A importância da atividade turística associada às Salinas
de Rio Maior para a sustentabilidade do território
Paula Sofia Subtil Matias
A importância da atividade turística associada às Salinas
de Rio Maior para a sustentabilidade do território
Paula Sofia Subtil Matias
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre
em Marketing e Promoção Turística
Dissertação de Mestrado realizada sob a orientação
do Doutor Mário João Paulo de Jesus Carvalho
A importância da atividade turística associada às Salinas de Rio Maior para
a sustentabilidade do território
Copyright
Paula Sofia Subtil Matias
Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar – Peniche
Instituto Politécnico de Leiria
2012
A Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar e o Instituto Politécnico de Leiria têm
o direito, perpétuo e sem limites geográficos, de arquivar e publicar esta dissertação
através de exemplares impressos reproduzidos em papel ou de forma digital, ou por
qualquer outro meio conhecido ou que venha a ser inventado, e de a divulgar através de
repositórios científicos e de admitir a sua cópia e distribuição com objetivos educacionais
ou de investigação, não comerciais, desde que seja dado crédito ao autor e editor.
Dedicatória
Ao meu marido e grande amor, Sérgio, que
com o seu exemplo de companheirismo e
determinação me ajudou a enfrentar mais
este desafio.
Aos meus Pais, Mário e Olímpia, pelo apoio
incondicional
e
carinho
que
sempre
demonstraram ao longo de toda a minha vida
e pelos irmãos fantásticos que me deram.
Aos meus irmãos, Rui Pedro, Ana Isabel e
João Carlos,
o meu “porto de abrigo”, pelos
laços construídos que nos unirão para
sempre.
À minha sobrinha, Laura, pela magia que
trouxe às nossas vidas.
Agradecimentos
Ao meu orientador, Professor Doutor Mário
Carvalho,
por
acreditar
nas
minhas
capacidades para desenvolver este trabalho,
por todo o empenho e dedicação, pela
disponibilidade sempre demonstrada, pelo
saber, apoio e amizade.
Aos técnicos do Posto de Turismo das
Salinas de Rio Maior.
Aos responsáveis das entidades locais,
unidades de alojamento e restauração e aos
comerciantes das Salinas de Rio Maior pelas
entrevistas
concedidas,
contributo
fundamental
na
concretização
desta
dissertação.
Às minhas colegas de Mestrado: Ana Sofia,
pelo companheirismo e amizade e Victoria,
pela partilha de conhecimentos e incentivo
nos momentos mais difíceis, principalmente
neste último ano do meu percurso académico.
Resumo
Esta dissertação de mestrado pretende abordar, de uma forma científica, o impacto da
atividade turística associada às Salinas de Rio Maior, na criação de sustentabilidade no
território.
A presente investigação tem por objetivo desenhar um quadro demonstrativo da atual
oferta no destino Salinas de Rio Maior e simultaneamente identificar e caracterizar a
procura. Com os dados entretanto obtidos foram propostas e delineadas diferentes
estratégias de reposicionamento que em nossa opinião aumentará não só a taxa de
visitação como criará importante sustentabilidade para o território. Ainda com a
contribuição dos comerciantes locais e outras entidades de relevante interesse para a
região procurou-se conhecer e evidenciar o peso da atividade turística para a economia
local.
O estudo com duas distintas fases visou a relação entre a preservação do património
natural e cultural das Salinas de Rio Maior e a sua promoção turística. A primeira,
sustentada na pesquisa e revisão bibliográfica e a segunda por inquérito com a aplicação
de questionário e entrevistas para perceção da atividade turística enquanto motor do
desenvolvimento económico local.
No fundo pretende-se demonstrar que este destino,
dotado de forte potencial no que concerne a recursos turísticos, carece de infraestruturas
e de um plano de marketing para ambicionar obter dividendos económicos para as
gentes e territórios.
Verificou-se ainda serem alguns os investimentos levados a cabo pelo poder local, dos
quais resultaram não só um reposicionamento da atual oferta como um aumento da
procura. Contudo é essencial que, de forma articulada, todos os stakeholders assumam
as suas responsabilidades no que concerne ao desenvolvimento do destino; só assim
será possível conseguir um crescente aumento da taxa de visitação e paralelamente um
maior período de permanência dos turistas na região, fatores que associados levarão a
uma maior sustentabilidade.
Palavras-chave: Salinas de Rio Maior, Património Natural e Cultural, Atividade turística,
Abstract
This dissertation of master’s degree intends to approach, in a scientific way, the impact of
the tourist activity associated to Salinas de Rio Maior, in the creation of sustainability
within the territory.
This investigation aims to draw a demonstrative board of the real supply of Salinas de Rio
Maior as a destination and simultaneously identify and characterize the demand. With the
data obtained, different replacement strategies were suggested and outlined. In our
opinion, it will increase the visiting rate and will create sustainability within the territory.
With the contribution of local traders and other entities with relevant benefit to the region
we tried to know and to show clearly the tourist activity weigh to local economy.
This study with its two different stages aimed the relationship between the preservation of
natural and cultural heritage of Salinas de Rio Maior and its tourist promotion. The first
stage was sustained by research and bibliographic revision and the second by an inquiry
by applying a questionnaire and interviews to perception of tourist activity as a motive of
local economic development. In a word, it is intended to show that this destination,
endowed with strong tourist resources potential, requires infrastructures and a marketing
plan to aspire to obtain economic share to people and territories.
It was verified that some investments are carried through the local power which turns to
not only the repositioning of real supply but also the increase of
demand. However, it’s
important that, in an articulate manner, all the stakeholders assume all their
responsibilities as the destination development is concerned; only thus, it is possible to
achieve an increasing visiting rate and, at the same time, a bigger period of stay of
tourists in the region. If these factors are associated they will take to a bigger
sustainability.
Key words: Salinas de Rio Maior, Natural and cultural heritage, tourist activity,
Índice
D
EDICATÓRIA...
VA
GRADECIMENTOS...
VIIR
ESUMO...
IXA
BSTRACT...
XIÍ
NDICE DE FIGURAS...
XVÍ
NDICE DE TABELAS...
XVIIÍ
NDICE DE GRÁFICOS...
XIXA
BREVIATURAS...
