer. Para o TJ, quem deveria ter recorrido eram os sócios.

A questão chegou até o STJ. A pergunta a ser respondida é a seguinte:

A pessoa jurídica tem legitimidade para recorrer contra a decisão que determina a desconsideração de sua personalidade jurídica com o objetivo de atingir o patrimônio dos sócios?

SIM. A pessoa jurídica tem legitimidade para impugnar decisão interlocutória que desconsidera sua

personalidade para alcançar o patrimônio de seus sócios ou administradores, desde que o faça com o

intuito de defender a sua regular administração e autonomia – isto é, a proteção da sua personalidade –,

sem se imiscuir indevidamente na esfera de direitos dos sócios ou administradores incluídos no polo

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passivo por força da desconsideração.

Segundo o art. 50 do CC, verificado “abuso da personalidade jurídica”, poderá o juiz decidir que os efeitos de certas e determinadas relações obrigacionais sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. O referido abuso, segundo a lei, caracteriza-se pelo desvio de finalidade da pessoa jurídica ou pela confusão patrimonial entre os bens dos sócios/administradores com os da pessoa moral.

Assim, a desconsideração da personalidade jurídica, em essência, está ligada à concepção de moralidade, probidade, boa-fé a que submetem os sócios e administradores na gestão e administração da pessoa jurídica. Vale também destacar que, ainda que a concepção de abuso nem sempre esteja relacionada a fraude, a sua figura está, segundo a doutrina, eminentemente ligada a prejuízo, desconforto, intranquilidade ou dissabor que tenha sido acarretado a terceiro, em decorrência de um uso desmesurado de um determinado direito.

Desse modo, a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica é uma decisão judicial que atinge (afeta) não apenas os interesses dos credores e das pessoas físicas, mas também da própria sociedade jurídica que está sendo acusada de ser indevidamente manipulada.

Logo, a pessoa jurídica tem interesse de recorrer nesse caso, desde que seja capaz de demonstrar que a pertinência de seu intuito, ou seja, que está defendendo a sua autonomia patrimonial (a proteção de sua personalidade jurídica).

TEMA POLÊMICO

Percebe-se que a Min. Nancy Andrighi construiu uma tese interessantíssima para assegurar a legitimidade da pessoa jurídica em tais casos, ressaltando que essa só existe nas hipóteses em que for defendida, no recurso, a própria autonomia patrimonial da sociedade empresária.

Apesar disso, podemos encontrar inúmeros julgados do STJ em sentido contrário, ou seja, negando a legitimidade da pessoa jurídica para recorrer contra essa decisão. Confira:

(...) 7. Desse modo, não há como reconhecer interesse à pessoa jurídica para impugnar decisão que atinge a esfera jurídica de terceiros, o que, em tese, pode preservar o patrimônio da sociedade ou minorar sua diminuição; afinal, mais pessoas estariam respondendo pela dívida contra ela cobrada originalmente.

8. Em casos análogos, a jurisprudência do STJ tem afirmado que a pessoa jurídica não possui legitimidade nem interesse recursal para questionar decisão que, sob o fundamento de ter ocorrido dissolução irregular, determina a responsabilização dos sócios (EDcl no AREsp 14.308/MG, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda Turma, DJe 27.10.2011; REsp 932.675/SP, Rel. Ministro Castro Meira, Segunda Turma, DJ 27.8.2007, p. 215; REsp 793.772/RS, Rel. Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJe 11.2.2009). (...)

(STJ. 2ª Turma. AgRg no REsp 1307639/RJ, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 17/05/2012).

Penso que a posição pela ilegitimidade deve prevalecer, sendo majoritária e consolidada.

RESPONSABILIDADE CIVIL

Fixação individualizada dos danos morais por morte de parente

Na fixação do valor da reparação pelos danos morais sofridos por parentes de vítimas mortas

em um mesmo evento, não deve ser estipulada de forma global a mesma quantia reparatória

para cada grupo familiar se, diante do fato de uma vítima ter mais parentes que outra, for

conferido tratamento desigual a lesados que se encontrem em idêntica situação de abalo

psíquico, devendo, nessa situação, ser adotada metodologia de arbitramento que leve em

consideração a situação individual de cada parente de cada vítima do dano morte.

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A fixação de valor reparatório global por núcleo familiar, justificar-se-ia apenas se a todos os lesados que se encontrem em idêntica situação fosse conferido igual tratamento.

STJ. Corte Especial. EREsp 1.127.913-RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 4/6/2014 (Info 544).

Imagine a seguinte situação hipotética:

João e Pedro eram colegas e morreram em um acidente de helicóptero causado por uma falha mecânica.

João tinha dois herdeiros: um filho e a esposa.

Pedro, por outro lado, possuía quatro filhos adultos, além da esposa.

As famílias das duas vítimas contrataram um mesmo escritório de advocacia que ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a empresa de táxi aéreo.

Fixação do valor dos danos morais

O juiz julgou procedente a ação e condenou a empresa de táxi aéreo a pagar:

 500 salários mínimos para os familiares de João (esposa e filho);

 500 salários mínimos para os familiares de Pedro (esposa e mais quatro filhos).

