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IMPACTO DA VIBRAÇÃO GERADA PELO TRÁFEGO RODOVIÁRIO SOBRE SÍTIOS HISTÓRICOS: Subsídios para a Portaria 12/86 do IPHAN, Vassouras / RJ

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IMPACTO DA VIBRAÇÃO GERADA PELO TRÁFEGO RODOVIÁRIO

SOBRE SÍTIOS HISTÓRICOS: Subsídios para a Portaria 12/86 do

IPHAN, Vassouras / RJ

MIRANDA, KEILLA (1); ROCHA, ISABEL (2); NIEMEYER, LYGIA (3);

1. Mestranda do PROAR/UFRJ Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil.

keilla.miranda@iphan.gov.br

3. Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil,

Isabel.rocha@iphan.gov.br

3. Professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil,

dobarulhoproarq@gmail.com

RESUMO

O tráfego de veículos pesados, tais como ônibus e caminhões, em ruas projetadas e pavimentadas sem previsão para essas cargas, é fonte de energia vibratória que pode causar danos estruturais e diversas patologias no ambiente historicamente construído. Essa sobrecarga na via pública pode ter influenciado no aparecimento, desenvolvimento e aumento de danos na antiga Casa do Barão do Ribeirão, edificado em 1860, eleita, dentre outros imóveis da cidade de Vassouras, RJ, para avaliar o alcance desse tipo de trânsito em edificações seculares. A edificação foi selecionada devido às diversas características em que os efeitos da energia vibratória tendem a ser mais nocivos: 1) materiais e técnicas construtivas em madeira, pedra, alvenaria, taipa, e concreto; 2) materiais diversos que trabalham de formas diferentes; 3) Fluxo de veículo pesados; 4) distância pequena entre a rua e a edificação. A vibração ambiental é fenômeno ainda pouco considerado no planejamento urbano e em projetos de engenharia em geral. Entretanto, vibrações mecânicas, dependendo de sua magnitude, podem ser agentes de: (i) desconforto humano; (ii) interferência em equipamentos sensíveis, e; (iii) degradação dos edifícios. O tráfego rodoviário gera vibrações transmitidas ao solo e propagadas de modo semelhante às ondas sísmicas que podem causar danos às construções devido ao movimento induzido nas suas bases. Ainda não existe uma norma brasileira especifica para avaliação de danos causados às edificações por vibração gerada por trafego rodoviário. O objetivo do trabalho é avaliar as normas brasileira e internacional sobre o tema, os níveis de energia vibratória que causam danos estruturais nos edifícios do século XIX, e contribuir com a revisão da Portaria 12/86 do IPHAN para o Centro Histórico de Vassouras, RJ.

Palavras-chave: Energia Vibratória; Arquitetura histórica; Patologias em edificações históricas; Vibração sonora e patologias.

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1. INTRODUÇÃO

Brito (2013) cita que a principal forma de atenuação da energia vibratória é dada pelo amortecimento do solo, sendo proporcional, na maioria das vezes, ao quadrado da distância entre a fonte e o receptor. A especulação imobiliária e o aumento dos veículos nas ruas das cidades brasileiras, de forma geral, acabaram por aproximar a fonte emissora da energia vibratória, no nosso caso os veículos pesados, como ônibus e caminhões, dos imóveis, em particular, das edificações remanescentes do Império, ou seja, construídas ainda no século XIX.

A resposta da estrutura frente à vibração sonora está ligada ao tipo de fundação e solo e à qualidade e idade da edificação, incluídos aí a avaliação do estado de conservação do imóvel (British, 2009). O comportamento das edificações com técnicas construtivas tradicionais - como alvenarias e taipas, e seus materiais barro, pedra, e madeira -, que é o caso de grande parte dos imóveis edificados no Centro Histórico de Vassouras, tende a ser mais suscetível a danos nas suas estruturas, conforme relatado pelo Instituto Alemão de Normas:

As edificações que possuem estrutura formal com pilares e vigas em aço ou concreto armado tendem a receber melhor o efeito da vibração e em contrapartida, as construções antigas e patrimônios históricos, edificados com materiais menos resistentes como a alvenaria de tijolos de barro, queimados em fornos ou não, taipa e madeira, podem sofrer desde trincas estéticas até danos estruturais irreversíveis quando expostas a elevados níveis de vibração (Deutsches,1999 – apud Brito, 2014).

