EDITORIAL
CIÊNCIA DA ENFERMAGEM A SERVIÇO DA
COMUNIDADE
Ao término deste século XX, percebe-se um movimento generalizado para mudanças. Os conhecimentos, tecnologias e habilidades desenvolvidas nestes últimos trinta anos pelas enfermeiras na busca de novos espaços, de-terminaram e delinearam caminhos que já não permitem mais indecisões. O desafio de uma inserção no cenário nacional dos países onde a enfermagem conseguiu sobrepujar as dificuldades seculares relacionadas às relações de gênero e às estruturas cristalizadas de poder das profissões ditas "nobres", direciona a enfermagem contemporânea a buscar e a implementar alianças norte-sul e leste-oeste numa tentativa de favorecer uma ampliação das fron-teiras e dos limites do saber da enfermagem.
As dificuldades se apresentam como que insuperáveis, visto que como uma área em desenvolvimento, a busca por recursos para o desenvolvimento de pesquisas, parece estar sempre na contra-mão do sucesso. As áreas consi-deradas tradicionais em suas demandas por recursos tem privilégios sedimentados e garantem um aporte importante de recursos, enquanto que as áreas emergentes, têm de desenvolver processos inovadores e agressivos para conseguir uma fatia dos financiamentos cada vez menos disponíveis nos países em desenvolvimento.
Em nosso País, a inserção de pesquisadores em perfis de competência já está sedimentada nos órgãos de fomento de pesquisas, mas apesar deste fato, ainda não chegamos ao nível de possuir um programa específico de en-fermagem, com um orçamento próprio para o financiamento das nossas pes-quisas.
Por outro lado o panorama de saúde nos países em desenvolvimento é perverso e perdulário.
As doenças de p r i m e i r o e terceiro m u n d o c r u z a m - s e no dia a dia e pro-vocam e n r e d o s científicos e tecnológicos difíceis de c o m p r e e n d e r .
A tecnologia simplificada que em a l g u m a s regiões r e p r e s e n t a r i a u m a sensível diminuição de indicadores de morbidade e m o r t a l i d a d e é t r o c a d a por u m a tecnologia sofisticada que a t e n d e mais os i n t e r e s s e s corporativos político-profissionais do que aos coletivos.
As iniciativas das enfermeiras n a busca de e s t r a t é g i a s q u e favoreçam a c o m p r e e n s ã o das necessidades coletivas por p a r t e dos profissionais da saú-de n ã o são privilegiadas e sofrem revezes em sucessivas ocasiões. A busca saú-de f o r m a s a l t e r n a t i v a s de d i m i n u i ç ã o dos c o n t r a s t e s n o s i n d i c a d o r e s epidemiológicos g r i t a n t e s , merecem d e s t a q u e n a mídia e favorecem as intervenções políticas no processo, g e r a l m e n t e p a t e r n a l i s t a s , de p e q u e n a d u r a -ção, sem mecanismos de i m p l e m e n t a ç ã o e de controle estabelecidos.
As "doenças de pobreza" necessitam de um processo de i n t e r v e n ç ã o se-guro, a d e q u a d o , com controle coletivo e a n á l i s e dos r e s u l t a d o s . A pobreza hoje, se e x p a n d e pelos países do terceiro, s e g u n d o e p r i m e i r o m u n d o e as e n f e r m e i r a s devem ser capazes de p r o d u z i r espaços de i n t e r a ç ã o suficientes e satisfatórios p a r a u m a ação conjunta, onde, a q u e l a s que n ã o c o n s e g u i r a m s u p e r a r as dificuldades em s u a s p r ó p r i a s regiões e países coloquem à dispo-s i ç ã o d a dispo-s q u e n ã o c o n dispo-s e g u i r a m , odispo-s c o n h e c i m e n t o dispo-s , a dispo-s t e c n o l o g i a dispo-s e a capacitação p a r a s u a utilização sem restrições.
O Ser H u m a n o precisa de cuidados. O g r a n d e desafio é f o r m u l a r e i m p l e m e n t a r u m m o d e l o de s u p o r t e ao d e s e n v o l v i m e n t o da c a p a c i d a d e i n t e r v e n t i v a das enfermeiras capaz de e n f r e n t a r as d e s i g u a l d a d e s sociais e econômicas em s u a região. U m a ciência de enfermagem a serviço d a comuni-dade é o que se faz necessário.
Tamara Iwanow Cianciarullo