XXII
NTRODUÇÃO... 1
CAPÍTULO
I
-
R
EVISÃO DAL
ITERATURA... 5
1.1. Sal ... 5
1.2. Salinas de interior ... 7
1.3. Património Geológico ... 11
1.4. Geoconservação ... 12
1.5. Geoturismo ... 13
CAPÍTULO
II
-
S
ALINAS DER
IOM
AIOR-
P
ATRIMÓNION
ATURAL EC
ULTURAL COMOR
ECURSOT
URÍSTICO... 15
2.1. Localização Geográfica e Acessibilidades ... 16
2.2. Caraterização histórica ... 16
2.3. Contextualização da Oferta Turística ... 22
2.3.1. Caracterização da Oferta turística nas Salinas de Rio Maior ... 23
2.4. Projetos desenvolvidos pela autarquia de Rio Maior ... 24
2.5. Projeção turística nos media ... 26
2.6. Evolução da Taxa de Visitação das Salinas de Rio Maior ... 27
CAPÍTULO
III
-
A
PROBLEMÁTICA DO DESENVOLVIMENTO TURÍSTICO:
T
RADIÇÃO VERSUSM
ODERNIDADE... 29
3.1. Planeamento do turismo como garante da sustentabilidade do território ... 29
CAPÍTULO
IV
-
M
ETODOLOGIA DEI
NVESTIGAÇÃO... 33
4.1. Justificação da escolha do Tema e Objetivos ... 33
4.2. Linhas orientadoras da investigação ... 34
4.3. Desenho da investigação ... 36
4.4. Questionário ... 38
4.4.2. Desenho do Inquérito por questionário ... 39
4.4.3. Variáveis Motivação e Satisfação - Escalas de medida ... 40
4.4.4. Pré-teste ... 43
4.4.5. Recolha de dados ... 44
4.5. Entrevista ... 45
4.5.1. Entrevistados ... 46
4.5.2. Construção da entrevista ... 47
4.5.3. Realização da entrevista ... 49
CAPÍTULO
V
-
R
ESULTADOS... 51
5.1. Análise descritiva do questionário aplicado a visitantes das Salinas de Rio Maior ... 51
5.2. Análise correlacional ... 57
5.3. Análise das entrevistas ... 70
CAPÍTULO
VI
-
C
ONCLUSÕES... 81
6.1. Apresentação e Discussão de resultados ... 81
6.2. Implicações e recomendações ... 84
6.3. Limitações do estudo ... 87
6.4. Futuras linhas de investigação ... 88
B
IBLIOGRAFIA... 89
ANEXOS ... 93
A
NEXOI
I
NQUÉRITO POR QUESTIONÁRIO APLICADO A VISITANTES DASS
ALINAS DER
IOM
AIOR... 95
A
NEXOII
A
PRESENTAÇÃO GRÁFICA DA ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS... 101
A
NEXOIII
A
PRESENTAÇÃO DOS QUADROS DA ANÁLISE CORRELACIONAL... 115
A
NEXOIV
T
RANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS APLICADAS AU
NIDADES DEA
LOJAMENTO... 137
A
NEXOV
T
RANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS APLICADAS AU
NIDADES DER
ESTAURAÇÃO... 143
A
NEXOVI
T
RANSCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS APLICADAS AC
OMERCIANTES... 149
Índice de figuras
Figura 2.1 - Monte de Sal ... 20
Figura 2.2 - Casa de Madeira ... 20
Figura 2.3 - Fechadura e Chave de Madeira ... 21
Figura 2.4 - Queijos de Sal ... 21
Figura 2.5 - Réguas de escrita ... 21
Índice de tabelas
Tabela 1.1 - Destinos Turísticos Salgados ... 10
Tabela 2.1 - Obras bibliográficas que mencionam as Salinas de Rio Maior ... 17
Tabela 2.2 - Oferta Turística ... 24
Tabela 2.3 - Visitas/Atividades - Serviço Educativo da Casa Senhorial D’El Rei D. Miguel... 25
Tabela 2.4 - Visitas/Atividades - Posto de Turismo das Salinas de Rio Maior ... 25
Tabela 2.5 - Visitantes/Ano ... 28
Tabela 4.1 - Caraterização inicial da amostra ... 39
Tabela 4.2 - Estrutura do Questionário ... 40
Tabela 4.3 - Variáveis utilizadas no questionário... 43
Tabela 4.4 - Resultados do Pré-teste ... 44
Tabela 4.5 - Recolha de dados ... 45
Tabela 4.6 - Entrevistados ... 47
Tabela 4.7 - Estrutura das entrevistas semiestruturadas ... 48
Tabela 5.1 - Hierarquização da forma como tiveram conhecimento das Salinas de Rio Maior ... 53
Tabela 5.2 - Classificação - Produtos a adquirir/adquiridos nas Salinas pelos visitantes ... 55
Tabela 5.3 - Avaliação da Motivação para visitar as Salinas ... 55
Tabela 5.4 - Avaliação da Satisfação com a visita às Salinas ... 56
Tabela 5.5 - Classificação - Motivo para revisitar as Salinas ... 56
Tabela 5.6 - Perfil sociodemográfico ... 57
Tabela 5.7 - Correlações Hipótese 1 ... 58
Tabela 5.8 - Correlações Hipótese 2 ... 61
Tabela 5.9 - Correlações Hipótese 3 - Alojamento ... 65
Tabela 5.10 - Correlações Hipótese 3 - Restauração ... 66
Tabela 5.11 - Correlações Hipótese 5 ... 67
Tabela 5.12 - Opinião dos entrevistados relativamente ao interesse da atividade turística nas
Salinas de Rio Maior ... 70
Tabela 5.13 - Evidencia a opinião dos entrevistados sobre o acolhimento aos visitantes ... 71
Tabela 5.14 - Dependência económica dos comerciantes face aos visitantes ... 71
Tabela 5.15 - Percentagem anual ... 72
Tabela 5.16 - Opinião sobre a promoção/divulgação feita às Salinas de Rio Maior ... 72
Tabela 5.17 - Investimento da autarquia na promoção das Salinas na ótica dos comerciantes ... 73
Tabela 5.18 - Conhecimento relativo à promoção/publicidade ... 73
Tabela 5.19 - Alternativas apresentadas ... 73
Tabela 5.20 - Importância atribuída às Salinas no desenvolvimento económico da região ... 74
Tabela 5.22 - Opinião dos comerciantes sobre a Instalação de um Centro de Interpretação nas
Salinas ... 75
Tabela 5.23 - Comercialização de produtos locais ... 75
Tabela 5.24 - Sugestões para tornar as Salinas mais atrativas de forma a aumentar o volume de
receitas no território ... 76
Tabela 5.25 - Opinião dos comerciantes sobre o investimento da autarquia nas Salinas ... 77
Tabela 5.26 - Importância atribuída ao Prémio Geoconservação 2012 ... 78
Tabela 5.27 - Sugestões para tornar as Salinas mais atrativas ... 78
Tabela 5.28 - Perspetivas futuras para as Salinas ... 79
Índice de gráficos
Abreviaturas
CNUAD - Comissão das Nações Unidas para o Ambiente e Desenvolvimento
ESTM - Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar
IC - Itinerário Complementar
IP - Itinerário Principal
IPL - Instituto Politécnico de Leiria
IUGS - International Union of Geological Sciences
NTIC - Novas Tecnologias de Informação e Comunicação
OMT - Organização Mundial do Turismo
PNSAC - Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros
ProGEO
– Associação Europeia para a Conservação do Património Geológico
REP - Recreation Experience Preference
RNAP - Rede Nacional de Áreas Protegidas
SPSS - Statistical Package for the Social Science
Introdução
O turismo sustentável assenta na conservação e valorização do património e, em
simultâneo, no desenvolvimento social e económico de um destino, respeitando as
tradições dos habitantes locais e melhorando as suas condições de vida. Para tal,
torna-se estorna-sencial conhecer os visitantes e utilizar estorna-se conhecimento como instrumento
estratégico, no desenvolvimento e gestão da oferta turística.