A energia vibratória pode gerar danos estruturais, incomodidade aos usuários da edificação ou mau funcionamento em equipamentos sensíveis (Schiappa de Azevedo e Patrício, 2001). Como transcrito acima, os danos podem ser classificados por sua aparência, tais como: cosméticos, com o aparecimento de fissuras muito delgadas (da espessura de um fio de cabelo, por exemplo) na face externa do revestimento; degradações de maior monta, como a queda do próprio material; e/ou de proporções significativas, como as trincas estruturais em esteios, frechais, barrotes de sustentação, entre outros (Internacional, 2010).

As normas brasileiras NBR 11.051/2000 (ruídos), 10.152/1987 (combustível) e 12.179/1992 (acústica) não abordam o assunto de maneira a criar índices limites para a emissão de energia vibratória no meio urbano, embora já contemplem os níveis de decibéis, um dos inúmeros geradores desse tipo de energia. Em São Paulo, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESP) abordou o tema na Decisão de Diretoria nº 215/2007, ao estabelecer limites de incômodo para as atividades poluidoras que emitam vibrações contínuas, ou seja, limites para a percepção humana em suas múltiplas atividades. Todavia, a decisão também não estipula ou classifica quais são as fontes que geram energia vibratória, abordando apenas aquelas que mais frequentemente afetam os ouvidos humanos, desde som produzido por equipamentos elétricos e eletrônicos até os explosivos em pedreiras.

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Veículos motores, desde carros de passeio até os comboios ferroviários, ainda não foram contemplados pela legislação consultada.

No que tange ao tombamento do Conjunto Paisagístico e Urbanístico de Vassouras, este se refere a uma história que começou com a abertura do Caminho Novo para as Minas Gerais, no século XVIII, quando foram criadas vias de desbravamento no território fluminense. Dentre estas vias, a Estrada da Polícia (Figura 1) passava pelo território da futura vila, ajudando a impulsionar e organizar seu desenvolvimento, que culminou com a transferência da sede em Paty do Alferes para a Vila de Vassouras, no ano de 1833. Em meados do século XIX, no ano de 1857, a Vila foi elevada a cidade, impelida pelo cultivo do café, que levou a Província do Rio de Janeiro a ser o primeiro grande exportador do produto no Brasil.

Na década de 1850, Vassouras viveu um período de intensa vida social, quando a primitiva Vila se transforma em Cidade. As casas térreas, então predominantes, foram substituídas pelos grandes palacetes assobradados, com linguagem da arquitetura neoclássica em diversos usos: residenciais, institucionais e comerciais. O mapa elaborado entre 1858/1861 demonstra um centro urbano densamente ocupado por casario alinhado em ruas estreitas ocupando a testada dos lotes. Portanto, o Conjunto Paisagístico e Urbanístico de Vassouras (Figura 2), tombado em 1957 pelo IPHAN (processo nº 566-T-57), tem sua importância ligada à fase imperial da história do país e seu tombamento privilegiou a paisagem urbana e a forma de morar de meados do século XIX (Rocha, 2007).

Figura 1 – Estrada da Polícia em Vassouras. Fonte: Biblioteca Nacional, 1861.

Figura 2 – Estrada da Polícia em Vassouras. Fonte: ETMP, 1985.

CASA BARÃO DO RIBEIRÃO SEDE ETMP

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Para os fins deste estudo, afigura-se como fator de relevo a pavimentação da Rodovia RJ 121, no final da década de 1990, que criou uma alternativa para a Rodovia Presidente Dutra (Rio-São Paulo) exatamente junto ao posto de pedágio localizado no município de Seropédica. Por consequência, os caminhoneiros que se dirigiam à região sul fluminense encontraram uma rota alternativa para evitar a cobrança do pedágio, que transpassa o Conjunto Paisagístico e Urbanístico de Vassouras, ensejando um tráfego de caminhões de porte cada vez maior, além dos ônibus e vãs de turismo, na Rua Barão de Vassouras (antiga Estrada da Polícia).

