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Silêncio(s), Voz(es) e História(s) Oral(is): formação de professores de matemática em Mossoró/RN

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Silêncio(s), Voz(es) e História(s) Oral(is): formação de professores de matemática em Mossoró/RN

MARCELO BEZERRA DE MORAIS*

Um silêncio e sua quebra: o ressoar de voz(es) (escrita(s)?)

Talvez seja necessário iniciar estas palavras pedindo silêncio. Silêncio que permite o som, que permite a voz fazer sentido. Silêncio para que se fale um texto escrito e para que se faça uma reflexão sobre a relação de complementaridade e distanciamento que há entre texto, escritura e fala, voz, oralidade. Silencio para falar de um processo de licenciamento, aquele que no Ocidente moderno nasceu do trabalho das instituições e aparelhos escriturísticos, que isolaram o “povo” e silenciaram as “vozes”. Silêncio para falar da História, uma história que se diz oral, mas que se faz por escrito. Silêncio, pois, para falar, talvez, de uma impossibilidade, a de fazer história oral sob o império da sociedade escriturística. (ALBUQUERQUE JR, 2007, p.229)

Com uma proposta, talvez, um tanto diferente da de Albuquerque Júnior1, iniciamos não pedindo, mas, fazendo um silêncio. Um silêncio da (não) escrita. Um silêncio que, paradoxalmente, hora dissonava. Um silêncio que exigia a sua quebra. Como quebrar?

Escrevendo!? E o que escrever? Como escrever? Decidíamos nos debruçar sobre o estudo de um objeto um tanto distante da história, a Matemática, ou mais especificamente a Educação Matemática. Lugar de onde vínhamos, e para onde íamos... ou pretendíamos ir. Mas, distante?

Não! Mais próximas do que imaginamos, ou do que queiramos imaginar... E imaginamos (ou outros imaginaram)2! E nos aproximamos do que conhecemos por História da Educação Matemática Brasileira.

Estamos sempre entre as duas “forças antagônicas” que nos impulsionam (ARENDT, 2011)... Às vezes sufoca!? E “[...] um instante que mal nasce morre. Mal falei, mal agi e minhas palavras e meus atos naufragam no reino de Memória” (BLOCH, 2001, p.60). E naufragaram... naufragaram muitas vezes. E neste contínuo, pressionados pelas forças, pensar:

A formação de professores acontece... Mas, mais uma vez não fomos nós que pensamos3...

Mas, certo! Acontece! E mobilizando estes pensamentos pertencentes a outros, pensamos: E

1 Entendemos que nossa proposta se difere da do autor, por não propormos discutir aqui a impossibilidade de se fazer a História Oral por conta de uma “sociedade escriturística”. Propomos discutir a História Oral como metodologia para pesquisas em Educação Matemática, mais especificamente, para os trabalhos desenvolvidos pelo GHOEM, que estamos vinculados.

2 Falamos, aqui, de uma região de conhecimento já bem estruturado na Educação Matemática, do qual nosso projeto se insere: a História da Educação Matemática.

3 Referimo-nos a um projeto maior do GHOEM, “cuja intenção principal é elaborar um mapeamento (histórico) sobre a formação e atuação do professor de Matemática no Brasil” (GARNICA, 2010a, p. 558).

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quando não acontece? O que acontece? Como acontece?Ai sim... enfim, num pensamento nosso4, vislumbramos uma possível quebra do silêncio (escrito) que nos encontrávamos no começo.

E quebra-se o silêncio. Satisfazendo as obrigações acadêmicas! 5

E o que vislumbrava este que agora se fazia falar (em silêncio): Compreender e construir uma versão histórica de como se deu a formação de professores de Matemática, dos ensinos fundamental e médio, na região de Mossoró (localizada no interior do Estado do Rio Grande do Norte, a aproximadamente 277 Km da capital Natal), no período anterior ao ano de 19746, com o intuito de contribuir com uma História da Educação Matemática brasileira.

(MORAIS e BARALDI, 2011).

Mas até o momento, nos referimos a outros silêncios e não ao que foi apresentado por Albuquerque Jr no início. E por que falar daquele silêncio? Por que fazemos parte de um grupo que vislumbra, não só, mas, também, o trabalho com a História Oral como metodologia de pesquisa. Tendo sido esta a metodologia escolhida para realizarmos nosso trabalho. E da qual, aqui queremos discutir. Na concepção de onde falo: GHOEM7.

História Oral e Educação Matemática: Um silêncio quebrado?

