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INTERFACES E DIÁLOGOS ENTRE A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E A CULTURA LGBT

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INTERFACES E DIÁLOGOS ENTRE A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E A CULTURA LGBT

Henrique Moreira de CASTRO Especialista em Percepção Ambiental e Espaço Urbano. Secretaria de Governo do Município de Betim – Coordenadoria da Diversidade Sexual. Rua Emílio Ricaldoni

141A/204. João Pinheiro/Belo Horizonte. hmc8@terra.com.br

José Antônio Souza de DEUS Dr. Ciências/Geografia. Professor Adjunto IV IGC/ UFMG. Rua Mangabeiras 268/401.

Santo Antônio/ Belo Horizonte. jantoniosdeus@uol.com.br

Paulo Henrique Correia da SILVA Graduando em Pedagogia/UNOPAR. Rua Emílio Ricaldoni 141 A /204. João

Pinheiro/Belo Horizonte. pauloleo_255@yahoo.com.br

Resumo

O presente artigo focaliza a temática das relações entre a cultura e a organização do espaço com diálogos com a Geografia do Turismo. O público-alvo da investigação corresponde ao segmento hoje conhecido como LGBT e que congrega as Lésbicas,

Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros, designado como comunidade

LGBT.

Entre os aspectos culturais, merece destaque a linguagem utilizada no cotidiano da comunidade LGBT que é o resultado da mixagem de três línguas: o inglês, o português e de uma língua de origem africana, o Pajubá, que em simbiose resulta em um código secreto que possibilita a interação, o diálogo e a resistência deste grupo.

Palavras-chaves:

Organização do Espaço, Cultura LGBT, Turismo, Linguagem.

INTERFACES AND DIALOGS BETWEEN THE ORGANIZATION OF THE SPACE AND THE CULTURE LGBT

Abstract

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Gays, Bissexuals, Transvestites, Transsexuals and Transgender, designated as the LGBT community. Among the cultural aspects, deserves the language used in everyday LGBT community that results of mixing three languages: English, Portuguese and a language of African origin, the Pajubá, which results in a symbiosis secret code that allows interacting, the dialogs and the endurance of this group.

Key-Words:

Organization of Space, LGBT Culture, Tourism, Language

INTRODUÇÃO

O presente artigo focaliza a temática das relações entre a cultura e a organização do espaço com diálogos com a Geografia do Turismo. O público-alvo da investigação corresponde ao segmento hoje conhecido como LGBT e que congrega as Lésbicas,

Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros, designado como comunidade

LGBT.

As manifestações da Cultura no Espaço destes atores sociais específicos despertaram escasso interesse, principalmente no campo da ciência geográfica. Raros são os geógrafos que se dedicam assim a escrever sobre a organização do espaço e a cultura LGBT, principalmente no contexto territorial brasileiro. A geógrafa Joseli M. Silva, uma pioneira destas “Geografias Subversivas” (SILVA, 2009, p.15), destaca que a historiografia da geografia brasileira evidencia as ausências e silêncios sobre estes grupos no discurso científico.

A autora destaca com pertinência que:

O estudo de mulheres pobres, prostitutas, travestis, meninas exploradas sexualmente e meninos pobres de periferias urbanas envolvidos em infrações cada vez mais graves definitivamente não se configura como tema relevante no meio científico da geografia brasileira. As espacialidades desses grupos sociais vivenciadas a partir das categorias de gênero, sexualidade, raça e classes foram vistas muitas vezes como irrelevantes (SILVA, 2009).

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Edith Modesto ressaltam, em relação à questão do entretenimento, que gostam de ouvir música, ir ao cinema, de colecionar objetos, de praticar esportes e de viajar. A maioria

gosta de conhecer pessoas em locais gays e defendem estes territórios como ideais para

arrumar amigos.

