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A GINÁSTICA NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR

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Academic year: 2022

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A GINÁSTICA NA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR

Amanda Bertola de Ávila. (Universidade Estadual de Londrina).

Ana Maria Pereira. (Universidade Estadual de Londrina).

Marilene Cesário. (Universidade Estadual de Londrina).

RESUMO

A pesquisa analisou o conhecimento da Ginástica na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O referido documento apresenta um conjunto de recomendações para as equipes pedagógicas da Educação Básica, que pode ser considerado no processo de elaboração e de organização dos currículos escolares. A Educação Física é apresentada na BNCC, tendo em vista a formação humana dos estudantes, as práticas corporais possibilitam novas formas de se expressar e se manifestar no mundo. Para responder à questão de pesquisa, como a Ginástica é concebida na BNCC, elegeu-se como objetivo geral analisar a presença da Ginástica enquanto Linguagem na BNCC, e, objetivos específicos identificar as suas potencialidades e as suas fragilidades no documento e, ainda, apresentar premissas para a organização dos conteúdos da Ginástica, considerando o contexto da Educação Física na escola.

Valendo-se da pesquisa documental, utilizou-se da BNCC, com abordagem qualitativa, tendo como foco a Ginástica como parte da área de Linguagens no documento. Em síntese, conclui-se que a Ginástica na BNCC poderia estar mais detalhada e consistente, do modo como foi sugerida os conteúdos estão reduzidos. A área da Ginástica é ampla, não podendo focar apenas na prática do movimento e abreviá-la somente a três eixos: Ginástica Geral, Ginástica de Condicionamento Físico e Ginástica de Conscientização Corporal.

Palavras-chave: Ginástica, Base Nacional Comum Curricular, Educação Física.

1- INTRODUÇÃO

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é composta por um conjunto de aprendizagens essenciais a serem aprendidos ao longo das etapas na Educação Básica, objetivando que todos estudantes tenham as mesmas oportunidades de aprendizagens. O referido material

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é essencial para garantir uma aprendizagem

1A BNCC é um documento normativo que define o conjunto de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo da Educação Básica, de modo a que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em conformidade com o Plano Nacional de Educação (PNE). Documento aplicado à educação escolar, tal como a define o § 1° do Artigo 1° da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei no 9.394/1996)1, e está orientado pelos princípios éticos, políticos e estéticos que visam à formação humana integral e à construção de uma sociedade

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comum a todos estudantes, composta por dez competências gerais

2

. Competência, no documento, é definida como estímulo de conhecimentos, habilidades e valores sociais, tendo em vista uma educação que contribui para sociedade melhor.

A Base é um conjunto de indicações para as equipes docentes e pedagógicas, que deve ser analisada no momento de elaboração dos currículos, analisando o local, levando em conta a real vivência de sua região. Destaca-se no documento a construção de valores, evidenciando os conteúdos sugeridos para serem estudados em cada ano escolar, fornecendo a possibilidade de que, independentemente do local ou região em que a criança se encontra, tenha acesso ao conhecimento à sua determinada série.

Como parte do componente curricular na BNCC, a Educação Física é associada à área de Linguagens, tendo as práticas corporais como forma de leitura e produção, isto é, a expressividade do sujeito. Há maior ênfase em práticas corporais de diferentes formas e significados sociais, oferecendo uma variabilidade enriquecedora à experiência das pessoas na Educação Básica, proporcionando a visão de um universo cultural das atividades motoras. É necessário que as práticas corporais forneçam aos alunos oportunidades de integrar-se de forma autônoma na sociedade na qual se inserem. Conforme podemos observar,

Ressalta-se que as práticas corporais na escola devem ser reconstruídas com base em sua função social e suas possibilidades materiais. Isso significa dizer que as mesmas podem ser transformadas no interior da escola. (BRASIL, 2017, p. 217).