Segundo deixou claro na sentença, esse valor a ser pago pela condenada seria global para cada família:

 A esposa e o filho de João receberiam 250 salários mínimos cada um;

 A esposa e os quatro filhos de Pedro receberiam 100 salários mínimos cada um.

O critério adotado pelo magistrado para fixar a indenização está correto?

NÃO. Na fixação do valor da reparação pelos danos morais sofridos por parentes de vítimas mortas em um mesmo evento, não deve ser estipulada de forma global a mesma quantia reparatória para cada grupo familiar se, diante do fato de uma vítima ter mais parentes que outra, for conferido tratamento desigual a lesados que se encontrem em idêntica situação de abalo psíquico.

Em outras palavras, no caso concreto, mesmo tendo as vítimas morrido no mesmo evento, cada familiar de uma receberá 250 salários mínimos de indenização e cada familiar da outra terá direito a apenas 100 salários mínimos. Há, portanto, uma diferença de tratamento injustificável.

Logo, na presente situação, o juiz deveria ter adotado uma metodologia de arbitramento que levasse em consideração a situação individual de cada parente de cada vítima do dano morte.

Em suma, o magistrado deveria ter fixado um valor de indenização individual, igual para cada um dos parentes dos falecidos, já que não havia, no caso concreto, nada que justificasse uma diferença de tratamento.

Sobre o tema, importante explicar um interessante conceito:

O que é o chamado “prejuízo de afeição”?

Conforme explica o Min. Paulo de Tarso Sanseverino, o “prejuízo de afeição” (préjudice d'affection) é o dano extrapatrimonial sofrido pelos familiares da pessoa morta.

Trata-se do dano moral povocado em decorrência da morte do ente querido, cujo sofrimento é incomensurável, bastando pensar na dor dos filhos menores com a perda do pai em acidente de trabalho, no sofrimento psíquico da esposa com a morte do marido em um desastre aéreo, no vazio existencial dos pais com o óbito de um filho em um acidente de trânsito.

Busca-se com a indenização um paliativo para o sofrimento psíquico ensejado pelo evento danoso, sendo esse o ponto nuclear do conceito de dano moral stricto sensu (voto do Ministro no EREsp 1.127.913-RS).

O prejuízo de afeição é um da moral que atinge as vítimas por ricochete considerando que a vítima direta

é o falecido e seus familiares são afetados reflexamente pelo evento.

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RESPONSABILIDADE CIVIL

Termo inicial da prescrição nas ações de indenização do seguro DPVAT

O prazo prescricional no caso de ação de indenização do DPVAT é de 3 anos (Súmula 405-STJ).

O termo inicial do prazo prescricional é a data em que o segurado teve ciência inequívoca do caráter permanente da invalidez.

Em regra, a pessoa somente tem ciência inequívoca da invalidez permanente com o laudo médico que atesta essa situação. Assim, em regra, o termo inicial do prazo é a data do laudo.

Exceção: nos casos de invalidez permanente notória, a ciência inequívoca da invalidez não depende de laudo médico. Dessa forma, em caso de invalidez notória, o termo inicial do prazo é a data da invalidez (em geral, a data do acidente).

STJ. 2ª Seção. REsp 1.388.030-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 11/6/2014 (recurso repetitivo) (Info 544).

NOÇÕES GERAIS

O que é o DPVAT?

O DPVAT (Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestres) é um seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre, ou por sua carga, a pessoas, transportadas ou não.

Em outras palavras, qualquer pessoa que sofrer danos pessoais causados por um veículo automotor, ou por sua carga, em vias terrestres, tem direito a receber a indenização do DPVAT. Isso abrange os motoristas, os passageiros, os pedestres ou, em caso de morte, os seus respectivos herdeiros.

Ex: dois carros batem e, em decorrência da batida, acertam também um pedestre que passava no local. No carro 1, havia apenas o motorista. No carro 2, havia o motorista e mais um passageiro. Os dois motoristas morreram. O passageiro do carro 2 e o pedestre ficaram inválidos. Os herdeiros dos motoristas receberão indenização de DPVAT no valor correspondente à morte. O passageiro do carro 2 e o pedestre receberão indenização de DPVAT por invalidez.

Para receber indenização, não importa quem foi o culpado. Ainda que o carro 2 tenha sido o culpado, os herdeiros dos motoristas, o passageiro e o pedestre sobreviventes receberão a indenização normalmente.

O DPVAT não paga indenização por prejuízos decorrentes de danos patrimoniais, somente danos pessoais.

Quem custeia as indenizações pagas pelo DPVAT?

Os proprietários de veículos automotores. Trata-se de um seguro obrigatório. Assim, sempre que o proprietário do veículo paga o IPVA, está pagando também, na mesma guia, um valor cobrado a título de DPVAT.

O STJ afirma que a natureza jurídica do DPVAT é a de um contrato legal, de cunho social.

O DPVAT é regulamentado pela Lei nº 6.194/74.

Qual é o valor da indenização de DPVAT prevista na Lei?

• no caso de morte: R$ 13.500,00 (por vítima)

• no caso de invalidez permanente: até R$ 13.500,00 (por vítima)

• no caso de despesas de assistência médica e suplementares: até R$ 2.700,00 como reembolso a cada vítima.

Como a pessoa obtém a indenização do DPVAT?

A pessoa deverá procurar uma das empresas seguradoras que seja consorciada ao DPVAT e apresentar a documentação necessária.