MARCO TEÓRICO-CONCEITUAL

No Brasil dos anos 1990, jornais, revistas e telenovelas exploram mais o tema sobre a

homossexualidade. O movimento gay politicamente engajado se ampliou, constituindo a

ABGLT, criada em 31 de janeiro de 1995, com 31 grupos fundadores, hoje é uma rede nacional de 237 organizações afiliadas. É a maior rede LGBT existente em toda a América Latina (LOPES, 2002).

Paradas do Orgulho Gay e eventos similares passam a acontecer em diversas cidades do

país. Só no município de Betim, localizado na Região Metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, reuniu mais de 45 mil participantes. Este evento torna-se referência no município e no Estado de Minas Gerais.

Paralelamente surgiram no ambiente acadêmico abordagens sobre conceitos e temas a exemplo da prostituição masculina e feminina em estabelecimentos como hotéis, motéis, saunas; e a céu aberto, em ruas e avenidas no espaço urbano brasileiro. Contemplam-se nestas abordagens, por exemplo, estudos de caso como o de Londrina, onde foram resgatadas as histórias e as memórias da prostituição visualizadas na ótica de suas “noites ilícitas” (LEME, 2005).

Na capital carioca destacam-se os estudos sobre a dinâmica histórica dos espaços da prostituição no período de 1840-1940 (MATTOS, 2002); sobre a prostituição de rua e turismo em Copacabana (RIBEIRO, 2002); em relação à história social da homossexualidade no Brasil (GUIMARAES, 2004) descreve uma etnografia rica sobre

diversos pontos de sociabilidade gay, entre os quais a praia em frente ao Hotel

Copacabana Palace, ainda hoje importante na cena carioca, a autora verificou, nesses espaços, uma intricada composição entre sexualidade e classe social, estabelecendo um complexo jogo de inclusão e exclusão entre os frequentadores.

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Na cidade de Goiânia (SILVA, 2006) observou, ouviu e entrevistou profissionais do sexo (michês, travestis e mulheres prostitutas). Embora a pesquisa tenha sido realizada numa cidade especifica, os resultados obtidos revelaram-se claramente universais. A prostituição, mesmo com profundas mudanças sociais mais recentes, mantém-se viva. E

se reafirma nas ruas, em bordeis, em casas de massagem e de strip-tease, em insinuantes

anúncios de jornais e até na forma da ciberprostituição via internet, ganhando novas roupagens e expressando mudanças significativas nas relações entre o profissional do sexo e o cliente, tanto no plano material quanto no simbólico.

Outras abordagens direcionaram-se mais especificamente à espacialidade das travestis como Silva (2007), onde o autor percorre o universo das travestis que se prostituem na Lapa, tradicional reduto da boemia e da malandragem carioca; e Ornat (2009) investiga as espacialidades das travestis no cotidiano da cidade de Ponta Grossa (PR).

METODOLOGIA

A Internet foi o principal meio de acesso para a coleta de dados para este artigo, além

das vivências com integrantes do grupo linguístico escolhido. O You Tube, site de

difusão de vídeos da Internet, também nos ajudou em relação à audição dos vocábulos e percepções das variações linguísticas.

É importante ressaltar a necessidade de mais mídia impressa sobre o assunto. A quantidade é grande, mas se comparada às voltadas a outros nichos, ainda é escassa. Antecede a pesquisa na Internet uma pesquisa bibliográfica sobre a temática LGBT.

O TURISMO E O PERFIL SOCIOECONÔMICO DA COMUNIDADE LGBT BRASILEIRA

Para Alfredo Bertini (2008) um setor de relevância na indústria de entretenimento é representado pelas atividades econômicas relacionadas ao turismo.