No documento é possível perceber que a Educação Física enquanto componente curricular situado no eixo de linguagens, tem como destaque o desenvolvimento físico e social de crianças e adolescentes, visto que cada prática corporal possibilita ao sujeito novas formas de se expressar. Diante do exposto, tivemos a seguinte questão de pesquisa: Como a Ginástica foi concebida na BNCC?

justa, democrática e inclusiva, como fundamentado nas Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (DCN). (BRASIL, 2017, p.7)

2Valorizar e utilizar os conhecimentos sobre o mundo físico, social, cultural e digital; Exercitar as diversas manifestações artísticas e culturais; Valorizar as diversas manifestações artísticas e culturais;

Utilizar diferentes linguagens; Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de forma crítica, significativa e ética; Valorizar e apropriar-se de conhecimentos e experiências; Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis; Conhecer-se, compreender-se na diversidade humana e apreciar-se; Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação; Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação. (BRASIL, 2017, p. 9)

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Para responder à questão de pesquisa, como a Ginástica é concebida na BNCC, elegeu-se como objetivo geral analisar a presença da Ginástica enquanto Linguagem na BNCC, os objetivos específicos foram identificar as suas potencialidades e as suas fragilidades no documento e apresentar premissas para a organização dos conteúdos da Ginástica, considerando o contexto da Educação Física na escola. O interesse pelo temática Ginástica, se intensificou no transcorrer da graduação, por meio das experiências encontradas nas disciplinas ministradas no curso de Educação Física/Licenciatura: Teoria Geral da Ginástica (6EMH029), Teoria e Metodologia da Ginástica (6EMH055) e Ginástica e Educação (6EMH041), e a investigação realizada possibilita contribuições para o ensino da Ginástica no âmbito da Escola e da Universidade.

2- METODOLOGIA

Para a elaboração desta pesquisa, a metodologia utilizada foi a pesquisa documental, tendo como referência a BNCC, com a abordagem qualitativa, analisando a Ginástica como parte da área de Linguagens neste material. Gil (2002), define a pesquisa documental, como:

A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica.

A diferença essencial entre ambas está na natureza das fontes.

Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa. (p. 45).

A pesquisa documental é realizada em um documento já concretizado, neste caso, a BNCC (2017) com referência em todo o país, que tem em seus princípios aprendizagens essenciais/conhecimentos, oferecidos ao longo das etapas na Educação Básica. O referencial teórico da pesquisa estendeu-se também aos artigos que contemplam a BNCC, a Ginástica e a Educação Física, analisando as principais informações para que resultem nos objetivos buscados.

3. OS RESULTADOS DA INEVESTIGAÇÃO: DISCIPLINA EDUCAÇÃO FÍSICA E OS SABERES DA GINÁSTICA NA BNCC

No documento da BNCC, o eixo de “Linguagens e suas tecnologias” é

composto por Língua Portuguesa, Artes, Educação Física e Língua Inglesa (nos anos

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finais do Fundamental), com o intuito de manifestar nos alunos o pleno conhecimento sobre a diversidade de linguagens, aumentando as suas maneiras de manifestações expressivas. Aos anos iniciais, o documento prevê o básico para o ensino, como a leitura e a escrita. Em seguida, nos anos finais do Fundamental, são introduzidos a Língua Inglesa e o aprofundamento da linguagem artística e corporal. Já no Ensino Médio, o eixo tem como competência, fornecer aos estudantes o aumento do conhecimento e a reflexão sobre as diferentes linguagens apresentadas.

A Educação Física é o componente curricular relacionado às práticas corporais, localizado no eixo de Linguagens, juntamente com a língua portuguesa, língua estrangeira, artes e literatura. No documento, a Educação Física é composta por seis unidades temáticas, para o Ensino Fundamental, sendo elas: Brincadeiras e jogos, Esportes, Ginásticas, Danças, Lutas e Práticas corporais de aventura. Já para o Ensino Médio, a Educação Física aborda a Ginástica de condicionamento físico ou de consciência corporal, Esporte e Luta.

Na temática da Ginástica, há uma subdivisão para a classificação. A primeira delas é a Ginástica Geral, considerada e atualizada como Ginástica para Todos, isto é, todas pessoas podem praticar. O principal objetivo é utilizar possibilidades expressivas no movimento, havendo interação social, no âmbito escolar além de desenvolver o modo de se comunicar, ressaltando os valores sociais. Em seguida, as Ginásticas de Condicionamento Físico visam o rendimento, melhorar a força, potência e resistência muscular, caracterizada por estar organizada em movimentos repetitivos e intensos. E, por fim, a Ginástica de Conscientização Corporal é composta por movimentos leves e lentos, com objetivo de uma melhoria na percepção corporal, solucionando problemas físicos e posturais, além de tudo há um aperfeiçoamento físico e mental. Deste modo, a Ginástica, fornece, além de toda a conscientização corporal, aperfeiçoamento de movimentos e promove também a compreensão de valores.

