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A Montanha Encantada

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A Montanha

Encantada

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A Montanha Encantada

© Maria José Dupré, 1971 Diretor editorial adjunto Editora-chefe Editor assistente Preparação dos originais Coordenadora de revisão Revisoras

Femantjo Paixão Claudia, Morales Emílio Satoshi Hamaya Lizete hjercadante Machado Ivany Pícasso Batista

Ana LLi/sa Franca, Glair PkoIo Coimbra e Barbara Borges Arte

Proieto gráfico Editora Editor assistente Editoração eletrônica Edição eletrônica de imagens

Marcos usboa Suzana LMb Antônio Paulos Studio 3 e Eduardo Rodrigues César

CIP-8RASIL CATA10GAÇA0 NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE UvRqjr. D947m

29.ed

Dupré. Maria José. 1898-1984 A Montanha Encantada / Mana lose Dupre.

ilustracOes Cm e *an - 29 ed - Si> Paulo : Atra, -éooo 128p. 4 - (Cachorrmho Sambai

ISBN 978-85-08-08177-6

1 Literatuia iníamofusenll I. Eich, Cns. 1965-. u lean III Titulo IV Série

09-0202 COt) 028 5

COtl 087 5 ISBN 978-85-08-08177-6

Código da obra Cl 731767 CAE: 218615-Al 2015 29

* ediçôo 19’ impressão

Impressão e acabamento: Ricargraf Todos os direitos reservados pela Editora A. tica

Avenida das Nações Unidas, 7221 - CEP 0 5425.902 - Sâo Paulo. 5P Atendimento ao cliente: 4003-3061 - Bler-,(jimento©atica com b, www.atica.com.br

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SUMÁRIO

1. Uma luz cor de luar... 7

2. Projetos ... 12

3. A excursão... 17

4. O primeiroacampamento ... 25

5. Amontanhaque canta... 32

6. O alto da montanha... 37

7. Um pequeno mundo dentro da montanha . 46 8. A cidade mais rica domundo... 53

9. A cidademais pobre do mundo... 62

10. A vida dos habitantesda montanha... 67

11. A festa docasamento... 76

12. O banquete ... 81

13:. Onde estáPingo?... 90

(6)

14. Asdespedidas... 96

15. Atempestade...102

16. Padrinho quasenãoacredita...111

17. Eles querem voltaralgum dia . ...121

18. Fim dasférias...125

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1

UMA LUZ COR DE LUAR

Depoisdaaventura na Ilha Perdida*,ascriançaspas­

saram uma temporadasem novidades. Henrique, o “he­ rói dailha”, como o chamavam, era convidado todas as noitespara falar sobre Si mão e os bichos; após o jantar, sentavam-setodos à volta deHenrique para ouvi-lo.

• A HPa Perdida i um romance infántojuvenil de muilo sucesso, rambém escrito por Maria José Dupré.

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Durante o dia,passeavam a cavalo. Iam até à beirado Paraíba oupescavam no riozinho e,quando não havia nada a fazer, ficavamno pomar comendofrutas e brin­

cando nos balanços que Bento tinha armado paraelesnos galhosmaisfortesdas mangueiras.

A fazenda do Padrinho era muito bonita e rodeada de montanhas altíssimas; umadelas, a que ficava do lado norte, eraamaisalta de todas. Muitas vezes as crianças olhavam para a montanhae diziam quetinham muita vontadede ir até o seu cume para de lá admirarem o pa­ norama dos arredores.Devia ser uma vista magnífica.

Uma tarde, estavam todos sentados nos degrausda es­ cadadoterraço, olhando a montanha e conversando. De repenteCecília,umaprima que tinha ido também pas­

sar as férias na fazenda,levantou-se muito espantada e disseaos outros:

Vi umaluzbrilhandoem cima damontanha agora mesmo.

Oscar e Quico começarama rir pensando que Cecí­ lia estava inventando isso para fazer graça. Eduardo perguntou:

— De que lado viu a luz?

Ela apontou o dedinho:

Vocês estão vendo aquele monte deárvores do lado direito? Parece queuma pedra grande junto às árvores. Poisvi passar uma luz agora mesmo.

Henrique perguntou, desconfiado:

Que espéciedeluz? Fogueira?

Não seidisse Cecília. — Vi passar uma luz as­ sim de repente, nãosei que luz podeser, mas acho que não era fogueira.

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Vera riu:

— Seusolhos estão vendocoisas impossíveis.

Eduardo disse:

— Quem sabe o sol refletiu em alguma pedra e fez a pedra brilhar?