Pesquisa elaborada pelo Instituto de Pesquisas de Turismo e coordenada pelo

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através de agências. Além disso, 90% pretendem voltar à cidade e 70% se hospeda em hotéis. O gasto médio por dia é de R$250, onde permanecem em média por cinco dias. De acordo com a maioria dos estudos sobre turismo LGBT, ao viajar, os homossexuais gastam em compras, cinema, festas ou passeando por pontos turísticos da cidade escolhida. Trata-se de um público com um perfil excelente para as atividades turísticas. Os motivos são inúmeros que tornam o perfil destes turistas, dentre eles destacam-se:

- Não possuem “gastos domésticos”, ou seja, a maioria mora com os pais, não possuindo filhos e trabalham. Ou seja, não possuem gastos com moradia (aluguel, energia, alimentação em casa, água, roupa lavada e passada etc.); com educação, roupa, lazer e alimentação com filhos etc. O que justifica mais disponibilidade financeira para praticarem lazer (turismo, esportes etc.);

- Gostam de se divertir. Sempre saem em turmas de amigos, tanto na cidade quanto em viagens.

- Estão sempre atualizados no mundo da moda. Ou seja, se vestem bem.

- O nível de informação é grande. Pois, além dos estudos, utilizam os meios de comunicação (Internet, celular etc.) para se programarem a manter-se atualizados.

O alto poder aquisitivo do consumidor gay tem estimulado diversas empresas a

aproveitar a realização da Parada Gay, em São Paulo e em outras capitais, para lançar

produtos voltados a um mercado cada vez mais lucrativo.

Somente no ano passado (2009), o Pink Money (dinheiro rosa, expressão usada para

diferenciar os lucros do mercado gay) consumiu R$ 100 bilhões em turismo no mundo,

segundo dados da IGLTA (Associação Internacional de Turismo de Gays e Lésbicas).

Com uma renda 30% maior que a dos casais heterossexuais, os gays são alvo de

produtos exclusivos, que hoje vão de pacotes turísticos, como os cruzeiros LGBT, a lançamentos imobiliários em redutos gays, como o localizado na Rua Frei Caneca, (zona central da capital paulista). As travestis bem-sucedidas na Itália, na Espanha ou na França formam uma espécie de casta superior. Moram nos prédios mais novos, andam com carros do ano e passam seis meses na Europa. Esta rua virou também o endereço dos gays e das travestis que se deram bem no mercado de sexo.

Em 2009, uma das novidades foi o lançamento do cartão de crédito “Arco Íris Card”,

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Queremos chegar à marca de 120 mil cartões em quatro anos, com a utilização de parte da receita em estudos e serviços para a comunidade. Vamos ter programas de milhagem, título de

capitalização exclusivo para os gays também.

A empresa afirma que estuda operar com as duas principais bandeiras do mercado, Visa e Mastercard, e que dois bancos estão interessados no produto. Para Almir Nascimento,

presidente da ABRAT GLS (Associação para Gays, Lésbicas e Simpatizantes), o

movimento das empresas ainda é tímido, na comparação com os Estados Unidos. Existem também empresas brasileiras que lá fora fazem anúncios específicos ao público

gay e aqui se recusam a fazer. A diversidade é uma tendência mundial do mercado e

quem aproveita desse segmento se dá bem. Infelizmente vemos isso acontecer somente na época da parada, mas nosso objetivo é que os eventos ocorram durante todo ano.

Para a turismóloga Beatriz Valverde, gay, casada há dois anos e meio, a “descoberta” do

público LGBT vem em boa hora, já que ela e a companheira sempre buscaram uma qualidade de vida melhor;

Jantamos fora três vezes por semana, sempre viajamos e gastamos mais no lazer, justamente por não termos filhos. Fazemos questão de apreciar um bom vinho, uma cerveja importada e sempre fazemos jantares em casa. O preconceito hoje é algo do passado.

A Parada LGBT de São Paulo, por exemplo, em 2010 chega à sua 14° edição e se consagra como um grande exemplo de evento que alia diversão e entretenimento consciente. No calendário turístico da capital paulista, já é o primeiro evento em número de turistas e o segundo em movimentação com gastos de turistas, perdendo somente para a Fórmula 1.