No documento BNCC (2017, p. 217), nota-se que “Em Ginásticas, a

organização dos objetos de conhecimento ocorre com base na diversidade dessas

práticas e nas suas características”. Enquanto conteúdo da Educação Física a

Ginástica aparece no Ensino Fundamental e no Ensino Médio (2017), favorecendo

aos alunos a compreensão dos saberes relacionados às práticas corporais,

relacionando com a cultura presente nos diversos campos de atividade humana. Com

relação ao Ensino Fundamental, a Educação Física tem o papel de proporcionar aos

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estudantes momentos de contemplação e produção de Brincadeiras, Jogos, Danças, Ginásticas, Esportes, Lutas e Práticas Corporais de Aventura. Para o Ensino Médio, o objetivo foi aprofundar o trabalho realizado no Ensino Fundamental, oferecendo novas formas para que os estudantes entendam as relações entre as representações e os saberes das práticas corporais, associando com cultura e as diversas atividades humanas. Vale ressaltar o seguinte trecho do documento:

[...] os jovens intensificam o conhecimento sobre seus sentimentos, interesses, capacidades intelectuais e expressivas; ampliam e aprofundam vínculos sociais e afetivos; e refletem sobre a vida e o trabalho que gostariam de ter. Encontram-se diante de questionamentos sobre si próprios e seus projetos de vida, vivendo juventudes marcadas por contextos socioculturais diversos. (BRASIL, 2018, p. 481).

Na BNCC a Ginástica é compreendida como linguagem, composta por diferentes movimentos, construídos por meio das vivências pessoais com a cultura corporal do movimento, contribuindo para os estudantes assimilar as atribuições das práticas corporais em suas vidas e na sociedade.

3.1 SOBRE A GINÁSTICA NA BNCC: POTENCIALIDADES E FRAGILIDADES A partir do entendimento da Ginástica na BNCC, observar-se por meio da investigação realizada: a) como potencialidade a presença da Ginástica entre os conteúdos a serem ensinados e a experiência gímnica como fenômeno cultural, e b) como fragilidade a carência de objetivos definidos, a ausência de orientações didático- metodológicos, e também, a ausência de muitos conteúdos gímnicos. Nas linhas abaixo, esses aspectos serão apresentados conjuntamente e fundamentados tendo como base a BNCC e o referencial teórico adotado.

- A presença da Ginástica entre os conteúdos a serem ensinados:

Defendemos a Ginástica como um saber/conhecimento a ser ensinado e, também, a ser vivenciado/praticado, numa autêntica relação de práxis (teoria enlaçada na prática), mas, nem sempre é o que realmente acontece nas aulas de Educação Física, ainda nos dias atuais.

A partir da realidade observada nos campos de estágios no âmbito da escola,

infere-se que, ainda temos professores que ensinam apenas os conteúdos esportivos

ou simplesmente o famoso futsal, o chamado de “rola bola” (aula livre), sem a

preocupação com um conteúdo a ensinar e um objetivo a atingir. Observamos que a

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situação citada anteriormente ocorre em todos os níveis, seja na Educação Infantil, no Ensino Fundamental e Médio, na Educação Especial e na Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A BNCC contempla o conteúdo Ginástica, nas seis unidades temáticas para a Educação Física, ao lado das Brincadeiras e dos Jogos, dos Esportes, das Danças, das Lutas e das Práticas corporais de Aventura. É notável que tais conteúdos que compõem a Educação Física no documento constitui uma potencialidade, visto que expõe a importância de ensinar todas as práticas corporais aos alunos, de forma equilibrada, em diversos âmbitos, incluindo a Ginástica.

A BNCC (2018) supera a concepção das aulas de Educação Física ficarem centradas somente no Esporte, porque apresenta outros conhecimentos e vivências, sendo importante os seis conteúdos para a formação completa dos sujeitos.