Todos concordaram; devia ser aquilo mesmo. O sol estava se escondendo no horizonte; talvez seus raios vermelhos batessem nalguma pedra,refletindo o brilho queCecíliatinha visto.Ela continuou a afirmar que ti­ nha visto a luz, e parecia uma luz diferente, assim da cor do luar.

No dia seguinte, ninguém mais falou sobre o brilhoda montanha; só Cecília olhava para lá de vez em quando procurando ver novamente a luz.

Passaram-se dias. Uma noite, achavam-se todos no terraço contandoas estrelas; a noite estava linda e havia milharesdeestrelinhasbrilhando nocéu. Quico e Os­

car, deitados no chão, olhavam para cima; Henrique e Eduardo estavam sentados nosdegraus da escada; Vera, Lú­

cia e Cecília, sentadas em cadeirinhas de lona. Vera disse:

contei mais de quinhentas, estou até cansada.

Só? — disse Quico. contei setecentas e trinta e quatro.

Poiseu contei mile noventa — afirmou Oscar.

Ninguém acreditou. Setodoshaviamcomeçado a con­

taraomesmotempo,como é queOscar podia ter conta­ domais?

Ah! disse ele. Eu conto mais depressaque vocês.

De repente Cecília levantou-se e apontoua montanha:

(10)

Parece que asestrelas brilham maisemcima da montanha. Vejam só!

Eduardo começou a rir:

— Cecília vive olhandopara amontanha pensando na história da luz...

Eduardo parou de falar, mudo de espanto; olharam Eduardo, depois olharam a montanha; todosviram então uma luz passar e repassarno cume da montanha; era uma luzazulada um pouco pálida, parecia cor de luar.

Ficaram sem falar alguns instantes; depois Henrique deuum grito chamando Padrinho:

Padrinho! Venhadepressa ver uma coisa!

Padrinho estava lendo na sala de jantar;saiu acom­ panhadopor Madrinha e chegaramà porta doterraço.

As crianças estavam de pé, excitadas,olhandopara o alto, mas a luz havia desaparecido.

Ficaram ainda umameiahoraali de pé comentando o acontecimento, mas a luz nãoreapareceu nessa noite.

era hora de dormir e Madrinha mandoutodospara seusquartos. Cecília, quedormia com Verae Lúcia, es­

tava impressionada e falava a todo o momentona luz es­

quisita que havia no alto. Lúciabocejou e perguntou:

Oque será aquilo?Seráque mora gente em cima da montanha?

Achoque sim —disseVera.Se não morasse ninguém, não severia luz.

Eubem tinha vontade de ir até ver o queé disse Cecília. E vocês?

— Nóstambém.

Cecília estava radiante:

(11)

Eu fui a primeira a ver...

Grandecoisadisse Lúcia.

Nodia seguintelevantaram mais cedo;logo depois docafé, saíram para o terraço epara o jardim da frente da casa; Eduardo ali estava, mostrando a Bento o cume da montanha.

Oqueserá, Bento? Alguma pedraque tem um brilho fora do comum? Alguma mina de ouro?

Bento coçou a cabeça:

Não sei. Pra dizer que épedra... pedra podebri­

lhar com osol, mas com o luar nunca vi... Pra dizer que é mina de ouro... Assim à mostra tambémnunca vi. É um mistério.

Padrinhoapareceu comum binóculo entre as mãos;

olhou e passou o binóculo à Madrinha;nada viram. O binóculo passou de mão emmão e todos olharam com atenção procurando algum sinal,alguma coisa que pu­

desseindicar a causa da luz. Não haviaindício algum.

Viam apenas mato cerrado epedras, haviagrandes pedrasentre as árvores. Decerto as pedras brilhavam, não podia ser outracoisa. Bento deu sua opinião:

Mas pedranãobrilha assim àtoa, deve haver al­

gummotivo.

O que seria? Passaram alguns dias sem esquecer a luz;

todosfalavam em fazer uma excursão ao alto da monta­

nha seria formidável.

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2

PROJETOS

Henrique e Eduardo ficaram muitoimpressionados.

Por queas pedras da montanha brilhavam? Nunca ouvi­ ram falar em pedras brilhantes, a não ser aspedras precio­ sas:diamantes,safiras,rubis.Mas pedra comum não bri­ lha assimeaquelasbrilhavam. Quem sabe haveria um tesouro? Montesemontesde pedras preciosas?Ou uma mina de ouro?