A temática desta dissertação surge da necessidade de garantir a preservação do
património natural e cultural das Salinas de Rio Maior, assegurando, em simultâneo, uma
oferta de qualidade aos seus visitantes. Este equilíbrio permitirá o desenvolvimento da
atividade turística nas Salinas de Rio Maior, com destaque para a oferta de produtos
turísticos que permitam aos visitantes descobrir e compreender o destino turístico na sua
essência, sem colocar em causa a qualidade de vida dos habitantes locais e, pelo
contrário, contribuir para o aumento da sua economia.
A monitorização e subsequente gestão dos fluxos de visitantes, terão como principal
objetivo reduzir os impactos negativos na sustentabilidade do território e das gentes das
Salinas de Rio Maior.
A escolha do objeto de estudo, não deve ser encarado como uma coisa, mas sim como
um processo e não deve ser, de todo, nesta fase do percurso académico tirar à sorte um
qualquer tema ainda que curioso ou exemplar raro como se, só por isso, a escolha fosse
a mais acertada. Ainda que existissem diversos estudos sobre o tema, o mesmo podia
ser, sempre, tratado de uma outra vertente ou perspetiva muito própria, consoante o
interesse do autor pela respetiva área de investigação.
As Salinas de Rio Maior para além de ser um destino muito sui generis, é dos mais
antigos e atualmente o único em Portugal, onde se extrai sal-gema num sistema de
exploração a céu aberto com talhos. Talvez por isso mesmo, não seja difícil encontrar
vários trabalhos publicados, sobre as mesmas.
Aliada a estes fatores surge a motivação pessoal para, em primeiro lugar, desenvolver
um trabalho sobre um local que para a autora é próximo geograficamente e, em segundo
lugar, lhe é querido, tendo-a fascinado desde sempre pela sua beleza natural, a forma
artesanal de trabalhar o sal e o harmonioso conjunto de casinhas de madeira que mais
fazem lembrar, com os montes brancos ao fundo, um lugar de histórias de encantar,
mágico mesmo.
A questão de investigação subjacente ao nosso trabalho tem como principal propósito
salientar a importância da atividade turística na sustentabilidade das Salinas de Rio
Maior.
Tendo em conta o nosso objeto de estudo entendemos como objetivos: Caracterizar a
atual oferta no destino turístico Salinas de Rio Maior; e Identificar e caracterizar a procura
que valoriza destinos turísticos com estas características.
De forma a conseguirmos atingir os objetivos inicialmente propostos, definimos cinco
hipóteses:
H1.
As Salinas de Rio Maior são no dia da visita o principal destino turístico dos seus
visitantes
.
H2.
A atividade artesanal da extração do sal é o
principal motivo de atração turística
das Salinas de Rio Maior.
H3.
Os visitantes das Salinas de Rio Maior são os grandes responsáveis pela
ocupação na hotelaria e restauração local.
H4.
Os produtos que se vendem nas Salinas de Rio Maior são produzidos por
artesãos/empresas da região.
H5.
As infraestruturas existentes nas Salinas de Rio Maior satisfazem as
necessidades dos visitantes.
A metodologia consiste, basicamente, na operacionalização de um conjunto de processos
e técnicas que nos permitem obter resposta aos objetivos inicialmente traçados. Assim,
nesta investigação a metodologia usada foi quantitativa e qualitativa, pois só a utilização
complementar destes dois métodos aumentará a fiabilidade dos resultados (Bardin,
1999). Assim e tendo em linha de conta os objetivos da investigação, contemplámos
como instrumentos de recolha de informação o inquérito por questionário e a entrevista
semiestruturada.
A aplicação dos questionários nas Salinas de Rio Maior, permite-nos classificar os
visitantes de acordo com os seus consumos e identificar oportunidades, de forma a
aumentar a taxa de visitação.
A realização de entrevistas complementa o primeiro método, na tentativa de validar a
atitude de comerciantes e entidades locais perante a atividade turística nas Salinas,
procurando-se, obviamente, soluções para contornar a sazonalidade de um destino deste
tipo, através da criação de novos produtos turísticos e nas parcerias com outros destinos.
O desenvolvimento desta investigação levou-nos a estruturar o trabalho da seguinte
forma:
Capítulo I
Revisão da literatura que aborda as diferenças entre sal marinho e sal-gema e faz uma
breve exposição sobre as salinas de interior onde se enquadram as Salinas de Rio Maior.
Faz alusão ao fenómeno geológico como fator de atração, apresentando e
desenvolvendo o conceito de Património Geológico e a necessidade de preservar esse
mesmo património através da Geoconservação. Ocupa também lugar neste capítulo o
Geoturismo, um tipo de turismo que se desenvolveu neste âmbito e que contempla
também os aspetos culturais de determinado local (geossítio).
Capítulo II
Apresenta uma breve caraterização geográfica e histórica das Salinas de Rio Maior e
contextualiza a oferta turística atual ao nível de infraestruturas, produtos e serviços (no
decorrer da investigação). Nos Projetos desenvolvidos pela autarquia de Rio Maior,
apresentam-se as iniciativas em que as Salinas se encontram ativamente envolvidas e,
aquelas em que se encontram na fase inicial de envolvimento. A projeção nos media é
outro tema em destaque neste capítulo, com especial incidência nas matérias noticiadas
na comunicação social regional, nacional e internacional, vídeos na internet, redes
sociais, entre outras.
Capítulo III
Expõe no âmbito do desenvolvimento turístico a problemática de conciliar tradição e
modernidade, enquadrando o tema da sustentabilidade e defendendo o planeamento do
turismo como garantia para o conseguir.
Capítulo IV
Apresenta de forma detalhada a Metodologia de Investigação e as linhas orientadoras no
desenvolvimento deste trabalho
.
Identifica e caracteriza o mercado do lado da procura,
com base nos dados fornecidos pela Câmara Municipal de Rio Maior e pela aplicação
dos questionários, que depois de analisados e interpretados, dão a conhecer o perfil dos
visitantes das Salinas de Rio Maior, motivação á realização da visita e a satisfação com a
mesma.
As entrevistas diagnosticam a perceção da comunidade local (comerciantes, unidades de
alojamento e restauração) e a intervenção política e associativa nas Salinas de Rio Maior.
Em conjunto, os dois métodos fornecem os dados que nos permitiram, também,
percecionar as dificuldades/potencialidades deste destino.
Capítulo V
Apresentação dos resultados obtidos durante a execução da presente investigação.
Capítulo VI
Conclusões,
onde
apresentamos
a
discussão
dos
resultados,
implicações,
recomendações, limitações e sugerimos futuras linhas de investigação.