Ao tratar particularmente da Ginástica, nota-se que no âmbito da escola há certa desvalorização da unidade Ginástica. Verifica-se que faltam conteúdos gímnicos a serem ensinados para os estudantes. Sugerimos que os responsáveis, nomeadamente, os professores de Educação Física, ao elaborarem o Plano Pedagógico das escolas, analisem o conhecimento indicado na BNCC e procurem ao organizar os conteúdos consultar em outros documentos, estudos e pesquisas. Há necessidade de olhar para BNCC com análise crítica, pois na nossa percepção o documento está incompleto e não garante os conhecimentos gímnicos de maneira completa e consubstanciada.

- A experiência gímnica como fenômeno cultural

A BNCC ressalta a importância das práticas corporais, que devem ser ensinadas como fenômeno cultural, dinâmico, diversificado, pluridimensional, singular e contraditório. Isto é, fazer com que o aluno entenda além do simples movimento, não limitado ao deslocamento corporal, mas sim engajado ao compreender sua cultura e contexto no todo.

É fundamental frisar que a Educação Física oferece uma série de possibilidades para enriquecer a experiência das crianças, jovens e adultos na Educação Básica, permitindo o acesso a um vasto universo cultural. Esse universo compreende saberes corporais, experiências estéticas, emotivas, lúdicas e agonistas, que se inscrevem, mas não se restringem, à racionalidade típica dos saberes científicos que, comumente, orienta as práticas pedagógicas na escola. (BRASIL, 2018, p. 213).

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Os conteúdos Ginásticos oferecem variabilidade de movimentos e combinações, sua mediação ocorre por meio de ações motoras. Destaca-se:

A ginástica é um conhecimento clássico da área, portanto a sua presença faz-se necessária no âmbito escolar, tendo como objetivo oferecer conhecimentos historicamente produzidos que contribuam com a educação formal dos estudantes. (PEREIRA; CESÁRIO; 2011, p. 638).

A Ginástica possibilita experiências motoras entrelaçadas com a cultura aos estudantes, na Educação Básica. Observa-se que, o exposto e indicado na BNCC converge com os pressupostos das Diretrizes Curriculares da Educação Básica (DCEs) do Estado do Paraná sobre a Ginástica,

Sua prática é necessária na medida em que a tradição histórica do mundo ginástico é uma oferta de ações com significado cultural para os praticantes, onde as novas formas de exercitação em confronto com as tradicionais possibilitam uma prática corporal que permite aos alunos darem sentido próprio às suas exercitações ginásticas.

(PARANÁ, 2008, p. 54).

Considerando o exposto acima, notou-se um ponto relevante da BNCC. Visto que trata das práticas abordadas nos conteúdos estruturantes, referindo-se ao modo de ensino em que os estudantes devem observar e compreender os movimentos em sua real complexidade.

- Carência de objetivos definidos

Outro aspecto a se destacar são os objetivos para a Educação Básica, centrados nas competências específicas e habilidades para o Ensino Fundamental, a fim de que o estudante tenha a garantia de seu desenvolvimento, e, para isto as propostas têm que sofrer mudanças no currículo, diante de sua realidade.

Quanto à Ginástica o conteúdo deve ser ensinado sob a perspectiva da concepção de humano inteiro e complexo, tornando o movimento além do físico:

É justamente o que propõe a Motricidade Humana, porque trata da totalidade humana, do indivíduo global inserido na sociedade, como sujeito agente e crítico, tendo como objetivo romper com a antiga e tradicional Educação Física, que tinha suas aulas atreladas ao físico, ao mero fazer, sem as reflexões/compreensões necessárias à sua prática. (OLIVEIRA; PEREIRA. p. 10).

Na BNCC, no que se refere à Ginástica não ficam claros os seus reais objetivos.

Segundo Pereira e Cesário, o objetivo da Ginástica é garantir aos estudantes o

domínio do saber que a humanidade acumulou sobre Ginástica, no que concerne à

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produção do conhecimento e às práticas. A Ginástica consiste em um amplo espaço de liberdade para experimentar as diferentes modalidades gímnicas e as próprias ações corporais, em que as formas de exercitações existentes dêem sentido às suas próprias movimentações.