Segundo Le Goff (1990) o que deu início à história foi o que ele denomina como

“história-relato” e “história-testemunho” por ser o relato da história vivida, passada através da oralidade, e que estes tipos de histórias nunca deixaram de estar presentes na história enquanto ciência. Contudo, com a escrita (silêncio?), a organização de bibliotecas, e essa estruturação da história como ciência, passou-se a utilizar, por um longo período, como principal fonte histórica a escrita, acreditando ser esta a forma mais segura de se fazer história, justamente pelo fato de estar documentado.

4 Não propomos, ou falamos nosso por puro modismo. Assim fazemos por ser este trabalho fruto de uma parceria: orientadora; orientando; GHOEM. À Ivete Maria Baraldi, orientadora da pesquisa, e aos membros do GHOEM, meus agradecimentos.

5 Referimo-nos a elaboração de um projeto de pesquisa ao Programa de pós-graduação, ao qual estamos vinculados.

6 Fixamos em nosso projeto o ano de 1974 por compreendermos que não existiam instituições de ensino superior com cursos específicos de formação de professores de Matemática, na região de inquérito, este ano, que tomamos aqui como ponta de iceberg (BOSI, 1992), marcou a criação do primeiro na região, o curso de Licenciatura em Matemática da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, que está em funcionamento até o presente momento, conforme encontramos descrito no Projeto Político Pedagógico do curso em vigência.

Cumpre lembrar que esse documento somente está disponível no âmbito da universidade.

7 Grupo “História Oral e Educação Matemática”; www.ghoem.com

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Porém, motivados pelo movimento da ‘Nova História’, pela percepção da fragilidade dos documentos escritos, e pela descoberta dos meios de gravação, ocorreu que, no ano de 1947 surgiu nos Estados Unidos, Europa e México a História Oral como metodologia de pesquisa. Entretanto, no Brasil, este recurso só passou a ser utilizado na década de 1970, difundindo-se especialmente a partir da década de 1990, onde ganhou uma maior notoriedade pelas discussões nos eventos nacionais e regionais em diversas áreas do conhecimento (THOMPSON, 1992; FERREIRA E AMADO, 1998).

É defendido pelos pesquisadores em História Oral, como nos apresenta Baraldi (2003) e Garnica (1998), que ela pode ser definida de três modos diferentes: técnica de pesquisa, disciplina ou metodologia de pesquisa. O primeiro, como técnica de pesquisa, se ela for encarada apenas como forma de gravação, transcrição e construção de acervos orais; no segundo aspecto, como disciplina, se ela for composta de técnicas específicas de pesquisa, procedimentos metodológicos e um conjunto de conceitos próprios; e no último aspecto como metodologia de pesquisa, se ela for observada como todas as outras metodologias de pesquisa, estabelecendo uma ordem para os procedimentos de trabalho, articulando estes procedimentos com uma fundamentação teórica coerente, funcionando como ponte entre teoria e prática.

(BARALDI, 2003)

Entretanto, no GHOEM, concebemos a História Oral como uma metodologia de pesquisa. Em Meihy (2000), podemos encontrar que a História Oral pode ser distinguida em três modalidades: História Oral de Vida, História Oral Temática e a Tradição Oral.

Na História Oral de Vida, o foco de pesquisa é a história de vida do sujeito a ser pesquisado, já a História Oral Temática

está vinculada ao testemunho e à abordagem sobre um determinado assunto específico. Ela é um recorte da experiência de vida do colaborador e, não obrigatoriamente, concorre com a existência de pressupostos já documentados, fornecendo, então, uma outra versão histórica. Esta modalidade é a que mais se aproxima das soluções encontradas para a apresentação dos trabalhos analíticos em diferentes áreas do conhecimento acadêmico, como nos alerta Meihy (2000), pois permite a articulação de diálogos com outros documentos e bibliografia complementar, principalmente porque trabalha com questões externas, objetivas, factuais e temáticas e não com questões que cuidem mais livremente de impressões e subjetividades, como a História Oral de Vida. (BARALDI, 2003)

Mostrando assim que, a História Oral Temática trabalha com um determinado tema que tenha feito parte da vida do colaborador.

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Tradição Oral, por sua vez, envolve as questões do passado distante que se manifestam através de atividades culturais, como por exemplo, o folclore, e pela transmissão oral de pais para filhos ou de indivíduos para indivíduos.