Para requerer o seguro DPVAT não é necessário advogado, despachante ou qualquer outra ajuda de

terceiros.

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Caso a pessoa beneficiária do DPVAT não receba a indenização ou não concorde com o valor pago pela seguradora, ela poderá buscar auxílio do Poder Judiciário?

Sim. A pessoa poderá ajuizar uma ação de cobrança contra a seguradora objetivando a indenização decorrente de DPVAT.

Qual é o prazo para as ações decorrentes do DPVAT?

A ação de cobrança do seguro obrigatório DPVAT prescreve em 3 anos (Súmula 405-STJ).

INVALIDEZ

O que é invalidez permanente para fins do DPVAT?

Em um primeiro momento, a Lei nº 6.194/74 não previu o que seria invalidez permanente. Diante dessa lacuna, o Conselho Nacional de Seguros Privados – CNSP, como já dito acima, elaborou uma tabela com diversas situações que caracterizavam invalidez permanente.

A MP 451/2008 e posteriormente a Lei nº 11.945/2009 acrescentaram, então, um anexo à Lei nº 6.194/74, prevendo expressamente, por meio de uma tabela, situações caracterizadoras de invalidez permanente.

Essa lista prevista no anexo da Lei nº 6.194/74 é exaustiva ou exemplificativa?

Exemplificativa. Segundo afirmou, com acerto, o Min. Paulo de Tarso Sanseverino, não é possível prever, por meio de uma listagem de situações, todas as hipóteses de invalidez permanente, total ou parcial, de forma que em última análise incumbe ao intérprete a definição do conteúdo daquele conceito jurídico indeterminado.

Noutras palavras, as situações previstas na lista elaborada pelo CNSP, assim como as presentes no anexo à Lei 6.194/74, constituem rol meramente exemplificativo, em contínuo desenvolvimento, tanto pela ciência como pelo direito.

Portanto, o não enquadramento de uma determinada situação na lista previamente elaborada não implica, por si só, a não configuração da invalidez permanente, sendo necessário o exame das peculiaridades de cada caso concreto.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.381.214-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/8/2013 (Info 530).

Vimos acima, que a ação de cobrança do seguro obrigatório DPVAT prescreve em 3 anos (Súmula 405- STJ). A partir de quando se inicia a contagem desse prazo?

O termo inicial do prazo prescricional é a data em que o segurado teve ciência inequívoca do caráter permanente da invalidez. Em outras palavras, conta-se da data em que a pessoa teve ciência de que estava inválido permanentemente. Nesse sentido, existe um enunciado do STJ:

Súmula 278-STJ: O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral.

Quando se considera que a pessoa teve ciência inequívoca da invalidez?

REGRA: a ciência inequívoca do caráter permanente da invalidez depende de laudo médico.

Assim, para efeitos de início do prazo prescricional, considera-se que o segurado somente tem ciência da invalidez permanente quando é produzido um laudo médico atestando essa condição.

EXCEÇÃO: o prazo prescricional se inicia mesmo sem ter sido feito laudo médico se a invalidez permanente for notória.

Dessa forma, em caso de invalidez notória, o prazo prescricional tem início na data da invalidez (e não na data do laudo).

É o caso, por exemplo, de um acidente no qual a vítima teve amputada suas duas pernas.

(11)

Resumindo:

 Prazo para a ação de indenização DPVAT: 3 anos.

 Início do prazo em caso de invalidez permanente: data do laudo médico (regra geral).

 Início do prazo em caso de invalidez permanente notória: data da invalidez.

ALIMENTOS

Possibilidade de adjudicação dos direitos hereditários do alimentante para pagamento de pensão alimentícia

É possível a adjudicação em favor do alimentado dos direitos hereditários do alimentante, penhorados no rosto dos autos do inventário, desde que observado os interesses dos demais herdeiros, nos termos dos arts. 1.793 a 1.795 do CC.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.330.165-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/5/2014 (Info 544).

ADJUDICAÇÃO

Antes de explicar o julgado, vamos relembrar em que consiste a chamada “adjudicação”.

O que acontece com o bem penhorado?

Se o bem penhorado for dinheiro, ele é transferido ao credor, quitando-se a obrigação.

Se o bem penhorado for coisa diferente de dinheiro, ele poderá ser:

a) adjudicado;

b) alienado por iniciativa particular;

c) alienado em hasta pública;

d) concedido em usufruto ao exequente.

Quando acontece uma dessas quatro situações acima, dizemos que houve a “expropriação”, conforme previsto no art. 647 do CPC:

Art. 647. A expropriação consiste:

I - na adjudicação em favor do exequente ou das pessoas indicadas no § 2º do art. 685-A desta Lei;

II - na alienação por iniciativa particular;

III - na alienação em hasta pública;

IV - no usufruto de bem móvel ou imóvel.

Vamos ver apenas a primeira hipótese: adjudicação (inciso I)

A adjudicação ocorre quando a propriedade do bem penhorado é transferida ao exequente ou aos terceiros legitimados.

Art. 685-A. É lícito ao exequente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requerer lhe sejam adjudicados os bens penhorados.

§ 1º Se o valor do crédito for inferior ao dos bens, o adjudicante depositará de imediato a diferença, ficando esta à disposição do executado; se superior, a execução prosseguirá pelo saldo remanescente.