Somente no ano passado, junto com as outras atrações da Gay Week, atraiu milhares de

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O setor de turismo apresenta um crescimento contínuo e sustentado em São Paulo, constituindo-se em um dos setores de melhor desempenho na economia. Para manter este ritmo, os envolvidos na cadeia produtiva deste mercado têm que estar muito inteirados sobre as novas demandas e as áreas que apresentam possibilidades de crescimento ainda maior. É exatamente nesta categoria que se insere o turismo LGBT, um segmento que cresce no mundo todo e movimenta fortemente a economia dos destinos caracterizados pela diversidade, uma das facetas mais marcantes da capital paulista, afirma o diretor de Turismo e Entretenimento da São Paulo, Luiz Sales.

Segundo a Associação de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes (Abrat-GLS),

os gays e lésbicas movimentaram cerca de US$ 54 bilhões na indústria do turismo no

mundo em 2009. Além disso, este público faz de três a quatro viagens anuais e gasta 30% a mais do que os heterossexuais.

Cada vez mais os destinos querem atrair esse turista, que é sofisticado, apreciador da cultura e das compras e um dos que mais gastam. E São Paulo já é naturalmente a cidade da diversidade. Por isso, temos investido em diversos produtos e serviços para este público,

Informa Sales.

A primeira grande manifestação do orgulho gay no Brasil aconteceu em São Paulo, em 1996, e desde o começo teve uma característica peculiar, o público recorde. Convertendo-se com o passar dos anos na maior manifestação do gênero no mundo, com participantes nacionais e internacionais, a Parada do Orgulho LGBT conquistou espaço no calendário oficial de eventos da cidade.

Para melhor receber os milhares de visitantes que vêm a São Paulo curtir as atrações do mês do Orgulho LGBT, a Spturis – em parceria com a Abrat GLS (Associação

Brasileira de Turismo para Gays, Lésbicas e Simpatizantes) e a Cads (Coordenadoria de

Assuntos de Diversidade Sexual da Prefeitura de São Paulo) – desde o ano passado,

disponibiliza o Guia da Diversidade, que foi distribuído durante na Parada Gay de 2009.

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dos guias em eventos internacionais, como a Convenção Anual IGLTA, que aconteceu de 23 a 27 de junho na Bélgica. O guia pode ser acessado gratuitamente em www.cidadedesaopaulo.com/guia-lgbt.

PERFIL DO TURISTA DA PARADA GAY DE SÃO PAULO

O Observatório do Turismo da cidade de São Paulo, núcleo de estudos e pesquisas da SPTuris, aproveita este grande evento para traçar o perfil do visitante da Parada e concluiu que 53,3% são homens. Além disso, 55% do público total têm uma renda de um a cinco salários mínimos e 57% está na faixa dos 18 aos 24 anos de idade. Destes ainda, 50,5% concluíram o ensino médio e 38% são assalariados.

Estes turistas ainda passaram em média quatro dias na cidade e gastaram cerca de R$ 827,61 no período.

São Paulo é a cidade que mais recebe turistas no país, pois aqui eles encontram elementos de todas as regiões do Brasil e do mundo. E para manter tal índice, nosso objetivo é cada vez mais personalizar o atendimento. Desta forma, o turista se sente acolhido, e não terá dúvidas em retornar,

destaca o diretor de Turismo e Entretenimento da São Paulo Turismo (SPTuris), Luiz Sales.

CENTRAL DE INFORMAÇÕES TURÍSTICAS LGBT EM SÃO PAULO

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A SPTuris fornecerá o material promocional da cidade e o treinamento aos dois atendentes bilíngües, que estarão a disposição do público das 10 às 19 horas, mas a administração caberá a Abrat-GLS. “Criar uma Central de Informações Turísticas GLS demonstra mais uma vez a delicadeza da hospitalidade de São Paulo, que recebe cada um de seus visitantes, respeitando suas especificidades e antecipando as expectativas”, destaca o coordenador geral da Cads, Franco Reinaldo.