- Ausência de orientações didático-metodológicos

Há alguns pontos nos quais o documento ao invés de ter evoluído referente aos documentos anteriores, regrediu, nomeando-se assim, como fragilidades.

Observa-se que a BNCC poderia orientar os professores sobre questões que se referem à intervenção didático-metodológico completa para a aula de Educação Física. O documento inicia explicando a disciplina da forma descrita abaixo:

A Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no decorrer da história. Nessa concepção, o movimento humano está sempre inserido no âmbito da cultura e não se limita a um deslocamento espaço-temporal de um segmento corporal ou de um corpo todo. (BRASIL, 2018, p. 213).

A BNCC indica que os estudantes devem compreender a cultura do movimento para além do deslocamento corporal. Porém, não defende um ensino vinculado à práxis educativa, isto é, a teoria junto com a prática, uma depende da outra para um processo de ensino-aprendizagem completo e de qualidade. Desse modo, mesmo a BNCC sendo um documento orientador, recomenda-se que os professores ajam com uma postura crítica frente ao documento.

As DCEs do Estado do Paraná, documento anterior a BNCC, relata explicitamente sobre a práxis e sua importância, de modo que, “os professores participem ativamente da constante construção curricular e se fundamentam para organizar o trabalho pedagógico a partir dos conteúdos estruturantes de sua disciplina”. (PARANÁ, 2008 p. 25).

É possível observar que o documento trata apenas de alguns conteúdos e indicar em quais anos devem ser ensinados, mas não de que forma ensinar os mesmos. Desse modo, a seguir analisaremos os objetos de conhecimentos da Ginástica, bem como, suas respectivas unidades temáticas da BNCC.

Conforme é possível observar nas figuras abaixo, referentes ao Ensino

Fundamental:

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Figura 1: Fonte: Brasil (2018, p. 225).

Figura 2: Fonte: Brasil (2018, p. 231).

A partir do exposto nas figuras, é possível analisar quais conteúdos devem ser ensinados, mas de que maneira? Como o professor deve ensinar tais conteúdos? E o aluno com alguma necessidade especial? De que forma ensina a Ginástica? O documento mostra o que o aluno deve aprender e quais objetivos para os mesmos, mas tem escassez quanto a intervenção docente com os alunos.

- Como a Ginástica é concebida na BNCC

Com base nos dados apresentados nas tabelas acima, é visível a insipiência

da Ginástica no campo da Educação, sendo apresentada no documento pela seguinte

divisão:

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A ginástica geral, também conhecida como ginástica para todos, reúne as práticas corporais que têm como elemento organizador a exploração das possibilidades acrobáticas e expressivas do corpo, a interação social, o compartilhamento do aprendizado e a não competitividade.

Podem ser constituídas de exercícios no solo, no ar (saltos), em aparelhos (trapézio, corda, fita elástica), de maneira individual ou coletiva, e combinam um conjunto bem variado de piruetas, rolamentos, paradas de mão, pontes, pirâmides humanas etc.

Integram também essa prática os denominados jogos de malabar ou malabarismo.

As ginásticas de condicionamento físico se caracterizam pela exercitação corporal orientada à melhoria do rendimento, à aquisição e à manutenção da condição física individual ou à modificação da composição corporal. Geralmente, são organizadas em sessões planejadas de movimentos repetidos, com frequência e intensidade definidas. Podem ser orientadas de acordo com uma população específica, como a ginástica para gestantes, ou atreladas a situações ambientais determinadas, como a ginástica laboral.

As ginásticas de conscientização corporal reúnem práticas que empregam movimentos suaves e lentos, tal como a recorrência a posturas ou à conscientização de exercícios respiratórios, voltados para a obtenção de uma melhor percepção sobre o próprio corpo.

Algumas dessas práticas que constituem esse grupo têm origem em práticas corporais milenares da cultura oriental. (BRASIL, 2018, p.

217; 218).