Começaram a imaginar umaexcursãoatéoalto da montanha paradescobriremo mistério; Bento havia di­

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toque era mistério e eles tinham quasecertezade que aquela montanha guardava um segredo, um imensose­

gredo. O que poderia ser?Não pretendiamir sozinhos comohaviam feito na Ilha Perdida. Não. Pediríam per­ missão aospadrinhose,se eles deixassem,iriamtodos, até as meninas.

Cecília, a priminha que foi a primeira a ver a luz, era a mais entusiasmada;todas as manhãs, quando acordava, ia olhar a montanha. E antesdeserecolheraoseuquar­

to, à noite, tornava a olhar para o altoprocurandovera luz. Todas as criançascomentavam o fato com grande ani­ mação e faziam projetos.

Uns três dias depois, a luz tornou a brilhar; dessa vez em pleno dia.Estavamtodos no pomar chupando man­ gas; eram mangas deliciosas, bem amarelinhas. Quicoe Oscar apenas tiravam a casca e enterravam osdentesna polpa sumarenta; o caldo amarelo corria-lhes entre osde­

dos. Eduardo cortavafatias com o canivete; Henrique tam­ bém. Astrês meninasdescascavamecortavam a manga com a faca que Eufrosina lhes havia dado.

Cecíliadisse,de repente:

— Estou com palpite deque a luz vai aparecer hoje.

Por quê?perguntouVera.

Não sei. Palpite.

Entãovamosverquem vê primeiro.

Asduas saíram correndo e deixaram o pomar; quando olharampara o alto, viram a montanhaazuladae, bem em cima,qualquercoisa muito brilhante. Deram gritos chamando os outros; todoscorreram e olharam. Quico fi­ cou parado, a boca aberta cheia de manga; quase engas­

gou quando disse:

(14)

Nossa Senhora! Está o negóciobrilhando...

Vera e Lúcia disseram ao mesmo tempo:

— Vamos até lá para vero que é?

— Se Padrinho deixasse...

Henrique propôs:

E sefôssemos pedir ao Padrinho?

Oscarrespondeu:

Acho que ele não vaideixar;se ele fortambém.

Cecíliadisse:

E o que estamos fazendo aqui? Vamos correr e mostrar a luz ao Padrinho; assim ele acredita.

Ea menina saiu correndo em direção à casa; Vera gritou:

Nãocorracom afaca namão; mamãe disse que é perigoso...

Foram todos atrás dela. Encontraram Padrinho fa­

lando com Tomásio.Cecília foia primeira a falar:

Padrinho, venha ver a luz da montanha, está brilhando.

PuxouPadrinho pela mão e apontou o alto da mon­ tanha; não havia mais luz.Os outroschegaram nesse momento;Cecíliatevevontadedechorar:

Mas nós vimos a luz, Padrinho! Nós todos vimos do pomar.Foi o tempodechegar aqui, ela desapareceu outra vez.

Eduardo teveumaideia:

Quem sabe a gente só de um lugar? Faça o favor, Padrinho, venhaconosco.

Vendo a excitação das crianças, Padrinho acompa­ nhou-as atéaentrada do pomar e,no ponto certo dc onde elas haviam visto, olhouparacima: láestava a luz.

(15)

Osol dava em cheio sobrea montanha e a luz quaseo ofuscava de tão fone. Ficaram parados emudos de admira­ ção.“Oque será?, O quenão será?”, perguntavam todos.

Padrinho mandou chamar Madrinha; ela veio acompa­ nhada de Eufrosina e de Bento. Todosficaram olhando para o mesmoponto uma porção de tempo. Cada um di­

zia uma coisa ou dava uma opinião, mas ninguémpodia saberao certo o que era aquilo. O fãto é que havia um bri­

lhono alto da montanha, um brilhomuito mais fone, e isso ninguém podia negar. Eufrosinabenzeu-se:

Cruz-credo! O que será aquilo?

Lembraramque,à noite, aluzera diferente, pálida como o luar; durante o dia,quando o sol brilhava, a luz era intensamente forte. Nem comeram mais mangas;

MadrinhamandouQuicolavar a boca, que estava toda amarela. Ele foi correndo e voltou correndo para não per­ der tempo,queriaver a luz outra vez, antes que ela desa­ parecessedenovo.

Num momento em que estavamconversando dis­ traídos,Bento deu um grito:

— A luz sumiu! A luz sumiu!