§ 2º Idêntico direito pode ser exercido pelo credor com garantia real, pelos credores concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem, pelo cônjuge, pelos descendentes ou ascendentes do executado.

§ 3º Havendo mais de um pretendente, proceder-se-á entre eles à licitação; em igualdade de oferta, terá preferência o cônjuge, descendente ou ascendente, nessa ordem.

(...)

(12)

DIREITOS HEREDITÁRIOS

Qual é a natureza jurídica dos direitos hereditários?

São considerados bens imóveis (art. 80, II do CC):

Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:

II - o direito à sucessão aberta.

Os direitos hereditários podem ser penhorados?

SIM, desde que tenham cunho patrimonial (STJ. 3ª Turma. REsp 1105951/RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 04/10/2011).

Ex: O pai de João morre e deixa um carro para ele e seu irmão. João possui dívidas de pensão alimentícia.

O alimentado (credor) poderá requerer ao juiz que determine a penhora, no rosto dos autos do inventário, dos direitos hereditários que João (alimentante/devedor) possui sobre o carro.

Após os direitos hereditários terem sido penhorados, o alimentado (credor) poderá pedir a adjudicação?

SIM. É possível a adjudicação em favor do alimentado dos direitos hereditários do alimentante, penhorados no rosto dos autos do inventário, desde que observado os interesses dos demais herdeiros, nos termos dos arts. 1.793 a 1.795 do CC.

O devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei (art. 591 do CPC).

Desde a abertura da sucessão, ou seja, desde a morte do falecido, a herança por ele deixada transfere-se automaticamente ao patrimônio dos herdeiros como bem imóvel indivisível.

A adjudicação de bem imóvel é uma técnica legítima de pagamento prevista expressamente no CPC, conforme vimos acima.

Logo, conclui-se que os direitos hereditários do alimentante podem ser adjudicados para a satisfação de crédito alimentar, nos termos do art. 685-A do CPC, desde que sejam, obviamente, respeitados os direitos dos demais herdeiros sobre o bem.

DIREITO DO CONSUMIDOR

RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO

Dano moral decorrente de carro 0km que apresentou inúmeros problemas

É cabível dano moral quando o consumidor de veículo automotor zero quilômetro necessita retornar à concessionária por diversas vezes para reparar defeitos apresentados no veículo adquirido.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.443.268-DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 3/6/2014 (Info 544).

RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO

Veículo importado que não poderia ser abastecido com combustível nacional

O consumidor tem direito à indenização por danos morais e materiais pelo fato de ter adquirido no mercado nacional um veículo 0km que apresentou inúmeros problemas obrigando o adquirente a retornar à concessionária, recorrentemente por mais de 30 dias, para sanar panes decorrentes da incompatibilidade, não informada no momento da compra, entre a qualidade do combustível necessário ao adequado funcionamento do veículo e a do combustível disponibilizado nos postos nacionais.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.443.268-DF, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 3/6/2014 (Info 544).

(13)

Imagine a seguinte situação adaptada:

Em 2010, João comprou, na concessionária, uma picape off road importada 0km.

Alguns dias depois, João abasteceu o veículo em sua fazenda com diesel de baixa qualidade, recomendado apenas para uso no meio rural.

O carro começou a apresentar inúmeros problemas, obrigando o comprador a ter que ir até a concessionária inúmeras vezes sem conseguir resolver a situação.

Verificou-se, posteriormente, por meio de perícia, que o veículo vendido exigia, para seu perfeito funcionamento, o uso de um tipo de combustível que ainda não era comercializado no Brasil em 2010.

João ajuizou ação de indenização pedindo a restituição do valor pago e compensação pelos danos morais sofridos.

O STJ concordou com o pedido do consumidor?

SIM. O consumidor tem direito à indenização por danos morais e materiais pelo fato de ter adquirido no mercado nacional um veículo 0km que apresentou inúmeros problemas obrigando o adquirente a retornar à concessionária, recorrentemente por mais de 30 dias, para sanar panes decorrentes da incompatibilidade, não informada no momento da compra, entre a qualidade do combustível necessário ao adequado funcionamento do veículo e a do combustível disponibilizado nos postos nacionais.

Segundo o STJ, houve, no caso, vício do produto (art. 18 do CDC).

O vício do produto ocorre quando o produto não se mostra adequado ao fim a que se destina, incompatível com o uso a que se propõe.

Se o veículo não podia ser abastecido com os combustíveis vendidos no Brasil, esse automóvel se torna impróprio ao consumo a que se destina (art. 18 do CDC).

Vale ressaltar que o fato de o consumidor ter abastecido o veículo com combustível de baixa qualidade recomendado para a utilização em meio rural não isenta a empresa do dever de indenizar. Isso porque o veículo em questão foi projetado para uso off-road. Portanto, é de se admitir que houvesse uma razoável expectativa do consumidor de que habitualmente, ou ao menos eventualmente, ele iria ter que abastecer o veículo com os combustíveis disponíveis em meio rural. Isso corresponde, afinal, ao uso normal que se pode fazer do produto adquirido, dada a sua natureza e finalidade.