A BNCC reduziu a Ginástica em três temáticas. Estes três temas contemplam todo o universo das atividades gímnicas? Entende-se que a Ginástica abre uma grande variedade, abrangendo muitas práticas corporais da unidade. Mas e o contexto histórico de todas as práticas? Em uma dimensão de tantos conteúdos da Ginástica, a BNCC trata da mesma de uma maneira escassa, tanto de informações quanto de conteúdo, resumindo-se à Ginástica Geral, ao Condicionamento Físico e à Conscientização Corporal. Ressaltamos que os conteúdos ginásticos são muito mais que estes aspectos. Para isso, recorremos à defesa do Coletivo de Autores sobre a Ginástica:

A presença da ginástica no programa se faz legítima na medida em que permite ao aluno a interpretação subjetiva das atividades ginásticas, através de um espaço amplo de liberdade para vivenciar as próprias ações corporais. No sentido da compreensão das relações sociais a ginástica promove a prática das ações em grupo onde, nas exercitações como “balançar juntos” ou “saltar com os companheiros”, concretiza-se a “co-educação”, entendida como forma de elaborar/praticar formas de ação comuns [...]. (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 77).

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Pereira e Cesário (2018), indicaram as possibilidades de conteúdos afetos à Ginástica. As autoras sugerem 08 eixos de conhecimentos, sendo estes: (1- História da Ginástica e as concepções do corpo; 2- Movimentos da Ginástica. Elementos e técnica; 3 - Diferentes campos de atuação da Ginástica; 4 - Ginásticas Esportivas; 5 - Ginástica Geral / Para todos; 6 - Ginástica e atividades Circenses; 7 - Ginástica:

Capacidades e Habilidades Motoras; 8 - Aquecimento Corporal.)

Ao analisar a BNCC, nota-se que em nenhum momento o documento trata do conteúdo histórico da Ginástica, a fim de ser ensinado nas aulas. Ressalta-se a importância da temática. Há que saber a Gênese da Ginástica as transformações ao longo da História, bem como, os métodos ginásticos e a Ginástica Calistênica.

Observa-se que se faz necessário contextualizar a Ginástica no cenário cultural do país e do mundo. Para quê serve a Ginástica, as relações da Ginástica com a corporeidade e a influências das mídias nas questões do corpo.

Faz-se necessário ensinar os elementos básicos e técnicas da Ginástica, isto é, as formas de locomoção (andar, correr, saltar, saltitar, girar, rolar, trepar e quadrupejar); os movimentos músculo-articulares (flexão, extensão, hiper-extensão, adução, abdução, rotação e circundução); os movimentos com aparelhos portáteis e aparelhos de grande porte; movimentos com e sem descolamentos; e as técnicas de execução do movimento (empurrar, carregar, arrastar, deslizar, balançar, lançar, arremessar, chutar e outros).

Alguns dos elementos citados encontram-se na BNCC, na indicação da modalidade Ginástica Geral, mas de forma escassa, visto que os movimentos músculo-articulares e as técnicas de execução do movimento são esquecidos.

Na Ginástica encontra-se diferentes campos de atuação ou diferentes vertentes, sendo estes compostos pelas 1- Ginásticas Aprimoramento das Condições físicas, 2- As Ginásticas Competitivas são as Ginásticas Artística, Acrobática, Aeróbica Esportiva, Rítmica e de Trampolim; 3- Ginásticas Prevenção/manutenção, utiliza o exercício físico na prevenção ou tratamento de doenças, como por exemplo o pilates e a Reeducação de Postura Global (RPG); 4- Conscientização Corporal, trata-se da Percepção e expressão da motricidade, e também, as 5- Ginásticas de Demonstração, conhecida como Ginástica Geral, agora chamada de Ginástica para Todos.

Tratando-se das Ginásticas Esportivas (Ginástica Artística, Acrobática,

Aeróbica Esportiva, Rítmica e de Trampolim), novamente a BNCC não contempla e

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deixa a desejar, visto que a temática no campo esportivo nem é citado, assim, este conhecimento é negado aos estudantes, sem saber o seu histórico, características, e fundamentos das modalidades esportivas.