O presidente do Casarão Brasil, Douglas Drumonnd, afirma que:

A nova CIT LGBT é mais um serviço para população e vem ao encontro da missão da nossa ONG, que visa o desenvolvimento de projetos com excelência que atendam a comunidade homossexual.

Com o crescimento expressivo nos últimos cinco anos do turismo LGBT no Brasil, a criação de uma CIT direcionada a este mercado é uma mostra do alto grau de profissionalização do setor na cidade de São Paulo. As empresas estão investindo cada vez mais em publicidade dirigida ao consumidor homoerótico.

O UNIVERSO CULTURAL DO SEGMENTO DAS LÉSBICAS

Uma discussão em particular que nos interessa é a respeito do segmento das mulheres homossexuais-classicamente conhecidas como lésbicas. O vocábulo “lésbica” originou-se da ilha grega de Lesbos onde, no começo do século VII a.C vivia a poetisa Safo, que escrevia sobre seu amor às mulheres. Diz a lenda que, apesar de ter amado o barqueiro Faon, ela cercou-se de um grupo de mulheres a quem ensinava a arte da poesia e do amor. Ainda segundo a lenda, Safo abandonada e incompreendida por Faon, lançou-se ao mar. Assim, o amor entre duas mulheres recebeu a designação de lesbianismo, em lembrança da ilha em que viveu a poetisa.

A mulher, pelas próprias características tem a personalidade mais sensível, amorosa e exterioriza com facilidade seus sentimentos. Talvez por isso seja mais fácil a sociedade ou a própria pessoa, que tem tendência a homossexualidade, aceitar a sua condição. Mas, apesar de tudo isso, as dúvidas existem e as mulheres se sentem diferentes, fora do contexto social.

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de contato entre as mulheres; de um modo geral, mesmo em lugares públicos, uma vez que a sociedade aceita com menor preconceito a intimidade entre as pessoas do sexo feminino. Os relacionamentos são mais livres: abraçar e segurar as mãos em público, por exemplo, é mais natural entre mulheres do que entre homens. Entre as pessoas do sexo masculino, a recriminação é maior.

De acordo com a pesquisadora Edith Modesto (2006, p. 356-357), quase todas as entrevistadas acham que a mídia reforça estereótipos, atrapalhando o homossexual em vez de ajudá-lo. Em relação ao meio de comunicação que trata o homossexual com mais respeito, a maioria acha que é a Internet. Uma minoria entre as entrevistadas apontou o cinema como a mídia que mais respeita o homossexual. Diferente do homossexual masculino a maioria lê livros sobre a homossexualidade, científicos ou não. Todas as entrevistadas gostam muito de cinema. A maioria delas assistem filmes de temática homossexual.

O SINCRETÍSMO LINGUÍSTICO NO COTIDIANO GAY

De acordo com Fischer (2008, p. 207), no Brasil boa parte do vocabulário utilizado pela comunidade LGBT está conectado com os elementos da cultura local e global. A linguagem utilizada no cotidiano da comunidade LGBT é o resultado da mixagem de três línguas: o inglês, o português e de uma língua de origem africana, que em simbiose resulta em um código secreto que possibilita a interação, o diálogo e a resistência de um grupo.

Dessa forma como salienta Fischer (206, p.207) vários termos africanos estão associados entre as travestis e as religiões de matrizes africanas, pois estas possuem um histórico de tolerância e não discriminação por orientação sexual. Por este motivo, vários termos africanos acabam sendo incorporados na linguagem cotidiana desse grupo. Esse conjunto de palavras ganhou o nome de Pajubá ou Bajubá (FISCHER, 2008).