Nesta rua encontra-se a Casa do Barão do Ribeirão, que hoje abriga a sede do Escritório Técnico Médio Paraíba (ETMP) do IPHAN RJ, ora selecionado como estudo de caso. Dois fatores foram essenciais para fundamentar esta escolha: sua localização às margens da antiga Estrada da Polícia e a grande variedade de técnicas construtivas hoje encontradas na edificação, podendo assim averiguar o impacto da energia vibratória em ambiente com diversas soluções estruturais.

O imóvel consiste em imponente sobrado com localização privilegiada no Centro Histórico de Vassouras. Edificado em 1860, serviu de residência para a família de José de Avelar e Almeida, o Barão do Ribeirão, sendo posteriormente adquirido pelo governo do Estado do Rio em 1896, para instalar o Fórum e Cadeia da cidade.

No final do século XIX o imóvel começou a sofrer intervenções para abrigar atividades tão díspares. Assim, no correr do tempo foram executadas obras de reforço estrutural e abertura dos três cômodos frontais no pavimento superior, para a formação de um grande salão destinado as sessões do Júri, e a substituição no telhado das telhas originais de capa/bica por telhas cerâmicas planas, tipo francesa. Em cada nova intervenção eram incluídos material e técnica utilizada contemporâneos à época daquela determinada reforma. Desta forma, o prédio possui fundações em pedra e concreto, alvenarias de pedra, adobe, tabique, pau-a-pique, tijolo maciço e tijolo furado, além de pisos em tábua corrida, com barrotes de madeira e laje de concreto (no Salão do Júri), e forros de gesso e estuque.

A edificação apresenta uma planta em U, com uma parte frontal retangular com 21 x 20m e dois apêndices no fundo do prédio com 7,5 x 15m, formando um pequeno pátio.

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Figura 3: Planta Baixa, Térreo, Casa Barão do Ribeirão. Fonte: ETMP/Nova Colonial, 2012.

Figura 4: Planta Baixa Térreo, Casa Barão do Ribeirão. Fonte: ETMP/Nova Colonial, 2012.

Figura 5: Casa Barão do Ribeirão. Fonte: ETMP/Nova Colonial, 2012.

Figura 6: Fachadas Frontal. Fonte: Nova Colonial, 2012.

Como dito, um dos fatores preponderantes para escolha da edificação como estudo de caso é justamente a variedade de características sobre os quais os efeitos da energia vibratória tendem a ser mais nocivos: 1) materiais e técnicas construtivas em madeira, pedra, alvenaria, taipa e concreto; 2) materiais diversos que trabalham de formas diferentes; 3) fluxo de veículos pesados; 4) distância pequena entre a rua e a edificação (Figuras 7 e 8).

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Figura 7: Casa Barão do Ribeirão – Fluxo de Veículos. Fonte: ETMP, 2012.

Figura 8: Corte Rua Barão de Vassouras. Fonte: Talita de Souza Rocha, 2016.

Portanto, com base no estudo de caso, o presente trabalho pretende avaliar quais parâmetros de níveis de energia vibratória poderiam ser incluídos na revisão da Portaria 12/86 IPHAN, cujo objeto é o Conjunto tombado em Vassouras/RJ, de forma a adequar o tráfego de veículos pesados neste centro urbano tombado à preservação e conservação de seus monumentos.

2. LEGISLAÇÃO

O trabalho apresenta a revisão bibliográfica dos parâmetros adotados pela legislação internacional para proteção de sítios históricos em relação à energia vibratória gerada pelo tráfego rodoviário com o objetivo de oferecer subsídios para a revisão da Portaria 12/86 IPHAN, que trata do Centro Histórico de Vassouras/RJ.