Continuando ainda, o estudo do uso da História Oral como metodologia de pesquisa, e nessa perspectiva, tem-se que a História Oral é muito importante para a historiografia, por sua proposta de criação fontes históricas. Esta criação se dá através das narrativas daqueles que viveram no passado e não encontraram no escrito oportunidade de expor seus sentimentos, pensamentos, ideias, experiências entre outros sentimentos que ficaram guardados na memória e que, com o uso deste recurso metodológico, agora poderá vir à tona para também poder compor o acervo histórico de quem vivenciou fases do processo de desenvolvimento da humanidade.

Tomando, então, esta ideia do ‘recordar’ para construir o arsenal historiográfico, temos que a História Oral está diretamente ligada à Memória. Segundo Garnica (1998) há aqueles que afirmem que existem os ‘pseudo-conflitos’ na História Oral entre oral e escrita, entre história e memória, o que na verdade é uma falácia, tendo em vista a contínua necessidade de articulação entre as mais diversas fontes.

A memória vem neste processo servir de instrumento para a História Oral.

A utilização de uma linguagem falada, depois escrita, é de fato uma extensão fundamental das possibilidades de armazenamento da nossa memória que, graças a isso, pode sair dos limites físicos do nosso corpo para estar interposta quer nos outros quer nas bibliotecas. Isto significa que, antes de ser falada ou escrita, existe uma certa linguagem sob a forma de armazenamento de informações na nossa memória. (HENRI apud LE GOFF, 1990, p. 425)

E esta linguagem de armazenamento a que Henri se referia, pode ser ativada por inúmeros recursos de suma importância para o desenvolvimento de pesquisas em História Oral, como são os casos dos entrelaçamentos de memórias de grupos sociais, documentos escritos e, como encontramos em Gaertner e Baraldi (2008), o uso de imagens (recursos iconográficos). Este último é um importante recurso utilizado pela humanidade a fim de combater as “perturbações da memória, das quais a amnésia é a principal” (LE GOFF, 1990, p. 423).

A História Oral produz narrativas orais, que são narrativas de memórias, e que por não

“apreender a totalidade de uma experiência, nem mesmo a entrevista que se prolonga por várias seções, como no caso, às vezes, da história de vida” (POUPART, 2010, p. 225), não possuem a intenção de construir uma história totalizante ou, tampouco, tentar provar uma

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verdade absoluta. O objetivo do desenvolvimento de uma pesquisa com História Oral deve ser o de criar

espaço aos sujeitos anônimos da História na produção e divulgação desta, procurando articular suas narrativas aos contextos e elementos do(s) objeto(s) em pesquisa. É estar preparado para compreender que nem sempre o ato de rememorar é uma ação saudável e positiva para o sujeito, pois pode trazer dores e sofrimentos. É escrever história sem sacramentar certezas, mas diminuindo o campo das dúvidas.

(SILVEIRA, 2007, p. 5)

Temos assim que é de suma importância o trato que se dá numa pesquisa com História Oral, pelo fato de estarmos trabalhando com pessoas que possuem sensações e sentimentos e que podem, por recordações, evocar ações ou atitudes inimagináveis.

Além disto, temos como pressuposto que não há a neutralidade do pesquisador no processo de realização da entrevista, pois como afirma Ribeiro e Guedes (2007) “[...] uma pesquisa nunca é neutra, pois traz sempre traços de quem a desenvolve ou do contexto e dá época em que ocorre. Daí afirmarmos que a construção dos dados não é neutra nem atemporal.”

Por isso da importância na atenção com o cuidado e distanciamento dos colaboradores, como nos alerta Baraldi (2003), para que possam não ser provocadas recordações indesejáveis, além disto, como se trabalha com a memória, qualquer ação impensada ou recordação indesejada, poderá provocar a ‘não leitura’ ou ‘entrave’ da ‘linguagem de armazenamento’ a qual nos referimos anteriormente.

Assim,

percebemos que trabalhar com fontes orais e iconográficas não é simples, embora permita-nos obter um conhecimento aprofundado do tema e descobrir evidências para a análise. Também, nos conscientizarmos o quanto é grande a responsabilidade do pesquisador em relação ao que produz e aos seus depoentes. (GAERTNER E BARALDI, 2008, p. 59)

Mostrando-nos assim o quão importante é o cuidado que devemos ter não apenas durante o processo de entrevista, mas também com o resultado dos mesmos e com os colaboradores após a realização das entrevistas, isso nos remete a refletir ainda sobre a ética no desenvolvimento de pesquisa com História Oral, em todos os momentos do processo de desenvolvimento da pesquisa, desde o processo de entrevistas, passando pela transcrição, textualização e análise do texto e imagens, até a assinatura da “carta cessão”8, isso para que se

8Documento que concede os direitos de uso das informações obtidas durante as entrevistas.