Assimilando, inicialmente, a capacidade hermética da língua dos afro-descendentes, através de práticas religiosas, de resistência cultural de seus falantes, e pelas inevitáveis transformações que toda língua sofre em contato com outra, os homossexuais

freqüentadores dos terreiros de candomblé, viram na língua yorubá muito mais que uma

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assimilando e alterando semanticamente palavras, principalmente as utilizadas no culto religioso, criando do mesmo modo um código fechado e específico, que passou a garantir aos seus usuários, além da comunicação, a sensação de pertencimento, de unidade e integração, elementos que de certo modo traduzem proteção.

Podemos perceber na eficiência histórica de preservação da cultura yorubá através do

fechamento, da segurança identitária e de resistência oferecida aos seus falantes, a possibilidade de integração ao grupo que os acolheu sem preconceito, ao mesmo tempo em que tenta se preservar das ameaças que vem “de fora”.

Por isso, tal como os afro-descendentes que, por conta da bipolaridade do mundo do candomblé, fazem a “adoção de uma linguagem que justifica a mistura de duas línguas,

o nagô e o português, dando origem a língua do povo-de-santo” (PÓVOA, 1989, p. 62),

os homossexuais, utilizaram no processo de comunicação de uma linguagem bilíngüe português/nagô.

Pelo Brasil, muitos travestis e gays, incorporaram palavras de inspiração nagô (ou

yorubá) em seu linguajar diário. Alguns exemplos: mona = mulher; adé = gay; ocó = homem; uó = coisa ruim, etc. Como outras linguagens grupais, é uma forma de através de linguagem cifrada evitar que pessoas de fora entendam conversas mais íntimas dos próprios homossexuais (MOTT, 2006).

Numa clara demonstração que a linguagem dos homossexuais extrapola os ambientes restritos ao grupo, a Folha de São Paulo, em sua edição de 26/07/2005, no suplemento

Revista da Folha, publicou matéria intitulada: Fique por dentro do vocabulário Gay,

onde elenca uma série de expressões utilizadas por homossexuais, muitas oriundas do universo yorubá.

Em comunidades virtuais voltadas ao público LGBT, é comum encontrar palavras utilizadas pelos homossexuais relacionadas a seus significados, e às vezes, tratando de

sua origem, no que chamam de “dicionário gay”, que dentre tantas expressões,

apresenta: Alibã – Policial: Sai fora que os alibãs chegaram: Vai embora que os policiais chegaram. Esta palavra foi aportuguesada, oniban é senhor das armas, o que foi

aportuguesado para alibã. Aqué – dinheiro: também de origem yorubá. Ebó mal

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Deste modo, somos obrigados a reconhecer que tanto a linguagem dos negros como a dos homossexuais utiliza-se dos aspectos fonéticos, fonológicos, sintáticos e semânticos de suas línguas para extrapolar a comunicação verbal imediata, alcançando uma outra dimensão de significado. É a tradução mais perfeita de mais de cinco séculos de interações lingüísticas, preconceitos e discriminações.

O PAJUBÁ OU BAJUBÁ?

O Pajubá ou Bajubá era a língua africana comum que os negros traficados como escravos para o Brasil colonial encontraram para se comunicar. Formado basicamente

pelas línguas de origem Nagô e pelo Iorubá, o Pajubá é uma língua relativamente

simples. Como seus praticantes não pretendiam produzir alta literatura, possuí caráter muito mais nominativo. É curioso pensar que seu vocabulário é muito mais extenso e variável em relação à comida e utensílios domésticos, assim como para figuras do

dia-a-dia, como menino (erê, amadê), homem (anuna, ocó) ou mulher (mapô, amapoa). Isso

porque era praticado por pessoas cujo cotidiano se restringia bastante aos afazeres do lar, onde os personagens eram quase sempre os mesmos, mas havia incontáveis ingredientes, instrumentos e pratos a serem nomeados.