Olharam ansiosos; de fato, havia desaparecido. O alto da montanhaestavaigualaos outros picos; viam-se ape­ nasárvoresepedrascinzentas. Bento falou:

Quer dizer que mora gente lá; faz a luz aparecer e desaparecer, isso gente podefazer, bicho não pode...

Mas quem pode morar naquele alto? Nunca ninguémsoubede nada por aqui; se morasse alguém lá, todo o mundo saberiadisseEufrosina, e benzeu-se de novo. Padrinho, quetinha ido buscar o binóculo, olhou

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atravésdele, mas nada viu,além de árvores e pedras. Co­ mentaram o fato durante muito tempo. À noite, ao jan­ tar,deram muitas opiniões e Padrinhochegou a dizer:

— Quemsabe podemos organizar, um dia, uma ex­

cursão até lá? Eu gosto muito de descobrir mistérios...

Os meninos chegaram a baterpalmasdeentusiasmo;

Cecíliaficou assustada e perguntou:

Todos nós, Padrinho?

Todosdisseele.As meninas são tão boas com­ panheirasquantoosmeninos.

Vera, Lúcia e Cecília exultaram de contentamento. Após o jantar, fizeram projetos e mais projetos.Iriam todosa cavalo,pois era longe, e levariam Bento para auxiliá-los no quefosse necessário.Levariam cestas com coisaspara co­ merebarracaspara dormir. Seriamaravilhoso. Padrinho gostava de tais aventuras e as crianças, mais ainda.

Ficaram tão animados que ninguém pensou em dor­ mir;Cecíliaia a todomomentoespiaramontanhaatra­

vés da porta do terraço; os outrosperguntavam:

— A luz voltou, Cecília?

Masnaquela noite, e nas noites seguintes, a luz não voltou a brilhar.

(17)

3

A EXCURSÃO

Uma semana depois a caravanaestava preparada para subir a serra. Foram indicados Tomásio e um outro empregado da fazenda, chamado Jeromão, para irem na frente abrindo caminho; em seguidairiam as crianças, Pa­

drinho e Bento, todos a cavalo. Ixvariam ainda doisbur­

ricos para transportar barracas, mantimentos, cobertas etc. Talvez noaltofizesse frio, apesarde ser janeiro;le­

variamtambém toldos e capas de borracha para a chuva.

(18)

Padrinhopreparou também remédio e injeções con­ tra mordida de cobra, comotinha feito quando foram à IlhaPerdida. As crianças estavamem grande excita­

ção:Vera, Lúcia e Cecília não dormiram bem de tanto pensar na excursão; osmeninos mais velhos não fala­

vamnoutro assunto. discutiam e comentavama luz que havia no alto. Bentodizia que a montanhaguarda­

vaum segredo e eles haviam de descobri-lo.

Na madrugada de umaquarta-feira havia grande mo­ vimento na casa da fazenda. Eufrosinapreparava quitutes na cozinha; fritava linguiça, faziasanduíchesdequeijo, colocava requeijões fresquinhos dentro de umacesta, preparava tudo com animação.Madrinhaia de um lado para outro, indicandoasroupas que as crianças deviam levar,aconselhando a não tomarem chuva, a terem cuida­ docomasaúde. Pingo ePipoca iriamtambém porque eram inseparáveisamigos de VeraeLúcia.

Estava ainda escuro quando montaram a cavalo na por­ ta da casa; Madrinhadespediu-sede todos, fazendomuitas recomendações acada um deles. Tomásio e Jeromão ha­

viampartido uma hora antes. Ficoucombinado que es­

perariam a caravanano ponto onde Padrinho havia de­

terminado para a subida da serra.

Antes de montar a cavalo, olharam para o alto, masnão havia nada; a montanha conservava-se em completaes­

curidão. Partiram.Todosfalavam ao mesmo tempo; riam alto, contentes com a aventura. Depois deatravessarem o riozinho pela pontequePadrinho havia mandadofazer' chegarama uma planície;quandooscavalosiam trotan­

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doatravés da planície, o solapareceuno horizonte e foi saudado com alegria pelas crianças.

Bento ia atrás de todosconduzindoos dois burricos car­ regados de tudo o que era necessário para armar o acampa­

mento. Depois de atravessarem a planície, chegaram a um cafezal pertencentea uma fazenda vizinha; atraves- saram-notambém. Um cavalo marchava atrásdooutro por entre os pés de café. depois docafezal é que chega­

ram à encosta da montanha, onde Tomásio e Jeromão es­ tavam esperando. Cada um deleslevava consigo um facão de mato, própriopara abrir picadas;pararam um pouco e Padrinho deu asordensmarcando o lugar por onde de­

viam subir a serra.