A fonte de energia vibratória avaliada neste estudo é o trânsito de veículos leves e pesados, ônibus e caminhões, no Centro Tombado de Vassouras. A metodologia adotada é a análise da legislação nacional e internacional, que possam se tornar um parâmetro para a inclusão revisão da Normativa 12/86 do IPHAN.

O tráfego rodoviário gera vibrações transmitidas ao solo e propagadas de modo semelhante às ondas sísmicas que podem causar danos às construções devido ao movimento induzido nas suas bases. A fundação tende a seguir o movimento do terreno, mas, por efeito da inércia, a massa do edifício se contrapõe a este movimento.

Vibrações são particularmente nocivas para construções de valor histórico e arquitetônico, mais suscetíveis a impactos para os quais não foram projetadas. Além de maior fragilidade dos elementos construtivos (i. e. alvenaria de tijolos de barro, queimados ou não; taipa; madeira) estes edifícios tendem a ser menos suscetíveis aos efeitos da vibração ambiental, especialmente quando em mal estado de conservação (Brito et al., 2011).

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i. Velocidade, fluidez e relação veículos leves/ pesados.

ii. Conservação da frota, em especial dos sistemas de suspensão dos veículos;

iii. Pavimentação da pista: pavimentos irregulares (i.e. paralelepípedos, placas de concreto com juntas) geram mais energia vibratória. Por outro lado, pavimentação asfáltica regular é uma medida efetiva para mitigação. Todavia, no caso de bens tombados em conjunto, como o Centro Histórico de Vassouras, onde a pavimentação faz parte integrante do tombamento, esta medida acaba sendo inviável;

iv. Distancia entre a fonte e o receptor das vibrações.

A ABNT/NBR 9653 (2005) é um guia para avaliação dos efeitos provocados pelo uso de explosivos nas minerações em áreas urbanas e cita dos parâmetros de medição da velocidade Vibração de Partícula de Pico – PPV (sigla em inglês para Peak Particle Velocity), que é, por exemplo, o mesmo índice utilizado para a medição da energia emitida pelo tráfego de veículos. A norma recomenda que os danos induzidos sejam avaliados levando-se em consideração a magnitude e a frequência de vibração de partícula e os limites para velocidade de PPV, acima dos quais podem provocar danos.

Na legislação brasileira foi localizada uma única tabela com os limites de Velocidade da Vibração de Partícula, da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo, Decisão de Diretoria nº 215/2007/E, de 07 de novembro de 2007 (Tabela 1). A legislação estabelece critérios para as ações de controle ambiental das atividades poluidoras que emitam vibrações contínuas, e informa os limites de velocidade de vibração de partículas (pico), considerando os tipos de áreas e período do dia, estão transcritos na tabela abaixo:

Tabela 1: Limites de Velocidade de Vibração de Partícula Pico (mm/s). Tipos de áreas Diurno

(7:00 às 20:00)

Noturno (20:00 às 7:00)

Áreas de hospitais, casas de saúde, creches e escolas

0,3 0,3

Área predominantemente residencial 0,3 0,3 Área mista, com vocação comercial e

administrativa

0,4 0,3

Área predominantemente industrial 0,5 0,5

Fonte: Decisão de Diretoria nº 215/2007/E - CETESB

A norma ISO 4866 (2010), Mechanical vibration and shock – Vibration of buildings –

Guidelines for the measurement of vibration and evaluation of their effects on buildings, adota,

para efeito de avaliação da extensão dos danos às construções, classificação semelhante à escala de intensidade da sismologia:

i. Cosméticos, com o aparecimento de micro fissuras (da espessura de um fio de cabelo) no reboco ou na argamassa de assentamento das alvenarias;

ii. Pequenos danos: aparecimento de trincas maiores; descolamento de revestimentos, podendo causar queda parcial do reboco, gesso ou estuque ou rachadura nos blocos das alvenarias;

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iii. Grandes danos: aparecimento de rachaduras e descolamento das juntas de elementos estruturais, de trincas nas alvenarias.