Além disso, os verbos do Pajubá não flexionam nem concordam em gênero, número ou

grau, mantendo-se sempre no imperativo. Importou-se do português dois verbos auxiliares básicos: dar e fazer. Geralmente combinados com um substantivo, eles ajudam a compor uma vasta série de significados, visto que ambos possuem tanto o

significado de incorporação como o de execução: fazer ocã (arrumar a casa), fazer ajé

(fazer/preparar a comida), dar padê (servir/despachar oferenda), dar o exu, fazer o exu

(incorporar/agir como o orixá exu).

Sem o registro escrito, o Pajubá só sobreviveu até os dias de hoje graças ao Candomblé

baiano e fluminense. A religião, adaptada parte para as condições naturais brasileiras parte para a religião católica, por cultivar hábitos de oferendas, preservou o vocabulário culinário.

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Durante a revolução sexual da década de 1960, muitos clubes alternativos das grandes

metrópoles brasileiras começaram a usar o show de travestis e drag-queens como um

atrativo. Ao final da década de 1970, essa prática já estava consolidada e, de alguma maneira, esses performistas encontraram um meio onde eram aceitos e tiravam seu sustento, assumindo assim integralmente sua orientação de vida. Banidos do restante da sociedade, porém, eles só encontraram refúgio religioso nos terreiros de Candomblé e Umbanda, talvez as únicas religiões do mundo a aceitarem a homossexualidade e também o travestismo como algo natural e intrínsico do ser humano.

Respeitados/as como qualquer outro freqüentador do culto, os transgêneros que

adotaram o Pajubá dos negros como sua linguagem pessoal, criando a partir daí uma

identidade lingüística que tanto os caracterizou.

Por serem muito discriminados, quando não perseguidos, o domínio de uma língua não compreendida pelos demais da sociedade (e aqui se inclui a polícia) passa a ser também uma forma de preservação e camuflagem, como acontece, por exemplo, entre os traficantes e seu vocabulário tão próprio.

Com o passar do tempo, a “língua das travestis” passou a ser incorporada por outros grupos homossexuais, sofrendo naturalmente uma série de modificações.

Os verbos, por exemplo, passaram a flexionar e a serem conjugados como os do

português, mantendo apenas seu radical intacto, como, por exemplo, aqüendar, do

original infinitivo akuein, “prestar atenção”: eu aqüendo/eu aqüendei, ele aqüenda/ele

aqüendou.

Da mesma forma, sufixos e prefixos da língua portuguesa foram incorporados a esses

verbos. Importante ressaltar que em grupos onde a necessidade do uso do pajubá não é

tão grande como entre os transgêneros, a língua aparece mais como um acessório lingüístico do que como uma linguagem em si. Ou seja, ela é mais usada para manter uma identidade cultural e comunicativa do que qualquer outra coisa. No caso do

Pajubá, os verbos, por exemplo, são praticamente descartados, pois exige um conhecimento muito maior da língua, o que pode se configurar em uma dificuldade na comunicação.

AS DIVERSAS TRIBOS DA COMUNIDADE LGBT

Os Gays acima do peso, apelidados de "ursos", e seus admiradores (caçadores ou

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capitais. São festas, como a Ursound (com periodicidade mensal), que mostram outro perfil do público LGBT.

Os ursos se identificam por outros padrões comportamentais. Com características mais másculas, eles são menos preocupados em usar roupas de grife e evitam cuidados excessivos com o corpo. Além disso, são mais ecléticos com a música, evitando ficar restritos ao bate-estaca.

Durante a Parada Gay, o grupo leva uma bandeira com o símbolo de uma pata de urso. O público lésbico se encontra na capital paulista em festas temáticas, como Chá com Bolachas e Tête-à-Tête, que são realizadas em edições mensais, geralmente nas noites

de sábado. As baladas são animadas por DJs e também por bandas com meninas. O Chá

com Bolachas é a festa lésbica mais tradicional da cidade. Começou em fevereiro

De 2002 por iniciativa de duas amigas, as DJs Barbie da Silva e A Vertiginosa. A

balada investe num visual descolado, com foco em vertentes da música eletrônica, e não na MPB.