Depois de breve descanso, começou a subida. Andaram umahora mais ou menos;os animais subiamdevagarpor­

que a serraeramuito íngreme; de repente,Oscardisse que estava com sede. Pararam novamentepara tomar alguma bebida;abriram uma das cestas; nela havia várias garrafas cheias de limonada preparadapor Madrinha.

De súbito, Cecília lembrou-se de que os animais também deviam tersede e que elesnão tomavam limo­ nada. Olharampara Pingo e Pipoca; ambos estavam com aslínguas fora da boca, com jeito de quererem bastante água.Eduardo disse:

— Vamos experimentar dar limonada; quem sabe eles bebem...

Nadadisso disse Padrinho.Eu cometium erro muito grande; esqueci-me de trazer água paraos ca­ valos, tambémisso não é possível. Temos quedar um jeito e procurar água por aquimesmo.

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Jeromão falouque em todasasserrasnascentes;na­

quela tambémdeveriahaver. Não seria melhor procurar desde já? Padrinho concordou; oscavalos e os cachor­ rinhos precisavamde água para beber. Como é que nin­ guém tinha selembrado desse detalhe tão importante?

Enquantoisso,Henrique,que tinha apeado, havia des­ pejado um pouco de limonada nocôncavoda mão e dava a Pipoca; Pipoca cheirou, experimentou e virou o focinho para um lado;veio Pingo; lambeuos dedos de Henrique, mas não bebeu a limonada. Cecíliadisse:

Eles querem água, água pura.

Tomásio e Jeromão deixaram oscavalosamarradosnu­

ma árvore e embrenharam-sepelo mato à procura deágua;

Bento,Eduardo e Henriqueforam paraoutro lado, en­ quantoasmeninas e os dois menores ficaram com Padri­ nho. Aqueleque encontrasse primeiro a água devia dar um assobio todoespecialparaavisarosoutros.

Padrinho e ascrianças apearam e sentaram-se no chão para esperar; osdoiscachorrinhos deitaram-se aolado deles. Todaa serra parecia deserta e o lugar era muito fresco.

Aespera prolongou-se por mais de uma hora. Padri­ nho estavaficandodesanimado e até falou em voltar para a fazenda quando Pingo,que havia saídonuma excursão pelosarredores, voltou todo molhado e sesacudindoener­

gicamente parajogar fora a águadopelo. Vera gritou:

Pingo, onde vocêesteve? Pingodescobriuágua, Padrinho!

Todosrodearam o cachorrinho e falaram com ele co­

mo se Pingo pudesse responder; até Padrinho começou a perguntar comoseesperasseresposta:

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Conta,Pingo, ondeestá a água?

Procuraram Pipoca; também não estava; devia terido ao lugar onde Pingo esteve. Imediatamente Padrinho tirou um balde que estava dependuradono arreio deum dos burricos e disse:

— Vamosverondeesses heróis encontraram água.

Como se compreendesse, Pingo começou a trotar por entre asárvores; Quico e Oscarseguiramatrásdele,en­

tusiasmados com a inteligência do cachorrinho. Padrinho recomendou:

— Cuidado!

Nesseinstante, Pipoca veio saindo do meio domato cerrado;vinha também sacudindo-setodo e muito satis­ feito; com certeza tinhabebido água até se fartar. Oscar, que ia na frente, gritou:

— Já estou sentindo o cheiro da água, não deve es­

tar longe.

Cecíliarespondeu:

Água não temcheiro!

Mas estatemrespondeuOscar.

— Euestou sentindo que deste lado o ar é mais fresco

disse Vera. Deve ser por aqui.

Todos riram. Viramuma barracano meio das árvo­

res, depois um grotão; lá embaixo corria uma água pura ecristalina. Com amaior facilidadeos dois cachorri- nhosdesceram e foram beber água outravez. As crian­

ças ficaram olhando, sem coragem de descer. Padri­ nho disse:

— Vamos procurar ummeio de descer; deve haver um lugarporondese possa ir até embaixo.

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Andaram com cuidado à volta do grotão, procurando um meio de chegar até a água; Padrinholembrou-sedo as­ sobio; devia assobiarpara avisar os outros: a água tinha sidoencontrada. Assobiou trêsvezes seguidas e esperou resposta;não veio resposta alguma.Oscarse lembrou de gritar; gritoucomtoda a força:

— En-con-tra-mosá-gua!Vol-tem!