Essa norma determina o reconhecimento do objeto como forma de manter a sua integridade estrutural, facilidade de manutenção e de preservação para edifícios históricos. Dividindo em quatro etapas a mensuração da energia vibratória: reconhecimento do problema, monitoramento de controle, documentação e diagnóstico. Relata que diversos fatores devam ser considerados, como os tipos de construção, dimensões do edifício e o tipo de solo, classificando, ainda, grupos de edifícios conforme sua conformação estrutural.

A referência internacional para avaliação dos efeitos da vibração nos edifícios é a da norma alemã DIN 4150-3 (1999), Vibration in buildings, effect in structure, que define valores de Vibração de Partícula de Pico – PPV em função da tipologia estrutural do edifício e das condições de conservação. Os valores apresentados na Tabela 1 são orientações para valores de PPV tanto nas fundações quanto em plano horizontal em pavimentos superiores da edificação. Segundo a DIN 4150-3 (1999), valores medidos abaixo dos limites especificados na Tabela 1 são considerados não danosos às estruturas civis.

Tabela 2: Limites de Velocidade de Vibração de Partícula Pico (mm/s). Tipos de Edificação PPV

(mm/s)

Categoria 1 Concreto armado e de madeira em boas condições

40

Categoria 2 Alvenaria em boas condições 15 Categoria 3 Alvenaria em más condições de

conservação e edificações consideradas de patrimônio histórico

8

Fonte: DIN 4150-3 (DEUTSCHES INSTITUT FUR NORMUNG,1999)

A vibração ambiental é fenômeno ainda pouco considerado no planejamento urbano e em projetos de engenharia em geral. Entretanto, vibrações mecânicas, dependendo de sua magnitude, podem ser agentes de (i) desconforto humano; (ii) interferência em equipamentos sensíveis e (iii) degradação dos edifícios (Schiapa de Azevedo e Patrício, 2001).

No Brasil, normas direcionadas para a Categoria 3 (DIN 4150-3), em particular com o objetivo de atingir a proteção das edificações consideradas de patrimônio histórico, estão sendo aplicadas a partir da atuação do Ministério Público Estadual (MPE). Ouro Preto (MG) e Vassouras foram objetos de Procedimentos Ministeriais que resultaram em proibição de trânsito de veículos pesados.

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Na cidade mineira a questão foi levada à 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça cujo acórdão, proferido em 2002, foi favorável ao impedimento com base em argumentos técnicos sobre a energia vibratória para edificações da Classificação 3.

Segundo o desembargador, o estudo técnico realizado acerca do transporte urbano demonstra que o tráfego de veículos pesados é prejudicial, levando-se em conta a precariedade e a fragilidade das vias e do terreno de Ouro Preto.

Esse estudo técnico presente no processo revela que "o tráfego de veículos pesados é incompatível com o sistema viário de Ouro Preto, pois a maior parte dos acidentes graves ocorridos na cidade refere-se ao choque de veículos pesados contra fachadas, muros e postes. As vibrações decorrentes do tráfego pesado provocam deformações acentuadas nos terrenos, os quais podem resultar no rompimento de galerias e sobrecarga nos muros de arrimo".

Além da proibição de tráfego pesado, os desembargadores mantiveram a decisão que proíbe a utilização de aparelhos sonoros, em alto volume, no centro histórico de Ouro Preto, durante o carnaval. O desembargador Hyparco Immesi considerou que a utilização de sonorização mecânica também produz vibrações, com efeitos danosos sobre as edificações históricas da cidade (MINAS GERAIS, 2002).

Em Vassouras, após um grave acidente envolvendo um caminhão de transporte de gasolina, levando-o à combustão, o MPE levou o Departamento Estadual de Rodovias (DER) do Estado do Rio de Janeiro e a Prefeitura Municipal a criarem mecanismos de prevenção. Assim surgiu o Decreto nº 1829/99, que estabeleceu limites para ingresso de caminhões no Centro Histórico.