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possa não pôr em risco juridicamente o pesquisador e a própria validação do trabalho.

(GAERTNER E BARALDI, 2008).

Corroborando com a idéia de que

Ao utilizarmos a História Oral para constituir um dos muitos cenários da História da Educação Matemática torna-se possível tecer as tramas que nos fornecerão uma referência histórica e cultural, que até então estava inscrita apenas nas memórias dos professores ou de pequenos grupos. A vida, as experiências, as lutas e as visões de mundo adquirem um novo estatuto ao serem socializadas, sendo transformadas em documentos que podem apresentar, de maneira contextualizada, uma outra – nova ou complementar – versão da história. (BARALDI, 2003, p. 215)

Assim, o uso da oralidade vem para ampliar o campo de fontes de pesquisa para a história, no nosso caso para a História da Educação Matemática. Vem para que não se perca no tempo e no espaço a voz daqueles que foram atores nos atos vividos; para trazer a voz, as falas, as emoções, os sentimentos e assim construir uma versão do vivenciado.

Nossa Voz, Nosso Silenciar: a História Oral em nossa pesquisa

Decidimos, pelos motivos apresentados, utilizar como metodologia de pesquisa a História Oral Temática, entendendo ser, a nossa, uma pesquisa contida no paradigma qualitativo por: não trabalharmos com a possibilidade de afirmação ou refutação de uma hipótese inicialmente levantada; não propormos a imparcialidade do pesquisador no trato com os dados, sabendo que este estará analisando-os segundo nossas vivências e experiências, acompanhando-os às lentes de autores de seu referencial teórico; sabermos que os mesmos dados aqui trabalhados poderiam, por outras lentes, ser ressignificados, contando assim outras versões históricas e; não buscar uma totalização, generalização, dos resultados encontrados (GOLDENBERG, 2004; GARNICA, 2004).

Por isso, nossa voz se fará presente em todo o desenvolvimento do trabalho, mesmo no silenciar perante os colaboradores que nos “cederão suas vozes”, para contar uma história, ou outra história, ou algumas histórias...

Em relação aos passos metodológicos da pesquisa em História Oral, poderíamos pontuar os mesmos da seguinte forma: escolha dos colaboradores da pesquisa; elaboração do roteiro de entrevista a ser realizada com os colaboradores; contato com os mesmos para saber a disponibilidade e o desejo de participação/colaboração na pesquisa; realização da entrevista;

transcrição e textualização da entrevista; legitimação do texto; concessão dos direitos autorais e de publicação; análise dos dados obtidos.

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As entrevistas já realizadas9 foram feitas utilizando fichas temáticas, entendendo que as “entrevistas são diálogos acerca de algo (o objeto da pesquisa) e são tanto mais ricas quanto mais ocorrerem num clima de cumplicidade entre entrevistador e entrevistado”

(GARNICA, 2007, p. 32).

A transcrição é um processo literal e rigoroso, trata-se da passagem para o papel da entrevista outrora gravada, com todos os erros, gaguejos, grunhidos, vazios e repetições.

A textualização é o processo de elaboração de um documento escrito, obtido a partir da transcrição, ou seja, em hipótese alguma afirmamos ser o texto concedido pelo entrevistado, e sim, um texto obtido da entrevista, construído juntamente com o entrevistado, que o legitimará, afirmando se reconhecer no mesmo. Como as textualizações não é um processo que possui um padrão a seguir, como à transcrição, não há a necessidade de argumentar sobre o modelo de textualização que decidimos utilizar.

Após a textualização, há a leitura do texto pelos entrevistados, e ocorrendo a legitimação do texto, há a concessão dos direitos autorais e de publicações com a assinatura da carta de cessão.

Na concepção que estamos trabalhando, a constituição do documento é algo inevitável, sendo na verdade um dos objetivos das pesquisas, assim como a realização da análise. Não se compartilha aqui da idéia do presentismo que visa apenas à criação de fontes historiográficas. Assim como os historiadores clássicos, que constroem suas narrativas a partir da fonte dos arquivos mortos, optamos por realizar as nossas análises e narrativas a partir dos arquivos que produzimos (sem menosprezar, todavia, os possíveis documentos10 encontrados na pesquisa). Assim, nos trabalhos desenvolvidos pelo GHOEM, em muitos deles, entende-se esse momento como o arremate da pesquisa, um aventar de possibilidade de compreensão, um identificar de evidências.