Assim, é de admitir que o consumidor deveria ter sido, pelo menos, informado de forma adequada, no

momento da compra, que o veículo não poderia ser abastecido com combustível recomendado para a

utilização em meio rural. Essa era uma informação que poderia interferir decisivamente na opção de

compra do bem e não poderia, por isso, ser omitida, sob pena de ofensa ao dever de ampla informação.

(14)

DIREITO AMBIENTAL

RESPONSABILIDADE POR DANO AMBIENTAL

Responsabilidade por dano ambiental é objetiva, sob a modalidade do risco integral

Importante!!!

O particular que deposita resíduos tóxicos em seu terreno, expondo-os a céu aberto, em local onde, apesar da existência de cerca e de placas de sinalização informando a presença de material orgânico, o acesso de outros particulares seja fácil, consentido e costumeiro, responde objetivamente pelos danos sofridos por pessoa que, por conduta não dolosa, tenha sofrido, ao entrar na propriedade, graves queimaduras decorrentes de contato com os resíduos.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.373.788-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 6/5/2014 (Info 544).

Imagine a seguinte situação adaptada:

A indústria “X” possuía um terreno que era utilizado como depósito de resíduos tóxicos.

Esses restos de material industrial ficavam expostos a céu aberto e o terreno possuía uma cerca, mas não havia fiscalização rigorosa impedindo que pessoas entrassem no local.

Determinado dia um garoto de 12 anos que morava em uma chácara nas proximidades, cortou caminho para sua casa passando por dentro do terreno. Ao entrar em contato com o material tóxico, o adolescente sofreu queimaduras de terceiro grau nos pés.

O adolescente ajuizou ação de indenização por danos morais e materiais contra a indústria.

A ré, na contestação, argumentou que a culpa foi exclusiva da vítima já que no local havia cerca e uma placa com os seguintes dizeres: “Cuidado. Presença de material orgânico”.

A indústria deverá ser condenada a indenizar o garoto?

SIM. Aplica-se no presente caso o princípio do poluidor-pagador, de forma que a indústria tem responsabilidade civil objetiva, sob a modalidade do risco integral.

Podemos falar no princípio do poluidor-pagador mesmo o dano sendo causado a uma pessoa?

SIM. A responsabilidade civil por danos ambientais, seja por lesão ao meio ambiente propriamente dito (dano ambiental público), seja por ofensa a direitos individuais (dano ambiental privado), é objetiva, fundada na teoria do risco integral, em face do disposto no art. 14, § 1º, da Lei 6.938/1981, que consagra o princípio do poluidor-pagador:

Art. 14 (...) § 1º Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

Risco social

A responsabilidade objetiva fundamenta-se na noção de risco social, que está implícito em determinadas atividades, como a indústria, os meios de transporte de massa, as fontes de energia.

Assim, a responsabilidade objetiva, calcada na teoria do risco, é uma imputação atribuída por lei a determinadas pessoas para ressarcirem os danos provocados por atividades exercidas no seu interesse e sob seu controle, sem que se proceda a qualquer indagação sobre o elemento subjetivo da conduta do agente ou de seus prepostos, bastando a relação de causalidade entre o dano sofrido pela vítima e a situação de risco criada pelo agente.

Imputa-se objetivamente a obrigação de indenizar a quem conhece e domina a fonte de origem do risco,

devendo, em face do interesse social, responder pelas consequências lesivas da sua atividade

independente de culpa.

(15)

Qual é o fundamento legal para a teoria do risco?

A teoria do risco como cláusula geral de responsabilidade civil restou consagrada no enunciado normativo do parágrafo único do art. 927 do CC, que assim dispôs:

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

No caso de dano ambiental aplica-se a teoria do risco de forma extremada?

SIM. No caso de danos ambientais, aplica-se a teoria do risco INTEGRAL.

A teoria do risco INTEGRAL constitui uma MODALIDADE EXTREMADA da teoria do risco em que o nexo causal é fortalecido. Assim, o nexo causal não se rompe mesmo que se verifique alguma causa que normalmente seria excludente da responsabilidade (exs: culpa da vítima; fato de terceiro, força maior).

Essa modalidade (risco integral) é EXCEPCIONAL, sendo fundamento para hipóteses legais em que o risco ensejado pela atividade econômica também é extremado, como ocorre com o dano nuclear (art. 21, XXIII,

“c”, da CF e Lei 6.453/1977). O mesmo ocorre com o dano ambiental (art. 225, caput e § 3º, da CF e art.

14, § 1º, da Lei 6.938/1981), em face da crescente preocupação com o meio ambiente.

A indústria proprietária do terreno poderia alegar a culpa exclusiva da vítima?

NÃO. Em caso de dano ambiental, a responsabilidade civil é objetiva, na modalidade do risco integral, de forma que não são admitidas excludentes de responsabilidade, tais como o caso fortuito, a força maior, fato de terceiro ou culpa exclusiva da vítima.

Assim, a colocação de placas no local indicando a presença de material orgânico não é suficiente para excluir a responsabilidade civil da indústria.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

PROCESSO ELETRÔNICO

Ilegalidade da Resolução do Tribunal que imponha à parte o dever de digitalização do processo

NÃO é possível que o tribunal local imponha, por meio de resolução, que será de responsabilidade do autor a digitalização dos autos físicos para continuidade da tramitação do processo em meio eletrônico.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.448.424-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/5/2014 (Info 544).