A Ginástica Geral na BNCC é constituída por exercícios de solo, no ar, em aparelhos, envolvendo também o malabarismo. Esta ginástica reúne em uma coreografia, qualquer manifestação gímnica, engloba todos elementos básicos da Ginástica. Segundo Ayoub:

[...] o aprendizado da Ginástica levando-se em conta as diversas experiências dos alunos, porém sem se restringir a elas, procurando superá-las e transformá-las no decorrer do processo educativo por meio do estímulo constante à auto-superação e à criatividade. (2007, p. 89)

Há que ensinar a História e a trajetória da Ginástica para Todos, os Elementos fundamentais para o estágio motor inicial, elementar e maduro, também experimentar a Ginástica para todos com materiais tradicionais e alternativos, a elaboração de coreografias para pequenos e grandes grupos e, por fim, a Gymnaestrada mundial (maior evento de Ginástica não competitiva do mundo).

Nota-se que a BNCC faz menção somente da Ginástica de Conscientização Corporal e Ginástica Geral. O documento nega os conhecimentos das Ginásticas Competitivas e outras no ensino escolar, de modo que os estudantes fiquem sem o acesso a este conteúdo. Desse modo, evidencia-se uma fragilidade por que a base não democratiza o conhecimento e sim o reduz.

A Ginástica e atividades Circenses, não é encontrada em sua totalidade na BNCC. Apesar de aparecer malabarismo na classificação de Ginástica Geral, a arte do circo não tem sua devida valorização histórica e prática, como destaca Ayoub:

O circo era uma atividade que exercia grande fascínio na sociedade européia do século XlX. Traçando um paralelo entre o corpo lúdico do circo e o corpo “educado-civilizado” preconizado pela ginástica científica, evidencia-se um antagonismo. (2007, p. 33).

Analisando a Ginástica: Capacidades e Habilidades Motoras, composta pela

Força, Velocidade, Resistência, Potência, Coordenação Motora, Flexibilidade,

Equilíbrio corporal, Orientação Sinestésica, Orientação Espaço-temporal,

Estruturação esquema corporal e outras. Encontra-se na BNCC na classificação de

Ginástica de Condicionamento Físico, a seguinte definição: “se caracterizam pela

exercitação corporal orientada à melhoria do rendimento, à aquisição e à manutenção

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da condição física individual ou à modificação da composição corporal” (BRASIL, 2018, p. 217).

Na BNCC notamos algumas contradições, no seu referencial teórico para a Educação Física defende práticas da cultura corporal, mas na indicação de seus fazeres nega um amplo rol de práticas gímnicas.

A Ginástica Geral é uma modalidade que em sua coreografia pode englobar movimentos de outras Ginásticas, mas só ela no contexto escolar não é suficiente para que garanta ao estudante o aprendizado sobre todas dimensões da ginástica.

Também, damos importância aos conhecimentos sobre questões que tratam do Aquecimento Corporal. Ressalta-se a importância do aquecimento, sendo subdividido em: Músculo articular, Geral ou sistêmico e específico, que além de preparar o sujeito para práticas corporais, evita possíveis lesões. Mais uma vez, não é encontrado na BNCC este conhecimento.

Aponta-se ainda que, em comparação com as DCEs do Estado do Paraná, houve uma fragilidade no campo da Ginástica na BNCC, visto que a mesma era abrangida pelos seguintes articuladores para o seu ensino: Cultura corporal e corpo;

Cultura corporal e ludicidade; Cultura corporal e saúde; Cultura corporal e mundo do trabalho; Cultura corporal e desportivização; Cultura corporal - Técnica e tática;

Cultura corporal e lazer; Cultura corporal e diversidade; Cultura corporal e mídia.

Destaca-se ainda que

[...] a ginástica deve dar condições ao aluno de reconhecer as possibilidades de seu corpo. O objeto de ensino desse conteúdo deve ser as diferentes formas de representação das ginásticas. Espera-se que os alunos tenham subsídios para questionar os padrões estéticos, a busca exacerbada pelo culto ao corpo e aos exercícios físicos, bem como os modismos que atualmente se fazem presentes nas diversas práticas corporais, inclusive na ginástica. Sob tal perspectiva, foram desenvolvidas técnicas visando à padronização dos movimentos, a aquisição de força física, privilegiando os aspectos motores e a vivência de coreografias e gestos normatizados. Nessa concepção, que não considera a singularidade e o potencial criativo dos alunos, os exercícios físicos privilegiam um bom desempenho de grupos musculares e o aprimoramento das funções orgânicas para a melhoria da performance atlética. (PARANÁ, 2008, p. 67).