Embora o acórdão do TJMG cite estudos técnicos, não se tem conhecimento de medições da velocidade Vibração de Partícula de Pico – PPV, tanto para a energia criada pelos veículos quanto para os aparelhos sonoros incluídos na proibição. Assim, os acidentes com veículos de alto potencial de impacto são os fatores de maior relevância para o estabelecimento de normas proibitivas. No caso de Vassouras, os pareceres das duas últimas décadas produzidos pelo ETMP/IPHAN e assinados pela arquiteta Isabel Rocha, revelam uma percepção prática da energia vibratória sobre os imóveis incluídos no tombamento.

O alto índice de desconforto, incômodo e de danos já registrados levou a Prefeitura Municipal de Vassouras a criar outro mecanismo de controle do tráfego no Centro Histórico. O novo

Código de Posturas Municipal de Vassouras, Lei Municipal 2.831/2015, incluiu um artigo criando critérios para a circulação destes veículos na área urbana. A construção da normativa foi feita de forma participativa com representantes de diversos setores: Secretarias Municipais de Fazenda e Obras, Procuradoria Municipal, Associação de Moradores, Associação Comercial e técnicos do Escritório Técnico do IPHAN. O grau de debates e as questões levantadas em relação ao Centro Histórico exigiram um capítulo dedicado exclusivamente à área de abrangência do patrimônio histórico. Essa foi dividida em 03 Ambiências, sendo a primeira referente às ruas integrantes do tombamento pelo IPHAN, a segunda às ruas nas

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imediações diretas, e a terceira às demais ruas que integram a poligonal de abrangência. O Artigo 108 apresenta uma Tabela visando estabelecer o tipo de veículo que pode circular em cada um desses ambientes, tanto de transporte de carga quanto para de passageiros, a partir das definições apresentadas pelo Conselho Nacional de Trânsito (Tabela 3).

Tabela 3: A circulação de veículos pesados na Área Histórica.

Tipo Peso bruto

máximo (ton) Ambiência 1 Ambiência 2 Ambiência 3

Veículo Urbano de Carga e Vãs 03 Sim Sim Sim

Veículo Urbano de Carga - inclui ônibus >03 Não Sim Sim

Toco o caminhão semi pesados 16 Não Não Sim

Truck ou caminhão pesado 23 Não Não Sim

Cavalo Mecânico, caminhão extra pesado Não Não Não

Cavalo mecânico trucado ou LS Não Não Não

Carreta 02 eixos 33 Não Não Não

Carreta 03 eixos 41,5 Não Não Não

Carreta de Cavalo Trucado 45 Não Não Não

Bitrem ou treminhão 74 Não Não Não

Fonte: Lei Municipal de Vassouras 2.831/2015.

A Portaria 12/86-IPHAN, que estabelece os parâmetros de intervenção em Vassouras, surgiu da necessidade urgente de criação de um diploma federal refreando as diversas alterações realizadas pela Câmara Municipal de Vassouras nas leis geradas pelo Plano Diretor de 1977. Naquela ocasião, caminhões eram raros nas ruas de Vassouras, incluídos os carros com equipamentos de som de alta potência. A energia vibratória ainda não se constituía fonte geradora de preocupação para os gestores do espaço urbano. Só a partir do asfaltamento da RJ 121, quando os veículos pesados encontraram uma rota alternativa para evitar o pagamento de pedágio na Rodovia Presidente Dutra, o Centro Histórico de Vassouras passou a ser de interesse de carretas cada vez maiores.

Com exceção da CETESB, não foi encontrado, até o momento, outro estudo que comprove cientificamente (com equipamentos e análises laboratoriais) os danos provocados pela Velocidade da Vibração de Partícula, permitindo criar parâmetros legais que restrinjam a fonte geradora de danos nas edificações históricas. A engenheira Mayara Lobo Amorim, Mestranda da PUC/RJ, incluiu a antiga Casa do Barão do Ribeirão em suas pesquisas no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, gerando grande expectativa nos resultados que irá obter.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sem dúvida alguma, os gestores públicos de áreas urbanas, são cada vez mais chamados a atentar para os danos causados pelas fontes geradoras de vibração para a qualidade de vida em nossas cidades. Em grandes centros, como São Paulo, com administrações mais

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estruturadas, essa questão já se apresenta na forma de legislação baseada em análises técnicas e laboratoriais que fortalecem a ação dos agentes públicos e seus diplomas legais. Contudo, são os centros históricos de nossas cidades que mais sofrem com a recorrente redução dos passeios para alargamento das pistas de rolamento forjando, cada vez mais, a proximidade entre a fonte de vibração e o receptor, o que limita o mecanismo de atenuação da energia vibratória pela distância.