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região editou a Resolução n. 17/2010 determinando que, nos processo eletrônicos que tramitassem perante a Justiça Federal da 4ª Região, a parte autora teria o dever de providenciar a digitalização e guarda documentos físicos. Confira a redação da Resolução nesse ponto:

Art. 17 (...) § 2º No juízo competente, a parte autora será intimada para retirar os autos físicos em 30 (trinta) dias, e providenciar a digitalização, ficando responsável pela guarda dos documentos.

Essa determinação foi questionada, sob o argumento de que teria violado a Lei nº 11.419/2006, que trata sobre o processo eletrônico.

O § 2º do art. 17 da Resolução n. 17/2010 é válido?

NÃO. Não pode um ato infralegal (resolução de Tribunal) impor à parte autora o dever de providenciar a

digitalização das peças dos autos, tampouco o dever de guarda pessoal de alguns dos documentos físicos

do processo, ainda que os autos sejam provenientes de outro juízo ou instância.

(16)

Veja o que diz a Lei n. 11.419/2006:

Art. 12. (...)

§ 5º A digitalização de autos em mídia não digital, em tramitação ou já arquivados, será precedida de publicação de editais de intimações ou da intimação pessoal das partes e de seus procuradores, para que, no prazo preclusivo de 30 (trinta) dias, se manifestem sobre o desejo de manterem pessoalmente a guarda de algum dos documentos originais.

O art. 18 da Lei nº 11.419/2006 autorizou que os órgãos do Poder Judiciário regulamentassem a Lei n.  11.419/2006 no âmbito de suas respectivas competências.

No entanto, a circunstância de o referido art. 18 da Lei delegar em favor do Judiciário o poder de regulamentá-la não autoriza que o ato infralegal crie obrigações não previstas na lei (que em momento algum impõe à parte autora o dever de providenciar a digitalização dos autos remetidos por outro juízo e de conservar em sua guarda as peças originais).

Vale ressaltar que se trata de mudança no entendimento da 2ª Turma do STJ que, no REsp 1.448.424-RS, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/5/2014 (Info 524), havia se posicionado em sentido contrário, ou seja, considerando válida a resolução.

EXECUÇÃO

Bens do devedor solidário não podem responder pela execução se ele não constou no título executivo

Os bens de terceiro que, além de não estar incluído no rol do art. 592 do CPC, não tenha figurado no polo passivo de ação de cobrança não podem ser atingidos por medida cautelar incidental de arresto, tampouco por futura execução, sob a alegação de existência de solidariedade passiva na relação de direito material.

Em outras palavras, se o credor tinha dois devedores solidários, mas somente ajuizou ação de cobrança contra um deles, não poderá executar os bens dos dois.

A responsabilidade solidária precisa ser declarada em processo de conhecimento, sob pena de tornar-se impossível a execução do devedor solidário, ressalvados os casos previstos no art.

592 do CPC.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.423.083-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 6/5/2014 (Info 544).

Imagine a seguinte situação hipotética:

As empresas “X” e “Y” deviam 500 mil reais para João por conta de um mesmo fato que teve origem comum.

Podemos dizer, portanto, que “X” e “Y” são devedoras solidárias de João.

A solidariedade passiva está prevista no art. 275 do Código Civil:

Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.

Em nosso exemplo, João ajuizou ação de cobrança apenas contra “X”.

Isso significa que renunciou ao direito de cobrar “Y”?

NÃO. O parágrafo único do art. 275 explica isso:

(17)

Art. 275 (...)

Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores.

O juiz proferiu sentença determinando que a empresa “X” pagasse os 500 mil reais cobrados.

Como não houve pagamento espontâneo, João deu início à fase de cumprimento de sentença.

Apesar disso, não foram localizados bens em nome da empresa “X” para pagar o débito.

Nesse caso, é possível que o juiz penhore ou arreste bens da empresa “Y”?

NÃO. Os bens de pessoa que não tenha figurado no polo passivo de ação de cobrança não podem ser atingidos por penhora ou por medida cautelar de arresto, sob a alegação de existência de solidariedade passiva na relação de direito material.

Conforme vimos acima, o art. 275 do CC afirma é faculdade do credor escolher contra qual ou quais devedores direcionará a cobrança da dívida comum, sendo certo que a propositura da ação de conhecimento contra um deles não implica a renúncia à solidariedade dos remanescentes, que permanecem obrigados ao pagamento da dívida. Ressalte-se, no entanto, que essa norma é de direito material, restringindo-se sua aplicação ao momento de formação do processo cognitivo (fase de conhecimento), quando, então, o credor pode incluir no polo passivo da demanda todos, alguns ou um específico devedor.

A sentença somente terá eficácia em relação às pessoas que foram demandados, não alcançando aqueles que não participaram da relação jurídica processual. Estes serão considerados “terceiros”. Sobre o tema, veja o art. 472 do CPC:

Art. 472. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros. Nas causas relativas ao estado de pessoa, se houverem sido citados no processo, em litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença produz coisa julgada em relação a terceiros.

O CPC é expresso ao dizer que o sujeito passivo na execução é o “o devedor, reconhecido como tal no título executivo” (art. 568, I, o CPC).