Diante disto, defende-se que a Ginástica seja um conteúdo reconhecido nas

aulas de Educação Física, na medida ela é um conhecimento da cultura corporal de

movimento, ou seja, faz parte da cultura motora na humanidade.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O universo da Ginástica, ao longo dos tempos, percorreu uma vasta ressignificação e modificação de objetivos e características. Atualmente, cabe aos educadores tratar a dimensão humana, isto é, a cultura e não apenas transmitir movimentos objetivando o desenvolvimento do um corpo padronizado. Ressalta-se a importância de se ensinar com o mental/inteligível e o físico/sensível entrelaçados, visto que defendemos a concepção de homem na perspectiva da unidade e da complexidade.

Por meio desta pesquisa documental foi possível perceber que a Ginástica, um dos saberes da Educação Física, na BNCC está inserida no eixo de Linguagens, visto que os movimentos, também são formas dos sujeitos se expressarem na cultura na qual se inserem. Além disso a BNCC (2018) ressalta a valorização do movimento como textos culturais passíveis de leitura, ou seja, de interpretações, sentidos e significados.

Observa-se que a Ginástica na BNCC é exposta de maneira escassa e desvalorizada, na qual ao longo do documento, são citados/elencados apenas alguns de seus conteúdos, sem oferecer a devida importância a cada prática corporal realizada. Dessa forma, foi realizada uma aproximação destacando as potencialidades e as fragilidades da Ginástica na BNCC com base na pesquisa feita.

Com isto, ressalta-se a importância de um novo olhar sobre a Ginástica e sua importância na totalidade, pois a mesma não é a simples realização de algum movimento, mas sim de uma reflexão a cada movimento executado, podendo haver questionamentos e ainda ampliar a vivência corporal dos estudantes, ou seja, tornando-os seres complexos e inteiros.

Consideramos que esta pesquisa, além de contribuir para um processo de formação inicial, poderá também fornecer reflexões e novos olhares para o ensino da Ginástica no contexto escolar. Ademais, é importante colaborar com os professores da área de Educação Física, motivando-os a buscar informações além da BNCC para suas aulas, a fim de adquirir um ensino em sua totalidade.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AYOUB, Eliana. Ginástica Geral e a Educação Física escola. 2 ed. Campinas, SP:

Editora da Unicamp, 2007.

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BRASIL. Histórico da BNCC. Brasília: MEC, 2018. Disponível em:

http://basenacionalcomum.mec.gov.br/historico; Acesso em 12 Jan. 2019.

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BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2018.

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<http://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/viewFile/3992/3315>.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo:

Atlas,2002.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação – SEED. Diretrizes curriculares de Educação Física para o Ensino Fundamental e Médio. Curitiba: SEED, 2008.

PEREIRA, Ana Maria; CESÁRIO, Marilene; A Ginástica nas aulas de Educação Física: “O aquecimento corporal” em questão. Rev. educ. fis. UEM. 2011, vol.22, n.4, p.637-649. Acesso em: 17 Out. 2018.Disponível em:

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COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo:

Cortez, 1992. Coleção Magistério 2° grau – série formação do professor.

Endereço do autor(es):

Amanda Bertola de Ávila. (Universidade Estadual de Londrina). Rua Aparecido Pereira de Andrade, n° 577. Vila Romana ll. Ibiporã, Pr. Cep: 86 200 000. E_mail:

amandabavila98@gmail.com

Ana Maria Pereira. (Universidade Estadual de Londrina). Alameda Angelim, nº 250, Jardim Arvoredo, Londrina, Pr. Cep:86 055 778. E_mail: apereira@uel.br

Marilene Cesário. (Universidade Estadual de Londrina). Av.: Gil de Abreu e Sousa, 2000, casa 908. Cep: 86058.100. e-mail: malila@uel.br

Linha de estudo:

Linha 2- Fundamentos teórico-metodológicos do processo ensino-aprendizagem e

avaliação em Educação Física:

Referências

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