Nos casos apresentados, Ouro Preto e Vassouras, não houve redução do passeio, pelo contrário. Foi a introdução de veículos não previstos ao longo do tempo que trouxe para a área histórica vibração em ruas cujas edificações são coladas na testada do lote com estreitas calçadas.

A ausência de estudos técnicos voltados a medir a PPV nesses centros e, principalmente, a ausência de legislação específica para o tema, tem causado a percepção de que essas fontes possam ser o agente de degradação, em especial para a edificação denominada Casa do Barão de Ribeirão, pela proximidade com o tráfego de veículos pesados. Contudo, somente após a investigação apurada, com a medição da emissão da energia vibratória no local, poder-se-á avaliar a influência deste trânsito para o aumento de danos nessa edificação.

4. REFERÊNCIAS

AMORIM. Mayara Lobo. Estudo do comportamento dinâmico de estruturas históricas

submetidas a vibrações induzidas por tráfego de veículos e as possíveis medidas para proteção. Título provisório de Dissertação de Mestrado em andamento. Orientador: Paulo

Batista Gonçalves. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil. Rio de Janeiro: PUCRJ, inédito.

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BRITO, L. A. P. F., Soares, A. M.de S., Nazari, B. Avaliação da Vibração Gerada pelo Tráfego Rodoviário e Ferroviário no Hospital Universitário de Taubaté, In Anais do Encontro

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BRITO, L. A. P. F. de. Vibração, Fonte de Incômodo a População e Danos às Edificações no Meio Urbano. Revista Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 13, n. 1, p. 129-141,

jan./mar. 2013.

BRITISH STANDARD. BS 5228-2: Code of practice for noise and vibration control on construction and open sites Vibration. London: BSI, 2009.

CHAVES, G. V. A.et al. Faixa de Domínio e Sua Relação Com a Redução de Vibrações Produzidas Por Trens de Superfícies em Áreas Urbanas. Revista Transportes, v. 17, n. 1, p.

39–45, 2009.

COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL. Decisão de Diretoria nº

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DEUTSCHES INSTITUT FUR NORMUNG.DIN 4150-3: vibration in buildings: effect in structures. Berlin, 1999.

IPHAN. Portaria 12/86. Brasília: IPHAN, 1986

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 4866: mechanical vibration and shock - Vibration of buildings: guidelines for the measurement of vibration

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MINAS GERAIS.(2002) Tribunal de Justiça de Minas Gerais. 4ª Câmara Cível. Apelação nº 229.543-4. Relator: IMMESI, Hyparco. Apelantes: 1º.Juizo da Comarca de Ouro Preto e Ministério Público Estadual de Minas Gerais. Disponível em

http://www-antigo.mpmg.mp.br/portal/public/interno/arquivo/id/3844. Acessado em 26-08-2016.

PMV – Decreto nº 1829/99: Regulamenta o acesso de veículos ao Centro Histórico de Vassouras. Vassouras: PMV, 1999.

PMV – Decreto nº 2.831/2015: Código de Postura. Vassouras: PMV 2015.

ROCHA, Isabel. Vassouras. In: PÊSSOA, José; PICCINATO, Giogio_Atlas de Centros Históricos do Brasil. Rio de Janeiro. Casa da Palavra, 2007.

SCHIAPPA DE AZEVEDO, F., Patrício, J. (2001). Vibrações Ambientes. Critérios de Danos e de Incomodidade. Actualidade e Perspectivas Futuras. In Anais do XXXII Congreso

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