Entre as freqüentadoras, domina uma estética com toques alternativos. Para afugentar o público masculino, o ingresso para homem costuma ser o triplo do valor da entrada paga pelas meninas com nome na lista. O site da festa (www.chacombolachas.com.br) traz

seus criativos flyers. O público da festa Tête-à-Tête é formado, no geral, por lésbicas

assumidas da cidade e brinca com o repertório de expressões do universo feminino

homossexual. Seus flyers dizem que a balada é orgulhosamente apresentada pela "Santa

Igreja Lesbiteriana". O nome da festa tem a ver com a gíria sobre sexo lésbico ("teta com teta"), com a expressão francesa ("cara a cara") e com o título de um livro sobre

Sartre e Simone de Beauvoir. A Tête-à-Tête começou em setembro de 2006 e atrai

principalmente mulheres com visual andrógino. No circuito das jovens roqueiras, as DJs

MissScania e Pussylovers despontam como atrações da noite lésbica na festa Dykes on

X, que tem como uma das organizadoras Mari Aranha, vocalista da banda Miss Junkie.

As Drag queen, por exemplo, são homens que se veste com roupas femininas de forma satírica e extravagante para o exercício da profissão em shows e outros eventos. Uma

drag queen não deixa de ser um tipo de transformista, pois o uso das roupas está ligado as questões artística, a diferença é que a produção necessariamente focaliza o humor, o exagero.

O termo "barbie" na linguagem gay refere-se a homens homossexuais que fazem

atividades físicas e mantêm um corpo "sarado". Por um desvio de significado, a

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gays. São malhados, bronzeados, usam sempre cordão de prata no pescoço, cueca Calvin Klein com elástico à mostra, um jeito de dançar que evidencia cada músculo trabalhado na academia e expressão facial que ignora qualquer crise econômica ou as pessoas à volta.

O drag king é a versão masculina da drag queen, ou seja, trata-se de uma mulher que se veste com roupas masculinas para fins de trabalho.

OS SÍMBOLOS DO MOVIMENTO LGBT

Há diversos símbolos que representam os LGBT em todo o mundo. O arco-íris criado

para a Parada Gay da liberdade de São Francisco, 1978, o arco-íris transformou-se no

principal símbolo do orgulho LGBT em todo o mundo. Representando a diversidade humana, é usado principalmente em bandeiras, mas também é possível encontrá-lo em vários objetos. Há até mesmo lojas especializadas em comercializar produtos com as cores do arco-íris.

A bandeira LGBT é formada por seis barras de cores diferentes, cada uma com o seu significado. Além da versão com seis barras, ainda são vistas atualmente outras versões da bandeira em manifestações LGBT. Desde versões com uma barra preta, simbolizando os homossexuais mortos pela AIDS, a bandeiras que misturam as cores do arco-íris com símbolos nacionais ou regionais, pretendendo assim representar a população LGBT deste país ou região.

Temos também o triângulo rosa: símbolo criado para identificar os homossexuais masculinos nos campos de concentração nazista. Depois da II Guerra Mundial tornou-se

um símbolo do orgulho gay. O triângulo negro que era um símbolo utilizado pelos

nazistas para identificar lésbicas, prostitutas, mulheres sem crianças e aquelas com peculiaridade anti-social, que fugiam do padrão esposa – mãe – dona-de-casa. O triângulo negro tornou-se tanto um símbolo do orgulho lésbico como do feminismo. O labris, machado de dupla lâmina que na mitologia era empregado pelas Amazonas, tornou-se o símbolo de grupos lésbicos.

A lambda letra grega que foi adotada por um dos primeiros grupos de defesa dos

direitos LGBT dos Estados Unidos, o Gay Activists Alliance of New York, em 1970. Em

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REFERÊNCIAS

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EDUEL, 2005

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Rio de Janeiro: 1840-1940. In: RIBEIRO, Miguel Ângelo. Território e prostituição na

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Referências

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