O STJ, como não poderia ser diferente, também decide dessa maneira:

(...) 2. Aquele que não integrou a relação processual da qual decorreu o título executivo judicial não pode ser atingido pela decisão judicial e figurar como executado. (...)

STJ. 3ª Turma. REsp 1169968⁄RS, Rel. Min. João Otávio De Noronha, julgado em 12⁄11⁄2013.

Em conclusão, a responsabilidade solidária precisa ser declarada em processo de conhecimento, sob pena de tornar-se impossível a execução do devedor solidário, ressalvados os casos previstos no art. 592 do CPC, que prevê a possibilidade de excussão de bem de terceiro estranho à relação processual. Confira o que diz esse dispositivo:

Art. 592. Ficam sujeitos à execução os bens:

I - do sucessor a título singular, tratando-se de execução fundada em direito real ou obrigação reipersecutória;

II - do sócio, nos termos da lei;

III - do devedor, quando em poder de terceiros;

IV - do cônjuge, nos casos em que os seus bens próprios, reservados ou de sua meação respondem pela dívida;

V - alienados ou gravados com ônus real em fraude de execução.

(18)

Desse modo, o art. 592 do CPC traz exceções nas quais a execução pode recair sobre bens de terceiros.

Ocorre que, dentre esses cinco incisos acima listados, não se inclui a possibilidade de executar bens de devedor solidário que não tenha figurado no título executivo.

Ante o exposto, não é possível, em virtude de alegação quanto à eventual existência de solidariedade passiva na relação de direito material, atingir bens de terceiro estranho ao processo de cognição e que não esteja incluído no rol do art. 592 do CPC.

Aplica-se aqui, por analogia, o mesmo entendimento contido na Súmula 268 do STJ:

Sumula 268-STJ: O fiador que não integrou a relação processual na ação de despejo não responde pela execução do julgado.

EXECUÇÃO FISCAL

Reunião de execuções fiscais propostas contra o mesmo devedor

Súmula 515-STJ: A reunião de execuções fiscais contra o mesmo devedor constitui faculdade do juiz.

STJ. 1ª Seção. Aprovada em 14/08/2014.

Múltiplas execuções fiscais contra o mesmo devedor

Imagine que a Fazenda Pública possui inúmeras execuções fiscais propostas contra um mesmo devedor.

Ex: a União propôs 20 execuções fiscais cobrando tributos diversos da empresa “XYZ”.

Existe a possibilidade de essas execuções fiscais serem reunidas para tramitarem e serem julgadas em conjunto?

SIM. Trata-se de possibilidade expressamente prevista na Lei n. 6.830/80 (Lei de Execução Fiscal):

Art. 28. O Juiz, a requerimento das partes, poderá, por conveniência da unidade da garantia da execução, ordenar a reunião de processos contra o mesmo devedor.

Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, os processos serão redistribuídos ao Juízo da primeira distribuição.

Na prática forense, surgiu a tese de que, apesar de o art. 28 acima transcrito, dizer que o juiz “poderá”

ordenar a reunião, na verdade, deve-se interpretar o dispositivo como sendo “deverá”. Isso porque a cumulação das execuções atende aos princípios da economia e da celeridade processual.

A tese acima exposta foi acolhida pelo STJ? O juiz tem o dever de reunir as execuções fiscais propostas contra o mesmo devedor? É obrigatório que o magistrado atenda o requerimento das partes nesse sentido?

NÃO. Ainda que existam várias execuções fiscais propostas contra o mesmo devedor e mesmo que a parte requeira a reunião dos processos, a decisão de reuni-los ou não é uma faculdade do juiz. Logo, ele não é obrigado a atender o requerimento da parte.

Assim, a reunião de processos contra o mesmo devedor, por conveniência da unidade da garantia da execução, nos termos do art. 28 da Lei 6.830/80, é uma faculdade outorgada ao juiz, e não um dever.

O entendimento do STJ é correto uma vez que existem hipóteses em que é inadequada a reunião dos processos considerando que essa medida não traria economia ou celeridade à tramitação. É o caso, por exemplo, de uma das execuções já estar suspensa pela oposição de embargos enquanto que a outra já se encontra em fase bem avançada, com leilão marcado. Nesse sentido: GONÇALVES, Eduardo Rauber.

Execução fiscal aplicada. 2ª ed., Salvador: Juspodivm, 2013, p. 79.

(19)

EXECUÇÃO FISCAL

Remessa necessária no caso de sentença que julga procedente exceção de pré-executividade Caso o juiz julgue procedente a exceção de pré-executividade e extinga a execução fiscal será obrigatória, em regra, a remessa necessária, aplicando-se por analogia o art. 475, II, do CPC.

Se o executado apresenta exceção de pré-executividade e a Fazenda Pública, ao ser intimada, concorda com o argumento do excipiente, o juiz irá extinguir a execução. Nesse caso, a jurisprudência entende que não haverá reexame necessário porque o Poder Público anuiu.

Se a execução fiscal for extinta porque o Fisco cancelou a inscrição de dívida ativa que lastreava a execução também não haverá reexame necessário porque a própria Fazenda Pública reconheceu que não havia título executivo.