CAPÍTULO I - Revisão da Literatura
Numa conceção construtiva de aprendizagem, é fundamental que o conteúdo não seja
apresentado de forma expositiva e construtiva e deve, sempre que possível, introduzir-se
o tema através de informações que permitam alcançar outros conhecimentos. A
construção deste capítulo apresenta uma série de conceitos e a forma como estes se
relacionam, com o principal objetivo de contextualizar o tema desta dissertação, para que
o leitor compreenda a investigação realizada.
1.1. Sal
“O sal é tão velho como a Terra e esta foi a primeira obra da Criação” (Silva, 1966: 7).
Perde-se no tempo a referência ao sal mas acredita-se que foi na pré-história que o
Homem o usou pela primeira vez na sua alimentação, vindo mais tarde a fazer uso do
mesmo na conservação alimentar da carne e do peixe.
O sal, produto natural e essencial à vida humana, tem assumido, desde sempre, um
importante papel económico nas civilizações/países detentores deste bem. Desde a sua
descoberta têm-lhe sido, até aos dias de hoje, associadas novas formas de utilização. Os
egípcios usaram-no como forma de conservarem os seus mortos, os romanos
acreditando que a vida se prolongaria para além da morte, depositavam nos túmulos
bens que consideravam essenciais, entre eles o sal.
Considerado matéria por uns e simbolismo por outros, originou muitas atividades
mercantis e movimentos sociais, indicativo, muitas vezes, de progresso da própria
humanidade. É do sal que, utilizado noutros tempos como forma de pagamento de jornas,
advém a palavra salário que atualmente ainda se mantém.
A salinicultura, das mais antigas atividades no território português, tem por base dois
elementos fundamentais: a água do mar (com exceção das marinhas de sal-gema) e a
evaporação da mesma. Com excelentes condições geográficas e climáticas e a utilização
de técnicas adequadas ao desenvolvimento da indústria salineira, o sal português chegou
a ter, noutros tempos, lugar de destaque a nível mundial (Rau, 1984).
O conjunto de marinhas de determinada região pode ser denominado de salgado. Em
Portugal são diversas as denominações usadas nos locais onde se extrai o sal: salgados,
salinas, marinhas, marinhais, marinha, etc. Geralmente os salgados encontram-se
próximos do mar e Portugal, pela dimensão da sua orla costeira, é um país propício à sua
existência em grande número. É de salientar a importância do sal pela diversidade de
aplicações que pode ter (doméstica, industrial, agrícola, etc.).
Existem dois tipos de sal consoante o seu local de extração: o sal marinho e o sal-gema.
O sal marinho é obtido a partir da água do mar e apresenta-se em cristais de forma
cúbica com diferentes dimensões, o que o classifica comercialmente como fino, traçado e
grosso. Constituído essencialmente por cloreto de sódio tem ainda outras substâncias,
consideradas as impurezas do sal, e que habitualmente são aproveitadas por exemplo
para indústria de adubos. Quimicamente não é considerado puro, por conter na sua
composição corpos estranhos ao cloreto de sódio. A extração deste tipo de sal
consegue-se através da construção de reconsegue-servatórios de terra por onde consegue-se faz entrar a água do mar,
e este é sem dúvida o tipo de sal que predomina em Portugal.
O sal-gema, como o nome indica, é obtido das rochas nas profundezas da terra, é mais
rico em cloreto de sódio e por isso, considerado mais puro que o sal marinho.
Subdivide-se em subterrâneo e de superfície, de acordo com o local onde pode Subdivide-ser encontrado e,
por isso, varia na sua extração, conforme se pode verificar adiante.
Sal-gema subterrâneo - a sua extração consiste na construção de galerias subterrâneas
que permitem através de máquinas ou sondagem (injeção de água doce quente que
dissolvem as camadas subterrâneas de sal) retirar o sal sob a forma de salmoura.
Sal-gema de superfície - obtém-se através de nascentes de água salgada, que depois de
recolhida se expõe em talhos ao ar livre e se deixa evaporar, obtendo-se assim o sal.
Esta é a forma de extração que se verifica em Rio Maior.
A evaporação solar é entre os diversos modos de produzir sal, o mais artesanal e o mais
apreciado pelos consumidores, pela sua pureza e qualidade que apresenta. Os
problemas ligados à concorrência com outras formas de produzir sal, a dureza da safra e
a sua baixa rentabilidade, têm afastado novas gerações desta atividade, talvez por isso
comecem a ser encaradas numa outra perspetiva, que tem como objetivo último, a sua
preservação nas vertentes natural e cultural.
1.2. Salinas de interior
A existência de salinas de interior, por mais estranho que pareça, surge ainda, para
algumas pessoas, associada a lendas sobre galerias subterrâneas marítimas (braços de
mar) que se estendem até locais que ficam a muitos quilómetros do oceano. É
efetivamente verdade que a maior parte das salinas de interior têm origem no mar que há
200 milhões de anos, durante o Triásico Superior, chegou a cobrir a metade ocidental da
Península Ibérica. Fenómeno relativamente comum em alguns locais do continente
asiático e africano, apresenta-se quase como um fenómeno exclusivamente ibérico na
Europa, o que por si só constitui um forte argumento na sua recuperação e preservação
(Hueso, 2006).
Apesar de se conhecerem muitos inventários históricos, a diversidade de modelos
existentes devido a fatores geográficos, topográficos, hidráulicos e técnicos, dificultam um
levantamento completo e consensual sobre as salinas de interior na Península Ibérica.
A falta de conservação de algumas salinas deve-se ao facto de estas não terem sido
construídas com um objetivo estético mas sim produtivo, levando alguns investigadores a
apontarem causas ambientais, sociais e económicas para o seu abandono, tanto por falta
de interesse das entidades competentes como pelos seus proprietários, razão pela qual
se deve apostar na sua proteção e valorização.
A dependência das condições meteorológicas e o facto de só produzirem sal nos meses
mais quentes, o que as torna menos competitivas que as salinas de costa e, mais ainda,
com as minas de onde se pode extrair sal todo o ano, acaba por ser, no fundo, fator de
conservação, já que são essas condições que permitem que em lugares muito distantes
do mar se possa aceder a este recurso tão importante no consumo humano.
O abandono ligado ao êxodo rural e consequente afastamento das atividades artesanais,
dá todo o sentido à valorização das salinas, envolvendo a salvaguarda de ofícios
tradicionais associados à atividade salineira, que pode gerar mais emprego e levar ao
desenvolvimento de novos produtos. Poderá ainda contribuir para fixar população em
locais isolados e de menor dimensão, formar os seus
“novos” trabalhadores e mais
importante ainda criar sentimento de pertença nos seus habitantes.
O abandono por causas económicas decorre da pouca competitividade provocada pela
reduzida eficiência do processo tradicional, pela necessidade de mais mão de obra e pelo
produto que esteticamente ainda não se encontra desenvolvido. É o património natural e
cultural que deve impulsionar por exemplo a atividade turística, uma vez que locais como
estes têm para oferecer paisagens diferentes e experiências autênticas com o acréscimo
de produtos ecológicos que, cada vez mais, parecem estar na moda.