Cecília, Vera e Lúciagritarampor sua vez e esperaram, nada de resposta. Enquantoisso,Padrinho teve uma ideia:

— Olhem,meusfilhos, vamos amarrar a corda no bal­ de e jogar daqui; o balde vem cheio, assim nãoprecisa­

mos descer e oscavalosbebem água.

— Ondeestá a corda? perguntouLúcia.

— Está amarrada numburrinho, eu voubuscar respondeu Quico.

E voltou correndopara o lugar onde estavam amar­

rados os cavalos; encontrou logo a corda,tirou e voltou correndo. Ouviram nesse momento três assobios; devia ser Bento, pois veio do lado para onde ele tinha segui­ do. Padrinhorespondeu bem alto:

— Voltem!Encontramoságua!

Amarrou a cordano balde e deixoucair no grotão com todo cuidado; todos ficaramolhando,e viram obalde encher-sede água, depois vir subindo, bemdevagar;os cachorrinhosestavam de volta,sacudindo ascaudas de contentamento.O balde veio cheio; a água erafres­

ca e limpa; todosbeberam, depoisPadrinhoencheuno­

vamente o balde para dar aoscavalos, que beberam com vontade; estavammesmo sedentos.

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Eduardo, Henrique e Bentovoltaramcansados e sua­ dos;contaram que não haviam vistonem sinal de água, e haviampercorridograndepartedaserra, naquele lado.

Eduardo passouolenço pela testae perguntou, muito admirado:

Quem encontrou água?

Contaram que tinhasidoPingo.Os meninos acharam muita graçaedisseramque a ideiade trazer oscachorros havia sido ótima.Padrinho assobioumaisalgumasvezes para chamar Tomásio e Jeromão, ainda ausentes.

Logo maisapareceramosdoisdizendo nada haveren­

contrado; estavam ficando desanimadosquandoou­

viram o primeiroassobio. Foram ver o grotão e tiraram mais um balde d’água, que também beberam; depoistor­

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naram a dardebeber aos cavalos. Padrinho olhou o re­ lógio e disse:

Com essa história de procurar água, o tempo pas­ sou.Vamosentãodescansar e comer alguma coisa para depois continuarmos nosso caminho.

Acharam boa a ideia. Almoçaramsanduícheseovos cozidos;deram carne aos cachorros e milhoaos cavalos;

depoisde ligeirodescanso,resolveram continuar a su­

bida. eram duas horas da tarde.

(25)

4

0 PRIMEIRO ACAMPAMENTO

Daqueleponto em diante, a subida tornou-se cada vez mais penosa; o caminhoera,àsvezes, tão íngreme que os cavalos escorregavam;entãoos cavaleiros apeavam e pu­

xavamos animaispelas rédeas. Fizeram o possívelpara seguir o curso d’água. Padrinhorecomendou:

Devemos seguir sempre nesta direção onde deveha­

ver água; docontrário, não os animais passarão sede,co­

mo nós também, pois a nossa limonada se acabará.

(26)

Assimforamsubindoentreárvoresgrandes, arbustos, cipós, plantas de todas as espécies. Havialugaresescor­

regadiose perigosos; havia outros tão escuros e sombrios que parecia noite. De vez em quando beiravam um pre­ cipício e imaginavam queembaixo devia haver água;

assim foram caminhando atéque ouviram um barulho, cuja origem aprincípio não souberam definir;ficaram todos parados, escutando; depois Eduardodisse:

É barulho de água correndo. Deve haver uma cas­ cata por aqui.

Ficaram quietos alguns instantes, Padrinho confirmou:

Eduardo tem razão. Vamosna direção dobarulho, deve ser uma cascata.

Logo adiante, mais para adireita, havia umabonita cascata despencandode altura considerável e caindo em­ baixo, numa espécie depoço. Depois deterem admirado unsinstantes a bela cascata, Padrinho falou:

Penso que não há melhor lugar para acamparmos hoje. Há água e lugar planoparaasbarracas.Vamos dor­ mir aqui.

Ascriançasficaram encantadas; todos procuraram au­ xiliar.Uns ajudaramBentoadescarregarosburricos,ou­

tros foram encher novamente o balde no poço. Tomásio e Jeromão foramcortar paus para armar as barracas. As trêsmeninas foram cortar pauzinhos secos para fazer fogo para o jantar.

Duas horas depois tudo estavapronto: as barracas com suas camas deventoarmadas; o fogoardendo debaixo de uma frigideira, onde Bento preparava ovos e salsichas.

Jantaram muito bem, tomaramcafé fresco, pois Pa­

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