No caso concreto julgado pelo STJ, afirmou-se que não se sujeita ao reexame necessário, ainda que a Fazenda Pública tenha sido condenada a pagar honorários advocatícios, a sentença que extinguiu execução fiscal em razão do acolhimento de exceção de pré-executividade pela qual se demonstrara o cancelamento, pelo Fisco, da inscrição em dívida ativa que lastreava a execução.

STJ. 2ª Turma. REsp 1.415.603-CE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 22/5/2014 (Info 544).

É cabível remessa necessária no caso de sentença que julga procedentes embargos à execução opostos pelo executado em execução fiscal?

SIM. Essa hipótese está prevista no art. 475, II, do CPC:

Art. 475. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal, a sentença:

(...)

II – que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução de dívida ativa da Fazenda Pública (art. 585, VI).

É cabível remessa necessária no caso de sentença que julga procedente exceção de pré-executividade oposta pelo executado em execução fiscal?

SIM. O art. 475 do CPC não prevê essa hipótese. No entanto, a jurisprudência admite a remessa necessária nesse caso porque a exceção de pré-executividade não é um instituto disciplinado pela legislação, sendo uma criação jurisprudencial aceita como uma substituta dos embargos à execução. Logo, deve-se conferir a ela a mesma imposição da remessa necessária prevista para os embargos à execução, sob pena de a escolha da exceção de pré-executividade ser uma forma de se burlar o art. 475, II, do CPC.

Em suma, caso o juiz julgue procedente a exceção de pré-executividade e extinga a execução fiscal será obrigatória, em regra, a remessa necessária.

Se o executado apresenta exceção de pré-executividade e a Fazenda Pública, ao ser intimada, concorda com o argumento do excipiente, o juiz irá extinguir a execução. Nesse caso, também haverá reexame necessário?

NÃO. A jurisprudência entende que, se a Fazenda anuiu (concordou) com o pedido feito na exceção de pré-executividade e, com isso, o juiz extinguiu a execução, não haverá reexame necessário.

Não há reexame necessário na sentença que extingue execução baseada no cancelamento da CDA A petição inicial da execução fiscal deve ser instruída com a Certidão da Dívida Ativa (CDA).

A CDA é um título executivo extrajudicial no qual consta o nome da pessoa que está devendo para o Fisco

e o valor do débito, além de outras informações.

(20)

Imagine que a Fazenda Pública ajuizou uma execução. O devedor apresentou exceção de pré- executividade alegando que aquela CDA não é válida por qualquer motivo. O Fisco concorda com o pedido e cancela a CDA. Em virtude disso, o juiz julga procedente a exceção de pré-executividade e extingue a execução fiscal nos termos do art. 26 da Lei n.  6.830/80:

Art. 26. Se, antes da decisão de primeira instância, a inscrição de Divida Ativa for, a qualquer título, cancelada, a execução fiscal será extinta, sem qualquer ônus para as partes.

Nesse caso, não haverá reexame necessário mesmo que a Fazenda Pública seja condenada a pagar honorários advocatícios ao executado/excipiente.

DIREITO PENAL

ESTATUTO DO DESARMAMENTO (LEI 10.826/2003) Porte ou posse de arma de fogo quebrada

Para que haja condenação pelo crime de posse ou porte NÃO é necessário que a arma de fogo tenha sido apreendida e periciada. Assim, é irrelevante a realização de exame pericial para a comprovação da potencialidade lesiva do artefato. Isso porque os crimes previstos no arts. 12, 14 e 16 da Lei 10.826/2003 são de perigo abstrato, cujo objeto jurídico imediato é a segurança coletiva.

No entanto, se a perícia for realizada na arma e o laudo constatar que a arma não tem nenhuma condição de efetuar disparos não haverá crime. Para o STJ, no julgado noticiado neste Informativo, não está caracterizado o crime de porte ilegal de arma de fogo quando o instrumento apreendido sequer pode ser enquadrado no conceito técnico de arma de fogo, por estar quebrado e, de acordo com laudo pericial, totalmente inapto para realizar disparos.

STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 397.473-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/8/2014 (Info 544).

O porte de arma de fogo desmuniciada configura crime?

SIM. O porte de arma de fogo (art. 14, Lei 10.826/03) configura crime, mesmo que esteja desmuniciada.

Trata-se de posição, atualmente, pacífica tanto no STF como no STJ.

Para a jurisprudência, o simples porte de arma, munição ou acessório de uso permitido - sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar - configura o crime previsto no art. 14 da Lei n.

10.826/2003, por ser delito de perigo abstrato, de forma a ser irrelevante o fato de a arma apreendida estar desacompanhada de munição, porquanto o bem jurídico tutelado é a segurança pública e a paz social.

STJ. 3ª Seção. AgRg nos EAREsp 260.556/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/03/2014.

STF. 2ª Turma. HC 95073/MS, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 19/3/2013 (Info 699).

O posse ou porte apenas da munição configura crime?

SIM. A posse ou o porte apenas da munição (ou seja, desacompanhada da arma) configura crime. Isso porque tal conduta consiste em crime de perigo abstrato, para cuja caracterização não importa o resultado concreto da ação.

O objetivo do legislador foi o de antecipar a punição de fatos que apresentam potencial lesivo à população, prevenindo a prática de crimes.

STF. 2ª Turma. HC 119154, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 26/11/2013.

STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1442152/MG, Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 07/08/2014.

Referências

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