Tem-se assistido nos últimos anos a uma preocupação crescente com este tipo de
salinas e a uma mobilização, através da criação de associações e desenvolvimento de
projetos, no sentido da sua proteção tanto a nível do património tangível (construção,
ferramentas e utensílios) como intangível (tradição e métodos de trabalho).
O projeto transnacional Ecosal Atlantis “Ecoturismo nas salinas Atlânticas: uma estratégia
de desenvolvimento integral e sustentável” articula Património, Desenvolvimento territorial
e Biodiversidade e turismo natural, como fatores fulcrais no desenvolvimento turístico nas
salinas do Atlântico. Conta com a participação de 13 sócios de Espanha, França,
Portugal e Reino Unido, das mais diversas tipologias (museus, ecomuseus, municípios,
associações, etc.). A Câmara Municipal de Rio Maior é um dos envolvidos no projeto,
assumindo, obviamente, a realização de determinadas ações, e usufruindo neste âmbito
de uma intervenção nas suas Salinas a nível de infraestruturas de apoio à visitação
(Posto de Turismo), na melhoria de acessos (colocação de passadiços) e em projetos de
sinalética (placas de sinalização rodoviária e painéis interpretativos).
A Associação de Amigos de Salinas de Interior
1é uma das associações que se tem
destacado pelo desenvolvimento do seu projeto, disponibilizando serviços através da
organização de eventos (conferências, seminários, etc.), assistência no âmbito do uso
público (planificação e turismo), planos de desenvolvimento local, projetos de
investigação com a publicação de artigos e divulgação (feiras). Esta associação é um dos
parceiros no Ecosal Atlantis.
1
Associação de Amigos de Salinas de Interior
– entidade sem fins lucrativos, criada em 2002 em
Siguenza (Guadalajara), com o objetivo de investigar, recuperar, valorizar e divulgar o património
natural e cultural das salinas. http://www.salinasdeinterior.org
Podemos ainda referir que do projeto Interreg-Sal derivam outros projetos, de menor
dimensão, com objetivos comuns que envolvem preservação, recuperação e valorização
de salinas e que têm sido desenvolvidos também em Portugal, com maior predominância
nas salinas de mar, o que é perfeitamente compreensível já que as únicas salinas de
interior atualmente em funcionamento são as de Rio Maior.
Apesar de se ter verificado em 2006 a reabilitação das Salinas da Junqueira em Monte
Redondo, Leiria, no âmbito de um projeto europeu, estas encontram-se, desde a altura
da sua conclusão (2007) ao abandono. Contudo, esta é uma situação que não deve
servir de exemplo, até porque há esforços por parte da Junta de Freguesia de Monte
Redondo, para a reverter.
Investigadores, entidades responsáveis e o comum cidadão deverão, isso sim, acreditar
nos projetos, mobilizando esforços para a sua concretização, encarando-os não a curto
mas a longo prazo, tendo como referência alguns bons exemplos de projetos desta
natureza como é o caso do Etnosal na preservação etnográfica das Salinas de
Castilla-La-Mancha, a aplicação do Plano Diretor que em 2000 permitiu recuperar as Salinas de
Anana, no país Basco, o Sal do Atlântico que veio impulsionar as Salinas de Aveiro com
a dinamização do Ecomuseu Marinha da Troncalhada e Centro Interpretativo e o ALAS
que envolveu em Portugal as Salinas da Figueira da Foz e do qual resultou o Núcleo
Museológico do Sal.
Poderíamos ainda apontar muitos outros exemplos de projetos e associações que
envolvem um conjunto de parceiros (entidades, produtores, etc.), que visam garantir às
gerações futuras um património tão rico e tão antigo como o aparecimento do mundo, no
entanto a quantidade e diversidade daria para um outro trabalho de investigação.
Mundialmente são muitos os locais onde podemos encontrar sal, há até quem acredite ou
refira que em todos os países se produz sal. Neste âmbito destacamos alguns dos
destinos turísticos mais salgados, nos quais, é claro, o sal apresenta-se como principal
fator de atratividade, conforme a tabela 1.1.
Tabela 1.1 - Destinos Turísticos Salgados
Alguns dos destinos turísticos mais salgados do mundo
Catedral de sal de Zipaquirá, Colômbia
Construída dentro de um túnel de minas de sal a 50 km de Bogotá, faz parte do Parque de la Sal, uma reserva natural de 32 hectares. Para se chegar até esta catedral, uma das mais belas construções da Colômbia, é necessário passar por catorze capelas, cada uma com uma cruz talhada nas paredes de sal.
Devil’s Golf Course, Estados
Unidos
No coração do deserto de Mojave, no estado americano de Nevada, no Death Valley National Park, a cerca de 80 metros abaixo do nível do mar. Entre Las Vegas e Los Angeles, o parque tem uma área conhecida como Devil’s Golf Course (o campo de golfe do Diabo), com extensões de cristais salinos e formações curiosas que lembram paisagens pré-históricas.
Grande Lago Salgado, Estados Unidos
Conhecido como “o mar morto dos Estados Unidos”, fica no norte do estado de Utah, a menos de uma hora de carro de Salt Lake City, e é o maior lago de sal do hemisfério ocidental, com cerca de 4 400 km². Tem uma dezena de ilhas com belas praias, que podem ser visitadas em cruzeiros de um dia.
Ilha do Sal, Cabo Verde
Deve o seu nome às suas ricas salinas e é, hoje, a ilha mais turística de Cabo Verde. A mais pitoresca vila é Pedra Lume, onde uma cratera de um extinto vulcão, com um túnel artificial escavado em 1804 permitiu a extração de sal, e de onde é possível vislumbrar um cenário arrebatador de salinas em tons de azul, rosa e verde, conforme o estado de formação do sal.
Lago de Qinghai, China
Situado entre as montanhas nevadas do Tibete e as pastagens da região chinesa de Qinghai, a 3200 metros acima do nível do mar, numa área de 4400 metros quadrados, este lago é ponto de encontro de pássaros migratórios durante os meses de março e junho, principalmente na Ilha dos Pássaros.
Lago Salgado Chott El-Jerid,
Tunísia
Maior lago de água salgada da África com uma extensão de 4.920 km², fica a 16 metros abaixo do nível do mar. Geralmente no verão, a temperatura de cerca de 50 graus faz com que seque sendo assim possível aos visitantes atravessá-lo. O reflexo do Sol no sal e em algumas espécies de algas dá um aspeto avermelhado à água. Usado como palco do clássico da ficção científica com lasers, Star Wars.
Mar Morto, Israel e Jordânia
Lago salgado com mais de 1000 km² entre Israel e a Cisjordânia.
Com uma salinidade de cerca de 27% impede a vida de seres marinhos, e tem a água tão salgada que torna possível que pessoas flutuem nela.
Minas de Sal de Wieliczka,
Polónia
Próximas da cidade de Wieliczka, no sul da Polónia, são exploradas desde o século XIII e chegam a atrair mais de um milhão de visitantes por ano, motivados principalmente pelas suas caraterísticas ímpares como uma dúzia de estátuas e uma capela construída pelos mineiros nas paredes de sal, onde até os próprios candeeiros são feitos de sal.