Portanto, sobre a análise dos dados corroboramos com Baraldi (2006, p. 14 e 15), que nos apresenta que o

[...] inventário de possibilidades é, já, uma forma de análise, ainda que parcial por não esquadrinhar todas as possibilidades críticas. Entende-se que uma operação analítica já está em curso no primeiro momento em que se decide focar determinado objeto para dele ter maior compreensão e, portanto, domínio. Sendo assim, o

“processo de análise” inicia-se com a explicitação da pergunta de pesquisa e com a

9 Para nossa pesquisa contamos com a colaboração de nove professores de Matemática, que ensinaram na região de Mossoró no período que estamos estudando.

10 Os documentos que aqui nos referimos, “consiste em todo texto escrito, manuscrito ou impresso, registrado em papel. Mais precisamente, consideraremos as fontes primárias ou secundárias, que por definição, são exploradas – e não criada – no contexto de um procedimento de pesquisa” (CELLARD, 2010, p. 297)

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escolha dos depoentes-colaboradores. Detectar tendências é um – dentre os muitos – momentos de análise. No entanto, muitas vezes, o processo analítico não se restringe ao momento de detectar tendências, efetuando um trabalho de preenchimento de lacunas.

Entende-se que o processo de análise, desta pesquisa, está em curso desde o momento que propomos o objeto a ser investigado. Porém, em relação à análise dos resultados da pesquisa, compreendendo as idéias de Goldenberg (2004) que defende que se deve dar início ao processo de análise dos dados logo após a coleta dos mesmos, pretende-se, então, iniciar a análise a partir do momento que formos realizando as entrevistas e constituindo, assim, os documentos escritos através da transcrição e textualização. Durante o processo de análise serão realizadas releituras e aprofundamento dos estudos teóricos, com o objetivo de sempre estimularmo-nos a novas idéias, e para familiarizarmo-nos com o modo como outros pesquisadores realizam o tratamento com seus dados. (BOGDAN e BIKLEN, 1999)

Entretanto cabe explicar o que, aqui, se entende por análise dos resultados nas pesquisas em Educação Matemática, com a utilização da História Oral como metodologia de pesquisa. Segundo Garnica, Silva e Fernandes (2010, p. 9) “não cabe ao pesquisador julgar as narrativas orais já que estas funcionam como suportes para a história contada pelo pesquisador sobre o fenômeno pesquisado”, e em Pouparte (2010, p. 221), onde discorre sobre diferentes concepções de posturas que se tomam diante dos dados obtidos em entrevistas, temos que

Uma terceira posição, similar ao pós-modernismo, defende que os pesquisadores deveriam, em seus relatórios etnográficos, não só tratar as pessoas como sujeitos capazes de analisar suas próprias situações, mas igualmente produzir análises de

“múltiplas vozes”; isto é, análises em que o ponto de vista dos diferentes atores que participam da pesquisa se encontre expresso. Em lugar de dar uma versão única sobre a realidade dos outros buscando se impor, as análises deveriam ser resultado de uma construção mútua, o produto de um diálogo entre o pesquisador e as pessoas pesquisadas.

Assim, corroborando com estas concepções de análise de entrevistas, compreendemos como processo de análise dos resultados, não a análise do que se foi dito nas entrevistas com o objetivo de julgá-los, mas como o processo de “amarramento” das informações, sendo, na verdade, este “amarramento” a constituição da narrativa do pesquisador, esta construída pelas considerações feitas através das entrevistas e dos documentos escritos (encontrados durante a pesquisa), corroborando assim com as idéias, também, apresentadas por Baraldi (2006) e Garnica (2010b), sobre análise dos resultados.

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As considerações, de que se falou, são as “evidências” ou “tendências” que conseguiu- se notar nas entrevistas, que segundo Baraldi (2006, p. 14), estas evidências ou tendências

[...] podem ser entendidas como os traços “mais visíveis”, segundo o pesquisador e seu grupo, do cenário em composição e que, juntamente com outros registros escritos, fornecerão subsídios para o pesquisador encaminhar respostas para suas questões. São os aspectos divergentes e/ou convergentes, as lembranças e/ou os esquecimentos presentes nos testemunhos dos colaboradores que apontam quais são os elementos essenciais para o esboçar de compreensões e, a partir destas, de uma versão histórica.

Assim, pretende-se notar quais os aspectos comuns, divergentes e/ou singulares apresentados nas entrevistas, afim de realizar um estudo analítico sobre estes, aqui entendidos como evidências, compreendendo que os mesmos serão de suma importância para a constituição da narrativa sobre a formação de professores de Matemática da região pretendida, finalizando, assim, nosso processo de análise dos resultados.

Referências:

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