Montanha de Sal de Cardona,
Espanha
Situa-se a 90 quilômetros de Barcelona e tem uma imagem surpreendente numa região de castelos históricos que tornam a pequena cidade ainda mais atraente. Explora serviços de visitas guiadas dentro das minas, garantindo uma qualidade na visita onde é possível usufruir a exposição de esculturas talhadas em sal.
Salar de Uyuni, Bolívia
Maior deserto de sal do mundo, com cerca de 12 mil km² , fica na região boliviana de Potosí, a mais de 3 300 metros acima do nível do mar. Na época das chuvas, as planícies ficam cobertas de uma fina camada de água, que reflete as belas paisagens onde até é possível ficar alojado num hotel de sal no coração do Salar.
Salinas de Trapani,
Itália
No oeste da ilha italiana de Sicília caraterizam-se pela existência de moinhos brancos e piscinas salgadas, formadas pela evaporação da água marinha do Mediterrâneo. Situadas na rota do sal, entre Trapani e Marsala, estão cercadas por uma vida voltada para o mar, com pesca, colheita de corais e produção de sal.
Salinas Grandes, Argentina
Imensa salina de 8900 km² ocupa o noroeste da província de Córdoban no centro da Argentina. Situam-se numa falha tectônica com ventos constantes e são de uma imensidão branca que reflete o céu em época de chuvas.
1.3. Património Geológico
O fenómeno geológico que se verifica nas Salinas de Rio Maior despertou, desde
sempre, o interesse dos mais diversos investigadores no âmbito da geologia. Constantino
Botelho de Lacerda Lobo em 1812 terá sido um dos primeiros, a fazer referência ao sal
de Rio Maior no âmbito de experiências que levou a cabo em diversas salinas do país
para o trabalho de investigação “Memorias Economicas” da Academia Real das Sciencias
de Lisboa para o Adiantamento da Agricultura, e da Industria em Portugal, e suas
Conquistas.
O conceito de património desde sempre associado a monumentos e edificações
arquitetónicas, designa-se por património histórico. Com o passar do tempo este conceito
foi-se alargando a sítios, paisagens, formas de fazer e saber de povos e passa a ser
considerado noutras vertentes como a natural e cultural.
As Salinas de Rio Maior integram o conjunto de sítios de interesse geológico do Parque
Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC). Este Parque foi criado em 1979 com
o objetivo de garantir proteção do património natural, arquitetónico e cultural, desenvolver
atividades artesanais, renovar a economia local e promover o repouso e recreio ao ar
livre (Pereira et al., 2010).
O Decreto-Lei n.
o142/2008 que regula a Rede Nacional de Áreas Protegidas (RNAP)
define bem os conceitos de património geológico e geossítios, evidenciando a
geoconservação como um dos objetivos da sua gestão.
Em Portugal o património geológico, comparativamente com outros tipos de património,
tem sido votado ao esquecimento (Brilha & Carvalho, 2010). No entanto são cada vez
mais as iniciativas que envolvem inventariação e interpretação do património geológico a
fim de se garantir a sua preservação. Geoconservação é o nome que se atribui à forma
de defender e valorizar estes locais.
1.4. Geoconservação
Portugal, só no final da década de 80 e na década seguinte despertou para a
necessidade de conservar o seu património geológico, através de uma série de iniciativas
que marcaram o desenvolvimento da consciencialização pública e do poder político para
a desproteção em que se encontravam determinados locais de interesse geológico
(Brilha, 2005).
O Projeto Global Geosites da International Union of Geological Sciences (IUGS) em
cooperação com a Unesco, com início em 1996, teve como principal objetivo a
inventariação do Património Geológico a nível mundial. Para a concretização deste
projeto a IUGS criou o Global Geosites Working Group, assegurando a concretização do
mesmo na Europa pelo grupo ProGEO, Associação Europeia para a Conservação do
Património Geológico, nomeadamente pelos grupos de trabalho de cada país envolvido.
Em Portugal o grupo da ProGEO foi criado em 2000 e tem, desde então, desenvolvido
iniciativas de inventariar, classificar e conservar os locais com interesse geológico. No
âmbito do projeto e como forma de alertar os media para a importância do Património
Geológico, a ProGEO-Portugal decide que no dia 22 de abril, Dia da Terra, se
comemorasse também o Dia Nacional do Património Geológico e atribui anualmente
nesta data o Prémio Geoconservação à autarquia que se tenha destacado na proteção e
promoção do Património Geológico do seu concelho.
Este prémio que conta com a participação especial da National Geographic Portugal foi
em 2012, entregue à Câmara Municipal de Rio Maior pelo projeto de preservação e
divulgação das Salinas e do vale onde estas se encontram, através da candidatura
denominada
“O Vale Diapírico da Fonte da Bica/Ecomuseu Salinas de Rio Maior – Um
Património Geológico, Natural, Histórico e Cultural a Conhecer e a Preservar”.
Reconhecimento do trabalho desenvolvido pela autarquia tanto na preservação, como na
dinamização de atividades é, por si só, forma de valorização e divulgação das Salinas de
Rio Maior. A realização de visitas guiadas, estruturadas de acordo com o público que as
procura e as atividades desenvolvidas com crianças e jovens têm também funcionado
como forma de promoção, conjuntamente com a colocação de painéis interpretativos, que
apesar de ter em Portugal uma implementação muito recente, são destinados à
sensibilização do público para a geologia e para o património geológico, como recurso
indispensável na criação de medidas de geoconservação (Dias et al., 2002).
1.5. Geoturismo
O Geoturismo apresenta-se como um conceito recente no Turismo, mas sobre o qual se
têm construído diversas definições que, por vezes, chegam a ser controversas. É no
fundo um conceito à procura da sua própria ideologia, atributos e características para se
afirmar como definição, largamente aceite por todos os seus investigadores. O
Congresso Internacional de Geoturismo que decorreu em Arouca no ano de 2011 é disso
um bom exemplo.
A primeira definição apresentada pelo geólogo inglês Thomas Hose em 1995 envolvia um
“conjunto de serviços e facilidades interpretativas que possibilitam aos turistas a
compreensão e aquisição de conhecimentos de um sítio geológico e geomorfológico,
além da sua mera apreciação estética”.
Contudo no ano 2000 o mesmo autor reformula a
definição para o que passou a ser:
“ (...) disponibilização de serviços e meios interpretativos que
promovam o valor e os benefícios sociais de sítios com interesse
geológico e geomorfológico, assegurando a sua conservação,
para o uso de estudantes, turistas e outras pessoas com interesse
recreativo ou de lazer”.
(Hose, 2000:136)
A definição do Geoturismo foi, em 2002, construída conjuntamente pela National
Geographic Society e a Travel Industry Association
como “o turismo que mantém ou
valoriza o caráter geográfico de um lugar - seu meio ambiente, património, estética,
cultura e bem-estar dos seus residentes” (Stueve, Cooks, & Drew, 2002:22).
Newsome e Downling em 2006 (cit. Garofano & Govoni, 2012) consideram a geologia e a
geomorfologia como os componentes centrais do geoturismo, definindo-o como um
turismo baseado em beleza geológicas.
Estas definições permitem-nos considerar o geoturismo como o turismo que preserva de
forma sustentável a identidade natural e cultural de determinado local, com especial
enfoque no seu património geológico. Este tipo de turismo tem assumido, cada vez mais,
um importante papel na valorização do património através da sua divulgação, com o
objetivo de ser compreendido pelos seus visitantes mas, sobretudo com o intuito de
despertar nos mesmos, curiosidade sobre o local, permitindo assim que se construa uma
ligação emocional entre o visitante e o património geológico.
No âmbito
do projeto “Slow Itineraires”, Caetano & Lamberto (2012) apresentam o
“geoturismo slow”, que envolve um conjunto de percursos geoturísticos que permite de
uma forma simples e apelativa, divulgar cientificamente o património geológico,
permitindo o seu usufruto de forma sustentável mas numa vertente da promoção turística.
As ações desenvolvidas neste contexto diferem, obviamente, de acordo com o local ou
região em que acontecem mas pautam-se pelos mesmos princípios. Com o objetivo de
atingir uma grande diversidade de público que usufrua do presente, compreendendo o
passado de forma a garantir sustentabilidade, é de referir, como exemplo, a organização
de passeios pelo programa Geologia no verão do Ciência Viva. Foi, neste âmbito, que
participámos num desses passeios que incluiu uma visita às Salinas de Rio Maior.
Rio Maior, concelho extremamente rico em património geológico, tem todas as condições
para desenvolver o geoturismo, em particular nas Salinas, focado não só no seu
património geológico mas na identidade local, promovendo a autenticidade de um lugar
único em Portugal.
“O geoturismo implica uma consciencialização para o Património
Geológico, para que haja uma compreensão do meio. Neste caso
os processos geológicos com interesse científico podem ser
associados à beleza cénica tornando-se locais de interesse
geológico com potencial turístico. Pretende-se assim estimular o
conhecimento da Geodiversidade, a geoconservação e o
desenvolvimento sustentável.”
CAPÍTULO II - Salinas de Rio Maior - Património Natural e Cultural
como Recurso Turístico
A inclusão de elementos naturais como parte do património e o mesmo entendimento em
relação ao património cultural teve o seu momento decisivo com a Convenção para a
Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural em 1972.
A ameaça e destruição deste tipo de património, a sua não preservação e a dificuldade
da proteção de tal património à escala nacional que por conseguinte pode levar ao
desaparecimento material da história de um determinado destino, fundamentaram a
realização desta Convenção que definiu património natural e cultural, a seleção de bens
naturais e culturais que podiam vir a ser inscritos na Lista de Património Mundial e
estabeleceu os deveres dos seus Estados membros na identificação desses bens e na
sua preservação (Convenção para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural,
1972).
Considerando o património natural e cultural com um dos fatores fundamentais na
procura turística é de destacar o facto de Portugal ter, atualmente, 13 sítios inscritos na
Lista de Património Mundial (data de inclusão entre parêntesis): Centro Histórico de
Angra do Heroísmo nos Açores (1983); Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém em
Lisboa (1983); Mosteiro da Batalha (1983); Convento de Cristo em Tomar (1983); Centro
Histórico de Évora (1988); Mosteiro de Alcobaça (1989); Paisagem Cultural de Sintra
(1995); Centro Histórico do Porto (1996); Sítios Arqueológicos no Vale do Rio Coa (1998);
Floresta Laurissilva na Madeira (1999); Centro Histórico de Guimarães (2001); Alto Douro
Vinhateiro (2001); Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico (2004)
2.
A utilização do património natural e cultural como recurso turístico é atualmente um
grande desafio para o Turismo. É fundamental evitar a sua descaraterização, controlando
as ações que possam colocar em causa toda a estrutura social e cultural que lhe está
associada. O estabelecimento de uma ligação coesa entre a população local será a base
para o desenvolvimento de um turismo sustentável, será no fundo o que lhes permitirá
ficar imunes aos impactos negativos da atividade turística.
2.1. Localização Geográfica e Acessibilidades
A cidade de Rio Maior, sede de concelho desde 1836, é um município composto por 14
freguesias, que abrange uma área de 277,4 Km2 e pertence ao distrito de Santarém
fazendo a confluência entre o Ribatejo e o Litoral. Localizada a 80 Km de Lisboa, 324 Km
do Porto, 50 Km de Leiria, 30 Km de Santarém e 20 Km de Caldas da Rainha, pode ser
localizada pelas seguintes coordenadas: 39º20 Lat. N. e 8º 53´2 Long. W.
Turisticamente integra a Região de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo e tem como limites
territoriais, a norte, os concelhos de Alcobaça e Porto de Mós, a oeste, Caldas da Rainha
e Cadaval, a leste, Santarém e, a sul, Azambuja. É hidrograficamente um concelho muito
rico, com especial destaque para o rio Maior que deu nome à localidade e concelho.
As Salinas de Rio Maior, ou Marinhas do Sal, como habitualmente são denominadas, são
o verdadeiro símbolo desta região, tanto que têm lugar de destaque no escudo do
concelho.
Situadas na zona norte do concelho, ficam num vale tifónico a 3 km da cidade
de Rio Maior, e integram a área protegida do PNSAC
3.
A nível de acessibilidades Rio Maior está no centro rodoviário da zona oeste do país com
o Itinerário Principal – IP6 e a Auto Estrada do Atlântico A15. Esta rede rodoviária é ainda
complementada pelo IC 2 (Estrada Nacional 1). Contudo, estas não são as únicas
acessibilidades que nos permitem chegar até às Salinas de Rio Maior. Se pensarmos nas
tecnologias que temos hoje ao nosso dispor, percebemos que é possível visitar lugares
onde por diversas razões nunca iremos estar fisicamente, ou por outro lado, incentiva à
visita.
Assim, as Salinas de Rio Maior estão acessíveis, como se costuma dizer, à distância de
um clique, através de sites e blogs institucionais e outros de cariz pessoal todos com o
objetivo de dar a conhecer o destino, no fundo comunicar aos outros a sua existência,
promovendo-o.
2.2. Caraterização histórica
Atribuem-se às Salinas de Rio Maior oito séculos de existência, por encontrarmos na
história referência ao ano de 1177 como a data em
que Pero d’ Aragão e sua mulher
Sancha Soares, venderam aos Templários a quinta parte que possuíam das Salinas de
Rio Maior e do poço que, segundo contam as lendas, foi descoberto ao acaso por uma
menina que pastava animais.
Classificadas como Imóvel de Interesse Público, através do Decreto-Lei n.
o67/97,
consistem na exploração de sal-gema proveniente de águas que atravessam uma
extensa e profunda jazida de sal-gema que se estende entre Leiria e Torres Vedras,
formada há milhões de anos quando o mar chegou a ocupar a região.
Este é o fenómeno que explica a água que brota no poço existente, bem no centro das
“Marinhas”, que comparada com a água do Oceano, é sete vezes mais salgada por
conter 96% de cloreto de sódio, enquanto a do Oceano não vai além de 77 a 78%.
O seu enquadramento paisagístico e a distância a que se encontram do mar (30 km), são
fatores, que por si só, provocam alguma estranheza nos seus visitantes mas acima de
tudo um sentimento que chega a ser um misto de curiosidade e contemplação.
Uma pequena aldeia de ruas de pedra e casas de madeira com troncos de oliveira, junto
à qual se desenham irregularmente, na sua forma e dimensão, tanques lajeados que a
partir da primavera se enchem de água salgada dando depois, origem às pirâmides de
sal, são caraterísticas que possivelmente justificam o número de publicações e artigos
que, nos mais diversos âmbitos (geológico, turístico e cultural) têm sido dedicados às
Salinas de Rio Maior, dos quais destacamos os incluídos na tabela 2.1
Tabela 2.1 - Obras bibliográficas que mencionam as Salinas de Rio Maior
Documentos1878
Pinho Leal
“Portugal Antigo e Moderno”
Faz referência à venda do poço no ano de 1177 e afirma que as Salinas de Rio Maior são provavelmente anteriores à
nacionalidade portuguesa.
1917 Paul Choffat Relatório sobre os resultados realizados nas “Marinhas do Sal”
1936 Carles Lepierre
Inquérito A Indústria do Sal em Portugal
“A exploração da água salgada do Rio-Maior é das mais pitorescas que se pode imaginar.”
1954
João Ferreira da Silva
Inquérito Comissão Reguladora dos Produtos Químicos
Apresenta “Salgado de Rio Maior”
1956
Salinas de Rio Maior – Sal sem Mar Publicação promocional editada pela Câmara Municipal de Rio Maior
“Todos os visitantes se sentem encantados ao visitar o local das Marinhas de Sal sem Mar, (...).”
“Merecem ser visitadas e admiradas.”
“Rio Maior é uma rica região turística que merece ser visitada e desvendada. Visite, pois, as Salinas de Rio Maior, um quadro inolvidável, onde se sentirá bem acolhido.”
1961
Georges Zbysewski
Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal
“A existência das águas salgadas de Fonte da Bica é conhecida, pelo menos, desde o século XII, data em que já eram exploradas marinhas neste local.”
1966
João Ferreira da Silva
O Sal
“Em nossos dias, em Portugal, na região de Rio Maior, onde existe um poço com água tão salgada que basta expô-la um pouco ao tempo para que deposite o sal que contém, este, por alturas da feira anual que alise realiza, é trocado por arroz.”
“a exploração do poço de Rio Maior parece datar de muitos anos antes de Cristo. É local aprazível e bastante visitado por turistas.”
1977
Georgette Goucha, Calado da Maia & Fernando Duarte
Marinhas de Sal de Rio Maior (oito séculos de História: 1177-1977)
Editado pela Cooperativa Agrícola dos Produtores de Sal de Rio Maior, C.R.L. no âmbito das comemorações do 8.º centenário
“De facto, a sua grande, extraordinária e maravilhosa virtude é ter no seu seio a mina de sal-gema que dá origem às Marinhas de Sal de Rio Maior, essa curiosidade da natureza que os homens, por rotina, têm mantido quase nos seus moldes primitivos e originais, e completa este ano oitos anos de história.”
“Os salineiros são agricultores da região, (...). Gente boa e sã, tem um enorme e justificado orgulho por não haver memória, nestes oito séculos conhecidos da existência das salinas, de qualquer questão por causa do uso da água do poço.”
“Apesar de certo apoio oficial, para pôr em marcha uma obra de modernização cujos reflexos socias são do maior alcance, dificuldades, desconfianças, apego ao tradicional, provocaram o impasse. (...) A produção de sal em Rio Maior tem forte significado na economia regional mas não existe um estudo económico rigoroso por falta de dados exactos, de estatísticas completas e reais.”
1977
Ciclo de Palestras na Câmara Municipal de Rio Maior no âmbito do programa das comemorações do oitavo centenário O Engenheiro Químico Nelson Sousa Duarte Técnico de 1ª classe da Comissão Reguladora dos Produtos Químicos e Farmacêuticos, apresentou uma breve visão socioeconómica relativa ao sal Georges Zbysewski apresentou “Considerações sobre a Jazida de Sal-Gema de Fonte da Bica (Rio Maior) ”,
“A produção mundial atingiu, em 1974, cerca de 170 milhões de toneladas, (...). Portugal ocupou 0 28.º lugar com um a produção de 512000 toneladas, das quais 302000 de sal-gema.”
“A presença de sal-gema em profundidade estava comprovada pela existência de águas salgadas tiradas do poço de abastecimento das marinhas de sal de Fonte da Bica.”
1979
Fernando Duarte “A História de Rio Maior”
“As salinas de Rio Maior, mina inexgotável de cloreto de sódio e riqueza para a economia nacional é uma das maiores riquezas e das maiores atracções turísticas do Ribatejo.”
1986
Maria Eduarda Gomes Pereira da Silva “ (...), sendo uma região com tantos recursos naturais, humanos e históricos porque não se tem difundido o turismo nesta região? (...) podemos dizer que as marinhas do sal não estão totalmente aproveitadas por falta de iniciativa e dos apoios necessários.”
1988
Nuno Francisco Pereira da Silva As Salinas de Rio Maior
“As Marinhas de Rio Maior constituem um património cultural que importa proteger, dado que são um exemplo vivo de uma forma de exploração do sal que se tem conservado, pelo menos, através dos últimos oito séculos continuando a oferecer grande interesse nas economias familiares dos “marinheiros”. Por este facto representam para o concelho de Rio Maior, um objecto de atracção turística que interessa valorizar e desenvolver.”
1996
Saúl António Gomes
Notas sobre a produção de sal-gema e de papel em Leiria e em Coimbra durante a Idade Média
2002
Ivan Carlos Costa
Salinas de Rio Maior – Um Património a Conhecer e a Preservar
Raul José Rainha Coelho
Aspectos geológicos do PNSAC e sua divulgação multimédia – um contributo para o ensino das Ciências da Terra
Dissertação de Mestrado em Património e Museologia, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Dissertação de Mestrado em Geociências, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra
2005
Renato Neves
Os salgados portugueses no séc. XX – que perspectivas para as salinas portuguesas no séc. XXI?
“A exploração de salinas solares (em que o sal cristaliza por evaporação) a partir de nascentes salgadas - as chamadas salinas interiores, esteve até início do século XX restrita a Rio Maior, região que adaptou a sua tipologia própria, com uma nomenclatura muito particular, em que até os salineiros são designados por marinheiros, facto que não ocorre nos restantes salgados portugueses.”
2009
Carlos Calado & José M. Brandão Salinas interiores em Portugal: o caso das marinhas de Rio Maior
“A preservação e valorização deste conjunto patrimonial, mediante a instalação de um Centro de Interpretação, mais do que um acto de cidadania, constituiriam um veículo privilegiado de desenvolvimento e de reforço da identidade riomaiorense.”